You are on page 1of 26

Cálculo Vetorial

e
Sistemas de Coordenadas
– Uma Revisão –
Departamento de Fı́sica e Quı́mica
Instituto de Ciências Exatas
Universidade Federal de Itajubá

Eduardo O. Resek

1o Semestre / 2006
Revisão de Análise Vetorial 1

1 Introdução
No domı́nio da fı́sica elementar (clássica) encontramos diversos tipos de quantidades. Dentre elas,
estaremos interessados na distinção entre quantidades escalares e vetoriais. Visando estritamente
nossos interesses futuros, é suficiente definı́-las da seguinte forma:
Escalares: grandezas que são completamente caracterizadas por suas magnitudes. Ex-
emplos: massa, volume, temperatura, tempo, etc.

Vetores: grandezas que são completamente caracterizadas por seus módulos, direções e
sentidos. Exemplos: velocidade, força, aceleração, posição a partir de uma origem fixa,
etc.

A partir daı́ introduzimos os conceitos de campos escalares e vetoriais. Um campo é basicamente


uma função de ponto, isto é, depende da posição no espaço e/ou no tempo. Assim, campos escalares são
especificados fornecendo-se suas magnitudes em todos os pontos do espaço; campos vetoriais exigem,
além do módulo, a especificação da direção e sentido em todos os pontos do espaço.
Estas definições são não rigorosas e um tanto limitadas, mas serão adequadas aos nossos propósitos.1
Como todos já estão devidamente familiarizados com a álgebra de escalares, passamos ao estudo
da álgebra vetorial.

2 Álgebra Vetorial
Como vimos, um vetor A será completamente caracterizado por seu módulo, direção e sentido. Rep-
resentamos o módulo de A por |A| ou, às vezes, simplesmente A. Sendo B e C outros vetores, são
válidas as seguintes propriedades:
A+B=B+A
A + (B + C) = (A + B) + C = (A + C) + B = A + B + C,
ou seja, a soma de vetores é definida, resulta em outro vetor e obedece às propriedades da comutativi-
dade e distributividade. Por outro lado, sendo α um escalar (α ∈ R), αA é também um vetor,

B = αA,

com as seguintes caracterı́sticas:


módulo: |B| = |α| |A|
direção: l
a mesma de A
o mesmo de A, se α > 0
sentido:
o oposto ao de A, se α < 0

Versor (ou vetor unitário) de uma direção é um vetor desta direção cujo módulo é igual a 1 (um).
Dado um vetor A, é fácil determinar o versor de sua direção. Consideramos:

B = αA,

pois A e seu versor têm a mesma direção, sendo que |B| = 1. Assim,
1 1
|B| = |α| |A| = 1 =⇒ |α| = , ou α = ± ,
|A| |A|
1
Definições rigorosas envolvem propriedades de transformação sob mudança do sistema de coordenadas.

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


2 Revisão de Análise Vetorial

l
+ → versor com direção e sentido de A
sendo
− → versor com direção de A mas sentido oposto.

Fig. 1 Denotando por â o versor de A, temos então:


½>
½ A
½ A
½ â =
â½> |A|
½

Também podemos escrever


A = |A|â,
isto é, todo vetor pode ser escrito como o produto de seu módulo pelo versor de sua direção e sentido.
Para melhor visualisarmos os vetores introduzimos um sistema de coordenadas tridimensional,
dotado de uma origem O e três eixos perpendiculares entre si, denotados por x, y, z ou x1 , x2 , x3 . Um
vetor V pode então ser especificado por suas componentes em relação a este sistema de coordenadas:

Vz 6 −Á V
z − Vx = |V| cos α
6 −
− Vy = |V| cos β
− Vz = |V| cos γ,
γ (α3 ) −

− β (α2 ) Vy ou,
Fig. 2 − -
α (α1 ) ½
½ Vi = |V| cos αi , i = 1, 2, 3,
½
Vx ½=½ onde α, β, γ, são os ângulos
ẑ 6 formados por V com os eixos
x, y, z, respectivamente (ou,
- -
x̂ ½½= ½ ŷ y αi é o ângulo formado por V
½ com o eixo xi , i = 1, 2, 3).
½
½
½
½
=½ ½x
No caso de campos vetoriais, cada uma das componentes é uma função de x, y, z.
Os versores dos eixos coordenados são comumente denotados pelos seguintes sı́mbolos:
Eixo x: x̂, i, x̂1 , ê1
Eixo y: ŷ, j, x̂2 , ê2
Eixo x: ẑ, k, x̂3 , ê3
Em termos das componentes, podemos escrever:

V = Vx x̂ + Vy ŷ + Vz ẑ

ou
3
3
V= Vi x̂i
i=1

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 3

 
Dados dois vetores A = i Ai x̂i e B = i Bi x̂i e α ∈ R, as propriedades de soma e multiplicação
por escalar se escrevem em termos de componentes, da seguinte forma:

A + B = (Ax + Bx )x̂ + (Ay + By )ŷ + (Az + Bz )ẑ


αA = (αAx )x̂ + (αAy )ŷ + (αAz )ẑ

3 Produtos entre Vetores


São definidos basicamente dois tipos de produtos entre vetores: o produto escalar e o produto vetorial.
Podemos formar ainda outros tipos através de composições destes dois produtos básicos.

3.1 Produto Escalar


Como o nome já deixa a entender, o resultado deste tipo de produto entre dois vetores A e B dados
não será um outro vetor, mas um escalar:
3
3
A·B = Ax Bx + Ay By + Az Bz = Ai Bi .
i=1

Pode-se mostrar facilmente que esta definição é equivalente a

A·B = |A| |B| cos θ,

onde θ é o menor ângulo entre A e B.

Exercı́cio Demonstre esta equivalência.


Podemos observar que2
3
3
2
A·A = |A| = A2x + A2y + A2z = A2i ≥ 0
i=1

A·A = 0 ⇐⇒ A = 0
(αA)·B = A·(αB) = αA·B
A·B = B·A
(A + B)·C = A·C + B·C

3.2 Produto Vetorial


Neste tipo de produto entre vetores o resultado é um outro vetor:
e e
e x̂ ŷ ẑ ee
e
e e
A×B = e Ax Ay Az e = (Ay Bz − Az By )x̂ + (Az Bx − Ax Bz )ŷ + (Ax By − Ay Bx )ẑ
e e
e Bx By Bz e

Esta definição, como também pode ser mostrado, é equivalente à conhecida regra do produto vetorial:
C = A×B é um vetor
2
Muitas vezes denominamos a operação A·A de elevar o vetor A ao quadrado.

