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ÁGUAS ULTRAPROFUNDAS NO BRASIL

OS PRÓXIMOS PASSOS PARA ALCANÇAR 3000 METROS

O Brasil, em 15 anos de atividades pioneiras da companhia estatal Petróleo Brasileiro SA. (Petrobras),
assumiu a liderança mundial na tecnologia de perfuração e produção em águas profundas e ultraprofundas,
tendo estabelecido seguidos recordes mundiais de profundidade. A companhia está se posicionando para ir
ainda mais fundo, lançando o terceiro programa de inovação tecnológica em águas profundas da série
PROCAP.

Em 31 de agosto de 2000, a Petrobras estabeleceu um novo recorde de produção, de 1.346.099 barris/dia,


com a seguinte distribuição: 18% em terra, 21% em águas rasas e 6 1% em águas profundas. A companhia
planeja aumentar esta última parcela para cerca de 75% em 2005, através do desenvolvimento dos campos
de Roncador, Espadarte, Marlim, Marlim-Sul, Bijupirá,Salema, Frade e Albacora Leste.

Para aumentar sua produção, a Petrobras necessita desenvolver seus campos em águas profundas o
ultraprofundas, motivo pelo qual está engajada em um amplo esforço exploratório.

Em julho de 2000, a Petrobras detinha as concessões de 72 campos no Brasil. Cerca de 62% deles estão
localizados em águas ultraprofundas (mais de 1.000m). Pôr esse. motivo, a empresa vem aumentando, nos
últimos anos suas atividades de perfuração exploratória em águas cada vez mais profundas. Atualmente,
está empregando 6 sondas em profundidades superiores a 1.500 metros para a perfuração de poços
exploratórios, muitos deles pioneiros, tendo concluído no ano passado um na profundidade recorde de
2.777 metros.

Ademais, suas reservas em águas ultraprofundas representam 75% das reservas totais. Conseqüentemente,
o necessário desenvolver e estender tecnologia que permita a produção de óleo e gás, de modo lucrativo,
nessas profundidades.

Desse modo, a Petrobras lançou o PROCAP-3000, com o objetivo de prover soluções tecnológicas que: 

1. Contribuam para viabilizar, técnica e economicamente, a produção de Marlim Leste e Albacora


Leste e das próximas fases de Roncador e Marlim-Sul; 
2. Viabilizem a produção de novas descobertas em lâminas d'água até 3.000m; 
3. Possibilitem a redução dos investimentos em desenvolvi mente dos projetos de produção, no Brasil
e no Exterior, em lâminas d'água superiores a 1.000m; e
4. Contribuam para a redução do custo de extração dos campos em produção.

Inicialmente, o PROCAP-3000 será desenvolvido através de 19 projetos sistêmicos focalizando as


principais tecnologias consideradas de importância estratégica para os cenários de atuação da companhia
em águas ultraprofundas.

Tecnologias a serem focalizadas pelo PROCAP- 3000

O PROCAP-3000 irá abranger as tecnologias aqui descritas. Espera-se que elas promovam mudanças que
reduzam os custos da indústria, tornando viável o desenvolvimento de uma grande parte dos campos em
águas profundas no mundo.

Tecnologia de poço
Poços multilaterais, de grande alcance e de trajetória complexa - Os avanços na tecnologia de
perfuração, como os poços multilaterais em profundidades de 2.000m a 3.000m, são boas alternativas para
a drenagem homogênea de reservatórios a partir de uma unidade flutuante de produção. A tecnologia de
poços multilaterais permitirá a produção de que o nível de 2 ou mais do reservatório, reduzindo o número
de poços necessários para a drenagem do reservatório, tomando lucrativos campos marginais não-
econômicos.

Os poços de longo alcance podem ter, em águas profundas, o mesmo sucesso obtido em terra e águas rasas.
Realmente, poços de longo alcance em águas profundas possibilitam atingir objetivos remotos no
reservatório, reduzindo a probabilidade de formação de hidratos e depósito de parafina devido ao excelente
isolamento térmico e a conseqüente redução da perda de calor, mantendo elevada a temperatura do fluido.
A Petrobras planeja perfurar, este ano, um poço de longo alcance no campo de Marlim-Sul; o poço terá
4.700 metros de afastamento horizontal e 500 metros de seção horizontal e será perfurado em 1.150 metros
de lâmina d'água.

