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A TEORIA DOS PÓLOS DE CRESCIMENTO DE FRANÇOIS

PERROUX

Nali de Jesus de SOUZA1.

Segundo Perroux, o surgimento dos pólos industriais de crescimentos


se dá em torno de uma aglomeração urbana importante, ao longo das
grandes fontes de matérias-primas, nos locais de passagem de fluxos
comerciais significativos e em torno de uma grande área agrícola
dependente. Nos pólos de crescimento o fator geográfico é importante, pois
são as economias de aglomeração geradas pelos complexos industriais que
produzem esses pólos.

Na tentativa de conter a pulverização dos investimentos no território


nacional, adotou-se a noção de crescimento polarizado, buscando não
enfraquecer os efeitos encadeamento. Para isso, procurou-se concentra-los
em pontos específicos, estrategicamente distribuídos no espaço. Um exemplo
seria o Plano de Metas no Brasil, quando os investimentos foram
concentrados em torno das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro para o
aproveitamento das economias externas nessas áreas metropolitanas.

A idéia era que as empresas ligadas tecnologicamente por relações de


insumo-produto (polarização técnica) precisariam ficar localizadas juntas
uma das outras. Dessa maneira, a economia de transporte de insumos
geraria a polarização geográfica.

Economias e deseconomias de aglomeração

A partir do momento que começaram a surgir deseconomias de


aglomeração nos grandes centros urbanos, as empresas têm buscado se
relocalizarem na periferia das regiões metropolitanas, ou até mais afastadas,
buscando mão-de-obra mais barata e incentivos fiscais. Diferentes das
empresas que prestam serviços especializados e de alta tecnologia, as
empresas industriais são as que mais sofrem com essa deseconomia, tanto
pelo encarecimento da mão-de-obra, quanto pela elevação dos preços dos
terrenos, entre outros.

1
Texto Complementar ao Livro de Desenvolvimento Econômico (2005).
Porém, Perroux via a polarização como um fenômeno dinâmico,
influenciando o pensamento de Richardson, que afirma que o modelo centro-
periferia apresenta quatro estágios de evolução:

1º) Padrão de localização disperso e pré-industrial (a população ainda


encontra-se no interior da região);

2º) A periferia continua agrícola, enquanto que o centro principal o


crescimento começa a crescer;

3º) Dispersão espacial do crescimento para centros secundários, no interior


da região polarizada;

4º) Integração espacial de subespaços interdependentes.

E mais tarde ocorre a descentralização do crescimento econômico


devido ao desenvolvimento de outros centros, reduzindo as desigualdades
regionais.

Formas de desenvolvimento polarizado

As economias de aglomeração geradas nos centros urbanos e


industriais são resultados da interdependência entre indústrias motrizes e
indústrias satélites – fornecedoras e compradoras de insumos. Do ponto de
vista geográfico, os pólos de crescimento podem ser locais, regionais,
nacionais e internacionais. No caso de um pólo internacional, pode ocorrer de
sua área de influência seja bloqueada por barreiras político-administrativas,
gerando, de acordo com Perroux, “um conflito entre os espaços econômicos
das grandes unidades econômicas (firmas, indústrias ou pólos) e os espaços
politicamente organizados dos Estados nacionais”.

Um pólo de crescimento pode constituir um pólo de desenvolvimento


apenas em relação à região onde está implantado. Isso significa que em
outras regiões, esse pólo estaria sendo prejudicial, pois trocas desiguais e
drenagem de capitais financeiros, mão-de-obra especializada e atividades
produtivas acabavam por esgotar a vitalidade econômica dessas regiões,
aumentando a disparidade do país.

Com isso, observamos que pólos de crescimento podem ter efeitos


propulsores e efeitos regressivos em regiões diferentes de onde ele se
localiza. Os efeitos propulsores são os efeitos de encadeamento da produção
e do emprego sobre atividades induzidas de regiões vizinhas e os efeitos
regressivos são as drenagens sofridas pelas regiões.

Um pólo de crescimento urbano/industrial só se tornará um pólo de


desenvolvimento quando os efeitos propulsores superarem os efeitos
regressivos. À medida que essa neutralização ocorrer e que efeitos
propulsores de outras áreas sejam internalizados, essa região estará
passando por um processo acumulativo de desenvolvimento.