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


4 Revisão de Análise Vetorial

(i) perpendicular ao plano formado por A e B (ou seja, perpendicular a ambos os


vetores);
(ii) de módulo igual a
|C| = |A| |B| sen θ
(iii) de sentido dado pela regra da mão direita: gire A em direção a B com os dedos
da mão direita segundo o menor ângulo entre eles: o sentido de C = A×B é o indicado
pelo polegar desta mão.

C
KAA
A
A ¡µ B
A ¡
A ¡
A ¡
A ¡
A ¡
A ¡¡ \. ¡
A ½½ \¡ θ
A¡ \.\ -
A
Fig. 3

Exercı́cios

1) Os vetores da origem de um sistema de coordenadas até os pontos A, B, C, D são:

A = x̂ + ŷ + ẑ
B = 2x̂ + 3ŷ
C = 3x̂ + 5ŷ − 2ẑ
D = ẑ − ŷ

Mostre que as linhas AB e CD são paralelas e determine a razão de seus comprimentos.


2) Mostre que os vetores

A = 2x̂ − ŷ + ẑ, B = x̂ − 3ŷ − 5ẑ, C = 3x̂ − 4ŷ − 4ẑ

formam os lados de um triângulo retângulo, e determine os demais ângulos deste triângulo.


3) Mostre que, sendo x̂i os versores dos eixos x1 ≡ x, x2 ≡ y, x3 ≡ z,

x̂i ·x̂j = δij ,


l
1, se i = j
onde δij = .
0, se i = j
4) Considere a relação entre três vetores A, B, C:

C = A − B.

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 5

Demonstre, quadrando esta relação e interpretando geometricamente o resultado, a lei dos cossenos.
5) Sendo a um vetor constante e r o vetor posição de um ponto P (x, y, z) genérico (o vetor que vai
da origem do sistema de coordenadas até P ), determine qual a superfı́cie representada pelas seguintes
equações:

a) (r − a)·a = 0
b) (r − a)·r = 0

6) Mostre que
x̂×x̂ = ŷ×ŷ = ẑ×ẑ = 0

x̂×ŷ = ẑ, ŷ×ẑ = x̂, ẑ×x̂ = ŷ

ŷ×x̂ = −ẑ, ẑ×ŷ = −x̂, x̂×ẑ = −ŷ

7) Determine um vetor unitário perpendicular simultaneamente aos vetores a e b, sendo

a = 2i + j − k
b = i−j+k

8) Mostre que

A = x̂ cos α + ŷ sen α
B = x̂ cos β + ŷ sen β

são vetores unitários no plano xy formando ângulos iguais a α e β, respectivamente, com o eixo x.
Obtenha por meio do produto escalar entre esses dois vetores, a fórmula para cos(α − β).
9) Deduza a lei dos senos:
sen α sen β sen γ
= =
|A| |B| |C|

¢¢̧J]J
¢ α J
¢ J
B¢ J C Fig. 4
¢ J
¢ J
¢
¢ β J
J
¢ γ » » » »»:
¢ » » » » » A
¢» »

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


6 Revisão de Análise Vetorial

10) A força magnética sofrida por uma partı́cula de carga q em movimento com velocidade v num
campo de indução magnética B é dada por
F = qv×B.

Através de três experimentos, encontrou-se que


F
se v = 1,0 x̂, = 2,0 ẑ − 4,0 ŷ
q

F
se v = 1,0 ŷ, = 4,0 x̂ − 1,0 ẑ
q

F
se v = 1,0 ẑ, = 1,0 ŷ − 2,0 x̂
q
(unidades MKS). A partir desses resultados, determine B na região do espaço considerada.

4 Cálculo Diferencial e Integral com Vetores


Consideraremos agora a extensão das idéias anteriormente introduzidas ao cálculo diferencial e integral.
Estudaremos nesta seção os conceitos de derivada direcional, gradiente, divergente e rotacional de uma
função vetorial, bem como os de integração ao longo de uma trajetória, de uma superfı́cie ou volume,
quando introduziremos as idéias de fluxo e circulação (ou circuitação) de um vetor.

4.1 Derivada Direcional e Gradiente


A derivada direcional de uma função escalar φ(x, y, z) no ponto P (x, y, z) nada mais é que a taxa de
variação de φ com respeito à distância, medida segundo uma certa orientação (direção), no ponto P
considerado.

Fig. 5
A equação φ(x, y, z) = φ0 sendo φ0 uma
` `
` ` constante, representa o lugar geométrico
¤¤º `
¤ ¡µ ∆l de todos os pontos (x, y, z) tais que φ =
¤ ¡ φ0 , portanto uma superfı́cie. Se a par-
¤ ¡ tir do ponto P ∈ φ0 imprimirmos um
∆l cos θ ¤ ¡ φ = φ0 + ∆φ
¤ ¡ deslocamento ∆l numa direção qualquer,
¤º¤ ¡
θ o ponto P daı́ resultante pertencerá a
n̂ ¤ ¡ uma outra superfı́cie da mesma famı́lia,
¤ ¡
»» ¤ ¡ definida pela equação φ = φ0 +∆φ. É ev-
.
¤¡ idente que, considerando o deslocamento
P entre as duas superfı́cies, |∆l| = ∆l será
mı́nimo quando a direção de ∆l for per-
φ = φ0 pendicular à superfı́cie φ = φ0 (θ = 0).

De acordo com a definição de derivada direcional e com a figura 5, podemos então escrever para o
ponto P :

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 7


: derivada direcional segundo a direção de ∆l, no limite em que ∆l → 0;
dl

: derivada direcional segundo a direção de máxima variação de φ.
dl cos θ
Definimos pois o gradiente da função escalar φ no ponto P como o vetor com as seguintes
caracterı́sticas:
(i) intensidade: igual à da derivada direcional máxima de φ em P ;
(ii) direção: a da derivada direcional máxima de φ naquele ponto, ou seja, perpendicular
à superfı́cie φ = φ0 que contem o ponto P ;
(iii) sentido: o dos φ crescentes.

