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18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…

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Mulheres de http://somosmulheresdefibra.blogspot.com/2011/05/por-uma-vida-melhor-por-que-abolir-os.html

Fibra
O blog Somos Mulheres de Fibra
participa do movimento de
blogueiros progressistas que
procuram contribuir, de forma TE R ÇA -FE IR A , 1 7 DE MA IO DE 2 01 1
responsável, para a
democratização e a pluralidade da "Por uma vida melhor": por que abolir os conceitos
informação e da comunicação na de “certo” e “errado”.
sociedade brasileira. Nosso blog
se apresenta como um espaço Por Daniela Jakubaszko*
aberto a debates sobre temas
diversos como política nacional e
internacional, questões de gênero,
atividades culturais e A polêmica que se criou em torno do livro Por uma vida melhor, da
manifestações de diferentes coleção Viver, aprender, adotado pelo MEC , é inútil e representa um
categorias sociais. retrocesso para a Educação.

C omo lingüista e professora de português defendo ardorosamente a


utilização do livro. Vou explicar, mas antes faço alguns esclarecimentos:

S O B O C ÉU DE 1. A escola é o lugar por excelência da norma culta, é lá que devemos


BRA S ÍLIA aprender a utilizá-la, isso ninguém discute, é fato.

2. O livro NÃO está propondo que o aluno escreva “nós pega” – como
estão divulgando por aí - ele está apenas constatando a existência da
expressão no registro “popular”. Do ponto de vista cotidiano, a expressão
é válida porque dá conta de comunicar o que se propõe. E ela é mais que
comum e, sejamos sinceros, é a linguagem que o leitor dessa obra usa e
entende. Será que é intenção da escola se comunicar com ele de
verdade? Se for, ela tem que usar um livro que consiga fazer isso. Uma
gramática cheia de exemplos eruditos e termos que o aluno não consegue
nem memorizar, com certeza, não vai conseguir.

3. O que o livro está propondo é trocar as noções de “certo” e “errado”


por “adequado” e “inadequado”. E isso é mais que certo. Vou explicar a
seguir.

Foto de Rinaldo Arruda 4. A questão é: como ensinar a norma culta num país de tradição oral, e
no qual existe um abismo entre a língua oral e a língua escrita? C omo
fazer isso com jovens adultos – que já apresentam um histórico de
“fracasso” em seu processo formal de educação e, muito provavelmente,
na aquisição dos termos da gramática e seus significados. Se esse jovem
não assimilou até o momento em que procurou o EJA (Educação de Jovens
e Adultos) a “concordância de número”, como o professor vai fazê-lo usar
a crase? Isso para mencionar apenas um dos tópicos mais fáceis da
gramática e que a maioria das pessoas, inclusive as “mais cultas e
graduadas”, algumas até mesmo com doutorado, ainda não sabem
explicar quando ela é necessária.

Por que abolir os conceitos de “certo” e “errado”?

Vou mencionar apenas 3 razões, para não cansar demais o leitor, mas
C adê a tão falada liberdade de existem muitas outras, quem se interessar pode perguntar que eu passo a
expressão? bibliografia.

V IS IT A N T ES DES T E 1. Primeiro, por uma questão de honestidade com o aluno. A língua é viva,

…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 1/5
18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
BLO G assim como a cultura, e não pode ser dirigida, por mais que tentem. Por
isso, não existe nem “certo” nem “errado”: as regras são convenções e
são alteradas de tempos em tempos por um acordo entre países falantes
blog c ounter de uma mesma língua. O que era “errado” há alguns anos, hoje pode ser
Diseño Web “certo”. Agora é correto escrever lingüística sem trema - o que discordo -
Imprenta Sevilla e ideia sem acento. Assim, o que existe é o “adequado à norma culta” e o
“inadequado à norma culta”. E essa norma é uma convenção, não uma lei
natural e imutável. Além disso, por mais que a escola seja representante
da norma culta, isto não significa que ela deva ficar “surda” diante dos
demais níveis de fala. A língua portuguesa – ou qualquer língua – não
pode ser reduzida à sua variante padrão. Tão pouco as aulas de português
G EN T E DE FIBRA devem ficar. Afinal, se numa narrativa aparece um personagem, por
exemplo, pescador e analfabeto, como o aluno deverá escrever uma fala
Seguir (verossímil) para ele? Escrever de forma inverossímil é certo? Aliás, o que
Google Friend Connect seria dos poetas e escritores se não fosse o registro popular da língua?
Acho que Guimarães Rosa nem existiria.
Seguidores (47) Mais »
C om certeza a crítica ao livro parte de setores conservadores e
normativos. Eu, como lingüista e professora, não apoio a retirada dos
livros porque não acho justo falar para o aluno que o jeito que ele fala é
errado, até porque não é, só não está de acordo com a norma culta, o que
é muito diferente. Depois que você explica isso para o aluno é que ele
entende o que está fazendo naquela aula. Essa troca faz toda a diferença.

2. Segundo, porque quando você diz para um aluno sucessivas vezes que
o que ele fez está “errado” você passa por cima da subjetividade dele e
Já é um membro? Fazer login acaba com toda a naturalidade dessa pessoa. Daí, ela não fala “certo” e
também não sabe quando fala “errado”. Assim, quando na presença de
pessoas que ela julga mais letradas que ela própria, não tenha dúvida, vai
LEIA T A MBÉM
ficar muda. A formação da identidade do sujeito passa obrigatoriamente
Luis Nassif Online pela aquisição da linguagem, viver apontando os erros é desconsiderar a
A invasã o dos ca rros experiência de vida daquela pessoa, é diminuí-la porque ela não teve
chinese s estudo. E não se engane: ela pode se tornar até uma profissional mais
desejada pelo mercado por usar melhor a norma culta, mas não
Tijolaço - O Blog do
necessariamente vai se tornar uma pessoa melhor.
Brizola Neto
Brizola , a ssim , tira ria
este sa pa to 3. Em terceiro, porque é urgente trocar o ponto de vista normativo pelo
científico. A lingüística reconhece que a língua tem seu curso e muda
Richard Jakubaszko
conforme o uso e a cultura: já foi muito errado falar (e escrever) "você",
"Por um a
vida por exemplo. A lingüística também reconhece que a língua é instrumento
m e lhor": de poder, por isso, nada mais importante do que desmistificar a gramática
por que
normativa. Isto não significa deixá-la de lado, mas precisamos exercitar
a bolir os
conceitos uma visão mais crítica. Esse aluno sente na pele a discriminação social
de “ce rto” devido ao seu nível de fala, nada mais natural que ele rejeite a norma
e “e rra do”. culta e considere pedante a pessoa que fala segundo a norma padrão. É

Cloaca News compreensível, ainda, que ele não entenda grande parte do que se diz em
NÓ S sala de aula. O que não é compreensível é o professor, ou melhor, “a
R O UBEMO Escola”, não entender a razão de isso acontecer.
AS
PALAVR A
DE O UTR O Em nenhum momento foi dito que a professora e autora do livro em
BLO G questão não iria corrigir ou ensinar a norma culta aos alunos, só ficou
validado o registro oral. Os alunos precisam entrar em contato com o
Viomundo - O que distanciamento científico. E os lingüistas não saem por aí corrigindo
você não vê na mídia ninguém, eles observam, e você, leitor, bem sabe como funciona a ciência
Ma rcos Ba gno:
Discussã o sobre livro - e um aluno de pelo menos 15 anos já precisa começar a ouvir falar do
didático só re ve la pensamento científico. Além disso, é muito bom que eles percebam se o
ignorâ ncia da gra nde nível de fala que usam tem prestígio ou não, e o porquê.
im pre nsa

CartaCapital Por que ignorar o estudo da língua oral em sala de aula? Eu fazia um
Ma rcha LGBT que r re unir trabalho nesse sentido com os meus alunos e só depois de transcrever

…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 2/5
18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
30 m il pe ssoa s e m entrevistas orais eles conseguiam ouvir a si mesmos e tomar consciência
fre nte ao Congre sso de seu registro lingüístico: “nossa como eu falo gíria! Eu nem percebia!”.

Blog da Cidadania Aí sim eles entendem que, com o amigo, com os pais, eles podem dizer
Por ge ntile za , vã o se "os peixe", mas que na prova é preciso escrever "os peixes", no seminário
sodom iza r é preciso dizer “os peixes”, mas ele precisa estar à vontade para fazer
isso. A realidade em sala de aula é que os alunos não entendem onde
Metal Cadente
estão errando. Quando você explica o conceito de norma culta eles
Joaquim Fernandes entendem. C ria-se um parâmetro e não uma tábua de salvação
Neto inatingível. É aceitando o registro desse interlocutor e apresentando mais
O DEVENIR E A LEI DA uma possibilidade de uso da língua para ele que vai surgir o esforço para
R ENÚNCIA
aprender. Se você insistir no “certo” e no “errado” ele vai ficar com raiva
Gonzum e rejeitar o novo. Quer apostar?
Fúria , fúria , contra a
m orte da luz Ter uma boa comunicação não é sinônimo de usar bem as regras da
gramática. Para ensinar os conceitos de "gramática natural" e "gramática
A Moeda
normativa" temos de dar esses exemplos. Os conservadores se arrepiam
Conversa Afiada porque eles partem do princípio que você nunca pode escrever ou falar
nada errado na frente do aluno. Para mim isso é hipocrisia: o aluno tem
direito de saber que o registro que ele usa em casa é diferente daquele
A RQ U IV O DO BLO G que ele usa na rua, no estádio de futebol, na escola, no trabalho, em
frente ao juiz. E tem o direito de saber que o “correto” se define por
▼ 2011 (51)
aquele que tem mais prestígio social. Essas são só as primeiras noções de
▼ Maio (7)
sociolingüística, para quem quiser abrir a cabeça e saber. Ou será que a
Para 57% dos franceses o
língua portuguesa se aprende descolada da realidade? É isso que se está
diretor do FMI foi
tentando mudar. É tão difícil assim perceber isso?
vítima...

