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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL

ISSN 0103-9830
BT/PCC/260

CONCRETO COM FIBRAS DE AÇO

Antônio Domingues de Figueiredo

São Paulo – 2000


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CONCRETO COM FIBRAS DE AÇO

Antônio Domingues de Figueiredo

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 3
1.1. As fibras de aço 8
1.2. A matriz de concreto 10
2. O COMPÓSITO E A INTERAÇÃO FIBRA-MATRIZ 11
2.1. Considerações gerais 11
2.2. Volume crítico de fibras 13
2.3. Comprimento crítico 16
2.4. Considerações práticas 18
3. O CONTROLE DO CONCRETO COM FIBRAS 20
3.1. Tenacidade 20
3.1.1. O controle da tenacidade em prismas 22
3.1.2. Sistema de medida da deflexão 32
3.1.3. Ensaios em placas 35
3.2. Trabalhabilidade e mistura 41
3.3. Resistência à compressão 45
3.4. Fadiga 47
3.5. Durabilidade 48
3.6. Resistência ao impacto 48
3.7. Outras propriedades e características 49
4. DOSAGEM DO CONCRETO COM FIBRAS 50
4.1. Estudo experimental 55
5. APLICAÇÕES 61
5.1. Concreto para pavimentos 61
5.2. Concreto projetado para túneis 61
5.3.Outras aplicações 64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65
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CONCRETO COM FIBRAS DE AÇO

RESUMO

Os materiais compósitos vêm sendo utilizados na construção civil desde a antigüidade.


Mais recentemente surgiram novos possibilidades tecnológicas como os concretos
reforçados com fibras de aço. A adição de fibras de aço aos concretos minimiza o
comportamento frágil característico do concreto. O concreto passa a ser um material
pseudo-dúctil, ou seja, continua apresentando uma resistência residual a esforços nele
aplicados mesmo após sua fissuração. A alteração do comportamento é função das
características das fibras e da matriz de concreto e da sua interação. Com isto o material
passa a ter exigências específicas para seu controle da qualidade, dosagem e mesmo
aplicação, diferentes do concreto convencional. Ao mesmo tempo, as possibilidades de
aplicação do material são ampliadas. Para algumas aplicações o concreto reforçado com
fibras apresenta vantagens tecnológicas e econômicas em relação ao convencional, como é
o caso do revestimento de túneis e outras aplicações do concreto projetado, dos pavimentos,
dos pré-moldados e outras.

ABSTRACT
The composite materials have been used in civil construction since ancient times. Recently,
technological developments were achieved for this kind of materials, such as steel fiber
reinforced concrete. The use of steel fibers to strengthen concrete provide to this composite
a less brittle behavior. The concrete, with fibers, became a non-brittle material. In other
words, the concrete with steel fibers has a residual strength in the post-crack performance,
which depends on the fibers and matrix characteristics, and their interaction. So, the steel
fiber reinforced concrete has specific requirements for quality control, mix design and
applications, and these requirements are different from those related to plain concrete. On
the other hand, the more ductile behavior of steel fiber reinforced concrete enlarges the
possibilities of application. In some of them, the use of steel fiber reinforced concretes will
bring some technological and economical advantages, when compared with plain concrete.
Examples of these applications are tunnel linings and others shotcrete applications,
pavements, pre-cast concrete, and others.
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1. INTRODUÇÃO

Compósitos são materiais de construção civil cuja utilização já ocorria no Antigo


Egito, como nos reportam as Sagradas Escrituras. “Naquele mesmo dia o Faraó deu esta
ordem aos inspetores do povo e aos capatazes: não continueis a fornecer palha ao povo,
como antes, para o fabrico dos tijolos” (Êxodo 5, 6-7).
Hoje a utilização de compósitos cresceu em diversidade, podendo ser encontrados
em várias aplicações na construção civil como telhas, painéis de vedação vertical e
estruturas de concreto como túneis e pavimentos, onde o concreto reforçado com fibras
vem progressivamente ampliando sua aplicação.
Como o próprio nome já diz, os compósitos são materiais compostos basicamente
por duas fases: a matriz e as fibras. As fibras podem atuar como um reforço da matriz em
função das propriedades desta e das próprias fibras.
Um exemplo tradicional de compósito aplicado à construção civil é o fibrocimento.
Ele consiste numa matriz de pasta de cimento reforçada com fibras de amianto, isto é, dois
materiais de características frágeis trabalhando em conjunto. Sua utilização remonta o
início do século vinte e acabou por se expandir por vários países. Devido às condições de
produção, onde o excesso de água é removido da massa por prensagem e filtragem
concomitante é possível a dosagem das fibras em teores bem elevados (10% ou mais). O
objetivo do elevado teor de fibras é o aumento da capacidade resistente do compósito. Isto é
possível graças à elevada resistência e módulo de elasticidade da fibra em conjunto com a
elevada aderência que ela desenvolve com a matriz (BENTUR e MINDESS, 1990). Com
esta tecnologia foi possível produzir componentes bem esbeltos, leves e baratos como
telhas e caixas d’água, ainda largamente empregados no Brasil.
Outro exemplo de compósito produzido com o objetivo de melhorar o desempenho
mecânico da matriz são os plásticos reforçados com fibras de vidro. Estes plásticos utilizam
polímeros termofixos como o poliéster, cujo comportamento mecânico característico é
frágil. A resistência mecânica do conjunto plástico com fibras de vidro é maior que a do
plástico não reforçado, aumentando as possibilidades de uso do material, como acontece
com as telhas produzidas a partir dele, que conseguem vencer vãos bem maiores do que
aquelas de plástico não reforçado.
Em ambos os casos citados existe uma grande compatibilidade entre a fibra e a
matriz, podendo se esperar uma durabilidade satisfatória do conjunto. Isto não acontece
com a utilização de fibras de vidro em matrizes cimentícias. Neste caso ocorre a natural
deterioração da fibra por parte dos álcalis do cimento, o que demanda a utilização de uma
fibra especial, resistente a álcalis.
Além destas fibras também são aplicadas as de base orgânica que podem ser
sintéticas e de origem vegetal, como a já citada palha. São fibras de cisal, casca de coco,
celulose, etc. normalmente empregadas na produção de componentes como tijolos, telhas e
cochos. Estas fibras também apresentam o problema de garantia de durabilidade
satisfatória quando aplicadas em meios alcalinos, como é o caso das matrizes de base de
cimento. No entanto, podem representar uma alternativa muito interessante para a
construção no meio rural ou até de habitações populares onde as exigências de desempenho
não são muito elevadas.
As fibras sintéticas como as de polipropileno e nylon vêm aparecendo até como uma
alternativa às fibras de amianto no reforço de matrizes de base cimentícia (HANNANT;
4

HUGHES, 1986). Tal opção se deve mais aos problemas de saúde ligados ao manuseio do
amianto, reconhecidamente responsável pela asbestose, do que pelo desempenho
propriamente dito, uma vez que o amianto proporciona um maior ganho de desempenho
quanto a reforço mecânico do que as fibras orgânicas, sejam sintéticas ou vegetais, dada a
excessiva flexibilidade destas últimas. Nestes casos, a principal contribuição da fibra é
transformar matrizes tipicamente frágeis em materiais “quase dúcteis”, como definiram
BENTUR e MINDESS (1990). Isto traz como vantagem um ganho de desempenho no que
se refere a esforços como impacto e redução da fissuração do material.
Um compósito que tem tido um aumento no volume de aplicação, inclusive no
Brasil, são as argamassas e concretos reforçado com fibras sintéticas (polipropileno e
nylon). O Brasil já conta com representantes comerciais e fabricantes destas fibras
produzidas com o objetivo de serem aplicadas como reforço secundário do concreto. Um
ganho apreciável de desempenho quanto ao controle de fissuração por retração plástica foi
observado para argamassas de reparo (FIGUEIREDO, 1998), onde o baixo módulo de
elasticidade das fibras é suficiente para inibir a propagação das fissuras. Quando o módulo
de elasticidade da matriz é maior as fibras de polipropileno tendem a apresentar uma
limitadíssima capacidade de reforço, como observaram ARMELIN e HAMASSAKI
(1990), ou mesmo ter questionado o seu papel de controlador de fissuração originada por
deformação plástica (TANESI, 1999). Isto se deve ao fato dos cimentos atuais, em conjunto
com os aditivos aceleradores de pega e redutores de água, propiciarem um elevado ganho
de resistência inicial e, em paralelo, do módulo de elasticidade. Com isto, as fibras de baixo
módulo só têm possibilidade de atuar como reforço num curto espaço de tempo após o
lançamento, onde a cura bem feita já garante os bons resultados. Para se entender melhor
este aspecto deve ser observado o gráfico da Figura 1.1, na qual se representa o trabalho de
uma matriz hipotética reforçada com dois tipos de fibras, uma de módulo de elasticidade
alto e outra de módulo baixo, sendo todas de comportamento elástico perfeito. A curva de
tensão por deformação da matriz está representada pela linha O-A, enquanto as linhas O-B
e O-C representam o trabalho elástico das fibras de alto e baixo módulo respectivamente.
No momento em que a matriz se rompe (ponto A) e transfere a tensão para a fibra de baixo
módulo (ponto C) esta apresenta uma tensão muito baixa neste nível de deformação (σFIBRA
de baixo módulo de elasticidade), devendo ser deformada muito mais intensamente, até o
ponto D, para garantir o mesmo nível de tensão (σMATRIZ de módulo de elasticidade médio).
Logo, a fibra de baixo módulo não poderá oferecer uma capacidade de reforço após a
fissuração da matriz para um dado carregamento ou permitirá uma grande deformação do
compósito com um consequente elevado nível de fissuração (ponto D). Isto ocorreria
supondo-se que a fibra de baixo módulo tenha resistência mecânica suficiente para atingir o
nível de tensão associado ao ponto D (σMATRIZ de módulo de elasticidade médio). O que
normalmente acontece é que fibras de baixo módulo apresentam menor resistência
mecânica, como pode ser observado pelos valores apresentados na Tabela 1.1. Por outro
lado, a fibra de alto módulo de elasticidade já apresentará um elevado nível de tensão
(σFIBRA de módulo de elasticidade alto) no momento da ruptura da matriz, o que lhe
permitirá atuar como um reforço já a partir do ponto B, caso sua resistência não seja
superada.
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Tensão (σ)

σfibra de E alto B
Fibra de E alto
Matriz
Fibra de E baixo

σmatriz de E médio A D

σfibra de E baixo C

O
ε de ruptura da Deformação (ε)
matriz

Figura 1.1: Diagrama de tensão por deformação elástica de matriz e fibras de alto e baixo
módulo de elasticidade trabalhando em conjunto.

As fibras de polipropileno, nylon e polietileno podem ser classificadas como fibras


de baixo módulo, o que restringe sua aplicação ao controle de fissuração quando as
matrizes possuem baixo módulo de elasticidade, como é o caso da retração plástica em
argamassas. No entanto, estas fibras podem vir a ser muito interessantes em aplicações
onde o reforço da matriz não é o principal objetivo. Neste caso se encontra, por exemplo, a
proteção contra danos físicos durante incêndios em túneis. Tal preocupação foi levantada
após o acidente ocorrido no Eurotúnel, onde um incêndio produziu o lascamento do
revestimento de concreto devido à tensão interna gerada pela pressão de vapor com total
comprometimento do revestimento. Com a utilização de fibras de polipropileno evitou-se o
problema pois, com o aumento da temperatura, elas se fundiam produzindo um caminho
livre para a saída do vapor de água (RLE, 1997). Tal comportamento pode evitar a ruptura
do revestimento pela pressão de vapor.
O reforço do concreto com fibras de polipropileno, devido ao baixo módulo de
elasticidade destas fibras, só atua com ganho significativo de desempenho, nas primeiras
idades. Isto ocorre porque nesta situação o módulo de elasticidade do concreto também é
baixo e as deformações estão associadas a um baixo nível de tensão, compatível com
aquele absorvido pelas fibras de polipropileno. Já foram testadas fibras de polipropileno de
alto módulo de elasticidade, como a recentemente desenvolvida pela 3M no Canadá, mas,
devido ao elevado custo deste material, ainda não se tornou competitiva quando comparada
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com as de aço (MORGAN e RICH, 1996). Desta forma, as fibras sintéticas (polipropileno e
nylon) que têm sido destinadas basicamente ao controle de fissuração por retração
restringida que comumente surge durante a hidratação inicial do cimento. Este ganho de
desempenho é tão maior quanto maior for o fator de forma da fibra, o qual é dado pela
relação entre o comprimento da mesma e o diâmetro da circunferência com área
equivalente à seção transversal da fibra. No entanto, quanto maior for o fator de forma,
maior será também a influência da fibra na perda de fluidez do material. Isto ocorre pelo
fato de se ter uma elevada área específica, que demanda uma grande quantidade de água de
molhagem aumentando o atrito interno do concreto e reduzindo a sua mobilidade. Por outro
lado, isto pode até ser positivo em determinadas aplicações onde se exige um elevado nível
de coesão do material. Um exemplo disso é a produção de defensas em rodovias por meio
de formas deslizantes onde o material deve garantir a geometria final da peça por coesão,
uma vez que a cura ocorre sem o apoio das formas. Outra aplicação interessante está no
concreto projetado via úmida, onde a maior coesão pode reduzir o volume de perda total
por reflexão e desplacamento. No caso de concretos plásticos existe um outro fator que
pode gerar dificuldades de aplicação e, consequentemente, prejuízos à trabalhabilidade do
material que é a baixa massa específica da fibra, que produz uma tendência à segregação do
material que tende a “boiar” no concreto, concentrando-se na parte superior, caso a mistura
conte com elevada relação água/materiais secos por exemplo. Uma outra vantagem do uso
de fibras de polipropileno no concreto, no que se refere à trabalhabilidade, foi observada
por TANESI (1999) em seu estudo experimental, onde se constatou uma sensível redução
na exsudação do concreto. Este fato corrobora a hipótese de grande demanda de água de
molhagem por parte das fibras: devido à sua elevada área específica as fibras reduzem a
mobilidade desta dentro da mistura e, consequentemente, a exsudação.
No sentido de melhorar o desempenho das fibras de polipropileno vêm sendo
desenvolvidos novos tipos como alternativa às fibras monofibriladas de grande fator de
forma. Tal é o caso das fibriladas que são, na verdade, pequenas telas que se abrem durante
a mistura com o concreto, diminuindo o impacto da adição da fibra neste momento. Com
isto tem-se um aumento da capacidade de reforço para um mesmo volume de fibras
adicionado ao concreto, dado o intertravamento por elas proporcionado (BENTUR e
MINDESS, 1990).
Muito deve ser estudado ainda no sentido da obtenção de uma metodologia de
dosagem e controle das fibras de polipropileno no concreto para que seja possível um
controle satisfatório da fissuração. Isto ocorre por que não existem ainda métodos de ensaio
consensuais, sendo utilizada hoje uma grande variedade de anéis e placas com deformação
restringida, ora possibilitando o uso de agregados graúdos ora não, com diferentes níveis de
restrição e de condições de cura, etc. Tal fato origina uma grande variação nos resultados e
dificuldades na obtenção de correlações confiáveis com as condições práticas onde, mais
uma vez, a temperatura, a área superficial, o nível de ventilação, etc., têm uma fortíssima
influência e cuja parametrização nem sempre é facilitada (TANESI, 1999). Tais fatos não
se repetem para o caso das argamassas onde foram constatadas significativas reduções no
quadro geral de fissuração dada a ausência de agregados graúdos e menor módulo de
elasticidade do material. No estudo experimental desenvolvido por FIGUEIREDO (1998),
abordando argamassas de reparo, o controle da fissuração é fundamental. Isto ocorre
porque, se há a necessidade do reparo, o concreto já foi deteriorado, denotando a presença
de agentes agressivos, sendo as fissuras um caminho preferencial para o rápido ingresso dos
mesmos na estrutura.
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Com esta situação, é comum se encontrar fabricantes de fibras de polipropileno que


recomendam dosagem padrão para qualquer tipo de aplicação, ignorando a ocorrência de
diferentes níveis de solicitação a que o material poderá estar exposto. Este teor gira em
torno de 900 a 1000 gramas por metro cúbico.
Já as fibras de aço podem ser classificadas como fibras de alto módulo. Logo podem
ser consideradas como fibras destinadas ao reforço primário do concreto, ou seja, não se
destinam ao mero controle de fissuração. O Brasil já conta com fabricantes de fibras de aço
desenvolvidas especialmente para o reforço do concreto e a produção mensal dos mesmos
já ultrapassou a centena de toneladas. Com isto, cresceu muito a importância econômica
deste material, o qual será objeto principal de analise neste trabalho. As vantagens do
emprego do concreto reforçado com fibras de aço são bem conhecidas do meio técnico
internacional e começam a ser nacionalmente. MINDESS (1995) chega a apontar a
utilização de fibras no concreto como de grande interesse tecnológico mesmo em estruturas
convencionais de concreto armado, onde, em conjunto com o concreto de elevado
desempenho aumenta a competitividade do material, quando comparado com outras
tecnologias como a das estruturas de aço por exemplo.
O foco deste texto é justamente o concreto reforçado com fibras de aço,
principalmente no que se refere aos aspectos tecnológicos.

