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BRASIL
Lei 6638, de 08 de maio de 1979
Art. 1 – Fica permitida, em todo território nacional, a vivissecção de animais, nos termos desta Lei.
Art. 2 – Os biotérios e os centros de experimentação e demonstrações com animais vivos deverão ser registrados em
órgãos competentes e por ele autorizados a funcionar
Art. 3 – A vivissecção não será permitida:
I – sem o emprego de anestesia;
II – em centros de pesquisa e estudos não registrados em órgão competente;
III – sem supervisão de técnico especializado;
IV – com animais que não tenham permanecido mais de 15 (quinze) dias em biotérios legalmente autorizados;V –
em estabelecimento de ensino de 1º e 2º graus e em e em quaisquer locais freqüentados por menores de idade.
Art. 4 – O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos das experiências que
constituem a pesquisa ou os programas de aprendizagem cirúrgico, quando, durante ou após a vivissecção, receber
cuidados especiais.
§ 1 – Quando houver indicação, o animal poderá ser sacrificado sob estrita obediência às prescrições científicas;
§ 2 – Caso não sejam sacrificados, os animais utilizados em experiência ou demonstrações somente poderão sair do
biotério 30 (trinta) dias após a intervenção, desde que destinados a pessoas ou entidades idôneas que por eles
queiram responsabilizar-se.
Art. 5 – Os infratores desta Lei estarão sujeitos:
I – às penalidades cominadas no artigo 64, caput, do decreto – lei 3.688, de 03/10/41, no caso de ser a primeira
infração;
II – à interdição e cancelamento do registro do biotério ou do centro de pesquisas, no caso de reincidência.
Art. 6 – O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias, regulamentará a presente Lei, Especificando:
I – o órgão competente para o registro e a expedição de autorização dos biotérios e centros de experiências e
demonstrações com animais vivos;
II – as condições gerais exigíveis para o registro e o funcionamento dos biotérios;
III – órgão e autoridades competentes para a fiscalização dos biotérios e centros mencionados no inciso I.
Art. 7 – Esta Lei entra em vigor na data da publicação.
Art. 8 – Revogam-se as disposições em contrario.
http://medicinal.terra.com.br/bioetica/
http://www.portalmedico.org.br/revista/411996/index1.htm
Este trabalho procura refletir sobre uma questão contemporânea sempre mais polêmica, qual seja, a distanásia
(obstinação terapêutica). Iniciamos definindo o que se entende por distanásia, analisando a combinação
tecnociência e medicina. Avançamos identificando dois paradigmas básicos, o do curar e cuidar. Neste contexto,
fazemos algumas pontualizações sobre alguns conceitos fundamentais no processo: vida - sacralidade e qualidade;
sofrimento: que sentido? ; filosofia dos cuidados paliativos. Finalizando, vemos o que a ética médica brasileira
codificada diz a respeito da distanásia e sinalizamos para a árdua tarefa: de por um lado não matar: por de outro,
não procrastinar ou adiar pura e simplesmente a morte. Ao não matar e ao não maltratar terapeuticamente, está o
amarás, o cuidar do sofrimento. A perspectiva proposta é a de morrer com dignidade.
UNITERMOS - Distanásia, hospice, futilidade médica.
"É melhor a morte do que uma vida cruel, o repouso eterno do que uma doença constante"
(Eclo 30,17)
Introdução
O termo "distanásia" é pouco conhecido e utilizado na área da saúde. Ao contrário do que ocorre com seu antônimo
"eutanásia", freqüentemente discutido e estampado nas manchetes de noticiários e jornais, apesar de sem dúvida, ser
opção bem menos praticada do que a "distanásia" em nossas instituições de saúde, notadamente nas unidades de
terapia intensiva, as modernas catedrais do sofrimento humano. Isso tudo é no mínimo curioso e nos exige uma
reflexão aprofundada que atinja as razões subjacentes , que vá além do simplismo ético de querer compreender e
resolver questões tão difíceis e polêmicas quanto esta da distanásia, na base do reducionismo ético de ser a favor ou
contra.
O que entender por distanásia? O Dicionário Aurélio traz a seguinte conceituação: "Morte lenta, ansiosa e com
muito sofrimento". Trata-se, assim, de um neologismo, uma palavra nova, de origem grega. O prefixo grego dis tem
o significado de "afastamento", portanto a distanásia significa prolongamento exagerado da morte de um paciente. O
termo também pode ser empregado como sinônimo de tratamento inútil. Trata-se da atitude médica que, visando
salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento. Nesta conduta não se prolonga a vida
propriamente dita, mas o processo de morrer. No mundo europeu fala-se de "obstinação terapêutica", nos Estados
Unidos de "futilidade médica" (medical futility). Em termos mais populares a questão seria colocada da seguinte
forma: até que ponto se deve prolongar o processo do morrer quando não há mais esperança de reverter o quadro?
Manter a pessoa "morta-viva" interessa a quem?
A opinião pública mundial já discutiu amplamente os casos de pacientes famosos que foram mantidos "vivos" além
dos limites naturais, tais como Truman, Franco, Tito, Hirohito e, no Brasil, Tancredo Neves, classificando estas
situações como distanásicas.
Na busca de precisão conceitual, existem muitos bioeticistas, entre os quais Gafo (Espanha), que utilizam o termo
ortotanásia para falar da "morte no seu tempo certo". Como o prefixo grego orto significa "correto", ortotanásia tem
o sentido de morte "no seu tempo", sem abreviação nem prolongamentos desproporcionados do processo de morrer.
A ortotanásia, diferentemente da eutanásia, é sensível ao processo de humanização da morte e alívio das dores e não
incorre em prolongamentos abusivos com a aplicação de meios desproporcionados que imporiam sofrimentos
adicionais (1).
A expressão "obstinação terapêutica" (l'acharnement thérapeutique) foi introduzida na linguagem médica francesa
por Jean-Robert Debray, no início dos anos 50, e foi definida como sendo "o comportamento médico que consiste
em utilizar processos terapêuticos cujo efeito é mais nocivo do que os efeitos do mal a curar, ou inútil, porque a cura
é impossível e o benefício esperado, é menor que os inconvenientes previsíveis"(2).
Num artigo publicado no Washington Post, em maio de 1991, intitulado "Escolhendo morte ou mamba em UTI", o
Dr. John Hansen conta uma interessante história, que resumidamente apresentamos a seguir.
Três missionários foram aprisionados por uma tribo de canibais, cujo chefe lhes ofereceu escolherem entre morte ou
mamba (mamba é uma serpente africana peçonhenta. Sua picada inflige grande sofrimento antes da morte certa ou
quase certa). Dois deles, sem saber do que se tratava, escolheram mamba e aprenderam da maneira mais cruel que
mamba significava uma longa e torturante agonia, para só então morrer. Diante disso o terceiro missionário rogou
pela morte logo, ao que o chefe respondeu-lhe: "Morte você terá, mas primeiro um pouquinho de mamba".
Não seria isso o que vem ocorrendo nos hospitais da modernidade? Como o missionário não sabia o que era mamba,
por sua vez o público em geral e os profissionais da saúde em particular, desconhecem a existência e o significado
do termo distanásia, praxe nos hospitais de hoje. Quanto mais de ponta for a instituição de saúde, tanto mais possível
e sofisticada pode ser a distanásia.
Uma postura assim dita "mais humana", mais sensata, que não prescreva mamba para o paciente, pode ser cunhada
pela sociedade e ou família como sendo uma prática de eutanásia, ou então confundida com omissão de socorro.
É importante assinalar que nos hospitais dos países mais desenvolvidos existe uma consciência bem mais lúcida de
limite, em nível de investimento tecnológico na fase final da vida. Na cabeceira dos leitos dos doentes irrecuperáveis
constam indicações tais como DNR (do not ressuscitate), NTBR (not to be ressuscitated), no code, code 4, etc.
Como vemos, a distanásia (obstinação terapêutica), tornou-se problema ético de primeira grandeza na medida em
que o progresso técnico-científico passou a interferir de forma decisiva nas fases finais da vida humana. O que
ontem era atribuído aos processos aleatórios da natureza ou a "Deus", hoje o ser humano assume essa
responsabilidade e inicia o chamado "oitavo dia da criação". A presença da ciência e tecnologia começa a intervir
decisivamente na vida humana, e essa novidade exige reflexão ética.
Neste trabalho abordaremos, ainda que em nível introdutório, sete elementos fundamentais para a compreensão da
problemática relacionada com a possibilidade de complicação terapêutica (= distanásia). Iniciamos com a inter-
relação medicina com tecnociência e integração da morte como ponto final dos cuidados médicos; os paradigmas de
curar e cuidar, o relacionamento médico-paciente; alguns apontamentos sobre o que entender por vida (sacralidade e
qualidade), a questão da dor e sofrimento; a filosofia dos cuidados paliativos; e, finalmente, algumas indicações a
respeito de como a ética médica brasileira codificada aborda distanásia.
A primeira vista, poderíamos ingenuamente pensar que a morte nas mãos da moderna tecnologia médica seria um
evento menos sofrido, mais benigno, enfim mais digno do que o foi na antigüidade. Podemos, então, fazer as
seguintes perguntas:
Não temos maior conhecimento biológico, que nos capacita a prognósticos precisos da morte? Não temos
analgésicos poderosos, que aumentam a possibilidade de controlar a dor? Não temos máquinas mais sofisticadas,
capazes de substituir e controlar órgãos que entram em disfuncionamento? Não temos maior conhecimento
psicológico, que é um instrumental precioso no sentido de aliviar as ansiedades e sofrimento de uma morte
antecipada? Não temos tudo nas mãos, exatamente o que necessitamos para tornar realidade a possibilidade de uma
morte digna, em paz?
A resposta para cada caso pode ser sim e não. Sim, temos muito mais conhecimento que tínhamos anteriormente.
Mas não, este conhecimento não tornou a morte um evento digno. O conhecimento biológico e as destrezas
tecnológicas serviram para tornar nosso morrer mais problemático; difícil de prever, mais difícil ainda de lidar, fonte
de complicados dilemas éticos e escolhas dificílimas, geradoras de angústia, ambivalência e incertezas.
Não se trata de cultivar uma postura contra a medicina tecnológica, o que seria uma ingenuidade. Questionamos sim
a "tecnolatria", e o desafio emergente é refletir como o binômio tecnologia-medicina se relaciona com a mortalidade
humana e como pode ajudar, em tornando realidade, o morrer em paz.
É nesta perspectiva que Callaham propõe algo que a primeira vista pode até ser visto como estranho: deveria a morte
ser integrada nos objetivos da medicina, como ponto final dos cuidados médicos e não ser considerada como uma
falha da atuação médica?(3).