Fig. 6
Representamos o gradiente por ∇φ ou
grad φ. Da definição, podemos escrever:
¡µ dl dφ
¡ |∇φ| =
¡ dl cos θ
∇φ ¤¤º ¡ φ = φ0 + dφ
¤ ¡ Então:
¤º¤
θ ¡
n̂ ¤ ¡ dφ dl
dφ = ∇φ·dl ou = ∇φ·
¤ ¡ dl dl
»» ¤ ¡
.
¤¡ Esta equação define φ matematicamente.
P A partir dela, podemos determinar ∇φ
em qualquer sistema de coordenadas em
φ = φ0 que conheçamos a forma de dl.

Por exemplo, em se tratando de coordenadas cartesianas:

dl = x̂ dx + ŷ dy + ẑ dz
=⇒ ∇φ·dl = (∇φ)x dx + (∇φ)y dy + (∇φ)z dz

Por outro lado:


dφ ∂φ dx ∂φ dy ∂φ dz
= + +
dl ∂x dl ∂y dl ∂z dl
∂φ ∂φ ∂φ
dφ = dx + dy + dz
∂x ∂y ∂z
Assim, com a definição de ∇φ,
∂φ ∂φ ∂φ
dx + dy + dz = (∇φ)x dx + (∇φ)y dy + (∇φ)z dz.
∂x ∂y ∂z
Como as diferenciais dx, dy, dz são independentes, podemos igualar os coeficientes correspondentes
às diferenciais nos dois membros desta expressão, resultando
∂φ ∂φ ∂φ
(∇φ)x = , (∇φ)y = , (∇φ)z = ,
∂x ∂y ∂z

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


8 Revisão de Análise Vetorial

ou
∂φ ∂φ ∂φ
∇φ = x̂ + ŷ + ẑ.
∂x ∂y ∂z

0
Exemplo Determinar o gradiente de f = f (r) = f ( x2 + y 2 + z 2 ).

Solução De acordo com a expressão obtida para ∇f ,


∂f (r) ∂f (r) ∂f (r)
∇f (r) = x̂ + ŷ + ẑ
∂x ∂y ∂z
Mas
∂f (r) df (r) ∂r df (r) x df (r) x
= = 0 = .
∂x dr ∂x dr x2 + y2 + z 2 dr r
Analogamente:
∂f (r) df (r) y ∂f (r) df (r) z
= , =
∂y dr r ∂z dr r
Então:
df 1
∇f (r) = (xx̂ + yŷ + zẑ)
dr r
df
∇f (r) = r̂
dr

4.2 Integração Vetorial


Antes de continuarmos a discutir outros aspectos relativos a diferenciação de vetores, é conveniente
estudarmos alguns tópicos referentes a integração envolvendo vetores.

4.2.1 Integral de Linha


A integral de linha de um campo vetorial F = F(r) = F(x, y, z) desde um ponto a até um ponto b
dados, ao longo de uma trajetória C é um escalar representado por
8b
F· dl,
C
a

onde dl é um vetor deslocamento infinitesimal ao longo da curva C. O cálculo da integral é e-


fetuado como o de uma integral Riemanniana ordinária: dividimos a porção da curva C entre a e
b em N partes, calculamos Fi ·∆li para cada uma delas
e somamos tudo, tomando o limite em que N → ∞
Fi ¤º b (ou ∆li → 0).
¤
¤ θi
¤ 8b N
3
¤¡¡µ ∆li F· dl = lim Fi · ∆li =
N →∞
a C i=1
N
3
C = lim Fi ∆li cos θi
N →∞
i=1
Fig. 7
a Em geral, o resultado depende não somente dos pon-
tos extremos a e b, mas também da curva C que os
une.

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 9

O caso particular de integração ao longo de uma curva fechada é denotado de forma especial como
-
F· dl,
C

e denominado circulação ou circuitação de F em torno (ou ao longo) de C. O resultado pode ou não


ser nulo. A classe dos campos vetoriais para os quais a integral acima se anula para qualquer que seja
a curva fechada C é de especial importância na fı́sica matemática.

4.2.2 Integral de Superfı́cie – Fluxo


Dado um campo vetorial F numa região do espaço, definimos o fluxo ΦF do campo através de uma
superfı́cie S como a integral 8
ΦF = F·n̂ dS,
S

onde dS é um elemento infinitesimal de área e n̂ um vetor unitário normal a dS. É claro que ΦF é um
escalar. O sentido de n̂ é para fora da superfı́cie, se S for uma superfı́cie fechada;
Fig. 8

S ´ ´3 se S for aberta e finita, ela possui um contorno l; por
r convenção o sentido de n̂ é indicado pelo polegar da mão
direita quando os demais dedos abraçam l no sentido

escolhido com positivo para sua orientação (ver Figura
8)

l ←

n̂1
dS1
6 O cálculo da integral é semelhante ao caso anteri-
ormente considerado da integral de linha:
8 N
3
Fi F·n̂ dS = lim Fi ·n̂i ∆Si
S N →∞
i=1
θi
¶¶7 3N
n̂i J] ¶ = lim Fi cos θi ∆Si
J¶ N →∞
i=1
dSi 8
l = F cos θ dS
S
Fig. 9
De forma análoga, o fluxo de F através de uma superfı́cie fechada S é denotado por
-
F·n̂ dS.
S

4.2.3 Integral de Volume


Aqui não há nada de especial: a integral de volume de um vetor F através de um volume V definido
por uma superfı́cie fechada S, 8
F dv
V

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


10 Revisão de Análise Vetorial

reduz-se simplesmente a três integrais escalares, uma para cada direção do espaço. Se F for expresso
em coordenadas cartesianas, por exemplo, teremos
8 8 8 8
F dv = x̂ Fx dv + ŷ Fy dv + ẑ Fz dv.
V V V V

4.3 Divergência
Um outro importante operador, essencialmente uma derivada, é o operador divergente. O divergente
(ou a divergência) de um campo vetorial F, denotado por ∇·F ou div F é definido como o limite do
fluxo de F através de uma superfı́cie fechada S por unidade de volume, quando o volume V delimitado
por S tende a zero:
-
1
∇·F = lim F·n̂ dS
V →0 V S