"Por uma vida melhor": Quando me perguntam qual é a função do professor de português na
por que abolir os escola, eu respondo: oferecer ao aluno um grau cada vez mais elevado de
conceitos...
consciência lingüística; oferecer instrumentos para que ele possa transitar
O MEC , os Linguistas e a conscientemente entre os diversos níveis de linguagem. Só depois de
Língua Portuguesa. realizada essa operação o aluno vai conseguir escrever conforme as

Hoje, a partir de 19h, regras da norma culta. E falar a norma padrão com naturalidade. Ou,
noite de abertura do ainda, escolher falar conforme o ambiente em que cresceu e formou a sua
#RioBl... subjetividade (Lula que o diga, comunica-se muito bem, sem camuflar as
suas origens). É bom ficar claro que a função do professor não se reduz a
Alguém tramou o director
"corrigir" o aluno. Isso, o google, até o word, pode fazer. Ajudar o aluno a
do FMI? - Mundo -
ter consciência de seu nível de fala é outra história...
PUBLIC O...

Nem todos os moradores O problema não é uma pessoa dizer “nós pega”, o problema é ela não
de Higienópolis se entender que esse uso não é adequado em determinados contextos, o
sentem r...
problema é não saber dizer “nós pegamos”. Ou sequer compreender
Pedro Tobias a nova face porque não pode falar “nós pega”... É, leitor, tem muito aluno que não
do PSDB entende porque precisa aprender uma lista de nomes difíceis que nada
significam para ele e que ele não enxerga a relação direta entre uso da
► Abril (10)
norma culta e como esta vai ajudá-lo a melhorar de vida.
► Março (3)
C onheço quilos, ou toneladas, de gente formada, pós-graduada, que fala
► Fevereiro (27)
“seje” e não tem consciência de que está falando assim, e ainda critica
► Janeiro (4) quem fala “menas”. Ouvir a si mesmo é uma das coisas mais difíceis de
fazer. E como ajudar o aluno a fazer isso?
► 2010 (265)

O primeiro passo é, sem dúvida, abolir o “certo” e o “errado”. Enquanto o


Q U EM S O MO S professor for detentor da caneta vermelha, o aluno vai tremer diante dele
e nada do que ele disser vai entrar na cabeça dessa pessoa preocupada
dalva teodorescu
em acertar uma coisa que não entende, tem vergonha de dizer que não
mulheres de fibra entende, então não pergunta, faz que entendeu, erra na prova e o
resultado é ela se achar cada vez mais burra e desistir de estudar. Ufa...
Puxa, ninguém estuda mais psicologia da educação? Isso é básico!

E então, leitor, o que é mais honesto com esse aluno que chega no EJA

…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 3/5
18/05/2011 Mulheres de Fibra: "Por uma vida melh…
com a autoestima lá em baixo? C omeçar falando a língua dele e depois
trazê-lo para a norma padrão ou começar de cara a humilhá-lo com uma
língua que ele não entende?

É muito sério quando pessoas leigas começam a emitir, levianamente,


juízos de valor sobre assuntos que não dominam. Alguns jornalistas,
blogueiros e “opineiros” de plantão, por exemplo, sem conhecimento dos
conceitos e técnicas de ensino em lingüística, sem a menor noção do que
está acontecendo nas salas de aula desse país, começam a querer dizer
para os professores o que eles têm de fazer, como eles têm de ensinar!
Isto sim, é nivelar por baixo! É detonar, mais ainda, a autoridade do
professor, já tão desprezada no país. Ah, e ainda fazem isso sem
perceber que freqüentemente cometem erros crassos; eu estou cansada
de lê-los em blogs, jornais e revistas, e ouvi-los na televisão. Não que
precisem, ou usamos com eles os mesmos critérios que defendem?

E então, qual é mesmo o tipo de educação que o Brasil precisa?

* Da nie la Ja k uba szk o é ba chare l e m lingüística e portuguê s pe la FFLCH-


USP, m e stre e doutora pe la ECA-USP. Desistiu de se r profe ssora de pois de
da r a ula por 15 a nos e virou re datora porque nã o a güe nta va m a is ouvir:
"você tra ba lha a lé m de da r a ula s?"

** Ah, eu tenho uma dúvida: até quando eu posso usar o


trema? Até 2012?

Postado por mulheres de fibra às 15:53

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…blogspot.com/…/por-uma-vida-melh… 4/5
18/05/2011 LIVRO APROVADO PELO MEC É ALVO …

m ídia, econom ia e cu ltura – por Glau co Cortez

A língua é um fenômeno curioso. Nela, existe algum mistério que está além do simples certo ou errado, alguma força maior que a
faz viver em movimento constante, de forma múltipla e particular. Ao falar sobre questões linguísticas deveria se ter mais
cuidado, um mínimo de conhecimento e, principalmente, uma postura não daquele que julga, mas daquele que antes busca
conhecer.

A distribuição do livro “Por uma vida melhor”, da professora Heloísa Ramos, com supostos “erros gramaticais” pelo Programa
Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação, tem feito muito barulho e dentro de todo esse barulho muita coisa
equivocada foi dita. O livro busca dar maior importância à linguagem oral, contemplando-a juntamente com a linguagem escrita
e sua norma culta, neste sentido, leva em consideração que frases como “nós pega o peixe” poderiam ser consideradas corretas
em certos contextos.

Os defensores da gramática e da norma erudita condenaram o livro e a sua linha de proposta


pedagógica dizendo que isso é um desrespeito à língua portuguesa, que agora se ensina errado
nas próprias escolas, que se está jogando a toalha e a educação não vale mais nada. Enfim, eles
temem pela língua.

A questão é será que há mesmo algo a temer pela língua? Será que ela precisa mesmo de
tantos jornalistas, gramáticos e escritores atacando as formas da linguagem oral porque esta
pode destruir a norma culta e aí sim seremos um país de pessoas analfabetas que não sabem
escrever e falar corretamente? Há um medo absurdo em toda essa crítica que chega ao
desespero típico dos que matam uma nova forma, para não mexer no esquema das antigas.

Em primeiro lugar, deve ser dito que muitos dos jornalistas que estão criticando o livro
didático e sua proposta ao falarem e redigirem seus textos cometem muitos dos “erros” que
eles tanto condenam, sem dizer que, a maioria não tem conhecimento mínimo de linguística
para sair falando e revestem seu discurso de tanto preconceito que não há espaço para
qualquer tipo de reflexão.
Outra proposta para o ensino de
Em segundo lugar, deve se lembrar de que os gramáticos têm muita dificuldade em lidar com gramática

as formas novas da língua, afinal, elas exigem mudanças nos sagrados manuais, assim, eles
abraçam a causa de uma língua que supostamente deve ser defendida a todo custo, inclusive da própria língua. Pois faz parte do
movimento da língua introduzir formas novas como “os livro.

Além disso, ao dizer “os livro”, por exemplo, não há um problema comunicacional, é possível entender o que se diz, a construção
não está de todo equivocada, o problema que existe aí é de outra ordem e obviamente deve ser estudado, no entanto, é
importante sim que as gramáticas e os livros didáticos contemplem essas novas formas explicando por que uma língua permite
que surjam construções como essa e dizendo, obviamente, qual é a norma culta, a forma consagradamente correta de dizer.

Sem dúvida, a gramática que for dinâmica como é a própria língua, será uma gramática muito mais completa e eficiente, afinal,
quando simplesmente se aponta uma forma como errada, perde-se muito mais do que quando se procura entender quais
mecanismos mentais e sociais propiciaram que aquela forma existisse. Por isso, pode-se dizer que esse livro didático ao invés de
pisotear a norma culta está colocando-a no mais alto patamar, pois não se aprende uma língua sem abrir-se para a sua totalidade.

Se fôssemos levar em consideração todas essas críticas que têm sido feitas, um escritor como Guimarães Rosa poderia ser
apedrejado em praça pública por inventar palavras e frases que desmerecem a sagrada norma culta. No entanto, muitos dos
jornalistas, escritores e membros da Academia que estão agora condenando o livro didático da professora Heloísa Ramos, rendem
ao escritor vastas homenagens. E o incrível é que com os escritos de Guimarães a língua não parece ter se perdido, muito pelo
contrário.

Abaixo, alguns trechos de notícias e comentários que saíram na imprensa sobre o assunto:

MEC lava as mãos no caso dos livros com erros

glaucocortez.com/…/livro-aprovado-p… 1/3
18/05/2011 LIVRO APROVADO PELO MEC É ALVO …
Do Globo
Por Cássio Bruno

Escritores e educadores criticaram ontem a decisão de distribuir o livro, tomada pelos responsáveis pelo Programa Nacional do Livro Didático. Para Mírian
Paura, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Uerj, as obras distribuídas pelo MEC deveriam conter a norma culta:
- Não tem que se fazer livros com erros. O professor pode falar na sala de aula que temos outra linguagem, a popular, não erudita, como se fosse um dialeto.
Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito.
Na obra “Por uma vida melhor”, da coleção “Viver, aprender”, a autora afirma num trecho: “Posso falar ‘os livro?’ Claro que pode, mas dependendo da
situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico.” Em outro, cita como válidas as frases: “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”.
Autor de dezenas de livros infantis e sobre Machado de Assis, o escritor Luiz Antônio Aguiar também é contra a novidade:
- Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância. Estão jogando a toalha. Isso demonstra falta de competência para
ensinar. (Texto completo)

Livro adotado pelo MEC defende ‘erro’


Da redação O Estado de S.Paulo

“Nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”. Para os autores do livro de língua portuguesa Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender, adotado
pelo Ministério da Educação (MEC), o uso da língua popular – ainda que com seus erros gramaticais – é válido.
A obra também lembra que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer “preconceito linguístico”.
Diz um trecho do livro, publicado pela Editora Global: “Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar “os livro”?” Claro que pode. Mas fique atento,
porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e
escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas”. (Texto completo)

