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Escola Profissional Gustave Eiffel - Arruda dos Vinhos

Curso de Práticas de Acção Educativa (Tipo 2) – 1º ano


Disciplina de Acompanhamento de Crianças
Módulo 1.1: Desenvolvimento Infantil e relacionamento
empático afectivo
Ficha nº

CONDIÇÕES BÁSICAS DO DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA e


ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO FÍSICO E PSICOMOTOR

A palavra "Infante" vem do latim "infans" que significa incapaz de


falar. Geralmente define o período que vai do nascimento até
aproximadamente os 2/3 anos de idade, quando a fala já se transformou
num instrumento de comunicação. É onde muitos eventos ocorrem pela
primeira vez: o primeiro sorriso, a primeira palavra, os primeiros passos, a
vez a agarrar um objecto, etc. A criança é um ser dinâmico, complexo, em
constante transformação que apresenta uma sequência previsível e regular
de crescimento físico e neuro-psico-motor.
Esse desenvolvimento sofre a
influência contínua de factores
intrínsecos e factores extrínsecos, que
provocam variações de um indivíduo para
outro e que tornam único o curso do
desenvolvimento de cada criança. Os
factores intrínsecos determinam as
características físicas da criança: a cor dos
seus olhos, e outros atributos
geneticamente determinados. Os factores
extrínsecos começam a actuar desde a
concepção, estando directamente
relacionados com o ambiente da vida intra-
uterina proporcionado pela mãe através
das suas condições de saúde e nutrição. Além disto, mãe e feto sofrem os
efeitos do ambiente que os circunda. O bem-estar emocional da mãe
também influencia de forma significativa o bem-estar do feto, embora este
tipo de influência não funcione necessariamente como causa directa de
problemas de desenvolvimento posteriores. Após o nascimento, o ambiente
em que a criança vive, os cuidados que lhe são dispensados pelos pais, o

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carinho, estímulos e alimentação passam a fazer parte significativa no


processo de maturação que leva a criança da dependência à independência.

ETAPAS
DO

DESENVOLVIMENTO FÍSICO E PSICOMOTOR

Período Pré-Natal (Gestação

Período Neo-Natal (Dos 0-28 dias

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O bebé, quando nasce depende absolutamente dos outros para


sobreviver. No entanto, este facto não o torna um ser passivo e sem
vontade. Do ponto de vista da maturação, ele demonstra capacidades
surpreendentes geralmente denominadas competências do recém-
nascido. A maturidade neurológica do recém-nascido e a sua avaliação são
muito importantes inclusive para o diagnóstico da idade gestacional e dos
cuidados que lhe serão dispensados nas unidades de neonatologia. As
respostas a estímulos evoluem de reflexos generalizados que envolvem
todo o corpo, para acções voluntárias, definidas pelo córtex cerebral (os
chamados reflexos corticais). Esta especialização permite à criança passar
de reacções simétricas involuntárias de resposta ao meio ambiente (gritar,
agitar os braços, dar pontapés) para movimentos voluntários, assimétricos,
em função de determinado estímulo. (Ex: pegar num objecto e passá-lo de
uma mão para outra).
A postura e os movimentos amplos do recém-nascido são muito
importantes e devem ser sempre observados: o recém-nascido “normal”
mantém os braços e as pernas flectidos (posição supina); as pupilas reagem
à luz; apresenta uma reacção global a barulhos muito fortes e dorme a
maior parte do tempo.
O recém-nascido tem percepções visuais, alguma discriminação
olfactiva, percebe alguns sabores (tendo predilecção pelo doce) e logo
desde as primeiras horas de vida é capaz de indicar a percepção de alguns
sons. A voz humana causa nele efeitos diferentes de outros sons, e já por
volta da segunda semana de vida, a voz da mãe ou mesmo de outra mulher,
modulada por tonalidades afectivas, é capaz de desencadear sorrisos mais
facilmente do que qualquer outro som.
Do ponto de vista emocional, a interacção mãe-bebé, que já existia
durante a gestação, continua após o parto. A criança que já foi antecipada e
fantasiada pela mãe começa a emergir como um ser humano, identificando
nele determinados traços como, por exemplo, a cor dos olhos do avô, o
cabelo do pai etc... É nas conversas mantidas em redor do berço do bebé
que serão formados os laços familiares de sustentação da díade mãe-bebé,