Vemos claramente que o divergente é uma função escalar de ponto (campo escalar) – ele representa,
em cada ponto, o fluxo por unidade de volume que nasce de um elemento de volume coincidente com
o ponto.
Fig. 10
¡¡ ¡¡
¡ ¡
¡ ¡ A definição acima é independente da escolha do
¡ ¡
¡ ¡ ∆z
sistema de coordenadas, podendo pois ser usada
¡ ¡ para encontrar a forma especı́fica de ∇·F em qual-
quer sistema de coordenadas particular. Em co-
ordenadas cartesianas retangulares, por exemplo,
¡¡ ¡¡ tomamos um elemento de volume ∆v = ∆x ∆y ∆z,
¡ localizado no ponto (x0 , y0 , z0 ). O fluxo ΦF de um
¡¡ ¡ ∆x campo vetorial F através deste paralelepı́pedo será,
¡¡ ¡
¡ desprezando infinitésimos de ordem superior:
¡¡ ¡
(x0 , y0 , z0 ) ∆y

- 8 8
F·n̂ dS = Fx (x0 + ∆x, y, z) dy dz − Fx (x0 , y, z) dy dz
S 8 8
+ Fy (x, y0 + ∆y, z) dx dz − Fy (x, y0 , z) dx dz
8 8
+ Fz (x, y, z0 + ∆z) dx dy − Fz (x, y, z0 ) dx dy,

De acordo com o teorema de Taylor, desprezando novamente infinitésimos superiores:


e
∂Fx ee
Fx (x0 + ∆x, y, z) = Fx (x0 , y, z) + ∆x
∂x e(x0 ,y,z)
e
∂Fy ee
Fy (x, y0 + ∆y, z) = Fy (x, y0 , z) + ∆y
∂y e(x,y0 ,z)
e
∂Fz ee
Fz (x, y, z0 + ∆z) = Fz (x, y, z0 ) + ∆z ,
∂z e(x,y,z0 )

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 11

de modo que
l 8 e
1 ∂Fx ee
∇·F = lim ∆x dy dz
V →0 ∆x ∆y ∆z ∂x e(x0 ,y,z)
8 e 8 e M
∂Fy ee ∂Fz ee
+∆y dx dz + ∆z dx dy .
∂y e(x,y0 ,z) ∂z e(x,y,z0 )

Assim, tomando o limite e simplificando

∂Fx ∂Fy ∂Fz


∇·F = + +
∂x ∂y ∂z

Podemos agora enunciar um teorema extremamente importante da análise vetorial envolvendo o


divergente:

Teorema do Divergente (Gauss): a integral do divergente de um campo vetorial sobre um volume


V é igual ao fluxo deste vetor através da superfı́cie S que limita V :
8 -
∇·F dv = F·n̂ dS
V S

Exemplo Determine ∇·r e ∇·[rf (r)].

Solução Aplicando diretamente a expressão encontrada acima,


w W
∂ ∂ ∂ ∂x ∂y ∂z
∇·r = x̂ + ŷ + ẑ ·(xx̂ + yŷ + zẑ) = + +
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z

=⇒ ∇·r = 3

De modo mais genérico:

∂ ∂ ∂
∇·[rf (r)] = [xf (r)] + [yf (r)] + [zf (r)]
∂x ∂y ∂z
x2 df (r) y 2 df (r) z 2 df (r)
= 3f (r) + + +
r dr r dr r dr
df
= 3f (r) + r .
dr

Em particular, se f (r) = rn−1 , ou seja, rf (r) = rn ,

∇·(r̂rn ) = 3rn−1 + (n − 1)rn−1 = (n + 2)rn−1 .

Vemos que o divergente se anula para n = 2, fato que será importante futuramente:
w W

∇· 2 = 0, para r = 0
r

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


12 Revisão de Análise Vetorial

4.4 Rotacional
Outro importante operador diferencial da análise vetorial é o rotacional , denotado por ∇×F ou rot F,
quando aplicado a um vetor F. Analogamente ao modo como definimos o divergente, na seção anterior,
por -
1
∇·F = lim n̂·F dS,
V →0 V S

definimos o rotacional de um campo vetorial F, nas mesmas condições, por:


-
1
∇×F = lim n̂×F dS.
V →0 V S

Esta definição, entretanto, é equivalente, pode-se mostrar, a uma outra que nos será mais útil: con-
sidere no ponto P uma trajetória l fechada e contida num plano cuja normal é n̂ (o sentido de n̂
é, como sempre, definido pela regra da mão direita aplicada ao sentido convencionado como positivo
para a trajetória l); a componente do vetor ∇×F na direção de n̂ é então definida como o limite da
relação entre a circulação de F ao longo de l e a área S delimitada por l, quando S tende a zero:
-
1
n̂·∇×F = lim F· dl.
S→0 S l

Exercı́cio Mostre a equivalência dessas duas definições.


Podemos determinar as componentes do vetor rotacional de um dado campo F em qualquer siste-
ma de coordenadas, através de uma das duas definições apresentadas. Em coordenadas cartesianas o
resultado é: w W w W w W
∂Fz ∂Fy ∂Fx ∂Fz ∂Fy ∂Fx
∇×F = − x̂ + − ŷ + − ẑ,
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
ou, numa forma mnemônica, como a expansão de um determinante:
e e
e x̂ ŷ ẑ e
e e
e ∂ ∂ ∂ e
∇×F = ee e
e
e ∂x ∂y ∂z e
e Fx Fy Fz e

O teorema de Stokes, enunciado a seguir, é também um resultado de importância na análise vetorial:

Teorema de Stokes: A circulação de um campo vetorial ao longo de uma curva fechada l é igual
à integral de superfı́cie de seu rotacional sobre qualquer superfı́cie limitada pela curva:
- 8
F· dl = ∇×F·n̂ dS
l S

Exemplo 1 Mostre que ∇× (f V) = f ∇×V + (∇f ) ×V.

Solução De acordo com a expressão para o rotacional,


e e
e x̂ ŷ ẑ e
e e
e ∂ ∂ ∂ e
∇× (f V) = ee e,
e
e ∂x ∂y ∂z e
e fV f Vy f Vz e
x

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 13

assim:

∂(f Vz ) ∂(f Vy ) ∂Vz ∂f ∂Vy ∂f


(∇×(f V))x = − =f + Vz − f − Vy =
∂y ∂z ∂y ∂y ∂z ∂z
w W w W
∂Vz ∂Vy ∂f ∂f
= f − + Vz − Vy =
∂y ∂z ∂y ∂z
= (f ∇×V)x + (∇f ×V )x ,

de modo que
∇× (f V) = f ∇×V + (∇f ) ×V

Exemplo 2 Encontre ∇×[rf (r)].