Os livro mais interessante estão emprestado


Coluna do Augusto Nunes

A menção a leituras informa que a frase reproduzida no título do post não foi pinçada de alguma discurseira de Lula. Mas os autores do livro didático “Por uma
vida melhor”, chancelado pelo MEC, decerto se inspiraram na oratória indigente do Exterminador do Plural para a escolha de exemplos que ajudem a ensinar
aos alunos do curso fundamental que o s no fim das palavras é tão dispensável quanto um apêndice supurado. O certo é falar errado, sustenta o papelório
inverossímil.
A lição que convida ao extermínio da sinuosa consoante é um dos muitos momentos cafajestes dessa abjeta louvação da “norma popular da língua
portuguesa”. Não é preciso aplicar a norma culta a concordâncias, aprendem os estudantes, porque “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se
trata de mais de um livro”. Assim, continuam os exemplos, merece nota 10 quem achar que “nós pega o peixe”. E só podem espantar-se com um medonho
“Os menino pega o peixe” os elitistas incorrigíveis.
“Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas
as formas linguísticas”, lamenta um trecho da obra. Por isso, o estudante que fala errado com bastante fluência “corre o risco de ser vítima de preconceito
linguístico”. A isso foram reduzidos pelo Brasil de Lula e Dilma os professores que efetivamente educam: não passam de “preconceituosos linguísticos”. (Texto
completo)

Leia mais em Educação Política:

PROJETO DE LEI NO RS REVELA OBSESSÃO POR UMA LÍNGUA PURA

ESCOLA PÚBLICA RESERVA UM TEMPO PARA O APRENDIZADO DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA POR MEIO
DA TRADIÇÃO ORAL

AS PALAVRAS E SEUS SIGNIFICADOS DIZEM ADEUS AO PAPEL E MIGRAM PARA AS TELAS DIGITAIS

VEJA AS PALAVRAS E EXPRESSÕES MAIS USADAS COM HÍFEN, DE ACORDO COM A NOVA ORT OGRAFIA

Mande aos amigos: 3

AGÊNCIA EP, NOTÍCIA Brasil, CULTURA, EDUCAÇÃO, escrita, gramática, Jornalismo, língua, norma popular, normal culta, NOTÍCIA, oralidade

← BLOGUEIROS ESTÃO SE ORGANIZANDO POR TODO PAÍS EM TORNO DE PROPOSTAS COMO A REGULAÇÃO DA
MÍDIA E A BANDA LARGA PÚBLICA
PEDIDO DE IMPEACHMENT DE GILMAR MENDES, MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, JÁ ESTÁ NO SENADO →

glaucocortez.com/…/livro-aprovado-p… 2/3
18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…
Aguardamos você com café e torradas aqui e com maiores intimidades à direita. ==>>
Sergio Leo

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Lobato entra de sola na nova polêmica com o MEC


May 18th, 2011
by sleo.

Está divertido ver a patrulha do gramaticalmente correto (à qual pertenço, aliás, embora não
entre na histeria atual) contra um livro distribuído pelo MEC para educação de jovens e adultos. Dizem até que o livro quer impor a fala das ruas e
avacalhar a norma culta, quando ele faz o contrário, tentando dar o conhecimento da norma culta a quem conhece pouco mais que o linguajar popular,
como se vê no capítulo polêmico, AQUI.

(Se você estava preso em uma mina no Chile, só agora foi salvo e não está entendendo do que falamos aqui no Sítio, o tema desse post é o que bem
esclarece esse blogue AQUI).

…opsblog.org/…/lobato-entra-de-sola-… 1/6
18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…
Divertida a polêmnica porque pouco tempo atrás metiam o pau no MEC acusando o governo de querer censurar Monteiro Lobato porque um
conselho pediu cuidado com os trechos racistas do escritor, ao distribuir seus livros nas escolas. Agora querem censurar o livro “Por uma vida melhor”
do MEC, que tem uns trechos que me fizeram lembrar Lobato, embora menos agressivo em suas propostas do que os escritos do velho escritor
paulista.

Esclareço que não pertenço à turma que acha a defesa da norma culta um “preconceito linguístico”; já falei disso aqui no Sítio. Autores como Marcos
Bagno (popularíssimos hoje em dia nas escolas de letras) apontam questões relevantes, como a necessidade de reconhecer o valor da fala popular, mas
misturam isso num caldeirão ideológico para acusar a norma culta de ser apenas um instrumento de dominação, seleção e controle de classe. Para mim
é evidente que não é isso, mas seria assunto para outro post. (Nada contra a ideologia também, , apenas contra certos usos dela).

Os trechos a seguir estão no livro”Prefácios e Entrevistas”, último tomo das obras completas do autor, editora Brasiliense, de 1949. Falei dele aqui no
Sítio, antes .Vamos ao Lobato, pois, tão defendido pelos articulistas que hoje acham coisa de maluco da Al Qaeda dizer que não é errado dizer
“pescar os peixe”:

“Essa língua descende da que os portugueses introduziram e que alijou a língua geral então existente nesses territórios: o tupu-guarani. Ficou a língua
portuguesa sendo a língua geral do Brasil e até hoje o é. E por que o é? Porque aprendemos o português de duas maneiras, de ouvido e de leitura. Se
o aprendessemos só de ouvido, como acontece com o jeca, a nossa “língua geral” estaria hoje tão distanciada da língua portuguesa que um português
não a entenderia. O que conserva as línguas e impede que caminhem com velocidade excessiva pela tentadora estrada da evolução é a escrita.

Mas como o jeca nunca soube ler nem escrever, a evolução da língua portuguesa em sua boca se fez a galope…
… Por que nossos filólogos não extraem a gramática dessa língua do jeca? Que interessante seria! Quanta “mutação” vocabular, quanta variação de
sintaxe, da prosodia, de tudo! Troca do “b” pelo “v”: cumbérsa, bérso, cuvérta… o “lh” substituído pelo “i”: “abêia”, “páia”, “máia” (malha)… O “ou”
reduzido a “ô”: “fumô”, “botô”, “juntô”… Quantos aspectos!
Devíamos fazer a gramática da interessantíssima “língua do jeca” como os franceses fizeram a gramática da “língua de oc”; e devíamos enviar essa
gramática às escolas, lado a lado com a gramática portuguesa… Que vantagem haveria nisso? Oh, grande _ podermos falar com os 15 milhões de
jecas que há no território brasileiro.

A evolução da língua é curiosíssima e inteligentíssima, como todas as evoluções não atrapalhadas pelos breques dos artificialismos. A forma escrita das

línguas é um artificalismo tremendamente embaraçador da evolução natural das línguas. Tão emperrado que, no inglês, a
língua falada está pra cá e a escrita está pra lá. Mr Churchill escreve “enough” e diz “inâf”. O jeca teve a felicidade de não saber ler nem escrever, de
não se preocupar com a Academia de Letras, de usar dos jornais unicamente o papel _ e graças a isso “evoluiu” a língua portuguesa só de ouvido e
sempre de acordo com as injunções da “lei do menor esforço” e da “lei da melhor compreensão”. E como suprimiu besteiras inúteis! Os verbos, por
exemplo. Nós, por causa da tirania da escrita, ainda estamos com tantas variações quanto o latim. Di8zemos: Eu tenho, Tu tens, Ele tem, Nós temos,
Vós tendes, Eles têm. Há um grave defeito aqui. Se opronome já indica a pessoa do verbo, por que indicá-la de novo com a variação do verbo?
Redundância, bobagem – perda de esforço. O jeca, porque vive na maior das penpurias, diz: Eu tenho, vancê tem, ele tem, nós tem, Vânces tem, eles
tem. O inglês diz: I have, You have, He has, We have, You have, they have – e tanto o jeca como o inglês exprimem perfeitamente a “pessoa que tem”,

…opsblog.org/…/lobato-entra-de-sola-… 2/6
18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…
sem estarem latinescamente variabndo o pobre verbo.

O jeca forma os seus plurais com a mesma inteligência e economia do inglês; diz, por exemplo, “as casa”, “os home”, “as
muíé”, em vez de dizer redudantemente como o português, “as casas”, “os homens”, ” as mulheres”. O inglês diz “the men”, “the women”, “the houses”
– a mesma coisa que o jeca, só que invertido. Se pondo apenas o artigo no plural a frase fica perfeitamente clara, para que botar no plural também o
substantivo? pensa com muita razão o jeca e o inglês faz o mesmo raciocínio quando pluraliza o substantivo e não mexe no artigo.”

Mais adiante, no livro, que tem rpefácios a granel, muitos para livros obscuros dos amigos do escritor, como é o caso do Nho Bento que motivou essa
peça de linguística amadora de Lobato:

“… o mesmo direito que tiveram os portugueses de corromper o latim e transformá-lo em línguaportuguesa temos nós, letrados, de
corromper a língua portuguesa e transformá-la na língua brasileira; e tem o iletrado jeca de “evoluí-la” em outro rumo. mais
cientificamenter, podemos dizer que a língua portuguesa bno Brasil está sofrendo duas variações: uma lenta, de gente que sabe ler e
escrever e outra rápida, de gente da roça segregada do urbanismo , do livro, do jornal e do rádio – o abençoadop jeca que tem a sorte de
não ler os jornais do governo nem da oposição e de não ouvir a “Hora do Brasil”.
Quem condena como coisa errada o modo de falar ou a língua do jeca revela-se curto de miolo. Os modos de avriação duma língua são
fenômenos naturais, en não há erro nos fenômenos naturais. Erro é coisa humana. Temos de estudar essas variações em vez de tolamente
condená-las, pois condená-las equivale, por exemplo, a condenar os anéis de Saturno em nome dos planetas que não tem anéis.”

Tem mais. Sei não, acho que, contra toda censura, deveriam distribuir esse texto do Lobato nas escolas.