Atualmente, a medicina trabalha com vistas ao futuro, procurando promover uma vida boa, saudável, aumentar o
tempo de vida e sua qualidade. A morte é admitida com relutância no âmbito da medicina, como o limite para atingir
tais objetivos. É sentida como falha...
O que aconteceria se começássemos a perguntar como a medicina deveria se portar para promover uma vida
saudável e uma morte digna, em paz? Se a medicina aceitasse a morte como um limite que não pode ser vencido e
usasse esse limite como um ponto focal indispensável para pensar a respeito da doença? Caso isto ocorresse, a
realidade da morte como parte de nossa vida biológica seria vista não como uma nota discordante na busca da saúde
e bem-estar, mas como um ponto final previsível de sua atuação. Que tal se a medicina científica não fosse uma luta
sem fim contra a morte e nos ajudasse a viver a vida mortal e não imortal? Sob este enfoque a morte não seria
tratada somente como um mal necessário e uma falha científica a ser corrigida em questão de tempo. A aceitação e a
compreensão da morte seriam parte integrante do objetivo principal da medicina: a busca da saúde.
Se o objetivo primeiro da medicina é a preservação e restauração da saúde, a morte deveria ser entendida e esperada
como o último resultado deste esforço, implícito e inerente desde o começo. Por outro lado, ressalte-se que o
empenho da medicina em impedir ou retardar a morte é conseqüência lógica do seu legítimo esforço da medicina em
lutar em favor da vida.
A única questão a ser colocada é quando e como, e não se, vamos morrer. Se a morte é parte do ciclo da vida
humana, então cuidar do corpo que está morrendo deve ser parte integral dos objetivos da medicina. A morte é o
foco em torno do qual os cuidados médicos deveriam ser direcionados desde o início no caso de doença grave ou
declínio das capaciddes físicas e mentais, como resultado da idade ou doença.
Frente a cada doença grave - especialmente com idosos - uma questão deveria ser feita e uma possibilidade
entrevista: esta doença é fatal, pode tornar-se fatal, deveríamos permitir que se torne fatal?. Nesta ótica uma
estratégia diferente deveria entrar em ação, um esforço para trabalhar em direção a uma morte de paz antes que lutar
pela cura.
A medicina, hoje, elege como objetivo somente a busca da saúde, encarando a morte como umresultado acidental de
doenças previstas como evitáveis e contingentes. A morte é o que acontece quando a medicina falha, e portanto está
fora de seu escopo científico. Nesta perspectiva ocorrem deformações do processo do morrer.(3).
É o que lucidamente se pergunta Horta :"A medicina e a sociedade brasileira têm hoje diante de si um desafio ético,
ao qual é mister responder com urgência - o de humanizar a vida no seu ocaso, devolvendo-lhe a dignidade perdida.
Centenas ou talvez milhares de doentes estão hoje jogados a um sofrimento sem perspectivas em hospitais,
sobretudo nas suas UTIs e emergências. Não raramente, acham-se submetidos a uma parafernália tecnológica, que
não só não consegue minorar-lhes a dor e o sofrer, como ainda os prolonga e os acrescenta inutilmente. Quando a
vida física é considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade, o amor natural pela vida se
transforma em idolatria. A medicina promove implicitamente esse culto idólatra da vida, organizando a fase terminal
como uma luta a todo custo contra a morte" (4).
Uma compreensão mais aprofundada desta problemática torna-se interessante a partir da visão de dois paradigmas: o
paradigma da cura e do cuidado.
As ações de saúde são hoje sempre mais marcadas pelo "paradigma da cura", governado por uma inclinação em
direção a cuidados críticos, medicina de alta tecnologia. A existência sempre mais numerosa de UTIs em nossos
hospitais exemplifica essa realidade(5).
É bom lembrar que a presença massiva da tecnologia é um fato necessário na medicina moderna. À medida que a
prestação de serviço do sistema de saúde tornam-se sempre mais dependente da tecnologia, foram deixadas de lado
práticas humanistas, tais como manifestação de apreço, preocupação e presença solidária com os doentes. O "cuidar"
surge no mundo tecnológico da medicina moderna simplesmente como prêmio de consolação quando o
conhecimento e as habilidades técnicas não vencem.
O paradigma de curar facilmente torna-se prisioneiro do domínio tecnológico da medicina moderna. Se algo pode
ser feito, logo deve ser feito. Também idolatra a vida física e alimenta a tendência de usar o poder da medicina para
prolongar a vida em condições inaceitáveis. Esta idolatria da vida ganha forma na convicção de que a inabilidade
para curar ou evitar a morte é uma falha da medicina moderna. A falácia desta lógica é que a responsabilidade de
curar termina quando os tratamentos se esgotam.
Um outro eixo de leitura e compreensão começa a ganhar força. É o paradigma do cuidado. Vejamos algumas de
suas características.
O crescente interesse público em torno da eutanásia e suicídio assistido chama nossa atenção para os limites de
"curar" da medicina moderna. Cuidados de saúde, sob o paradigma do cuidar (caring), aceitam o declínio e a morte
como parte da condição do ser humano, uma vez que todos sofremos de uma condição que não pode ser "curada",
isto é, somos criaturas mortais.
A medicina não pode afastar a morte indefinidamente. A morte finalmente acaba chegando e vencendo. Quando a
terapia médica não consegue mais atingir os objetivos de preservar a saúde ou aliviar o sofrimento, novos
tratamentos tornam-se uma futilidade ou peso. Surge então a obrigação moral de parar o que é medicamente inútil e
intensificar os esforços no sentido de amenizar o desconforto do morrer.
O paradigma do cuidar (care) nos permite realisticamente enfrentar os limites de nossa mortalidade e do poder
médico com uma atitude de serenidade. A medicina orientada para o alívio do sofrimento estará mais preocupada
com a pessoa doente do que com a doença da pessoa. Nesse sentido cuidar não é o prêmio de consolação pela cura
não obtida, mas sim parte integral do estilo e projeto de tratamento da pessoa a partir de uma visão integral. A
relação médico-paciente adquire, sob tal foco, grande importância.
É importante desde já detectar que tipo de discurso ético é utilizado para falar da vida. Podemos ter dois tipos de
discursos éticos no âmbito da ética da vida: o parenético e o científico(8). Ao se falar de sacralidade da vida, utiliza-
se a explicação parenética e ao se falar em qualidade de vida, o discurso científico.
O discurso parenético exorta para algo que já é conhecido e intelectualmente claro. Pressupõe um acordo básico
entre os que falam e discutem sobre a questão. Não busca justificar ou explicar um conteúdo mas visa a eficácia de
sua concretização. Enfatiza, sobretudo, a responsabilidade pessoal e a ação coerente, antes que a coerência lógica do
discurso.
O discurso científico, por outro lado, visa explicar e justificar um conteúdo não claro. Busca proceder com rigor e
método, almeja ser um discurso coerente e orgânico. E repensa continuamente seus conteúdos e afirmações à luz das
experiências e conquistas humanas.
A ética da sacralidade da vida utiliza um discurso parenético. A vida é considerada como propriedade de Deus, dada
ao homem para administrá-la. É um valor absoluto que só a Deus pertence. O ser humano não tem nenhum direito
sobre a vida própria e alheia. As exceções no respeito à vida são concessões de Deus. O princípio fundamental é a
inviolabilidade da vida.
O segundo tipo de ética da vida utiliza uma abordagem científica. A vida é um dom recebido, mas que fica à
disposição daquele que o recebe, com a tarefa de valorizá-lo qualitativamente. O ser humano é protagonista e o
princípio fundamental é o valor qualitativo da vida (9).
Qual o discurso mais adequado para defender a vida na sua integralidade?
No debate hodierno a questão se polarizou em dois campos ou seja,os que se definem como pró-vida (pro life), que
defendem a sacralidade da vida e os pró-liberdade de escolha (pro choice), que empunham a bandeira da qualidade
de vida.
O processo da secularização levou a uma dessacralização da vida. A formulação da inviolabilidade da vida alude a
uma visão sacral, em que a vida é vista como propriedade de Deus e o homem como seu mero administrador. Esta
tese encerra um conceito tacanho de Deus e uma visão mesquinha e desconfiada do homem. É necessário superar a
visão do ser humano como mero administrador e entendê-lo como protagonista da vida.
O moderno pensamento teológico defende que o próprio Deus delega o governo da vida à autodeterminação do ser
humano, e isto não fere e muito menos se traduz numa afronta à sua soberania. Dispor da vida humana e intervir
nela não fere o senhorio de Deus, se esta ação não for arbitrária. A perspectiva é responsabilizar o ser humano de
uma maneira mais forte diante da qualidade da vida.
Facilmente o princípio da intangibilidade da vida pode ser ideologicamente utilizado na interpretação da vida de
modo estático, centrado na dimensão biológico-fisicista pura e simplesmente. Prega-se sua intocabilidade sem se
preocupar com as condições de sua vivência digna. Neste contexto "a luta terapêutica feita em nome do caráter
sagrado da vida parece negar a própria vida humana naquilo que ela tem de melhor: um organismo biológico, mais
que um ser humano, é às vezes prolongado"(10).
Os partidários da sacralidade da vida acusam os que defendem a qualidade de usarem este argumento para atentar
contra a vida. No mundo desenvolvido, o princípio da qualidade é usado para defender a bandeira de que uma vida
sem qualidade não vale a pena ser vivida e isto é uma forte justificação para a eutanásia . É importante ressaltar que
esta é uma perspectiva profundamente negativa da qualidade. A falta de qualidade pode levar a uma conclusão bem
diferente. Em nossa realidade latino-americana, milhões de pessoas não têm as mínimas condições de viver uma
vida dita digna, que tenha "qualidade", quer seja no início, no seu desenvolvimento ou mesmo no fim. Isto não nos
leva a concluir que estas vidas não têm mais valor. A perspectiva positiva é de lutar para que estas vidas adquiram
qualidade. Os defensores da sacralidade esquecem facilmente este importante aspecto. A interpretação vitalista do
conceito de sacralidade de vida acaba não respeitando o sentido profundo e original - que é um sentido religioso.
A sacralidade e a qualidade de vida não precisam ser dois princípios oponentes. A intangilibidade é um forte
princípio na defesa da vida, mas não precisa opor-se ao princípio da autodeterminação do ser humano sobre a vida.
É necessário conjugar as duas abordagens. Como muito bem se posiciona Doucet: "O caráter sagrado da vida não se
opõe necessariamente à qualidade de vida. Na tradição judaico-cristã as duas dimensões se comunicam. Em nossas
sociedades ocidentais, saídas dessa tradição, a preservação da vida humana é um valor fundamental mas não
absoluto. A presunção em favor da vida deve ser temperada, se não o absolutismo do princípio poderia conduzir ao
desrespeito de certos doentes"(11).