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tão necessários nos primeiros anos de vida. Caberá aos pais a tarefa da
transmissão da linguagem através de conversas, toques e significações que
são fundamentais na constituição da psique do bebé.
De facto, neste período, a mãe volta a sua atenção, o seu interesse e
a sua preocupação para o recém-nascido. Esta dedicação é fundamental
para ela conseguir prestar os cuidados quase contínuos que o bebé solicita.
Isto exige uma certa identificação da mãe com o seu bebé (podemos
perceber esta situação quando o bebé chora e a mãe sabe, quase
instintivamente, se ele está com fome, com sono ou incomodado, por
exemplo). Ao agir desta forma, a mãe está a proporcionar ao bebé uma
sensação de protecção, conforto e segurança, tanto física como
emocionalmente.
Até ao momento, atribuímos grande importância à mãe, no que se
refere ao desenvolvimento psíquico do bebé, mas o que é certo é que o pai
também exerce várias funções que se revelam fundamentais. A mãe precisa
de um companheiro para apoia-la, tanto material como emocionalmente, a
fim de que ela possa ter tranquilidade e disponibilidade para cuidar do bebé
de ambos.
O pai do bebé poderá, também, na ausência da mãe, ou mesmo em
conjunto com ela, desempenhar as funções ditas “maternas”, uma vez que
estas funções são prioritariamente – mas não exclusivamente –
desenvolvidas por ela.

Primeira Infância (Dos 29 dias aos 2 anos inclusive)

É durante o período da primeira infância que ocorrem as maiores e


mais rápidas modificações no desenvolvimento da criança, principalmente
no que se refere ao domínio neuro-psico-motor.

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Os movimentos dos braços passam a obedecer ao controlo cortical e


à orientação visual antes que os movimentos das pernas. Desta forma, a
criança evolui de brincadeiras com as mãos e a boca para brincadeiras com
os pés e a boca. Isto permite que ela possa usar uma parte do seu próprio
corpo como uma experiência de prazer desligado da necessidade. A criança
chupa o dedo e as mãos não necessariamente porque está com fome e sim
porque é agradável e porque às vezes a acalma.
Nesta fase, o bebé começa a formar a imagem do seu corpo a partir
destas actividades auto-exploratórias do próprio corpo sob o olhar atento
da mãe. Assim, é neste mundo a dois que o bebé vai construir o conceito
de si mesmo, o seu “eu”.

Os membros superiores tornam-se cada vez mais ágeis para alcançar,


agarrar e manipular objectos. Primeiro agarra o objecto com a mão, depois
usa os dedos e finalmente o movimento de pinça fina (polegar e indicador).
A partir daqui, a criança começa a brincar e a utilizar os objectos (morde-os
e atira com eles) e vai construindo, através destas brincadeiras, a sua vida
psíquica e as suas relações com o mundo.
Gradualmente, os ritmos de sono, alimentação e excreção vão-se
estabelecendo a partir da presença e ausência (alternância) da mãe. A mãe
que ora está presente ora não está; ora fala com o bebé, ora se cala; ora lhe
oferece a mama, ora lha tira, imprime
uma certa coordenação das funções
orgânicas do seu bebé. Ele começa a
aprender a distinguir o dia e a noite e a
tolerar melhor a distância entre uma
mamada e outra. Os intervalos passam
a fazer parte da vida do bebé.
A fala materna dirigida ao bebé
tem uma função muito importante. O mamanhês é uma forma particular de
a mãe falar com a criança e apresenta uma série de características
específicas, entre as quais se destaca a prosódia, que é uma
conversação cheia de picos e entonações especiais. Este tipo de fala

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produz no bebé uma apetência oral, uma avidez, que o leva muitas vezes a
chupar vigorosamente a mama ou mesmo a chupeta, e que o faz ficar
extremamente atento à mãe.
O mamanhês, isto é, a linguagem específica que a mãe usa para
comunicar com o seu bebé, desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento da criança, pois permite a primeira vinculação
psíquica do bebé a outra pessoa (neste caso, a mãe).