Tabela 1.1: Valores de resistência mecânica e módulo de elasticidade para diversos tipos de
fibra e matrizes (BENTUR e MINDESS, 1990).
Material Diâmetro Densidade Módulo de Resistência à Deformação
(µm) (g/cm3) elasticidade tração na ruptura
(GPa) (MPa) (%)
Aço 5-500 7,84 190-210 0,5-2,0 0,5-3,5
Vidro 9-15 2,60 70-80 2-4 2-3,5
Amianto 0,02-0,4 2,6 160-200 3-3,5 2-3
Polipropileno 20-200 0,9 5-7,7 0,5-0,75 8,0
Kevlar 10 1,45 65-133 3,6 2,1-4,0
Carbono 9 1,9 230 2,6 1,0
Nylon – 1,1 4,0 0,9 13-15
Celulose – 1,2 10 0,3-0,5 –
Acrílico 18 1,18 14-19,5 0,4-1,0 3
Polietileno – 0,95 0,3 0,7x10-3 10
Fibra de madeira – 1,5 71 0,9 –
Sisal 10-50 1-50 – 0,8 3,0
Matriz de
cimento (para – 2,50 10-45 3,7x10-3 0,02
comparação)
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1.1. As fibras de aço

As fibras de aço são elementos descontínuos produzidos com uma variada gama de
formatos, dimensões e mesmo de tipos de aço. Há três tipos mais comuns de fibras de aço
disponíveis no mercado brasileiro. O primeiro tipo a ser produzido foi a fibra de aço
corrugada (Figura 1.2). Ela é produzida a partir do fio chato que sobra da produção da lã de
aço, tratando-se portanto de uma sobra industrial. Este fio é cortado no comprimento
desejado, o qual varia de 25mm a 50mm, e conformado longitudinalmente para se obter o
formato corrugado. Isto tem por objetivo melhorar a aderência da fibra com a matriz. Tem
como vantagens principais o baixo custo e a pouca ou nenhuma interferência na
consistência do concreto.

FIGURA 1.2: Fibra de aço corrugada.

O segundo tipo de fibras de aço foi desenvolvido e posteriormente produzido com o


objetivo específico de atuar como reforço do concreto. Trata-se de uma fibra com
ancoragem em gancho e seção retangular (Figura 1.3) produzida a partir de chapas de aço
que são cortadas na largura da fibra e, concomitantemente, conformadas de modo a se obter
o formato desejado da ancoragem em gancho.
O terceiro tipo de fibras de aço possui um formato similar ao do segundo com a
diferença básica na forma circular característica da seção transversal (Figura 1.4). Estas
fibras são produzidas a partir de fios trefilados progressivamente até se chegar ao diâmetro
desejado. Com isto, acabam por apresentar uma maior resistência mecânica (dado o seu
encruamento), a qual pode ser ainda maior quando da utilização de aços com maior teor de
carbono. Apresentam comprimentos variando de 25mm a 60mm e diâmetros de 0,5mm a
1,0mm.
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FIGURA 1.3: Fibra de aço com ancoragem em gancho e seção quadrada.

a
b

FIGURA 1.4: Fibra de aço com ancoragem em gancho e seção circular solta (a) e em
pentes (b).
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1.2. A matriz de concreto

O concreto de cimento Portland já é, por si só, um compósito formado por três fases
principais: a pasta de cimento, os agregados miúdos e os graúdos. Tem inúmeras vantagens
como a capacidade de produzir estruturas com infinitas variações de forma. Também é
capaz de apresentar uma grande variação de suas propriedades em função do tipo de
componentes principais e de suas proporções, bem como de utilização ou não de uma
grande variedade de aditivos e adições. No entanto, o concreto apresenta algumas
limitações como o comportamento de ruptura frágil e pequena capacidade de deformação,
quando comparado com outros materiais estruturais como o aço (MEHTA e MONTEIRO,
1994). Além disso, o concreto apresenta resistência à tração bem inferior à resistência à
compressão cuja relação está, geralmente, em torno de 0,07 e 0,11. Este comportamento
está associado às fissuras que se formam ou já estão presentes no concreto, que prejudicam
muito mais o material quando solicitado à tração do que à compressão. De maneira muito
simplificada, pode-se entender este comportamento típico dos materiais frágeis pelo
modelo apresentado na Figura 1.5. É bem intuitivo imaginar que dois cubos sobrepostos
conseguem transferir tensão pelo contato quando comprimidos, como ocorre quando se
empilham caixas sobre as quais se pretende apoiar alguma carga. Por outro lado, quando o
conjunto é tracionado, como ocorre quando desempilhamos as caixas, o conjunto não
oferece resistência à separação, ou seja, tem resistência à tração nula.

Transferência de carga por


1kg superfície

FIGURA 1.5: Representação simplificada da transferência de tensão de compressão por


meio de uma superfície.
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Logo, pode-se associar a reduzida capacidade de resistência à tração à muito maior


dificuldade do concreto interromper a propagação das fissuras quando é submetido a este
tipo de tensão (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Isto ocorre pelo fato da direção de
propagação das fissuras ser transversal à direção principal de tensão. Assim que se principia
o crescimento de cada nova fissura, a área disponível de suporte de carga é reduzida
causando um aumento das tensões presentes nas extremidades das fissuras. Logo, a ruptura
na tração é causada por algumas fissuras que se unem e não por numerosas fissuras, como
ocorre quando o concreto é comprimido (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Ligando-se este
conceito à teoria de GRIFFITH (1920) que associa a ruptura do material a uma energia de
superfície que deve ser formada, conclui-se que, por apresentar uma superfície total de
ruptura menor, o gasto energético associado à ruptura por tração no concreto é também
reduzido. Logo o trabalho de ponte de transferência de tensão que a fibra realiza através das
fissuras no concreto é um mecanismo muito interessante de aumento da energia associada à
ruptura do material e à restrição à propagação de fissuras conforme está apresentado no
próximo item.

2. O COMPÓSITO E A INTERAÇÃO FIBRA-MATRIZ

2.1. Considerações gerais

As fibras de aço, quando adicionadas ao concreto, dificultam a propagação das


fissuras devido o seu elevado módulo de elasticidade. Pela capacidade portante pós-
fissuração que o compósito apresenta, as fibras permitem uma redistribuição de esforços no
material mesmo quando utilizada em baixos teores. Isto é particularmente interessante em
estruturas contínuas como os pavimentos e os revestimentos de túneis (FIGUEIREDO,
1997). Para melhor entender este comportamento deve-se lembrar que o concreto, como um
material frágil, apresenta-se sempre susceptível às concentração de tensões quando do
surgimento e propagação de uma fissura a partir do aumento da tensão a ele imposta,
conforme o apresentado na Figura 2.1.
No caso do concreto simples, apresentado na Figura 2.1, uma fissura irá representar
uma barreira à propagação de tensões, representada simplificadamente pelas linhas de
tensão. Este “desvio” irá implicar numa concentração de tensões na extremidade da fissura
e, no caso desta tensão superar a resistência da matriz, teremos a ruptura abrupta do
material. Caso o esforço seja cíclico, pode-se interpretar a ruptura por fadiga da mesma
forma, ou seja, para cada ciclo há uma pequena propagação das microfissuras e,
consequentemente, um aumento progressivo na concentração de tensões em sua
extremidade até o momento da ruptura do material. Assim, a partir do momento em que se
abre a fissura no concreto ele rompe abruptamente, caracterizando um comportamento
tipicamente frágil. Ou seja, não se pode contar com nenhuma capacidade resistente do
concreto fissurado.
Quando se adicionam fibras ao concreto, este deixa de ter o caráter marcadamente
frágil. Isto ocorre pelo fato da fibra servir como ponte de transferência de tensões pelas
fissuras, minimizando a concentração de tensões nas extremidades das mesmas, conforme o
ilustrado na Figura 2.2. Com isto tem-se uma grande redução da velocidade de propagação
12

das fissuras no concreto que passa a ter um comportamento pseudo-dúctil, ou seja,


apresenta uma certa capacidade portante pós-fissuração.

FIGURA 2.1: Esquema de concentração de tensões para um concreto sem reforço de fibras.

Com a utilização de fibras será assegurada uma menor fissuração do concreto (LI,
1992). Este fato pode vir a recomendar sua utilização mesmo para concretos
convencionalmente armados (MINDESS, 1995). De qualquer forma, a dosagem da fibra
deve estar em conformidade com os requisitos de projeto, tanto específicos como gerais
(ACI, 1988 e ACI, 1993). Deve-se ressaltar que o nível de tensão que a fibra consegue
transferir pelas fissuras depende de uma série de aspectos como o seu comprimento e o teor
de fibras. Para melhor entender estes aspectos deve-se introduzir o conceito de volume
crítico de fibras que se encontra melhor detalhado no próximo item.
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FIGURA 2.2: Esquema de concentração de tensões para um concreto com o reforço de


fibras.

2.2. Volume crítico de fibras

A definição conceitual do volume crítico é a de que ele corresponde ao teor de


fibras que mantém a mesma capacidade portante para o compósito a partir da ruptura da
matriz. Ou seja, abaixo do volume crítico no momento em que haja a ruptura da matriz
ocorre necessariamente uma queda na carga que o material tem capacidade de suportar.
Acima do volume crítico, o compósito continua aceitando níveis de carregamentos
crescentes mesmo após a ruptura da matriz. Este conceito se encontra ilustrado na Figura
2.3 onde se encontram apresentadas curvas de carga por deflexão em prismas de concretos
com fibras rompidos à flexão. Existe um trecho elástico linear inicial correspondente ao
estágio pré-fissurado da matriz do compósito e outro, similar a um patamar de escoamento,
onde se pode diferenciar o comportamento do concreto reforçado com teores abaixo, acima
e igual ao volume crítico.
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CARGA
(B) VF >Vcrítico

(C) VF =Vcrítico

(A) VF <Vcrítico

DEFLEXÃO

FIGURA 2.3: Compósitos reforçados com fibras em teores abaixo (A), acima (B) e igual
(C) ao volume crítico de fibras durante o ensaio de tração na flexão.

A determinação do volume crítico está associada à modelagem proposta por


AVESTON, CUPPER e KELLY (1971) a qual focaliza um compósito ideal, com fibras
contínuas e alinhadas à direção do esforço principal.
A seguir será feita a dedução algébrica para determinação do volume crítico de
fibras:
Definições iniciais:
εmu = deformação última da matriz
σmu = tensão última da matriz
Vfcrit = volume crítico de fibras dado em porcentagem em relação
ao volume total do compósito
σfu = tensão última das fibras
Ef = módulo de elasticidade da fibra
Em = módulo de elasticidade da matriz
Vc = volume de compósito = 1
Vf = volume de fibra no compósito
Vm = volume da matriz no compósito
Assim,
Vc = Vf + Vm = 1
O estado de tensões e deformação do compósito no exato momento em que há a
ruptura da matriz define as condicionantes do volume crítico de fibras. Assim, a
deformação da fibra é a mesma da matriz nessa situação:
εf = εmu
A tensão aplicada na fibra é dada por:
σf = εmu x Ef
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A tensão de ruptura da matriz é obtida por:


σmu = εmu x Em
Assim temos:
σc x Vc = σf x Vf + σm x Vm
σc x 1 = σf x Vf + σm x (1 - Vf)
σc = εmu x Ef x Vfcrit + σmu x (1 - Vfcrit) (1)
Logo após a ocorrência da ruptura da matriz há a transferência do carregamento da
matriz, que perde a sua capacidade portante, para a fibra, que a assume da seguinte forma:
σc = σfu x Vfcrit
aplicando-se esta equação em (1) temos:
σfu x Vfcrit = εmu x Ef x Vfcrit + σmu x (1 - Vfcrit) (2)
isolando-se o Vfcrit na equação (2) temos:
Vfcrit = σmu / (σfu - εmu x Ef + σmu) (3)
Sabendo-se que:
Ec = Ef x Vf + Em x Vm = Ef x Vfcrit + Em x (1 - Vfcrit)
tem-se:
Ef = (Ec - Em + Em x Vfcrit) / Vfcrit (4)
Substituindo-se (4) em (3), temos:
Vfcrit = (εmu x Ec) / σfu (5)
No caso particular do concreto reforçado com fibras de aço, adotando-se os
seguintes valores de referência:
εmu = 100 x 10-6
σmu = 3 MPa
σfu = 1000 MPa
Ef = 200 GPa
Temos como Vfcrit um valor da ordem de 0,31%. No entanto, este valor está
associado a um modelo de compósito apresentado por AVESTON, COOPER e KELLY
(1971), onde as fibras são contínuas e perfeitamente alinhadas ao eixo de tensões
principais.
Por esta modelagem representada pela equação (5) chega-se a um teor de cerca de
0,4% em volume para a fibra de aço e em torno de 0,8% para a fibra de polipropileno, o que
não é verificado nas condições práticas. Tal disparidade se deve ao fato das fibras
normalmente utilizadas serem descontínuas, ou seja, curtas e aleatoriamente distribuídas no
concreto. Assim, quando da ruptura da matriz, ocorrerá uma inclinação da fibra em relação
à fissura que não estará na posição ortogonal prevista pelo modelo de AVESTON,
CUPPER e KELLY (1971). Além disso, o comprimento de fibra que permanecerá
embutido na matriz e definirá a carga de arrancamento que ela sustentará será, no máximo,
igual á metade do seu comprimento, caso a fissura ocorra exatamente na metade do
comprimento da fibra. Com isto deve-se lançar mão de coeficientes de correção para o
16

volume crítico que são função da inclinação da fibra em relação à direção ortogonal à
fissura e ao comprimento da fibra.
Obviamente este modelo não representa com precisão a realidade onde as fibras são
descontínuas e distribuídas randomicamente. Para corrigir estes desvios são normalmente
utilizados os chamados fatores de eficiência, que permitem uma maior aproximação do
Vfcrit teórico e aquele obtido experimentalmente.
Os fatores de eficiência considerados são basicamente dois: o η1 e o η2. O valor de
η1 está associado ao efeito da orientação da fibra. Na Tabela 2.1 se encontram
apresentados alguns dos valores apontados para η1.

TABELA 2.1: Valores para o fator de eficiência n1 majorador do volume crítico em função
da direção da fibra (HANNANT, 1978).

