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A Natação

na sua Expressão
Psicomotriz
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Earle D/n/z Macarthy Moreira, Reitor
Sérgio de Meda Lamb, Vice-Reitor
Eloy Julius Garcia, Pró-Reitor de Graduação
Francisco Luís dos Santos Ferraz, Pró-Reitor de Planejamento e respondendo pela
Pró-Reitoria de Administração
Gerhard Jacob, Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
João Carlos Athayde Dias, Pró-Reitor de Assistência à Comunidade Universitária Ludwig
Buckup, Pró-Reitor de Extensão

EDITORA DA UNIVERSIDADE
Darcy Caetano Luzzatto, Diretor

CONSELHO EDITORIAL
Titulares — Alberto André, Haralambos Simeonidis, Helga Wmge, João Guilherme
Corrêa de Souza e Walter Koch Suplentes - Juan José Mourino
Mosquera, Oscar Miranda Froes e
Ricardo Schneiders da Silva Presidente
— Darcy Caetano Luzzatto
© de Jayme Werner dos Reis 1? edição 1982
Direitos reservados desta edição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Capa: Paulo António da Silveira Administração: António A.


Dallazen Editoração: Geraldo F. Huff

R375 Reis, Jayme Werner dos.


A natação na sua expressão psicomotriz. Porto Alegre, Ed.
da Universidade, UFRGS, 1982.
(Livro-texto, 7) Editadu em convénio

MEC/SESu/PROED.

1. Natação — Funções motrizes. 2. Natação — Psicomotricidade. I. Titulo.

CDU 797.2:159.943

Ficha catalográfica: Zaida M. Moraes Preussler, CRB-10/203.

ISBN 85-7025-043-6
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7
2 FUNDAMENTOS BÁSICOS........................................................................ 8
2.1 O Homem Nada Por Necessidade ....................................................... 8
2.2 Hidrostática do Corpo Humano .......................................................... 10
2.3 Fatores Comuns aos Movimentos do Corpo na Água e em Terra ..... 10
2.4 Espaço ............................................................................................... 10
2.5 Tempo................................................................................................ 10
2.6 Força.................................................................................................. 11
2.7 Continuidade ...................................................................................... 11
3 MECÂNICA NATATÓRIA E SUA FUNDAMENTAÇÃO EM LEIS E
PRINCÍPIOS FÍSICOS ..................................................................................... 12
3.1 Flutuabilidade..................................................................................... 12
3.2 Densidade Relativa ou Peso Específico ............................................ 13
3.3 Densidade da Água............................................................................ 13
3.4 Peso Específico do Corpo Humano ................................................... 13
3.4.1 Obtenção do Peso Específico..................................................... 13
3.4.2 Os pulmões do Homem como Elemento Flutuador Improvisado 14
3.5 Centro de Gravidade.......................................................................... 14
3.6 Condições para a Flutuação .............................................................. 15
4 SUSTENTAÇÃO EM SUPERFÍCIE E EM MOVIMENTO.......................... 15
4.1 Estabilidade ....................................................................................... 16
5 HIDRODINÂMICA DO CORPO HUMANO................................................ 17
6 RESISTÊNCIA OPOSTA AO MOVIMENTO ............................................. 17
7 PRINCIPIO DA AÇÃO E REAÇÃO ........................................................... 19
7.1 Forças de Resistência Útil ................................................................. 19
7.2 Resistência Frontal ............................................................................ 19
7.3 Inércia ................................................................................................ 20
7.4 Inércia e seus Pontos Principais ........................................................ 21
8 PLANOS APLICADOS À MECÂNICA NATATÓRIA ................................. 21
9 EIXOS ....................................................................................................... 22
9.1 Eixo Horizontal ou Longitudinal.......................................................... 22
9.2 Eixos Transversais............................................................................. 22
9.3 Eixos de Rotação ............................................................................... 22
10 PROPULSÃO ........................................................................................ 22
11 LEI TEÓRICA DO QUADRADO ............................................................ 24
12 ACELERAÇÃO ...................................................................................... 24
13 CADÊNCIA ............................................................................................ 25
14 RITMO ................................................................................................... 25
15 COMPORTAMENTO DAS ALAVANCAS HUMANAS NA NATAÇÃO ... 25
16 BRAÇADAS........................................................................................... 26
17 BATIMENTOS ....................................................................................... 26
18 ONDULAÇÃO DO TRONCO NO NADO BORBOLETA-GOLFINHO..... 27
18.1 Trabalho dos Braços .......................................................................... 28
18.2 Trabalho das Pernas.......................................................................... 28
18.3 Fase da Tração .................................................................................. 29
18.4 Recuperações .................................................................................... 29
18.5 Batimentos ......................................................................................... 30
19 RESPIRAÇÃO DO NADADOR.............................................................. 31
20 FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO AQUÁTICA......................................... 33
21 ASPECTOS FÍSICOS DA RESPIRAÇÃO ............................................. 33
22 EXPIRAÇÃO.......................................................................................... 34
23 INSPIRAÇÃO ........................................................................................ 34
24 TEMPO DE APNÉIA.............................................................................. 35
25 PEDAGOGIA DA RESPIRAÇÃO........................................................... 35
26 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA APRENDIZAGEM ......................... 36
27 IDADE FAVORÁVEL PARA O APRENDIZADO .................................... 37
28 SISTEMA DE ENSINO .......................................................................... 37
29 RECURSOS PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM......................... 38
30 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO ENSINO......................................... 38
31 APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO.......................................................... 38
32 OBJETIVOS FUNCIONAIS ................................................................... 39
33 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA.............................................................. 39
34 OBJETIVOS PARCIAIS DO PRIMEIRO OBJETIVO DA
APRENDIZAGEM............................................................................................. 40
35 ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA PARA O ENSINO DA NATAÇÃO ............. 41
36 PRIMEIRO ESTILO A SER ENSINADO................................................ 41
37 OBJETIVOS OPERACIONALIZADOS .................................................. 42
38 METODOLOGIA DOS ESTILOS DE NATAÇÃO................................... 43
39 FUNDAMENTAÇÃO MECÂNICA .......................................................... 43
40 DIVERSIDADE DAS SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES NA NATAÇÃO . 44
40.1 Sensações Motrizes........................................................................... 44
40.2 Percepções Especializadas No Esporte ............................................ 45
41 ATENÇÃO E MEMÓRIA........................................................................ 45
42 REAÇÕES ............................................................................................. 46
42.1 Estrutura do Processo de Reação ..................................................... 46
42.2 Período de Reação Preliminar ........................................................... 46
42.2.1 Período de Reação Central ou Latente....................................... 46
42.2.2 Período de Reação ou Efetor...................................................... 46
42.3 Tipos de Reações .............................................................................. 47
42.3.1 Tipo de Reação Sensória ........................................................... 47
42.3.2 Tipo de Reação Motora .............................................................. 47
42.4 Particularidades do Processo de Reação .......................................... 47
42.5 Esforços Voluntários no Processo da Atividade Desportiva............... 48
43 CONCLUSÕES ..................................................................................... 49
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 49
A NATAÇÃO NA SUA EXPRESSÃO PSICOMOTRIZ

1 INTRODUÇÃO

O homem se desloca no meio líquido por ação de braços e pernas,


baseando-se em leis físicas para seu melhor aproveitamento na superfície. Seu
corpo representa um peso e que necessariamente dispenderá força e energia
para deslocar-se.

A arte de nadar significa a técnica de deslocar-se na água por


intermédio da coordenação metódica de certos movimentos.

Esta ação coordenadora começa a atuar no momento em que o


homem entra na água. Entram, então, em ação a hidrostática, a cinemática e a
dinâmica.

O homem, como ser terrestre, respira ar e é bípede na posição


vertical. Para nadar é obrigado a adotar a posição horizontal, utilizando seus
braços e pernas como meios de deslocamento, trocando, portanto, seus
hábitos naturais.

Na flutuação, em posição estática, não há problemas; em


movimento, a água oferece resistência ao avanço, qualquer que seja a direção
adotada. Assim, em relação ao homem atuam várias leis e princípios de física
(gravidade, densidade, equilíbrio e flutuabilidade). No meio líquido, temos por
um lado a densidade e resistência; por outro, na ação de deslocamento, a
inércia, a fricção, o peso, a força (ação e reação), a pressão, a compressão e a
tração.

A flutuação depende não só das densidades relativas da água, e do


homem. Outro fator que não podemos deixar de citar é a maior superfície de
sustentação apresentada pelo nadador que melhora sensivelmente suas
condições de flutuabilidade.

Na propulsão entram em ação as forças de pressão, compressão


tração e impulsão que o homem utiliza para encontrar melhor rendimento em
sua progressão.

No movimento propulsor (tração e empurrada) age uma força


positiva, exercida pelo homem, e outra negativa, a resistência da água.

No conhecimento das leis e princípios da física que permitem a


obtenção de melhores resultados, os fundamentos tomam importância
primordial. Uma base científica é essencial à natação como arte e como
técnica.

O ensino e a aprendizagem da natação em moldes científicos obriga


a um trabalho constante, na ação sobre cada caso e cada aluno, requerendo
correções constantes, repetindo, repetindo sempre. Só desta maneira poderá o
aluno adquirir o domínio cinestésico, a consciência do movimento que executa
e das atitudes do corpo e de seus segmentos, a fim de tornar-se um bom
nadador. Quando isso for alcançado, ou seja, o total domínio neuromuscular,
pode obter-se qualquer característica de nado que o professor desejar.

2 FUNDAMENTOS BÁSICOS

2.1 O Homem Nada Por Necessidade

Como elemento, a água foi o segundo a ser dominado pelo homem.


A necessidade de alimentar-se e conseguir outros meios de comunicação
induziram-no a atravessar pequenos cursos de água e, à medida que foi
dominado o elemento em si, maiores percursos foram vencidos. Deste modo, o
homem foi se especializando até se tornar praticante desta modalidade, como
desporto.

Muitos foram os estudos e alterações efetuados nos estilos, os quais


nos possibilitam admirar em praias e piscinas os graciosos e rítmicos
movimentos, que permitem ao nadador avançar em velocidades nunca
imaginadas.

Embora na vida qualquer definição seja conseqüência da


experiência, nas teorias, que facilitam melhor a prática posterior, a definição
deve preceder qualquer outra explicação de função ou comportamento.

Baseados nestes princípios e considerações, não devemos desde já


esquecer que, do ponto de vista mecânico e em suas últimas conseqüências, a
ciência e a arte de nadar em qualquer estilo, com fins desportivos ou não,
consistem em satisfazer dois objetivos fundamentais:

1° - procurar nas ações propulsoras (braços, pernas, mãos e pés)


proporcionar ao nadador a melhor sustentação possível e um
deslocamento satisfatório, sem o desvio desnecessário da trajetória
em relação à linha e ao plano de progressão;

2° - diminuir os possíveis atritos e as resistências dos segmentos


corporais, nomeadamente dos de ação propulsora nos momentos de
recuperação e deslizamento. Necessário também que os ângulos
formados pelo corpo e os membros, durante as fases enumeradas,
se tornem mais próximos possíveis dos planos possíveis de serem
alcançados.

Todos os movimentos natatórios das técnicas modernas tendem à


consecução destes propósitos. Se, em certas fases dos diferentes estilos, isto
não é plenamente alcançado, procurar-se-á determinar forças componentes,
cujas resultantes atuam, tanto quanto possível, segundo os planos em que há
interesse em trabalhar cada uma destas fases, segundo os princípios referidos.
Diz-se que o homem nada ao mover braços e pernas de forma
coordenada e metódica. Tal afirmativa é erro grosseiro, visto que as
experiências de física efetuadas e demonstradas por Arquimedes, Pascal e
outros mostram-nos haver algo mais a considerar. As experiências, as leis
físicas e de biomecânicas imutáveis explicam porque o corpo flutua, porque,
com movimentos de braços e pernas, não fazemos mais do que deslocarmo-
nos, aproveitando as leis atuantes, que são a hidrostática, pressões e
densidade.

Para que as exigências hidrodinamicas sejam atendidas dentro das


possibilidades anátomo-fisiológicas e em função dos necessários princípios de
economia de esforço, as técnicas dos estilos chegaram às modernas versões
dos estilos.

O corpo humano mergulhado na água sofre determinadas alterações


do ponto de vista termodinâmico.

