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Ação de consignação em pagamento

Antônio Carlos Marcato

1. O pagamento por consignação: Na dicção do art. 304 do CC, “qualquer interessado na


extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à
exoneração do devedor, salvo oposição deste.”

Extrai-se da previsão legal, em primeiro lugar, que o pagamento representa o modo normal de
extinção da obrigação, pelo cumprimento voluntário da prestação devida. Extrai-se, mais, que
não sendo a obrigação voluntariamente desfeita dessa forma – seja porque o credor se
recusou injustificadamente a receber o pagamento, ou a dar quitação, seja porque o devedor
ficou impedido, por motivos alheios à sua vontade, de realizar o pagamento (v. CC, art. 335)
–, resta a esse último, ou a qualquer outro interessado na extinção da obrigação, a via
anormal do pagamento por consignação (CC, arts. 334 a 345).

Em nosso país essa modalidade de pagamento assumiu a forma judicializada de desfazimento


do vínculo obrigacional, razão pela qual o devedor, ou o terceiro interessado no pagamento,
depende da realização do depósito judicial para liberar-se da dívida (ressalvadas as situações
que autorizam o depósito extrajudicial, a seguir examinadas), valendo-se, para tanto, da
denominada ação de consignação em pagamento.

O Código de Processo Civil regula o procedimento consignatório em seus arts. 890 e seguintes.
A consignação de aluguéis ou encargos da locação, deverá observar o procedimento previsto
no art. 67 da Lei 8.245, de 1991, conhecida como Lei de locação de imóveis prediais urbanos.

2. A extinção da obrigação por meio do pagamento por consignação: Nascida a


obrigação, será ela naturalmente extinta, como já dito, por meio do pagamento, ou seja, no
momento em que o devedor satisfaça o credor, cumprindo a prestação devida, extingue-se o
vínculo obrigacional (CC, arts. 304 a 333). Mas nem sempre a obrigação é voluntariamente
desfeita dessa forma, quer porque o devedor se tornou inadimplente, não ofertando a
prestação no tempo, lugar ou modo estabelecidos pela lei ou pelo contrato (mora do devedor
ou mora solvendi – CC, arts. 394 e ss.), quer porque o próprio credor se recusa
injustificadamente a receber o pagamento, ou a dar quitação (mora do credor ou mora
accipiendi), quer, finalmente, porque o devedor ficou impedido, por motivos alheios à sua
vontade, de realizar o pagamento.

Nos dois últimos casos (mora accipiendi e impossibilidade de pagamento por motivo alheio à
vontade do devedor) poderá a obrigação ser extinta por meio do pagamento por consignação
(CC, arts. 334 a 345), que se perfaz com o depósito, judicial ou extrajudicial, da quantia ou
coisa devida, o qual, sendo aceito pelo credor ou reconhecido como válido e suficiente pelo
juiz, tem o condão de extinguir a obrigação, liberando o devedor.

3. Situações autorizadoras do pagamento por consignação: O art. 335 do CC arrola as


situações que possibilitam ao devedor liberar-se da obrigação por meio do pagamento por
consignação.
3.1 Recusa do credor: A primeira delas diz respeito à recusa injustificada do credor em receber
o pagamento ou dar a correspondente quitação (v. CC, art. 320).

Essa situação diz respeito às dívidas portáveis (portables), quais sejam as que impõem ao
devedor o ônus de oferecer o pagamento no domicílio do credor, ou em outro local por ele
designado (art. 327); sendo a dívida quesível (quérable), isto é, a que impõe ao credor o ônus
de buscar o pagamento no domicílio do devedor, a situação é aquela a seguir examinada.

3.2 A inércia do credor: Tratando-se de dívida quesível, cabe ao credor buscar o pagamento no
domicílio do devedor (CC, arts. 335, II, e 327, caput, 1ª parte). Não o fazendo no tempo ou no
local estabelecidos, nem mandando procurador em seu lugar, igualmente poderá o devedor
valer-se do pagamento por consignação para livrar-se da obrigação e de suas conseqüências
(arts. 337 e 400, 1a parte). O mesmo ocorrerá quando a obrigação tiver por prestação a
entrega de coisa consistente em corpo certo, a ser entregue no mesmo local onde se encontra
(v.g., coisa imóvel – arts. 328 e 341): se o credor não for, nem mandar procurador para
recebê-la, o devedor efetuará o pagamento por consignação.

3.3 Credor incapaz, desconhecido, ausente ou em local desconhecido ou inacessível: Também


é possível a consignação quando o credor for incapaz de receber, não seja conhecido pelo
devedor, houver sido declarado ausente (CC, arts. 22 e 335, III), ou residir em lugar incerto,
ou de acesso perigoso ou difícil (art. 335, III).

Exemplifiquemos cada um dos casos mencionados:

a) sendo o credor incapaz (CC, arts. 3º e 4º), o pagamento deverá ser feito na pessoa de seu
representante legal (no caso de incapacidade absoluta – v. CC, arts. 1.634, V, 1.775), ou
diretamente a ele, assistido que esteja, todavia, por seu representante legal (no caso da
incapacidade relativa). Ignorando o devedor quem seja o representante legal, ou se recusando
este a receber e dar quitação em nome do credor absolutamente incapaz, ou, no caso de
incapacidade relativa, a conceder a indispensável assistência, restará ao primeiro fazer uso da
via consignatória. Não será possível o depósito extrajudicial da quantia devida, visto que essa
modalidade de extinção da obrigação pressupõe a capacidade do credor;

b) o credor original morreu e o devedor, por ignorar quem seja seu herdeiro, desconhece quem
é o atual credor. Como o único modo de liberar-se da obrigação é o pagamento, o devedor,
ignorando a quem deva efetuá-lo, deverá promover ação de consignação em pagamento, pois
também inviável, neste caso, o depósito extrajudicial;

c) o credor foi declarado judicialmente ausente e, conseqüentemente, caberá ao seu curador


receber e dar quitação (CC, arts. 22 e ss.). Desconhecendo o devedor quem seja o curador do
ausente, ou, mesmo conhecendo-o, ignorar se tem poderes para receber e dar quitação,
poderá valer-se da ação de consignação em pagamento para liberar-se da obrigação,
igualmente não sendo possível, neste caso, lançar mão do depósito extrajudicial, pelas razões
adiante expostas;

d) o credor reside em local incerto, ou de acesso perigoso ou difícil. Como não é possível ao
devedor efetuar o pagamento nesses casos, a consignatória será a ação adequada para liberar-
se da obrigação, inviabilizado o depósito extrajudicial a que alude o primeiro parágrafo do art.
890 do CPC. Observe-se, porém, que a presente hipótese se refere somente à dívida portável;
sendo ela quesível, a inércia do credor caracteriza a hipótese examinada no n. 19.2.

3.4 Dúvida quanto à titularidade do crédito: Havendo dúvida quanto à titularidade do crédito,
por ignorar o devedor a quem deva validamente efetuar o pagamento entre os pretendentes
credores, poderá fazer uso do pagamento por consignação, promovendo a ação
correspondente (CC, art. 335, IV), também inviabilizado, neste caso, o depósito extrajudicial.

Exemplificando: A e B disputam em juízo a titularidade de determinado crédito. No curso do


processo a dívida torna-se exigível e o devedor tem dúvida se paga a A ou a B; caso pague a
qualquer dos dois, ciente do litígio, assumirá o risco do pagamento (CC, art. 344). Por outro
lado, o devedor não quer assumir o risco pelas conseqüências da sua mora, pois a dívida está
vencida (CC, arts. 394, 395 e 399), restando-lhe, diante de tal contingência, a consignação
judicial da prestação devida.

3.5 Litígio sobre o objeto do pagamento: Mesmo sendo conhecido o credor, poderá haver litígio
acerca do objeto do pagamento (CC, art. 335, V).

Explicitando: o credor é certo, mas entre ele e terceiro trava-se disputa judicial a respeito do
objeto do pagamento. Conseqüentemente, não pode o devedor simplesmente efetuar o
pagamento ao credor, pois se o fizer corre o risco de pagar mal. Terá, portanto, como única
forma de livrar-se da obrigação, o pagamento por consignação, a ser realizado pela via judicial
– também sendo inviável, nesta hipótese, o depósito extrajudicial previsto no primeiro
parágrafo do art. 890 do CPC.

3.7 Outras hipóteses: Além daquelas casuisticamente previstas no art. 335 do CC, há outras
hipóteses ensejadoras de pagamento por consignação, tais como na desapropriação (Decreto-
lei 3.365/41, arts. 33 e 34, par. único) e na liberação de débito fiscal (CTN, arts. 156 e 164).

4. Depósito extrajudicial: Até o advento da Lei 8.591, de 13 de dezembro de 1.994, o


depósito extrajudicial da quantia devida somente era possível quando tivesse por objeto
prestação oriunda de compromisso de compra e venda de lote urbano (arts. 33 e 38, § 1º, da
Lei 6.766/79), cabendo ao devedor, nos demais casos, realizar o depósito judicial, mediante a
propositura da ação de consignação em pagamento.

Modificou-se para melhor, com a lei por primeiro aludida (a qual, entre outras alterações de
monta, introduziu quatro parágrafos ao art. 890 do CPC), o panorama do direito pátrio, que
agora faculta ao devedor ou ao terceiro interessado no pagamento, presentes determinados
requisitos (adiante examinados), efetuar o depósito extrajudicial de qualquer prestação
pecuniária, inclusive aquelas relativas a aluguel e encargos da locação.

Apesar de previsto em norma processual, o depósito extrajudicial é instrumento de direito


material, representando modo alternativo de resolução de conflitos, apto à extinção de
obrigações de natureza pecuniária sem necessidade da intervenção do Estado-juiz, dele
podendo lançar mão qualquer devedor, bastando, para tanto, a presença dos pressupostos
adiante examinados.

Em síntese, temos hoje as seguintes situações envolvendo o pagamento por consignação:


A) Será necessariamente judicial o depósito que tenha por objeto coisa diversa de dinheiro, ou
quando não seja possível a utilização da via extrajudicial, valendo-se o devedor, ou o terceiro
interessado na extinção da obrigação, da ação consignatória, observado o procedimento
previsto nos arts. 890 e seguintes do CPC – salvo em se tratando de prestações envolvendo
aluguéis e encargos da locação, caso em que o procedimento a ser atendido é aquele
estabelecido pelo art. 67 da Lei 8.245, de 1991;

B) Tendo por objeto prestação oriunda de compromisso de compra e venda de lote urbano
(arts. 33 e 38, § 1º, da Lei 6.766, de 19.12.79), o depósito será necessariamente o
extrajudicial, carecendo o devedor da ação consignatória, por ausência de interesse de agir,
pois a especialidade da Lei de parcelamento do solo urbano afasta a incidência, nas prestações
que contempla, dos novéis dispositivos do CPC, devendo prevalecer, para fins de depósito, o
disposto em seus arts. 33 e seguintes;

C) Nos demais casos (e independentemente da origem da obrigação), caberá ao devedor optar


pela realização de qualquer dos depósitos aludidos, isto é, o judicial ou o extrajudicial,
excetuados os créditos da Fazenda Pública, que só poderão ser objeto de depósito judicial, via
ação de consignação em pagamento.