Neste período, também ocupa um lugar de destaque o pai ou uma


terceira pessoa que se interpõe na díade mãe/bebé, uma vez que tudo
aquilo que interessa à mãe é igualmente objecto de interesse da criança.
Este momento da entrada de um terceiro na relação da mãe com a criança
permite que ela entenda que a mãe não é só dela, nem vive só para ela:
existem também os irmãos, o pai, o trabalho...ou seja, a mãe deseja outras
coisas para além dela. É aqui que a díade mãe/filho começa a separar-se,
abrindo um espaço que permite à criança construir laços com outras
pessoas. Descobrir que a mãe não é só dela permite que ela parta em busca
do seu próprio desejo (e não apenas do desejo da mãe, como acontecia até
aqui).

Em síntese:
 A progressão do desenvolvimento vai desde o bebé totalmente
dependente até ao final do primeiro ano de vida, altura em que começa a
dar os primeiros passos, adquirindo a mobilidade e a capacidade de
manipular objectos que lhe permitem explorar a maior parte do
meio. Estas competências neuro-motoras estão ao serviço do “eu” do bebé
e do seu desejo de conhecer e dominar o que o rodeia;
 O mesmo acontece com a aquisição da linguagem que se
inicia com as trocas sonoras, ritmadas e agradáveis do bebé com a sua
mãe, e vai evoluindo até a criança conseguir falar de si mesma e de se
afirmar dizendo não, fazendo as suas escolhas, conhecendo e agindo no seu

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pequeno universo. Assim, as crianças aprendem a caminhar, manipulam os


objectos desejados, separam-se das mães, abrem as portas e começam a
descobrir o mundo.

Segunda Infância ou Idade Pré-escolar (Dos 3 aos 6 anos)

É ao longo deste período, entre os 3 anos e os 6 anos, que a criança


fortalece as suas capacidades motoras e psicológicas já adquiridas e inicia o
seu processo de socialização. A criança é capaz de realizar actividades
motoras cada vez mais complexas, consegue vestir-se sozinha, atar os
sapatos, lavar os dentes, saltar à corda e jogar à bola... Todavia, os avanços
mais significativos produzem-se ao nível psicológico, tendo na curiosidade a
sua principal ferramenta.
O quarto ano de vida é a "idade do porquê", uma interrogação que a
criança repete constantemente à procura de respostas que a deixem
satisfeita. A criança recorre frequentemente a
esta pergunta, pois como o seu processo de
aprendizagem se baseia na utilização da
memória, apenas consegue adquirir
conhecimentos se lhe repetirem várias vezes as
coisas. No entanto, existem muitos casos,
sobretudo quando as explicações não são
concretas e, em especial, quando são evasivas,
em que as suas perguntas parecem não ter fim.
Como a criança de 4 anos tem uma grande imaginação, é-lhe indiferente
que lhe respondam com lógica ou que lhe dêem uma resposta irreal,
chegando a ser capaz de adaptar a fantasia às necessidades de cada
momento, pois tem uma enorme capacidade para criar histórias. Por vezes,
a sua mistura entre realidade e ficção proporciona a elaboração de
aparentes mentiras, algo que preocupa bastante os pais quando não
compreendem o seu significado, já que a criança pode inventar respostas

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para explicar factos evidentes, de forma consciente, mas sem malícia, visto
que muitas vezes não distingue o que se passou do que deseja ter-se
passado.
A criança apenas aprende a diferenciar a realidade da fantasia por
volta dos 5 anos, momento a partir do qual, embora solicite explicações
mais detalhadas, não é tão insistente, já que é capaz de deduzir Ao longo
desta etapa, as relações com os outros vão-se tornando mais complexas. A
criança começa a manifestar um interesse crescente pela integração em
grupos da mesma idade e uma maior capacidade para a participação em
jogos. A sua interacção social ainda é muito egocêntrica, já que ainda não
leva em conta os pontos de vista dos seus companheiros. É precisamente
esta progressiva capacidade de dar e não apenas de receber, de
compreender os outros, de manifestar empatia e de tentar colaborar de
forma construtiva em actividades comuns que realmente reflecte o
amadurecimento da criança.
As expectativas que os pais têm em relação à criança são
particularmente importantes nesta fase, uma vez que a criança começa a
interrogar o desejo destes a respeito de si. “Que queres de mim?” é a
pergunta que parece nortear a organização do psiquismo neste momento.
Muitas vezes, o desejo inconsciente dos pais contradiz os seus desejos
conscientes! Vejamos o seguinte exemplo:
Uma mãe leva a filha de 4 anos ao psicólogo e queixa-se da falta de
controlo dos esfíncteres da criança. A menina ainda usa fraldas porque se
não “faz nas calças”. Quando o psicólogo começa a orientar a mãe sobre a
atitude a tomar, recomendando, por exemplo, que ela diga à sua filha para
ir à casa de banho sozinha, a mãe exclama: “Ah, mas ela ainda é tão
pequenina!”