Separatismo e renúncia de soberania

Para Hirschman, a concentração dos investimentos em um pólo de


crescimento pode exercer efeitos favoráveis e desfavoráveis no resto do país.
Mostrou-se contrário à dispersão de recursos públicos em todas as regiões,
seu argumento é que a dispersão dos recursos para um crescimento mais
equilibrado, enfraquece os efeitos de enquadramento no interior do pólo,
anulando a propagação do crescimento entre as regiões. Sua estratégia era
escolher projetos chaves para concentrar o esforço de crescimento, mas
advertiu que a difusão de efeitos desfavoráveis nas regiões pobres poderá
reforçar os argumentos em favor do separatismo. Tendo vantagens em
separar das regiões pólo para ter autonomia para formular políticas
econômicas.

A idéia do separatismo e a antítese dos argumentos em favor do


abandono de soberania. Quando dois países se fundem ou ocorre uma
integração de blocos econômicos tem como premissa à superação dos efeitos
regressivos pelos efeitos propulsores da integração.

Constata-se desta forma que nem todo pólo de crescimento constitui


um pólo de desenvolvimento, ao menos que gere em sua volta um amplo
conjunto de outras empresas, atividades fortemente conectadas lideradas
por uma indústria motriz, gerando efeito adicionais na economia.

A difusão dos seus efeitos de encadeamento exige a presença de


canais de transmissão; compreendendo atividades ligadas, meios de
transportes , de comunicação desenvolvidos e uma rede urbana fortemente
conectada. A política de desenvolvimento com base em pólos de
desenvolvimento precisa incentivar também o surgimento de atividades
satélites, fornecedoras de insumos para a atividade principal e absorver os
produtos das empresas motrizes são fatores importantes para a integração e
ampliação do pólo.

A criação de infra-estruturas de apoio como energia, estradas e portos


constituem canais que favorecem a difusão intersetorial dos efeitos de
encadeamento. A expansão da renda e do emprego constitui um dinamismo
do comércio e serviços que amplia o mercado local que atrai empresas
produtora de bens de consumo final.

Despolarização do crescimento econômico

No processo de crescimento econômico há uma fase de concentração


setorial e espacial da industria, com o aumento das desigualdades regionais
até um certo ponto, posteriormente ocorre uma reversão da tendência: as
regiões periféricas crescem mais rapidamente, corroborando a noção de
difusão espacial do crescimento econômico. Deixando o mercado agir
livremente alguns pontos tenderiam a constituir pólos, ocorrendo efeitos
propulsores e efeitos regressivos dos pólos principais em direção aos pólos
secundários, a adoção de uma política menos descentralizada poderia
acelerar a tendência natural do mercado, que promove a difusão dos efeitos
propulsores a partir dos pólos.

A idéia do crescimento por pólos, a partir do centro principal


envolvendo centros secundários, fundamenta-se na maximização dos efeitos
de indução dos investimentos, contrária a uma política de dispersão de
recursos que acarretaria uma pulverização de investimentos que não
possuiria força suficiente para desencadear um processo de indução do
crescimento entre os setores e regiões. O grande problema é o desvio
político em beneficio de determinada região ou grupo. A teoria de polarização
tem preferência no incentivo dos pólos secundários, com base nas empresas
suscetíveis de se tornarem polarizadas, na criação de canais de difusão dos
efeitos de encadeamento nas redes urbanas e nas áreas rurais. Os estímulos
à agricultura e à criação de atividades agroindustriais promovem o
desenvolvimento das áreas agrícolas e de pequenas cidades na sua
proximidade, o que induz ao crescimento inclusive das atividades motrizes
localizadas nos pólos mais importantes. A atenção tem se voltado para a
expansão das exportações e da agricultura como um todo, pelos efeitos
significativos que exercem sobre o nível de emprego e de renda, os
benefícios sociais se elevam ainda mais se houver investimento no
desenvolvimento dos serviços rurais (silos, oferta de águas, saúde, educação
etc).
Concluindo a indústria motriz não se constitui o único elemento do
desenvolvimento regional, cada região precisa basear tanto na agricultura
como em atividades industriais mais tradicionais como produtoras de bens
finais (bebidas, vestuário e etc.). As indústrias induzidas são tão essenciais
ao pólo como as indústrias motrizes, e nenhuma sobrevive sem infra-
estrutura, mão de obra, níveis de instrução e serviços básicos para o
atendimento a população, habitação segurança e saúde.

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