O calor, por intermédio dos pulmões, é expelido para a atmosfera,


mas a água absorve o calor da pele com muito mais intensidade, porque o
calor passa mais facilmente para a água do que para o ar. Desaparece, pois, a
necessidade de transpirar dentro da água e a perda de peso nessas condições
fica reduzida.

Se a água for muito fria, há a possibilidade de cãibras, e em águas


muito quentes, a de transpiração, cujo efeito é menos benéfico que em contato
com o ar, dado que a regulação térmica se realiza em más condições.

A camada adiposa existente sob a pele atua como isolante térmico,


dificultando a transferência de calor dos músculos para a pele e para a água ou
o ar.

Dentro da água o resfriamento da pele é mais intenso do que ao ar.


A camada de gordura limita a percentagem de transferência de calor. Quanto
mais espessa for a camada de gordura, menor será tal percentagem. Uma
camada de gordura razoável, além das vantagens apresentadas
posteriormente na hidrostática e na hidrodinâmica, contribui para manter os
músculos corretamente aquecidos.

Assim, o tecido adiposo excessivo prejudica menos o atleta na


prática da natação do que em outros desportos. Isto não significa que a
natação é o desporto dos "gordos", mas podemos afirmar que é um desporto
também dos "gordos".

O gordo, por apresentar uma menor densidade média do que uma


pessoa magra, tem sua flutuação favorecida. Embora favorecido, de um lado,
deverá, por outro, efetuar um trabalho mais intenso para o seu deslocamento,
acarretando, desta maneira, maior atividade cardiopulmonar.
2.2 Hidrostática do Corpo Humano

Qualquer corpo mergulhado num fluido sofre uma impulsão vertical


de baixo para cima igual ao peso do volume do fluido deslocado (princípio de
Arquimedes). A densidade do corpo humano é muito próxima da água doce,
pois o nosso corpo tem em sua composição elevada taxa de água e os demais
componentes também apresentam densidade média pouco superior à unidade.
Por esta razão, o corpo, embora tendendo a mergulhar, regressa à superfície
pelo enchimento dos pulmões. De resto, movimentos adequados podem
mantê-lo à superfície, sem grande esforço.

Ao flutuar, grande parte do volume do corpo mantém-se abaixo da


linha da água. Apenas pequena parcela do seu volume fica fora da água. É o
que ocorre com os icebergs.

2.3 Fatores Comuns aos Movimentos do Corpo na Água e em


Terra

Os praticantes de natação e os de competição sabem perfeitamente


que alguns fatores comuns afetam o movimento do homem tanto na água
como na terra. Estes fatores são o espaço, o tempo, a força e a continuidade
de ação.

2.4 Espaço

O conceito de espaço compreende elementos como a direção e o


movimento. Na água, o homem move-se em diversas direções: para frente
para trás, para cima, para baixo ou ainda utiliza estes mesmos movimentos
combinando-os. Para mover-se para frente ou para trás, o corpo Na fica
totalmente estendido na superfície, em posição horizontal. Na posição vertical,
o movimento é exercido para cima e para baixo.

A água que sustenta o corpo do homem permite uma reação de


apoio em seu favor, permitindo nadar em diversos níveis, sob a água e â
superfície. A recuperação dos braços fora da água no nado borboleta e a
recuperação dos mesmos sob a água na braçada do peito são exemplos de
técnicas de braçadas que utilizam níveis distintos.

2.5 Tempo

Necessitam-se somente de frações de segundo para mover o corpo


ou partes do mesmo através da água; pode efetuar-se este movimento num
ritmo rápido, lento ou à meia velocidade. Quando uma braçada contém uma
impulsão e uma fase de recuperação sob a água, o nadador deverá utilizar
movimentos ligeiramente mais lentos ao recuperar do que ao impulsionar e
progredir.
Esta norma geralmente auxilia o nadador a reduzir ao mínimo a
resistência da água, retardando os movimentos de recuperação e reservando
os movimentos mais rápidos para a impulsão ou tempo de aplicação da força.
Nos movimentos de braços no crawl ou no nado de costas, a velocidade nas
fases de recuperação fora da água, a impulsão deverá ser uniforme, seja de
forma rápida, lenta ou média. O nadador de competição utiliza somente
movimentos rápidos. Aquele que, porém, nada por pura recreação, utiliza
movimentos relativamente mais lentos.

2.6 Força

O corpo humano serve-se da força das contrações musculares para


mover-se na água. Esta força é aplicada na direção que se quer seguir e numa
razoável distância, auxiliado por diversos grupos musculares dos braços e das
pernas numa sucessão ordenada.

A força deverá aplicar-se paralelamente ao eixo central do corpo no


sentido dos pés. A impulsão na fase subaquática da força dos braços deverá
começar justamente sob a superfície da água e prosseguir durante uma
determinada distância. No crawl, por exemplo, os braços movimentam-se sob a
água de um determinado ponto à frente da cabeça até a coxa. Se os braços
interromperem seu movimento no meio de sua passagem durante a tração e
não empurram até a coxa, a força resultante é bastante diminuída.

Quando é utilizado um grande número de grupos musculares para


mover braços e pernas, isto deverá ocorrer em sucessão apropriada, da frente
para a retaguarda.

2.7 Continuidade

Algumas braçadas constituem exemplos de movimento contínuo,


porque braços e pernas se movem de tal forma continua para aplicar a força.
Quando o movimento é seqüencial, como no crawl ou nado de costas, é
chamado de fluxo livre. As braçadas do nado de peito ou as do nado elementar
de costas ou as do nado de lado são exemplos de fluxo dependente, porque
necessitam de uma interrupção do movimento para o deslizamento e, por um
certo tempo, temos que manter o corpo numa posição equilibrada. Alguns
estilos e braçadas utilizam-se de uma combinação de ambos os fluxos.

Resumindo, tanto na água como em terra, todo o estudo do


movimento humano compreende:

a) espaço, isto é, ar ou água, através do qual o corpo pode mover-


se;
b) movimento temporal do corpo ou de suas partes em diversas
velocidades;
c) energia de contração de grupos musculares do corpo, em graus
diversos, para produzir o movimento;
d) movimento livre do fluxo contínuo do corpo, caracterizado pelas
seqüências suaves dos braços e das pernas ou
e) movimento do fluxo dependente, que não é contínuo e necessita a
conservação de uma posição equilibrada do corpo..

3 MECÂNICA NATATÓRIA E SUA FUNDAMENTAÇÃO EM LEIS


E PRINCÍPIOS FÍSICOS

Os que aprendem a nadar devem saber porque uma braçada é


eficiente, pois certos princípios mais evidentes de mecânica baseiam-se numa
técnica eficaz que auxiliará o nadador a melhorar sua execução.

3.1 Flutuabilidade

Deslocando praticamente um peso de água igual ao seu, o corpo


humano depende da quantidade de ar nos pulmões para flutuar ou afundar.
Sob os aspectos desportivo e recreativo, isso é uma vantagem, pois o homem
não tem dificuldade em nadar à superfície ou submerso.

Pela lei das pressões, esta á aumentam na mesma proporção que a


profundidade; assim, se duplicarmos a profundidade, o mesmo ocorrerá com a
pressão.

Segundo o princípio de Pascal o corpo submerso sofre pressão em


todos os lados. Isso significa que em maiores profundidades a pressão de
baixo para cima aumenta, melhorando, portanto a flutuabilidade. O resultado é
um impulso para cima e o corpo tendendo a subir, com maior ou menor
facilidade, conforme sua densidade. O já citado e conhecido princípio de
Arquimedes estabelece que um corpo submerso num líquido recebe um
impulso debaixo para cima com uma força igual ao peso do líquido que
desloca, e que se acelera em relação a este mesmo deslocamento.

Sendo a densidade do corpo menor, o empuxo para cima é maior do


que o peso e o corpo flutua, isto quer dizer que sai em parte fora do líquido, até
que o peso da água deslocada seja igual ao peso de todo o corpo.

Com relação ao ato de nadar, em primeiro lugar, devemos levar em


conta a flutuabilidade do corpo humano, em conseqüência disso, temos que
considerar:

- Conceito de densidade relativa ou peso específico;


- Densidade da água;
- Peso específico do corpo humano.
3.2 Densidade Relativa ou Peso Específico

Denomina-se densidade relativa ou peso específico a comparação


entre o peso de uma substância qualquer com o volume igual ao da referida
substância na água. A esta última chamamos de densidade padrão e recebe o
valor da unidade. Para isso é necessário que a água seja quimicamente pura e
se encontre a uma temperatura de 40°C acima de zero.

3.3 Densidade da Água

Quando a água não é quimicamente pura, possuindo sais e


impurezas, sua densidade relativa ultrapassa o valor unitário da água pura. Por
esse motivo, a água salgada e as salobras são muito mais densas do que a
água doce. Ex.: Lago Salgado nos Estados Unidos da América, águas dos rios
e de piscinas.

Esta diferença é bastante variável, dependendo inclusive do grau de


evaporação do lugar e de outros fatores. O valor médio dessa densidade é
1,026.

Outro exemplo: águas termais, por serem de uma pureza especial


podem ter a densidade inferior a da água doce.

As piscinas onde são realizadas as competições têm uma


temperatura de 24°C e são tratadas quimicamente com normas e
procedimentos ultramodernos, possuindo, às vezes, uma densidade relativa
muito próxima à da unidade.

3.4 Peso Específico do Corpo Humano

A densidade relativa do corpo humano com os pulmões em


expiração forçada, e muscularmente descontraído em posição equilibrada
(horizontal ou mais ou menos vertical), é sempre superior ao da água variando
de indivíduo para indivíduo.

Estas variações dependem da idade, sexo, desenvolvimento


muscular e gordura (tipo morfológico) e o valor dessa densidade está orçado
em 1,065. Devido ao que acabamos de evidenciar, sem ar inspirado (não
levando em consideração o ar residual dos pulmões), o homem não tem
sustentação, não flutua nem em água doce e nem em água salgada.

3.4.1 Obtenção do Peso Específico

O peso específico de um corpo é obtido dividindo seu peso pela


perda que experimenta ao ser submerso na água. ^
Peso específico = Peso/Perda de peso da água

3.4.2 Os pulmões do Homem como Elemento Flutuador


Improvisado

Os pulmões modificam o aspecto da questão, possibilitando ao


corpo humano - pelo menos a porção torácica - tornar-se menos pesado do
que a água, e, por conseguinte, capacitando sua flutuação, permitindo que saia
da água em cerca de 2% do seu volume total, sem que necessite efetuar
qualquer movimento sustentador. Esta situação está condicionada a uma maior
inspiração ou expiração do ar dos pulmões.

A fim de evitar a imersão total, é necessário que o ar seja expirado


de forma explosiva, de modo que se efetuem também inspirações rápidas e
amplas antes que a boca seja coberta pela superfície da água, como
conseqüência da diminuição do ar dos pulmões. Para que haja o nível
desejável da flutuação, torna-se necessário intercalar bloqueios entre a
inspiração e a expiração.

3.5 Centro de Gravidade

O centro de gravidade de um corpo é o ponto pelo qual passa a


resultante de todas as ações que o peso exerce sobre o corpo, e que é igual ao
ponto de aplicação de seu peso.

No centro de gravidade se pode considerar aplicado todo o peso do


corpo, mesmo parado ou em movimento. No segundo caso, a situação do
centro de gravidade pode variar em função do primeiro.

O centro de gravidade de um sólido homogêneo é independente de


sua natureza e está em função unicamente da forma que adota.

O centro de gravidade do corpo na posição horizontal; seja de


decúbito ventral ou dorsal, situa-se aproximadamente ao nível das três últimas
vértebras lombares, mas também é variável de indivíduo para indivíduo.

O centro de gravidade de cada segmento do corpo humano, também


na posição horizontal, coincide, da mesma forma, com o eixo de equilíbrio do
segmento de que estamos tratando e dependendo também do comprimento do
segmento e da distribuição do peso e forma de suas distintas porções.

Existem dois procedimentos para se determinar o centro de


gravidade:
a - o método direto, preconizado por Demeny; é o menos utilizado, porque
requer certos meios e conhecimentos relativamente complexos;
b - o método indireto, de O. Fischer, o mais utilizado pelos professores.
Sendo conhecidos os centros de gravidade dos diversos segmentos do corpo,
a determinação do centro de gravidade dos segmentos mais próximos é
efetuada da seguinte forma: unem-se os centros de gravidade dos segmentos
a se considerar sobre uma reta e assinala-se o ponto que divide esta reta em
duas partes inversamente proporcionais ao peso dos mencionados segmentos.
Este ponto da reta coincidirá com o centro de gravidade que se queria
determinar. Da mesma forma será determinado o centro de gravidade do grupo
seguinte.