4.1 Requisitos do depósito extrajudicial: A realização e a efetividade do depósito extrajudicial


dependem do atendimento dos requisitos a seguir examinados:

a) objeto do depósito extrajudicial: seja pela clara dicção da lei, seja pela natureza da
atividade do estabelecimento depositário (agência bancária), fica excluída a possibilidade de o
depósito extrajudicial ter por objeto a coisa devida, prestando-se ele, exclusivamente, às
prestações pecuniárias, inclusive aquelas relativas a aluguel e encargo da locação. Em relação
a estas últimas, já tivemos a oportunidade de afirmar “que embora o depósito extrajudicial
venha previsto em norma de natureza processual, é ele instrumento de direito material, apto à
extinção de obrigações de natureza pecuniária, dele podendo lançar mão, conseqüentemente,
também o inquilino. É certo que em seu art. 67 a Lei de Locação Predial Urbana (Lei 8.245/91)
contempla um procedimento específico para a consignação de aluguéis e encargos, enquanto
que em seus arts. 890 e seguintes o CPC regula aquele destinado ao processamento das
demais consignatórias; mas a adoção de um ou outro desses procedimentos pressupõe, à
evidência, que o depósito pretendido pelo interessado seja o judicial, pois o extrajudicial
independe, como deflui de sua própria denominação, de qualquer atividade do interessado
perante o Judiciário. Em suma, creio ser perfeitamente possível o depósito extrajudicial de
aluguéis e encargos da locação; recusado que seja o depósito pelo credor, daí sim - e só então
- deverá o depositante valer-se da via jurisdicional, adotado, de acordo com a origem do
crédito, o procedimento judicial específico. Além disso, a posição contrária à ora externada
representaria, também segundo creio, uma clara negação aos escopos almejados pela lei, na
medida em que os conflitos envolvendo inquilino e locador são, notoriamente, de grande
incidência no dia a dia, nada mais justificando, à luz do atual sistema, continuem os primeiros
a valer-se necessariamente da jurisdição;

b) a existência, no lugar do pagamento, de estabelecimento bancário, oficial ou


particular: o interessado na liberação da dívida deverá efetuar o depósito extrajudicial em
agência de banco oficial existente no local do pagamento; não havendo, contará com a
colaboração de estabelecimento da rede privada. Observe-se, por outro lado, que a locução
local do pagamento deve ser compreendida no sentido amplo de foro do local do pagamento,
na medida em que, inexistindo agência bancária no local destinado ao pagamento (v.g., no
município onde o pagamento deva ser realizado), certamente haverá na sede da comarca a
que pertença;

c) beneficiário do depósito: deverá ser credor conhecido, certo, capaz, solvente,


inequivocamente titular do crédito e com domicílio conhecido pelo depositante. Se o
interessado na extinção da dívida desconhece quem seja o credor (dúvida quanto à identidade
física), ou havendo dúvida quanto a quem seja o titular do crédito (quando duas ou mais
pessoas se intitulam credoras - dúvida quanto à qualificação jurídica), descaberá o depósito
extrajudicial: no primeiro caso, pela óbvia impossibilidade de realização do depósito em favor
de pessoa desconhecida; no segundo, porque o depósito não pode ser condicional, devendo
referir-se a credor certo. Considerando, por outro lado, que o credor incapaz não poderá
validamente receber ou dar quitação (CC, art. 310 c.c. art. 166, I), nem terá valor legal a
eventual recusa que venha a manifestar em relação ao depósito efetuado em seu favor, fica
inviabilizado, no que a ele concerne, o depósito previsto no art. 890 do diploma processual
civil. O mesmo se diga em relação ao credor insolvente ou falido, pois nestes dois casos o
crédito deve figurar nas respectivas massas, já que aqueles perderam o direito de administrar
os seus bens (CPC, art. 752 e Lei de falências, art. 40). De outra parte, a existência de litígio
envolvendo a prestação devida igualmente representa óbice ao depósito extrajudicial, pois
estando em curso processo em que o credor figure como parte – e versando a pretensão
deduzida em juízo sobre o direito material do qual a prestação devida é oriunda –, opera-se,
com a citação válida do réu, a litigiosidade da coisa (CPC, art. 219), restando assim ao
devedor, ciente da existência do litígio e da ocorrência daquele fenômeno processual, apenas o
depósito judicial para se liberar da dívida, sob pena de, pagando diretamente a qualquer dos
litigantes, correr o risco de pagar mal e ter, no futuro, de repetir o pagamento ao legítimo
credor;

d) a ciência, pelo devedor, do local do domicílio do credor: é evidente a necessidade de o


depositante conhecer o local do domicílio do credor, pois este deverá ser cientificado, mediante
carta com aviso de recepção, do depósito efetuado em seu favor, a fim de que o levante ou,
sendo o caso, manifeste formalmente a sua recusa (art. 890, §§ 1º e 3º).

4.2 A realização do depósito extrajudicial: Presente qualquer das situações autorizadoras do


pagamento por consignação e sendo de natureza pecuniária a prestação devida, o devedor (ou
o terceiro interessado no pagamento) poderá valer-se, a seu exclusivo critério, do depósito
extrajudicial junto a estabelecimento bancário, efetuando-o em conta com correção monetária,
em nome e em favor do credor.

Efetuado o depósito e cientificado o credor por via postal, este poderá adotar qualquer das
seguintes atitudes: a) comparece à agência bancária e levanta o depósito, assim manifestando
sua aceitação expressa, operando-se, em conseqüência, o pagamento por consignação
previsto em lei (CC, art. 334), com a liberação do devedor da obrigação, ainda que o
depositante seja terceiro; b) não recusa formalmente o depósito no decêndio previsto em lei
(que começa a fluir da data da recepção da carta que lhe foi encaminhada), caso em que,
diante da aceitação tácita do depósito, opera-se o pagamento por consignação previsto em lei,
com a liberação do devedor da obrigação, permanecendo a quantia depositada à disposição do
credor; c) manifesta por escrito, junto ao banco depositário, a sua recusa à recepção da
quantia depositada; frustrada, então, a tentativa de liberação da dívida pela via extrajudicial,
poderá o depositante valer-se da judicial, promovendo a ação consignatória no prazo de trinta
dias a contar da ciência da recusa, instruindo a petição inicial com a prova do depósito e da
recusa; decorrido o prazo sem o ajuizamento da ação, ficará sem efeito o depósito bancário,
facultado o seu levantamento pelo depositante.

É evidente que a não-propositura da ação no prazo legal não obsta, ao interessado, o seu
ajuizamento posterior, desde que, agora, o valor consignando esteja devidamente atualizado.

Explicitando. O inútil escoamento do prazo a que alude o § 3o do art. 890 não tem o condão
de extinguir o direito (material) à consignação, nem representa óbice ao exercício do direito de
ação, constitucionalmente assegurado. Ao prever o depósito extrajudicial, a lei está a conferir
ao interessado no pagamento uma via diversa do acesso necessário e imediato à jurisdição
(como ocorria até o advento da Lei 8.951/94), sem, contudo, retirar-lhe esse direito de acesso.
Sucede, apenas, que a não-propositura da ação no trintídio acarreta o restabelecimento do
estado anterior à efetivação do depósito extrajudicial, ou seja, a dívida remanesce em aberto e
o credor continua insatisfeito, desta feita por inércia imputável ao devedor.

Implementado o 30o dia a contar do depósito extrajudicial, a não-propositura da ação


consignatória caracterizará o estado de mora do devedor, devendo a prestação, a partir daí,
ser acrescida de juros moratórios, multa (quando houver previsão a respeito) e corrigida
monetariamente (caso o devedor depositante tenha levantado o depósito) até que, em futuro
processo consignatório, seja efetuado o depósito a que alude o inc. I do art. 893 do CPC.

Em suma, a inércia do credor caracteriza a aceitação do depósito; a do devedor, não


promovendo a ação no prazo, a sua mora.

5. Ação de consignação em pagamento: Ressalvadas as hipóteses de consignação de


prestação devida em virtude de compromisso de compra e venda de lote urbano e de depósito
extrajudicial aceito pelo credor, em todos os demais deverá o interessado na extinção da dívida
valer-se da via judicial, promovendo a ação de consignação em pagamento, observado o
procedimento especial previsto nos arts. 890 e seguintes do CPC. Tratando-se da ação
consignatória de aluguéis e encargos, o procedimento a ser adotado é, como já salientado,
aquele estabelecido pelo art. 67 da Lei 8.245/91 – daí a consignação ser considerada forma
judicializada de pagamento.

6. Procedimentos da ação consignatória: Proposta a ação consignatória de pagamento,


dever-se-á observar, para o seu processamento, um dos procedimentos previstos em lei –
quais sejam, aqueles regulados, respectivamente, pelo Código de Processo Civil e pela Lei
8.245/91.

O procedimento do Código é o regulado pelos seus arts. 890 e ss., que poderá, tratando-se de
pedido consignatório fundado na dúvida quanto à titularidade do crédito, sofrer os desvios que
serão oportunamente examinados.

Já a consignação judicial de aluguéis e encargos da locação submete-se ao procedimento


definido pelo art. 67 da aludida lei específica, que pouco difere, depois das alterações impostas
pela Lei 8.951/94, do procedimento previsto pelo Código.

7. Foro competente: Apesar de o critério determinante da competência para o ajuizamento,


processamento e julgamento da ação consignatória ser o territorial, a definição da
competência sofre variações de acordo com a natureza do bem objeto do depósito judicial.

7.1 Ação consignatória do Código de Processo Civil: Quando regida pelo CPC, a ação de
consignação em pagamento deverá ser proposta no foro do lugar de pagamento (art. 891,
caput; CC, arts. 337 e 341). Tendo a dívida natureza quesível (CC, art. 327, 1ª parte), o foro
competente é o do domicílio do autor (devedor); sendo de natureza portável (CC, art. 327, 2ª
parte), foro competente é aquele onde se situa o domicílio do credor (réu) ou o
contratualmente eleito (foro de eleição: CPC, art. 111). Se a prestação tiver por objeto coisa
certa, competente será o foro onde ela se encontrar (CPC, art. 891, par. único). Como se trata,
in casu, de competência territorial (relativa, portanto), a propositura da ação no foro
incompetente imporá ao interessado a oposição da adequada exceção ritual (CPC, arts. 112 e
304 e ss.), sob pena de prorrogação (CPC, art. 114).