Solução De acordo com a fórmula obtida no axemplo anterior, temos:

∇×[rf (r)] = f ∇×r + ∇f ×r.

Mas
e e
e x̂ ŷ ẑ e
e e
e ∂ ∂ ∂ e
∇×r = ee e = 0,
e
e ∂x ∂y ∂z e
e x y z e

e, além disso,
df
∇f (r) = r̂,
dr
donde resulta, levando em conta que r̂×r = 0, que

∇×[rf (r)] = 0

4.5 Aplicações sucessivas de ∇


Vejamos o que resulta da aplicação sucessiva do operador ∇, de diversas formas e a diversos tipos de
quantidades.

4.5.1 Laplaciano

É, por definição, o divergente do gradiente de uma função escalar φ:

∇2 φ = ∇·∇φ

O laplaciano de um campo escalar resulta numa outra função escalar. Em coordenadas cartesianas,
por exemplo, temos
∂ 2φ ∂ 2φ ∂2φ
∇2 φ = + 2 + 2
∂x2 ∂y ∂z

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


14 Revisão de Análise Vetorial

4.5.2 Divergente do rotacional


Nesse caso, teremos:
e e
e x̂ ŷ ẑ ee
e
e ∂ ∂ ∂ ee
∇·∇×V = ∇· ee =
e ∂x ∂y ∂z ee
e V Vy Vz e
x
w W w W w W
∂ ∂Vz ∂Vy ∂ ∂Vx ∂Vz ∂ ∂Vy ∂Vx
− + − + −
∂x ∂y ∂z ∂y ∂z ∂x ∂z ∂x ∂y

Considerando que V é uma função contı́nua e lisa das variáveis x, y, z, as suas derivadas segundas
com relação a estas variáveis podem ser tomadas em qualquer ordem, isto é, por exemplo,

∂ 2 Vz ∂ 2 Vz
= ,
∂x∂y ∂y∂x

o mesmo acontecendo com as demais derivadas. Desse modo, resulta que


e e
e x̂ ŷ ẑ e
e e
e ∂ ∂ ∂ e
∇·∇×V = ∇· ee e=0
e
e ∂x ∂y ∂z e
e Vx Vy Vz e

4.5.3 Rotacional do gradiente


Pela expressão para o cálculo do rotacional, temos:
e e
e x̂ ŷ ẑ e
e e
e ∂ ∂ ∂ e
e e
∇×∇φ = ee ∂x ∂y ∂z e=0
e
e ∂φ ∂φ ∂φ e
e e
e e
∂x ∂y ∂z

4.5.4 Rotacional do rotacional e gradiente do divergente


Em geral, nenhuma dessas duas operações são nulas, mas existe a seguinte relação entre elas:

∇×∇×V = ∇∇·V − ∇2 V,

onde o laplaciano de um vetor é o vetor cujas coordenadas cartesianas são os laplacianos das compo-
nentes correspondentes do vetor original:

∇2 V = (∇·∇Vx )x̂ + (∇·∇Vy )ŷ + (∇·∇Vz )ẑ


= ∇2 Vx x̂ + ∇2 Vy ŷ + ∇2 Vz ẑ.

Deve-se observar que esta última relação só é válida no sistema de coordenadas cartesianas. Nos
demais sistemas, ∇2 V é definido pela primeira expressão.
Muitas vezes, escrevemos também, simbolicamente,

∇2 V = ∇·∇V.

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 15

4.6 Algumas Relações Úteis


Fornecemos, a seguir, algumas identidades freqüentemente necessárias no manuseio de expressões em
cálculo vetorial.
∇(uv) = u∇v + v∇u
∇·(f V) = f ∇·V + ∇f ·V
∇·(A×B) = B·∇×A − A·∇×B
∇× (f V) = f ∇×V + (∇f ) ×V
- 8
φn̂ dS = ∇φ dv
S V
- 8
φ dl = n̂×∇φ dS
l S
8 -
2 2
(ϕ∇ φ − φ∇ ϕ) dv = (ϕ∇φ − φ∇ϕ)·n̂ dS
V S

Exercı́cios

1) Mostre que, se A é um vetor constante,

∇(A·r) = A.

2) Mostre que, se ∇×A = 0, então ∇·(A×r) = 0.


3) Se ∇×f = 0 mas ∇×(gf ) = 0, onde g = g(x, y, z) e f = f (x, y, z), mostre que

f ·∇×f = 0.

4) Se A e B são vetores constantes, mostre que ∇(A·B×r) = A×B.


5) Mostre que ∇×(φ∇φ) = 0.
$b
6) Mostre que a integral de linha de um campo F antre dois pontos a e b do espaço, a F· dl, é
independente da trajetória se a condição ∇×F = 0 for satisfeita.

5 Sistemas de Coordenadas Curvilı́neas


Nas primeiras seções, embora tenhamos introduzido o vetor posição radial r, restringimo-nos quase que
inteiramente ao uso de coordenadas cartesianas, cuja grande vantagem é a sua simplicidade, devida
ao fato de serem seus vetores unitários constantes e os mesmos em todos os pontos do espaço.
Infelizmente nem todos os problemas em fı́sica e engenharia se adaptam a uma solução desenvolvida
em um sistema de coordenadas cartesianas. Por exemplo, num problema de força central, tal como
a gravitacional ou a eletrostática, a simetria praticamente exige que façamos uso de um sistema de
coordenadas em que a distância radial seja uma das coordenadas, ou seja, um sistema de coordenadas
esféricas.
A escolha do sistema de coordenadas deve estar portanto, ligada à simetria presente na situação
analisada. Uma escolha adequada sempre facilita enormemente a solução do problema.