No final, podemos determinar o centro de gravidade de todo o corpo


numa concreta fase de movimento.

Por esta razão, os técnicos devem saber determinar os diversos


momentos do centro de gravidade do atleta em ação, que corresponde a cada
fase ou constante de um movimento.

3.6 Condições para a Flutuação

Ao introduzir um corpo num líquido pode ocorrer:

a) que o sólido seja mais denso que o líquido; isto é, que o empuxo
seja menor que o peso d corpo e nestas condições o corpo afunda-
se;
b) que o sólido submerso seja de igual densidade que o líquido; isto
é, que o empuxo seja igual ao peso, então o corpo se mantém entre
duas águas (equilíbrio indiferente);
c) que a densidade do sólido seja menor que a do Iíquido; isto é, que
o empuxo seja maior que o peso e neste caso o sólido flutua.

4 SUSTENTAÇÃO EM SUPERFÍCIE E EM MOVIMENTO

Um nadador, cujo peso específico é de um valor médio, ao desejar


manter as extremidades inferiores ao nível da superfície sem compensar sua
densidade maior do que a água, bem como manter o segmento superior numa
posição horizontal adequada, deverá efetuar movimento ou movimentos com
os membros inferiores. A melhor forma, portanto, é efetuar movimentos
alternados muito semelhantes aos de andar.

O movimento para ser econômico e conseguir o resultado desejado


deverá ser executado com grande relaxamento muscular e com parcial
extensão da perna.

No movimento alternado temos duas fases: uma ascendente e outra


descendente. A fase ascendente no nado de costas é a mais ativa e mais
rápida; ela sustenta os pés e as pernas ao nível da superfície. A fase
descendente é a menos ativa e mais lenta.

Os braços também colaboram na elevação geral do corpo e pernas,


ocasionando movimentos sustentadores de si mesmo e do resto do corpo.
Todos os movimentos, de uma forma ou de outra, são executados
de maneira natural e descontraidamente, produzindo um deslocamento do
indivíduo no meio líquido de modo elementar e rudimentar. Assim, podemos
dizer que "nadar é deslocar-se na água a seu nível ou através da força e
adaptações naturais do próprio nadador".

O que vimos nos obriga a considerar tais técnicas como continuação


e complemento útil de flutuabilidade estática. O nadador não pode sustentar-se
na água sem movimentos voluntários de seus membros. Deve equilibrar seu
corpo mediante a adoção de posições mais adequadas de cada parte,
neutralizando, assim, diferenças de densidades e o efeito de todas as
circunstâncias já mencionadas, que intervêm no fenômeno, mediante gestos ou
movimentos voluntários e concretos, dirigidos para tal fim.

Além do fator importantíssimo que é a flutuabilidade, temos que


considerar a sustentação do nadador em plena ação, fator que juntamente com
a densidade da água ou peso específico médio do ser humano e o ar inspirado
e expirado totalizam as três determinantes do coeficiente de elevação ou
flutuabilidade do nadador em progressão ou flutuabilidade dinâmica.

4.1 Estabilidade

Se compararmos o homem em sua posição horizontal a um


submarino, veremos que existe semelhança muito grande em termos de
estabilidade.

No submarino o centro de empuxo e o centro de gravidade


continuam ocupando a mesma posição em relação ao casco, para qualquer
atitude do navio. Para que o submarino tenha estabilidade positiva é
necessário que o centro de gravidade fique localizado abaixo do centro de
empuxo.

O equilíbrio de um submarino assemelha-se, portanto, ao de um


pêndulo: seu centro de gravidade está no plano vertical, passando pelo eixo de
rotação e abaixo deste. Um dos maiores problemas na construção de um
submarino é o de assegurar-lhe boa estabilidade em ambas as condições
(superfície e submerso). No primeiro caso que o empuxo seja maior que o peso
e no segundo que o empuxo seja igual ao peso.

Portanto, é preciso desenhar o casco e prever manobras de


esgotamento e alagamento de tanques, de tal forma que, na imersão, o centro
de empuxo suba e o centro de gravidade desça; e na emersão, o inverso. A
troca de posição é perigosa; o submarino deve, pois, atravessá-la rapidamente
porque a sua estabilidade neste momento é nula.

O homem comporta-se praticamente como um submarino.

Com os pulmões cheios de ar. o centro de empuxo fica situado


acima do centro de gravidade. Sua estabilidade é pequena, positiva, mas do
tipo pendular. Com os pulmões vazios o centro de empuxo baixa e o centro de
gravidade sobe, reduzindo, anulando ou mesmo invertendo a disposição
anterior.

A situação do homem é idêntica a do submarino, na fase de


transição, na qual perde a sua estabilidade.

Assim, o homem ao respirar alterna a posição do corpo de uma


condição de pequena estabilidade positiva para uma estabilidade nula ou
negativa, considerando-se sua cabeça sempre para cima.

Se ele não aplicar movimentos adequados, com dificuldade poderá


manter a cabeça permanentemente fora da água.

Acreditamos que esta falta de estabilidade do corpo humano é até


necessária, pois graças a ela pode-se mergulhar, deslocar-se na água, girar o
corpo, fazer evoluções e toda série de manobras impossíveis a um navio ou a
um submarino.

Se possuíssemos uma notável estabilidade seria impossível ou


penoso executar tais manobras: na natação, na caça submarina, no bale
aquático haveria muito maior restrição de movimentos, perdendo-se bastante
em beleza e harmonia.

Aqueles que quiserem usufruir das vantagens da natação deverão


fazer pleno uso da pouca estabilidade que Deus lhes deu.

5 HIDRODINÂMICA DO CORPO HUMANO

Qualquer sólido em presença de um fluido, e deslocando-se em


relação a ele, sofre reações que são estudadas e medidas pela mecânica dós
fluidos.

Como uma embarcação, o corpo do homem ao deslocar-se encontra


uma resistência que pode ser decomposta em duas partes principais para
efeito de estudo. A primeira é chamada de resistência de atrito, causada pelo
atrito da água ao deslizar ao longo do corpo; a segunda parcela é chamada de
resistência residual, influenciada pela movimentação da água.

O corpo humano, ao nadar, tem forma, deslocamento, dimensões,


resistência ao atrito, velocidade, propulsão e controle; assim como já vimos,
tem flutuabilidadee estabilidade.

6 RESISTÊNCIA OPOSTA AO MOVIMENTO

Como vimos, o corpo humano encontra uma resistência que pode


também ser decomposta em duas partes. A resistência de atrito depende,
quanto à superfície molhada, do quadrado da velocidade e da aspereza da
pele. Portanto, pele lisa e roupas adequadas melhoram o rendimento do
nadador. Para as velocidades mais baixas, a influência percentual da
resistência de atrito é maior; à medida que aumenta a velocidade do nadador, a
resistência residual cresce rapidamente, acentuando-se cada vez mais.

A resistência é de uma complexidade enorme. O corpo humano não


tem forma fixa, ele se movimenta e altera continuamente. A cabeça é a "proa";
mergulha e emerge, gira para um lado e retorna (respiração do crawl); o tórax
infla e desinfla alternada mente como o abdômen; os braços e as pernas estão
em contínuo movimento.

Quanto menor for a marcha produzida, menor dispêndio de energia


será exigido do nadador. Deve-se, portanto, evitar de bater violentamente com
os pés e braços na superfície da água ou deixar que os pés aflorem à tona. O
ideal será que a recuperação dos braços se efetue sobre a superfície.

Outro fator a anotar consiste nas provas de velocidade/A parte


superior do tronco tende a elevar-se consideravelmente em relação à superfície
da água. Essa posição mais elevada tende a diminuir a resistência do atrito e a
reduzir a esteira, o que é aspecto favorável quanto ao consumo de energia. Por
outro lado, os braços não podem trabalhar tão profundamente (decréscimo de
eficiência da braçada) e a produção de marolas aumenta (resistência residual).

O nado submerso reduz a velocidade residual na parte da produção


de marolas na superfície, efeito mais importante nas maiores velocidades.

A necessidade de respirar e a impossibilidade de efetuar


movimentos aéreos recuperadores impedem que se possa tirar pleno proveito
dessa vantagem real. Pelo menos nas viradas obtemos excelentes resultados,
mormente quando efetuadas de forma submersa, porque reduzimos a marola,
evitamos a esteira da vinda que, nas provas de velocidade, é grande.
Consideramos este pormenor muito importante.

Quando nadamos em piscina de pouca profundidade e largura há


um prejuízo devido à reflexão do fundo e das paredes laterais. Da mesma
forma, a marola de um nadador na raia adjacente pode ser prejudicial pela
interferência com a marola do nadador mais próximo, por modificar a esteira e
gerar oscilações inesperadas. Assim, para longas travessias, será proveitoso
nadar atrás de outro atleta porque se obterá o benefício da sua esteira.

A importância da esteira não deve ser desprezada. O deslocamento


dessa massa de água que acompanha o nadador é conseguido a custo de
esforço (consumo de potência).

Todo o proveito que se puder obter da esteira é importante. 0


abdômen e as pernas situam-se numa posição na qual a esteira já é
considerável e, portanto, os movimentos motores dos membros inferiores
beneficiam-se desse fato, como as hélices dos navios.
O deslocamento da água, resultante do movimento dos braços, tem
efeito contrário ao da esteira; é necessário evitar o impacto desse movimento
da água, a alta velocidade contra as pernas ou qualquer parte do corpo do
nadador, pelo grande efeito de frenagem que pode proporcionar.

7 PRINCIPIO DA AÇÃO E REAÇÃO

Sempre que uma força % aplicada a um corpo, ela provoca outra


força igual e de sentido oposto, denominada reação, este princípio é resultante
de três forças:

a) forças de resistência útil, propriamente ditas;


b) resistência frontal, fator importante da mecânica natatória;
c) inércia, idem ao anterior.

7.1 Forças de Resistência Útil

Na natação a força de resistência útil é representada pelo peso do


corpo do nadador.

7.2 Resistência Frontal

O corpo, ao se deslocar num líquido, experimenta uma determinada


pressão, contrária ao seu avanço, proporcional à densidade do líquido, à forma
e à superfície frontal desse corpo e ainda à velocidade de deslocamento/Tal
pressão/também denominada resistência ao avanço, proporciona
constantemente um choque contínuo, direta ou indireta-mente, entre o corpo e
as moléculas de água/Esta pressão recebe o nome de fricção ou atrito.

Só poderemos falar em pressão no momento em que houver avanço


do corpo na água, já que haverá uma pressão na água que aumentará à
medida que aumentar a velocidade. Segundo o célebre técnico Ladislão Cfík,
no momento em que o nadador alcança a velocidade de dois metros por
segundo, a resistência chega a ser proporcional ao quadrado da velocidade,
embora a densidade da água não varie. Assim, quando se tratar de um
nadador, as moléculas de água aderem ao corpo e são as responsáveis pela
compressão das outras, causadas pela velocidade do nado e não por seu
corpo.

A configuração do corpo em movimento é de suma importância, com


referência ao coeficiente de atrito.

Em princípio, os corpos para terem um melhor deslocamento


deverão ter a forma de uma "gota de água", isto é, um contorno suave e
curvilíneo com um comprimento superior a três diâmetros máximos de largura.
Com tal conformação, podemos reduzir a resistência frontal e aproveitar a fácil
saída dos filetes de água, que oferecem melhor deslocamento e que reúnem as
características mais hidrodinâmicas.

Para que um nadador possa usufruir das vantagens ideais nos


deslocamentos natatórios, temos de considerar três posições fundamentais:

1ª Posição básica - a que o nadador adota nas saídas e voltas e


nas ações do nado. E ideai, porque apresenta menor atrito. O
nadador nesta posição (flexa) procura explorar ao máximo o
alongamento do corpo, tanto em decúbito ventral como dorsal.

2ª Deslocamento em posições assimétricas - apresenta-se no


crawl de frente e no crawl de costas. No momento da ação
característica do nado, um dos braços se encontra estendido,
deslizando à frente no prolongamento do corpo, bloqueando a
cabeça (diminuindo a resistência frontal da cabeça), enquanto o
outro se encontra em fase de empurrada, estendido ou quase
estendido.

Os membros inferiores, neste momento, tomam posições em plano


paralelo em relação à superfície; os pés se cruzam como consequência de
seus movimentos ascendentes e descendentes.