A vida, por ser um bem fundamental, se apresenta como algo pré-moral. Tal assertiva justifica-se pela existência de
conflitos entre a vida e outros bens ou valores. A possibilidade de a vida ser um valor moral absoluto só ocorreria se
a vida nunca entrasse em conflito com outros bens e valores, e superasse sempre em valor a todo bem ou conjunto
de bens que com ela conflitassem.
Hoje, o princípio da sacralidade é postulada como sendo o equilíbrio entre os dois extremos: de um lado está o
vitalismo físico, que defende o valor absoluto de manter a vida biológica, independentemente de outros valores, tais
como a independência, a autonomia, a perda de dignidade, prevenção de dor ou economia de recursos. O vitalismo
físico abre o caminho para tratamentos abusivos. De outro lado está o utilitarismo pessimista, que valoriza a vida a
partir de seu uso social e defende seu término quando ela se torna frustrante, ou um peso. Este extremo pode levar ao
abuso de não utilizar tratamentos, especialmente em situações de deficiências.
Entre estes dois extremos, o principio da sacralidade da vida afirma que a vida física é um bem básico, fundamental,
mas não absoluto, que deve ser preservado a todo custo. Sob este enfoque, ao lidarmos com pacientes terminais a
"morte física" não é um mal absoluto e a vida física não é um "valor absoluto"(12). São realidades que precisam ser
matizadas, principalmente neste contexto de final de vida, onde a presença da dor e sofrimento são uma constante.
5 - Dor e sofrimento no contexto clínico
A cura da doença e o alivio do sofrimento são desde muito são aceitas como objetivos da medicina. A doença destroi
a integridade do corpo, e a dor e o sofrimento podem destruir a integridade global da pessoa. Enquanto a medicina
está relativamente bem equipada para combater a dor, em relação ao sofrimento estamos frente a uma categoria mais
complexa, que pode, mas não necessariamente envolve a presença da dor.
A distinção entre dor e sofrimento ganha sempre mais importância e até uma certa popularidade nos meios
científicos que lidam com pacientes terminais. Resulta disso a necessidade de termos bem claras as definições e
distinções necessárias, ao tratarmos da problemática. Em relação à dor, constata-se que a grande maioria dos
profissionais da saúdenão sabem o que significa "dor" quando falam de dor(13).
A dor tem duas características importantes: a primeira é que estamos frente a um fenômeno dual - de um lado a
percepção da sensação e de outro a resposta emocional do paciente a ela. A segunda característica é que a dor pode
ser experienciada como aguda, e portanto passageira, ou crônica, e conseqüentemente persistente. Dor aguda tem um
momento definido de início, sinais físicos objetivos e subjetivos e atividade exagerada do sistema nervoso. A dor
crônica, em contraste, continua além de um período de seis meses, com o sistema nervoso se adaptando a ela. Nos
pacientes com dor crônica não existem sinais objetivos, mesmo quando eles apresentam mudanças visíveis em sua
personalidade, estilo de vida e habilidade funcional. Uma tal dor exige uma abordagem que contemple não somente
o tratamento de suas causas mas, também, tratamento das conseqüências psicológicas e sociais(14).
Existem, pelo menos, mais duas definições de dor que valem a pena ser lembradas. Em 1979, a Associação
Internacional de Estudo da Dor assim definiu a dor como: "uma experiência emocional e sensorial desagradável,
associada com dano potencial ou atual de tecidos, descrita em termos de tais mudanças". Dame Cicely Saunders, a
fundadora do moderno hospice, tomando esta descrição como base cunhou a expressão dor total, que inclui, além da
dor física, a dor mental, social e espiritual. Deixar de em considerar esta apreciação mais abrangente de dor é uma
das principais razões de os pacientes não receberem adequado alívio de sintomas dolorosos.
Existe um momento na doença crônica, quando a impotência torna-se mais intolerável que a dor, em que aparece a
diferença entre dor e sofrimento. Nem sempre quem está com dor sofre. O sofrimento é uma questão pessoal. Está
ligado aos valores da pessoa. Por exemplo, duas pessoas podem ter a mesma condição física, mas somente uma
delas pode estar sofrendo com isso. A palavra dor deve ser usada para a percepção de um estímulo doloroso na
periferia ou no sistema nervoso central, associada a uma resposta efetiva.
Daniel Callaham definiu sofrimento como sendo a experiência de impotência com o prospecto de dor não aliviada,
situação de doença que leva a interpretar a vida vazia de sentido. Portanto, o sofrimento é mais global que a dor e,
essencialmente, é sinônimo de qualidade de vida diminuída.
A diferença entre dor e sofrimento tem um grande significado quando temos que lidar com a dor em pacientes
terminais. Um dos principais perigos em negligenciar esta distinção no contexto clínico é a tendência dos
tratamentos se concentrarem somente nos sintomas físicos, como se apenas estes fossem a única fonte de angústia
para o paciente. Além disso, nos permite continuar agressivamente com tratamentos médicos fúteis, na crença de
que enquanto o tratamento protege os pacientes da dor física igualmente os protege de todos os outros aspectos. Em
outras palavras, a distinção nos obriga a perceber que a disponibilidade de tratamento da dor em si não justifica a
continuação de cuidados médicos fúteis. A continuação de tais cuidados pode simplesmente impor mais sofrimentos
para o paciente terminal.
Ouvimos, com freqüência, confidências de pacientes terminais que não têm tanto medo de morrer, mas temem o
sofrimento relacionado com o processo do morrer. Isto ocorre especialmente quando esta experiência é marcada pela
dependência mutilante, impotência e dor não cuidados, que tão freqüentemente acompanham a doença terminal,
ameaçando a integridade pessoal e cortando a perspectiva de um futuro (15).
Um dos primeiros objetivos da medicina, ao cuidar dos que morrem, deveria ser o de aliviar a dor e sofrimento
causados pela doença. Embora a dor física seja a fonte mais comum de sofrimento, a dor no processo do morrer vai
além do físico, tendo conotações culturais, subjetivas, sociais, psíquicas e éticas, como vimos anteriormente.
Portanto, lidar efetivamente com a dor em todas as suas formas é algo crítico para um cuidado digno dos que estão
morrendo. A dor tem pelo menos quatro distintos componentes: físico, psíquico ou psicológico, social e espiritual.
Passemos a algumas considerações a respeito de cada dimensão (5).
Dor física
É a mais óbvia e a maior causadora de sofrimento. Surge de um ferimento, doença, ou da deterioração progressiva
do corpo, no idoso e no doente terminal; impede o funcionamento físico e a interação social. No nível físico, a dor
funciona como um alarme de que algo está errado no funcionamento do corpo. Como a dor afeta o todo da pessoa,
ela pode facilmente ir além de sua função como sinal de alarme. Dor intensa pode levar a pessoa urgentemente a
solicitar sua a própria morte.
Dor psíquica
Freqüentemente, surge do enfrentar a inevitabilidade da morte, perdendo controle sobre o processo de morrer, perda
das esperanças e sonhos, ou ter que redefinir o mundo. Causa inevitável de humor.
Dor social
É a dor do isolamento. A dificuldade de comunicação que se experimenta justamente quando o morrer cria o senso
de solidão num momento em que desfrutar de uma companhia é muito importante. A perda do papel social familiar
é também bastante dura. Por exemplo, um pai doente torna-se dependente dos filhos e aceita ser cuidado por eles.
Dor espiritual
Surge da perda de significado, sentido e esperança. Apesar da aparente indiferença da sociedade em relação ao
"mundo além deste", a dor espiritual está aí. Todos necessitamos de um sentido – uma razão para viver e uma razão
para morrer. Em recentes pesquisas nos Estados Unidos, ficou evidenciado que o aconselhamento em questões
espirituais situa-se entre as três necessidades mais solicitadas pelos que estão morrendo (e seus familiares).
Estes aspectos da dor estão todos inter-relacionados e, por vezes, não é tão fácil distinguir um do outro. Se os
esforços para lidar com a dor enfocam somente um aspecto e negligenciam os outros, o paciente não experimentará
alivio da dor e sofrerá mais. Vale lembrar a Sauders, que afirma: "o sofrimento somente é intolerável se ninguém
cuidar" (16). É na filosofia do hospice que vemos a viabilização de uma medicina paliativa, que honra a
integralidade do ser humano. Vejamos, a seguir, algumas perspectivas deste enfoque.
6 - Cuidados Paliativos
Morrer em casa ou no hospital? Hoje se fala de hospices, de medicina (cuidados paliativos). Antes (ontem) se morria
em casa. Era a morte domada. O ser humano sabe quando vai morrer pela presença de avisos, sinais ou convicções
internas. A morte era esperada no leito, e era autorizada pela presença de parentes, vizinhos, amigos e até crianças.
Havia uma aceitação dos ritos, que eram cumpridos sem dramatização. Era algo familiar, próximo. Hoje,
praticamente a morte ocorre no hospital em (80% dos casos, nos Estados Unidos), é a chamada morte invertida. Ela
é escondida, vergonhosa, como fora o sexo na era vitoriana. A boa morte atual é a que era mais temida na
Antigüidade, a morte repentina.
Há necessidade de uma compreensão filosófica do cuidado às pessoas nas fases finais de uma doença terminal. O
hospice afirma a vida e encara o "estar morrendo"(dying) como um processo normal. Hospice enfatiza o controle da
dor e dos sintomas objetivando melhorar a qualidade de vida, antes que tentar curar uma doença ou estender a"vida".
O objetivo do hospice é permitir, aos pacientes e suas famílias, viver cada dia plena e confortavelmente tanto quanto
possível ao lidar com o estresse causado pela doença, morte e dor da perda (grief). Nos cuidados de hospice utiliza-
se uma abordagem multidisciplinar que enfoca as necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais dos
pacientes e familiares. A equipe de saúde consiste de médicos, enfermeiras, assistentes sociais, voluntários treinados
e conselheiros pastorais que articuladamente trabalham provendo coordenação e continuação dos cuidados
envolvendo o paciente e sua família. Também fazem o seguimento (follow-up) da família e aconselhamento aos
enlutados após a morte do ente querido.
O movimento do hospice moderno começou em 1967, quando a Drª. Cicelly Saunders abriu o hoje famoso St.
Christopher's Hospice, em Londres. O movimento hospice surge nos EUA em 1974, em New Haven, CT, e desse
ano para cá cresceu bastante, contando, hoje, com quase dois mil programas. Não obstante isso, o hospice ainda não
é muito conhecido e freqüentemente utilizado, em parte por causa do estigma social relacionado com a morte e pela
percepção pública e profissional de que o hospice significa falha, ao entregar os pontos na luta para manter uma
vida.