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18/05/2011 Lobato entra de sola na nova polêmica…

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…opsblog.org/…/lobato-entra-de-sola-… 4/6
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/ESCLARECIMENTOS_AE.pdf
2011-04-18

 
Esclarecimentos sobre o livro “Por uma vida melhor”, para Educação de 
Jovens e Adultos  
Uma  frase  retirada  de  seu  contexto  na  obra  Por  uma  vida  melhor,  cuja  responsabilidade 
pedagógica  é  da  Ação  Educativa,  vem  gerando  intensa  repercussão  na  mídia.  Diante  da 
enorme  quantidade  de  informações  incorretas  ou  imprecisas  que  foram  divulgadas,  a  Ação 
Educativa  se  coloca  à  disposição  dos  órgãos  de  imprensa  para  promover  um  debate  mais 
qualificado, e esclarece: 

1. “Escrever é diferente de falar”. Como o próprio nome do capítulo indica, os autores se 
propõem, em um trecho específico do livro, a apresentar ao estudante da modalidade 
de Educação de Jovens e Adultos (EJA) as diferenças entre a norma culta e as variantes 
que ele aprendeu até chegar à escola, ou seja, variantes populares do idioma. 
2. Os  autores  não  se  furtam,  com  isso,  a  ensinar  a  norma  culta.  Pelo  contrário,  a 
linguagem  formal  é  ensinada  em  todo  o  livro,  inclusive  no  trecho  em  questão.  No 
capítulo mencionado, os autores apresentam trechos inadequados à norma culta para 
que  o  estudante  os  reescreva  e  os  adeque  ao  padrão  formal,  de  posse  das  regras 
aprendidas.  Por  isso,  é  leviana  a  afirmação  de  que  o  livro  “despreza”  a  norma  culta. 
Ainda mais incorreta é a afirmação de que o livro “contém erros gramaticais”. 
3. Para  que  possa  aprender  a  utilizar  a  norma  culta  nas  mais  diversas  situações,  o 
estudante  precisa  ter  consciência  da  maneira  como  fala.  A  partir  de  então,  poderá 
escolher  a  melhor  forma  de  se  expressar.  Saberá,  assim,  que  no  diálogo  com  uma 
autoridade  ou  em  um  concurso  público,  por  exemplo,  deve  usar  a  variante  culta  da 
língua.  Mas  não  quer  dizer  que  deva  abandoná‐la  ao  falar  com  os  amigos,  ou  outras 
situações informais.  
4. É importante frisar que o livro é destinado à EJA – Educação de Jovens e Adultos. Ao 
falar  sobre  o  tema,  muitos  veículos  omitiram  este  “detalhe”  e  a  mídia  televisiva 
chegou a ilustrar VTs com salas de crianças.  Nessa modalidade, é necessário levar em 
consideração a bagagem cultural do adulto, construída por suas vivências e biografias 
educativas. 
5. O livro “Por uma vida melhor” faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Por 
meio  dele,  o  MEC  promove  a  avaliação  de  dezenas  de  obras  apresentadas  por 
editoras, submete‐as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para 
que secretarias de educação e professores façam suas escolhas. O livro produzido pela 
Ação  Educativa  foi  submetido  a  todas  essas  regras  e  escolhido,  pois  se  adequa  aos 
parâmetros curriculares do Ministério e aos mais avançados parâmetros da educação 
linguística.  
6.  A Ação Educativa tem larga experiência no tema, e a coleção Viver, Aprender é um dos 
destaques  da  área.  Seus  livros  já  foram  utilizados  como  apoio  à  escolarização  de 
milhões de jovens e adultos, antes de ser adotado pelo MEC, em vários estados.  

Conheça o livro! Leia o capítulo na íntegra, em pdf, aqui. 
 

 
Leia também artigo de Vera Masagão, coordenadora geral da Ação Educativa, sobre o caso 
(página 3). 

Contexto: outros trechos, do mesmo capítulo, não mencionados na 
cobertura da imprensa 
 
“A língua escrita não é o simples registro da fala. Falar é diferente de escrever” 
 
“Como a linguagem possibilita acesso a muitas situações sociais, a escola deve se 
preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes” 
 
“A norma culta existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral, ou seja, 
quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando 
escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma 
culta” 
 
“Algo semelhante ocorre quando falamos: conversar com uma autoridade exige uma 
fala formal, enquanto é natural conversarmos com as pessoas de nossa família de 
maneira espontânea, informal. Assim, os aspectos que vamos estudar sobre a norma 
culta podem ser postos em prática tanto oralmente como por escrito” 
 
 

Fontes: 
Para obter os contatos dos especialistas listados abaixo, fale com nossa Assessoria de 
Imprensa: (11) 3151‐2333 ramal 160 (Ana) ou 170 (Fernanda) 
 
Vera Masagão – Doutora em educação, Coordenadora Geral da Ação Educativa 
 
Heloísa Cerri Ramos – uma das autoras do livro 

Algumas fontes conceituadas no campo linguístico podem ser consultadas sobre o tema: 

 Marcos Bagno  
Doutor em Linguística pela USP e professor da UnB 
 
 Magda Becker Soares 
Professora emérita da UFMG, especialista em alfabetização e letramento 
 
 Sírio Possenti  
Professor associado no Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da 
Linguagem (IEL‐Unicamp) 
 
 

 
 Marco Antônio de Oliveira  
Doutor em Linguística pela Universidade da Pennsylvania, professor da PUC‐MG 
 
 Egon Rangel de Oliveira 
Professor do Departamento de Linguística da Faculdade de Comunicação e Filosofia da 
PUC‐SP 
 
 Rodolfo Ilari 
Professor de semântica da Unicamp 
 
 Milton do Nascimento  
Doutor em Linguística pela Universidade de Paris VIII, St. Denis e professor de 
Linguística da PUC‐MG 
 
 Maria Cecília Mollica  
Professora titular de Linguística da UFRJ 
 
 Ataliba de Castilho 
Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) 
 
 Maria José Nóbrega 
Consultora especialista em ensino de língua portuguesa 
 
 ABRALIN – Associação Brasileira de Linguística 
 

ARTIGO 

Livro para adultos não ensina erros 
 

Uma frase retirada da obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação 
Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de 
Jovens e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de 
receber livros do Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da 
Educação promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete‐as à 
avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e 
professores façam suas escolhas.  

O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No 
tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de 
 

variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam 
flexionados para concordar com um artigo no plural. Na mesma página, os autores completam 
a explanação: “na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular – 
plural) e em pessoa (1ª –2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam 
também: “a norma culta existe tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando 
escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um 
requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta”. 

Pode‐se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta, 
apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa.  A abordagem é adequada, 
pois diversos especialistas em ensino de língua, assim como as orientações oficiais para a área, 
afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa e entender como a 
sociedade valoriza desigualmente as diferentes variantes pode ajudar na apropriação da 
norma culta. Uma escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos 
sem menosprezar a cultura em que estão inseridos e sem destituir a língua que falam de sua 
gramática, ainda que esta não esteja codificada por escrito nem seja socialmente prestigiada. 
Defendemos a abordagem da obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua 
função mais nobre é disseminar conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas 
possam saber por que e quando usá‐las.     

O debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação. É 
preciso, entretanto, tomar cuidado com a divulgação de matérias com intuitos políticos pouco 
educativos e afirmações desrespeitosas em relação aos educadores. A Ação Educativa está 
disposta a promover um debate qualificado que possa efetivamente resultar em 
democratização da educação e da cultura.  Vale lembrar que polêmicas como essa ocupam a 
imprensa desde que o Modernismo brasileiro em 1922 incorporou a linguagem popular à 
literatura. Felizmente, desde então, o país mudou bastante. Muitas pessoas tem consciência 
de que não se deve discriminar ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio. Tais 
mudanças são possíveis, sem dúvida, porque cada vez mais brasileiros podem ir à escola tanto 
para aprender regras como parar desenvolver o senso crítico. 

Vera Masagão Ribeiro é doutora em Educação e coordenadora geral da Ação Educativa 

 
18/05/2011 Ação Educativa - Nota Pública: Livro p…

quarta, 18 de maio de 2011

Início Nota Pública: Livro para adultos não ensina erros Ação na Justiça

Quem somos Educação de Jovens e


Adultos
Programas
Juventude
Notícias
Ação na escola
Pesquisas
Diversidade, raça e
Biblioteca participação

Boletins Observatório da
Posicionamento institucional da Ação Educativa sobre a polêmica envolvendo livro distribuído pelo Educação
Legislação MEC.
Espaço de Cultura
Imprensa Uma frase retirada da obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação
Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de Jovens
Agenda e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de receber livros do
Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da Educação promove a avaliação
Videoteca Virtual de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e
depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e professores façam suas
Ponto de Cultura escolhas.
Periferia no Centro

Editais abertos O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No
tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de
variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam flexionados
Contato para concordar com um artigo no plural. Na mesma página, os autores completam a explanação:
“na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular – plural) e em pessoa
Español (1ª –2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam também: “a norma culta existe
tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo,
English podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser
formais, utilizando a norma culta”.
Busca
Pode-se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta,
pesquisar... ok
apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa. A abordagem é adequada, pois
diversos especialistas em ensino de língua, assim como as orientações oficiais para a área,
afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa e entender como a sociedade
valoriza desigualmente as diferentes variantes pode ajudar na apropriação da norma culta. Uma
escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos sem menosprezar a
cultura em que estão inseridos e sem destituir a língua que falam de sua gramática, ainda que esta
não esteja codificada por escrito nem seja socialmente prestigiada. Defendemos a abordagem da
obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua função mais nobre é disseminar
conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas possam saber por que e quando
usá-las.

O debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação. É preciso,


entretanto, tomar cuidado com a divulgação de matérias com intuitos políticos pouco educativos e
afirmações desrespeitosas em relação aos educadores. A Ação Educativa está disposta a
promover um debate qualificado que possa efetivamente resultar em democratização da
educação e da cultura. Vale lembrar que polêmicas como essa ocupam a imprensa desde que o
Modernismo brasileiro em 1922 incorporou a linguagem popular à literatura. Felizmente, desde
então, o país mudou bastante. Muitas pessoas tem consciência de que não se deve discriminar
ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio. Tais mudanças são possíveis, sem
dúvida, porque cada vez mais brasileiros podem ir à escola tanto para aprender regras como para
desenvolver o senso crítico.