A mãe conscientemente quer que a sua filha cresça e se comporte como uma criança
de 4 anos, mas inconscientemente deseja que ela continue a ser “o seu bebé”.

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A criança começa a vivenciar sentimentos bastante ambivalentes em


relação aos mais próximos, o pai e a mãe. Ao menor sinal de proibição, ela
faz birras, chora, fica amuada, etc. São tempos difíceis para os pais e para
as crianças, mas, contudo, fundamentais para o seu desenvolvimento, na
medida em que a criança está a dar grandes passos em direcção à
independência, pois vai descobrindo que para viver socialmente é
preciso aprender a respeitar os limites impostos pela cultura, pela
diferença dos sexos e pela diferença das gerações (ex: a criança aprende
que deve respeitar os mais velhos).
Por volta dos 6 anos, a criança já consegue adiar a realização
de um desejo em virtude da aceitação e da compreensão dos limites que os
pais lhe impõem. Esta capacidade, juntamente com o domínio das funções
motoras e da linguagem, proporciona à criança um gradual aumento da sua
autonomia. Este facto faz com que ela alargue o seu meio social, saindo do
contexto exclusivo da família em direcção à escola, à vida lá fora. Neste
período, é agradável para a criança estar com outras pessoas.

Terceira Infância ou Idade Escolar (A partir dos 6 anos)

É ao longo desta etapa, ou seja, a partir dos 6 anos, que a criança


completa o seu desenvolvimento físico, motor e psicológico. É uma época
crucial, que determina evidentes diferenças no grau de desenvolvimento
tanto em função das aptidões inatas, consequentes dos condicionantes
genéticos, como do meio familiar e social em que a criança vive e a
educação que nele recebe. As eventuais diferenças no ritmo de
amadurecimento devem ser respeitadas, de modo a proporcionar à criança
o máximo de estímulos, mas sem se lhe exigir mais avanços do que os que
realmente pode alcançar, pois caso contrário passa por constantes
frustrações que prejudicam o seu desenvolvimento.
O início da idade escolar é marcado, sobretudo, pela aprendizagem
da escrita e da leitura, factos que proporcionam um novo mundo de

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possibilidades de conhecimentos e de comunicação à criança. O


amadurecimento do sistema nervoso permite-lhe entender conceitos
abstractos extremamente importantes para poder organizar a sua vida
(noções do tempo, como ontem e amanhã) e para a própria leitura e escrita
(noções de espaço, como esquerda e direita, cima e baixo, trás e frente).
Um acontecimento muito importante na vida da criança é o pensamento
lógico, baseado em questões concretas que lhe permitem reflectir, deduzir e
tirar as suas próprias conclusões das coisas. Já pode aprender a contar e,
por vezes, começa a pensar em questões metafísicas, tendo igualmente
uma ideia do que é a morte. Esta é a "idade da razão'', o momento em
que a criança começa a distinguir o bem e o mal, o que é permitido
e o que é proibido. Para além disto, aprende a fazer raciocínios sem
ter de se apoiar em objectos concretos, domina ideias cada vez
mais concretas, desenvolve a sua capacidade de concentração e a
sua capacidade de memorização, factores essenciais ao nível do
desenvolvimento intelectual.
Esta fase é igualmente importante a partir de outras perspectivas, já
que constitui um momento crítico na formação da personalidade e no
estabelecimento de novos círculos de relação, em que a criança tem, de um
lado, o âmbito do seu núcleo familiar e, do outro lado, o formado pelos
companheiros e professores da escola. Embora já comece a ter "amigos
íntimos", a idade escolar é uma época de transição em que o mundo da
família e o dos amigos têm uma importância semelhante.
A seguir a esta etapa, começa a da puberdade e adolescência, ao
longo da qual o centro da relação começa a afastar-se definitivamente da
família. No final desta etapa, a criança culmina o desenvolvimento da sua
personalidade.
O período de vida que engloba as três infâncias descritas
anteriormente é de extrema importância no que diz respeito ao
desenvolvimento físico e psicomotor da criança. De facto, entre os 2/3 anos
e os 6/7 anos, a criança adquire uma série de competências que se

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revelarão fundamentais no que diz respeito às suas futuras capacidades


físicas, motoras e psicológicas.
Durante este período, a criança não pára de aumentar regularmente
a sua estatura e o seu peso, embora a velocidade do crescimento seja mais
lenta do que havia sido nos primeiros dois anos de vida.