A existência de cláusula prevendo foro de eleição não afasta, por si só, a prevalência do forum
solutionis contemplado no art. 891 do CPC, dada a especialidade do último sobre o primeiro.
Em outras palavras, concorrendo, no caso concreto, o foro de eleição e o do local do
cumprimento da obrigação, prevalecerá o último.

7.2 Ação consignatória da Lei de Locação Predial Urbana: Cuidando-se, por outro lado, de ação
consignatória de aluguéis e encargos, dever-se-á levar em conta o que dispõe o inc. II do art.
58 da Lei 8.245/91.

A teor do aludido inciso, é competente para conhecer e julgar tais ações o foro de eleição e, na
sua falta, o do lugar da situação do imóvel.

A expressão do lugar da situação do imóvel utilizada pela lei específica é redundante.

Na acepção legal, foro representa a delimitação territorial para o exercício do poder


jurisdicional e corresponde à comarca da Justiça dos Estados e à seção judiciária da Justiça
Federal. Por outras palavras, a competência de foro leva em conta a distribuição das causas a
determinados órgãos territorialmente delimitados, servindo como elementos de determinação
do foro competente ora o local do domicílio de uma das partes (v.g., CPC, arts. 94, caput, 99,
100, I a III), ora o local do cumprimento da obrigação (v.g., CPC, art. 891), ora o local da
prática do ato ilícito (v.g., CPC, art. 100, V, a), entre outros.

Bastaria à lei fazer menção ao foro da situação do imóvel para transmitir, em sua inteireza, a
idéia de que as ações em pauta ali deverão ser ajuizadas. Vale dizer, deverão ser propostas no
foro (no local) onde o imóvel locado está situado; como o vocábulo foro compreende a idéia de
território, de lugar, é tautológica a expressão foro do lugar da situação do imóvel.
Interessante observar que o inciso em pauta afastou, no pertinente à ação consignatória de
aluguel e de encargos, a incidência do art. 891 do CPC; neste, o foro competente é o do local
do pagamento, enquanto naquele é o eleito e, na sua falta, o da situação do imóvel.

Em síntese, a ação de consignação de aluguel e encargos da locação deverá ser ajuizada no


foro eleito pelas partes, ou, inexistindo cláusula eletiva, no da situação do imóvel locado
(forum rei sitae), prevalecendo, pois, critérios estritos de competência territorial.

8. Legitimidades ativa e passiva:

8.1 No regime do Código de Processo Civil: A legitimidade ativa para a ação consignatória
regida pelo Código é conferida ao devedor e ao terceiro juridicamente interessado no paga-
mento da dívida, tais como o síndico na falência, o herdeiro, o sócio etc (CPC, art. 890; CC,
art. 304).

Legitimado passivo será o credor conhecido, aquele que alegue possuir tal condição ou, ainda,
sendo ele desconhecido, o credor incerto, a ser citado por edital (CPC, art. 231, I), em seu
favor intervindo, se for o caso, o curador de ausentes (CPC, art. 9º, II).

O credor incapaz também figurará como réu, mas representado ou assistido por seu
representante legal (CPC, art. 8o, e CC, art. 116), devendo nesse caso intervir no processo,
obrigatoriamente, o órgão do Ministério Público (CPC, arts. 82, I, e 84, combinados).

Havendo dúvida quanto à titularidade do crédito, figurarão como litisconsortes passivos


aqueles que se intitulam credores, isto é, os sedizentes credores.

8.2 No regime da Lei de Locação Predial Urbana: Quando a ação consignatória tiver por objeto
aluguel ou encargos da locação, estarão ativamente legitimados para propô-la o próprio
inquilino (qualquer deles, havendo mais de um – art. 2o da Lei 8.245, de 18..10.91), seu
cônjuge ou companheiro (art. 12), o ocupante de habitação coletiva multifamiliar (art. 2 o, par.
único), o sublocatário, o fiador – terceiro interessado que é na extinção da obrigação – e,
ainda, a nosso ver, o terceiro não interessado, desde que busque efetuar o depósito em nome
e por conta do inquilino (v.g., um parente próximo deste último).

Figurarão legitimamente no pólo passivo da relação jurídica processual o locador (havendo


mais de um, qualquer deles – art. 2o), o sublocador, o espólio (no caso de morte do locador),
a massa (no caso de falência ou insolvência civil); sendo o credor desconhecido (v.g., morre o
locador e o inquilino desconhece quem seja seu herdeiro), a ação será ajuizada em face de
seus eventuais herdeiros ou sucessores, a serem citados editaliciamente. Caso o autor da
consignatória tenha fundada dúvida quanto à titularidade do crédito – na medida em que duas
ou mais pessoas se intitulem credoras –, todos os sedizentes credores deverão figurar como
litisconsortes passivos.

9. Petição inicial, depósito e citação do réu: Fixemos nossa atenção, agora,


exclusivamente na ação consignatória prevista no CPC.

Ressalvada a situação contemplada no art. 898, o procedimento da consignatória por ele


regulado obedecerá, como já salientado, ao disposto nos arts. 890 e ss., com as profundas
alterações introduzidas pela Lei 8.951/94.
A primeira – e mais importante – alteração corresponde à extinção da audiência de oferta, ou
oblação, devendo o consignante realizar o depósito no prazo de cinco dias a contar do
deferimento da petição inicial. E essa sistemática legal, já adotada anteriormente no
procedimento da consignatória de aluguéis e encargos, é merecedora de aplausos.

De fato, é o depósito (e não a oferta) que, uma vez declarada por sentença a sua idoneidade,
libera o autor consignante do vínculo obrigacional (CC, art. 334) e faz cessar os juros e os
riscos da dívida (arts. 400 e 337). Logo, é de todo conveniente seja ele realizado ab initio,
evitando para o depositante os riscos e transtornos que poderiam advir de seu retardamento.

Assim que efetivado, o depósito produzirá os seguintes efeitos materiais:

a) a liberação do devedor do vínculo obrigacional: satisfeita a prestação devida, dá-se a


extinção da obrigação (CC, art. 334 e CPC, arts. 890, § 2º e 897, conjugados);

b) a cessação dos juros: concretizado o depósito da quantia ou coisa devida, estará o devedor
desobrigado dos juros (CC, art. 337), sendo a ação ao final julgada procedente. Há divergência
se os juros que deixarão de incidir são apenas os convencionais (juros da dívida) ou também
os moratórios. Inexiste dúvida, no entanto, de que serão devidos os juros anteriores à
satisfação da prestação, daí a necessidade de sua inclusão no depósito; já os juros moratórios
não fluem se estiver caracterizada a mora accipiendi (CC, art. 396).

c) a transferência dos riscos da dívida para o devedor: com o depósito transferem-se os riscos
da dívida ao credor-réu, invertendo-se a regra res perit domino para res perit creditoris; por
outras palavras, efetuado o depósito (e desde que ele seja aceito pelo credor ou judicialmente
declarado idôneo), os eventuais riscos derivados da obrigação transferem-se ao credor, que os
suportará (CC, art. 337). Se a coisa depositada vier a deteriorar-se antes do provimento
judicial favorável ao devedor-autor consignante, ainda assim o credor-réu suportará os
prejuízos daí advindos, visto que o efeito declaratório da sentença se opera ex tunc.

Convém salientar, a esta altura, que na sistemática anterior à edição da aludida Lei 8.951/94 o
autor requeria a citação do réu para, em lugar, dia e hora determinados pelo juiz, vir ou
mandar receber a quantia ou a coisa devida, sob pena de ser feito o depósito respectivo.
Citado, na data para tanto designada o réu poderia comparecer em juízo e receber a oferta, ou
mandar que outrem o fizesse em seu lugar, caso em que o pedido consignatório era julgado
procedente, declarando-se extinta a obrigação, condenado o primeiro (credor) nas custas e
honorários advocatícios; não comparecendo, nem mandando procurador ou representante, a
oferta da coisa ou quantia devida era convertida em depósito judicial, iniciando-se então o
curso do prazo para a apresentação de resposta pelo réu.

Atualmente as soluções legais são outras, conforme a seguir demonstrado.

9.1 O depósito da quantia ou coisa consignanda: Requerendo o autor a consignação de coisa


ou de prestação pecuniária (em relação a esta, nos casos em que não se valeu do depósito
extrajudicial, ou deixou escoar inutilmente o prazo estabelecido pelo art. 890, §§ 3º e 4º), o
depósito correspondente deverá ser efetuado no prazo de cinco dias, a contar do deferimento
da petição inicial; tratando-se de depósito de quantia certa, o depósito será realizado em conta
judicial, à disposição do juízo e sujeito a correção monetária (v. Súmula 179 do STJ). Quando
a consignatória envolver quantia que já foi objeto de depósito extrajudicial recusado pelo
credor, o autor deverá instruir a petição inicial com a prova do depósito e da recusa (art. 890,
§ 3º), sob pena de indeferimento liminar (CPC, art. 295, VI, cc. arts. 283 e 284).

A lei não diz, mas é lícito concluir-se que a não realização do depósito, pelo autor, no prazo
regular, acarretará a pura e simples extinção do processo, sem julgamento do mérito (CPC,
art. 267, IV), seja porque o depósito representa ato essencial para o prosseguimento regular
do processo, seja porque o réu somente será citado (e poderá, portanto, exercer o seu direito
de resposta) após a sua realização, seja porque apenas o depósito (e não a sentença, que é
meramente declaratória) tem o condão de desconstituir o vínculo obrigacional.

Efetivado o depósito, daí – e só então – será ordenada a citação do réu, a fim de que oferte
resposta no prazo de 15 dias, considerado, para tanto, o disposto no art. 241. Aliás, o prazo
anteriormente estabelecido em lei era o de 10 dias, contado do depósito; tendo em vista, no
entanto, as alterações introduzidas no Código, que agora é omisso quanto ao prazo de
resposta, deve prevalecer, por aplicação subsidiária, aquele estabelecido para o procedimento
ordinário.