Algumas implicações tornam-se evidentes. Cuidar dignamente de uma pessoa que está morrendo num contexto
clínico significa respeitar a integridade da pessoa. Portanto, um cuidado clínico apropriado busca garantir, pelo
menos: 1. Que o paciente seja mantido livre de dor tanto quanto possível, de modo que possa morrer
confortavelmente e com dignidade. 2. Que o paciente receberá continuidade de cuidados e não será abandonado ou
sofrerá perda de sua identidade pessoal. 3. Que o paciente terá tanto controle quanto possível no que se refere às
decisões a respeito de seu cuidado e lhe será dada a possibilidade de recusar qualquer intervenção tecnológica
prolongadora de "vida". 4. Que o paciente será ouvido como uma pessoa em seus medos, pensamentos, sentimentos,
valores e esperanças. 5. Que o paciente será capaz de morrer onde queira morrer.
Neste momento de nossa reflexão voltemos nosso olhar para o que os códigos brasileiros de ética médica dizem a
respeito de nosso objeto de estudo, a distanásia.
7 - Os códigos brasileiros de ética médica e a distanásia
Uma das características marcantes da tradição da ética médica brasileira codificada é a de ser uma tradição secular,
imbuída de valores humanitários, mas sem a preocupação de fundamentar os princípios éticos na religião (17).
No universo secular, a própria morte e a dor são muitas vezes percebidas como sem sentido e, na medida em que
escapam do seu controle, são vistas como fracasso pelo médico. A ênfase recai sobre a luta para garantir a máxima
prolongação da vida, sobre a quantidade de vida, e há pouca preocupação com a qualidade desta vida prolongada.
Uma conseqüência disso é o eclipse da solicitude pela boa morte cultivada e resistência à eutanásia provocada como
derrota frente ao inimigo morte.
A partir da publicação dos Códigos de Ética Médica 1984 e 1988 a abordagem dos direitos do paciente terminal a
não ter seu tratamento complicado, ao alívio da dor e a não ser morto pelo médico, entra numa nova fase com o
surgimento de novos elementos, em grande parte trazidos pelo progresso da tecnociência.
No Código de 1984 percebe-se a existência das tensões inerentes à aliança entre a benignidade humanitária, o
modelo científico-tecnológico e o medicocentrismo autoritário. Sua benignidade humanitária insiste sobre o
"absoluto respeito pela vida humana", já exigido pelos Códigos de 1953 1965, e reforçado pelo princípio 9º do
Código de 1984 com o seguinte acréscimo ao texto da frase: "desde a concepção até a morte". A dificuldade é que
esta valorização da vida tende a se traduzirnuma preocupação com a máxima prolongação da quantidade de vida
biológica e no desvio de atenção da questão da qualidade da vida prolongada.
Como enfatiza Leonard Martin: "Com a ênfase sobre o biológico, o sofrimento, a dor e a própria morte se tornam
problemas técnicos a serem resolvidos, mais do que experiências vividas por pessoas humanas. O preço que se paga
pelo bom êxito da tecnologia é a despersonalização da dor e da morte nas unidades de terapia intensiva, com todo o
seu maquinário impressionante. Consegue-se prolongar a vida, mas diante destas intervenções bem sucedidas
começam a surgir novas indagações: quando se pode abandonar o uso de suportes vitais artificiais? Quando é que se
morre mesmo? Pode-se falar de eutanásia ativa e de eutanásia passiva?".
Há um passo rumo à recuperação da valorização da boa morte cultivada no artigo 6º do Código de 1988 que diz ser
antiético para o médico utilizar "seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral". Mais significativo
ainda, porém, é o art. 61, parágrafo 2º, que incentiva o médico a não abandonar seu paciente "por ser este portador
de moléstia crônica ou incurável" e a "continuar a assisti-lo ainda que apenas para mitigar o sofrimento físico ou
psíquico". Este cuidado em mitigar não apenas o sofrimento físico mas também o psíquico é sintomático de uma
nova preocupação com integralidade da pessoa, que vai além da dor física.
Este novo cuidado se reflete no reconhecimento do direito do paciente terminal a não ter seu tratamento complicado.
Como no art. 23 do Código de 1984, há, no art. 60 do Código de 1988, a proibição de "complicar a terapêutica".
Fica também claro no Código de 1988 a obrigação de o médico "utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e
tratamento a seu alcance", mas a medida do seu uso não é sua eficácia em resolver o problema técnico de como
controlar o sofrimento e a morte, mas sim o benefício do paciente. Isto nos permite questionar se a gestão técnica do
sofrimento e o adiar o momento do morrer são sempre do interesse do paciente, situação hoje muito freqüente na
fase final da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Um outro aspecto importante no Código de 1988, no que se refere ao direito do paciente de não ter seu tratamento
complicado, é a preocupação em regulamentar pesquisas médicas em pacientes terminais. O art. 130 proíbe ao
médico "Realizar experiências com novos tratamentos clínicos ou cirúrgicos em paciente com afecção incurável ou
terminal sem que haja esperança razoável de utilidade para o mesmo, não lhe impondo sofrimentos adicionais".
Aqui não se trata de uma rejeição da ciência e tecnologia, reconhece-se a legitimidade de recorrer a tratamentos
experimentais, mas a partir de um critério bem definido: existência de uma esperança razoável de que o tratamento
será útil para o próprio doente e que este não sofrerá desnecessariamente.
8 - À guisa de conclusão
O não enfrentamento da questão da distanásia faz com que convivamos com situações no mínimo contraditórias, em
que se investe pesadamente em situações de pacientes terminais cujas perspectivas reais de recuperação são nulas.
Os parcos recursos disponíveis poderiam muito bem ser utilizados em contextos de salvar vidas que têm chances de
recuperação. Dificilmente podemos passar ao largo sem levantarmos sérios questionamentos em relação à utilização
das UTIs, conscientização a respeito do conceito de morte cerebral, doação de órgãos, transplantes e investimentos
de recursos na área.
Hellegers, um dos fundadores do Instituto Kennedy de Bioética, a respeito de nossa questão em estudo afirma:
"Perto do fim da vida, uma pretensa cura significa simplesmente a troca de uma maneira de morrer por outra... Cada
vez mais, nossas tarefas serão de acrescentar vida aos anos a serem vividos e não acrescentar anos à nossa vida...
mais atenção ao doente e menos à cura em si mesma ( ..). À medida que os ramos da medicina que versam sobre
curas dominaram sobre os que se preocupavam mais com o doente, as virtudes judaico-cristãs perderam
progressivamente seu interesse (...). Nossos doentes (e velhos) precisarão mais de uma mão caridosa do que um
escalpelo prestativo. Não é o momento de pôr de lado estamedicina da atenção, que não exige muita tecnologia. (...)
Nossos problemas serão cada vez mais éticos e menos técnicos" (18).
Nesta circunstância convém sentar-se junto ao leito de um paciente terminal que, numa prolongada agonia, luta
contra o sofrimento, na expressão dos olhos angustiadas que buscam, sem encontrar, um alívio libertador. Convém a
todos - porém especialmente aos médicos, enfermeiros, assistentes religiosos, capelães, teólogos - refletir sobre o
sofrimento que inutilmente, não poucas vezes, se acrescenta a uma agonia programada por uma terapêutica já inútil
e somente utilizada para cumprir o dogma médico de "fazer tudo o que for possível para conservar a vida" - o qual,
interiorizado de maneira acrítica por alguns, é aceito como princípio ético que não exige maior discussão e
normatização.
A questão da dor e sofrimento humano adquire uma relevância toda particular neste contexto de tecnologização do
cuidado. É preciso prestar atenção, a dor física não é efetivamente tratada numa percentagem significativa de
pacientes (os especialistas falam em torno de 75% dos casos). O que estamos fazendo para conhecer mais sobre a
natureza da dor, suas múltiplas dimensões e sobre o uso de técnicas para lidar com ela?
Sabendo que a dor é mais que física e inclui aspectos psicossócio-espirituais, que passos específicos estamos dando
para apoiar relacionamentos entre pacientes e profissionais, entre pacientes e familiares, e entre pacientes e suas
crenças e práticas religiosas visando ir ao encontro das necessidades de apoio emocional, sentir-se parte da
comunidade e de significado?
Como diz Ruben Alves, num intrigante texto sobre a morte como conselheira: "houve um tempo em que nosso
poder perante a morte era muito pequeno, e de fato ela se apresentava elegantemente. E, por isso, os homens e as
mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, nosso poder aumentou, a
morte foi definida como a inimiga a ser derrotada, fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos livrarmos de seu
toque. O empreendimento tecnológico em grande parte nos seduz porque encarna hoje o sonho da imortalidade.
Com isso, nós nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar. E nos encontramos diante do perigo de que,
quanto mais poderosos formos perante ela (inutilmente, porque só podemos adiar...), mais tolos nos tornamos na arte
de viver. E, quando isso acontece, a morte que poderia ser conselheira sábia transforma-se em inimiga que nos
devora por detrás. Acho que, para recuperar um pouco da sabedoria de viver, seria preciso que nos tornássemos
discípulos e não inimigos da morte. Mas, para isso, seria preciso abrir espaço em nossas vidas para ouvir a sua
voz...A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos
aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. Quem não pensa, não reflete sobre a
morte, acaba por esquecer da vida. Morre antes, sem perceber" (19).
Não somos nem vítimas, nem doentes de morte. É saudável sermos peregrinos. Podemos ser, sim, curados de uma
doença classificada como sendo mortal, mas não de nossa mortalidade. Quando esquecemos isso, acabamos caindo
na tecnolatria e na absolutização da vida biológica pura e simplesmente. É a obstinação terapêutica adiando o
inevitável, que acrescenta somente sofrimento e vida quantitativa, sacrificando a dignidade.
Nasce uma sabedoria a partir da reflexão, aceitação e assimilação do cuidado da vida humana no sofrimento do
adeus final. Entre dois limites opostos, de um lado a convicção profunda de não matar, de outro, a visão para não
encompridar ou adiar pura e simplesmente a morte. Ao não matar e ao não maltratar terapeuticamente, está o
amarás... Desafio difícil este de aprender a amar o paciente terminal sem exigir retorno, num contexto social em que
tudo é medido pelo mérito, com a gratuidade com que se ama um bebê (20)! Concluimos com as palavras de Oliver
ao falar da missão do médico, que é "curar às vezes, aliviar freqüentemente, confortar sempre".
Léo Pessini é Camiliano Diretor do Instituto de Pastoral da Saúde e Bioética, Vice-Diretor Geral das Faculdades
Integradas São Camilo e Capelão no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2. Cuyas M. L'accanimento terapeutico e l 'eutanasia. Dolentium Hominum 1987;(23):30.