A Petrobras está examinando, agora, um novo conceito de projeto de poço visando a conexão de 2 ou mais
poços de longo ou médio alcance a um poço de alta inclinação e "baixo" (menor) afastamento. Nessa
configuração, o reservatório será drenado através do poço de baixo afastamento e as seções superiores dos
poços seqüenciais serão lacradas (abandono temporário); isso permitirá atingir reservatórios localizados a
longa distância da unidade de produção usando recursos e condições "normais" de perfuração e reduzir, ou
mesmo evitar, o uso de linhas flexíveis e os investimentos necessários, bem como melhorar as condições de
fluxo em águas ultraprofundas.

Poços de alta vazão – Atualmente diversos projetos de desenvolvimento, para tornarem-se


economicamente atrativos, requerem que o nível de produção seja elevado. O aumento da produção através
do aumento do número de poços é uma solução que reduz a taxa de retorno devido aos elevados
investimentos com a perfuração de poços adicionais. Outra solução é o aumento da produtividade dos
poços reduzindo, por conseguinte, a quantidade de poços necessária para que seja atingido o nível
desejado de produção. Conseqüentemente, o principal objetivo é viabilizar economicamente os poços de
alta vazão. As seguintes tecnologias serão focalizadas:

-          Poços horizontais de grande diâmetro,

-          Produção pelo revestimento anular,

-          Poços multilaterais de grande diâmetro

-          Escoamento em geometria anular e em grandes diâmetros

 Poços submarinos com fluidos leves e/ou sub-balanceados – A perfuração sub-balanceada implica a
produção de óleo e/ou gás simultaneamente à operação de perfuração, o que muda completamente o modus
operandi dessa atividade. Atualmente, os poços sub-balanceados estão limitados às locações em terra ou
offshore a partir de plataformas fixas.O principal objetivo deste projeto é

possibilitar a perfuração e completação de poços utilizando fluidos leves e, progressivamente, atingir o


modo sub-balanceado, a partir de unidades flutuantes. Nessas unidades, o desafio consiste em manejar com
segurança os hidrocarbonetos no ríser de perfuração, que não foi projetado especificamente para esse
propósito. Após a perfuração com fluido bifásico, o próximo passo será a perfuração de poços sub-
balanceado em um reservatório de baixa energia. Diversos equipamentos foram projetados e testados para a
perfuração bifásica a partir de uma unidade flutuante, incluindo um separador compacto, sistema de
controle automático, cabeça rotativa especial instalada no topo do riser, linhas específicasde retorno de
lama e todo os demais itens necessários à segurança das operações. 

Completação Inteligente – Um sistema de completação inteligente permite ao operador monitorar e


controlar, em tempo real, a produção de hidrocarbonetos a partir de múltiplas zonas de uma única
perfuração ou de ramificações de um poço multi-lateral. Além de evitar intervenções, a completação
inteligente pode otimizar o desempenho dos poços e maximizar a recuperação de reservas, graças à
possibilidade de gerenciamento de todo o reservatório e não apenas do poço. A Petrobras; está examinando
a possibilidade de testar esta tecnologia no campo de Roncador e em um poço multilateral de injeção de
água na área do RJS-396, em 2000.

Elevação artificial

Gas-Lift ou bomba elétrica submersa - O uso de artificial continuará sendo necessário em poços su
bmarinos, especialmente em águas profundas.Devido a seu amplo campo de aplicação, com mais de 60%
da produção dos poços submarinos, e considerando que a tecnologia já usada em terra e em águas rasas
pode ser aplicada com bons resultados (confiabilidade) em águas profundas, o gas-lift é considerado o
método padrão de elevação artificial. Contudo, a necessidade de melhoria do desempenho da tecnologia
atual é um fato. Mesmo pequenos aumentos no desempenho irão resultar numa grande quantidade de óleo
produzido.Além do gas-lift, outra importante opção pode ser o uso de bombas elétricas submersas (BCSS).
A escolha de um desses métodos depende das características específicas dos fluidos produzidos, do
desempenho do reservatório e do arranjo de desenvolvimento, do campo. Mas a associação de métodos de
elevação artificial (métodos mistos), melhorando o desempenho geral, pode ser um fator-chave em águas
profundas. Por exemplo, gás-lift na base do ríser associado a sistemas de elevação (como uma BCSS)
podem ser usados na produção de poços a grande distância da plataforma, uma vez
que o fluxo com menor fração de gás é mais eficiente em dutos horizontais.