Concretizada a citação, em qualquer das modalidades previstas em lei, no prazo legal o réu
poderá adotar uma das seguintes atitudes:

a) comparece em juízo, por si ou procurador, aceita e levanta o depósito, hipótese em que será
proferida sentença de procedência, declarando-se extinta a obrigação, condenado o réu ao
pagamento das custas e honorários advocatícios (CPC, arts. 269, II, e 897, par. único). Se o
réu receber, sem ressalvas, a quantia ou coisa depositada, dando a devida quitação, estará
caracterizado o reconhecimento da procedência do pedido (CPC, art. 269, II), devendo o juiz
igualmente proferir sentença de plano, declarando extinta a obrigação e condenando-o
igualmente ao pagamento das custas e honorários advocatícios;

b) oferta contestação e/ou qualquer outra modalidade de resposta (art. 297), observando,
para tanto, o prazo de 15 dias.

c) permanece omisso, com a conseqüente decretação de sua revelia e o julgamento antecipado


do pedido (art. 330, II), salvo se ocorrente qualquer das hipóteses enunciadas no art. 320 do
diploma processual civil. Decretada a revelia, por ausência de contestação oportuna, uma das
seguintes hipóteses irá concretizar-se: a) sendo o revel capaz e tendo sido citado
pessoalmente, o juiz acolherá o pedido formulado pelo autor e declarará extinta a obrigação,
condenando o primeiro nas custas e honorários advocatícios; b) sendo incapaz, intervirá no
processo o representante do Ministério Público (CPC, arts. 82, I, c.c. arts. 84 e 246), sem
prejuízo da representação legal do réu assistido; c) caso não se opere, no caso concreto, o
efeito da revelia (v. arts. 319 e 320 do CPC) e descaiba, ainda, o julgamento antecipado do
pedido previsto no inciso I do art. 330, do CPC, o juiz procederá nos termos do art. 331,
segunda parte, do mesmo diploma legal; d) estando o réu preso, ou tendo sido citado
fictamente (com hora certa ou por edital), o juiz nomear-lhe-á curador de ausentes, que
deverá ofertar resposta, limitada, neste caso, à contestação e/ou exceção (CPC, arts. 9º, II e
302, par. único);
9.2 Ação consignatória ajuizada após a tentativa de depósito extrajudicial: Tratando-se de
consignatória de quantia que já foi objeto de depósito extrajudicial recusado pelo credor, o
autor deverá instruir a petição inicial com a prova do depósito e da recusa (art. 890, § 3º), sob
pena de indeferimento liminar (CPC, art. 295, VI, cc. arts. 283 e 284). Citado, o réu poderá
adotar qualquer das posturas já examinadas acima, operando-se as mesmas conseqüências
referidas;

9.3 O direito de escolha da coisa devida: Tanto nas obrigações de dar coisa incerta (CC, arts.
243 a 246), quanto nas obrigações alternativas (CC, arts. 252 a 256), é direito do devedor a
escolha da coisa a ser entregue ao credor, salvo se estipulado de forma diversa. Daí as
previsões do art. 894 o CPC a respeito da escolha e depósito da coisa, a saber: sendo do
credor-réu o direito de escolher a coisa devida, será ele citado para (a) exercê-lo no prazo de
cinco dias, se outro não constar da lei ou contrato, ou, (b) para aceitar que o devedor o faça,
fixando o juiz, ao despachar a petição inicial, o lugar, dia e hora em que se dará a entrega da
coisa, sob pena de depósito.

Comparecendo o credor-réu (ou terceiro, em seu nome) e escolhendo a coisa objeto da


prestação devida, ao recebê-la dará quitação ao devedor, devendo o juiz proceder, neste caso,
segundo os termos do parágrafo único do art. 897 do diploma processual; não comparecendo,
competirá ao autor a escolha, com a observância do disposto na última parte do art. 244 do
CC, sendo então efetivado o depósito. É claro, porém, que o não comparecimento do réu para
a escolha da coisa não o impedirá de ofertar resposta oportuna.

10. Consignatória fundada na dúvida pertinente à titularidade do crédito:

Ignorando o devedor quem seja o credor ou, ainda, duas ou mais pessoas comparecerem
perante ele intitulando-se titulares do mesmo crédito, ser-lhe-á materialmente impossível
cumprir a obrigação, seja por não saber a quem efetuar o pagamento (na primeira hipótese),
seja por não poder efetuá-lo a qualquer dos sedizentes credores (na segunda), sob pena de
pagar mal e sofrer as conseqüências que daí lhe advêm. Conseqüentemente, deverá promover
a ação consignatória, competindo ao juiz decidir, ao final, quem é o legítimo credor (CPC, arts.
895 e 898).

Interpretação apressada do artigo sob exame poderia levar à errônea conclusão de que ele se
refira exclusivamente à hipótese do inciso IV do art. 335 do CC. Assim não é, porém, pois ele
também terá incidência no caso de a dúvida ser fundada no absoluto desconhecimento de
quem possua a qualidade de credor.

Considerando o que dispõe o art. 898 do CPC, mais a postura que venha a ser adotada por
qualquer dos réus, o procedimento poderá sofrer o desvio adiante examinado (n. 26.3).

Proposta a ação, feito o depósito e citados os réus, uma, entre três hipóteses, poderá ocorrer:
a) não comparece nenhum deles; b) comparece apenas um; e c) comparecem dois ou mais
(art. 898).

Não comparecendo nenhum dos réus, o juiz decretará a revelia de todos e proferirá sentença
de procedência da ação, declarando a correção e integralidade do depósito realizado pelo
autor, procedendo-se em seguida à arrecadação, como bem de ausente, da quantia ou coisa
depositada.

Comparecendo apenas um dos litisconsortes e demonstrando seu direito à quantia ou à coisa


depositada, o juiz igualmente proferirá sentença de procedência, liberando o autor-devedor da
obrigação e deferindo o levantamento do depósito em favor do réu-credor comparecente; se
este não provar o seu direito, o autor-devedor será igualmente liberado da obrigação, mas
também nesse caso o depósito será arrecadado como bem de ausente.

Finalmente, comparecendo dois ou mais réus, eles (a) não impugnam o depósito, incumbindo
ao juiz, então, declará-lo idôneo e suficiente para a extinção da obrigação, liberado o autor da
obrigação e excluído do processo, que prosseguirá unicamente entre os réus, que assumirão, a
partir daí, a dupla condição de sujeitos ativos e passivos da relação jurídica processual,
adotado o rito ordinário; (b)impugnam o depósito, sustentando não ser ele integral (art. 896,
IV), caso em que, sendo possível a complementação pelo autor, após a sua realização o juiz
procederá nos moldes do art. 899; (c) impugnam o depósito, sustentando ou a inexistência de
dúvida acerca da titularidade do crédito, ou a ocorrência de qualquer das circunstâncias
apontadas no inciso III do art. 896, caso em que o processo prosseguirá no rito ordinário,
mantidas as mesmas partes. O mesmo sucederá se, impugnado o depósito por não ser ele
integral, for impossível a sua complementação pelo autor (CPC, arts. 896, IV e 899).

Importante observar que se os litisconsortes


passivos tiverem domicílios diferentes,
prevalecerá a regra de competência estampada no § 4o do art. 94 do CPC, devendo a ação
consignatória ser proposta no foro de qualquer deles, à escolha do autor. Há, no entanto,
exceções: a) sendo a prestação quesível, o foro competente será o do domicílio do autor-
devedor; b) tendo por objeto coisa certa, o foro onde esta se encontrar e, c) havendo foro de
eleição, este será o competente.

Anote-se, por derradeiro, que conhecendo o autor os sedizentes credores, estes serão
pessoalmente citados; não os conhecendo, ou estando eles em local inacessível, ignorado ou
incerto, a citação será realizada por edital, devendo intervir no processo o curador de
ausentes, caso ocorra a revelia de qualquer dos réus (CPC, art. 9º, II).

11. Respostas do réu: Efetuado o depósito e citado o réu (ou apenas citado, no caso de o
depósito já haver sido realizado extrajudicialmente - art. 890, § 1º), ele poderá (a) aceitá-lo e
levantá-lo, (b) permanecer omisso, ou (c) ofertar resposta, consistente em contestação,
exceção e/ou reconvenção (v. art. 297 do CPC). Contestando, poderá deduzir não apenas as
defesas de mérito enunciadas nos incisos do art. 896: também lhe é lícito argüir, em sede
preliminar, qualquer das defesas de natureza técnica indicadas no art. 301 do Código e, ainda,
no que tange ao mérito, outras tantas defesas, tais como a falsidade da afirmação do autor no
sentido de que estava em local incerto ou inacessível, ou, ainda, que fosse ignorado por ele o
verdadeiro titular do crédito objeto do depósito. Vale dizer, o artigo 896 não esgota o rol das
matérias de defesa, muito embora sejam objeto de exame, nesta oportunidade, apenas
aquelas contidas em seus incisos.

11.1 A defesa do inciso I: Se o réu sustentar, em sua contestação, a inocorrência de recusa ou


de mora no recebimento da quantia ou da coisa devida (e sendo a dívida de natureza
portável), é do autor o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito (CPC, art. 333, I), ou
seja, deverá demonstrar que diligenciou o pagamento junto ao credor, mas não obteve sucesso
em sua tentativa de satisfação voluntária da prestação devida àquele. Sendo a dívida quesível,
bastará ao autor afirmar que o réu não foi, nem mandou buscar a prestação devida, no tempo,
lugar e modo convencionados, competindo ao segundo, nesse caso, o ônus de provar que
diligenciou o recebimento;

11.2 A defesa do inciso II: O réu poderá reconhecer a recusa afirmada na petição inicial, mas
fundar sua defesa na justeza de seu comportamento. Poderá alegar, por exemplo, a ausência,
à época da oferta da prestação pelo devedor, de qualquer dos requisitos do pagamento (v.g., a
incapacidade do devedor ou do credor, o não cumprimento integral da obrigação, o não
vencimento da dívida, a sua iliquidez etc – CC, arts. 304 a 312), circunstância que invalidaria
aquele ato extintivo da obrigação; caso seja essa sua linha de defesa, será seu o ônus da
prova (CPC, art. 333, I);.