Acesse o capítulo do livro na íntegra

Imprensa: Acesse aqui um kit de informações sobre o caso.

acaoeducativa.org.br/portal/index.php… 1/1
Ação Educativa - Por uma vida melhor - MEC, 2011

Capítulo 1
Escrever é diferente de falar

“Preciso entregar esse texto e queria que você leitor para lhe explicar o que queremos dizer.
lesse antes, para ver se está bom.” Você, que é falante nativo de português,
aprendeu sua língua materna espontaneamen-
A frase acima traduz uma situação bastante te, ouvindo os adultos falarem ao seu redor. O
comum. Mesmo alguém experiente na leitura aprendizado da língua escrita, porém, não foi
e na escrita sente necessidade da avaliação de assim, pois exige um aprendizado formal. Ele
outra pessoa sobre o que escreve. Escritores ocorre intencionalmente: alguém se dispõe a
consagrados, do passado e da atualidade, tam- ensinar e alguém se dispõe a aprender. Geral-
bém mantiveram, e mantêm, o hábito de trocar mente há local, momento e material próprios
correspondências sobre sua obra. para isso. Obviamente, em algumas ocasiões, é
Há momentos em que surgem dúvidas sobre possível improvisar: um irmão mais velho pode
a grafia das palavras (se têm acento, se levam um ensinar o que já aprendeu na escola para o ir-
s ou dois...), sobre a pontuação, o emprego de mão mais novo, por exemplo. De qualquer for-
maiúsculas etc. Às vezes, somos dominados por ma, dificilmente aprendemos a ler e a escrever
uma insegurança que nos impede até mesmo por acaso, sem ter a intenção disso.
de saber ao certo qual é nossa dúvida. Sentimos Outro ponto importante: da mesma forma
que falta algo no texto, mas não sabemos o que que uma criança aprende a falar observando os
é. Isso é natural, pois se trata de uma dificulda- outros falarem, o aprendizado da língua escrita
de enfrentada por todos que estão aprendendo o requer acesso a textos escritos, ou seja, apren-
funcionamento da língua escrita. À medida que demos a ler lendo e a escrever escrevendo. A lei-
ampliamos nosso conhecimento sobre ela, essas tura e a escrita necessitam de prática. Por isso,
sensações vão sendo superadas. mesmo que uma ou outra atividade de escrita
A língua escrita não é o simples registro da lhe ofereça dificuldade, você deve se empenhar
fala. Falar é diferente de escrever. A fala es- ao máximo para realizá-la. Procure reler e revi-
pontânea, por exemplo, é menos planejada, sar o que foi escrito, e, quando necessário, pas-
apresenta interrupções que não são retomadas. se o texto a limpo. No começo, você pode achar
Além disso, conta com outros recursos, como os difícil, mas os resultados compensarão.
gestos, o olhar, a entonação. Já a escrita possui Neste capítulo, vamos exercitar algumas ca-
muitas convenções. Ela precisa ser mais contí- racterísticas da linguagem escrita. Além disso,
nua, sem os cortes repentinos da fala, e mais vamos estudar uma variedade da língua portu-
exata, porque geralmente não estamos perto do guesa: a norma culta. Para entender o que ela é

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 11

V6_un1_CS4.indd 11 1/27/11 1:10 PM


e a sua importância, é preciso antes conhecer Esse preconceito não é de razão linguística,
alguns conceitos. mas social. Por isso, um falante deve dominar
Em primeiro lugar, não há um único jeito de as diversas variantes porque cada uma tem seu
falar e escrever. A língua portuguesa apresenta lugar na comunicação cotidiana.
muitas variantes, ou seja, pode se manifestar Como a linguagem possibilita acesso a mui-
de diferentes formas. Há variantes regionais, tas situações sociais, a escola deve se preocupar
próprias de cada região do país. Elas são per- em apresentar a norma culta aos estudantes,
ceptíveis na pronúncia, no vocabulário (fala-se para que eles tenham mais uma variedade à
“pernilongo” no Sul e “muriçoca” no Nordeste, sua disposição, a fim de empregá-la quando for
por exemplo) e na construção de frases. necessário.
Essas variantes também podem ser de ori- Há ainda mais um detalhe que vale a pena
gem social. As classes sociais menos escolari- lembrar. A norma culta existe tanto na lingua-
zadas usam uma variante da língua diferente gem escrita como na linguagem oral, ou seja,
da usada pelas classes sociais que têm mais es- quando escrevemos um bilhete a um amigo,
colarização. Por uma questão de prestígio — podemos ser informais, porém, quando es-
vale lembrar que a língua é um instrumento de crevemos um requerimento, por exemplo,
poder —, essa segunda variante é chamada de devemos ser formais, utilizando a norma cul-
variedade culta ou norma culta, enquanto a ta. Algo semelhante ocorre quando falamos:
primeira é denominada variedade popular ou conversar com uma autoridade exige uma fala
norma popular. formal, enquanto é natural conversarmos com
Contudo, é importante saber o seguinte: as as pessoas de nossa família de maneira espon-
duas variantes são eficientes como meios de tânea, informal. Assim, os aspectos que vamos
comunicação. A classe dominante utiliza a nor- estudar sobre a norma culta podem ser postos
ma culta principalmente por ter maior acesso em prática tanto oralmente como por escrito.
à escolaridade e por seu uso ser um sinal de Neste capítulo, vamos ler dois textos. Eles per-
prestígio. Nesse sentido, é comum que se atri- mitirão aprofundar questões relativas à escrita
bua um preconceito social em relação à varian- e à maneira formal de as pessoas se expressa-
te popular, usada pela maioria dos brasileiros. rem em português.

Convite à O primeiro texto é um parágrafo produzido por um aluno.


leitura

A violência em nosso pais esta a cada dia que passa se acentuando mais, isto devido a diversos fatores
podemos citar o fator economico a ganancia do homem pelo dinheiro, o desemprego dos pais, a falta de
moradias, alimentação e educação impedem o de criar seus filhos dignamente dai a grande violencia
da sociedade o menor abandonado, que sozinho sem ter uma mão firme que o conduza pela vida, parte
para o crime o roubo na tentativa de sobreviver.
VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 75. (Fragmento.)

12 Unidade 1 Língua Portuguesa

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Diálogo com
o texto

Respondam às questões oralmente.

1. Qual é o assunto do texto?


2. Que aspecto desse assunto é expresso no parágrafo que você leu?
3. Releia o texto, tente identificar os problemas dele e explique-os aos colegas.

Emprego do ponto

De acordo com a norma culta escrita, o pa- “As cidades são obras complexas.”
rágrafo acima apresenta falhas. Para adequá-lo, b) Em seguida, acrescenta uma frase que justifi-
é preciso que se apliquem algumas regras da ca essa declaração:
modalidade escrita, como as que serão vistas a “As cidades são obras complexas. As caracte-
seguir. rísticas marcantes delas são a concentração
As várias ideias que compõem um texto pre- de pessoas e edificações e a grande diversi-
cisam ser apresentadas de maneira que o leitor dade social e econômica.”
possa acompanhá-las. Por isso, é importante c) Como a explicação não está completa, ele
saber usar um determinado sinal de pontuação: prossegue:
o ponto [.]. Ele marca o fim de uma declaração. “As cidades são obras complexas. As caracte-
Em seguida, pode-se iniciar outra, empregan- rísticas marcantes delas são a concentração
do sempre a letra maiúscula. de pessoas e edificações e a grande diversida-
Leia o parágrafo abaixo: de social e econômica. Sobretudo em países
como o Brasil, a cidade também é cenário de
grandes desigualdades.”
As cidades são obras complexas as características
É essa divisão que permite ao leitor acompa-
marcantes delas são a concentração de pessoas e
nhar a informação que o autor traz. Seria difícil
edificações e a grande diversidade social e econômica
se o leitor tivesse que, sozinho, identificar cada
sobretudo em países como o Brasil a cidade também
ideia do texto. Ele provavelmente precisaria ler
é cenário de grandes desigualdades.
repetidas vezes para corrigir os enganos que
GIANSANTI, Roberto. A cidade e o urbano no mundo atual. São
Paulo: Global/Ação Educativa, 2003. p. 11. certamente ocorreriam.
(Fragmento adaptado para fins didáticos.) A frase que se inicia com a letra maiúscula e
se estende até o ponto é chamada de período. Os
períodos também podem terminar com ponto
Agora, examine a sequência abaixo para en- de interrogação (?) e ponto de exclamação (!).
tender como empregar o ponto nesse texto, a Em alguns textos, os períodos são mais lon-
fim de separar suas ideias. gos. Isso é possível desde que o leitor possa
a) O autor faz a primeira declaração: acompanhá-los sem se perder.

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 13

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Emprego de alguns pronomes

Na língua, alguns pronomes são usados para evitar repetições de


palavras, ou seja, eles substituem substantivos ou expressões mencio-
nados antes. Alguns estão apresentados a seguir:

a) O rapaz entregou o dinheiro ao comerciante.


Ele entregou o dinheiro ao comerciante. (Ele substitui quem entrega.)
b) O rapaz entregou o dinheiro ao comerciante.
O rapaz entregou-o ao comerciante. (O substitui o que foi entregue.)
c) O rapaz entregou o dinheiro ao comerciante.
O rapaz entregou-lhe o dinheiro. (Lhe substitui a pessoa para quem foi
entregue.)

Os pronomes ele e o substituem termos masculinos no singular e eles


e os substituem termos masculinos no plural. Para os termos femininos,
empregam-se ela e a no singular, e elas e as no plural.
Os pronomes lhe e lhes servem para os dois gêneros.