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


16 Revisão de Análise Vetorial

Estudaremos basicamente dois tipos de sistemas de coordenadas, por serem os mais comuns e os
mais tratáveis: o sistema de coordenadas esféricas e o de coordenadas cilı́ndricas.
Poderı́amos desenvolver a teoria de forma a obter expressões genéricas válidas em qualquer sistema
de coordenadas curvilı́neas, como é feito na maioria dos livros-texto sobre o assunto, particularizando
depois os resultados para os sistemas de interesse. Não seguiremos essa abordagem por considerarmos
que, analisando cada um deles separadamente e deduzindo ‘in loco’ as expressões desejadas, podemos
obter uma maior familiariedade com o sistema em questão.

5.1 Sistemas de Coordenadas Cilı́ndricas (ρ, ϕ, z)

A figura 11 ilustra os elementos do sistema de coordenadas cilı́ndricas. Dado um ponto P de coorde-


nadas (ρ, ϕ, z), temos as seguintes interpretações:

ρ: distância perpendicular do ponto P ao eixo z (0 ρ < ∞);


ϕ: ângulo azimutal, isto é, o ângulo formado com o eixo x pela projeção do vetor
posição do ponto P sobre o plano xy (0 ϕ < 2π);
z: distância de P ao plano xy, ou seja, o mesmo que no sistema de coordenadas
cartesianas.

5.1.1 Transformação de coordenadas

A figura 11(b) mostra a projeção no plano xy da figura 11(a). Dela podemos escrever as seguintes
relações entre as coordenadas cilı́ndricas e as cartesianas:

Transformação de coordenadas cilı́ndricas para cartesianas:

x = ρ cos ϕ,
y = ρ sen ϕ,
z = z.

Transformação de coordenadas cartesianas para cilı́ndricas:


ρ = x2 + y 2 , 0 ρ < ∞,
y
ϕ = arctan , 0 ϕ < 2π,
x
z = z.

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 17

Fig. 11

z
6
H.H
HH H H
H H 6ẑ
H H P © ©* ϕ̂ y 6
H ©
¡µ H H jH
¡ ρ̂
¡
¡ ϕ̂
¡
¡ J] ρ̂
P´ ´3
(a) z (b) J
¡
¡ J´
¡H - ´ ´3
½ ½ ρ ´ ´
½ ϕ H H H ½ y
½ ´
½ H ´ y
½ ρ H H ½ ´
½ H ½ ´ ϕ
½ H ½ ´ - x
½ x
=½ ½x
P

5.1.2 Transformação dos vetores unitários:


Os vetores unitários dos sistemas de coordenadas curvilı́neas não são em geral constantes, por isso
merecem atenção especial quando envolvidos em operações como derivação e integração. Vejamos como
se relacionam os versores do sistema de coordenadas cilı́ndricas com os de coordenadas cartesianas:

Versores cartesianos para cilı́ndricos: Da figura 11(b), decompondo os versores ρ̂ e ϕ̂ nos


eixos x, y, observando que os ângulos indicados na figura são iguais a ϕ, obtemos:
ρ̂ = x̂ cos ϕ + ŷ sen ϕ
ϕ̂ = −x̂ sen ϕ + ŷ cos ϕ
ẑ = ẑ
Note que os versores ρ̂, ϕ̂, ẑ formam um sistema triortogonal: o produto escalar entre qualquer par
desses versores (distintos entre si) é nulo e, além disso:
ρ̂×ϕ̂ = ẑ, ϕ̂×ẑ = ρ̂, ẑ×ρ̂ = ϕ̂.

Versores cilı́ndricos para cartesianos: As transformações inversas são também facilmente


obtidas e são deixadas como exercı́cio. O resultado é:
x̂ = ρ̂ cos ϕ − ϕ̂ sen ϕ
ŷ = ρ̂ sen ϕ + ϕ̂ cos ϕ

Vetor posição: O vetor posição de um ponto P genérico do espaço, cujas coordenadas cilı́ndricas
são (ρ, ϕ, z) e cartesianas (x, y, z), pode ser escrito, usando apenas elementos de coordenadas cilı́ndricas,
com:
r = ρρ̂ + zẑ;

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


18 Revisão de Análise Vetorial

se expressarmos ρ̂ em termos dos versores cartesianos, teremos a forma mais adequada para o uso em
integrações e derivadas,
r = ρ cos ϕx̂ + ρ sen ϕŷ + zẑ.

5.1.3 Elementos de área e volume


A fim de entendermos mais facilmente como determinar os elementos de volume e superfı́cie nos
sistemas de coordenadas curvilı́neas, vamos examinar como eles são formados no nosso velho siste-
ma de coordenadas cartesianas. O elemento de área no plano xy, por exemplo, é obtido mantendo
z = cte. e imprimindo pequenas variações dx e dy nas coordenadas (x, y) de um ponto P genérico
(figura 12(a)). Temos então construı́do um elemento de área no plano xy (ou paralelo a ele), ou seja,
num plano z = constante. É claro que
(dS)z=cte = dx dy.
Um elemento de volume é facilmente obtido a partir daı́, acrescentando agora uma variação infinites-
imal dz da coordenada z: teremos um pequeno cubo de arestas dx, dy e dz, cujo volume é
dv = dx dy dz.

y 6 y 6

(a) (b)

Fig. 12
ρ dϕ
dS = dx dy dρ
dy
dx ## dS = ρ dρ dϕ
dϕ # © ©©
# ©
# ©
- #© © -
x x

Em coordenadas cilı́ndricas basta agora repetirmos o raciocı́nio, acompanhando a figura 12(b). No


plano z = cte, imprimimos às coordenadas ρ e ϕ variações infinitesimais dρ e dϕ. Obtemos portanto
um retângulo infinitesimal cujos lados são dados por dρ e ρ dϕ; sua área será portanto igual a
(dS)z=cte = ρ dρ dϕ.
Podemos igualmente escrever os elementos de área obtidos quando mantemos cada uma das demais
coordenadas constantes e permitimos às outras uma pequena variação. Temos:
(dS)ρ=cte = ρ dϕ dz,
correspondente a ρ = cte (elemento de área lateral do cilindro) e
(dS)ϕ=cte = dρ dz.
correspondente a ϕ = cte.
O elemento de volume, como a essa altura já deve ser óbvio, é conseguido juntando-se, por exemplo,
a variação dz àquela correspondente a z = cte:
dv = ρ dρ dϕ dz