11.3 A defesa do inciso III: É lícito ao réu sustentar, em sua contestação, que o depósito,
tendo por objeto prestação portável, não foi realizado pelo autor no prazo ou no lugar do
pagamento (CC, arts. 327 a 333 e 394 – CC 1916, arts. 950 a 955), hipótese que enseja uma
série de considerações: a) ao referir-se à inadequação do lugar do depósito e a
intempestividade de sua ocorrência, o Código permite defesa fundada na imprestabilidade da
prestação, quando esta seja representada por uma coisa, mas não quando se tratar de quantia
devida, pois as prestações de natureza pecuniária nunca se tornam inúteis; aliás, ainda que o
devedor de prestação pecuniária já esteja em mora, mas queira furtar-se aos seus efeitos,
poderá pleitear o depósito, com o acréscimo das importâncias devidas a título de
ressarcimento pelos prejuízos impostos ao credor até a data de sua efetivação (CC, art. 401,
I). No entanto, se o autor-consignante for devedor de prestação de dar ou de restituir coisa e
já se encontrar em mora por ocasião do depósito (sendo inútil, a essa altura, a prestação dele
objeto – CC, art. 395, par. único), deverá o credor-réu fundar sua defesa nessa inutilidade da
prestação, decorrente da intempestividade do depósito e da inadequação do local onde foi
realizado; b) sendo a dívida portável, o local do pagamento é o do domicílio do credor, ou
outro lugar por ele designado contratualmente; tendo natureza quesível, o local do pagamento
coincidirá com o do domicílio do devedor, ali devendo o credor buscar o pagamento. Caso o
devedor tenha ofertado a prestação portável em local diverso do estabelecido, estará, só por
isso, em mora (CC, art. 394), sendo justa, portanto, a recusa do credor em recebê-la. E uma
vez feito o depósito pelo primeiro, a defesa do segundo também poderá vir fundada, nesse
caso, no inciso ora sob exame; c) a circunstância de ter sido o depósito realizado em local
diverso daquele do pagamento poderá ensejar ao réu a argüição de uma defesa processual
indireta e outra de mérito, isto é, poderá tanto argüir exceção declinatória de foro (CPC, arts.
112 e 307 a 311, conjugados), quanto apresentar contestação fundada na inadequação do
depósito, porquanto não se confundem as defesas relacionadas ao processo, à ação ou ao
meritum causae. Ao sustentar que o depósito não foi realizado no lugar do pagamento (CPC,
art. 896, III), o réu estará deduzindo defesa de mérito, negando o fundamento do pedido
deduzido pelo autor; atacando a validade do processo por meio da argüição da exceção de
incompetência, visa ele pura e simplesmente a dilatar a relação processual no tempo,
retardando o pronunciamento jurisdicional sobre o mérito. Acolhida a primeira defesa, impõe-
se o decreto de rejeição do pedido consignatório; acolhida a segunda, os autos do processo
serão remetidos ao juízo territorialmente competente para processar e julgar a ação. Nota-se,
pois, que as regras processuais pertinentes à fixação da competência territorial não se
confundem com aquelas de direito material atinentes ao lugar de pagamento. Logo, mesmo
sendo repelida a exceção declinatória de foro por argüição intempestiva, ou ocorrendo a
prorrogação convencional tácita da competência, nem por isso deverá o juiz reconhecer, ao
pronunciar-se sobre o mérito, que o depósito foi adequadamente efetuado no local do
pagamento.

11.4 A defesa do inciso IV: O réu poderá alegar, finalmente, a não integralidade do depósito,
ou seja, que a quantia ou a quantidade de coisas depositadas não corresponde à totalidade da
dívida. Adotando essa linha de defesa, compete-lhe indicar o montante que repute devido, sob
pena de ser desconsiderada a sua alegação (v. par. único), até porque, vindo a ser rejeitado o
pedido consignatório, o juiz condenará o autor-consignante ao pagamento da diferença
reclamada pelo credor-réu, mercê da natureza dúplice, nesta hipótese, da ação consignatória.
De fato, sendo a contestação fundada na insuficiência do depósito (CPC, art. 896, IV), a ação
de consignação em pagamento assume natureza dúplice, ou seja, rejeitado o pedido formulado
pelo autor, o juiz o condenará, independentemente da oferta de reconvenção pelo réu (art.
899, § 2º), a satisfazer o montante devido (a diferença apontada na contestação - art. 896,
par. único), quando então a sentença também conterá carga condenatória, tanto que ostentará
a natureza de título executivo judicial (art. 584, I).

Observe-se, de outra parte, que se a quantia (ou a coisa) depositada for inferior (ou diversa,
em qualidade ou quantidade) à efetivamente devida, o réu irá defender-se com a alegação de
que o depósito não atende à plenitude de seu crédito. Reconhecendo o autor a pertinência da
impugnação do depósito feita pelo réu, poderá realizar a complementação, no prazo
estabelecido pelo art. 899, salvo se a prestação já houver se tornado inútil ou impossível,
impondo a rescisão do contrato.

12. Complementação do depósito: Pode o réu alegar em sua contestação – e sem prejuízo
da dedução de outras defesas –, a insuficiência do depósito realizado pelo autor, seja ele o
extrajudicial (art. 890, § 3º) ou o judicial (art. 893, I).

Assim procedendo, cumpre-lhe indicar o exato montante que entenda devido, discriminando as
verbas (ou os objetos) que o integram, pois a não indicação acarretará a pura e simples
desconsideração dessa defesa, caso em que estará, tecnicamente, na mesma situação do réu
revel, sofrendo as conseqüências que daí advêm. Além disso, a não discriminação, pelo réu,
dos elementos integrantes da prestação que ele considera devida, poderá gerar dúvidas que
inviabilizem o exercício, pelo autor, da faculdade legalmente assegurada de complementar o
depósito já realizado. Finalmente, apenas quando se tratar de prestação líquida (liquidez que
diz respeito, neste caso, à diferença existente entre a quantia ou quantidade de coisas já
depositadas pelo autor e aquela reputada devida pelo réu) é que existirá título executivo
judicial hábil à execução a que alude o art. 899 em seu § 2º.

Reconhecendo o autor a pertinência da defesa calcada na insuficiência do depósito, poderá


complementá-lo em 10 dias, a contar da data em que for cientificado do teor da contestação.

Claro que nem sempre será possível a complementação, como deflui da ressalva contida no
art. 899: se a prestação devida já se tornou imprestável ao réu, evidentemente não
aproveitará ao autor o exercício da faculdade conferida por lei, respondendo ele, isto sim,
pelas perdas e danos decorrentes de sua mora (CC, art. 395, par. único). Claro está, também,
que a prestação só será eventualmente imprestável quando tenha por objeto a entrega ou
restituição de coisa (CC, arts. 395 e 399); tratando-se de prestação pecuniária (obrigação de
dar dinheiro), ela sempre será útil ao credor.

Convém atentar para duas conseqüências decorrentes da complementação: a) se a única


alegação do réu foi a insuficiência do depósito, a sua complementação pelo autor imporá a
extinção do processo, com julgamento do mérito, já que o motivo da recusa deixou de existir;
b) tendo o réu deduzido outras defesas, a complementação terá apenas o condão de reduzir os
limites da controvérsia, mas não o de eliminá-la, devendo o processo prosseguir até a decisão
final que solucione as questões remanescentes.

Mesmo que o autor não complemente o depósito, ainda assim poderá o credor-réu levantar a
quantia ou coisa depositada, pois a controvérsia estará limitada, exclusivamente, à diferença
por ele reclamada. E, neste caso, o processo prosseguirá apenas para a obtenção de decisão
judicial provendo sobre a aludida diferença. Trata-se, como se vê, de antecipação dos efeitos
da tutela consignatória, na medida em que o autor-consignante já estará parcialmente liberado
na dívida, no que tange à parcela incontroversa do depósito levantada pelo credor-réu.

Examinemos algumas situações relacionadas à não-complementação do depósito:

a) se o autor não complementar o depósito, mas o juiz se convencer, ao final, da correção e


adequação daquele originalmente realizado, acolherá o pedido consignatório e declarará
extinta a obrigação, arcando o réu, com exclusividade, com o ônus da sucumbência, pois se
revelou injustificada a sua resistência;

b) reconhecida a insuficiência do depósito, caberá ao juiz adotar uma das providências a seguir
examinadas:

1ª) se o réu não efetuou o levantamento do depósito, facultado (mas não imposto!) pelo § 1º
do art. 899, será rejeitado o pedido consignatório, arcando o autor, com exclusividade, com as
conseqüências decorrentes da sucumbência; e independentemente de dedução de pedido
reconvencional do réu (mercê da natureza dúplice, neste caso, da ação consignatória), o autor
consignante será ainda condenado ao pagamento (ou à entrega) da diferença da quantia (ou
da coisa) devida, valendo a sentença como título executivo judicial, a permitir ao credor-réu a
sua execução (execução por quantia certa ou execução para a entrega de coisa,
respectivamente), nos próprios autos do processo consignatório. Convém observar que a
eventual apelação interposta contra a sentença terá o denominado efeito suspensivo, razão
pela qual a execução só poderá ser a definitiva, no aguardo do trânsito em julgado material
daquele ato decisório;

2ª) caso o réu tenha efetuado o levantamento do depósito, as conseqüências serão idênticas
àquelas enunciadas no item anterior, seja porque o aludido levantamento atinge apenas as
parcelas incontroversas, não autorizando a conclusão de que o réu, ao reclamá-lo, tenha
reconhecido a pertinência e a suficiência do depósito, seja, finalmente, porque uma vez
reconhecida judicialmente a sua não integralidade, estará demonstrada a correção da conduta
do réu ao recusá-lo, nos moldes em que foi efetivado pelo autor, circunstância suficiente, por si
só, para ensejar a rejeição do pedido consignatório.

13. Consignação de prestações periódicas: Periódicas são aquelas prestações sucessivas,


oriundas de contratos de trato sucessivo, de tal sorte que o cumprimento da obrigação perdura
no tempo e compreende prestações também deferidas no tempo, repetindo-se em intervalos,
regulares ou não (v.g, pagamento de alugueres, cumprimento de obrigação alimentar,
mensalidades escolares etc). As prestações já exigíveis são denominadas vencidas; vincendas
são as que ainda vencerão.

Tratando-se de consignação extrajudicial, nada obsta, em caso de recusa do credor, que o


devedor possa utilizar a mesma conta bancária para a efetivação do depósito da prestação
vencida imediatamente em seguida, se e quando, no momento de seu vencimento, ainda não
estiver instaurado o processo consignatório.

Se entre a recusa do credor e o ajuizamento da ação consignatória (a ocorrer, no máximo, até


trinta dias após aquela) vier a vencer nova prestação (v.g., prestação semanal, quinzenal),
poderá o depositante depositá-la na mesma conta bancária, novamente cientificando o credor
do depósito. E tão logo ingresse em juízo com a ação consignatória, deverá instruir a petição
inicial também com os documentos comprobatórios desse segundo depósito e da respectiva
cientificação do credor. A solução ora preconizada atende perfeitamente ao espírito da lei e
possibilita aos interessados, sendo aceitos os depósitos, a imediata satisfação de seus
interesses.