É comum na linguagem in-


formal o emprego de ele e ela no
Observação: Há casos em que os
lugar de o e a. As pessoas dizem,
pronomes o, os, a, as passam por por exemplo, “Minha irmã viu
algumas adaptações a fim de ter sua
pronúncia facilitada.
ele lá”. Na norma culta, a frase
a) Um dos casos é quando o verbo seria: “Minha irmã viu-o lá”, por-
termina em -r. Veja o que ocorre:
Encontraram a aluna e foram chamar a
que o pronome “o” está substi-
aluna. tuindo quem foi visto.
Encontraram a aluna e foram chamá-la.
O verbo chamar perde o -r final e o
pronome passa a ser la, em vez de a.
b) Outro caso de adaptação ocorre quando
o verbo termina em -m. Examine:
Procuraram as meninas e encontram as
meninas no parque.
Procuraram as meninas e encontraram-
nas no parque.
O pronome passa a ser nas em vez de as.

A concordância entre as palavras

A concordância entre as palavras é uma importante característica da lin-


guagem escrita e oral. Ela é um dos princípios que ajudam na elaboração de
orações com significado, porque mostra a relação existente entre as palavras.
Verifique como isso funciona:

14 Unidade 1 Língua Portuguesa

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Alguns insetos provocam doenças, às vezes, fatais à população ribeirinha.

insetos (masculino, plural) ß alguns (masculino, plural)

doenças (feminino, plural) ß fatais (feminino, plural)

população (feminino, singular) ß ribeirinha (feminino, singular)

As palavras centrais (insetos, doenças, população) são acompanhadas


por outras que esclarecem algo sobre elas. As palavras acompanhantes
são escritas no mesmo gênero (masculino/feminino) e no mesmo núme-
ro (singular/plural) que as palavras centrais.
Essa relação ocorre na norma culta. Muitas vezes, na norma popular, a
concordância acontece de maneira diferente. Veja:

Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado.

livro (masculino, singular) à os (masculino, plural)


ilustrado (masculino, singular)
interessante (masculino, singular)
emprestado (masculino, singular)

Você acha que o autor dessa frase se refere a um livro ou a mais de


um livro? Vejamos:
O fato de haver a palavra os (plural) indica que se trata de mais de um
livro. Na variedade popular, basta que esse primeiro termo esteja no plu-
ral para indicar mais de um referente. Reescrevendo a frase no padrão da
norma culta, teremos:

Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados.

Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.”


Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação,
você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente
diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras
estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as
formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a va-
riante adequada da língua para cada ocasião.
Existe outro tipo de concordância:
O menino pegou o peixe. Os meninos pegaram o peixe.
a que envolve o verbo. Observe seu menino à singular meninos à plural
funcionamento: pegou à singular pegaram à plural

O menino pegou o peixe. Eu peguei o peixe.


Na norma culta, o verbo concorda, menino à 3.ª pessoa eu à 1.ª pessoa
pegou à 3.ª pessoa peguei à 1.ª pessoa
ao mesmo tempo, em número (singu-
lar/plural) e em pessoa (1.ª/2.ª/3.ª) com o ser envolvido na ação que ele
indica.

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 15

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Na variedade popular, contudo, é comum a concordân-
Observação: Quando se refere à
cia funcionar de outra forma. Há ocorrências como: concordância, a palavra pessoa
Nós pega o peixe. não tem o sentido de ser humano.
Nesse contexto, pessoa refere-se aos
nós à 1.ª pessoa, plural envolvidos no ato de fala, que não
pega à3.ª pessoa, singular precisam ser indivíduos. Existe aquele
que fala (1.ª pessoa), aquele com quem
Os menino pega o peixe. se fala (2.ª pessoa) e aquele de quem se
fala (3.ª pessoa). Exemplos:
menino à 3.ª pessoa, ideia de plural (por causa do “os”)
Não vi sua revista, mãe.
pega à 3.ª pessoa, singular (1.ª pessoa: o filho; 2.ª pessoa: a mãe;
3.ª pessoa: a revista).
Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, Mas eu a deixei aqui!
quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envol- (1.ª pessoa: a mãe; 2.ª pessoa: o filho;
3.ª pessoa: a revista)
vida na ação de pegar o peixe. Mais uma vez, é importante
que o falante de português domine as duas variedades e
escolha a que julgar adequada à sua situação de fala.

Sílaba e acento gráfico

Para entender o sistema de acentuação gráfica, é preciso conhecer al-


guns conceitos. Um deles é o de sílaba.
Repare que, quando falamos uma palavra, nossa pronúncia é marca-
da por impulsos sonoros. Preste atenção em como pronunciamos as pa-
lavras. Observe: pa la vra. Cada som que você pronunciou em uma só
emissão de voz representa uma sílaba. Assim, “palavra” tem três sílabas.
Atente à separação de sílabas: vogais idênticas, rr, ss, sc, xc ficam separados na
escrita.
Exemplos: ca-a-tin-ga; co-or-de-na-ção; car-ro; as-sa-do, nas-ci-men-
-to, ex-ce-ção etc.
Sílaba tônica é aquela pronunciada com mais intensidade. O acento
gráfico é o sinal que marca a sílaba tônica de algumas palavras na escrita.
Os acentos mais empregados com essa finalidade são o acento agudo (´)
e o acento circunflexo (^).
Toda palavra com mais de duas sílabas apresenta uma sílaba tônica,
que poderá ser a última, a penúltima ou a antepenúltima. Exemplos:
moderno à mo-der-no (a sílaba tônica é der)
moderníssimo à mo-der-nís-si-mo (a sílaba tônica é nís)
modernizar à mo-der-ni-zar (a sílaba tônica é zar)
Portanto: Modernizar tem a última sílaba tônica; moderno tem a penúlti-
ma; moderníssimo tem a antepenúltima.
Veja ao lado a classificação que essas
Última sílaba é a tônica Oxítona
palavras recebem, de acordo com a po- Penúltima sílaba é a tônica Paroxítona
sição da sílaba tônica. Antepenúltima sílaba é a tônica Proparoxítona

16 Unidade 1 Língua Portuguesa

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Existem algumas regras que orientam o emprego dos acentos agudo e cir-
cunflexo. Vamos estudar quatro delas.
1. Toda palavra proparoxítona tem a sílaba tônica marcada com acento.
Exemplo: pássaro (pás-sa-ro); lâmpada (lâm-pa-da).
2. Quando palavras paroxítonas ou oxítonas terminam em a, ocorre o seguin-
te: as oxítonas têm a sílaba tônica acentuada; as paroxítonas, não.
• Paroxítonas sem acento onda on — da revista re — vis — ta economia e — co — no — mi —a
• Oxítonas com acento sofá so — fá guaraná gua — ra — ná tamanduá ta — man — du — á

Essa regra permite marcar a pronúncia diferente de palavras escritas


com as mesmas letras. Exemplos:
Eu não sabia de nada. (sa-bi-a à paroxítona terminada em a: não é
acentuada)
Um sabiá pousou no galho da laranjeira. (sa-bi-á à oxítona termina-
da em a: é acentuada)
Na semana anterior, ele comprara o material. (com-pra-ra à paroxí-
tona terminada em a: não é acentuada)
Na próxima semana, ele comprará o material. (com-pra-rá à oxítona
terminada em a: é acentuada)
3. Quando a vogal i estiver sozinha em uma sílaba tônica, ela é acentuada.
Exemplos:
A chuva cai sem parar. (cai à letra i não está sozinha: não é acentuada)
Eu caí na escada. (ca-í à letra i está sozinha na sílaba tônica: é acentuada)
Essa regra permite marcar a pronúncia diferente de
palavras escritas com as mesmas letras.
Com o último Acordo Ortográfico, os
acentos relativos ao item c são válidos
Observações: se, na sílaba anterior a um i paroxítono,
• Se houver nh na sílaba seguinte à letra i, que está sozi- houver apenas uma vogal. Havendo
ditongo, não se acentua. Exemplos:
nha na sílaba tônica, ela não é acentuada. É o que ocorre
Chei-i-nho (Letra i é tônica e está
com rainha (ra-i-nha à letra i sozinha na sílaba tônica, sozinha, mas é paroxítona e antes dela
seguida de nh: não é acentuada). há o ditongo ei. Por isso, a palavra não
recebe acento.)
• Se houver apenas is na sílaba tônica, haverá acento. É o
Pi-au-í (Ocorre o mesmo, mas a letra i é
que ocorre com: egoísta (e-go-ís-ta à apenas is na sílaba oxítona. Por isso, recebe acento.)
tônica: é acentuada).
4. Quando uma palavra paroxítona tem na última sílaba ditongos como
-ia, -ie, -io, -ua, -ue etc., ela é acentuada.
Exemplos:
história à his-tó-ria (paroxítona terminada em ia: é acentuada)
série à sé-rie (paroxítona terminada em ie: é acentuada)
água à á-gua (paroxítona terminada em ua: é acentuada)
incêndio à in-cên-dio (paroxítona terminada em io: é acentuada)

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 17

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Essa regra permite marcar a pronúncia diferente de palavras escritas
com as mesmas letras. Exemplos:
A notícia chegou. (no-tí-cia à paroxítona terminada em ia: é
acentuada)
O jornal noticia as mortes. (no-ti-ci-a à paroxítona terminada em a,
não em ia: não é acentuada)

Explorando Você examinou apenas o primeiro parágrafo de um texto escrito por


o universo um aluno. Mesmo assim, verá que esse trecho possibilita muitas observa-
textual ções e descobertas a respeito da língua escrita. Releia-o:

A violência em nosso pais esta a cada dia que passa se acentuando mais,
isto devido a diversos fatores podemos citar o fator economico a ganancia
do homem pelo dinheiro, o desemprego dos pais, a falta de moradias,
alimentação e educação impedem o de criar seus filhos dignamente dai a
grande violencia da sociedade o menor abandonado, que sozinho sem ter
uma mão firme que o conduza pela vida, parte para o crime o roubo na
tentativa de sobreviver.