Orientação Valores de η1
COX KRENCHEL
1 direção 1 1
2 direções 0,333 0,375
3 direções 0,167 0,200

Este valor está associado ao volume de fibras empregado Vf. Desta forma a
equação (1) anteriormente apresentada ter a seguinte alteração:

σc = εmu x Ef x η1 x Vfcrit + σmu x (1 - η1 x Vfcrit) (6)

A equação (2) passar a ser:

σfu x η1 x Vfcrit = εmu x Ef x η1 x Vfcrit + σmu x (1- η1 x Vfcrit) (7)

Assim, teremos como nova formulação para a equação (3):

Vfcrit = σmu / [(σfu - εmu x Ef + σmu) x η1] (8)

Assim temos que o Vfcrit corrigido em função da orientação da fibra corresponde ao


Vfcrit sem correção dividido pelo fator n1. Isto corresponde a:

Vfcrit = (εmu x Ec) / σfu x η1 (9)

Desta forma o valor determinado para Vfcrit de 0,31% para compósitos de matriz de
concreto reforçado com fibras de aço passa a ser:

Vfcrit corrigido = Vfcrit/η1 = 0,31/0,375 = 0,83

Adotou-se aqui o valor referente às fibras orientadas em duas direções, que é o


normalmente esperado para o concreto projetado, por exemplo.
17

2.3. Comprimento crítico

O segundo fator de eficiência está associado à redução de desempenho provocada


pelo fato de se utilizar fibras descontínuas de comprimento reduzido. Este fator é
determinado através do estabelecimento do comprimento crítico (lc). A definição do
comprimento crítico está baseada no modelo que descreve a transferência de tensão entre a
matriz e a fibra como aumentando linearmente dos extremos para o centro da fibra. Esta
tensão é máxima quando a tensão a que está submetida a fibra se iguala à tensão de
cisalhamento entre a fibra e a matriz. Na Figura 2.4 se encontram apresentadas as situações
possíveis de distribuição de tensão na fibra em relação ao comprimento crítico, quais sejam:
l = lc, l > lc e l < lc, onde l = comprimento da fibra.
σ
σfu

l<lc

σ
σfu

l=lc

σ
σfu

l>lc

FIGURA 2.4: Distribuições possíveis de tensão ao longo de uma fibra em função do


comprimento crítico (BENTUR e MINDESS, 1990).
18

O comprimento crítico de uma fibra pode ser definido como aquele que, quando da
ocorrência de uma fissuração perpendicular à fibra e posicionada na região média do seu
comprimento proporciona uma tensão no seu centro igual à sua tensão de ruptura. Quando a
fibra tem um comprimento menor que o crítico, a carga de arrancamento proporcionada
pelo comprimento embutido na matriz não é suficiente para produzir uma tensão que supere
a resistência da fibra. Nesta situação, com o aumento da deformação e consequentemente
da abertura da fissura, a fibra que está atuando como ponte de transferência de tensões pela
fissura será arrancada do lado que possuir menor comprimento embutido. Este é o caso
normalmente encontrado para as fibras de aço no concreto de baixa e moderada resistência.
Quando se tem um concreto de elevada resistência mecânica, melhora-se a condição de
aderência entre a fibra e a matriz e, nestes casos, é possível ultrapassar o valor do
comprimento crítico causando rupturas de algumas fibras.
Aplicando-se os fatores de correção do volume crítico os teores de fibras
necessários para a manutenção da capacidade portante do concreto reforçado com fibras de
aço subirão para algo em torno de 1%, o que é mais que o dobro do previsto pelo modelo de
AVESTON, CUPPER E KELLY (1971). No caso das fibras de polipropileno o volume
crítico será ainda maior, pois seu módulo de elasticidade e principalmente resistência
última são bem menores que do aço. Com isto, tem-se como premissa que na maior parte
dos casos trabalhar-se-á com volumes de fibra abaixo do volume crítico para o reforço do
concreto. Desta forma, a principal contribuição destas fibras se dará no comportamento
pós-fissuração da matriz, pois serão responsáveis pela redução da propagação das fissuras e
pelo aumento da tenacidade, que corresponde à energia medida pelo gráfico de carga por
deflexão obtido no ensaio de tração na flexão, conforme está detalhado no item 3.1.

2.4. Considerações práticas

Pode-se concluir, pela análise dos fatores de eficiência que, quanto mais
direcionadas as fibras estiverem em relação ao sentido da tensão principal de tração, melhor
será o desempenho do compósito. Como consequência prática, recomenda-se a utilização
de fibras cujo comprimento seja igual ou superior ao dobro da dimensão máxima
característica do agregado utilizado no concreto. Em outras palavras, deve haver uma
compatibilidade dimensional entre agregados e fibras de modo que estas interceptem com
maior frequência a fissura que ocorre no compósito (MAIDL, 1991). Esta compatibilidade
dimensional possibilita a atuação da fibra como reforço do concreto e não como mero
reforço da argamassa do concreto. Isto é importante pelo fato da fratura se propagar
preferencialmente na região de interface entre o agregado graúdo e a pasta para concretos
de baixa e moderada resistência mecânica. Assim, a fibra que deve atuar como ponte de
transferência de tensões nas fissuras deve ter um comprimento tal que facilite o seu correto
posicionamento em relação à fissura, ou seja, superior a duas vezes a dimensão máxima do
agregado. Na Figura 2.5 se encontra representado um concreto com compatibilidade
dimensional entre agregado e fibra e na Figura 2.6 outro onde isso não ocorre. Percebe-se
que, quando não há esta compatibilidade, poucas fibras trabalham como ponte de
transferência de tensões na fissura. Duas alternativas são normalmente empregadas de
maneira a otimizar a mistura de concreto com fibras: ou se reduz a dimensão máxima
característica do agregado, ou se aumenta o comprimento da fibra. No caso de pavimentos,
onde não há grandes restrições quanto à dimensão dos componentes do concreto, é possível
19

utilizar fibras mais longas como a apresentada na Figura 2.7a, compatíveis com agregados
de maiores dimensões (19mm e 25mm). Já no caso do concreto projetado, onde a dimensão
máxima característica raramente ultrapassa 9,5mm, a utilização de fibras curtas (Figura
2.7b) facilita a aplicação do material uma vez que o mesmo terá que passar por um mangote
de dimensões reduzidas.
A perda de eficiência da fibra inclinada em relação ao plano de ruptura pode ser
ainda maior para o conjunto caso a mesma não apresente ductilidade suficiente. Isto ocorre
pelo elevado nível de tensão de cisalhamento que a fibra é submetida nesta situação. Se ela
não for capaz de se deformar plasticamente, de modo a se alinhar ao esforço principal,
acaba rompendo-se por cisalhamento. Esta situação é ilustrada na Figura 2.8.

FIGURA 2.5: Concreto reforçado com fibras onde há compatibilidade dimensional entre
estas e o agregado graúdo.

FIGURA 2.6: Concreto reforçado com fibras onde não há compatibilidade dimensional
entre estas e o agregado graúdo.
20

a a bb

FIGURA 2.7: Fibras de aço longas (a) e curtas (b).

Fibra frágil Fibra dúctil

FIGURA 2.8: Diferença de comportamento entre fibras dúcteis e frágeis quando inclinadas
em relação à superfície de ruptura.

3. O CONTROLE DO CONCRETO COM FIBRAS

3.1. Tenacidade

A definição da tenacidade pode gerar dúvidas. Alguns livros didáticos a definem


como a área total sob a curva tensão por deformação específica (POLAKOWSKI e
RIPLING, 1966), o que forneceria a energia absorvida por unidade de volume. Isto só seria
aplicável experimentalmente para o ensaio de tração direta do aço, por exemplo, onde a
deformação medida ocorre na mesma direção da tensão principal, sendo esta facilmente
determinada. No caso dos concretos reforçados com fibras de aço é muito difícil realizar a
determinação da tensão após a fissuração da matriz. Para os compósitos, a definição mais
aceita atualmente a interpreta como a área sob a curva carga por deflexão (ACI, 1988;
21

BENTUR e MINDESS, 1990; BALAGURU e SHAH, 1992), que representa o trabalho


dissipado no material até um certo nível de deflexão. Tal valor é o utilizado na avaliação
dos compósitos e possui a desvantagem básica de depender das dimensões do corpo-de-
prova, bem como do sistema de aplicação dos esforços.
Um dos métodos mais utilizados historicamente e que ainda vem servindo como
referência para o concreto é o ASTM C1018 (1994) proposto pela American Society for
Testing and Materials (ASTM), normalmente aplicado em conjunto com o método ASTM
C78 (ASTM, 1984) para determinação da resistência à tração na flexão do concreto. Este
ensaio é muito similar, com relação à metodologia, ao ensaio prescrito pela Japan Society
of Civil Engineers (JSCE-SF4, 1984), alterando-se os critérios de medida do trabalho pós-
fissuração do concreto. Ambos são realizados em corpos-de-prova prismáticos carregados
segundo quatro cutelos. Além destes métodos existem os propostos pela EFNARC
(European Federation of Producers and Applicators of Specialist Products for Structures)
(EFNARC, 1996) que são dois: um de punção de placas e outro de tração na flexão com
corpo-de-prova prismáticos, o qual foi baseado no anteriormente proposto pelos
noruegueses do NCA (Norwegian Concrete Association) (ROBINS, 1995). Um resumo das
características destes procedimentos se encontra o apresentado na Tabela 3.1.

TABELA 3.1: Métodos de ensaio para determinação da tenacidade especificados para o


concreto projetado reforçado com fibras de aço (ROBINS, 1995).
FONTE FORMA DIMENSÕES PARÂMETROS MEDIDA DA TENACIDADE
DO C.P. (mm)* MONITORADOS
ASTM Prisma b=h=100 CargaXdeflexão Relação entre a energia absorvida
C1018 L=300 média medida no para valores múltiplos da deflexão
c=350 meio do vão ou nos da
cutelos primeira fissura por esta (índices de
tenacidade) e fatores de resistência
residual
JSCE Prisma b=h=100 ou 150 CargaXdeflexão Energia absorvida até uma deflexão
SF-4 L=300 ou 450 média medida no equivalente a L/150. Fator de
c=380 ou 500 meio do vão tenacidade para uma deflexão
equivalente a L/150
NCA Prisma b=125 CargaXdeflexão Resistência residual para valores de
h=75 média medida no deflexão de 1mm e 3mm
L=450 meio do vão
c=550
EFNARC Prisma b=125 CargaXdeflexão Resistência residual para valores de
h=75 média medida no deflexão de 0,5mm a 4mm.
L=450 meio do vão
c=600
Placa b=c=600 CargaXdeflexão Energia absorvida até uma deflexão
h=100 média medida no de 25mm
L=500x500 centro da placa
carga=100x100
*b=largura do corpo-de-prova
h=altura do corpo-de-prova
L=vão do corpo-de-prova durante o ensaio
c=comprimento total do corpo-de-prova.
22

3.1.1. O controle da tenacidade em prismas

Os índices de tenacidade, obtidos pela norma ASTM C1018 (1994) e adotados pelas
normas espanholas (UNE 83-600, 1994 e UNE 83-607, 1994), correspondem à divisão do
valor obtido para a área total abaixo da curva carga por deflexão até um determinado nível
de deflexão pela área abaixo da mesma curva até o ponto de aparecimento da primeira
fissura, correlacionada ao trecho elástico. Os pontos de delimitação das áreas são definidos
como múltiplos da deformação obtida até a surgimento da primeira fissura (ð), conforme o
apresentado na Figura 3.1. Assim, o índice I5 corresponde à relação entre a área OACD e a
área OAB, sendo que o ponto D corresponde a uma deflexão equivalente a três vezes à
deformação da primeira fissura (ð). O índice I10 corresponde à relação entre a área OAEF e
a área OAB, sendo que o ponto F está postado a 5,5 x ð. Finalmente, o índice I30
corresponde à relação entre a área OAGH e a área OAB, sendo que o ponto H corresponde
à deflexão de 15,5 x ð. A ASTM C 1018 recomenda que o ponto final da deflexão e o
respectivo índice sejam selecionados de modo a refletir o nível de fissuração e deflexão
requeridos em serviço.

Primeira fissura
CARGA
E G
A C

H
O
B D F DESLOCAMENTO

5,5ð

15,5ð

FIGURA 3.1: Curva carga por deflexão da norma ASTM C 1018 (1994) tomando como
referência o material elasto-plástico ideal.
23

A obtenção de valores de índices de tenacidade da ordem de 5 para o I5, e 10 para o


I10, e assim sucessivamente, indicam que o compósito possui comportamento elasto-
plástico perfeito. São valores adimensionais e fornecem uma referência da proximidade do
comportamento do material em relação ao referido comportamento elasto-plástico ideal.
Estes índices têm como vantagem o fato de apresentar uma avaliação do comportamento do
conjunto fibra/matriz (compósito). Tem como desvantagens, no entanto, uma forte
dependência da determinação da deflexão onde ocorre a primeira fissura e uma grande
influência da região de instabilidade pós-pico (BANTHIA e TROTTIER, 1995a), cujo
conceito se encontra mais detalhado adiante. Estes fatores podem comprometer a sua
determinação conforme já foi comprovado experimentalmente (FIGUEIREDO, 1997).
Deve-se ressaltar que o índice da ASTM C1018 (1994) não é sensível às variações de
resistência à tração da matriz de concreto. Pode-se obter um material com elevados índices
de tenacidade sem, no entanto, apresentar um elevado gasto energético pós fissuração. Um
exemplo desta distorção se encontra apresentado na Figura 3.2. Em outras palavras, o
material pode apresentar um baixo desempenho quanto à resistência mecânica, e elevados
valores para o índice de tenacidade.
A partir dos resultados obtidos para os índices de tenacidade (I5, I10, I20, I30), já
comentados anteriormente, é possível determinar as relações de tenacidade conforme o
apresentado pela norma ASTM C1018 (1994), conforme a equação (10).

100
Ra,b = -------- *(Ib-Ia) (10)
b-a
onde,
Ra.b = relação de tenacidade entre os índices com referência "a" e "b".
Ia e Ib = índices de tenacidade com referência "a" e "b".

Como exemplos apresentam-se abaixo alguns casos específicos:


Cálculo de R5.10:

100
R5.10 = ------------------*(I10-I5) = 20 * (I10-I5)
10-5

Cálculo de R10.30:
100
R10.30 = -----------------*(I30-I10) = 5 * (I30-I10)
30-10

Os valores da relação de tenacidade representam, aproximadamente, a relação


percentual entre a capacidade portante na faixa de deflexão compreendida pelos
deslocamentos dos índices Ib e Ia, em relação àquela correspondente ao aparecimento da
primeira fissura. Assim, por exemplo, um material elasto-plástico perfeito, apresentará
sempre relações de tenacidade da ordem de 100:
Cálculo de R5.10 para I5 = 5 e I10 = 10:
24

100
R5.10 = -------------------*(10-5) = 20 * 5 = 100
10-5

Cálculo de R10.30 para I10 = 10 e I30 = 30:

100
R10.30 = ------------------*(I30-I10) = 5 * 30 - 10 = 100
30-10

CARGA

DESLOCAMENTO

A=Compósito com matriz de elevada resistência mecânica


B=Compósito com matriz de baixa resistência mecânica

FIGURA 3.2: Compósitos de mesmos índices de tenacidade e diferentes níveis de


resistência mecânica segundo o critério da ASTM C1018 (1994).

A recomendação japonesa (JSCE-SF4, 1984) apresenta uma concepção diferente na


quantificação da tenacidade, e o mesmo procedimento de ensaio básico. Neste caso se
emprega o valor do fator de tenacidade, que é obtido pela área total (Tb), medida em Joules
ou kgf.cm, até a deflexão equivalente a L/150, que no caso de L=300 fornece uma deflexão
de 2mm e, no caso de L=450, fornece uma deflexão de 3mm (Figura 3.3). O valor de Tb
deve entrar na equação (11) para obtenção do valor do fator de tenacidade FT. Como Tb é
dividido por ðtb, que é a deflexão de referência para sua determinação, isto resulta no valor
médio de carga a que o compósito suportou durante sua deformação.
25

Tb L
FT =-------------*---------------- (11)
ðtb b.h2

onde,
FT = fator de tenacidade na flexão (kgf/cm2 ou MPa)
Tb = tenacidade na flexão (kgf.cm ou J)
ðtb = deflexão equivalente a L/150 (cm ou mm)
b = largura do corpo-de-prova
h = altura do corpo-de-prova
L = vão do corpo-de-prova durante o ensaio

CARGA
Tb

ðtb DEFLEXÃO

FIGURA 3.3: Critério JSCE-SF4 (1984) para determinação do fator de tenacidade.