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 19

5.1.4 Forma dos operadores vetoriais

Para encerrar, listamos a seguir as formas assumidas no sistema de coordenadas cilı́ndricas pelos
diversos operadores diferenciais vetoriais estudados:

Gradiente

∂φ 1 ∂φ ∂φ
∇φ = ρ̂ + ϕ̂ + ẑ
∂ρ ρ ∂ϕ ∂z

Divergente

1∂ 1 ∂Vϕ ∂Vz
∇·V = (ρVρ ) + +
ρ ∂ρ ρ ∂ϕ ∂z

Rotacional
e e
e ρ̂ ρϕ̂ ẑ e
e e
1e ∂ ∂ ∂ e
∇×V = ee e
e
ρe ∂ρ ∂ϕ ∂z e
e Vρ ρVϕ Vz e

Laplaciano
w W
1∂ ∂φ 1 ∂2φ ∂2φ
∇2 φ = ρ + 2 2+ 2
ρ ∂ρ ∂ρ ρ ∂ϕ ∂z

Laplaciano de um vetor

1 2 ∂Vϕ
(∇2 V)ρ = ∇2 Vρ − 2
Vρ − 2
ρ ρ ∂ϕ
1 2 ∂Vρ
(∇2 V)ϕ = ∇2 Vϕ − 2 Vϕ + 2
ρ ρ ∂ϕ
(∇2 V)z = ∇2 Vz

5.2 Sistemas de Coordenadas Esféricas (r, θ, ϕ)


A figura 13 ilustra os elementos de coordenadas esféricas, r, θ, ϕ de um ponto P genérico do espaço,
que possuem os seguintes significados:

r: módulo do vetor posição do ponto, ou seja, a distância do ponto P à origem do


sistema de coordenadas (0 r < ∞);
θ: ângulo que o raio vetor (vetor posição) de P faz com o semieixo positivo z (0
θ π), também conhecido como ângulo polar;
ϕ: ângulo azimutal, isto é, o ângulo formado com o eixo x pela projeção do vetor
posição do ponto P sobre o plano xy (0 ϕ < 2π), ou seja, o mesmo significado
que no sistema de coordenadas cilı́ndricas;

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


20 Revisão de Análise Vetorial

5.2.1 Transformação de coordenadas


Na figura 13 podemos extrair dois triângulos retan̂gulos que nos possibilitarão escrever as relações
ligando o sistema de coordenadas esféricas e o de coordenadas cartesianas; são eles o triângulo OP P ,
onde O é a origem do sistema de coordenadas, que é retângulo em P (ou OP P , retângulo em P ,
que é semelhante a OP P ), e o triângulo OM P , retângulo em M . A figura 14 mostra esses dois
triângulos. Note que OM P jaz no plano xy, enquanto OP P fica no plano ϕ = cte e que, além disso,
OP = P P coincide com a definição do elemento ρ das coordenadas cilı́ndricas.

z 6

r̂ Fig. 13
P
"" P ¡©¡µ ©*
" ©¡ ϕ̂
"
" ¡µ J
" ¡
" J
" ¡ J^ θ̂
¡

¡ z
θ ¡
¡
¡H -
½
½ ϕ H H H
y
x½ H H
½ H H
½
M½ H H
½ y HH
½ P
½
x ½ ½
½=

Transformação de coordenadas esféricas para cartesianas: Da figura 14(b) vemos que


x = OP cos ϕ,
y = OP sen ϕ,

enquanto, da figura 14(a),


z = r cos θ,
PP = r sen θ

Como OP = P P , as relações desejadas são


x = r sen θ cos ϕ,

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 21

y = r sen θ sen ϕ,
z = r cos θ,

Transformação de coordenadas cartesianas para esféricas: Do ∆OP P , o teorema de


Pitágoras fornece
2
r2 = P P + z 2 ;
o mesmo teorema, aplicado a ∆OM P , conduz a
2 2
OP = PP = x2 + y 2 ,

de modo que
r2 = x2 + y2 + z 2 ,
resultado que poderı́amos obter diretamente a partir do produto escalar de r por ele mesmo. Ainda,
cada uma das figuras fornece um dos ângulos θ e ϕ; as expressões finais são:

r = x2 + y 2 + z 2 , 0 r < ∞,
z
θ = arccos , 0 θ π,
r
y
ϕ = arctan , 0 ϕ < 2π.
x

P P
··
·
·
·
· Fig. 14 P
· ½½
z · r ½
· ½
· ½
· ½ y
½
θ · ½
½
· ½
· ½ ϕ
· (a) ½ (b)
x
O O M

5.2.2 Transformação dos vetores unitários:


Versores cartesianos para esféricos: Da figura 13 percebemos que o versor ϕ̂ é sempre parale-
lo ao plano xy, não possuindo componente na direção do eixo z. Percebemos também que este vetor
é exatamente aquele que já determinamos quando estudamos o sistema de coordenadas cilı́ndricas e,
portanto já temos pronta sua expressão de transformação:

ϕ̂ = −x̂ sen ϕ + ŷ cos ϕ.

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


22 Revisão de Análise Vetorial

O versor r̂ é facilmente encontrado lembrando que


r x y z
r̂ = = x̂ + ŷ + ẑ
r r r r
Assim, usando as expressões obtidas para x, y e z,

r̂ = sen θ cos ϕ x̂ + sen θ sen ϕ ŷ + cos θ ẑ.

O meio mais fácil de determinar θ̂ é observando que, como os três versores formam um sistema
triortogonal, e e
e x̂ ŷ ẑ e
e e
e e
θ̂ = ϕ̂×r̂ = e − sen ϕ cos ϕ 0 e
e e
e sen θ cos ϕ sen θ sen ϕ cos θ e

Assim, desenvolvendo e simplificando,

θ̂ = cos θ cos ϕ x̂ + cos θ sen ϕ ŷ − sen θ ẑ

Como já foi observado, os versores r̂, ϕ̂, θ̂ formam um sistema triortogonal: o produto escalar
entre qualquer par desses versores (distintos entre si) é nulo e, além disso:

r̂×θ̂ = ϕ̂, ϕ̂×r̂ = θ̂, θ̂×ϕ̂ = r̂.