Você deve ter observado que o tema do texto é a violência, pois isso fica
claro logo no início. Mas o texto não facilita o trabalho do leitor, e você,
que tentou lê-lo, deve saber por quê. A divisão do texto em períodos,
marcados com ponto, não ocorreu.
Em uma das partes, o leitor consegue determinar onde poderia estar
o ponto:
A violência em nosso país está a cada dia que passa se acentuando mais,
isto devido a diversos fatores podemos citar [...]
Nesse trecho, percebe-se que a intenção do autor era escrever:
A violência em nosso país está a cada dia que passa se acentuando mais.
Isto devido a diversos fatores. Podemos citar [...]
Porém, a partir daí, o leitor não detecta com facilidade o que o autor
quis dizer. De todas as possibilidades, vamos optar por uma que pareça
coerente a fim de prosseguir em nossa análise:
Podemos citar o fator econômico, a ganância do homem pelo dinheiro. O
desemprego dos pais, a falta de moradias, alimentação e educação impedem
o de criar seus filhos dignamente. Daí a grande violência da sociedade.
Esse trecho permite-nos constatar que uma cuidadosa divisão em perí-
odos é decisiva para a clareza dos textos escritos. A língua oral conta com
gestos, expressões, entonação de voz, enquanto a língua escrita precisa
contar com outros elementos. A pontuação é um deles.

18 Unidade 1 Língua Portuguesa

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Vamos analisar outro aspecto: a relação entre alguns elementos do
texto. Releia o trecho acima, atentando à expressão “impedem o de criar
seus filhos”. Impedem quem de criar os filhos? A quem se refere a palavra
“o”? Pelo sentido que o texto tem, você provavelmente responderá que
“impedem os pais”. Como a expressão “os pais” já foi usada anteriormen-
te, o autor não precisa mesmo repeti-la; ele pode empregar um pronome
no lugar dela. Repare que a expressão “os pais” está no plural, por isso
deve ser substituída por um pronome plural, como vimos anteriormente;
no caso, “os”, não “o”. Observe:
O desemprego dos pais, a falta de moradias, alimentação e educação os impedem
de criar seus filhos dignamente. Daí a grande violência da sociedade.
Há ainda outra ocorrência bastante comum em textos longos: o au-
tor parece perder a sequência do raciocínio. Vamos examinar um trecho
para tornar a questão mais perceptível:
O menor abandonado, que sozinho sem ter uma mão firme que o conduza
para a vida, parte para o crime o roubo na tentativa de sobreviver.
Você notou que o período começou e não terminou? O que se passa
com esse menor? Falta completar.
Uma maneira de corrigir esse trecho seria eliminando a palavra “que”. Veja:
O menor abandonado, que sozinho sem ter uma mão firme que o conduza
para a vida, parte para o crime o roubo na tentativa de sobreviver.
E, depois, com a inclusão de três vírgulas:
O menor abandonado, que sozinho, sem ter uma mão firme que o conduza
pela vida, parte para o crime, o roubo, na tentativa de sobreviver.

O trecho original ainda necessita de algumas alterações. A primeira con-


siste em escrever “moradia”, no singular, porque trata-se da condição de
morar, no geral, não de residências específicas. Outra mudança que pode
contribuir para a clareza do texto é o uso da palavra e, em vez da vírgula,
para ligar dois elementos (fator econômico + ganância do homem). Além
desse acréscimo, convém fazer outro no trecho em que se indicam as ca-
rências: “falta de moradia, de alimentação e de educação”. Convém repetir
a palavra de antes de alimentação e educação, caso contrário, pode parecer
que a presença de alimentação e educação impede a criação digna.
No texto original, há erros de acentuação gráfica. Com base nas regras
que você estudou, é possível acompanhar as correções: país (não pais);
daí (não dai); está (não esta); econômico (não economico); ganância e
violência (não ganancia e violencia).
Se juntarmos tudo que foi revisado, teremos:
A violência em nosso país está a cada dia que passa se acentuando mais.
Isto devido a diversos fatores. Podemos citar o fator econômico e a ganância
do homem pelo dinheiro. O desemprego dos pais, a falta de moradia, de

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 19

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alimentação e de educação os impedem de criar seus filhos dignamente.
Daí a grande violência da sociedade. O menor abandonado, sozinho, sem
ter uma mão firme que o conduza pela vida, parte para o crime, o roubo,
na tentativa de sobreviver.

Roda de 1. Separe as sílabas das palavras destacadas, analise se elas precisam


escrita ou não de acento e reescreva as frases corretamente.
a) Eu percebia uma vantagem na troca de horario.

b) A infancia parecia ter terminado.

c) Não inicio a leitura porque não há claridade.

d) A cerimonia já teve inicio.

e) A ferida não doia mais.

f) Nós caimos na conversa dele.

2. Leia as palavras da lista abaixo. Reescreva-as dividindo suas sílabas, circule a sílaba tônica
de cada uma e acentue quando necessário.

principe: japonesa:
tucano: grafico:
magico: tecnologia:
cupuaçu: tecnologico:
maximo: onibus:

Lembre-se: todas as palavras proparoxítonas são acentuadas.

3. Reescreva as frases e, se necessário, acentue as palavras destacadas.


a) Será que até amanhã ela descobrira a resposta?

b) Esta caneta é sua ou minha?

c) Antes de terminar o prazo ela já descobrira a resposta.

20 Unidade 1 Língua Portuguesa

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d) Você fica irritado quando esta com sono?

4. Leia as frases abaixo e reescreva-as substituindo a palavra


Observação: os pronomes
repetida, que está sublinhada, por um dos seguintes pronomes: o, a, os, as podem aparecer
ele – ela – o – a – lhe; eles – elas – os – as – lhes. nas formas lo, la, los, las,
no, na, nos, nas.
a) Minha amiga é uma pessoa maravilhosa. Minha amiga
sabe como manter as amizades.

b) O rapaz mudou-se, mas o carteiro localizou o rapaz.

c) O rapaz mudou-se, por isso o carteiro não conseguiu localizar o rapaz.

d) Descobriram as formigas e eliminaram as formigas.

e) Fui à casa de meus avós e apresentei minha noiva para meus avós.

f) Comprei os livros e encapei os livros.

g) O menino chorou lá dentro e ninguém foi buscar o menino.

h) Meus pais moram longe de mim, mas meus pais recebem muitas notícias minhas.

i) Devemos ser os primeiros a refletir sobre a educação cidadã, a incentivar a educação


cidadã e a praticar a educação cidadã.

j) Aquele senhor é teimoso e parcial. Precisamos sempre dizer para aquele senhor que
aquele senhor não é dono da verdade.

k) Informaram o ocorrido à professora, mas não disseram à professora toda a verdade.

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 21

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Convite à O texto que você vai ler a seguir é um poema de Juó Bananére, do co-
leitura meço do século XX. Nessa leitura você vai poder constatar uma maneira
especial de registrar a língua por escrito.

Quem é Juó
Bananére? Migna terra
Juó Bananére é o Migna terra tê parmeras,
pseudônimo literário
de Alexandre Ribeiro Che ganta inzima o sabiá,
Marcondes Machado, As aves che stó aqui,
que nasceu em
Pindamonhangaba Tambê tuttos sabi gorgeá.
(SP) em 1892 e morreu
em 1933. Machado
passou a infância A abobora celestia tambê,
no interior paulista Che tê lá na mia terra,
e em 1917 formou-
se engenheiro pela Tê moltos millió di strella
Faculdade Politécnica Che non tê na Ingraterra.
da Universidade de São
Paulo.
Empregando uma Os rios lá sô maise grandi
linguagem toda especial,
escrevia sátiras em Dus rio di tuttas naçó;
algumas revistas e I os matto si perdi di vista,
parodiava poetas
conhecidos, como Olavo Nu meio da imensidó.
Bilac e Camões, além
de satirizar políticos
da época. Seus poemas Na migna terra tê parmeras
foram reunidos no livro Dove ganta a galligna dangolla;
La divina increnca,
publicado em 1924. Na migna terra tê o Vapr’elli,
O autor praticamente Chi só anda di gartolla.
permaneceu anônimo,
sobressaindo seu estilo
BANANÉRE, Juó. La divina increnca.
original e irreverente São Paulo: Ed. 34, 2001. p. 8.
sob a identidade de Juó
Bananére.

Diálogo com o texto


Troque ideias sobre o texto com seus colegas e o professor baseando-se nas questões a seguir.

1. O que primeiramente despertou sua atenção na leitura?


2. De forma geral, que opinião o eu lírico manifesta sobre sua terra?
3. De que aspectos naturais de sua terra o eu lírico fala?
4. O que é possível constatar sobre o modo como algumas palavras são grafadas?
5. O que você descobriu de peculiar no que diz respeito à autoria do poema?