3. Callahan D. The troubled dream of life: living with mortality. New York: Simon & Schuster, 1993: 188-91
4. Horta MP. Paciente crônico, paciente terminal, eutanásia: problemas éticos da morte e do morrer. In:
Assad JE, coordenador. Desafios éticos. Brasilia: Conselho Federal de Medicina, 1992: 219-28.
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Quinlan. Second opinion health-faith-ethics 1992;4:68.
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11. Doucet H. Op.cit. 1993: 26.
12. Tuohey JF. Caring for persons with aids and cancer: ethical reflections on palliative care for the terminall
ill. Saint Louis: C.H.A, 1988: 27-39.
13. Cassel EJ. The nature of suffering and the goals of medicine. N Engl J Med 1982;306:639-45.
14. Pessini L. Eutanásia e América Latina. Aparecida: Santuário 1990.
15. Lepargneur H. Antropologia do sofrimento. Aparecida: Santuário, 1985.
16. Saunders C. Caring to the end. Nursing Mirror 1980;150:4.
17. Martin LM. A ética médica diante do paciente terminal: leitura ético-teológica da relação médico-paciente
terminal nos códigos brasileiros de Ética Médica. Aparecida: Santuário, 1993.
18. Hellegers AC citado por Geusau V. Biologie, ethique e societé: questions et enjeux. Bruxellas: Prospective
International, 1979.
19. Alves R. Prefácio: a morte como conselheira. In: Cassorla RMS, coordenador. Da morte: estudos
brasileiros. Campinas: Papirus 1991: 11-5.
20. Pessini L. Morrer com dignidade: como ajudar o paciente terminal. 2nd. Aparecida: Santuário 1995.
Endereço para correspondência:
Faculdades Integradas São Camilo
Av. Nazaré 1501
Ipiranga
04263-200 São Paulo - SP
http://www.geocities.com/Petsburgh/8205/
A FRENTE BRASILEIRA PARA ABOLIÇÃO DA VIVISSECÇÃO é uma organização sem fins
lucrativos que tem por objetivo promover a abolição TOTAL da experimentação animal.
Lutamos pelo fim desta prática fraudulenta e extremamente perigosa à saúde humana,
divulgando e denunciando as barbáries e tragédias que esta prática tem causado ao longo
destes anos. Tudo o que divulgamos são frutos de estudos e informações de ex-pesquisadores
e autoridades médicas mundiais que assim como nós lutam por uma ciência verdadeira e
segura.
A nossa linha de pensamento segue os ensinamentos de Hans Ruesch (CIVIS) e Javier Burgos
(SUPRESS), os quais a FBAV é eternamente grata pelos conselhos e orientação.
Há alternativas suficientes que substituem plenamente os testes com animais. Basta boa vontade para acabarmos
definitivamente com a VIVISSECÇÃO.
PESQUISA CLÍNICA E EPIDEMIOLÓGICA São métodos de pesquisas simples, mas muito importantes. É o
estudo das doenças humanas em indivíduos e em populações específicas. A pesquisa clínica usa voluntários
humanos, estudo de casos clínicos, autópsia, análise estatística com observação clínica da doença. Para ajudar os
seres humanos, é necessário estudar as doenças que afetam os humanos, e não doenças inoculadas artificialmente em
animais.
CULTURA CELULAR E TISSULAR Células isoladas de humanos e tecido animal (para uso na medicina
veterinária), são cultivadas fora do corpo, após a separação de seu tecido original ou órgão. Com este procedimento,
não há o problema de diferença de espécies. Estes testes são extremamente eficientes para testar toxidade e teste de
irritação. As culturas orgânicas podem ser usadas na área de bioquímica, pesquisa de câncer, genética, imunologia,
farmacologia, radiação, tóxologia, e pesquisas de vírus.
TÉCNICAS DE IMAGENS NÃO INVASIVAS O desenvolvimento de técnicas não invasivas como:
CAT - utiliza computadores na reconstrução de imagens tridimensionais do corpo humano através do Raio-X.
MRI (Magnetic Resonance Imaging) - permite a visualização de imagens detalhadas do interior do corpo humano,
sem injeção de substâncias radioativas.
PET (Positron Emission Tomograph) e SPECT (Single Photon Emission Computerized Tomograph) - usados em
estudos de doenças cérebrovasculares e distúrbios psiquiátricos.
Estes métodos têm revolucionado a pesquisa clínica. São equipamentos que permitem a avaliação de doenças
humanas nos pacientes. Por exemplo, estes equipamentos escaneadores têm validado o diagnóstico precoce e
avaliação da doença de Alzheimer, doença de Huntington, tumores "musculoesqueletais", mal de Parkison, doenças
"cérebrovasculares", e têm contribuindo no conhecimento do corpo em ciências básicas.
TESTE "AMES" Criado pelo Dr. Bruce Ames, da Universidade da Califórnia em Bekerley, este teste "in vitro"
checa substâncias cancerígenas usando a "bactéria salmonella", a qual produz câncer nos seres humanos e outros
mamíferos. O teste dura cerca de 2-3 dias e o custo é muito menor que o custo com a utilização do modelo animal.
PLACENTA A placenta humana, que geralmente é descartada após o nascimento de uma criança, pode ser usada na
prática de cirurgia microvascular, e no teste de toxidade de químicas, drogas e poluentes. Não tem custo e o material
é 100% humano.
FARMACOLOGIA QUANTA É uma técnica computadorizada usada na química teorética do estudo da estrutura
molecular de drogas e seus receptores no organismo. Usando o conhecimento existente é possível predizer através
da estrutura da droga qual o efeito no órgão humano em epígrafe.
EYETEX Em substituição ao "Draize Eye Irritancy Test" (feito nos olhos dos coelhos), é o uso de uma proteína
líquida que imita a reação do olho humano.
CROMATOGRAFIA E ESPECTROSCOPIA Para separar drogas no nível molecular para identificar suas
propriedades, podendo detectar a trajetória de drogas e seus danos aos humanos.
AUTOPSIAS E ESTUDOS "POST-MORTEM" A autopsia humana é o exame após a morte de tecidos e órgãos do
corpo humano para determinar a causa da morte ou existência das condições patológicas. Estudo que tem sido
responsável pela descoberta e descrição de muitas doenças.
ESTUDOS MICROBIOLÓGICOS Microorganismos como bactéria, são apropriados para visualização de um
grande número de toxinas, pois se reproduzem rapidamente.
AUDIO-VISUAL Utilizado no treinamento de médicos de medicina humana e veterinária e também no ensino
médio, em lugar da "dissecação".
ADM (Agarose Diffusion Method) Criado em 1960 para determinar a toxidade de plásticos e outros materiais
sintéticos usados na medicina em válvulas cardíacas, etc.
CORROSITEX É um teste "in vitro" para avaliação do potencial de corrosividade dérmica de químicas diversas.
Desenvolvido pelo "In Vitro International, Inc.", a técnica possibilita testar uma substância química ou várias
(drogas) em uma barreira de pele artifical feita de colágeno. Abaixo daquela camada tem um líquido contendo um
corrante indicador de PH que muda a cor quando entra em contato com a química a ser testada. A corrosividade da
química é determinada pelo tempo que leva para penetrar na pele artificial e provocar a mudança de coloração.
KITS DIVERSOS Dispomos de kits para todas as finalidades, como técnicas de sutura e laparoscopia, treinamento
cirúrgico e dissecação (incluindo modelos anatômicos). Principalmente para dissecação, temos várias opções com
modelos perfeitos de animais.
A experimentação animal é diretamente responsável pelo aumento do câncer, doenças do coração, defeitos físicos,
AIDS, etc... Estas doenças estão causando uma massiva e sistemática destruição da saúde humana. A razão
fundamental é que: "hoje a pesquisa está baseada quase que totalmente na experimentação animal", a qual é uma
fraude médica e científica. É impossível "re-criar" uma doença adquirida naturalmente por um animal ,
simplesmente por que desde que seja "re-criada", não é mais a doença original. O resultado do estudo em amimais
artificialmente doentes é o de uma informação não aplicável aos seres humanos e, sendo assim, tragicamente
enganador.
Após anos de intensa pesquisa com animais, laboratórios alemães e britânicos lançaram a Talidomida no mercado,
com a clara afirmação de que "pode ser dado sem qualquer risco às mulheres grávidas, já que não causa nenhum
efeito adverso na mãe ou na criança". A Talidomida foi então o primeiro grande desastre terapêutico demonstrando
os efeitos da experimentação animal. Mas ao invés de abandonar estes falsos testes e argumentos, os fabricantes de
drogas multiplicaram os investimentos na experimentação animal - resultando na má formação e multiplicação de
outros desastres terapêuticos. Esta droga possui alto potencial de teratogenicidade e em muitos foi banida. Assim
como a Talidomida, a DES também causa má formação física, câncer e morte quando usadas em humanos, e estas
drogas foram seguramente defendidas pelos pesquisadores que as experimentaram extensivamente em animais.
A vivissecção continua em parte por que oferece prêmios lucrativos e perpetua a tradicional filosofia médica. E
sabemos que péssimos profissionais se edificam na ignorância alheia. Experimentação animal é parte da indústria
multi-milionária a qual inclui suprimentos diversos, gaiolas, fabricantes de equipamentos, criadores de animais,
empresas de ração, imprensa especializada, e outros interessados. Outro fator é a falta de informação pública.
Muitas pessoas não estão a par da crueldade que ocorre em pesquisas laboratoriais, ou são induzidas com a crença
de que os experimentos são necessários para o avanço da ciência. Em verdade, os grandes avanços médico-
científicos não são oriundos da experimentação animal ( vide "AVANÇOS MÉDICOS" ).
Animais são utilizados em testes laboratoriais (testes de drogas, cosméticos, produtos de limpeza e higiene),
práticas médicas (treinamento cirúrgico, transplante de orgãos), experimentos na área de
psicologia (privação materna, indução de estresse), experimentos armamentistas/militares (testes de armas
químicas) , testes de toxidade alcoólica e tabaco, dissecação, e muitos outros.
Engana-se quem pensa que existe uma escolha entre HOMENS x ANIMAIS, pois para ciência qualquer ser vivo é
um modelo experimental, e NÓS somos também VÍTIMAS !
As grandes catástrofes farmacológicas foram PREVIAMENTE testadas em animais, erros médicos gravíssimos e
irreversíveis, uma infinidade de drogas inócuas e perigosas à saúde humana são encontradas sob rótulos de
medicamentos, isso e muito mais são provas de que a experimentação animal é uma fraude médica e científica.
Testes IN VITRO com tecido humano têm oferecido resultados mais precisos que experimentos com animais.