Versores esféricos para cartesianos: As transformações inversas são também facilmente obti-
das e são deixadas como exercı́cio. O resultado é:

x̂ = sen θ cos ϕ r̂ + cos θ cos ϕ θ̂ − sen ϕ ϕ̂


ŷ = sen θ sen ϕ r̂ + cos θ sen ϕ θ̂ + cos ϕ ϕ̂
ẑ = cos θ r̂ − sen θ θ̂

Vetor posição: O vetor posição de um ponto P genérico do espaço, cujas coordenadas esféricas
são (r, θ, ϕ) e cartesianas (x, y, z), pode ser escrito, usando apenas elementos de coordenadas esféricas,
com:
r = rr̂,
pois r é um dos elementos de coordenadas esféricas. Expressando em termos dos versores cartesianos,
teremos a forma mais adequada para o uso em integrações e derivadas,

r = r sen θ cos ϕ x̂ + r sen θ sen ϕ ŷ + r cos θ ẑ.

5.2.3 Elementos de área e volume


Em coordenadas esféricas o elemento de superfı́cie mais importante é aquele obtido mantendo r con-
stante e permitindo a θ e ϕ variarem infinitesimalmente (figura 15). Da figura podemos determinar
os lados do retângulo infinitesimal assim formado: mantendo inicialmente ϕ fixo e variando θ de dθ,
obtemos um arco de comprimento r dθ. Se, por outro lado, mantivermos θ fixo e variarmos ϕ de dϕ,
teremos um arco de uma circunferência de raio r sen θ, cujo comprimento é portanto r sen θ dϕ. Logo,
a área do elemento considerado será

(dS)r=cte = r2 sen θ dϕ dθ.

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 23

z 6

½½ lP P P P
½ l P P Fig. 15
½ l P
½ l
½ l
½
½ ¢¢
r ¢
¢ %
¢ %
¢ %
¢ %
θ ¢ % dθ
¢%

H -
½ l
½ ϕ lH H H dϕ
y
½ l H H
½ l H H
½ l
½ l H H
½ HH
½ l
½ l
x ½ ½ l
½=

O elemento de volume é então facilmente encontrado a partir daı́, bastando permitir agora também
ao raio vetor uma pequena variação dr: teremos um cubo infinitesimal de lados dr, r sen θ dϕ e r dθ,
cujo volume é
dv = r2 sen θ dr dϕ dθ
Podemos, ainda, novamente escrever os elementos de área obtidos quando mantemos cada uma
das demais coordenadas constantes e permitimos às outras uma pequena variação. Temos:

(dS)θ=cte = r sen θ dr dϕ

correspondente a r = cte (elemento de área lateral de um cone com vértice na origem semi-abertura
θ) e
(dS)ϕ=cte = r dr dθ.
correspondente a ϕ = cte.

5.2.4 Forma dos operadores vetoriais


Em coordenadas esféricas os operadores diferenciais vetoriais estudados assumem a seguinte forma:

Gradiente
∂φ 1 ∂φ 1 ∂φ
∇φ = r̂ + θ̂ + ϕ̂
∂r r ∂θ r sen θ ∂ϕ

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek


24 Revisão de Análise Vetorial

Divergente
]
1 ∂ ∂ ∂Vϕ
∇·V = 2 sen θ (r2 Vr ) + r ( sen θVθ ) + r
r sen θ ∂r ∂θ ∂ϕ

Rotacional
e e
e r̂ r θ̂ r sen θ ϕ̂ e
e e
1 e ∂ ∂ ∂ e
∇×V = 2 e e
r sen θ ee ∂r ∂θ ∂ϕ e
e
e Vr rVθ r sen θVϕ e

Laplaciano
^ „
2 1 ∂ ∂φ ∂ ∂φ 1 ∂2φ
∇ φ= 2 sen θ (r2 ) + ( sen θ ) +
r sen θ ∂r ∂r ∂θ ∂θ sen θ ∂ϕ2

É interessante notar que


w W
1 ∂ ∂φ 1 ∂2
2
r2 = (rφ)
r ∂r ∂r r ∂r2

Laplaciano de um vetor

2 2 ∂Vr 2 cos θ 2 ∂Vϕ


(∇2 V)r = ∇2 Vr − 2
Vr − 2 − 2 Vθ − 2 ,
r r ∂θ r sen θ r sen θ ∂ϕ

1 2 ∂Vr 2 cos θ ∂Vϕ


(∇2 V)θ = ∇2 Vθ − Vθ + − 2 ,
r2 sen 2 θ 2
r ∂θ r sen 2 θ ∂ϕ

1 2 ∂Vr 2 cos θ ∂Vθ


(∇2 V)ϕ = ∇2 Vϕ − Vϕ + 2 + 2 ,
r2 sen 2 θ r sen θ ∂ϕ r sen 2 θ ∂ϕ
Estas expressões para ∇2 V são inegavelmente confusas, mas algumas vezes são necessárias (não há
uma garantia expressa de que a natureza seja sempre simples). Na verdade, não a utilizaremos no
decorrer do nosso curso; apresentâmo-la aqui apenas por questão de completeza.

Exercı́cios

1) O campo elétrico de uma partı́cula carregada localizada na origem do sistema de coordenadas é


da forma:
K
E = 3 r, K = cte.
r
a) Calcule o fluxo de E através da superfı́cie esférica de raio a com centro na origem.
b) Determine ∇·E e integre este resultado sobre o volume definido pela superfı́cie esférica, comparando
os resultados. Você já esperava por isto?
c) Calcule a integral de linha do vetor E ao longo da trajetória no plano xy mostrada na figura.
d) Use o teorema de Stokes para verificar o resultado.

Eduardo O. Resek Universidade Federal de Itajubá


Revisão de Análise Vetorial 25

y
6

(−a, a) ¾ (a, a)

6
-
x
?

(−a, −a) - (a, −a)

2) Usando os resultados dos teoremas integrais apresentados, encontre uma fórmula para o volume
de uma região em termos de uma integral sobre sua superfı́cie. Cheque seu resultado para uma esfera
e para um paralelepı́pedo.

Referências
[1] G. Arfken, “Mathematical Methods for Physicists”, 2nd Ed., Academic Press, New York, 1970.

[2] J. R. Reitz, F. J. Milford, R. W. Christy, “Foundations of Electromagnetic Theory”, 3rd Ed.,


Addison-Wesley, Reading, Massachusetts, 1980.

Universidade Federal de Itajubá Eduardo O. Resek

You might also like