Todos estes índices vêm sendo criticados e não se conseguiu alcançar o consenso
esperado. Uma das críticas que é feita ao critério da JSCE-SF4 (1984) é o fato de não poder
diferenciar matrizes com diferenças grandes de módulo de elasticidade e comportamento
pós-fissuração que apresentem o mesmo nível de consumo de energia (MORGAN,
MINDESS e CHEN, 1995), respectivamente representados como os compósitos A e B da
Figura 3.4. Em se tratando especificamente do concreto, ou mesmo de uma outra matriz de
propriedades semelhantes, isto não se aplica, porque o trecho elástico, uma das principais
origens do problema, vai manter um comportamento razoavelmente uniforme. O maior
problema é haver uma combinação de fatores como o aumento da carga de pico e a
diminuição concomitante da energia absorvida no trecho pós-fissuração (compósitos A e C
da Figura 3.4).
26

Carga

δtb
Deflexão

FIGURA 3.4: Compósitos semelhantes segundo o critério JSCE-SF4 (1984) para


determinação do fator de tenacidade.

Uma outra limitação do critério JSCE-SF4 (1984) é o fato de se ter a avaliação do


material para uma única deformação, a qual proporciona uma elevada abertura de fissura
(BANTHIA e TROTTIER 1995a), distanciando as condições de avaliação do material da
maioria das condições de utilização do mesmo na estrutura. Além disso, o seu resultado, no
que se refere à energia Tb, depende da geometria do corpo-de-prova (CHEN, MINDESS e
MORGAN, 1994). Para minimizar este aspecto lança-se mão de um artifício matemático,
qual seja, calcular uma tensão de tração na flexão através do modelo elástico. No entanto,
após a fissuração da matriz ocorre a formação de uma rótula que altera completamente a
distribuição de tensões ao longo da seção transversal do corpo de prova descaracterizando
completamente o modelo elástico. Tal comportamento está esquematicamente representado
na Figura 3.5. Na verdade, o valor de FT definido pela recomendação japonesa é uma
simplificação relativamente grosseira da realidade pois, a “resistência à tração na flexão”
do compósito fissurado é dada pela somatória de pequenas forças provenientes das fibras
que trabalham como ponte de transferência de tensão ao longo da fissura (Figura 3.5). Com
isto, o modelo elástico proposto pela JSCE–SF4 (1984) se distancia ainda mais da
realidade.
27

ELÁSTICO ELASTOPLÁSTICO

σ σ
I I II III
σcu σcu
Curva de
tensão por
deformação
εmu ε εmu ε

Região ε ε
elástica σ σ
Distribuição
de tensão e εmu σcu
deformação
na flexão Região
Linha neutra
ε
plástica COLAPSO σ
σcu

Região Linha neutra


plástica ε
última
COLAPSO σ
σcu

P P III
I II

Curva de
carga por
deflexão
∆ ∆
Obs: σcu = tensão última do compósito.
FIGURA 3.5: Comportamento elástico e elastoplástico ideal de um compósito na flexão e
as respectivas distribuições de tensão e deformação (BENTUR e MINDESS, 1990).
O critério JSCE-SF4 (1984) também é influenciado pela instabilidade pós-pico,
apesar de sê-lo numa intensidade bem menor que o critério da ASTM C 1018 (1994)
conforme o demonstrado por FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI (1997). A
instabilidade pós-pico consiste numa superestimação da carga suportada pelo corpo-de-
28

prova imediatamente após a ruptura da matriz, ou seja, quando se atinge a carga de pico,
uma vez que o teor de fibra deve estar abaixo do crítico. Neste momento ocorre a abrupta
transferência de carga da matriz para a fibra com uma consequente elevação da deflexão.
Com isto, os dispositivos eletrônicos de medida contínua de deflexão (LVDTs) recebem um
pequeno impacto, o qual é maior para máquinas hidráulicas do que para máquinas com
sistema de carregamento rígido. A região afetada pela instabilidade pode atingir até 0,5mm
de deflexão o que compromete integralmente os índices ASTM (ASTM C1018, 1994), uma
vez que, sendo a deflexão de primeira fissura da ordem de 0,04mm, até o I10 pode ter sua
área de avaliação integralmente contida na região de instabilidade. Índices que se utilizam
de maiores deflexões são menos influenciados, mas não isentos. No trabalho de
FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI (1997), utilizou-se de uma fibra com 36mm de
comprimento, de seção retangular com 1,8mm por 0,5mm, com ancoragens em gancho em
um concreto de traço 1:1,77:2,55:0,50. O consumo de fibras foi de 30 quilogramas por
metro cúbico de concreto. Realizou-se o ensaio com dez corpos de prova e o fator de
tenacidade (JSCE-SF4, 1984) foi medido englobando-se a área de instabilidade pós-pico
(Figura 3.6) e a excluindo (Figura 3.7).

CARGA (kN)
40

35

30

25

20

15

10

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

DEFLEXÃO (mm)

FIGURA 3.6: Resultados individuais e curva média (com maior espessura) obtida para uma
fibra com 36mm de comprimento incluindo a instabilidade pós-pico.

Contando-se com a instabilidade pós-pico foi obtido um valor de 1,70MPa de fator


de tenacidade com um desvio padrão de 0,21MPa. Quando esta área foi removida os
valores obtidos foram 1,53MPa para o fator de tenacidade e 0,23MPa de desvio padrão. Ou
seja, os valores foram reduzidos em 10%. A mera remoção da região de instabilidade não é
29

uma garantia de precisão para o ensaio. Na verdade, a intensão básica da remoção é não
superestimar o desempenho do material e, no exemplo em questão, mostrar a
susceptibilidade e a incerteza da medida da tenacidade para os concretos reforçados com
fibras dependendo do critério adotado.
CARGA ( kN)
40

35

30

25

20

15

10

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
DEFLEXÃO ( mm)

FIGURA 3.7: Curvas de carga por deflexão individuais e média (linha mais grossa) para a
fibra com 36mm de comprimento, sem a região de instabilidade pós-pico.

Apesar de todas estas limitações, os índices da ASTM e JSCE continuam sendo


utilizados como parâmetros de avaliação dos concretos reforçados com fibras e,
recentemente, foram corroborados nas normas espanholas (UNE 83-600-94 e UNE 83-607-
94). Outros índices de tenacidade vêm sendo propostos associados ao nível de desempenho
apresentado pela fibra após a ocorrência da primeira fissura, como o adotado inicialmente
pela Associação Norueguesa do Concreto (Apud MORGAN, MINDESS e CHEN, 1995)
(Tabela 3.2). Numa concepção similar foi publicado pela EFNARC (1996) um critério que
define classes de tenacidade associadas a tensão residual na flexão, conforme o apresentado
na Tabela 3.3 e na Figura 3.8.
As vantagens e desvantagens apresentadas (MORGAN, MINDESS e CHEN, 1995)
para este tipo de critério são:
Vantagens:
a) Independência da locação da deflexão da primeira fissura;
b) As deflexões acima de 0,5mm (EFNARC) ou 1mm (noruegueses) são suficientemente
grandes para não sofrerem influência da instabilidade pós-pico (FIGUEIREDO,
1997);
30

c) Os valores de tensão residual, expressos em MPa, proporcionam um subsídio mais


acessível à modelagem matemática de projeto normalmente adotada pelos projetistas;
d) O método proporciona o estabelecimento de padrões que agilizam a comparação das
curvas obtidas e a verificação de sua conformidade.
Desvantagens:
a) Corpo-de-prova completamente diferente do recomendado pela ASTM C1018 (1994) e
JSCE-SF4 (1984), tendo 75mm de altura e 150mm de largura com um vão de
450mm, o que dificulta uma análise comparativa;
b) Como a tensão residual é calculada segundo o modelo elástico, acaba se distanciando da
realidade e superestimando a tensão de tração que o compósito suporta e
subestimando a de compressão.

TABELA 3.2: Tensões residuais na flexão das classes recomendados pela Associação
Norueguesa do Concreto (Apud MORGAN, MINDESS e CHEN, 1995).
CLASSE DE DEFLEXÕES
TENACIDADE 1mm 3mm
0 Concreto projetado sem reforço
1 Tipo e dosagem de fibra pré-especificado
2 2,0 MPa 1,5 MPa
3 3,5 MPa 3,0 MPa

TABELA 3.3: Tensões residuais na flexão das classes recomendados pela EFNARC
(1996).
CLASSE DE DEFLEXÕES
TENACIDADE 0,5mm 1mm 3mm 4mm
0 Concreto projetado sem reforço
1 1,5 MPa 1,3 MPa 1,0 MPa 0,5 MPa
2 2,5 MPa 2,3 MPa 2,0 MPa 1,5 MPa
3 3,5 MPa 3,3 MPa 3,0 MPa 2,5 MPa
4 4,5 MPa 4,3 MPa 4,0 MPa 3,5 MPa

Até alguns índices alternativos vêm sendo propostos: BANTHIA e TROTTIER


(1995a) propõem um novo índice, o PCSm (resistência pós-pico a uma deflexão ‘m’), o
qual nada mais é que o índice JSCE-SF4 (1984) que não utiliza a área relativa ao trecho
pré-fissuração com a possibilidade de ser calculado para diversos níveis de deflexões.
MORGAN, MINDESS e CHEN (1995) recomendaram a adoção de um critério
inspirado pelo método da Associação Norueguesa do Concreto, no qual se conta com níveis
de desempenho quanto à tenacidade associados à relação entre resistência residual e a
resistência de primeira fissura a deflexões de 1/600 e 1/150 do vão (no caso específico o
vão equivale a L=300mm), conforme o apresentado na Tabela 3.4 e na Figura 3.9. Isto vem
ao encontro da intenção de vinculação do desempenho pós-fissuração com a matriz e à
necessidade de comparar os seus resultados com os índices obtidos pela ASTM C1018
(1994) e JSCE-SF4 (1984), conforme o método de ensaio proposto (MORGAN, CHEN e
BEAUPRÉ, 1995).
31

CRITÉRIO EFNARC (1996)


6

5
CLASSE 4
TENSÃO (MPa)

4
CLASSE 3
3
CLASSE 2
2
CLASSE 1
1
CLASSE 0
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
DEFLEXÃO (mm)

FIGURA 3.8: Classes de tenacidade segundo o critério da EFNARC (1996).

TABELA 3.4: Níveis de desempenho de tenacidade dados pela tensão residual na flexão
(MORGAN, MINDESS e CHEN 1995).
CLASSE DE DEFLEXÕES
TENACIDADE 1/600 do vão 1/150 do vão
0 Concreto projetado sem reforço
I 15% 5%
II 30% 15%
III 50% 30%
IV 75% 45%

Como se pode observar, vários são os métodos de ensaio e maior ainda o número de
critérios para a determinação do índice de tenacidade através daqueles já normalizados ou
mesmo propostos. No entanto, os critérios propostos pela ASTM C1018 (1994) e JSCE-
SF4 (1984) são aqueles de maior aceitação por apresentarem a facilidade de serem
determinados em curvas de carga por deflexão originadas de um mesmo ensaio.
Cabe lembrar que, quando da adoção deste ensaio para o concreto projetado, o
mesmo deve ser realizado necessariamente em corpos-de-prova prismáticos obtidos através
do corte de placas moldadas, uma vez que o jateamento direto sobre os moldes distorceriam
o resultado pela oclusão da reflexão (FIGUEIREDO, 1997). Tal prática seria também
recomendável para concretos plásticos com fibras para evitar o chamado efeito de borda,
que consiste no alinhamento das fibras junto ao fundo e às laterais do corpo de prova. Com
isto ocorre um aumento induzido no desempenho do compósito dado o alinhamento das
fibras à direção principal de tensão durante a flexão. Como o corte dos corpos de prova
encarece o custo de controle, algumas normas recomendam a utilização de corpos de prova
32

cujas menores dimensões sejam, no mínimo, iguais ao triplo do comprimento da fibra


(JSCE-SF4, 1984).

Carga *L = VÃO LIVRE DO


CORPO DE PROVA

100

80 CLASSE IV

60 CLASSE III

40 CLASSE II

20 CLASSE I

CLASSE 0
0
L/600* L/150* Deflexão

FIGURA 3.9: Representação das classes de tenacidade segundo MORGAN, MINDESS e


CHEN, 1995.

3.1.2. Sistema de medida da deflexão

Para se garantir uma maior acuidade no levantamento da curva de carga por


deflexão é recomendável a utilização do controle eletrônico de deslocamento através de um
transdutor do tipo LVDT (Linear Voltage Diferential Transducer). O LVDT deve ser
apoiado num suporte denominado "yoke" (JSCE-SF4, 1984), o qual se encontra
apresentado na Figura 3.10 e 3.11. Tal sistema vem sendo apontado como aquele de maior
confiabilidade (BANTHIA e TROTTIER, 1995b), uma vez que a deflexão lida toma como
referência o próprio corpo-de-prova. A ASTM também adotou o sistema "yoke" para
medida das deflexões a partir de sua versão de 1994. Deve-se ressaltar que, caso seja
adotado o apoio na base da prensa, como mostra a Figura 3.12, sobre o LVDT incidirão
também as deformações de cutelo e do contato deste com o corpo-de-prova. Como alertou
ARMELIN (1992) tais deformações podem ser da mesma ordem de grandeza daquela
obtida para a deformação de primeira fissura. Além disso, haverá uma distorção na fase
elástica até o ponto de aparecimento da primeira fissura, devido à sobreposição das
33

deformações dos cutelos. Na Figura 3.13 se encontram apresentadas curvas obtidas pelos
dois sistemas.

ANTEPARO DA
AGULHA DO LVDT
FIXADO NO TOPO
FIXAÇÃO DO CP
DO“YOKE” NO
CP ALINHADO CUTELOS
AO CUTELO “YOKE”

LVDT

BASE DA PRENSA

CUTELOS

FIGURA 3.10: Posicionamento de corpo-de-prova, LVDT e cutelos no ensaio de tração na


flexão com o sistema "yoke".

FIGURA 3.11: Sistema “yoke” montado em um corpo de prova para ensaio de tração na
flexão com deformação controlada.
34

CUTELOS
SUPORTE DO LVDT
FIXADO NA BASE DA
PRENSA

LVDT

BASE DA PRENSA

FIGURA 3.12: Sistema de fixação do LVDT onde as deformações de cutelo e apoio do


corpo-de-prova incidem nas deflexões lidas (procedimento não recomendado).

1-Medido através do "Yoke" (Figura 3.10)


CARGA (kN) 2-Medido através de um LVDT
fixado na base da prensa (Figura 3.12)

2
1

DEFLEXÃO (mm)

FIGURA 3.13: Curvas obtidas com o uso de dois sistemas para a medição das
deformações.
35

Apesar de todas as limitações, os ensaios prescritos pelas normas da ASTM C1018


(1994) e recomendações da JSCE-SF4 (1984) são os mais largamente empregados e têm a
vantagem de poderem ser aplicados em conjunto. Com isto, pode-se medir os índices por
ambos os critérios e utilizá-los de maneira combinada. No caso dos índices de tenacidade
obtidos segundo a norma ASTM C1018 (1994) é fundamental a eliminação da região de
instabilidade pós-pico para se garantir a confiabilidade do resultado (FIGUEIREDO, 1997).
Outra possibilidade é a utilização de critérios mais modernos que levem em conta medidas
da tenacidade para vários níveis de deflexões, como é o caso dos critérios da EFNARC
(1996). Da qualquer forma, a adoção de um sistema de medição de deflexões como o
"yoke" que elimine a influência das deformações dos cutelos e do apoio destes no corpo-de-
prova é imprescindível. No entanto, os ensaios de tração na flexão em prismas têm todos
uma grande limitação: não possibilitam a avaliação comparativa de desempenho entre os
concretos reforçados com fibras e aqueles reforçados com telas metálicas. Para essa
finalidade foram desenvolvidos os ensaios em placas, os quais se encontram apresentados
no próximo item.