Phenylbutazone, Chloranphenicol, e Thalidomida, são exemplos de drogas, as quais os efeitos nocivos podem ser
vistos em testes de cultura tissular, mas com efeito contrário utilizando o modelo animal.
Ao longo destes anos temos visto que o modelo animal continua sendo amplamente utilizado, mas ao contrário do
que se pensa, temos um aumento de "antigas doenças" como cólera, peste pneumônica, tuberculose, febre amarela,
malária,câncer, etc e "novas doenças" como dengue, rotavírus, hantavírus, ebola, AIDS, hepatitis G entre outras.
A vivissecção é uma fraude médica e científica, simplesmente por que é uma PESQUISA EXPERIMENTAL. É
óbvio que ninguém pode recriar uma doença expontânea em um corpo sadio, mas apenas alguns de seus sintomas, e
a informação obtida não é válida, pois não oferece nenhuma segurança em seus resultados.
Logo, se a pesquisa experimental não pode trabalhar com seres humanos, é fácil imaginar que a fraude científica
está conectada com a alegação de que uma doença expontânea humana pode ser reproduzida em animal. Esta
simples premissa, destrói a base científica de toda pesquisa biomédica envolvendo animais, pois estes não
desenvolvem doenças humanas.
Prof. Pietro Croce MD, do Instituto de Milão e autor de livros médicos e artigos científicos, faz uma interessante
observação quando diz que todas as verdades seguem 3 estágios:
1º. é ridicularizada
2º. é violentamente rejeitada e
3º. finalmente aceita como evidente por si mesma.
A experimentação animal continua em parte pelos subsídios ($) lucrativos e perpetua a tradicional filosofia
médico-científica, fraudando os verdadeiros resultados e tornando a população a verdadeira cobaia.
Animais não são "pequenos humanos", os modelos animais são desnecessários e perigosos pelos resultados
contraditórios dos experimentos.
Os "vivissectores" e seus defensores costuman usar muitas vezes o seguinte argumento: "preferem experimentar
em crianças do que em animais?" Mas em verdade, a vivissecção oferece informações enganosas e falhas, a
verdadeira escolha não está entre animais e pessoas, mas entre uma boa e má ciência. Sem dúvida a vivissecção
sempre custou muitas vidas animais e humanas, oferendo resultados imprecisos e enganosos.
Os experimentadores esperam que o público relacione a experimentação animal com o progresso médico-
científico, mas um número cada vez maior de cientistas, ex-experimentadores e autoridades médicas têm criticado
está prática medieval e cruel.
A atitude dos vivissectores com relação aos animais é claramente contraditória. O vivissector alega que:
1) Animais são fundamentalmente similares aos seres humanos
2) Animais são fundamentalmente diferentes dos seres humanos
Analisando a questão, a palavra "similar" usada como justificativa de experimentos no mundo da ciência , é
totalmente sem sentido, Se alguém diz que em um quarto fechado não existe "oxigênio", mas um "gás muito
similar", você entraria?! Se precisa de uma transfusão de sangue e o médico diz que não tem sangue humano
disponível, mas uma substância "muito similar", você aceitaria?!
É possível algumas vezes recriar sintomas de uma doença, mas nunca a doença em si. Os vivissectores não podem
infectar um animal com doenças humanas, por exemplo, a AIDS, embora os esforços massivos de
criar um "modelo humano-animal" de AIDS. Um "modelo animal não humano" não pode ter doenças humanas,
pois cada espécie é morfologicamente, fisicamente e bioquimicamente diferentes.
A medicina humana não pode em hipótese alguma ser baseada na medicina veterinária. Animais reagem
diferentemente as drogas, vacinas e outras químicas não apenas dos seres humanos, mas entre eles mesmos.
A experimentação animal causa sérios danos à saúde humana, por ser uma fraude ocultando seus verdadeiros
resultados, por ser uma verdadeira fábrica de doenças sem cura e disseminando vírus, por não aceitar que a
verdadeira saída de qualquer mal é a prevenção, e por ser responsável por grandes catástrofes farmacológicas ao
longo destes anos.
Médicos e cientistas têm ocultado ao público os malditos resultados de seus estudos e relatórios que provam os
riscos de reações graves da experimentação animal, que são maiores do que o público é informado.
Como exemplo, qualquer farmaco ou produto de uso humano na área médica-farmacológica antes de lançado no
mercado, segue exigências dos orgãos competentes (no Brasil, do Ministério da Saúde), e entre estas
está a "fase 1" que é o "teste com animais". Sendo assim, mesmo que um "pesquisador" obtenha um resultado de
pesquisa satisfatório sem o modelo animal, a "fase 1" deve ser "encomendada", para que a sua
pesquisa tenha validade científica. Entretanto no Brasil, temos várias "drogas" banidas em seu país de origem e que
aqui são comercializadas livremente sob vários rótulos diferentes ( vide "DROGAS E REMÉDIOS -
PERIGO À SAÚDE HUMANA" )
Foto7: Cães de
grande porte e
pelagem bege são
considerados os
melhores para a
alimentação.
Foto 10: Este cão não é Foto 11: Aqui mais uma
definitivamente amarelado, da evidência de que os animais são
forma como os coreanos vendidos como alimento. Parece
preferem. De fato não parece um "Pug" nesta jaula (o da
com qualquer outro cachorro direita) e ainda está usando uma
típicamente criado para coleira. Foi persuadido a sair da
alimentação. Concluímos que jaula, seu crânio foi esmagado e
este cão foi outro que seu pêlo foi queimado. Este é o
infelizmente foi abandonado ou procedimento padrão, apesar da
roubado. Não se amedrontou nem negativa taxativa dos oficiais
fugiu quando nos aproximamos. coreanos de que animais com
Nós pedimos suporte para ajudar- pedigree nunca são comidos.
nos a identificar esta raça e
várias pessoas disseram se tratar
de um "Pointer Purebred".
http://www.falabicho.org.br/experimentacao.htm
http://www.internichebrasil.org/ LER
http://www.internichebrasil.org/literatura/caso_ufsc.htm
Cadê o cachorro?
Desde que entrei na biologia, temia pelas aulas práticas que necessitassem do sacrifício de animais. Sempre me
posicionei contra a prática de tais metodologias dentro da biologia. Animais são mortos inutilmente, em práticas
didáticas desnecessárias e anti-pedagógicas.
O episódio aconteceu quando cursava a disciplina de Fisiologia Humana. Deveríamos anestesiar um cão, observar
que seus pulmões são vermelhos e que realmente inflam e se esvaziam, e finalmente sacrificá-lo. Uma semana antes
da aula de laboratório, levantei a discussão dentro da sala de aula. Muitos não queriam participar da prática, mas
sempre tem aqueles que querem, pois consideram seu interesse em aprender (?) maior que o interesse do animal em
viver. Bom, no final, a prática se procederia, e seria dado o direito de abstenção aqueles que não quisessem
participar desta (que até então era obrigatória). O fato de termos conseguido a opção de participar ou não de tal
prática não me satisfez, pois sabia que dentro de uma semana, um cão iria morrer inutilmente.
Conversei com duas amigas, e combinamos de tirar o cachorro do laboratório. Era 17 de novembro de 1997, 10
horas da manhã. A aula seria neste horário. Enquanto as duas amigas olhavam por fora, entrei no laboratório e não
encontrei ninguém, a não ser um cão preto e magro, que me olhava assustado e cabisbaixo. O que se procedeu foi
algo que qualquer pessoa, com um mínimo de sensibilidade, um pouco de coragem e conhecimento do fim daquele
cão, teria feito. Entrei correndo no laboratório, peguei a corrente do animal e saí "arrastando" o animal pelos
corredores da fisiologia. Escutava alguns "ei, ei, ei" de funcionários, mas não olhei para trás. Estava desesperado,
mas convicto do que estava fazendo. Levei o cão à um lugar seguro, onde pude acalmá-lo até que pudesse pegar o
carro e levá-lo em casa.
Na Universidade, a fisiologia chamou a polícia e fez um Boletim de Ocorrência. Acusação: "roubo de patrimônio
público" e "invasão". A situação estava ficando ruim...
Sem querer, levantamos uma polêmica que estava há muito tempo enterrada. A verdade é que a maioria dos
estudantes de biologia não gostam de tais práticas. A maioria simpatizante com a ação. No semestre anterior, na
mesma disciplina, uma aluna foi "puxada" para dentro da aula prática, pois estava se sentindo mal com os gritos do
cachorro que acordara no meio do experimento, com seu tórax aberto. Um debate foi realizado, no sentido de avaliar
tal metodologia dentro do currículo de biologia. Nunca um debate dentro da biologia, num final de semestre,
conseguiu reunir tanta gente. Estudantes e professores de outros cursos apareceram.
Na reunião de colegiado de curso, que iria definir a sentença à nós três, exigiam a devolução da corrente e do cão,
em troca de uma punição menos severa. Prometemos devolver somente a corrente, mas o cão seria impossível.
Tínhamos argumentos éticos bastante palpáveis para justificar nosso "crime". Questionávamos o termo
"propriedade", "patrimônio público", "roubo", quando estes estavam sendo aplicados a um ser vivo. Aliás, um ser
vivo que foi "sequestrado" das ruas, onde vivia livremente, para ser confinado em um biotério onde teria um fim, na
pior das hipóteses, semelhante à infelicidade do cão do semestre anterior. A acusação de "invasão" era infundada,
pois estava devidamente matriculado na disciplina, e entrei no laboratório em horário de aula.
Fomos sentenciados em uma simples advertência, com a condição de promovermos, no semestre seguinte, mais três
discussões acerca do tema. Conseguimos acabar com a utilização de animais na fisiologia destinados à biologia, que
foram substituídos pela alta tecnologia de um vídeo! A disciplina de Zoologia de Vertebrados, que pratica a
vivisecção em pombos e sapos, abandonou o uso deste último, mas persiste no pombo. Algumas disciplinas ainda
insistem em tais práticas desnecessárias e ultrapassadas.
Muitas vezes as leis existem injustamente, e se a transgressão à estas implica em mais benefícios do que prejuízos,
elas devem ser desobedecidas. Isto se chama desobediência civil. Neste caso, a lei foi transgredida, e os frutos desta
transgressão agora são colhidos. Muitos alunos não terão mais que passar por esta didática embrutecedora e
insensibilizadora, e muitas vidas animais serão poupadas. Cabe aos estudantes exigir a substituição de tais práticas,
uma vez ferido qualquer princípio moral ou ético. Alternativas existem, é tudo uma questão de força de vontade. É
neste clima que a biologia deve seguir, respeitando a vida.
Bom, o cão...ele se chama krieger, e está passando muito bem por aí.
* Membro do Centro de Direitos Humanos da Grande Florianópolis, aluno do Laboratório de Ética Prática, na
Filosofia.