Depositada e recusada a primeira prestação, as demais deverão ser depositadas, à medida que
vençam, no processo a essa altura já instaurado (CPC, art. 892 e Lei 8.245/91, art. 67, III).
Melhor explicitando: havendo a necessidade de o devedor promover ação consignatória,
efetuado o primeiro depósito as prestações que vierem a vencer no curso do processo deverão
ser depositadas até 5 (cinco) (dias) a contar da data do vencimento – exceto quando se tratar
de prestação de aluguel ou encargo da locação (v. art. 67, III, da Lei 8.245/91).

É evidente a desnecessidade de citação do réu a cada novo depósito, bem como a


impossibilidade de se reabrir prazo para contestação, mormente porque não há nova demanda
a ensejar defesa; nada obsta, porém, que o réu impugne qualquer dos depósitos, cabendo ao
juiz decidir a respeito. Não sendo os depósitos efetivados no prazo estabelecido, não mais
poderão sê-lo, ao menos no mesmo processo, devendo o juiz declarar insubsistentes aqueles
realizados a destempo. A possibilidade de utilização do mesmo processo para a continuidade
de depósitos das prestações que vierem a vencer em seu curso, encontra sua razão de ser na
natureza implícita do pedido consignatório (CPC, art. 290), tendo o evidente escopo de evitar a
propositura de nova ação a cada vez que ocorra o vencimento de nova prestação.

Apesar da omissão do Código quanto ao momento em que o processo não mais se prestará ao
depósito das prestações vincendas, é possível sustentar-se, por aplicação analógica de
disposição expressa da Lei de Locação Predial Urbana (art. 67, III), que esse momento
coincidiria com a prolação da sentença; e mesmo havendo recurso pendente contra ela,
deveria o devedor ajuizar nova ação, se e quando ainda persistisse o estado de coisas
determinante da propositura da anterior. Não é esse, no entanto, o entendimento
predominante no Superior Tribunal de Justiça, ao decidir que, sem “embargo de respeitável
corrente doutrinária e jurisprudencial em contrário, a Turma, na linha de precedente seu (Resp
n. 56.761-0/SP), acolhe entendimento que admite, na ação consignatória, que os depósitos de
prestações periódicas sejam efetuados até o trânsito em julgado. II – As normas dos arts. 290
e 892, CPC, inserem-se em um sistema que persegue a economia processual, buscando evitar
a multiplicação de demandas.”

14. Natureza da sentença: A ação consignatória tem natureza meramente declaratória, pois
mediante seu exercício pretende o autor um provimento jurisdicional declaratório da
idoneidade e suficiência do depósito por ele realizado. Por outras palavras, busca o
consignante liberar-se da obrigação, mediante o depósito da coisa ou quantia devida, depósito
este que tem, ele sim, o efeito de desconstituir o vínculo obrigacional; depositada a coisa ou a
quantia devida, cessam imediatamente os riscos e a responsabilidade derivados da obrigação,
sempre que a sentença ao final proferida contenha a declaração positiva da correção e da
suficiência do depósito. Vindo a ser rejeitado o pedido consignatório (em razão do
reconhecimento, por exemplo, da inidoneidade ou da insuficiência do depósito), permanecerá
íntegro o vínculo obrigacional, arcando o devedor com todas as conseqüências legais e
contratuais derivadas da mora ou de eventual inadimplemento absoluto. Não se perca de vista,
porém, a situação prevista no último parágrafo do art. 899 do CPC (condenação do autor ao
pagamento da diferença da depósito), quando então a sentença também terá carga
condenatória, tanto que valerá como título executivo judicial (CPC, art. 584, I).

15. Consignação de aluguel e de encargos da locação: Considerando as particularidades


procedimentais introduzidas pela Lei 8.245/91, convém dedicar-lhe exame mais detalhado.

Mesmo não se distanciando sensivelmente do esquema procedimental traçado pelos arts. 890
a 900 do CPC, o art. 67 da Lei de Locação Predial Urbana apresenta algumas peculiaridades no
que pertine ao procedimento especial a ser adotado para o processamento da ação de
consignação de aluguel e de encargos.

Antes de prosseguirmos no exame, convém mais uma vez anotar que o procedimento aqui
tratado diz respeito, exclusivamente, à consignação de aluguel e aos acessórios da locação;
cuidando-se de qualquer outra dívida, impõe-se a observância do procedimento estatuído pelos
arts. 890 e ss. do CPC, já examinado nos itens anteriores.

15.1 Ajuizamento da ação: A teor do inciso I do art. 67, a petição inicial deverá ser elaborada
com a observância dos requisitos previstos no art. 282 do diploma processual civil, com a
especificação dos alugueres e acessórios da locação, mais a indicação dos respectivos valores,
vale dizer, aqueles que o autor apontar como sendo os corretos.

Não há a exigência de pedido de designação de data para a audiência de oferta (CPC, art.
893), visto que esta é dispensada, como a seguir se verá.
O valor da causa corresponderá a 12 meses de aluguel, pouco importando quantas sejam as
prestações consignadas de início (v. Súmula 449 do STF).

15.2 Citação do réu: Impõe-se, de início, breve análise das novidades introduzidas pelo inc. IV
do art. 58 da lei específica relativamente às formas de comunicação dos atos processuais e à
notificação.

Aqueles, como sabido, são a citação, “ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado, a
fim de se defender” (CPC, art. 213), e a intimação, “ato pelo qual se dá ciência a alguém dos
atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa” (art. 234), abolida
do diploma processual civil a figura da notificação, ao menos enquanto ato de comunicação
processual.

Representa passo importante a possibilidade, aberta pelo art. 58, de a citação (assim como
intimações e notificações) vir a ser feita, desde que o contrato o autorize, preferencialmente
na forma epistolar e, ainda, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante telex
ou fac-simile.

Essa inovação tem o visível intuito de agilizar o processo e nada fica a dever, em termos de
garantia e segurança, às formas já consagradas de comunicação dos atos processuais –
particularmente a citação.

Realmente, além de a comunicação ser praticamente instantânea, a identificação do remetente


e do destinatário será feita pelos próprios aparelhos de transmissão e de recepção,
viabilizando, ademais, o encaminhamento, na íntegra, da petição inicial e documentos que a
instruem. Ademais, só será possível a sua realização se e quando autorizada pelas partes, por
ocasião da celebração do contrato de locação, afastada, assim, desde logo, eventual dúvida
envolvendo a segurança do ato e a certeza de sua efetivação. E muito embora as formas
tradicionais de citação e intimação cedam passo à ora examinada, isto não significa o seu total
abandono, pois sempre serão atendidas, seja por ausência da necessária autorização a que
alude o inciso, seja quando as partes forem pessoas físicas.

Cabem aqui algumas ponderações:

a) dispõe o inc. IV que, uma vez autorizado no contrato, os atos de comunicação processual,
mais a notificação, far-se-ão mediante correspondência com aviso de recebimento.

Cremos, no entanto, que mesmo inexistindo previsão contratual expressa será possível a
formalização de tais atos de comunicação pela via postal, até porque esta se tornou, com o
advento da Lei 8.710, de 24.9.93 (que deu nova redação, entre outros, aos arts. 221 e 222 do
CPC), forma usual de prática de atos processuais. Afinal, o claro objetivo da norma contida no
inc. IV do art. 58 é o de ampliar as formas de comunicação dos atos processuais e tornar mais
ágil a sua efetivação, sendo lícito concluir-se, pois, que o condicionamento nele previsto só
terá sentido, no concernente à citação feita pelo correio, se e quando ocorrente qualquer das
ressalvas previstas no art. 222 do Código.
A Lei de Locação Predial Urbana é omissa quanto ao termo inicial dos prazos para a prática de
atos processuais pela parte, sempre que esta seja citada ou intimada por carta, telex ou fac-
simile.

No primeiro caso observar-se-á, sem dúvida alguma, o disposto no inc. I do art. 241 do CPC
no que concerne tanto à intimação quanto à citação. Razoável concluir-se, por outro lado, à
míngua de disposição legal expressa, que sendo o ato praticado por via de telex ou fac-simile o
prazo começará a fluir no dia seguinte ao do recebimento da mensagem;

b) tudo o que foi dito acerca da citação pode ser aplicado à intimação, respeitadas as
peculiaridades e objetivos de uma e outra.

15.3 Depósito da quantia devida: Recebida a petição inicial e determinada a citação do réu, o
autor será intimado a efetuar, no prazo de 24 horas, o depósito judicial da importância
indicada na inicial, sob pena de extinção do processo, sem julgamento do mérito (art. 67, II).
Caso ele já tenha efetuado o depósito extrajudicial (e este foi recusado pelo credor e não
levantado pelo depositante), ficarão evidentemente dispensados tanto a sua intimação quanto
o depósito judicial, devendo a inicial, nesse caso, ser instruída com os comprovantes do
depósito e da recusa.

Não há audiência de oferta (oblação), pois o depósito deverá ser realizado no prazo acima
aludido. E como já salientado, essa solução pioneira da Lei de Locação Predial Urbana, hoje
também adotada pelo Código, é, de fato, merecedora de aplausos.

Deixando o autor de efetuar o depósito no prazo, após regularmente intimado para tanto,
deverá o juiz extinguir de plano o processo, sem julgamento do mérito. Claro que poderá ser
reproposta a ação, sujeitando-se o autor, todavia, ao pagamento das despesas a que alude o
art. 268 do CPC.

15.4 Prestações periódicas: As prestações locatícias são periódicas, assim entendidas, como já
dito anteriormente, aquelas prestações sucessivas, nas quais o cumprimento da obrigação
perdura no tempo e compreende prestações também deferidas no tempo, repetindo-se em
intervalos, regulares ou não.

O inc. III do art. 67 afasta qualquer dúvida acerca do caráter implícito do pedido consignatório
(CPC, art. 290) no que concerne às prestações que vierem a vencer no curso do processo,
determinando sejam elas depositadas pelo autor, à medida que vençam. E ao contrário do
Código de Processo Civil, que não indica o termo final desses depósitos, o inciso examinado
esclarece que deverão ser realizados até a prolação da sentença; julgado o pedido – e
independentemente de ter sido, ou não, interposta apelação contra a sentença –, restará ao
devedor, caso persista a impossibilidade do pagamento do aluguel e dos acessórios da locação,
promover nova ação.