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Explorando Apesar de alguns elementos incomuns presentes no poema, você certamente
o universo compreendeu a ideia geral: o eu lírico falando de sua terra, como se percebe
textual nos versos “I os matto si perdi di vista, / Nu meio da imensidó.”, referentes
ao tamanho da floresta existente ali. Talvez tenha reconhecido detalhes de
outro poema, “Canção do exílio”, de um poeta chamado Gonçalves Dias,
que expressou sua saudade do Brasil quando estava em Portugal, justamente
cantando as belezas da pátria. Ele escreveu mais de cinquenta anos antes que
Juó Bananére e inspirou ainda outros poetas.
Neste capítulo, que trata das linguagens oral e a escrita e das variedades
culta e popular, a proposta, ao apresentar o poema “Migna terra”, é refletir
principalmente a respeito da linguagem empregada por Bananére e em que
medida ela é importante para expressar as ideias dele.
Se você pensou na sequência de letras d + e para grafar a palavra de,
por exemplo, pode não ter compreendido a razão do registro di, que apare-
ce em “di vista”. Nos versos citados acima, a palavra e, tão empregada para
expressar acréscimo, foi grafada com a letra que mais lembra o modo como
tantas vezes a pronunciamos: a letra i (“i os matto”).
Uma palavra como che, repetida várias vezes no poema, também
deve ter soado de forma estranha se você a pronunciou como xê, conforme
se faz em português com a sequência de letras c + h. Releia o poema, pronun-
ciando kê ao ler essa palavra, como fazemos ao pronunciar a palavra que do
português. O poema certamente fará mais sentido.
É justamente o nosso que a intenção do poeta ao grafar che. A pergunta
que surge é: “Por que, então, ele não grafa q + u + e?
Convém esclarecer alguns detalhes a respeito da linguagem do po-
ema “Migna terra”. Os desvios que você percebe na grafia de certas palavras
são intencionais. Por meio deles, o poeta está expressando algo.
Este poema — e outros trabalhos de Juó Bananére — foram produzidos
em um determinado contexto. Apesar de ser uma espécie de personagem,
Juó Bananére tinha uma identidade: era um barbeiro que vivia na cidade de
São Paulo no começo do século XX. Ele trabalhava em um bairro da região
central chamado Abaix’o Piques, posteriormente chamado de Bixiga (como
é conhecido hoje). Naquela época a cidade era em grande parte formada por
imigrantes italianos.
Esse é o aspecto central da linguagem de “Minha terra”. Ela reflete a forma
de falar de boa parte dessa população, que misturava a pronúncia própria do
idioma italiano com a do português. Isso ocorre, por exemplo, em inzima
(que corresponde a em cima); tambê (que corresponde a também); naçó (que
corresponde a nação). Pronúncias como essas podem ser ouvidas em tele-
novelas que retratam a São Paulo daquela época ou determinada variedade
linguística de hoje.

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 23

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E não é só isso que se vê no poema no que diz respeito à lingua-
Canção do exílio gem. Para representar a influência que já foi mencionada, o poeta chega
a escrever as palavras de maneira a lembrar a grafia do italiano. Você
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá; constata isso no l duplo, no t duplo e no gn (que representa o som nhê
As aves que aqui gorjeiam, em italiano) presentes em migna, galligna, gartolla, strella, matto, tuttos,
Não gorjeiam como lá.
tuttas. Essas grafias não existem nem mesmo em italiano; apenas lem-
Nosso céu tem mais estrelas, bram marcas importantes da escrita desse idioma.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossas flores têm mais vida, Pode parecer estranho, mas não é incomum. Muitos nomes de lojas
Nossa vida mais amores. brasileiras lembram detalhes da grafia de outros idiomas, como o’s do
Em cismar, sozinho, à noite, inglês.
Mais prazer encontro eu lá; Na verdade, palavras do vocabulário italiano mesmo há poucas no po-
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá. ema: dove (= onde), mia (= minha), che (= que), chi (= quem). Claro! O
poeta não pretendia escrever em italiano, e sim usar uma maneira de falar
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá; português da população de São Paulo. Com isso, ele acabava mostrando
Em cismar — sozinho, à noite — também uma visão de mundo dessa população. Ainda hoje, quando le-
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, mos o poema, é em parte a visão de mundo daquela época que acabamos
Onde canta o Sabiá. levando em conta. De fato, a linguagem é uma marca importante.
Não permita Deus que eu morra No poema é empregado um dialeto ítalo-português oral de sua épo-
Sem que eu volte para lá; ca. Seu emprego acaba sendo uma forma de tratar com irreverência a
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá; produção literária extremamente séria que existia até então. Este é outro
Sem qu’inda aviste as palmeiras, dado importante referente àquela época: muitos poetas (classificados
Onde canta o Sabiá.
como modernistas) passaram a valorizar em suas obras o português fa-

DIAS, Gonçalves. lado no Brasil (em contraste com o português falado em Portugal) e a
Coimbra, julho de 1843. variedade popular da língua.

Em resumo, tudo que pode parecer erro é uma forma intencional de
usar a língua escrita. E esse uso significa algo.
Luiz Novaes/Folha Imagem

Naturalmente existe um código convencional a ser seguido no registro


escrito na norma culta, conforme você estudou na seção Para conhecer
mais, mas ele não é o único viável, sobretudo na linguagem literária.
Outros autores já usaram esse recurso. Adoniran Barbosa, por exem-
plo, empregava deliberadamente determinada variedade regional em
suas letras. Músicas como “Saudosa maloca” (1951), “Samba do Arnes-
to” (1953), “Trem das onze” (1964) e “Tiro ao álvaro” (1960) mostram
isso. O poeta Patativa do Assaré, que você estudará nesta coleção, tam-
bém explorava certa variedade linguística em seus poemas.
Longe de serem erros, todos esses desvios são, no fundo, pistas que
O sambista Adoniran Barbosa
em 1979. o texto fornece ao seu leitor. O falar espontâneo do poema de Juó Ba-
O compositor de Saudosa nanére é importante para construir uma crítica em forma de paródia
Maloca, utilizou uma
determinada variedade liguística, à postura “patriota” extremamente sentimental presente no poema de
na qual utiliza muitos elementos Gonçalves Dias. A brincadeira com a linguagem, nesse caso, reforça
da fala popular de sua época na
cidade de São Paulo. essa postura.

24 Unidade 1 Língua Portuguesa

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Atividade Aplicar conhecimentos R


1. Traduzir a variedade popular para a variedade culta comprometeria
[A
parte do sentido do poema, afinal, em certos textos, nem sempre M
importa o que se diz, mas o modo como se diz. AP

a) Escreva o poema em seu caderno, trocando as ocorrências típicas da variedade popular


pelas formas que seriam usadas na norma culta.
b) Verifique as mudanças que você fez e os efeitos que elas provocaram. Escreva quais
foram esses efeitos.
[
2. Sobre o tema televisão, construa um período que:
a) termine com ponto final:
b) termine com ponto de interrogação: •

c) termine com reticências:


d) termine com ponto de exclamação:
3. Escreva um parágrafo sobre o tema televisão. Separe as ideias em períodos para que o
leitor possa acompanhar o texto.

4. Nestas frases, as palavras destacadas estão escritas como, geralmente, são pronunciadas.
Reescreva-as de acordo com as regras de ortografia:
a) Comecei a trabalhá em um lugar agradável.
b) Não foi fácil acostumá com essa ideia.
c) Vim com uma prima para ajudá na costura.
d) Não tenho nada a falá sobre esse assunto.
e) Talvez não conseguisse voltá para casa.
f) Passeei bastante antes de percebê que tava perdida.
5. Reescreva as frases, corrigindo os verbos que foram escritos incorretamente.
a) Eu quero dizê para vocês que os ônibus dessa linha tão cada vez mais raros.

b) E eu tenho que acordá mais cedo para não perdê a hora.

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 25

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c) Pedi para trocá o produto, mas não concordaro.

d) O jornal é uma publicação que todo mundo ler.

e) Tá tudo bem, mas poderia está melhor, se não fosse a falta de respeito com a população.

f) Eles fizero uma pesquisa para sabê quantas pessoas teria oportunidade de trabalhá.

g) Nessa rua não temo paz nem para dormi.

h) Então eu resolvir escrever para vocês.

6. Leia as frases e complete as lacunas com as palavras mas ou mais.


a) Aqui chove que na minha cidade.
b) Eu não vou lá. Lembre-se: mas = porém.
Nos demais casos, emprega-se
c) Tudo é possível, é preciso colaborar. mais.

d) Quanto é 25 39?
e) Quanto eu o aconselho a não fazer isso, você faz!
f) Gosto de filmes, os livros me interessam do que eles.
g) Já fiz tudo por ele, não farei nada.
h) Você disse que não pode comprar nada esse mês, hoje é
aniversário da Ana.
7. Leia o modelo e, a seguir, complete as frases.
É preciso estudar as regras.
Lembre-se: palavra
É preciso estudá-las. oxítona que termina
a) Eu gostaria de admirar o país. em a tem acento;
se o i estiver
Eu gostaria de sozinho na sílaba
tônica, ele é
b) Não consegui ouvir o pedido. acentuado.
Não consegui
c) Esqueci-me de grifar as palavras.
Esqueci-me de .
d) Não houve tempo de concluir o projeto.
Não houve tempo de .

26 Unidade 1 Língua Portuguesa

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e) Não fui capaz de impedir a vingança.
Não fui capaz de .
8. Reescreva no caderno os textos a seguir levando em consideração as normas da linguagem
culta. Faça as modificações que julgar necessárias: evite repetições de palavras, substitua
ou elimine palavras, use os sinais de pontuação, corrija as palavras que apresentam erros
de grafia e de acentuação.
a) Sabemos que a leitura é uma das coisas que conseguir muda o homem, a leitura tem a
capacidade de nos levar a lugar imaginario, imaginar coisas belissima, meu pai sempre
diz quem ler e sábio meu pai esta lendo sempre que pode.
b) A leitura transforma as pessoa, assim que procuramos os livro, os livro revela culturas e
os ensina e nos torna mais sabios de conhecimentos. Os livro nos leva ao sonhos, para
realizar os sonhos sem sai de casa em viagens literarias.

Momento da Leia o início do parágrafo a seguir e copie-o no caderno. Identifique o


escrita assunto tratado e continue a escrevê-lo. Use as palavras que estão abaixo
(mas, além disso, assim) observando o sentido de cada uma para iniciar
os parágrafos seguintes. No final, crie um título para o texto.

A voz da mulher é ainda pouco ouvida em


nossa sociedade. Afinal, ter competência para
falar não implica ser ouvido.
Mas...
Além disso...
Assim...

Indicações de leituras, vídeos, músicas

Livro
• CAMARGO, José Eduardo e SOARES, L. O Brasil das placas. São Paulo: Panda Books, 2007.
Site
• Sunetto futuriste, de Juó Bananére, na voz de Francisco Papaterra Limongi Neto: <http://www.carbonoquatorze.
com.br/versaopaulo/primeiro/>.

Música
• “Inútil”, de Ultraje a Rigor. WEA, 1983. Pode ser ouvida em: <http://roxmo.sites.uol.com.br/musicas/inutil.html>.

Capítulo 1 Escrever é diferente de falar 27

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