Artigo publicado no jornal AN Capital de 5.2.99
Vítimas da Ciência
Sacrifício de animais abre debate na Universidade
Por Elaine Tavares*
O envelope chegou sem eu saber como. Tinha o meu nome estampado.
Dentro dele, um poema, fotos e uma denúncia: cachorros usados em aulas da medicina são mortos e viram lixo. As
fotos revelavam os bichinhos, dentro de sacos pretos, jogados atrás do HU, junto com o lixo hospitalar. Um deles,
com as patas e focinho amarrado, outro com a barriga cortada e suturada, outro, sujo de sangue, com uma expressão
quase humana, na rigidez da morte. Junto das fotos a pergunta gritante: " Porque? Seres vivos viram lixo. Como
tudo o que consumimos e descartamos. Queria entender como alguém consegue sair de uma aula assim, e almoçar,
namorar. Isso me dá medo e me entristece. É como se fosse uma guerra covarde em que de um lado está o homem
com suas máscaras, seus equipamentos, sua ciência e do outro seres indefesos, ora presos e vivos, ora mortos e lixo".
Impossível ficar impassível diante das fotos. O melhor amigo do homem e sua doçura, seu companheirismo.
O melhor amigo do homem que beija a mão de quem lhe bate e olha para o dono com olhos leais.
Volta a cena uma briga nova: os direitos dos animais. Até onde o homem tem direito de dispor da vida de outro ser,
ainda que diferente de si? Qual é o limite? Só o próprio humano pode estabelecer. Por isso é hora de discutir mais,
refletir, encontrar caminhos. Chocada com as fotos fui onde deveria ir. Na sala da disciplina de Técnicas Operatório,
aos fundos do HU. Lá, o professor Armando d'Acâmpora, responsável pela cadeira, conta que realmente a disciplina
depende destes animais para acontecer. "Como vou treinar um cirurgião sem que ele aprenda a manusear tecidos
vivos?", pergunta. Segundo ele é impossível ensinar o manejo do bisturi e todas as técnicas cirúrgicas através de
realidade virtual ou programas de computador. "Tu entregarias a tua mãe para ser operada por um cirurgião treinado
na realidade virtual?", provoca. o professor Armando explica que os alunos passam por várias etapas de treinamento.
Primeiro com laranjas, luvas de borracha e só depois de muito treino, começam a trabalhar com animais. "Os erros
técnicos não podem ser cometidos nos seres humanos. O treinamento tem que ser assim. Mas tudo é feito dentro de
conceitos éticos universais. Nenhum animal passa por qualquer sofrimento. Eles são anestesiados e depois do
trabalho são submetidos a eutanásia. Tudo sem sofrimento ou dor".
Durante um semestre são aproximadamente 300 cachorros que passam pelas mãos dos alunos da medicina. São cães
de rua da cidade de Curitiba, comprados especialmente para servirem de cobaias. Destes, 50% permanecem vivos,
desde que estejam servindo a alguma experiência. Os demais viram lixo. "Mas eles vão acondicionados em sacos
especiais, são lixo hospitalar", argumenta o professor. "Não temos condições de sepultar os animais. Se fosse assim,
quando um médico amputa uma perna, também deveria sepultá-la?". Sobre manter vivos os cachorros, Armando diz
ser impossível. "Pra teres uma idéia, qualquer pesquisa aqui tem que ser mantida com dinheiro do próprio
pesquisador. Não há dinheiro para cuidar destes animais. Para tê-los já gastamos 500 reais por animal. Mantê-los
seria inviável".
O estudante Huang Hee Lee, da 11º fase, acredita que as pessoas não devem olhar radicalmente para um lado só. Há
que ver os dois lados. Para ele, o trabalho com os animais é uma maneira de garantir uma ação mais eficaz no trato
com o humano. Huang Lee não acha que este tipo de prática torne o médico mais frio diante da vida, ao contrário,
"dá mais equilíbrio". Ele defende o uso dos animais porque "não há outro jeito e usá-los como experimentação faz
com que a probabilidade de erro num corpo humano seja bem menor".
A professora do Departamento de Ecologia e Zoologia , Paula Brugger, diz que não tem dúvida de que todos os
procedimentos éticos são utilizados no trato com os animais dentro da UFSC. Mas para ela, é necessário transcender
a esta ética. "O que acontece é que a nossa cultura legitimou separar o homem da natureza, considerando os demais
seres vivos como objetos a seu serviço, meros recursos, prontos para o uso. Isso tem que mudar. Se a gente se
horrorizar diante destas práticas, as alternativas surgem", argumenta. Ela lembra que existem culturas chamadas de
primitivas que vêm os animais como seres sagrados, tão sagrados como a vida humana. "E eles são os primitivos",
ironiza.
A questão talvez seja abrir o debate, mudar a visão de mundo. Encontrar um ser humano integrado à natureza, que
entenda que não só é parte da natureza, como é a própria natureza. Um só corpo, vibrando. Planeta Terra, Universo,
uma coisa só. Olhar o mun do assim nos faz ínfimos, insignificantes e, ao mesmo tempo, sagrados, tal qual qualquer
outra forma de vida. Que venha um tempo em que a vida não seja mais lixo. Que venha...
* Elaine Tavares é jornalista da Agecom/UFSC
Artigo Publicado no Jornal Universitário
Saiba mais pelo link: www.geocities.com/RainForest/Vines/5011/vivisseccao.html
O procurador da Republica Marco Aurélio Dutra Aydos encaminhou a reitoria Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) uma recomendação para que seja normatizada a prática da vivissecção, a utilização de animais em
experiências cientificas.
Depois de ter ouvido os responsáveis pelo procedimento na UFSC, Aydos determinou que a própria universidade
deve controlar a vivissecção, estabelecendo normas que não firam as leis que
versam sobre o assunto. Uma das recomendações e a não utilização de animais domésticos nas experiências. A
disciplina de Técnica Operatória da Medicina utiliza cachorros na simulação de
cirurgias.
Baseado na situação que encontrou na universidade Marco Aurélio Dutra Aydos encaminhou ao reitor Rodolfo Pinto
da Luz uma serie de recomendações para que, em 90 dias, providencias
sejam tomadas sobre a pratica da vivissecção. A universidade deverá proibir que os animais utilizados na pesquisa
não venham de prefeituras, já que está se vinculando o ensino as medidas de ordem sanitária para a redução de
animais nas ruas. Os 200 cães utilizados em cada semestre na Medicina são comprados das prefeituras de Curitiba
(PR) e Itapema, no litoral Norte catarinense, possuidoras do sistema da carrocinha. Outras determinações são a
proibição da vivissecção com animais domésticos, como cães e gatos, que possuem convívio maior com a espécie
humana e, assim como o homem, não tem como finalidade servir de alimento e não são predadores, sujeitos a
extermínio por medidas sanitárias.
A utilização de cães só devera ser mantida em algumas raças que têm semelhança fisiológica com o homem, em
casos restritos. Mesmo assim, os animais utilizados serão criados pelo Bioterio Central da UFSC, que tem agora 180
dias para se adaptar as novas exigências. As aulas em que a vivissecção e praticada devera ser acompanhada por
medico veterinário que vai garantir os preceitos da legislação. E, ao final dos procedimentos, deverão ser esgotadas
todas as possibilidades de restauração da vida do animal. Ou seja, o sacrifício será permitido apenas em ultimo caso
e sob o aval de um técnico responsável.
http://www.arcabrasil.org.br/uso_animais.htm
http://www.freezone.co.uk/vivabsurd/menu.html
http://apasfa.org/quem/estudan.html
1) Na Faculdade onde estudo tenho presenciado diversos abusos por parte dos professores no
tratamento com animais. Alguns cães acordam no meio da cirurgia, uivando de dor e eles não dão bola,
nem mesmo uma injeção de analgésico! Vocês podem me ajudar? O que eu faço?
2) Estudo psicologia e na Universidade tem um laboratório onde os animais ficam em gaiolas pequenas,
nunca tomam sol e o pessoal que fica lá não tem o menor cuidado. Isso pode ser denunciado?
Laboratório é assim mesmo?
3) Na Universidade onde estudo, os animais que são usados nas aulas são recolhidos das ruas pelos
próprios funcionários de lá. Eles nem verificam se os bichinhos têm dono! Isso está de acordo com a
Lei?
4) Sou estudante de medicina e fico indignada com a quantidade de cães que são usados em aulas
práticas. Eles usam e depois sacrificam, mesmo quando é alguma coisa de fácil recuperação.Existem
recursos alternativos para a vivissecção?
5) O biotério da faculdade onde estudo é um horror! Sujo, os animais tremem de frio no inverno, às vezes
ficam sem comida e quando há pós operatório nem sempre dão analgésicos. O que eu faço? Morro de
pena, mas tenho medo de ser perseguida se denunciar e não poder terminar meu curso.
A nova Lei de Crimes de Ambientais, a Lei Federal 9.605/98 prevê penas de multa e detenção para
quem maltratar animais Médicos e universidades não estão imunes à Lei! Negar anestesia e remédios
para a dor aos animais que estão sendo usados em aulas é inadmissível.
Diz a Lei :
"Art.32. Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção de três meses a um ano e multa.
§ Primeiro - Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animais vivos,
ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
Sabemos que a grande maioria das universidades está agindo fora da Lei e o que é pior, formando
indivíduos sem princípios básicos de ética e humanitarismo. Vejam, por exemplo, como era a UFSC, no
link abaixo. Isso mesmo, ERA, pois graças à coragem de um aluno, que denunciou e agüentou firme a
perseguição até mesmo de alguns colegas, o Promotor de Justiça Marco Aurélio Dutra Aydos, do
Ministério Público Federal, entrou com uma ação impedindo a utilização de animais na UFSC, está
sendo substituída por métodos alternativos.
http://www.ib.usp.br/etica/artigo.ab43.1992.html
Textos Selecionados
espaçoEste é um texto que foi traduzido a partir do periódico Animal Behaviour 43: 185-188,
1992. Representa não apenas um esforço no sentido da criação de diretrizes que direcionem as
decisões éticas relativas à utilização de animais em pesquisas científicas, mas também reflete a
tendência crescente adotada pelos periódicos científicos de considerar os procedimentos éticos
utilizados nos trabalhos submetidos.
ÍNDICE
• Introdução
• Legislação
• Escolha da Espécie
• Número de Indivíduos
• Dor ou Desconforto
• Espécies Ameaçadas
• Disposição Final
• Referências
Introdução
espaçoA utilização de animais em pesquisa levanta uma série de importantes questões éticas.