3.1.3. Ensaios em placas

O ensaio de punção de placas vem sendo sugerido na Europa recentemente como


uma nova forma de avaliação da tenacidade (ROBINS, 1995), logo o mesmo só se aplica
para concretos reforçados com fibras ou armadura convencional. Apesar de ter sido alvo de
estudo a algum tempo (VANDEWALLE, 1990), só recentemente passou à condição de
recomendação (EFNARC, 1996). O esquema de ensaio consiste no puncionamento de uma
placa quadrada com 600mm de borda e 500mm de vão central, apoiada em seus quatro
lados como é apresentado na Figura 3.14.
Este ensaio é o primeiro que vem sendo proposto para caracterização comparativa
da tenacidade dos compósitos de concreto reforçado com fibras de aço e tela metálica
(GOLAPARATNAM e GETTU, 1995). Além disso, ele traz a vantagem de uma
"implementação prática fácil para os resultados de tenacidade em certas aplicações como
lajes sobre solo e revestimento de túneis apontando um dobramento biaxial e outros efeitos
estruturais" (GOLAPARATNAM e GETTU, 1995). No entanto, o comportamento
estrutural representado é restrito, uma vez que a punção, no túnel, só ocorre no caso da
utilização de tirantes e chumbadores no revestimento primário, o que está normalmente
associado aos túneis em rocha, o que não é tão frequente para o caso do Brasil.
A comparação entre tela e fibra metálica surgiu devido a uma exigência natural de
comprovação de equivalência ou mesmo superioridade da nova tecnologia, para
autoridades e clientes, como apontou FRANZÉN (1992). Além disso, estes testes foram
desenvolvidos e executados no sentido de suprir a necessidade de conhecimento que
possibilite a correta especificação da fibra. "Uma possibilidade é realizar comparações
simples e diretas entre um revestimento reforçado com telas com uma determinada posição
e outro com fibras" e calcular "o momento resistente teoricamente" (FRANZÉN, 1992).
Com isto em vista, vários foram os pesquisadores que realizaram ensaios comparativos
entre tela e fibras, numa escala o mais próxima possível da natural. O trabalho apresentado
por MORGAN e MOWAT (1984) foi um dos precursores e servem de referência para
muitos autores (VANDEWALLE, 1990; FRANZÉN, 1992; MELBYE, OPSAHL e
HOLTMON, 1995).
36

P
(10x10)cm2

10cm

(50x50)cm2

(60x60)cm2

FIGURA 3.14: Esquema do ensaio de puncionamento de placas.

Outros trabalhos foram conduzidos na África do Sul, no sentido de viabilizar a


aplicação da fibra naquele país (REDFORD e ALEXANDR, 1990) e KIRSTEN (1993).
Todos estes testes, lançaram mão de um grande nível de deflexão e fissuração, muito acima
do estado limite último (BANTHIA e TROTTIER, 1995a), e chegaram a concluir pela
inviabilidade da fibra, devido aos altos custos de importação (REDFORD e ALEXANDR,
1990), ou pela aplicação estar limitada a teores abaixo de 40kg/m3 WALLIS (1993). Uma
justificativa para tal constatação reside no fato da principal destinação do concreto
projetado na África do Sul consistir no revestimento provisório de minas, onde as
deformações são muito maiores e o nível de fissuração aceitável é grande dado que sejam
estruturas provisórias em grande parte.
Para assegurar uma boa precisão na leitura dos resultados de ensaio em níveis
baixos de deflexão, é recomendável a utilização de um método ligeiramente diferente do
especificado pela EFNARC (1996), estando as principais alterações descritas a seguir:
a) A deflexão é medida por um LVDT posicionado na parte inferior da placa e o seu
suporte se fixa na parte superior da alma do perfil de apoio da placa (Figura 3.15). A
adoção deste procedimento visou a diminuição ao máximo da parcela de deformação
relativa ao suporte, lida pelo equipamento.
37

CARREGAMENTO
RÓTULA

CHAPA DE AÇO PAPELÃO


(10x10x1)cm3 (10x10x1)cm3

PLACA DE
CONCRETO
PROJETADO

LVDT

SUPORTE

SUPORTE PLÁSTICO
PARA A AGULHA DO LVDT AGULHA
LVDT DO LVDT

LVDT PARAFUSO DE
FIXAÇÃO
BARRA DE SUPORTE DO

FIGURA 3.15: Suporte de LVDT no ensaio de punção de placas

b) É recomendável também que a garantia de um apoio contínuo da placa sobre o suporte


seja feita com encunhamento metálico e não com argamassa, como recomenda a
EFNARC (1996). A argamassa atuando como capeamento não é adequada uma vez que
esta apresenta uma grande deformabilidade e altera as condições iniciais de leitura.
Mais recomendável é o apoio direto do fundo da placa. Isto não seria possível caso se
obedecesse rigorosamente o procedimento da EFNARC (1996) uma vez que o mesmo
recomenda que a face rugosa (parte externa da placa) seja apoiada no suporte para o
ensaio. No entanto, puncionar a placa pela face rugosa reproduz o esforço de um tirante
no revestimento de um túnel sendo, portanto, mais realista.
c) O ensaio pode ser realizado para vários níveis de deflexão (de 4 a 25mm) de modo a se
correlacionar a mesma com a abertura média das fissuras da placa.

Alguns resultados experimentais, abordando o ensaio com vistas à aplicação do


concreto reforçado com fibras de aço para pisos (TATNALL e KUITENBROUWER,
1992), mostraram que o nível de fissuração foi 3 a 5 vezes maior que aqueles obtidos pela
teoria da elasticidade, o que mostra que esta teoria não modela mais o comportamento do
material durante o ensaio. Tal fato foi atribuído ao estado triaxial de tensões que poderia
levar a uma maior capacidade de carga da placa (TATNALL e KUITENBROUWER,
1992). No entanto, é mais fácil apontar a inadequação da modelagem como principal
38

responsável pois, durante o ensaio, ocorre o empenamento da placa, que muda totalmente
as condições de apoio e, consequentemente, a distribuição de tensões na placa. Este
fenômeno é tão mais intenso, quanto maior for o nível de deflexão imposto à placa.
Para os níveis mais baixos de deslocamento do equipamento, ocorre o aparecimento
de múltiplas fissuras, gerando algumas quedas no gráfico de carga por deflexão (Figura
3.16) conforme apresentado por FIGUEIREDO e HELENE (1997). A partir de um certo
momento o número de fissuras se estabiliza e o trabalho dissipado no ensaio consiste
naquele relativo à ampliação da abertura das mesmas, com o arrancamento das fibras. À
medida que a fissura abre diminui o comprimento de ancoragem das fibras que servem de
ponte de transferência de tensão e a capacidade de suporte da carga cai. Assim, a energia
absorvida no ensaio para um dado acréscimo de deflexão acaba por apresentar um
comportamento assintótico, o qual foi modelado para a placa ensaiada segundo o método
preconizado. Com os valores de energia absorvida em um ensaio de placa a cada um dos
sete primeiros milímetros de deflexão, FIGUEIREDO (1997) obteve a correlação
representada na equação (12).

8197
Ep = ----------------, com r2=0,995 (12)
(D)-¹/³
123
onde,
Ep = Energia absorvida durante o ensaio de punção (J) e
D = Deflexão medida no centro da placa puncionada.

O elevado coeficiente de correlação mostra o excelente ajuste do modelo aos


resultados experimentais, o que pode ser visualizado na Figura 3.17. Com isto se poderia
avaliar o nível de energia a ser absorvido pela placa para maiores deflexões. No exemplo da
placa 189 a energia absorvida pelo ensaio foi de 1669J enquanto a prevista pelo modelo foi
de 1613J.

CARGA

Abertura das fissuras Ampliação da abertura das


principais fissuras e arrancamento
das fibras

Trecho elástico não fissurado

Acomodação nos apoios

DEFLEXÃO

FIGURA 3.16: Curva de carga por deflexão obtida no ensaio de punção de placas.
39

1800

1600

1400
ENERGIA (J)

1200

1000

800

600

400

200

0
0 5 10 15 20 25 30
D E F L E X Ã O ( m m )

M O D E LO D A D O S E X P E R IM E N T A IS

FIGURA 3.17: Correlação entre os valores obtidos para a energia absorvida durante o
ensaio de punção e a deflexão.

Este ensaio apresenta a grande vantagem de ser o primeiro normalizado que, por ser
realizado numa escala maior que a dos corpos-de-prova prismáticos, permite avaliar
comparativamente o desempenho da fibra com outras formas de reforço, como a tela
metálica. Como a fibra vem a se apresentar como um substitutivo natural deste reforço em
túneis esta avaliação é bem interessante.
No entanto, este ensaio apresenta um série de dificuldades. A placa de ensaio é
muito pesada, aproximando-se facilmente dos 100kg, dificultando a execução do ensaio,
tornando-o perigoso para os operadores. A placa fica sujeita ao esforço de projeção
(impacto do jato de concreto) acaba por apresentar deformações que em muito dificultam as
condições de apoio e, consequentemente, concentra os esforços durante o ensaio. Além
disso, o nível de deflexão imposto (EFNARC, 1996), é muito elevado. No entanto, como os
ensaios mostraram, é perfeitamente possível analisar os resultados para menores níveis de
deflexão. Em estudo feito considerando a energia absorvida até uma deflexão de 4mm
(FIGUEIREDO, 1997) foi possível diferenciar o desempenho das fibras segundo o teor
utilizado. Um exemplo do resultado comparativo se encontra na Figura 3.18, onde se
apresentam resultados obtidos com telas metálicas e com fibras de aço. A tela T1 possuía
4,5mm de diâmetro médio de fio e malha quadrada de abertura 15cm, enquanto a tela T2
possuía 5mm de diâmetro médio de fio e malha também quadrada com abertura de 10cm.
Na Figura 3.18 mostra-se que a fibra pode apresentar um desempenho superior ao das telas
reforçadas com tela metálica. O valor de deflexão de 4mm na placa é próximo do critério
adotado pela norma japonesa, onde o vão é dividido por 150 (neste caso a deflexão
corresponde a 1/125 do vão) e, da mesma forma, fornece um nível de fissuração
comparável (da ordem de 3mm). Além disso, garante-se a definição da fissuração da placa,
ou seja, trabalha-se na segunda fase onde ocorre apenas o aumento da abertura da fissura.
Alguns estudos têm sido desenvolvidos no sentido de se fornecer alternativas para
sanar as limitações do ensaio de punção em placas quadradas como o proposto pela
EFNARC (1996). Como exemplo dessa tendência pode-se citar o trabalho desenvolvido por
ALMEIDA (1999). Sua proposta consiste na utilização de uma placa triangular com apoio
40

descontínuo em cada vértice e punção central conforme esquema apresentado na Figura


3.19. O autor aponta para essa nova configuração de ensaio as seguintes vantagens quando
comparada ao ensaio da placa quadrada:
a) maior facilidade de manuseio dos corpos de prova;
b) eliminação da influência das deformações dos dispositivos de aplicação de cargas e
suporte nos resultados obtidos no ensaio;
c) o processo de fissuração da placa obedece a um padrão bem definido de forma e
evolução da abertura, facilitando avaliações comparativas de desempenho com maior
precisão;
d) o comportamento do material durante o ensaio se assemelha muito ao obtido no ensaio
de tração na flexão permitindo comparações;
e) menor variação no resultado e
f) garantia da continuidade e constância das condições de apoio durante todo o ensaio
mesmo com o empenamento da placa.

Finalmente, qualquer que seja a configuração do ensaio, deve-se permitir a análise


da tenacidade para variados níveis de deflexão de modo a se correlacionar a deformação do
material no ensaio com as condições de aplicação em obra. Como exemplo, a partir da
equação (12) obtida para o ensaio da placa quadrada poderiam ser estabelecidos níveis
progressivos de exigência de absorção de energia para o ensaio. A EFNARC (1996) exige
700J para uma deflexão de 25mm, quando o concreto é classe B. Pelo modelo poderia se
estabelecer os valores aproximados de 175J para 4mm, 440J para 12mm e 620J para 20mm.

800
700
600
ENERGIA (J)

500 consumo 20kg/m3


400 consumo 40kg/m3
consumo 60kg/m3
300
TELA 1
200 TELA 2
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7
DESLOCAMENTO (mm)

FIGURA 3.18: Resultados obtidos com ensaio de punção de placas reforçadas com a fibra
F2 da Tabela 3.2 em diversos teores e dois tipos de tela metálica.
41

CARGA

Vista frontal

Apoios

Vista superior
FIGURA 3.19: Esquema do ensaio de punção em placa triangular.

3.2. Trabalhabilidade e mistura

Apesar do ganho de desempenho conferido pelas fibras no que se refere à contenção


da propagação das fissuras quando o concreto se encontra no estado endurecido, a adição
de fibras altera a as condições de consistência do concreto e, consequentemente, a sua
trabalhabilidade. Isto ocorre principalmente porque ao se adicionar à fibra ao concreto está
se adicionando também uma grande área superficial que demanda água de molhagem. Por
exemplo, se forem adicionados 50kg de fibra de aço com ancoragem em gancho, 30mm de
comprimento e seção circular com diâmetro de 0,5mm em um metro cúbico de concreto
teremos uma nova área de molhagem de, aproximadamente, 50m2. Dessa forma, ter-se-á
uma menor quantidade de água disponível para fluidificar a mistura. Por isso, fica claro
que, quanto menor for o diâmetro da fibra, maior será o influência da mesma na perda de
fluidez da mistura. De maneira similar, fibras mais longas atuam na consistência do
concreto. Tais parâmetros podem ser representados em conjunto através do conceito do
fator de forma que consiste na relação entre o comprimento da fibra e o diâmetro da
circunferência com área equivalente à sua seção transversal. Assim, quanto maior for o
fator de forma maior será o impacto na trabalhabilidade do concreto. Por estas razões,
aponta-se a adição da fibra como um elemento redutor da trabalhabilidade dos concretos,
podendo ocasionar prejuízos à sua compactação e, consequentemente, à sua durabilidade e
desempenho mecânico (BALAGURU e SHAH, 1992) incluindo aí a própria tenacidade
(BENTUR e MINDESS, 1990). No entanto, estas informações precisam ser analisadas com
mais profundidade a começar pelos métodos de medida indireta da trabalhabilidade.
O American Concrete Institute (ACI 544.3R, 1993) recomenda três diferentes
métodos para a avaliação da trabalhabilidade do concreto com fibras. O primeiro e o mais
simples é o próprio abatimento do tronco de cone (NBR 7223), o qual pode não apresentar
42

capacidade de medida da consistência do concreto quando o teor de fibras é elevado. O


segundo método é o que mede a fluidez do concreto com fibras submetido à vibração e
forçado a descer por um cone de abatimento invertido (ASTM C995-94), como mostra a
Figura 3.20. Por último há a indicação da utilização do VeBe (ACI Standard 211.3),
apresentado na Figura 3.21, para a determinação dos parâmetros de trabalhabilidade do

Cone invertido

Vibrador

Concreto

concreto com fibras.

FIGURA 3.20: Equipamento para o ensaio do cone invertido (ASTM C995-94).

Num extenso estudo realizado por CECCATO (1998), foi demonstrado que o ensaio
com o cone invertido não é adequado para a avaliação da trabalhabilidade de concretos
reforçados com quaisquer teores de fibra, sejam altos ou baixos. Isto aconteceu por duas
razões:
a) se o concreto é muito plástico acaba passando pela extremidade inferior aberta do cone
invalidando o ensaio e
b) se o concreto é muito coeso acaba por entupir a mesma extremidade inferior de modo a
impossibilitar a obtenção de qualquer resultado do ensaio.