O mesmo inciso impõe o depósito da prestação no respectivo vencimento, também nesse


particular desligando-se do sistema do diploma processual civil, que faculta ao devedor o prazo
de cinco dias para a efetivação do ato liberatório (art. 892).
15.5 Posturas do réu diante do depósito: Efetuado o depósito e citado o réu, este poderá
adotar posturas diferentes, cada qual impondo rumos também diferentes ao processo:

a) levantamento do depósito: Poderá o credor-réu valer-se da faculdade outorgada pelo art. 67


em seu parágrafo, requerendo o levantamento das importâncias posteriormente depositadas
pelo devedor-autor, desde que sobre elas não penda controvérsia. Essa possibilidade de
antecipação dos efeitos da tutela, aberta pela lei, é extremamente benéfica, quer por ensejar
ao autor a sua desoneração dessas prestações, livrando-se, no que a elas é pertinente, dos
riscos e ônus da mora, quer por permitir ao réu a pronta satisfação desses créditos;

b) aceitação do depósito: Aceitando o depósito sem ressalvas (art. 67, IV), estará o réu
reconhecendo a procedência do pedido (CPC, art. 269, II), impondo-se a extinção do processo,
com julgamento do mérito, a teor do art. 329 da lei processual civil. Responderá o réu, neste
caso, pelo pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios, estes fixados em
valor correspondente a 20% do valor dos depósitos;

c) revelia: Sendo o réu revel, terá incidência o art. 319 do CPC, excetuadas apenas as
hipóteses em que seja defendido por curador de ausentes (CPC, art. 9o, II), ou, havendo
litisconsórcio passivo unitário, um dos litisconsortes ofertar contestação (CPC, art. 320, I – v.,
porém, art. 48), com o conseqüente julgamento antecipado do pedido (CPC, art. 330, II) e a
prolação de sentença contendo a declaração da correção e integralidade do depósito efetuado
pelo autor, que ficará, assim, desonerado da obrigação. Também neste caso ele será
responsável pelo pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios, em valor
correspondente a 20% do valor dos depósitos.

15.6 Respostas do réu – contestação: O inciso V do art. 67 suscita uma série de


considerações.

Anota-se, por primeiro, que ele não fixa prazo para a oferta da contestação (nem, de resto,
para a propositura de reconvenção – inc. VI).

Atentos à redação original do art. 896 do CPC, já sustentamos que o prazo para a oferta de
resposta seria o de 10 dias, observadas, quando fosse o caso, as regras de cômputo em dobro
contidas nos arts. 188 e 191. Alterado o dispositivo por primeiro aludido, que não mais
menciona o prazo destinado à oferta da resposta, dúvida alguma pode subsistir, agora, quanto
à necessidade de observância do prazo estabelecido para a oferta de resposta nos feitos que
tramitem no rito ordinário, por aplicação subsidiária do art. 297 do Código.

Não obstante a mencionada alteração, continuamos entendendo que o prazo de resposta não
deverá ser contado da data do depósito feito pelo autor.

O inc. II do art. 67 da Lei de Locação Predial Urbana não deixa margem a dúvida quanto ao
momento do depósito: determinada a citação do réu, o autor será intimado a efetuar o
depósito em 24 horas, ou seja, apenas se e quando deferir a inicial o juiz ordenará, no mesmo
despacho, a citação do réu e a intimação do autor, para fim de depósito. Resulta, daí, que por
ocasião da citação do réu já estará efetivado o depósito pelo autor (sob pena de extinção do
processo), não tendo qualquer sentido, portanto, entender-se que o prazo legal para a
resposta começará a fluir daquele ato liberatório.
Deverão ser observados como termos iniciais do prazo para a oferta de resposta, isto sim,
aqueles indicados no art. 241 do CPC; tratando-se de citação feita por telex ou fac-simile, o
prazo começará a fluir no dia seguinte ao do recebimento da mensagem, isto é, da realização
do ato citatório.

Ademais, se o autor já se valeu anteriormente do depósito extrajudicial (estando dispensado,


por óbvio, de repeti-lo em juízo), de modo algum seria lícito sustentar-se que o prazo para a
oferta de sua resposta começaria a fluir do depósito judicial, inexistente.

Outro ponto de interesse diz respeito à utilização, pelo inc. V do art. 67, do verbo contestar.

Muito embora ele faça menção exclusiva à contestação, certamente poderá o réu ofertar
qualquer modalidade de resposta, nesta compreendidas, além daquela, também a reconvenção
(inc. VI) e qualquer das exceções rituais (incompetência, suspeição e impedimento do juiz –
CPC, arts. 304 e ss.).

Uma vez ofertada, por qualquer das partes, exceção de incompetência, impedimento ou
suspeição, observar-se-á o que dispõem os arts. 304 a 314 do CPC.

15.7 O âmbito da contestação: Repetindo, com pequenas variações, o art. 896 do CPC, o inciso
V do art. 67 da Lei 8.245/91 também restringe o âmbito da contestação.

No entanto, não é certo fique a contestação limitada àqueles fatos casuisticamente apontados
pela lei.

Além das objeções processuais previstas no art. 301 do diploma processual civil, que podem
ser argüidas a qualquer tempo e grau – e inclusive conhecidas ex officio (art. 301, § 4o) –, é
possível também ao réu alegar, por exemplo, a falsidade da afirmação do autor no sentido de
que estava em local incerto ou inacessível, ou, ainda, que fosse ignorado por ele o verdadeiro
titular do crédito objeto do depósito. E, uma vez provada qualquer dessas circunstâncias por
último referidas, estaria caracterizada a mora do autor, impondo-se, por conseqüência, a
rejeição de seu pedido.

Feitas tais observações, passemos à análise das hipóteses contempladas no inc. V do art. 67:

a) Sustentando o réu, em sua contestação, a inocorrência de recusa ou de mora em receber a


quantia devida – e sendo a dívida de natureza portável (isto é, competindo ao devedor
oferecer o pagamento no domicílio do credor ou em outro lugar por este designado
contratualmente) –, será do autor o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito (CPC,
art. 333, I), cabendo-lhe provar que tentou, infrutiferamente, realizar o pagamento junto ao
credor. Tratando-se, porém, de dívida quesível (ou seja, cabendo ao credor buscar o
pagamento no domicílio do devedor – v., ainda, CC, art. 327), bastará ao autor alegar que o
réu não foi, nem mandou buscar a prestação devida, no tempo, lugar ou modo
convencionados, caso em que competirá ao segundo o ônus de provar que diligenciou o
recebimento.

Mesmo não negando o réu a recusa alegada na inicial, ainda assim poderá defender-se
eficazmente, caso comprove que ela foi justa, seja porque o devedor ofertou valor inferior ao
devido, seja porque ausente, à época, qualquer dos requisitos objetivos ou subjetivos do
pagamento, seja, finalmente, provando a inexistência da causa da dívida.

Dúvida não há, porém, de que o ônus da prova também será dele, réu (CPC, art. 333, II);

b) A contestação poderá ser fundada no fato de o depósito não ter sido efetuado no prazo ou
no local do pagamento, isto é, já estar configurada a mora do devedor por ocasião de sua
realização.

Algumas considerações são necessárias.

A alínea sob exame repete literalmente a previsão do inc. III do art. 896 do CPC, ignorando
não apenas a natureza e as características das prestações depositadas em processo de
consignação de aluguéis e acessórios da locação como, ainda, as peculiaridades do
procedimento estabelecido pela lei específica.

Referindo-se à inadequação do lugar do depósito e à intempestividade de sua ocorrência, está


o Código abrindo caminho à defesa fundada na imprestabilidade da prestação quando esta seja
representada por uma coisa, e não por uma quantia devida. Por outras palavras, estando em
mora o devedor (da prestação de dar ou restituir coisa) por ocasião do depósito – já sendo, a
essa altura, imprestável, isto é, inútil, a prestação (CC, art. 395, par. único) –, deverá o
credor-réu calcar sua defesa nessa inutilidade, decorrente da intempestividade do depósito e
da inadequação do local onde foi realizado.

Ora, a prestação de aluguel e acessórios da locação é de natureza pecuniária, nunca se


tornando inútil, portanto, até porque o devedor, mesmo já estando em mora e querendo
furtar-se aos seus efeitos, poderá pleitear o depósito, com o acréscimo, evidentemente, das
quantias devidas a título de ressarcimento pelos prejuízos impostos ao credor até a data de
sua efetivação (CC, art. 401, I).

Então, nos processos envolvendo a consignação de prestações locativas e acessórios da


locação, só teria sentido essa linha de defesa se o depósito judicial não houvesse sido efetuado
no prazo previsto no inciso II; mas essa omissão por parte do autor acarretará a pura e
simples extinção do processo, sem julgamento do mérito, descabendo falar-se, pois, em oferta
de contestação nesse caso.

Poder-se-ia argumentar que a defesa ora sob exame se refere à recusa do credor em receber a
prestação antes da propositura da ação (e, conseqüentemente, da realização do depósito), por
ter sido ofertada intempestivamente. No entanto, é óbvio que nesse caso o réu deverá fundar
sua defesa na justeza da recusa (alínea b do inc. V), não na inadequação do depósito.

Diga-se o mesmo da defesa fundada na inadequação do local do depósito.

Atente-se, de início, para o fato de que o local do pagamento do aluguel e dos acessórios da
locação não se confundirá, necessariamente, com o foro competente para a propositura da
ação consignatória.

Tratando-se de dívida portável, o local do pagamento será o do domicílio do credor, ou outro


lugar por este designado contratualmente; sendo ela quesível, o local do pagamento coincidirá
com o do domicílio do devedor, ali devendo o credor buscar o pagamento. Já o foro
competente para a propositura da ação de consignação é aquele contratualmente eleito pelas
partes, ou, inexistindo cláusula eletiva, o da situação do imóvel, afastada a incidência do art.
891 do CPC.

Caso o devedor tenha ofertado a prestação portável em local diverso daquele estabelecido no
contrato de locação, estará, só por isso, em mora (CC, art. 394), mostrando-se justa,
portanto, a recusa do locador em recebê-la. E uma vez feito o depósito inicial pelo devedor, a
defesa do credor-réu também será fincada, nesse caso, na alínea b do inciso em pauta, não na
alínea seguinte.

A inadequação do local do depósito ensejará ao réu, isto sim, motivo para opor exceção de
incompetência, porquanto a ação terá sido ajuizada em foro diverso daquele onde está situado
o imóvel, ou daquele eleito contratualmente (Lei de Locação Predial Urbana, art. 58, II). Mas
essa situação não guarda semelhança com a contemplada na alínea c do inciso V do art. 67,
pois esta cuida de defesa de mérito e não se confunde com a defesa processual deduzida por
via de exceção.

Em síntese, em nenhum caso será pertinente, a nosso ver, o fundamento de defesa ora
examinado;

c) A alínea d do inciso V do art. 67 cuida da contestação pautada na insuficiência do depósito.