3ª Deslocamento em posição simétrica - manifesta-se no nado


borboleta golfinho.

Quando o nadador entra com os braços na água, há uma imersão da


cabeça, do tórax e batimento das pernas, como conseqüência uma elevação
de quadril e o abaixamento das pernas.

No momento da tração e fase inicial da impulsão, o corpo se


horizontaliza; no final da impulsão há uma rápida flexão das pernas, seguida de
um batimento e abaixamento dos quadris e de elevação da cabeça e tórax.

7.3 Inércia

A primeira lei do movimento, de Newton, diz que inércia é a


incapacidade de qualquer corpo alterar a sua situação de repouso ou de
movimento sem causa exterior.

O nadador produz força ao nadar. A pressão da superfície dos


braços e das pernas durante as sucessivas braçadas provoca o movimento do
corpo e altera a velocidade ou a direção do movimento.

Quando o corpo está imóvel na água, temos que vencer a inércia


estacionária, efetuando qualquer trabalho, com braços ou pernas para
movimentar o corpo. Uma vez que este começa, o nadador em forma rítmica e
contínua procura conservar a continuidade do movimento. Se a aplicação da
força é de pouca consistência, o impulso do corpo para diante não pode ser
mantido. E a perda de impulso para frente, chamada "retardamento da inércia",
é prejudicial ao nadador, porque passa a requerer energia extra para voltar a
pôr o corpo em seu andamento anterior.

As braçadas, em termos da velocidade, requerem aplicação


contínua de força.

O crawl de frente constitui exemplo de um tipo de movimento de


braços de uma natação de competição em que as mãos se alternam entre si
para aplicar uma força contínua. Devem evitar-se pausas no movimento cíclico
dos braços, porque criam retardamentos de inércia.

Alguns movimentos de braços, tais como a braçada do nado


elementar de costas, compreendem uma fase de deslizamento que permite. ao
nadador descansar de cada movimento. Durante esta fase, a impulsão da
braçada executada conserva o movimento do nadador. Mas se o deslizamento
se prolonga, o impulso para frente decresce gradualmente e as pernas tendem
a descer mais. Isto aumenta a resistência da superfície do corpo e reduz,
portanto, o avanço do nadador. No caso das braçadas contidas em fase de
deslizamento, o nadador deverá começar uma nova, antes de perder o impulso
em frente do corpo.

7.4 Inércia e seus Pontos Principais

Supera-se a inércia estacionária executando movimentos iniciais de


braço.

Mantém-se a inércia do movimento e evita-se a volta ao repouso, em


provas competitivas, executando movimentos contínuos de braços.

Inicia-se a segunda braçada antes que diminua a velocidade do


movimento, através das braçadas que contêm uma fase de deslizamento.

8 PLANOS APLICADOS À MECÂNICA NATATÓRIA

Na mecânica natatória temos que considerar três planos: horizontal,


sagital e frontal.

a) Plano horizontal - para estudar-se as posições do corpo na


água, segundo as adotadas na fase do deslizamento (ventral ou
dorsal); isto é, de extensão horizontal, vamos inicialmente destacar
este plano.
b) Plano sagital - aquele que corta o plano horizontal
longitudinalmente em sua linha mediana.
c) Plano frontal - aquele que, por igual, é perpendicular aos planos
horizontal e sagital, formando ângulos retos, respectivamente.
9 EIXOS

Os planos, horizontal, sagital e frontal definem três eixos de


movimento: longitudinal (no sentido do deslocamento), transversal (que lhe é
perpendicular) e perpendicular ou de rotação.

9.1 Eixo Horizontal ou Longitudinal

É a linha de intersecção dos planos horizontal e vertical.


Teoricamente, deverá coincidir com a linha média do corpo paralela à
superfície da água.

9.2 Eixos Transversais

São os menores eixos considerados. São os pontos de intersecção


entre o plano horizontal e os transversais.

Em natação consideramos o diâmetro biacromial (distância que


separa os dois acrômios, também denominado de diâmetro dos ombros) e o
diâmetro bicoxal (linha média entre os quadris); outros consideram também
importante o eixo ou diâmetro bitrocanteriano (linha média entre os dois
trocanteres maiores).

9.3 Eixos de Rotação

Estão representados em cada caso por um só ponto e assim


dizemos que o eixo rotativo da parte superior do tronco é o ponto de
intersecção do eixo ou diâmetro biacromial com o eixo longitudinal; e de eixos
rotativos da parte inferior do tronco, o ponto de intersecção do diâmetro bicoxal
ou o bitrocanteriano, em relação com o eixo longitudinal.

Durante o deslizamento, deve ser reduzida a rotação do diâmetro


biacromial, para evitar-se o atrito, deslocando os ombros para frente e
bloqueando a cabeça, agindo de forma contrária ao recomendável durante a
propulsão.

10 PROPULSÃO

A propulsão é a força que impulsiona o nadador para frente, é fruto


da ação dos braços e, algumas vezes, das pernas. E a reação de apoio
provocada pela resistência que as mãos e os pés encontram na água.

A propulsão é baseada na terceira lei de Newton (lei da ação e


reação). Sabe-se que um nadador nada mais rápido quando utiliza o batimento
das pernas tão bem como o dos braços, pois aumenta a propulsão e reduz a
resistência. Mas, em altas velocidades, as pernas, segundo Counsilman, nada
contribuem à propulsão criada pelos braços.

À medida que um nadador aumenta a sua velocidade, aumenta


também a resistência da água que fica sob seu corpo, sem quer por seu turno
aumente a resistência da água que fica por cima do nadador.

Uma propulsão contínua torna-se mais eficaz quando impulsiona o


corpo para frente, e por essa razão o crawl de frente torna-se mais rápido do
que o borboleta ou nado de peito.

A mecânica natatória deve permitir ao corpo mover-se para frente


em velocidade tão uniforme quanto possível.

Na natação devemos evitar o "pára e avança", quanto possível, pois


grande" parte da força que é empregada para vencer a resistência da água se
perderá para vencer a inércia assim ocasionada. A força criada pelos braços e
pernas deverá ser empregada para superar o atrito criado pela água e não ser
destinada a pagar o preço da solução de continuidade em aceleração.

Torna-se fácil transmitir o impulso defuma parte do corpo a outra.


Este princípio se emprega em muitos movimentos que efetuamos dentro e fora
da água. A impulsão desenvolvida pelo movimento rotatório dos braços antes
que o nadador efetue a saída se transmite ao corpo inteiro auxiliando na
obtenção de uma maior distância na saída.

Este princípio é também aplicável na recuperação dos braços nos


estilos crawl, borboleta e nado de costas. No nado de costas, os braços, em
forma de movimento circular, desenvolvem a impulsão. Logo que o braço que
recupera entra na água, há um desenvolvimento de uma impulsão no sentido
descendente. Se o braço antes de entrar é frenado ou retardado em seu
movimento, esta impulsão do braço se transmite ao corpo impulsiona a parte
superior do mesmo e a cabeça para baixo.

Nas provas do nado de costas, observamos que a cabeça de alguns


nadadores ou nadadoras oscilam no plano vertical, evidenciando tal defeito.
Para evitar semelhante oscilação, o nadador deve, simplesmente, permitir que
o braço continue dentro d'água com a impulsão desenvolvida durante a
recuperação. A resistência da água eliminará a maior parte deste impulso.

Nos estilos crawl e borboleta, o nadador, ao executar a recuperação


do braço ou braços, antes de entrar na água, provoca também efeitos
prejudiciais.

Em boa técnica, todas as diferenças plausíveis, seja entre as fases


da ação do trem superior ou inferior, seja nos vários estilos e inclusive em fase
idêntica do mesmo estilo, devem estar exclusivamente em função das distintas
posições articulares. A força e a velocidade exeqüíveis em cada caso são
modificáveis por um estudo técnico e pelo treinamento, pois nem as condições
do meio, nem os princípios ou leis físicas que entram em jogo são mutáveis.
11 LEI TEÓRICA DO QUADRADO

A resistência que um corpo provoca na água (ou em qualquer fluido


ou gás) varia com o quadrado de sua velocidade. Esta lei é aplicável à
velocidade do nadador e à resistência que oferece a água. Uma aplicação do
que acabamos de relembrar é verificável na velocidade do braço, na
recuperação, ao entrar na água.

Se o nadador coloca seu braço na água duas vezes mais veloz do


que anteriormente, este fato provoca uma resistência quatro vezes superior ao
seu avanço. Portanto, uma recuperação precipitada quebrará não só o ritmo,
mas ainda aumentará a resistência ao avanço e uma frenagem ao nadador,
tornando-o mais vagaroso. Para evitar estes fatos, o nadador não deve retardar
os movimentos em demasia, a fim de criar pouca resistência.

A velocidade do braço que recupera deve corresponder mais ou


menos com a do braço que traciona, é difícil, recuperar rapidamente com um
braço e, ao mesmo tempo, tracionar firmemente com outro. Existe um estreito
paralelismo entre a velocidade de tração e a velocidade de recuperação; é um
fator importante para o ritmo.

Quando um nadador duplica a velocidade do movimento dos braços


na água, terá de quadruplicar a propulsão se empregar a mesma mecânica de
movimentos.

Uma lei fisiológica diz que a perda de energia de um músculo é


elevada aproximadamente ao cubo da velocidade da contração desse músculo.
Em outras palavras, quando se duplica a velocidade do braço que traciona, o
consumo de energia aumenta oito vezes. Portanto, no momento em que é
executada a tração do braço de uma forma mais rápida, a propulção é
aumentada, bem como, de uma forma desproporcionada, a perda de energia e
o consumo de oxigênio, é por esta razão que os nadadores de meio fundo e
fundo terão que adotar um ritmo de nado mais lento.

12 ACELERAÇÃO

A aceleração é o aumento da velocidade na unidade de tempo


empregada, isto é: A = VF - Vi/T

Num corpo em translação, como no caso do corpo do nadador,


todas suas partículas possuem a mesma aceleração e, portanto, se são de
igual massa, estão submetidas a forças iguais e paralelas, cuja resultante
passa pelo centro de gravidade, também chamado, no caso, centro de massa.

O necessário e o proporcional aumento da energia liberada está


reciprocamente em função do correspondente aumento do atrito.
13 CADÊNCIA

Em natação, cadência é o número de braçadas na unidade do


tempo.

Segundo o técnico americano James E. Counsilman, são três os


princípios que demonstram a necessidade de um estudo cuidadoso da
cadência em relação às provas de média e longa distância:

1 - Um nadador deve evitar um consumo elevado de oxigênio no


início da prova. Se por ventura isto ocorrer até uma situação de
débito de oxigênio, já no início da prova haverá um decréscimo de
eficiência e velocidade.

No esforço deverá ser mantido um equilíbrio (fase do steady-state —


segundo fôlego) entre a absorção e o consumo de oxigênio. Mas, nas provas
de velocidade, o nadador poderá nadar com débito.

2 - A lei teórica do quadrado que rege a resistência do ar e da água


e aqui evidente: a resistência do ar e da água variam
aproximadamente com o quadrado da velocidade. Quando um
nadador duplica a velocidade de um metro por segundo a dois
metros por segundo, não encontrará meramente duas vezes mais
resistência, senão quatro vezes mais.

3 - Na contração muscular, a perda de energia varia com o cubo da


velocidade de contração. Portanto, um nadador ao duplicar sua
velocidade, também tem que contrair seus músculos duas vezes
mais depressa, dobrando, quadruplicando ou aumentando oito vezes
seu consumo de energia.

14 RITMO

Um nadador aprende a ter determinado ritmo, tanto em treinamento


como também em competições. Aprende ainda a ter ritmo na sua forma de
nadar, associando as causas aos efeitos respectivos.

As causas representam a soma de esforços que se emprega ao


nadar determinada distância; e os efeitos traduzem a velocidade resultante ou
o tempo de que se necessita para se cobrir determinada distância.

15 COMPORTAMENTO DAS ALAVANCAS HUMANAS NA


NATAÇÃO

No corpo humano são encontradas alavancas dos três gêneros. Os


ossos constituem as alavancas humanas e seu ponto de apoio se encontra nas
articulações. O exercício da potência está relacionado com os músculos e o da
resistência está representado por todas as forças que se opõem ou dificultam
em qualquer grau as ações musculares pretendidas (peso dos segmentos
corporais e demais resistências, interiores e exteriores).