A LATERALIDADE

A lateralidade é uma sensação interna de que o corpo tem dois


lados, que existem duas metades do corpo e de que estas são exactamente
iguais. A lateralidade representa o predomínio normal de um lado do corpo:
primeiro, a criança utiliza indiferenciadamente os dois lados do corpo e,
depois, com a maturação do organismo, vai estabelecendo preferências por
um dos lados.
Assim, a lateralidade traduz-se na capacidade de controlar os
dois lados do corpo (juntos ou separadamente). É importante que
exista a percepção da diferença entre direita e esquerda, sendo
igualmente necessário que a criança tenha a noção da distância
que existe entre elementos posicionados tanto do lado direito como
do lado esquerdo.
Os movimentos bilaterais envolvem o uso de ambos os lados de modo
simultâneo e paralelo (ex: pegar numa bola com as duas mãos); já os
movimentos unilaterais requerem o uso de apenas um dos lados do corpo
(ex: dizer adeus com a mão).
Existem crianças dextras e crianças canhotas, isto é, crianças que
utilizam principalmente a mão direita para escrever, cortar, comer, pintar,
etc., e outras que se defendem melhor com a esquerda. O mesmo que
ocorre com as mãos acontece com outras partes do corpo: os pés, os
ouvidos, os olhos. Prevalecerá sempre um sobre o outro. Porém, pode dar-
se o caso de que uma criança seja canhota com a mão e que o seu
pé predominante seja o esquerdo. É o que se conhece como
lateralidade cruzada.

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A lateralidade não se define completamente até à idade de 4


ou 5 anos. No entanto, é necessário favorecer o seu amadurecimento com
exercícios e observar como se comportam as crianças com as duas mãos.
Uma actividade que potencia a lateralidade é pintar a cara. As
crianças adoram tudo o que seja sujar-se e molhar as suas mãozinhas em
frascos de pintura! Em primeiro lugar, a criança deve colocar-se à frente de
um espelho para que distinga o lado da cara que se maquilha. Também é
importante ter presente que toda a actividade realizada com as crianças
deverá estar adequadamente ambientada. Como? Com imaginação. Assim
conseguiremos criar a motivação necessária para que a criança se introduza
no jogo com naturalidade e com muita vontade de se divertir. Assim,
podemos começar por lhe contar uma história que desperte a sua
curiosidade:

“Durante mais de 10.000 anos, em todo o mundo, as pessoas


decoraram o seu corpo com pinturas de muitas cores. Os artistas do teatro,
as princesas e as rainhas de todos os tempos, os índios da América, as
bailarinas japonesas chamas Geishas, os palhaços do circo, os homens
primitivos... É um costume mágico e surpreendente! Por exemplo, antes de
partir para a guerra, alguns índios norte americanos pintaram de vermelho
o contorno dos olhos e as orelhas para terem boa sorte nas suas lutas e
para assustar o inimigo... "

Damos-lhe pinturas especiais de maquilhagem e mãos à obra! Toca a


meter os dedos! Os papás podem ser os chefes da tribo e darão ordens aos
seus guerreiros:
“Primeiro, pintamos a sobrancelha direita de vermelho”;
“Depois, a sobrancelha esquerda de amarelo”;
“Agora, fazemos um círculo na bochecha direita”;
“Vamos pintar o olho esquerdo de azul”;
Etc.

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Estes são apenas alguns exemplos. Podemos inventar uma infinidade


de lendas fantásticas. Sem se aperceber, a criança aprenderá a distinguir a
direita da esquerda. Assim desenvolverá a sua lateralidade e passará
momentos muito divertidos, que seguramente repetirão. Quanto mais
estimulações e oportunidades de movimentos e experimentações a criança
vivenciar com cada um dos lados, mais rapidamente optará por um deles
(dominância). Modificar a preferência lateral da criança, é infligir-
lhe uma violência que não afecta um simples hábito ou mania, mas
que entra em contradição com a organização de seu cérebro.

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