Sendo a quantia depositada inferior à efetivamente devida, o réu irá direcionar sua defesa no
sentido de o depósito não atender à plenitude de seu crédito; e tal defesa não impede,
evidentemente, a dedução de outras pelo contestante, muito embora o âmbito da contestação
possa impor ao processo, nesse particular, rumos totalmente diversos, como se verá adiante.

Ciente da impugnação do depósito, sempre restará ao autor, reconhecendo sua pertinência,


realizar a complementação, para tanto observando o prazo e o acréscimo estabelecidos pelo
inciso VII – prazo esse que, aliás, representa a metade daquele previsto no art. 899 do
diploma processual civil.

Examinemos com vagar a hipótese em pauta.

Anote-se, por primeiro, que se a única defesa deduzida pelo réu foi a de insuficiência do
depósito, impor-se-á a pronta prolação de sentença de mérito sempre que o autor,
reconhecendo a procedência de tal impugnação, vier a complementar o depósito, com o
acréscimo de 10% sobre o valor da diferença (e não sobre o valor total do depósito já
realizado); e nesse caso o vínculo locativo será mantido, arcando o autor, todavia, com o ônus
da sucumbência, isto é, respondendo pelo pagamento das custas e de honorários advocatícios,
fixados (estes, sim) em quantia igual a 20% do valor total dos depósitos.

Correta tal solução.

Observe-se que a causa determinante da extinção do processo ora examinada não encontra
correspondência com qualquer daquelas arroladas pelo art. 269 do CPC. De fato, a
possibilidade de alteração do pedido após a oferta da contestação, facultada pelo inc. VII
(como, de resto, pelo art. 899 do CPC), afronta o princípio da estabilidade do pedido, ou de
sua causa petendi (CPC, art. 264, par. único), abrindo margem para a prolação de sentença de
mérito sui generis, pois fundada no reconhecimento da procedência da defesa, feito pelo
autor, situação inconfundível com aquela indicada no inc. II do art. 269 do Código.

Tratando-se de modalidade especial de sentença de mérito, sem correspondência, repita-se,


com qualquer das situações enunciadas no artigo por último aludido, mostra-se salutar a
previsão legal do inciso em pauta, ao carrear ao autor o ônus da sucumbência, seja por
responsabilizá-lo, com exclusividade, por tais verbas (pois, se houvesse feito oferta integral, à
época do pagamento, não teria havido a recusa por parte do credor, tornando desnecessário o
ajuizamento da ação consignatória), seja por suprir omissão do diploma processual civil, que
deixa em aberto a questão envolvendo aquele ônus.

Impõe-se um reparo, todavia: ao utilizar a expressão autor-reconvindo o inciso VII transmite a


falsa idéia de que só caberá a complementação se o réu, além de fundar sua defesa na
insuficiência do depósito, também deduzir reconvenção de despejo por falta de pagamento,
cumulada com o pedido de condenação pelos valores devidos pelo autor. Todavia, inexiste
razão para subordinar a possibilidade de complementação do depósito, pelo autor, à prévia
oferta de reconvenção pelo réu.

Primeiro, porque ele poderá limitar sua resposta à contestação, posto não estar obrigado a
reconvir – tanto que o inciso VI utiliza o verbo poder, afastando qualquer dúvida acerca da
natureza facultativa da reconvenção. Depois porque, havendo apenas contestação fundada na
insuficiência do depósito, sem reconvenção do contestante, estar-se-ia obstando a uma
possibilidade já consagrada em nosso ordenamento jurídico, qual seja, a da complementação
do depósito pelo autor, caso reconheça a pertinência da defesa apresentada. E, a prevalecer a
subordinação acima lembrada, mesmo assim estaria ele obrigado a insistir, contraditoriamente,
na correção do depósito já feito, inclusive protestando pela produção de eventuais provas
cabíveis para a demonstração de tal assertiva, com o desnecessário prosseguimento do
processo.

Por fim, se a complementação dependesse necessariamente da reconvenção, seria injusta a


imposição do ônus da sucumbência exclusivamente ao autor, na medida em que, oportuna e
corretamente realizada aquela, seria o caso de rejeitar-se os pedidos veiculados pelo réu pela
via reconvencional; tanto é verdade, que o inciso VII dispõe, com todas as letras, que se o
autor complementar o depósito, “o juiz declarará quitadas as obrigações, elidindo a rescisão”
do contrato. E como nesse caso estariam sendo rejeitados os pedidos formulados pelo réu pela
via reconvencional, dever-se-ia, no mínimo, repartir o ônus da sucumbência entre as partes.

Em resumo: a complementação do depósito não está subordinada à prévia dedução, pelo réu,
de pedido reconvencional; realizada a complementação pelo autor-consignante, com ou sem
reconvenção do adversário, caberá ao juiz adotar a solução contida no inciso VII, impondo
exclusivamente ao autor o ônus da sucumbência.

Pode o réu, além de alegar a insuficiência do depósito, também deduzir qualquer das outras
defesas indicadas no inciso V, em atenção ao princípio da eventualidade (CPC, art. 302).

Nesse caso – e observado o reparo feito no item anterior –, a eventual complementação do


depósito pelo autor determinará, sem dúvida alguma, a redução dos limites da controvérsia
submetida à apreciação do juiz; não terá, contudo, o condão de eliminá-la, devendo o
processo prosseguir, portanto, para a resolução das questões remanescentes.

Afastadas pela autoridade judiciária as demais defesas do réu, a complementação do depósito,


se oportuna e corretamente realizada, acarretará o acolhimento do pedido consignatório.
Observe-se, porém, que se for essa a solução adotada pelo sentenciante, não terá incidência o
critério de atribuição do ônus da sucumbência contido no inciso VII.

Explica-se: se o réu alegou a inocorrência de recusa ou mora em receber a quantia devida


(alínea a), ou a justeza da recusa à recepção da prestação ofertada pelo devedor (alínea b),
apenas subsidiária e eventualmente sustentará a insuficiência do depósito (irrelevante, como
já visto acima, a defesa contida na alínea c).

Repelida que seja qualquer dessas suas defesas principais, dúvida alguma poderá restar, na
mente do julgador, acerca da pertinência do pedido consignatório; afinal, muito embora vindo
posteriormente a complementar o depósito inicial, antes disso o devedor foi compelido a
ingressar em juízo, por força da atitude adotada pelo credor em face da oferta da prestação,
recusando-se injustificadamente a recebê-la no tempo, modo e lugar convencionados
contratualmente.

Logo, nesse caso será do réu o ônus da sucumbência, arbitrada a verba honorária, em atenção
ao princípio da igualdade, no mesmo percentual indicado no inciso VII.

Claro está que, acolhido qualquer dos outros fundamentos da defesa, a complementação do
depósito não impedirá a rejeição do pedido consignatório, arcando o autor com o ônus da
sucumbência; e se não houve reconvenção, remanescerá a relação locativa, podendo o réu,
nesse caso, levantar as importâncias depositadas, se é que ainda não as levantou (art. 67, par.
único).

As hipóteses até aqui examinadas reforçam ainda mais, segundo cremos, o entendimento que
adotamos no item anterior, qual seja, o da possibilidade de complementação do depósito,
mesmo quando o réu não reconvenha pedindo o despejo do autor consignante.

Afinal, a complementação acarretará a pronta extinção do processo consignatório e dispensará


o ajuizamento da ação de despejo, sem qualquer prejuízo ao credor, pois este pretende,
primordialmente, ver satisfeito o seu crédito, e não o desfazimento da locação, tanto que
deixou de formular pedido reconvencional de despejo.

Tendo em vista, por outro lado, que a consignatória regulada pela Lei de Locação Predial
Urbana não tem natureza dúplice, o inciso VI do art. 67 faculta a oferta de reconvenção pelo
réu. Dela valer-se-á sempre que pretenda ver rescindido o contrato de locação e condenado o
autor-reconvindo ao pagamento quer das quantias objeto da consignação, quer da diferença
do depósito inicial, se a contestação veio fundada na defesa indicada na alínea d do inciso
anterior.
É nítida a existência de vínculo conectivo entre o fundamento da defesa e a reconvenção (CPC,
art. 315), na medida em que a pretensão do réu-reconvinte vem calcada no fato de o autor-
reconvindo estar em mora quanto ao pagamento do aluguel e dos acessórios da locação, ou,
ainda, de não ser integral o depósito por ele efetivado.

A reconvenção deverá ser ofertada no prazo comum de resposta, observados, para o seu
processamento, os princípios e critérios estabelecidos pelos arts. 315 a 318 do CPC.

Acolhido o pedido consignatório e rejeitados aqueles cumulativamente deduzidos pelo réu-


reconvinte, este arcará com o ônus da sucumbência – ressalvada apenas a hipótese
contemplada no inciso VII, já examinada. Ocorrendo a situação inversa, será decretado o
despejo do autor-reconvindo, com a sua condenação ao pagamento dos valores devidos, ou da
diferença do depósito inicial, mais das custas processuais e da verba honorária.

Acolhidos por sentença os pedidos deduzidos pelo réu-reconvinte, este só poderá promover a
execução após a efetiva desocupação do imóvel pelo inquilino (inc. VIII). Por outras palavras,
somente após o efetivo cumprimento da ordem de despejo (ou da desocupação voluntária do
imóvel pelo autor-reconvindo) é que poderá ter início a execução tendo por objeto os créditos
decorrentes da condenação.

Uma última observação. O inciso V do art. 58 da Lei de Locação Predial Urbana nega efeito
suspensivo aos recursos interpostos contra as sentenças proferidas nos processos envolvendo
a locação ou as prestações pecuniárias dela oriundas.

O vocábulo recurso vem grafado no plural apenas por uma questão de concordância nominal,
porquanto o inciso em pauta também se refere à sentença no plural.

Realmente, o único recurso cabível contra a sentença – e cuja interposição não impedirá a
imediata produção de seus efeitos – é o de apelação, visto que os embargos declaratórios
interrompem o prazo para a interposição de futuro apelo (CPC, art. 538, com a redação dada
pela Lei 8.950/94).

Então, ao negar efeito suspensivo à apelação interposta contra qualquer sentença proferida em
processo envolvendo locação ou prestações dela oriundas, está a Lei 8.245/91 a permitir o
cumprimento imediato do provimento jurisdicional – ressalvadas, apenas, as hipóteses
contempladas em seus arts. 69, in fine, e 74. E é justamente por isso que a execução
provisória da ordem de despejo ficará condicionada, no mais das vezes, à prestação de caução
pelo locador, revertendo tal garantia em favor do inquilino caso venha a ocorrer a reforma da
sentença concessiva da evacuação compulsória.

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