Os pontos onde a potência se exerce são os de inserção dos


músculos no segmento móvel que se movimenta. O sentido de aplicação das
forças componentes da potência que se quer determinar é o que corresponde à
disposição e à orientação do mesmo músculo e de suas fibras. As forças
componentes da resistência convergem para os pontos onde são exercidas as
pressões, manifestando-se nas forças resultantes. Em cada fase as ditas
forças resultantes vêm impostas, não só pela conjugação dos planos de
propulsão em relação à limitação articular, mas também por outras
componentes, tais como: a flutuabilidade, a inércia e as massas de água
deslocadas, provenientes das fases anteriores.

As ações propulsoras do nadador são executadas mediante um


complicado sistema de alavancas compostas.

A necessidade de conhecer, determinar e coordenar as forças


componentes de cada movimento para obter sempre as resultantes que mais
interessam e, em conseqüência, os melhores coeficientes propulsores, é algo
que deve estar sempre em evidência tanto para o atleta como para o técnico.

Em todos os estilos encontramos dois tipos de ações propulsoras


bem definidas: a dos membros superiores (braçadas) e a dos inferiores
(batimentos).

16 BRAÇADAS

São três as alavancas atuantes em quase todos os estilos, em geral


do terceiro gênero (interpotente). Eventualmente, podem ser quatro (crawl
rolado e crawl de costas, estilo Kiefer).

A primeira alavanca da braçada estará, pois, representada sempre


que ela opera pela mobilidade do ombro, graças à articulação esterno-
clavicular e deslocamento da omoplata, alavanca que tem seus pontos de
apoio na face externa do esterno e na omoplata; a segunda alavanca está no
braço com o seu ponto de apoio na articulação do ombro ou escapulo umeral; a
terceira corresponde ao antebraço e seu ponto de apoio é o cotovelo; e a
quarta alavanca corresponde à mão com seu ponto de apoio aplicado no
punho.

17 BATIMENTOS

Da mesma forma, em todos os estilos, durante a ação das pernas,


atuam umas duas ou três alavancas, segundo o nado e a fase do mesmo em
que se estiver tratando.
A primeira alavanca é constituída pela coxa em movimento e tem
seu ponto de apoio na articulação coxo-femural; a segunda, pela perna (entre
joelho e tornozelo), tendo seu ponto de apoio no joelho; e a terceira, pelo pé
que utiliza como ponto de apoio o tornozelo. As duas primeiras alavancas
pertencem ao terceiro gênero e a última, ao primeiro.

18 ONDULAÇÃO DO TRONCO NO NADO BORBOLETA-


GOLFINHO

Entre os técnicos de natação, existe divergência de opinião quanto


ao número de alavancas atuantes nos movimentos ondulantes do tronco, em
parte pela maneira diversa de execução e, por outra, pelo grande número
atuante de articulações e, ainda, pelos pontos de apoio que as diferentes
uniões vertebrais oferecem.

Eis as três teorias mais evidentes:

1ª Uma só alavanca, constituída por todo o tronco com ponto de


apoio entre os ombros, a resistência nas mãos e a potência nas
pernas e, portanto, alavanca interfixa, de primeiro gênero.

2ª Duas alavancas que agem de forma compensadora: a primeira,


na maioria das vezes, representada pelas vértebras lombares, sacro
e quadris, com ponto de apoio nas 11ª e 12ª vértebras dorsais; a
segunda, formada pela porção da coluna vertebral.compreendida
entre a décima primeira vértebra dorsal e a primeira, segunda ou
terceira também dorsal, abrangendo a cintura escapular, a região
torácica e superior do abdômen; esta alavanca funciona
altemadamente sobre os dois pontos de apoio oferecidos por seus
extremos.

3ª Toda a coluna vertebral, desde a primeira ou segunda vértebra


dorsal e as últimas lombares, comporta-se como uma série de
alavancas compostas, representadas, cada uma, segundo os casos,
por uma vértebra ou por uma série de vértebras.

Em qualquer das três situações sobre o batimento de pernas do


golfinho, outra alavanca ou conjunto de alavancas bem diferenciado atua com
as que agem na mecânica do tronco.

Estas ações ondulantes são o resultado de movimentos


ascendentes e descendentes da cabeça e da porção cervical da coluna
vertebral.

Os pontos de apoio das alavancas humanas são móveis no


desenvolvimento de cada nado.

Em qualquer estilo os conjuntos de alavancas, por meio dos quais se


desenrola toda a mecânica natatória humana e desportiva, não têm função
meramente de transmissores da força muscular, originando-se geralmente no
tronco, manifestando-se de forma mais intensa nas extremidades do corpo
(mãos e pés) e constituindo áreas de maior apoio.

É importante que estas extremidades se oponham diretamente às


turbulências que servem de apoio e se ajustem, da melhor maneira possível, às
faces mais amplas e planas de cada porção propulsora e que constituem
anatomicamente a alavanca ou o conjunto de alavancas compostas,
mencionadas anteriormente e atuantes, ao longo do seu variado
comportamento, durante os ciclos dos estilos.

Sempre que possível, devemos evitar os ângulos que possam


oferecer resistência, mas não devemos forçar posições que venham a exigir
um consumo de energia extra e não sejam compensados mecanicamente e,
ainda, venham empobrecer ou diminuir a naturalidade do gesto ou movimento
natatório, procurando com um mínimo de esforço o máximo de rendimento.

Certas posições adotadas pelas extremidades são necessárias ao


querermos movimentos circulares nas ações propulsoras, mas isto resultará de
progressivas adaptações. Portanto, as superfícies de ideal aplicação direta em
relação às turbulências, em qualquer estilo, são as seguintes:

18.1 Trabalho dos Braços

Faces internas dos braços, desde as cavidades axilares e anteriores


dos antebraços transformadas, em todos os estilos (com exceção do nado de
costas), em posteriores e também as palmas das mãos e as faces anteriores
dos dedos.

18.2 Trabalho das Pernas

Com exceção do nado de peito, as faces externas e posteriores dos


pés, segundo as fases ascendentes ou descendentes das coxas e pernas,
assim como a superfície anterior dos pés e sola dos pés. No estilo peito, por
exemplo, entram em ação estes fatores: as faces internas das coxas, os
gêmeos, as faces internas dos pés e sola dos pés.

Não podemos deixar de evidenciar que, no nado golfinho, os planos


dorsais e ventrais do tronco são as superfícies que, de forma mais ativa,
movimentam e agitam as massas de água, pressionando-as, embora não haja
apoio na turbulência, e transmitindo-as depois para as coxas, pernas e pés.

Como a direção em que deverão ser produzidas as forças


resultantes de todo o gesto propulsivo é diretamente oposta à progressão, o
sentido dos batimentos deverá ser este e dos planos de tração, sobre onde
atuarão durante a maior parte do tempo com a máxima amplitude e aplicação
de potência.
Quanto mais equilibradas e próximas em relação ao plano sagital do
corpo sejam as ações, tanto melhor é a disposição das alavancas atuantes e
do organismo, em geral, para dotá-las de um alto grau de potências. Por essa
razão, os movimentos subaquáticos do crawl e frente, de costas e golfinho
propiciam maiores coeficientes de propulsão, pois os componentes
desviadores de certos movimentos são desenvolvidos cor-retamente, reduzindo
ao mínimo aqueles que provocam os efeitos negativos ou os freadores.

Os movimentos de pernas do tipo crawl e golfinho, bem como as


ações do tronco, em especial no último estilo mencionado, deslocam massa de
água mediante relações de obliqüidade entre as superfícies do corpo e os
planos que podem ser considerados como ideais de apoio.

As principais forças componentes, que de maneira mais destacada


se conjugam nos movimentos da natação e, principalmente, na desportiva, são
as seguintes:

18.3 Fase da Tração

Quando começam as ações propulsoras dos braços, há sempre uma


intervenção de uma força componente desviadora no sentido lateral, também
no sentido ascendente (quando o apoio se realiza num movimento para baixo e
para dentro). A ação negativa desta componente não pode ser evitada até se
conseguir a fase da empurrada. Na porção média de tração, no início, em vez
de evidenciar-se as forças componentes de elevação, e de afundamento, no
final, deverá o nadador flexionar os braços.

Assim podemos favorecer o desenvolvimento e o aproveitamento da


potência exercida ao aproximar o ponto de máxima resistência do ponto de
apoio e, desta forma, também aumentar as superfícies de tração do braço e
antebraço e imprimir à ação um sentido paralelo e contrário ao do avanço. Nas
fases finais dos braços é conveniente evitar as elevações bruscas, porque
provocam a intervenção de uma componente afundadora ou aduções muito
evidentes que fazem surgir componentes desviadores laterais, embora
compensadas por movimentos simétricos de ambas as extremidades
superiores.

Quando o braço é flexionado na tração, torna-se imprescindível


determinar que o deslocamento obrigatório do cotovelo para fora seja
compensado pela posição da mão para dentro, e de tal forma que os diferentes
pontos de resistência das alavancas se relacionem a um plano equilibrado; o
plano perpendicular e o centro de gravidade são necessários para uma
aplicação ótima e desenvolvimento da potência na ação propulsora.

18.4 Recuperações

As recuperações são os movimentos pelos quais, uma vez finalizada


a ação propulsora, tração e impulsão, o nadador volta à posição inicial, a fim de
retomar novo movimento. Dependendo do estilo em que são efetuadas, podem
ser fora ou dentro da água. Com exceção do nado de peito, todas as demais
são fora da água e a finalidade é eliminar os atritos desnecessários.

Nas recuperações fora da água, o importante é liberar o braço e o


ombro, até a porção torácica correspondente, segundo o estilo, sem procurar
alterar o equilíbrio e a homogeneidade geral do ritmo do nado. Na fase final da
recuperação, no momento do ataque do braço na água, podemos determinar
as fases de entrada deslizamento e ponto de apoio, para que se possa em
seguida efetuar a puxada com a maior precisão possível. Nas recuperações
dentro da água, principalmente no nado de peito, torna-se difícil determinar o
grau de atrito, devido à oposição que se apresenta ao avanço do trem superior
imerso. No entanto, é possível reduzir este grau-atrito ao mínimo, procurando
agir de maneira contrária como se procede nas ações propulsoras; isto é,
agindo no sentido do movimento recuperador, ângulos estreitos em lugar de
superfícies amplas e com arestas. Desta forma, pode atenuar-se o efeito da
sucção provocado pelas turbulências geradas diante dos braços e que, no
momento da recuperação, são deslocadas para os lados, formando
redemoinhos, alterando a unidade das massas de água onde o corpo se apóia
arrastando o nadador para trás.

18.5 Batimentos

As forças resultantes dos diversos movimentos de pernas utilizados


na natação desportiva são a conseqüência de diversas forças componentes,
segundo o estilo empregado.

No crawl de frente ou no nado de costas e golfinho, atuam


fundamentalmente duas componentes: uma, no sentido oposto ao avanço e,
outra, perpendicular ao elevar e abaixar as pernas.

O conjunto de alavancas na ação do batimento das pernas produz


certos movimentos de água, sob e sobre as pernas, no sentido oposto ao
deslocamento e às velocidades crescentes, determinantes de sucessivos
apoios sucessivos. Este fator, segundo muitos técnicos, representa elemento
importante no batimento de pernas.

O pé, pela mobilidade do tornozelo e das pressões das massas de


água que, alternadamente, se exercem sobre sua planta e devido também à
relação de obliquai idade lateral dos mencionados planos, realiza uma função
parcial de hélice com intervenção nas mencionadas forças componentes.

Para analisar as forças que atuam no movimento de pernas do nado


de peito, devemos decompô-lo em três ações que se somarão num só
movimento, a saber: a primeira ação é de extensão das pernas. As superfícies,
que se apóiam na água para determinar o impulso, são principalmente as faces
internas e posteriores da coxa, interna da perna e lado do pé (interno).
Embora a segunda alavanca, representada pela perna que forma
quase um conjunto com o pé ou terceira alavanca, deva iniciar seu trabalho
partindo de uma posição perpendicular em relação ao plano horizontal, é
preciso lembrar que, no final, ao alcançar este plano e inclusive depois de
ultrapassa 'o, esta ação pode não ser, em toda a sua extensão, diretamente
oposta ao avanço do nadador.