Em estudos já realizados na EPUSP, já se comprovou que a adição de baixos teores


de fibras alteram as condições de trabalhabilidade mas sem, necessariamente, reduzir a
compactação do material (CECCATO, NUNES e FIGUEIREDO, 1997). CECCATO
(1998), obteve resultados muito interessantes e demonstrou que, para teores de fibra
inferiores a 60 kg/m3 e em alguns casos até 80 kg/m3, (caso o fator de forma seja reduzido)
o ensaio do abatimento do tronco de cone mostrou-se adequado para a medida da
consistência de concretos reforçados com fibras. O mesmo pesquisador comprovou
experimentalmente a influência do teor da fibra e do fator de forma na trabalhabilidade do
material. Na Figura 3.22 se encontra apresentado o gráfico obtido no ensaio VeBe de
concretos reforçados com fibras de diferentes fatores de forma e em vários teores. Nota-se
claramente que à medida que se aumenta o teor de fibras, aumenta-se o tempo de
compactação dado pelo VeBe, devido à maior coesão do material. Este aumento é tão mais
intenso quanto maior for o fator de forma da fibra utilizada.
43

Moldagem do cone

Apoio do disco
de acrílico sobre
o tronco de cone
desmoldado e
vibração posterior

Término do ensaio
quando o disco de
acrílico fica
integralmente em contato
com o concreto

FIGURA 3.21: Equipamento para o ensaio VeBe (ACI Standard 211.3).

100,0
90,0 FF 80 R2 = 0,972
FF 100
80,0 FF 60
Tempo VeBe (s)

70,0
60,0
50,0
R2 = 0,996
40,0
30,0
20,0 R2 = 0,991
10,0
0,0
0 20 40 60 80 100
3
Teor de Fibra (kg/m )

FIGURA 3.22: Influência do fator de forma das fibras na compactabilidade do concreto


reforçado com diferentes teores de fibra (CECCATO, 1998).
44

Um outro problema que ocorre na prática dos pavimentos de concreto reforçado


com fibras de aço é o fato de algumas fibras surgirem na superfície produzindo pequenos
pontos de ferrugem. O critério adotado para se evitar esta ocorrência é basicamente estético
uma vez que as fibras oxidadas são incapazes de produzir a perfuração dos pneus. No
entanto, adotam-se abatimentos de tronco de cone relativamente elevados, ou seja, da
ordem de 10cm. Isto pode gerar um outro risco para o concreto que é o da segregação da
fibra (CECCATO, 1998), cuja massa específica é cerca de três vezes maior que a do
concreto. Com isto a fibra se afasta da superfície reduzindo o reforço nesta região e,
consequentemente, facilitando o aparecimento de fissuras.
Outro problema associado à aplicação dos concretos com fibras é o aparecimento
dos chamados ouriços. Os ouriços são bolas formadas por fibras aglomeradas como a
apresentada na Figura 3.23. No caso da incorporação destes ouriços no concreto, será
produzida uma redução do teor de fibra homogeneamente distribuído, como também um
ponto fraco (poroso ao extremo), no local onde o mesmo se alojar. No caso do concreto
projetado, se alguma proteção não foi providenciada, estes ouriços irão produzir
entupimentos de mangote, com sérios riscos à operação do processo. As causas da
formação dos ouriços estão invariavelmente associadas à mistura inadequada do material. É
certo que fibras de maior fator de forma irão produzir um maior risco de embolamentos. No
entanto, se a fibra é adicionada à betoneira de maneira descuidada, virando-se o saco ou
caixa de fibras de uma só vez por exemplo, o risco será muitas vezes maior. Por isso se
recomenda lançar a fibra em taxas controladas junto com os agregados, homogeneizando a
mistura antes do lançamento do cimento. Uma alternativa, para minimizar este efeito é a
utilização das fibras coladas em pentes como as apresentadas na Figura 2.24. Quando os
pentes são misturados ao concreto, têm a sua cola dissolvida permitindo uma
homogeneização facilitada para o compósito.

FIGURA 3.23: Ouriço formado por FIGURA 3.24: Fibras coladas em pente.
fibras de aço mal misturadas ao
45

3.3. Resistência à compressão

O objetivo da adição de fibras ao concreto não é alterar a resistência à compressão


do mesmo. Vários estudos já foram feitos sobre a adição de fibras ao concreto onde a
resistência à compressão era avaliada de maneira secundária e, como apontou ARMELIN
(1992), não há um consenso entre os resultados. Alguns trabalhos apontam uma redução
nos valores obtidos para a resistência à compressão como uma consequência da má
compactação obtida com o material. No entanto, como as fibras atuam como ponte de
transferência de tensões pelas fissuras, sejam elas produzidas por esforços de tração ou
cisalhamento como ocorre no ensaio de compressão, o concreto também apresentará um
ganho quanto à tenacidade, isto é, haverá um maior consumo energético após a fissuração
do material. Este comportamento pode ser medido segundo o procedimento de ensaio
prescrito pela JSCE (JSCE-SF5, 1984b), cujo esquema se encontra apresentado na Figura
3.25. O acoplamento de dois LVDTs ao corpo de prova exigido no ensaio tem como
objetivo levantar a curva de carga por deslocamento.

Corpo de prova

LVDTs
Distância de leitura
das deformações

FIGURA 3.25: Esquema de ensaio para determinação da tenacidade na compressão (JSCE-


SF5, 1984b).

Uma alternativa para o esquema de ensaio proposto pela JSCE (JSCE-SF5, 1984b),
foi o utilizado por ZANGELMI Jr. (1999), o qual se encontra apresentado na Figura 3.26.
Neste caso, utilizaram-se três LVDTs ao invés de dois, e as deformações eram medidas
tomando por partida a altura total do corpo-de-prova. A adoção deste aparato foi justificada
pelo fato de se ter uma intensa fissuração do corpo-de-prova após atingir o pico de
resistência. Com isto, o apoio dos suportes dos LVDTs pode ser intensamente prejudicado
dificultando a leitura das deformações na região de trabalho pós-pico, a qual é deveras
importante. Por outro lado, um sistema como este apresenta grande dificuldade de
caracterizar o comportamento elástico do material antes da fissuração (como a
determinação do módulo de elasticidade longitudinal). Isto ocorre por se incluir
deformações paralelas como acomodações do corpo de prova junto aos pratos da prensa e
aquela originada do estado não uniaxial característico da região dos extremos do corpo de
46

prova (ZANGELMI Jr., 1999). Este aparato fornece uma evolução não linear do trecho pré-
pico devido a estas deformações paralelas, o que levou ZANGELMI Jr. (1999) a corrigir as
curvas a partir da eliminação do trecho não linear inicial e o deslocamento da curva para
que a origem da mesma coincida com o ponto de encontro dos eixos ordenados.

PRATO SUPERIOR

LVDTs Distância de leitura


das deformações

Corpo de prova
Suporte
dos LVDTs

PRATO INFERIOR

FIGURA 3.26: Esquema alternativo de medição da curva de carga por deslocamento na


compressão (ZANGELMI Jr., 1999).

Da mesma forma que a tenacidade medida no ensaio de tração na flexão, a


tenacidade medida na compressão e o controle da fissuração apresentará um ganho quando
da utilização de um teor maior de fibras, ou mesmo fibras com maior fator de forma. Em
seu estudo experimental ZANGELMI Jr. (1999), não encontrou variações signficativas nas
características elásticas e mesmo os valores de resistência do concreto quando do aumento
do teor de fibras.
O gasto energético pós-fissuração por compressão da matriz também apresentará
diferenças significativas em função de um direcionamento preferencial da fibra. No caso do
concreto projetado existe uma clara tendência ao direcionamento preferencial da fibra
segundo o plano de projeção (ARMELIN e HELENE, 1995), conforme o apresentado na
Figura 3.27. Tal efeito induz a uma anisotropia para o material no que se refere ao consumo
energético pós-fissuração. Assim, se o concreto for comprimido no sentido perpendicular
ao plano de projeção apresentará um maior gasto energético pós-fissuração do que o
concreto comprimido no sentido paralelo ao plano de projeção.
47

Direção de Direção de ensaio 2


jateamento CARGA
o
projeçã
e
Plano d

Direção de ensaio 1
Direção de
ensaio 1

Direção de ensaio 2 DESLOCAMENTO

Ganho de energia
FIGURA 3.27: Anisotropia quanto à tenacidade segundo a direção de compressão no
concreto projetado (baseado em ARMELIN e HELENE, 1995).

3.4. Fadiga

A fadiga é a ruptura de um material por esforço cíclico, que ocorre num nível de
tensão inferior ao determinada durante o ensaio estático. Isto ocorre no concreto devido à
propagação das microfissuras existentes no material. À cada ciclo de carregamento as
fissuras tendem a se propagar diminuindo a área útil para transferência de tensão. Quanto
mais próxima a carga cíclica estiver da correspondente à resistência do material, menor será
o número de ciclos necessários para se atingir a ruptura do mesmo. Conforme o
apresentado no item 2.1, as fibras, atuando como ponte de transferência de tensão pelas
fissuras reduzem a propagação das mesmas possibilitando, o trabalho da estrutura de
concreto por um maior número de ciclos ou mesmo com um maior nível de tensão para a
mesma vida útil.
Deve-se ressaltar que, com a utilização de fibras de aço, mesmo quando o concreto
está fissurado, continua apresentado capacidade portante, dado o seu comportamento
pseudo-dúctil, inclusive quanto a esforços cíclicos. Num estudo experimental com corpos
de prova pré-fissurados de concretos reforçados com fibras de aço com ancoragem em
gancho, com fator de forma igual a 60, num teor de 2% em volume, o mesmo suportou
mais de 2,7x106 ciclos de tensões variando de 10% a 70% da resistência estática
(NAAMAN e HAMMOND, 1998). A restrição à propagação da fissura não está
condicionada à utilização de elevados teores de fibras como este. Mesmo pequenas
quantidades de fibras representam um ganho com relação à fadiga, como demonstraram LI
e MATSUMOTO (1998) em seu estudo teórico-experimental. Tal resultado é
extremamente promissor para utilizações de concretos reforçados com fibras de aço sujeitas
a este tipo de esforço como é o caso dos pavimentos rígidos.
48

3.5. Durabilidade

As dúvidas com relação à durabilidade do concreto reforçado com fibras de aço são
frequentes e, em grande parte, não estão tecnicamente embasadas. Isto se deve ao fato
natural de se observar fibras oxidadas na superfície de pavimentos e túneis, ou mesmo
daquelas que se perdem durante a reflexão do concreto projetado. No entanto, é
conveniente que se destaque o fato das fibras de aço não receberem nenhum tratamento
especial para evitar a corrosão, logo a sua durabilidade está condicionada ao seu
confinamento no meio fortemente alcalino (pH em torno de 12,5) do concreto onde
permanecerá apassivada. Estudos reportados por MEHTA e MONTEIRO (1994)
envolvendo ensaios de durabilidade a longo prazo, mostraram que as fibras no concreto
apresentaram mínimos sinais de corrosão e nenhum efeito deletério nas propriedades do
concreto após sete anos de exposição a ataque de sais de descongelamento. Assim, a
corrosão das fibras na superfície do concreto está associada à carbonatação do concreto que
se inicia justamente nesta região mais próxima da atmosfera e força a redução do pH.
Quando o mesmo atinge o valor de 9 o aço é despassivado e principia-se a corrosão
(OLLIVIER, 1998). No entanto, isto vem a indicar a necessidade de previsão de um
recobrimento, que pode ser até uma camada de sacrifício que garantirá uma seção mínima
de trabalho para a estrutura durante a sua vida útil.
No entanto, deve-se ressaltar o fato de que as fibras restringem a propagação das
fissuras no concreto. Como consequência direta da restrição à propagação das fissuras
proporcionada pelas fibras tem-se um aumento da resistência à entrada de agentes
agressivos com consequente aumento da durabilidade da estrutura (CHANVILLARD,
AITCIN e LUPIEN, 1989). Assim, é de se esperar que a estrutura apresente um
desempenho superior com relação à durabilidade com a utilização de fibras ao invés da
armadura contínua convencional. Isto ocorre porque para que haja corrosão da armadura no
concreto deve haver uma diferença de potencial, a qual pode ser originada por diferenças de
concentração iônica, umidade, aeração, tensão no aço ou no concreto. HELENE (1986)
aponta que a corrosão localizada, apesar de intensa e perigosa, é originada quando os
ânodos são de dimensões reduzidas e estáveis, sendo portanto rara no concreto armado.
Tanto maior será a dificuldade de se encontrar uma diferença de potencial numa armadura
quanto menores forem suas dimensões. Assim é o caso da fibra comparada com a armadura
convencional com barras contínuas. Este fato é confirmado por pesquisas que induziram a
um severo ataque o concreto armado com fibras. BENTUR e MINDESS (1990) relatam
uma série de pesquisas onde o desempenho do concreto reforçado com fibras foi superior
ao convencional, seja com ataques severos de cloretos, seja por efeito de congelamento.
Mesmo com o concreto fissurado a fibra apresenta uma capacidade resistente à corrosão,
como apontou o estudo desenvolvido por CHANVILLARD, AITCIN e LUPIEN (1989),
que não observou sinais de corrosão e perda de seção transversal por este fenômeno quando
a abertura de fissuras nos pavimentos não ultrapassou 0,2mm.

3.6. Resistência ao impacto

Como aponta o ACI (1988), baseado numa série de pesquisas, a resistência aos
esforços dinâmicos como cargas explosivas, queda de massas, e cargas dinâmicas de
compressão, flexão e tração é de 3 a 10 vezes maior do que os valores obtidos para o
49

concreto sem reforço. Isto advém do fato de ser grande a quantidade de energia dissipada
no concreto com fibras. O acréscimo na dissipação de energia é proveniente da necessidade
de se arrancar a fibra da matriz para a ruptura do material. Todo o material dúctil apresenta
maior resistência ao impacto por proporcionar uma maior dissipação de energia pelas
deformações plásticas que é capaz de apresentar. De maneira semelhante, o material
pseudo-dúctil produzido pelo reforço de fibras de aço no concreto irá requerer um maior
gasto energético para a sua ruptura por esforço dinâmico.
Existem várias formas diferentes de ensaios para medir a resistência dos concretos
reforçados com fibras aos esforços dinâmicos. O mais simples destes métodos é o
preconizado pelo ACI (1989), o qual consiste na queda de uma massa sobre uma esfera de
aço que é apoiada sobre um determinado ponto fixo do corpo de prova. O ensaio é
meramente comparativo, isto é, possui um caráter qualitativo. Ele serve para avaliar o
ganho de desempenho que o concreto apresenta quando da adição de fibras de aço. O
melhor desempenho está associado ao material que exigir um maior número de quedas da
massa para se produzir uma primeira fissura e, subsequentemente, o colapso do material. O
mesmo ACI (1989) reconhece as limitações deste ensaio, incluindo aí sua grande
variabilidade, e recomenda um outro ensaio instrumentado que permite a mensuração da
tenacidade na fratura, a dissipação de energia, a resistência última e sua respectiva
deformação segundo diferentes taxas de carregamento ou deformação. Para tal, o ACI
(1989) prevê dois sistemas básicos para o ensaio: a queda de uma massa guiada por duas
colunas e o sistema de pêndulo de Charpy. Em qualquer um dos casos deve ser
providenciado um sistema eletrônico de medida contínua para deformação de modo a se
obter as curvas de carga de impacto por deformação. A resistência ao impacto e outros
esforços dinâmicos são determinações complexas, que exigem um cuidado especial de
quem as executa.