Sistemas submarinos de separação e injeção - A maioria dos campos em águas profundas produz (ou irá
produzir) água. À medida que aumenta a profundidade, o custo de elevação de quantidades cada
vez maiores de água produzida pode se tomar proibitivo, Nesse sentido, esforços têm sido dedicados à
pesquisa de tecnologia que possibilite a separação, no fundo do mar, de óleo e água, seguida pela reinjeção
da água produzida em um reservatório apropriado.

 Sistema de bombeamento multifásico submarino - Este sistema é considerado vantajoso em certos


casos, em águas profundas onde a instalação e operação de plataformas de produção são inviáveis do ponto
de vista econômico. Seu uso, quando devidamente desenvolvido, é visto como positivo, permitindo a
antecipação da produção em água profundas. A Petrobras está desenvolvendo um protótipo completo  em
conjunto com Westinghouse,Leistritz, Kvaemer, Tronic e Pirelli através de um acordo de cooperação
tecnológica. O sistema está sendo projetado para 1.000 metros de profundidade, possuindo inúmeras
inovações na área submarina, e será instalado no campo de Marlim, a 660 metros de profundidade, no
primeiro trimestre de 2001. 

Garantia de escoamento - A formação de depósitos orgânicos continuará sendo um grande problema


devido às baixas temperaturas de fluxo em águas profundas. Alternativas para a mitigação desse fenômeno,
tais como inibidores (químicos, termoquímicos e mecânicos), isolamento térmico e aquecimento elétrico –
têm sido exaustivamente analisadas pela indústria. Essas técnicas deverão continuar a ser refinadas para
longos tié-backs e linhas de diâmetro variável. Métodos avançados para a predição de taxas de deposição
de parafina em dutos de escoamento multifásicos são instrumentos necessários para a análise técnica e
econômica.
O bloqueio de linhas e equipamentos por hidratos pode se tomar inevitável devido às altas pressões e
temperaturas prevalecentes nos sistemas de produção. Tendo em vista que a maioria dos campos em águas
profundas irá, algum dia, apresentar produção de água (aumentando com o tempo), o custo de injeção de
inibidores termodinâmicos convencionais irá, provavelmente, se tornar proibitivo. Os inibidores cinéticos
parecem ser a melhor solução, por conseguinte maiores esforços de pesquisa devem ser alocados a essa
nova tecnologia, especialmente no sentido de baixar o seu custo. Métodos de correção, inclusive
localização e remoção de bloqueios devem ser trabalhados.

Conclusões

Para a Petrobras, essas são as principais linhas tecnológicas a serem desenvolvidas, especialmente para o
cenário da Bacia de Bacia de Campos. Com a perspectiva de novas descobertas em águas ainda mais
profundas, essa área deverá continuar sendo usada como um laboratório em escala real para o
desenvolvimento e aplicação das novas tecnologias, a médio e longo prazos. Pode-se dizer que, hoje, a
tecnologia para produção em até 2.000 metros de profundidade já está disponível. Contudo, ainda existem
desafios a serem vencidos para chegar à marca de 3.000 metros. A experiência operacional acumulada pela
Petrobras e seus parceiros ao longo de mais de 15 anos, a existência de uma rede brasileira de
conhecimento em águas profundas, a ampla infraestrutura disponível, na Bacia de Campos, e o sucesso dos
programas tecnológicos fornecem as ferramentas e a confiança necessárias para vencer tais desafios. Cabe
destacar que o verdadeiro objetivo empresarial é a utilização da tecnologia de modo a viabilizar a produção
bem como aumentar a atratividade econômica do desenvolvimento da produção nessas profundidades.

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