No movimento de extensão das pernas atuam uma componente de


sentido oposto ao deslocamento e outra elevadora, aproximadamente da
mesma forma em que as mencionadas forças componentes são produzidas no
movimento descendente do batimento do crawl e do golfinho, mas intervindo
superfícies anatômicas distintas e também de sentidos relativamente distintos,
já que a progressiva separação dos pés, enquanto dura a extensão, determina
um ângulo em relação ao prolongamento posterior do plano sagital, mais ou
menos próximo ao plano, mas de menor valor, implicando, desta feita, uma
perda de parte da potência utilizada ao não ser dirigida a extensão, diretamente
para trás, permite, em compensação, ampliar a ação propulsora num
movimento final de união das pernas, bem como a ação circular de hélice dos
pés.

Esta separação lateral constitui uma ação que possui, pois, outras
duas componentes com relação à função de cada perna: uma, no sentido
oposto ao do deslocamento, e outra, de desvio lateral, compensada por igual
componente da perna contrária.

A ação propulsora final da pernada tem evidenciado não ser tão


eficaz como a ação da empurrada, porque as forças determinantes atuam uma
contra a outra num sentido quase total de oposição e sem o e efeito propulsor
que resulta da compressão, deslocamento e o efeito de reação das massas de
água em sentidos nem sempre favoráveis ao avanço, já que tal deslocamento
produz também efeitos sugadores provocados por redemoinhos. No entanto,
há técnicos que julgam positiva tal ação, pois consideram que aumentam a
inércia da velocidade obtida pela ação propriamente dita ou extensão das
pernas.

19 RESPIRAÇÃO DO NADADOR

No momento em que o homem aprende a nadar, ele resolve


eventualmente o tríplice problema da flutuação, da respiração e da propulsão.

O problema respiratório do nadador apresenta várias dificuldades,


que serão superadas progressivamente com o tempo.

A função respiratória joga no nadador um duplo papel: um


fisiológico, vinculado à atividade corporal; o outro, físico, específico da natação
e que contribui para sua flutuação.
Não é, pois, de estranhar que o domínio da respiração seja ponto
importante na aprendizagem da natação e que, dia-a-dia, venha preocupando
professores.

O problema em função da técnica

Segundo o estilo considerado, o problema da respiração é focalizado


conforme a posição do nadador (ventral ou dorsal) e da cabeça (levantada ou
submersa), em função da posição do corpo.

A aprendizagem para o nado de peito se acomoda à propulsão e à


flutuação; enquanto que no crawl aparece um terceiro problema, o da
respiração chamada aquática.

No nado de costas, a posição do corpo na flutuação dorsal e a


emergência quase constante tornam possível a independência da respiração
em relação ao movimento de braços, apesar de a associação dos tempos de
inspiração e expiração, relacionada ao ritmo de trabalho propulsivo dos braços,
oferecer inegável vantagem.

A inspiração se faz durante a emersão de um braço, enquanto o


outro, em sua imersão, executa a fase de impulsão ou de "empurrada",
colocando em jogo os músculos extensores do antebraço sobre o braço e os
ramos anteriores do deltóide. Os músculos torácicos, motores do braço, têm
nesta fase papel assaz reduzido.

No nado de peito, se quisermos, podemos nadar em competição


com a cabeça sempre elevada e a boca constantemente ao nível da superfície
da água.

Podemos também levantar a cabeça no momento da inspiração a


cada ciclo de braços ou após certos números de ciclos de braço. Assim
respirava o grande nadador americano e recordista mundial Chet Jastrenski.

Até há alguns anos empregava-se a respiração na abertura dos


braços, mas, com isto, a caixa torácica oferecia enorme resistência ao avanço
do nadador. Atualmente, a respiração se faz após a ação propulsora dos
braços, durante a qual os músculos motores do braço tomam seu ponto fixo
sobre a caixa torácica.

No golfinho, a inspiração é efetuada na fase final da empurrada e a


expiração, na fase aquática. Nas provas de 100 metros o nadador efetua
bloqueios respiratórios. Nas provas de 200 metros efetua, a cada ciclo de
braço, um movimento respiratório.

No crawl a técnica respiratória efetua-se no movimento alternado,


dos braços (posição ventral do corpo, com a cabeça submersa).

O tempo de inspiração dá-se na fase aérea do braço, do lado em


que a cabeça gira.
Distinguimos dois tipos de respiração: a normal e a atrasada. Nos
bons nadadores a cabeça permanece como eixo, sendo a rotação efetuada de
maneira brusca, mas verificamos formas d inatas nos nadadores de velocidade
e fundistas.

Apesar dos diversos estilos de natação, a respiração dos nadadores


não deixa de ter alguns pontos comuns por imposições mecânicas ou
fisiológicas.

20 FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO AQUÁTICA

Em natação, uma boa posição sobre a água permite a melhor


utilização das ações motoras. Nos estilos de frente, esta posição é tal que a
cabeça, em grande parte submersa, deve levantar-se e girar para tornar
possível a inspiração.

Os movimentos da cabeça, assim como os da respiração, estão


necessariamente ligados aos movimentos dos braços, segundo uma certa
coordenação.

De harmonia com estudos efetuados por Demeny sobre o esforço e


relacionados com a tensão arterial, os esforços ou bloqueios repetidos alteram
a respiração, produzindo a fadiga cardíaca. A respiração contínua evita este
inconveniente.

Como dissemos anteriormente, os nadadores de golfinho nas provas


de 100 ou de 200 metros têm formas distintas para respirar. Deste modo, a
distância e a potência solicitadas permitem uma fase de equilíbrio entre a
necessidade e o consumo de oxigênio; portanto, o nadador de fundo e o
nadador de velocidade terão formas fisiologicamente distintas de respirar.

21 ASPECTOS FÍSICOS DA RESPIRAÇÃO

O valor da capacidade vital do nadador joga um importante papel


sobre sua flutuação, mas a noção de densidade média é uma consideração
que devemos ter em conta.

Sabemos que a fase respiratória do nadador se situa na zona de


reserva inspiratória ou na de reserva expiratória, e em vista disso o nadador vê
variar seu volume em vários '«tros e, em consequência, seu "empuxo" em
vários quilos.

Uma posição naturalmente alta sobre a água favorece a propulsão


aquática. Isto é devido ao fato de se ter uma caixa torácica bem cheia, mas os
fatores favoráveis para uma boa flutuação são mecânica ou fisiologicamente
desfavoráveis à propulsão.
Entre a inspiração e a expiração, alguns nadadores, seja consciente
ou inconscientemente, marcam um tempo de apnéia em bloqueio inspiratório.

22 EXPIRAÇÃO

A expiração exige nas condições habituais mais tempo que a


inspiração, pois nesta se trata de um movimento passivo. Em natação, parece
ser aconselhável conservar um ritmo semelhante, ainda que, para vencer a
pressão não desprezível da "coluna d'água" que separa o nível da boca do da
superfície da água, a expiração deva tomar o caráter de um motivo ativo
voluntário. O nadador controla com efeito a duração e a intensidade de sua
expiração. Esta se faz quase que exclusivamente pela boca, mas inicia-se pelo
nariz.

Alguns técnicos de natação pensaram que a excepcional capacidade


vital dos nadadores poderia ser atribuída em parte a esta resistência que era
necessária compensar permanentemente e vencer na expiração.

23 INSPIRAÇÃO

De todos os desportistas, o nadador de competição (especialmente


o velocista) é certamente o que tem um tempo de inspiração mais curto.

Vinculado ao ciclo do movimento de braço, a inspiração é


paradoxalmente tanto mais curta quanto maior for a velocidade do nadador e a
necessidade de oxigênio, a mais importante.

A utilização de uma "via de passagem" que permite uma quantidade


de a» máxima se impõe imperiosamente durante a totalidade da duração da
fase determinada pela cadência do nado: a respiração do nadador é bucal e é
tecnicamente falso querer expirar e inspirar durante a emergência das vias
respiratórias. O nadador dispõe de alguns décimos de segundos para "ingerir"
vários litros de ar.

Rapidez e amplitude são geralmente termos opostos. Veremos que


pela extrema brevidade de tempo de inspiração, os nadadores não respiram
com a máxima amplitude, por esta razão não experimentam o melhor
coeficiente de ventilação pulmonar. Relação entre o volume de ar que se
renova com o volume de ar expirado. Embora o tempo inspiratório seja
particularmente breve e intenso, se converte num tempo ativo e com
movimento de expiração voluntário.
24 TEMPO DE APNÉIA

Os músculos motores do braço são pe ri torácicos. Para obter uma


certa potência, a caixa torácica deve oferecer um ponto de apoio sólido a uma
das extremidades dos músculos motores do braço, o que se realiza no bloqueio
do esforço.

Alguns nadadores como, por exemplo, os velocistas podem tirar


alguma vantagem com relação ao bloqueio torácico na obtenção de um
máximo da potência. E, deste modo, diminuem o número de inspirações na
primeira parte da prova.

Em resumo: a respiração do nadador é essencialmente bucal e


acessoriamente nasal. O mecanismo fisiológico habitual se encontra
modificado; a fase da expiração passiva se converte num tempo ativo,
voluntário, prolongado; a fase de inspiração se torna particularmente breve e
intensa.

A adição eventual de um tempo de apnéia em bloqueio respiratório,


suscetível de conduzir um aumento da potência motora dos braços, é
acompanhada certamente de uma fadiga cardíaca suplementar.

A regulação nervosa de mecanismo respiratório não se faz segundo


um automatismo inato, sem passar durante o período de aprendizagem por um
estado de regulação voluntária, antes de converter-se, no campeão, num
automatismo adquirido.

Estes problemas, em sua grande maioria, não passam


despercebidos ao técnico, em qualquer situação. Por isso, é necessário
respirar bem, flutuar bem e utilizar a potência máxima do nadador.

25 PEDAGOGIA DA RESPIRAÇÃO

É justamente na fase da aprendizagem que as falhas sucessivas


devem ser sanadas pelo técnico ou professor.

Mas é importante dedicar muito, muito tempo mesmo às correções


durante a aprendizagem dos exercícios elementares; são indispensáveis as
repetições das séries dos exercícios, com a finalidade de adquirir a cadência e
os ritmos respiratórios.

No ensino da natação o estudo da respiração não deve constituir


capítulo à parte. Em todo o programa de iniciação devemos encontrar uma
hábil dose de exercícios de flutuação, respiração e propulsão, sem a qual o
estudo seria certamente enfadonho.

Todo o cuidado e a atenção dados na fase da aprendizagem


propriamente dita ainda serão poucos.
26 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem da natação caracteriza-se por uma variedade de


possibilidades de movimentação na água. Devido às várias mudanças
existentes da posição do corpo na água, a aprendizagem da habilidade técnico-
motora da natação apresenta diferenças fundamentais em relação à
movimentação diária do ser humano.

O aprendizado, segundo Aebli (1971), é a soma de todas as


experiências, reflexões e exercícios que se modificam em cada processo de
aprendizagem.

No aprendizado motor, a experiência, que o antecede, surge de um


campo de ação e revela-se positiva. Por exemplo, numa técnica natatória, ela
também é positiva, da mesma forma, em procedimentos de movimentação
afins, proporcionando modificações no processo da movimentação.

A motricidade é o total de todas as possibilidades de movimento do


homem. As possibilidades do sistema neuromuscular delimitam a capacidade
motora de rendimento. A motricidade individual depende da constituição física,
do sexo, do tipo: imorfológico, da idade, do temperamento e da velocidade de
reação.

No âmbito da motricidade desportiva e da motricidade comum, o


aprendizado de novos movimentos primeiramente será processado de forma
rudimentar. A mesma forma rudimentar cor responde à estrutura básica do
movimento ordenado do ponto de vista técnico-mecânico, sendo, no entanto,
incompletas na qualidade do movimento e na quantidade de rendimento.

Embora o movimento rudimentar seja inicialmente impreciso,


apresenta gasto supérfluo de energia no trabalho executado. Não há, ainda,
equilíbrio entre os processos de excitação e de inibição realizados a nível
cortical.

Na aquisição da forma rudimentar, é de suma importância a


aprendizagem do movimento que leva à coordenação ou, em outras palavras,
os movimentos parciais natatórios são inicialmente coordenados num
movimento total, sem respiração, antes de serem trabalhados.

Por intermédio de insistente correção, o movimento rudimentar


aperfeiçoa-se e vai firmando-se na segunda fase da aprendizagem motora.

Com a repetição em treinamentos de pequenos percursos, o


movimento assimilado transforma-se em movimento mais correto. Desta forma,
vamos conseguindo o máximo de rendimento com um mínimo de esforço.
27 IDADE FAVORÁVEL PARA O APRENDIZADO

A capacidade de aprender as habilidades técnico-motoras é


bastante influenciada pelo estado de desenvolvimento físico do aluno.