3.7. Outras propriedades e características

A retração e a fluência são pouco afetadas pela adição de fibras. Ao menos é isto o
que tem apontado uma série de testes (ACI, 1988). Como estes fenômenos estão associados
ao movimento de fluídos dentro do concreto, a fibra representa pouca ou nenhuma restrição
quando o concreto permanece não fissurado. No entanto, quando a retração é restringida, as
fibras podem proporcionar um benefício no que se refere ao controle da fissuração. Em
testes utilizando anéis de COUTINHO (1954) alguns pesquisadores (ACI, 1988) mostraram
que as fibras contribuem para reduzir a quantidade de fissuras bem como sua abertura
média.
A erosão proveniente do desgaste provocado pelo atrito de pequenas partículas ou
pelo trânsito de pessoas ou veículos que não estão associados a esforços de impacto, pode
ser até maior no concreto reforçado com fibras. Isto ocorre pelo fato de se reduzir a
quantidade total de agregado graúdo no concreto reforçado com fibras (item 2.4), os quais
são os principais responsáveis com relação ao desempenho do concreto à abrasão nessas
condições. Por outro lado, quando o concreto está sujeito a desgaste associado a esforços de
impacto ou mesmo cavitação, um ganho de desempenho foi observado em condição de obra
(ACI, 1988), desde que garantidas as condições de acabamento superficial com um mínimo
de irregularidades.
50

4. DOSAGEM DO CONCRETO COM FIBRAS

As fibras de aço têm um papel muito importante na definição do custo do concreto


com elas reforçadas. Mesmo com consumos regulares, abaixo do volume crítico, que já
apresentam grandes vantagens para a aplicação do material (SHAH, 1991), o custo por
metro cúbico do concreto pode dobrar. Assim, para se garantir a viabilidade econômica do
CRFA, deve-se lançar mão de metodologias de dosagem que otimizem o seu consumo, isto
é, que definam o mínimo consumo necessário para atender às exigências de desempenho.
Cabe lembrar que a viabilidade econômica do CRFA não está baseada única e
exclusivamente no seu custo unitário, mas na economia global que ele pode proporcionar.
Na prática, principalmente internacional, não é raro se fixar traços,
independentemente das características da matriz e das fibras (MEHTA e MONTEIRO,
1994; MORGAN, 1995). Algumas recomendações (ACI, 1988), usando como referência a
norma americana ASTM C1018 (ASTM, 1994), simplesmente ignoram a influência das
características da matriz de concreto com a justificativa de que os índices desta norma “são
essencialmente independentes da matriz de argamassa ou concreto”, referindo-se ao
trabalho de JOHNSTON e GRAY (1986). O primeiro problema é que esta norma está
entrando em desuso devido à série de restrições que ela apresenta, mesmo quando
comparada com outras normas (MORGAN; MINDESS; CHEN, 1995) como é o caso da
tradicional JSCE-SF4 (1984), conforme o apresentado no item 3.1.1. No entanto, as
propriedades da matriz influem no comportamento do compósito, inclusive nos índices de
tenacidade da norma ASTM C1018 (ASTM, 1994). Num estudo de dosagem para concreto
projetado por via seca (FIGUEIREDO, 1997) foi observada uma intensa influência das
características da matriz no comportamento pós fissuração, o que pode ser observado na
Figura 4.1. A influência da resistência da matriz no fator de tenacidade, determinado pelo
critério japonês (JSCE-SF4, 1984a), também foi intensa como pode ser observado na
Figura 4.2. e ambos os critérios apontam para um mesmo comportamento básico. Em
ambos os casos, o desempenho da fibra é nitidamente reduzido quando temos um menor
consumo e, simultaneamente, uma maior resistência da matriz. Assim, para um consumo de
fibras de 20kg/m3 de concreto a relação de tenacidade ASTM obtida para o concreto de
37MPa de resistência à compressão foi de 28 enquanto para 48MPa se obteve 7, ou seja,
quatro vezes menor. Isto se justifica pelo fato do número de fibras presente na seção de
ruptura ser reduzido, assim, quando a resistência da matriz é maior, transfere um elevado
nível de tensão para as fibras no momento de sua ruptura, provocando escorregamento e
ruptura das fibras. Por outro lado, com o aumento do teor de fibras e consequentemente do
número de fibras presente na seção de ruptura, a tensão absorvida por cada uma delas no
momento em que a matriz se rompe é menor. Com isto, diminui-se o número de rupturas e
escorregamento das fibras e reduz-se, por consequência, a diferença de desempenho quanto
à tenacidade. Isto pode ser observado na Figura 4.1. para um teor de fibras de 80kg/m3 de
concreto, onde a relação de tenacidade ASTM do concreto de 37MPa foi 50 enquanto para
48MPa se obteve 35, ou seja, apenas 1,4 vezes menor. Tais resultados levam a concluir que,
para matrizes de maior resistência mecânica, deve-se lançar mão de duas alternativas para
se garantir o mesmo nível de desempenho quanto à tenacidade: ou se utiliza um maior teor
de fibras, ou se empregam fibras com elevado teor de carbono (MORAES; CARNIO;
PINTO Jr. 1998) para minimizar o efeito de ruptura das mesmas no momento em que a
51

matriz lhes transfere tensão. A escolha do maior ou menor teor de fibras é a síntese da
dosagem da fibra no concreto, enquanto a escolha da fibra deve seguir alguns parâmetros,
além da resistência da matriz e do seu próprio custo.
RELAÇÃO DE TENACIDADE (ASTM)

60

50

40

30

20

10

0
0 20 40 60 80 100
3
CONSUMO DE FIBRA (kg/m )

48MPa 37MPa
FIGURA 4.1: Curvas de dosagem segundo o critério ASTM C1018 para uma mesma fibra
de aço em concretos projetados via seca com diferentes níveis de resistência à compressão
(FIGUEIREDO, 1997)

A escolha da fibra deve levar em conta inicialmente a aplicação a que o concreto


reforçado com fibras se destina. Conforme já foi apontado no item 2.4, pode-se lançar mão
de fibras mais longas, caso o agregado empregado seja de maiores dimensões. No caso do
concreto projetado, há uma forte restrição com relação ao comprimento da fibra, uma vez
que o concreto deverá passar por uma tubulação. O ACI (1984) recomenda que o
comprimento da fibra seja metade do diâmetro interno do mangote. Como os mangotes têm
diâmetros máximos da ordem de 63,5mm, o comprimento máximo da fibra seria da ordem
de 32mm. No entanto, para pequenas variações no diâmetro pode-se obter sensíveis
alterações no desempenho do material quanto à tenacidade por alterar o fator de forma
(item 1.). No gráfico apresentado na Figura 4.3. se encontra apresentado o resultado obtido
com os tipos de fibras apresentados na Tabela 4.1. e para uma matriz uniforme de concreto
projetado de resistência média em torno de 35MPa (FIGUEIREDO, 1997). A correlação de
desempenho foi obtida em função do número de fibras presentes na seção de ruptura.
Percebe-se nitidamente que fibras de menor fator de forma apresentam um maior
desempenho para um dado número de fibras presente na seção de ruptura. Isto ocorre
devido à maior seção transversal da fibra, o que proporciona uma maior área de contato
com a matriz e aumenta a resistência ao arrancamento individual. No entanto, como as
fibras são dosadas não em número mas em volume ou massa por metro cúbico de concreto,
as fibras de menor fator de forma estarão presentes em muito maior número na seção de
ruptura, o que irá conferir um maior desempenho global para um dado teor. Isto pode ser
52

verificado na figura 4.4. onde as mesmas fibras têm seu respectivo desempenho
correlacionado com o consumo das mesmas.
FATOR DE TENACIDADE

4
3,5
3
2,5
(MPa)

2
1,5
1
0,5
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
3
CONSUMO DE FIBRA (kg/m )

48MPa 37MPa
48MPa
37MPa
FIGURA 4.2: Curvas de dosagem segundo o critério JSCE-SF4 para uma mesma fibra de
aço em concretos projetados via seca com diferentes níveis de resistência à compressão
(FIGUEIREDO, 1997)

No caso dos concretos convencionais, o melhor desempenho pode ser obtido pelo
aumento do comprimento da fibra, conforme já foi apresentado no item 2.3. Um exemplo
prático foi o obtido por FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI (1997) que compararam o
desempenho de duas fibras de mesma seção transversal e comprimentos distintos. Uma
fibra com 36mm de comprimento e outra com 45mm, o que corresponde a fatores de forma
de 33,6 e 42,0 respectivamente, uma vez que a seção transversal era retangular com 1,8mm
por 0,5mm. As duas fibras possuíam ancoragem em gancho. O concreto possuía o traço de
1:1,77:2,55:0,50 com um abatimento de 80±10mm. O consumo de fibras foi de 30 kg/m3 de
concreto. Realizou-se o ensaio com dez corpos de prova e determinou-se o fator de
tenacidade segundo o critério da recomendação JSCE-SF4 (1984). As curvas médias
obtidas no ensaio estão apresentadas na Figura 4.5. Ressalte-se que a região de
instabilidade pós pico foi removida no sentido de se verificar o desempenho do material
sem essa interferência. Foi obtido um valor de 1,53MPa para o fator de tenacidade da fibra
curta e 2,41MPa para a fibra longa, o que corresponde a um ganho de desempenho de
57,5% no fator de tenacidade com 99% de nível de confiança (FIGUEIREDO, CECCATO
e TORNERI, 1997).
53

Uma das grandes vantagens da utilização de concretos com reforços de fibras em


pequeno volume (inferior a 1% em volume ou 80 kg/m3) é a sua pouca ou nenhuma
influência nas propriedades da matriz de concreto (FIGUEIREDO, 1997). A exceção fica
por conta do abatimento, sem no entanto interferir nas condições de compactação
(CECCATO, NUNES e FIGUEIREDO, 1997). Assim, a dosagem da fibra para uma dada
matriz de concreto pode ocorrer independentemente da dosagem da mesma, tendo por
objetivo apenas alcançar o nível de desempenho esperado quanto à tenacidade, sua
principal preocupação. As únicas diretrizes práticas para a matriz é a compatibilização do
tamanho do agregado graúdo com o comprimento da fibra e as demais considerações
práticas descritas no item 2.4. Além disso, é recomendável a utilização de um teor de
argamassa mínimo da ordem de 50% em conjunto com certos limites máximos para a
relação água/cimento e para a relação água/materiais secos da ordem de a/c=0,55 e de
H=11,5%, respectivamente (FIGUEIREDO, 1997). Isto é automaticamente atendido para o
caso do concreto projetado (FIGUEIREDO, 1999) mas pode exigir alguns ajustes para os
concretos plásticos.

TABELA 4.1: Características básicas das fibras analisadas.

FIBRA FORMATO LONGITUDINAL SEÇÃO FATOR DE


TRANSVERSAL FORMA

F1 0,50mm 46,7
25mm
0,45mm

F2 0,50mm 60,0
30mm

F3 30mm 0,65mm 46,2

0,50mm
F4 27,3
25mm
1,35mm
54

FATOR DE TENACIDADE (MPa) 6

5
F1
4 F2
F3
3 F4

0
0 40 80 120 160
NÚMERO DE FIBRAS NA SEÇÃO DE RUPTURA

FIGURA 4.3: Fator de tenacidade em função do número de fibras presente na seção de


ruptura (FIGUEIREDO, 1997).

7
FATOR DE TENACIDADE (MPa)

4
F2
3 F2
F3
2 F3
F4
1 F4

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
CONSUMO DE FIBRA (kg/m3)

FIGURA 4.4: Fator de tenacidade em função do consumo de fibra por metro cúbico de
concreto projetado (FIGUEIREDO, 1997).
55

CARGA (kN)

40,0
35,0

30,0

25,0
Fibra A
20,0
B Fibra B
15,0
10,0
A
5,0

0,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

DEFLEXÃO (mm)

FIGURA 4.5: Comparação de desempenho entre a uma fibra curta A (36mm) e a fibra
longa (45mm) segundo FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI (1997).

Assim, uma metodologia de dosagem do concreto com fibras deve levar em conta,
além do tipo de fibra a ser utilizada, as propriedades da matriz de concreto, a qual deve ser
dosada de modo a atender as exigências de desempenho quanto à trabalhabilidade,
resistência à compressão, resistência à tração na flexão, etc. (HELENE e TERZIAN, 1992).
Esta proposição é ilustrada pelo estudo experimental apresentado a seguir.

4.1. Estudo experimental

Neste estudo procurou-se manter a trabalhabilidade constante, fixando a


consistência medida pelo abatimento de tronco de cone (NBR 7223) em 90±10mm, o que
foi feito através da utilização de um aditivo plastificante. Uma única fibra de aço com
ancoragem em gancho foi utilizada no estudo. Seu comprimento era de 36mm e possuia
seção retangular de 0,50mm por 0,8mm, o que resultou num fator de forma de 33,6. A
resistência à tração da fibra era da ordem de 600MPa e seu teor variou de 0 a 40 kg por
metro cúbico de concreto. Três níveis de resistência à compressão (20 MPa, 30 MPa, and
40 MPa) foram adotados e os respectivos traços, bem como a notação adotada, se
encontram apresentados na Tabela 4.2.
56

Tabela 4.2: Características dos concretos utilizados


Mistura fck Traço (1:a:b:x*) Consumo de Consumo de fibra
(MPa) cimento (kg/m3) (kg/m3)
F20-0 0
F20-20 20 1:2.50:3.20:0.60 320 20
F20-30 30
F20-40 40
F30-0 0
F30-20 30 1:1.77:2.55:0.50 400 20
F30-30 30
F30-40 40
F40-0 0
F40-20 40 1:1.27:2.10:0.41 490 20
F40-30 30
F40-40 40
*traço:
a = agregado miúdo
b = agregado graúdo
x = relação água/cimento

Os valores obtidos nos ensaios de determinação da resistência à compressão (NBR


5739) e tenacidade e resistência à tração na flexão (JSCE-SF4, 1984) se encontram
apresentados na Tabela 4.3 em termos de valores médios e seus respectivos desvios padrão.
As curvas de carga por deflexão individuais e média obtidas para o concreto F20-40 se
encontram apresentadas na Figura 4.6 como exemplo, da mesma forma que, na Figura 4.7,
se apresentam as curvas médias obtidas para os concretos de resistência característica
20MPa.

Tabela 4.3: Valores médios e desvio padrão das resistências e tenacidade obtidas no
programa experimental.
Mistura Resistência à Resistência à Fator de Coeficiente de
compressão (MPa) tração na flexão tenacidade-FT variação para FT (%)
(MPa) (MPa)
F20-0 25,7 4,7 -
F20-20 24,7 5,3 1,6±0,3 19
F20-30 22,1 4,4 2,0±0,3 15
F20-40 25,4 5,2 2,5±0,4 16
F30-0 27,0 4,3 -
F30-20 32,5 5,2 1,7±0,2 12
F30-30 37,5 5,9 2,0±0,4 20
F30-40 38,7 6,8 2,8±0,6 21
F40-0 43,6 6,3 -
F40-20 45,2 7,2 1,7±0,4 24
F40-30 39,7 6,4 2,8±0,2 7
F40-40 45,5 7,1 2,7±0,2 7
57

C a rg a (K N )
40

35

30

25

20

15

10

0 0 ,5 1 1 ,5 2 2 ,5 3

D e fle xã o (m m )

C urva m é dia

Figura 4.6: Curvas de carga por deflexão individuais e média para o concreto F20-40.

Carga (kN)
35
30
25
20
15
10
5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Deflexão (m m )

3 3 3
20kg/m 30kg/m 40kg/m

Figura 4.7: Curvas médias obtidas para os concretos com fck = 20 MPa.
58

Os valores obtidos para a resistência à compressão confirmam o esperado para os


traços. E a resistência à tração na flexão não apresentou nenhuma correlação com o teor de
fibra. Este comportamento comprova o fato de que, quando se trabalha com teores de fibra
abaixo do volume crítico, não se tem nenhum ganho expressivo na resistência à tração do
concreto. Por outro lado, os valores de resistência à tração na flexão mostraram uma boa
correlação com a resistência à compressão do concreto, mostrando a sua grande
dependência das características da matriz tão somente. Tal correlação se encontra
apresentada na Figura 4.8. Por outro lado, o comportamento pós fissuração do CRFA,
medido através do fator de tenacidade (JSCE-SF4, 1984) mostrou uma excelente correlação
com o teor de fibra, realçando a sua dependência do mesmo conforme analisado a seguir.

fct – resistência à tração na flexão


(MPa)

fct = fc*0.108+2.054 r2=0.848


6

4
20 25 30 35 40 45 50
fc – Resistência à compressão (MPa)

regressão

Figura 4.8: Correlação entre resistência à compressão e resistência à tração na flexão para o
CRFA.