Estudos em ambiente de laboratório envolvem necessariamente a manutenção dos animais em
tanques, aquários e gaiolas. Procedimentos manipulativos e cirúrgicos podem ser necessários
para se atingir o objetivo da pesquisa. A observação dos animais em condição de liberdade pode
resultar em perturbação, principalmente se faz-se necessária sua alimentação, captura ou
marcação. Enquanto o avanço do conhecimento científico é um objetivo legítimo - e pode por si
próprio contribuir para a conscientização da responsabilidade humana sobre a vida animal - o
pesquisador deve sempre pesar qualquer potencial ganho em conhecimento contra as
conseqüências adversas para os animais utilizados como objetos de estudo, e adicionalmente
para outros animais no caso de estudos de campo. Com o objetivo de ajudar seus membros a
fazer o que são algumas vezes julgamentos éticos complicados, a Associação para o Estudo do
Comportamento Animal (Association for the Study of Animal Behaviour) e a Sociedade de
Comportamento Animal (Animal Behaviour Society) criaram os comitês de Ética e de Cuidado
Animal, respectivamente. Conjuntamente, estes comitês formularam as seguintes linhas básicas
para o uso de todos aqueles que estejam planejando e conduzindo estudos sobre o
comportamento animal. Tais diretrizes serão usadas pelos Editores do periódico Animal
Behaviour. Os artigos submetidos os quais violarem a essência destas linhas básicas serão
indicados à um dos comitês mencionados, e a avaliação do comitê será utilizada pelo Editor na
decisão da aceitação do artigo.
Legislação
espaçoOs pesquisadores devem cumprir o espírito bem como as diretrizes da legislação
pertinente. Para aqueles residentes na Inglaterra, as referências às leis dirigidas à proteção animal
são encontradas no livro da Universities’ Federation for Animal Welfare (UFAW, 1987). Nos
Estados Unidos, tanto a legislação federal como a Estadual se aplicam: orientação pode ser
obtida a partir do Code of Federal Regulations (1979) e do National Research Council (1985).
No Canadá, orientação pode ser obtida a partir das publicações "Guide do the Care and Use of
Experimental Animals, Vols 1 e 2" do Canadian Council on Animal Care (1980-1984).
Pesquisadores de outras regiões devem se familiarizar com os requerimentos locais.
Escolha da Espécie
espaçoA espécie escolhida para o estudo deve ser apropriada para responder as questões
formuladas. Quando a pesquisa envolver o uso de procedimentos que provavelmente causarão
dor inevitável ou desconforto ao animal, e quando espécies alternativas puderem ser utilizadas, o
pesquisador deve utilizar espécies as quais, na sua própria opinião e na opinião de colegas
qualificados, são menos prováveis de sofrer. A escolha da espécie apropriada geralmente requer
o conhecimento de sua história natural e sua complexidade. O conhecimento da experiência
prévia do animal (por exemplo, saber se ele passou a vida em cativeiro), também pode ser de
profunda importância. Embora geralmente não sejam apropriadas para estudos de
comportamento, alternativas para experimentos com animais algumas vezes podem ser possíveis
(Smyth, 1978).
Número de Indivíduos
espaçoEm estudos de campo ou laboratório os quais envolvam manipulações potencialmente
detrimentais para o animal ou para a população, o pesquisador deve utilizar o menor número de
animais possível e suficiente para se atingir os objetivos da pesquisa. O número de animais
usados em um experimento freqüentemente pode ser drasticamente reduzido pela realização de
um bom delineamento experimental e pelo uso de testes estatísticos que permitam examinar
vários fatores de uma só vez. Still (1982) e Hunt (1980) discutem formas de reduzir o número de
animais utilizados em um experimento através de delineamentos alternativos. Referências úteis
podem ser encontradas em Cox (1958) e Cochram & Cox (1966).
Dor ou Desconforto
espaçoSe os procedimentos utilizados na pesquisa envolvem dor ou desconforto, o pesquisador
deve ponderar se o conhecimento que possivelmente seja adquirido justifique o stress e dor
provocados nos animais. De forma geral, é extremamente necessário que os pesquisadores
considerem procedimentos alternativos previamente ao emprego de técnicas que causem dor ou
desconforto psicológico ao animal. Dor ou desconforto, mesmo quando inevitáveis, devem ser
minimizados o máximo possível sob os requerimentos do delineamento experimental. Também
deve ser dispensada atenção para os cuidados pré e pós-operatórios de forma a minimizar o stress
preparatório e os efeitos residuais. A menos que rigorosamente contra-indicados em função do
delineamento experimental, os procedimentos prováveis de causar dor ou desconforto devem ser
empregados apenas nos animais que tenham sido adequadamente anestesiados. Adicionalmente,
os pesquisadores devem fomentar discussões com os colegas sobre o valor científico dos
propósitos de suas pesquisas bem como possíveis considerações éticas. É provável que os
colegas de áreas distintas sejam especialmente úteis dado que podem possuir perspectivas
diferentes das do pesquisador. Os pontos seguintes, mais específicos, podem ser úteis.
(a) Trabalho de Campo. A observação dos animais em condição de liberdade pode resultar em
perturbação, principalmente se faz-se necessária sua alimentação, captura ou marcação.
Enquanto os estudos de campo podem contribuir para o avanço do conhecimento científico e
para a conscientização da responsabilidade humana sobre a vida animal, o pesquisador deve
sempre pesar qualquer potencial ganho em conhecimento contra as conseqüências adversas de
perturbação para os animais utilizados como objetos de estudo, e adicionalmente para outros
animais e plantas do ecossistema. Duas fontes úteis de informação são os livros editados por
Stonehouse (1978) e por Amlaner & Macdonald (1980).
(b) Agressão, predação e morte intra-específica. O fato de o agente causador de injúrias poder ser
outro animal não isenta o pesquisador das obrigações normais com os animais do experimento.
Huntingford (1984) discute as questões éticas envolvidas e recomenda que, sempre que possível,
estudos de campo com encontros naturais devem ser preferidos à encontros induzidos. Quando
estes últimos forem necessários, deve ser considerado o uso de modelos ou delineamentos
experimentais alternativos, o número de indivíduos deve ser mantido no menor nível possível
para que sejam atingidos os objetivos do experimento e os experimentos devem ser tão curtos
quanto possível.
(c) Estímulo aversivo e deprivação. Tais procedimentos podem causar dor e stress aos animais.
Para minimizar o possível sofrimento do animal, o pesquisador deve estar certo de que não existe
forma alternativa de motivar o animal, e que os níveis de deprivação e estímulo aversivo
utilizados não são maiores do que o necessário para se atingir os objetivos do experimento.
Alternativas para a deprivação incluem o uso de comidas altamente preferidas e outros ganhos
que podem estimular mesmo os animais mais saciados. O uso de níveis mínimos requer o
conhecimento da literatura técnica da área relevante: estudos quantitativos sobre estimulação
aversiva são revistos por Church (1971) e o comportamento de animais saciados é considerado
por Morgan (1974). Comentários adicionais para a redução do stress proveniente de
procedimentos motivacionais podem ser encontrados em Lea (1979) e Moran (1975).
(d) Deprivação social, isolamento e aglomeração. Os delineamentos experimentais nos quais é
necessária a manutenção de animais em condições de elevada densidade, ou os quais envolvam
deprivação social ou isolamento, devem ser extremamente estressantes para os animais. Dado
que o grau de stress varia consideravelmente com a espécie, sexo, condição reprodutiva e status
social dos indivíduos, a biologia dos animais e sua experiência social prévia devem ser
consideradas, e situações de stress devem ser evitadas tanto quanto possível.
(e) Condições Deletérias. Estudos objetivando a indução de condições deletérias nos animais são
muitas vezes direcionados à aquisição de conhecimento científicos de valores associados à
problemas humanos. Entretanto, o tratamento aos animais envolvidos na pesquisa deve ainda ser
considerado pelo pesquisador. Modelos de animais podem ser apropriados para o problema
investigado. Quando viável, estudos que induzam condições deletérias nos animais devem
também o possível tratamento, prevenção e alívio de tal condição. Adicionalmente, se os
objetivos da pesquisa permitirem, o pesquisador deve considerar a utilização de instâncias de
ocorrência natural de tais condições em animal em liberdade ou populações domésticas como
uma alternativa à indução das condições deletérias.
Espécies Ameaçadas
espaçoOs membros de espécies ameaçadas ou localmente raras não devem ser coletados ou
manipulados em campo a não ser em caso de ações sérias ligadas à conservação. Informações
sobre as espécies ameaçadas podem ser encontradas no International Union for the Conservation
of Nature, Species Conservation Monitoring Unit, 219C Huntingdon road, Cambridge CB3 0DL,
U.K. Nos Estados Unidos, as regras e regulamentos pertencentes ao Endangered Species Act de
1973 podem ser encontradas no Code of Federal Regulations (1973). Listas de espécies
ameaçadas podem ser obtidas escrevendo para o Office for Endangered Species, U.S.
Department of Interior, Fish and Wildlife Service, Washington D.C. 20240, ou para o Committee
on the Status of Endangered Wildlife no Canada, Ontario, K1A 0E7. Pesquisadores de outras
regiões devem se familiarizar com a informação local sobre espécies ameaçadas.
Disposição Final
espaçoSempre que possível, os pesquisadores devem procurar distribuir seus animais para
colegas para estudos adicionais. Entretanto, se os animais forem distribuídos para a utilização em
experimentos adicionais, deve-se tomar cuidado para que os mesmos animais não sejam usados
de forma repetida em experimentos que envolvam procedimentos cirúrgicos ou outros
tratamentos que possam ser estressantes ou dolorosos. Exceto se proibido por leis nacionais,
federais, estaduais, provinciais ou locais, os pesquisadores devem libertar os animais capturados
em campo se isto for viável e auxiliar os esforços de conservação. Entretanto, o pesquisador deve
considerar que a libertação em campo pode ser detrimental para as populações existentes na área,
e que os animais devem ser libertados apenas no mesmo local onde foram capturados (a menos
que as diretrizes conservacionistas providenciem outra orientação) e apenas se a habilidade de
sobrevivência na natureza não tenha sido prejudicada. Se houver necessidade de sacrifício dos
animais subseqüentemente ao estudo, isto deve ser feito da forma menos doloroso e mais
humana possível; a morte dos animais deve ser confirmada previamente à liberação dos corpos.
Estas linhas básicas suplementam mas não suplantam os requerimentos legais no país e/ou estado
ou província na qual o trabalho é conduzido. Elas não devem ser consideradas como uma
imposição sobre a liberdade científica dos pesquisadores, mas como um auxílio e uma referência
ética sobre a qual cada pesquisador poderá se basear para tomar decisões relacionadas com o
bem-estar animal.
Referências
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UNIVERSITIES’ FEDERATION FOR ANIMAL WELFARE 1987. The UFAW Handbook on
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