A aceleração ou retardamento da aprendizagem depende da


constituição do grupo de alunos, conforme suas capacidades de rendimento e
a experiência adquirida anteriormente.

As passagens para novos períodos de desenvolvimento no


organismo infantil ocorrem normalmente.

Na idade dos 10 aos 13 anos, a criança atinge o seu ponto


culminante em termos de desenvolvimento motor, pois a harmonia e a utilidade
da motricidade geral caracterizam-se adequadamente nesta idade.

Os movimentos são equilibrados, com nítida transferência de


movimentos, apresentam-se bem caracterizados e se processam
dinamicamente.

Neste período, a criança pode ser conduzida pelo caminho da


melhor movimentação técnica, pois deve ter aprendido os processos motores
em sua coordenação rudimentar e em suas linhas básicas. Os seus
movimentos parciais já correspondem às melhores técnicas atuais.

Em princípio, aprende-se a nadar em qualquer idade. Diferenças


ocorrerão em termos de qualidade dos movimentos relacionados com a idade e
com a formação física.

De acordo com Hollmann, aos oito anos poderá haver uma diferença
entre a idade cronológica e a biológica de até três anos. Portanto, é possível
formar grupos de aprendizagem com alunos contando sete, oito e nove anos.

28 SISTEMA DE ENSINO

Das três fases do aprendizado motor resultam três etapas do


sistema de ensino. Cada etapa da metodologia tem a correspondente fase de
aprendizado dos movimentos.

O processo de ensino pode ser selecionado dedutivamente,


utilizando-se o aprendizado estruturado em programas. Estabelece-se a meta
dos movimentos e procura-se chegar ao objetivo final desejado, mediante
etapas pequenas e exatas. O aluno sentir-se-á orientado em todas as fases do
processo de aprendizado pelas leis dos movimentos: ele somente imita.
Demonstrando e imitando, o processo é enriquecido por informação verbal e
audiovisual.
Por processo indutivo o aluno passa para o plano da experiência.
Aprende a partir do erro, colhendo experiências, de que se conscientiza
imediatamente.

Apoiado em apresentações verbais e audiovisuais, o sistema


indutivo oportuniza ao aluno larga margem de experiências.

A metodologia tenta facilitar o processo de aprendizado com:

a) recursos;
b) forma rudimentar de um movimento;
c) parcelamento funcional das metas do aprendizado.

29 RECURSOS PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM

São as providências que o professor utiliza durante as aulas para


inki&r o processo de ensino, a fim de facilitar e apressar a aquisição de novas
formas de comportamento.

Os auxílios mais utilizados no aprendizado são: educativos, corre-


cão de movimentos, duplas, formas de jogo e exercício. Alguns elementos
materiais para auxiliar a flutuação também são utilizados, mas são
considerados os "apêndices psicológicos" do aprendiz.

30 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

São todos os casos que dizem respeito à forma externa da unidade


de ensino e da aprendizagem. Este conceito não encerra formas fixas de
ordem, pois os alunos podem trabalhar em grupos independentemente do
sentido pedagógico e também formar comportamentos sociais.

Outro aspecto, que nos interessa, é a organização que nos ajuda a


realizar o aprendizado de forma parcelada. Nas estruturas formais
preestabelecidas desenvolvem-se relações humanas informais que levam,
espontaneamente e não planejadamente, a um comportamento efetivo.

As formas de organização preenchem, pois, tarefas didático-


pedagógicas (comportamento social, independência, motivação como meta do
aprendizado, planejamento do ensino).

31 APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO

A aprendizagem da natação compreende três objetivos:


1. adaptação ao meio líquido e seu domínio. Idade propícia: primeira
série escolar ou mesmo antes;
2. aprendizagem dos nados crawl, costas, golfinho, nado de peito,
saídas e viradas;
3. aperfeiçoamento da aprendizagem e treinamento. Idade propicia:
alunos do primeiro e segundo graus extensivo ao desporto
extracurricular.

Primeiro objetivo da aprendizagem: adaptação ao meio líquido e seu


domínio.

Considerações Básicas

As considerações deste objetivo são o conhecimento fundamental


no campo da experiência sobre a água e o comportamento a ser adquirido
nela. De um modo geral, é necessário que se conheça o meio líquido, como
por exemplo, suas propriedades físicas (empuxo, densidade, pressão).

As reações psíquicas em pessoas que não sabem nadar, por mais


fortes que sejam, devem ser eliminadas ou evitadas.

32 OBJETIVOS FUNCIONAIS

Os objetivos funcionais são a adaptação ao meio líquido, domínio e


sua superação.

Adaptação à pressão, ao empuxo, à resistência (resultante da


densidade), à excitação provocada pelo frio e pelo líquido nas aberturas da
cabeça (nariz, boca, ouvidos, olhos).

Domínio dos reflexos do fechamento das pálpebras ao mergulhar o


rosto na água e do reflexo da posição da cabeça ao modificar a posição do
corpo.

Superação, utilização das propriedades físicas da água (empuxo e


densidade) para o aprendizado das técnicas. A densidade da água como
delimitante da velocidade locomotora oferece ao mesmo tempo a possibilidade
de impulsionar o corpo para frente, através de planos de apoio e de pressão
colocados correspondentemente e movimentados contrastantemente.

O efeito do empuxo, da respiração (retenção do ar e expiração),


posição da cabeça e das extremidades (na e sobre a água) influem positiva ou
negativamente e alternadamente na posição do corpo.

33 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Procurar executar jogos movimentados e pequenas competições;


solicitar atitude que proporcione experiência, de tal modo que a tarefa de abrir
os olhos ao mergulhar fique esquecida; procurar, ainda, dar tarefas intensivas
de movimentos e experiências que sobrepujem as reações psíquicas como, por
exemplo, o medo.

Como a tarefa imposta visa proporcionar experiências, deve-se


evitar o uso de aparelhos flutuantes no ensino aos iniciantes. Seu uso pouca
vantagem posteriormente trará.

No segundo objetivo do aprendizado considera-se adequado o uso


de aparelhos auxiliares dos movimentos e da correção.

34 OBJETIVOS PARCIAIS DO PRIMEIRO OBJETIVO DA


APRENDIZAGEM

1. Imersão, como expressão de boa adaptação à água e sua


segurança.

Imersão de olhos abertos e orientação do nadador. Parte da escolha


dos exercícios será orientada ao domínio dos reflexos do fechamento das
pálpebras e da posição da cabeça.

2. Expiração. A expiração na água acompanha tanto a imersão como


as fases subseqüentes do aprendizado. A expiração para vencer a
pressão da água é facilitada pela imersão, a fim de apanhar objetos
e preparar a posterior respiração alternada na locomoção na água
com o auxílio das técnicas natatórias.

3. Imersão provocada. Salto de pé, nível da água na altura dos


quadris ou do peito. Esta forma de entrar na água está intimamente
ligada à imersão total, exigindo consequentemente o aprendizado da
orientação subaquática e este complementar-se-á com a
aprendizagem da imersão.

Para dar continuidade às etapas subseqüentes devem ser efetuados


testes para verificar o aproveitamento dos alunos.

4. Flutuação. O empuxo do corpo para a flutuação resulta


forçosamente dos exercícios de imersão, quando a expiração não foi
efetuada durante a mesma. Os pulmões cheios de ar impedem a
descida completa para o fundo. Através dessa experiência,
conscientiza-se o aluno a manter o corpo próximo da superfície da
água sem tocar o fundo da piscina (empuxo estático). Depois da
execução dos exercícios de flutuação de costas, procurando atingir
como objetivo final da flutuação: a rolha, a tartaruga, a flexa decúbito
ventral e dorsal.

5. Deslizamento ou impulso como o peixe na água, resulta


naturalmente da capacidade de nadar estaticamente.
Ao mero empuxo segue a total extensão do corpo com o rosto na
água e um só impulso de saída que inicialmente auxilia o aluno a deslocar-se.
Formas de execução: impulso da posição de pé do fundo da piscina; impulso
com um ou dois pés na parede depois de profunda inspiração e com o rosto na
água.

Os deslocamentos de três metros no mínimo são importantes pré-


requisitos para a etapa seguinte que é abordada na movimentação.

35 ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA PARA O ENSINO DA NATAÇÃO

a) Local de aula e treinamento

Piscina com profundidade de 0,30m a 1,30m. Temperatura da água:


27°C. Em piscinas cobertas, a temperatura ambiente deverá estar a dois graus
acima da temperatura da água da piscina. Equipamento para treinamento.
Evitar outros grupos presentes no mesmo local de aula.

b) Grupo de alunos

Ideal: no máximo de 15 alunos e no mínimo de 4 a 6, para que haja


possibilidade de jogos em grupo. Procurar diferenciar os grupos conforme a
capacidade de rendimento e experiência anterior.

c) Tempo de aprendizagem

A periodicidade mais favorável é de três a cinco vezes por semana,


com 45 minutos de aula para cada unidade.

d) Aparelhos de treinamento

Utilizados como elementos coadjuvantes, bem como auxílio de


movimentos e de correção. Não se deve utilizar aparelhos para auxiliar o
empuxo.

Outro elemento auxiliar é o audiovisual, que poderá melhorar a


concepção do movimento.

36 PRIMEIRO ESTILO A SER ENSINADO

Se partimos para um rápido rendimento de resistência e do nado de


salvamento (auto-salvamento e de outros), deve-se, então, decidir pelo nado
de peito. Contudo, este precisa ser seguido de um segundo estilo, mas de
forma rudimentar.

O nado de crawl, exemplo típico do aprendizado, dá compreensão


das possibilidades de deslocamento na água.
Este se apresenta como primeiro estilo de natação a ser ensinado,
pois, como comparativo analítico-motor, pode valer como exemplo para o
aprendizado dos estilos de nado. Pode servirá explanação mecânica fisiológica
e biomecânica, no que se refere aos objetivos funcionais da aula.

Na comparação analítico-motora, reconhece-se claramente afinidade


de movimentos com o nado crawl de costas (alternância do processo-
movimento, movimento das pernas, coordenação do movimento global) e o
nado borboleta golfinho (amostra espacial do movimento de braços e pernas);
a alternação de movimentos conduz a uma propulsão. Com a transferência do
movimento do corpo para as pernas, a coordenação do movimento do corpo
com as pernas e a coordenação do movimento global é relativamente facilitada.
A atividade dos músculos principais de impulsão se processa numa troca
fisiológica favorável de contração e relaxamento.

A rápida experiência natatória, favorecida pelo rendimento loco-


motor havido anteriormente, apóia o processo do aprendizado, do ponto de
vista da motivação.

Finalmente, os movimentos próximos do corpo (na periferia) facilitam


a constatação e o controle do desenrolar dos movimentos através dos quais a
correção se aperfeiçoa e se simplifica. Assim, no processo motor do
aprendizado, o crawl é notável ponto de partida para se efetuar uma
aprendizagem consciente dos outros estilos.

Segundo objetivo da aprendizagem: o aprendizado dos estilos.


Assunto: crawl.

Considerações básicas

1. Técnicas de movimentos comprovadas mecânica e biomecanicamente.


2. Considerações básicas biológicas.
3. Considerações básicas psicossociológicas.

37 OBJETIVOS OPERACIONALIZADOS

1. Domínio consciente das características físicas da água e aprendizagem


partindo do reconhecimento de um comportamento para um:

a) bloqueio consciente da respiração, auxiliado pelo empuxo. Faz


parte do que foi dito sobre a expiração e inspiração rítmicas, bem
como o bloqueio respiratório coordenado com o movimento de
braços;
b) comportamento do corpo, evitando resistências desnecessárias
na direção do nado;
c) comportamento dirigido dos movimentos, levando em conta as leis
físicas na obtenção de uma técnica eficaz de movimentos de
propulsão.
2. Utilização anatomofuncional das extremidades (estendendo-se ao campo
biomecânico; por exemplo, lei das alavancas).

3. Modo econômico de proceder do ponto de vista fisiológico (conhecimento da


fisiologia do rendimento: necessária troca de contração e relaxamento da
musculatura ativa); conhecimento das funções cardiovascular e respiratória.

4. Aprendizagem de formas úteis de organização como elementos auxiliares.

5. Comportamento dos grupos como fatores de socialização; aprendizado dos


comportamentos de interação social e criadora.