O aumento da capacidade portante pós-fissuração é uma das principais


contribuições da fibra de aço para o concreto e a tenacidade é a propriedade cujo
incremento é o principal objetivo da adição da fibra (BENTUR e MINDESS, 1990). Assim,
a correlação entre tenacidade e teor de fibra é fundamental para a dosagem da mesma. O
modelo exponencial (FIGUEIREDO, 1997) tem apresentado excelentes resultados, não
importando qual o índice utilizado como referência de medida para a tenacidade. Este
modelo é apresentado na equação (13) e as correlações obtidas estão apresentadas nas
equações (14), (15) e (16), para os concretos de resistência à compressão de 20 MPa, 30
MPa, e 40 MPa respectivamente.
59

A
FT = ------------------- (13)
(0,1*CF)-½
B
onde,
FT = Fator de tenacidade calculado segundo a norma JSCE-SF4 (MPa).
A e B = Constantes, e
CF = Consumo de fibra (kg/m3)
Para o concreto com 20MPa obteve-se:
7,02
FT = ------------------------ (14)

(0,1*CF)
8,25
Coeficiente de determinação r2 = 0,979

Para o concreto com 30MPa obteve-se:


8,27
FT = ------------------------ (15)

(0,1*CF)
9,87
Coeficiente de determinação r2 = 0,886

Para o concreto com 40MPa obteve-se:


9,77
FT = ------------------------ (16)

(0,1*CF)
11,03
Coeficiente de determinação r2 = 0,979

Estas correlações se encontram apresentadas na Figura 4.9 onde a não linearidade


das mesmas é clara. Este ganho não linearmente proporcional de tenacidade com o aumento
do teor de fibra é explicado pelo modelo proposto por ARMELIN e BANTHIA (1997).
Neste modelo, quando maior for o teor de fibra, maior será a deformação plástica da região
comprimida sobre a fissura que surge na parte superior do corpo de prova. Assim, a energia
dissipada nesta deformação plástica representa uma perda no desempenho do conjunto com
relação à tenacidade.
Como apresentado na Figura 4.9, pode-se observar um aumento no desempenho
com relação à tenacidade à medida que se teve um incremento na resistência mecânica da
matriz. Isto pode ser justificado neste caso pela melhora na aderência entre fibra e matriz
proporcionada pela maior qualidade da última o que aumenta a resistência ao arrancamento
da fibra (BENTUR e MINDESS, 1990). Esta constatação não é sempre encontrada para o
CRFA, uma vez que, para fibras longas e concretos de elevada resistência, a carga
60

necessária para o arrancamento da fibra é tão grande que pode levar à ruptura de algumas
das mesmas, reduzindo o desempenho pós-fissuração. Tal fato levou alguns fabricantes a
produzir fibras de aço com alto teor de carbono e, consequentemente, elevada resistência
mecânica destinadas ao reforço de concretos de elevada resistência, com desempenho
nitidamente superior em relação às fibras convencionais, principalmente quando possuem
maiores comprimentos e utilizadas em baixos teores (MORAES; CARNIO; PINTO Jr.,
1998). Nestes casos, as fibras que ficam inclinadas em relação ao plano de ruptura acabam
tendo uma maior probabilidade de serem rompidas por cisalhamento.

3,5
FATOR DE TENACIDADE

2,5
(MPa)

1,5

1
15 20 25 30 35 40 45
CONSUMO DE FIBRA (kg/m3)
fck20 fck20 fck30 fck30 fck40 fck40

Figura 4.9: Correlações obtidas entre o fator de tenacidade e o teor de fibras para as
diferentes matrizes de concreto.

Por este estudo experimental pode-se concluir que não é possível dosar a fibra de
aço independentemente das características da matriz de concreto. O modelo exponencial
apresentado por FIGUEIREDO (1997), apresentou-se como um interessante instrumento
para a dosagem da fibra. Como um exemplo, se for especificado um fator de tenacidade de
2,5 MPa para o CRFA, será necessário um consumo de fibra de 42kg/m3 para o concreto
com fck = 20MPa, ou de 37kg/m3 para o concreto com fck = 30MPa, ou ainda de 31kg/m3
para o concreto com fck = 40MPa. Isto ocorreu porque, neste caso particular, houve um
ganho de tenacidade com o aumento da resistência do concreto.
61

5. APLICAÇÕES

5.1. Concreto para pavimentos

No Brasil, segundo os fabricantes de fibras, já se superou a marca dos dois milhões


de metros quadrados de pavimentos industriais executados com fibras de aço. Isto ocorre
apesar de alguns aspectos de sua tecnologia ainda carecem de informações básicas e
apresentarem uma grande necessidade de desenvolvimento e popularização. Tal
popularização só ocorrerá de modo pleno quando da obtenção de uma normalização
mínima sobre o assunto, que garantirá um veículo eficiente de transferência dessa
tecnologia para o meio, proporcionando uma maior confiabilidade para a mesma. No
entanto, algumas vantagens tecnológicas do uso de fibras de aço em pavimentos são
inquestionáveis, quando comparado ao uso das telas de aço soldadas:

a) Não existe a etapa de colocação das telas metálicas, o que reduz o tempo total de
execução da obra e o número de operários necessários para a execução dessa etapa da
execução do pavimento.
b) Há também uma economia de espaço na obra, uma vez que não é necessário estocar a
armadura.
c) As fibras não requerem o uso de espaçadores como as telas metálicas e, no caso de se
utilizar um concreto com consistência adequada e sem excesso de vibração, garantem o
reforço de toda a espessura de concreto do pavimento. Isto nem sempre ocorre com o
uso de telas metálicas, que podem ser deslocadas com a passagem de carrinhos de mão
deixando a parte superior da placa sem reforço.
d) As fibras também permitem o corte das juntas de dilatação sem a necessidade de barras
de transferência pré-instaladas. Além disso, as fibras reforçam as bordas das juntas
minimizando o efeito de lascamento nessas regiões.
e) Existe uma maior facilidade de acesso ao local da concretagem, podendo-se, em alguns
casos, atingir o local de lançamento do concreto com o próprio caminhão betoneira, o
que é quase sempre impossível quando da utilização de telas metálicas que impedem o
livre trânsito de pessoas e equipamentos após a sua instalação.
f) Não representam restrição quanto à mecanização da execução do pavimento.

No entanto, nem tudo é vantagem no uso das fibras. Como toda tecnologia o
concreto reforçado com fibras possui suas limitações e até desvantagens. Se por um lado a
fibra minimiza o quadro geral de fissuração do pavimento, isto contribui para o aumento do
risco de empenamento do pavimento por retração diferencial (ALVAREDO, 1994).
Portanto, a observação dos cuidados relativos à cura é fundamental. Mesmo após a
realização do correto acabamento superficial do pavimento, algumas fibras ficam na
superfície do concreto. Estas fibras estarão particularmente susceptíveis à corrosão o que
irá provocar o aparecimento de um certo número de pontos de ferrugem no mesmo
prejudicando, de certa forma, o aspecto estético do mesmo.
62

5.2. Concreto projetado para túneis

São Paulo se caracteriza por ser uma das maiores concentrações mundiais com uma
população em torno de 15 milhões. Por esta razão, qualquer novo empreendimento da área
de transporte, onde a cidade apresenta problemas crônicos, irá implicar num grande custo
em termos de desapropriações. Este fato faz do Metrô e dos túneis rodoviários urbanos
alternativas economicamente viáveis, passíveis de construção.
Grandes somas vem sendo gastas recentemente em tentativas de melhoria das
condições de trânsito em São Paulo com a construção de túneis (CASARIN, 1996), sendo
na sua grande maioria pelo método NATM (New Austrian Tunnelling Method) onde o
concreto projetado é um elemento fundamental (CELESTINO, 1991 e ATTEWELL, 1995).
Atualmente, a demanda de novos túneis, notadamente para novas linhas do Metrô, são
estimadas em dezenas de quilômetros. Além das obras urbanas se destacam as rodoviárias,
quer sejam federais ou estaduais, como foi a Rodovia dos Imigrantes, onde o concreto
projetado teve sua primeira grande aplicação (FIASCO NETO, 1976). Tais obras se
constituem num mercado promissor para empresas de projeto, construção e controle de
grandes obras.
O concreto projetado reforçado com fibras de aço é um dos recentes
desenvolvimentos alcançados para a execução do revestimento de túneis. Ele apresenta uma
série de vantagens quando comparado ao reforço da tela metálica.
A fibra altera o sistema tradicional de escavação e execução do revestimento dos
túneis construídos pelo método NATM. As principais etapas da execução pelo método
tradicional estão descritas a seguir:
a) A escavação – Quando a execução dos túneis ocorre em solos, o que é frequente no
Brasil, não se utiliza o corte da frente por meio de explosivos, mas se exige um
elevado desempenho do concreto com relação ao desenvolvimento resistências
iniciais. O avanço médio por ciclo de escavação dificilmente ultrapassa um metro e
exige uma grande velocidade de aplicação do revestimento.
b) Locação das cambotas - O uso de perfis calandrados ou pesadas treliças é creditado à
necessidade de suporte imediato e o mesmo acaba atuando como gabarito para a
execução do túnel. No entanto, pelas dificuldades de escavação, ela não permanece
em contato direto com o solo, não sendo carregada até o momento em que o concreto
projetado é aplicado e passe a ganhar resistência mecânica e permitir a transferência
de tensões na interação solo/estrutura.
c) Aplicação do revestimento primário de concreto projetado - A aplicação de uma primeira
camada de concreto projetado é feita entre as duas últimas cambotas instaladas. Como
este processo conduz à necessidade de se projetar o concreto contra os perfis ou
barras metálicas, a ocorrência do efeito sombra e da oclusão da reflexão
(FIGUEIREDO, 1992), acaba por ser facilitada, produzindo uma descontinuidade no
revestimento do túnel, que estará mais sujeito à fissuração e à entrada de água do
subsolo e agentes agressivos.
d) Colocação da tela soldada - Antes da aplicação da segunda camada de concreto projetado
do revestimento primário, fixa-se uma tela de aço na superfície da primeira. Tal
procedimento é demorado e aumenta bastante o tempo de ciclo de escavação. Esta
tela, bem como as cambotas, compõe a armadura do revestimento primário do túnel.
63

e) Projeção da segunda camada de concreto projetado - A segunda camada de concreto


projetado do revestimento primário é aplicada diretamente sobre a tela. Neste
procedimento é comum a ocorrência do já citado efeito sombra e do aumento da
reflexão devido à vibração da tela (FIGUEIREDO, 1992).
Este método foi desenvolvido graças às concepções estabelecidas por
RABCEWICZ (1964a, 1964b, 1965), e sua principal característica é de aproveitar a
capacidade portante do maciço. Permitindo um certo nível de deslocamento ao maciço, o
nível de carregamento a que estará submetido o revestimento será menor que o
originalmente existente na região de escavação. Na Figura 5.1. se encontra apresentada uma
curva típica com diferentes níveis de reação do suporte (MELBYE, 1994). O nível de
tensão a que estará submetido o revestimento depende da sua velocidade de ganho de
resistência e do momento em que o mesmo é aplicado. No caso da utilização de um
concreto simples, se houver ruptura do concreto pelo excesso de deslocamento ou pelo
elevado nível de carregamento, o túnel perde sua estabilidade. Quando da utilização da
fibra, pode haver uma re-acomodação de esforços que levam o túnel a estabilizar num nível
de tensão mais baixo.

CARGA Deformação radial

Carga

Grande capacidade,
muito rígido, falha Reação do maciço
Trabalho plástico da fibra

Pouco rígido,
com COLAPSO
evolução de
Soluções ótimas resistência
muito lenta

Concreto
sem reforço

DEFORMAÇÃO RADIAL
FIGURA 5.1: Diferentes tipos de reação do revestimento do túnel e sua interação com o
maciço.

Algumas das vantagens específicas do uso de fibras de aço no concreto projetado


destinado à execução do revestimento de túneis estão listadas a seguir:
64

a) O concreto projetado reforçado com fibras de aço pode ser aplicado imediatamente após
a escavação. Assim, o risco de acidentes por desprendimento de parte do maciço,
comum em solos de argila dura fraturada como ocorre na região sul do município de
São Paulo, é reduzido.
b) A velocidade de execução do túnel é aumentada pela eliminação da fase de instalação da
cambota e tela metálica. No sistema tradicional, o ciclo completo de escavação de um
túnel de 50 m2 de área de seção transversal demanda mais de quatro horas. Com a
utilização de fibras isto pode ser reduzido a cerca de três horas acelerando a execução
da estrutura e economizando em mão-de-obra. No entanto, este procedimento irá
acarretar uma maior exigência quanto à resistência inicial como demonstrou
CELESTINO (1996) e maiores riscos de ruptura do revestimento. Assim, um
revestimento primário em concreto projetado com fibras de aço que apresenta maior
capacidade de deformação para permitir a estabilização da estrutura num nível menor
de tensão, mostra-se compatível com as condições típicas de um túnel executado pelo
método NATM (Figura 5.1).
c) Normalmente tem-se uma grande fissuração associada ao revestimento primário de
concreto projetado que deve acomodar as grandes deformações iniciais do maciço
recém escavado (ARMELIN et al. 1994), a qual deve ser reduzida com a utilização
das fibras que impedem a sua propagação (BENTUR e MINDESS, 1990).
e) A durabilidade do revestimento pode ser majorada com a utilização das fibras devido à
redução da fissuração, que é o caminho preferencial de entrada de agentes agressivos
no túnel, além do fato da fibra ser um elemento descontínuo e muito menos sujeito à
corrosão eletrolítica do que as barras contínuas das telas ou cambotas.
f) Uma redução da reflexão pode ser conseguida com a eliminação da tela e,
consequentemente da sua vibração, além da eliminação de irregularidades, como as
cambotas.
A eliminação da cambota poderá trazer outras vantagens com a redução do consumo
de aço total e dos riscos de acidentes associados à sua locação.
Os teores recomendados para o concreto projetado normalmente não excedem os
80kg/m3 (MORGAN, 1995) devido ao aumento dos custos e às restrições que o processo de
projeção impõe, e pelo fato dos teores incorporados serem menores que aqueles de
dosagem (ARMELIN, 1992) no caso do concreto projetado. Consequentemente, a maioria
das especificações (MORGAN, 1991) impõe exigências de índices de tenacidade segundo a
norma ASTM C1018 (1994) que são obtidos com teores de fibra inferiores ao do volume
crítico: I5=3,5; I10=5,0 e I30=14,0.

5.3.Outras aplicações

No caso específico do concreto de alta resistência, onde a elevada resistência produz


planos de ruptura extremamente regulares por não contornarem os agregados, temos uma
menor área de superfície de fratura e, consequentemente, um material mais frágil (MEHTA
e MONTEIRO, 1994).
Em obras em que a estrutura está muito sujeita a esforços dinâmicos, como é o caso
das estruturas construídas em regiões sujeitas a abalos sísmicos ou mesmo sujeitas à fadiga
por esforço cíclico é viável a utilização de concretos reforçados com fibras para se
minimizar o dano causado por estes esforços e minimizar a fissuração da estrutura. Isto
garante uma maior vida útil para o material da estrutura, conforme o verificado em estudos
65

experimentais em vigas de ligação para paredes gêmeas sujeitas a esforços cortantes


(WIGHT e ERKI, 1995).
Outra utilização onde a resistência ao impacto é particularmente importante são as
construções militares (CÁNOVAS, 1997), onde há o risco de impactos provocados pelos
mais variados projéteis. Há um enorme potencial do concreto reforçado com fibras para
este tipo de construção, pois o mesmo tem todas as condições para proporcionar um
desempenho superior ao do concreto convencionalmente armado.
A indústria de pré-moldados é outro grande campo de aplicação dos concretos com
fibras devido à maior velocidade de produção que seu uso proporciona. Isto advém do fato
de eliminar a demorada fase de instalação da armadura nas fôrmas previamente ao
lançamento do concreto.

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