38 METODOLOGIA DOS ESTILOS DE NATAÇÃO

Para os quatro estilos de competição, temos na seqüência os


objetivos parciais da aprendizagem:

1. Movimento das pernas.


2. Movimento dos braços.
3. Movimento global sem respiração.
4. Respiração.
5. Movimento global com respiração.
6. Mergulhos da cabeça.
7. Saídas, virada simples e com cambalhota.
8. Natação submarina.

Sendo o trabalho de pernas o primeiro objetivo parcial da


aprendizagem, resulta da coordenação pouco diferenciada dos processos de
movimentação da motricidade do dia-a-dia. O tempo de aprendizagem da
movimentação das pernas é mais prolongado do que o da dos braços.

Ao aprender a movimentação de braços, em primeiro lugar, os


alunos iriam experimentar uma sensação de locomoção antecipada mais
rápida, o que não se poderia é esperar uma concentração tão acentuada nas
pernas, se fosse a etapa seguinte.

39 FUNDAMENTAÇÃO MECÂNICA

A primeira função dos movimentos de pernas é a estabilização


lateral e vertical da posição do corpo; a segunda é a propulsão (exceto no nado
de peito). Portanto, justifica-se inicialmente o seu ensino, apesar da visível
função que é atribuída à ação dos braços em termos de movimentação e
propulsão.

A partir da execução do terceiro objetivo parcial da aprendizagem,


segue-se para a coordenação rudimentar dos movimentos sem respiração,
antes de uma formação refinada dos movimentos parciais e antes que os
próximos objetivos parciais de aprendizagem dêem lugar ao processo seguinte.
Os objetivos da aprendizagem da movimentação motora são
adquiridos por uma sincronização entre as etapas da aprendizagem.

Para se compreender um movimento e empregá-lo no aprendizado


seguinte, é preciso conhecer os fundamentos da aprendizagem. No método do
ensino indutivo, o aluno fará suas próprias experiências e suas tarefas de
observação no companheiro e no modelo cinematográfico, através do controle
da percepção e através da verbalização de tarefas motrizes que encerram
objetivos funcionais.

40 DIVERSIDADE DAS SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES NA


NATAÇÃO

A prática da natação pressupõe múltiplas sensações, percepções e


representações. Têm um significado especial as seguintes:

40.1 Sensações Motrizes

As sensações motrizes são as contrações que ocorrem nos


músculos, quando sofrem um estímulo. Desempenham um enorme papel na
coordenação dos movimentos natatórios que exigem, em geral, uma
diferenciação de seus elementos.

A alteração da sensibilidade motora produz a imprecisão dos


movimentos.

Se um nadador tem que realizar um movimento natatório, partindo


de uma posição inicial, ver-se-á obrigado a organizar o trabalho muscular de
forma distinta para alcançar o objetivo proposto. Embora variando a posição
inicial, graças à sensação do movimento (proprioceptiva), há um reflexo preciso
no córtex cerebral, onde se produz a coordenação dos impulsos nervosos (de
preferência nos centros subtalâmicos e opto-estriados).

Durante a realização das atividades físicas, as sensações das


tensões musculares desempenham um grande papel. Tais sensações são:

a) a sensação do esforço muscular, isto é, o grau de força física


empregada;
b) a sensação de resistência que se experimenta ao se produzir a
tensão muscular;
c) a sensação da duração da tensão muscular e de suas variações
que diferenciamos com toda clareza em relação às variações da
força;
d) a sensação da velocidade do movimento e, neste caso, percebe-
se que o aumento da energia empregada ao realizar o movimento
que se opera, de uma maneira especial, é distinto do esforço que é
feito no caso da tensão estática;
e) a sensação de resistência que implica na superação de algumas
forças mecânicas atuantes no sentido do movimento realizado.

40.2 Percepções Especializadas No Esporte

O êxito de muitas ações desportivas depende, em grande parte, da


precisão de percepções das diversas condições do meio em que se efetuam
essas ações.

A base destas percepções é uma diferenciação muito elevada da


atividade dos analisadores que participam na realização do exercício físico
dado. Na prática desportiva, estas percepções especiais são designadas, em
geral, como "sentido da água" nos nadadores.

O "sentido da água". A análise desta percepção especializada,


segundo dados de S. Zhekulin (1935), mostra ser uma percepção cinestésica
altamente diferenciada e precisa da resistência da água ao nela realizar
movimentos, é percebida pelo nadador, principalmente, com o auxílio das
sensações recebidas ao efetuar movimentos semelhantes aos do remo.

De acordo com o estilo empregado, a resistência da água será


sentida preferentemente pelas extremidades que cumprem o papel mais
importante no avanço.

Nas percepções da resistência da água não só figuram as


sensações musculo-motoras do nadador, mas também as sensações de
pressão da água e do atrito.

41 ATENÇÃO E MEMÓRIA

Nos desportos e, em especial na natação, a memória motora tem


grande importância, pois permite ao nadador formar uma representação exata
da posição do corpo e dos movimentos que realiza (sua forma, orientação,
velocidade, etc.). Um aspecto muito importante no treinamento é a lembrança
dos movimentos, que se aprendem, o que não é exeqüível sem o
desenvolvimento da memória motora.

A lembrança e a aprendizagem do movimento é sempre processo


ativo que requer participação consciente.

Nas diversas etapas de aprendizagem dos movimentos, a repetição


tem caráter distinto. No período inicial da aprendizagem da natação, a tarefa da
repetição consiste em comprovar o acerto das representações motoras, a fim
de alcançar sua maior clareza e precisão. No período final de treinamento, a
finalidade da repetição consiste em fixar na memória a forma ideal e precisa do
movimento.
As representações motoras, que constituem a base da memória
motora, são extraordinariamente importantes no processo de aprendizagem do
movimento, já que asseguram seu máximo acerto e precisão.

42 REAÇÕES

Chamamos de reação à ação consciente de resposta, aquela que o


desportista conhece antecipadamente, as excitações que deve experimentar e
se preparar previamente para respondê-las de certa forma.

42.1 Estrutura do Processo de Reação

Consta, em seu tipo mais corrente, da percepção, da excitação


condicional sabida previamente, da compreensão desta excitação e da
execução dos movimentos de respostas correspondentes.

Em conformidade com a estrutura do processo de reação, se


estabelecem três períodos, a saber:

42.2 Período de Reação Preliminar

No exemplo da natação, compreende o período de tempo que fica


entre a voz de comando prévio "aos seus lugares" e a execução (tiro) e é
formado pela espera do sinal e a preparação para o movimento de resposta.

42.2.1 Período de Reação Central ou Latente

Compreende o período que fica entre o sinal executivo e o


movimento de resposta. Neste período de espera, se operam no córtex
cerebral intensos processos nervosos que preparam o movimento de resposta:

a) o momento sensorial do período de reação latente, consiste na


percepção da excitação do sinal;
b) o momento associativo da reação, consiste na compreensão da
excitação percebida;
c) o momento psicomotor do período de reação latente, consiste na
execução dos impulsos psicomotores no setor motor do córtex e no
envio destes impulsos pelos neurônios eferentes dos músculos
correspondentes.

42.2.2 Período de Reação ou Efetor

Compreende o período que medeia entre o momento em que se


inicia o movimento de resposta e a sua plena realização.
42.3 Tipos de Reações

Os tipos de reação sensorial psicomotor e neuromotor se


diferenciam pelo caráter dos processos psíquicos que se desenvolvem no
período preliminar e vêm determinados pelo período de reação efetor.

42.3.1 Tipo de Reação Sensória

Caracteriza-se pela orientação da atenção do nadador no período de


reação preliminar à percepção do sinal de execução. O nadador aguarda este
sinal num estado de tensão.

42.3.2 Tipo de Reação Motora

Caracteriza-se pela orientação da atenção do nadador no período de


reação preliminar à percepção do movi mento-resposta.

De acordo com que foi exposto, estão fortemente excitados os


centros nervosos do córtex, com uma inibição simultânea ou com um grau de
debilitação dos processos de excitação nos demais setores do córtex.

Durante o período preliminar, o tipo neutro de reação caracteriza-se


pela uniformidade dos processos de excitação nos setores sensoriais e
psicomotores do córtex. A atenção está dirigida, simultaneamente e em igual
medida, à espera do sinal e à preparação do movimento de resposta.

As reações podem ser classificadas ainda em simples e complexas.


As reações simples são aquelas em que o processo de reação é muito
elementar: existe apenas um agente excitador previamente conhecido (o sinal)
e, ao reacionar, haverá apenas um movimento de resposta já conhecido e
aprendido perfeitamente. A saída da natação é um exemplo típico. Outro
exemplo seria o de efetuarmos o exercício de deslizar na aprendizagem, ao
comando do professor.

As reações complexas são aquelas nas quais têm lugar várias


excitações possíveis e vários movimentos de resposta, com a particularidade
de que se desconhece previamente que excitações surgirão e com que
movimentos se reagirá, é o caso de um jogador de pólo aquático que irá reagir
segundo a situação apresentada.

42.4 Particularidades do Processo de Reação

As reações caracterizam-se não só pela rapidez com que


transcorrem os processos nervosos, mas também por certa inversão de
energia necessária para realizar o movimento ao reagir.
Para responder a uma mesma excitação, dois nadadores ou dois
aprendizes, por exemplo, podem reagir com igual velocidade, mas um deles
pode efetuar o movimento com menos energia que o outro, com menos
amplitude.

A diferença pode ser explicada pela distinta inversão de energia; o


movimento efetuado pelo segundo nadador é tão rápido como o do primeiro,
mas a quantidade de energia dispendida é maior, porque ele efetua o
movimento com mais vigor.

42.5 Esforços Voluntários no Processo da Atividade


Desportiva

Qualquer ação voluntária requer certo esforço, embora mínimo, ao


ser realizada.

O desenvolvimento dos esforços voluntários conduz nestes casos ao


estabelecimento de certa correlação entre o caráter do esforço voluntário e o
grau de dificuldade que se deve superar nesse tipo de atividade.

Em conseqüência, no nadador pode criar-se o hábito de empregar


no desporto da natação esforços voluntários de determinada força e caráter
que são pouco eficazes ao aumentaras exigências de velocidade, intensidade
ou complexidade dos movimentos natatórios.

Tipos de atividades que requerem a superação das sensações


emocionais negativas (medo, perturbação, falta de confiança em si mesmo,
etc.) são manifestadas, normalmente, por aquele que já apresentou sinais de
afogamento. Os mecanismos fisiológicos destes estados psicológicos
consistem em altas excitações em determinados centros corticais (situam-se na
frente e atrás da zona pré-central e ainda no lóbulo frontal) e subcorticais.

Tais excitações obedecem a sensações emocionais negativas e à


intensa inibição dos centros que intervêm na atividade prevista.

No processo da atividade que requer a superação dos estados


emocionais negativos, o atleta realiza esforços para anular conscientemente o
excesso de excitação emocional e inibir os centros motores que participam no
tipo dado de atividade física. Nisto desempenha um importante papel o
segundo sistema de excitações que intervém nas emoções de alto nível
(sentimento do dever, de honra desportiva, da responsabilidade, etc.) e o
sentimento de sucesso que surge nos casos em que se consegue realizar os
objetivos da ação solicitada.
43 CONCLUSÕES

De quanto se disse e dos ensinamentos anteriores, se conclui que:

1. a natação não é só uma das modalidades desportivas que mais


prova sua impregnação psicomotriz, como também ela é o fenômeno
do movimento que representa uma síntese depletora de fenômenos
da mais ampla diversidade;

2. as possibilidades mecânicas oferecidas pela máquina humana


não são suficientes para que o indivíduo aprenda e saiba nadar. 0 "à
vontade dentro d'água", a flutuabilidade e a rentabilidade desta
máquina está altamente dependente de toda a fenomenologia
psíquica que acompanha o movimento;

3. tal rentabilidade alia-se ao conhecimento de todas as condições


de hidrostática e da hidrodinâmica que permitem ao ser humano
adaptar-se e tirar proveito, em sua movimentação, do meio estranho
que é a água;

4. é evidente que o treinador ou instrutor de natação deverá ter


domínio completo das técnicas atuais, mas devera saber interpretá-
las não só de forma pragmática, bem como com toda a profundidade
que a ciência o exige e requer;

5. esse mesmo treinador ou instrutor deverá ser bom pedagogo e


educador, a fim de criar no aluno todas as condições de motivação
psíquica que a natação requer;

6. a natação, por sua profunda adaptabilidade a ambos os sexos e a


todas as idades, vem a serem seus requisitos um desporto de uma
vida inteira.

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