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Capítulo VIII

A Pureza do Coração
Alejandro G. Frank

Introdução
A partir do capítulo anterior, começamos a ver uma nova etapa dentro da sequência das bem-
aventuranças. Temos tratado três primeiras bem-aventuranças que destacam uma condição
interior do cristão: a humildade, isto é, como ele se humilha diante de Deus reconhecendo que
não é nada; o lamento, isto é, como ele se lamenta pelos seus pecados não querendo ser
assim e a mansidão, que é a forma em que o crente aceita a sua condição diante da Palavra de
Deus e se submete à mesma. Como consequência disto, vimos que há como resultado uma
sede e fome por viver a justiça de Deus, por buscar as coisas do alto e fazer a vontade de Deus.
Neste sentido, o crente busca uma solução para as três primeiras bem-aventuranças e obtém
uma promessa para sua sede e fome: “aqueles que buscam serão fartos”. O crente
constantemente busca a justiça de Deus, a vontade de Deus, e é farto pela mesma, mas ainda
espera uma justiça maior que vai se manifestar no dia final, quando o Senhor instaurar a paz
no Seu reino. Isto nos levou aos resultados no caráter do cristão, que é a quinta bem-
aventurança, a misericórdia. Aquele que entende que obteve tudo por graça e misericórdia de
Deus, também age da mesma maneira para com as outras pessoas. Eis aqui uma mudança de
foco para o prático na vida do cristão, embora as outras bem-aventuranças tenham muitas
aplicações práticas também, como já vimos nos capítulos anteriores. Vamos a considerar agora
uma nova etapa nesta sequência, a sexta bem-aventurança:

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.” (Mateus 5.8)

Como já temos visto anteriormente, é evidente que esta é mais uma de todas as características
que devem estar na vida do crente e não uma das opções para o crente escolher na sua vida.
Os mesmos que verão a Deus (Mateus 5.8b) são aqueles aos quais pertence o Reino dos Céus
(Mateus 5.3b) e são os que serão consolados (Mateus 5.4b) e assim por diante. Nesta nova
bem-aventurança, o Senhor afirma que o crente é aquele que tem um coração limpo. Um
ponto interessante nesta nova bem-aventurança é que, se há uma sequência definida nas
mesmas, assim como temos visto até o momento, talvez fosse esperado que o Senhor tivesse
colocado esta bem-aventurança no inicio e não neste estágio, depois das outras cinco bem-
aventuranças anteriores. Talvez pensássemos que o Senhor deveria ter falado que alguém de
coração puro será como resultado humilde, manso, misericordioso, etc. e não o contrário
como aqui sucede. Lloyd-Jones vê nesta afirmação o que ele explica como o outro lado de uma
montanha, o lado da descida. O tope foi a afirmação da quarta bem-aventurança: a sede e
fome da justiça. Nela está o centro do cristianismo autêntico. As três anteriores (humildade,
lamento e mansidão) levam ao tope, à busca pela justiça de Deus. Mas do outro lado, temos
um resultado, uma manifestação das características interiores do crente. Então, se primeiro eu
me humilhei diante do Senhor por minha condição e alcancei misericórdia (primeira bem-
aventurança), depois da busca pela justiça de Deus na minha vida eu terei, como resultado,
misericórdia com as outras pessoas (quinta bem-aventurança). Da mesma maneira, se eu me
lamentei por minha condição de ter um coração mau, pecaminoso, que precisa ser sarado

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(segunda bem-aventurança), do outro lado do tope, depois de buscar a justiça de Deus, meu
coração será limpo ou, melhor, limpado (sexta bem-aventurança). Algo similar acontece entre
a mansidão (terceira bem-aventurança), de um lado do tope, e a busca pela paz (sétima bem-
aventurança). Então, aqui são apresentadas as consequências positivas na vida do cristão que
se remetem à sequência das primeiras bem-aventuranças que olhavam para o crente de
maneira “negativa” por assim dizer.

Mas agora, centralizando-nos na limpeza do coração, ou a pureza do coração, como o


traduzem as versões de King James e Lutero. O que significa ser limpo ou puro de coração?
Como isso se manifesta na vida do crente e quais as dificuldades a respeito. Precisamos
entender e considerar esta bem-aventurança nas nossas vidas, pois se formos avaliados e
achados com um coração impuro devemos considerar o aspecto contrário. Se os puros verão a
Deus, então os impuros não. Como também disse Davi, no Salmo 24.3-4: “Quem subirá ao
monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e
puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente”. Assim
sendo, abordaremos essas questões nas seguintes seções deste capítulo.

O que significa ser puro de coração


Vamos primeiro nos centralizar no significado da palavra “coração” no contexto das bem-
aventuranças. O coração é sempre considerado na Bíblia como o centro ou alvo das
mensagens das Escrituras. Também é considerado o motor que dirige a vida e as decisões do
ser humano, como diz em Provérbios 4.23: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o
coração, porque dele procedem as fontes da vida”. Continuamente a Bíblia nos exorta a cuidar
do coração. Neste sentido, podemos ver que na bem-aventurança em consideração o Senhor
Jesus não está elogiando aos que detém grandes capacidades intelectuais, nem que possuem
grandes aptidões físicas, nem de grandes talentos artísticos ou similares, mas aos de coração
limpo. Assim sendo, não se trata de pessoas que detém apenas um grande conhecimento
acadêmico das Escrituras, embora isto seja muito importante para nossas vidas. Também não
se trata de pessoas que conseguem tocar bem um instrumento ou cantar bem no coral da
igreja, embora isto seja muito bom e edificante. O Senhor está centralizando a importância do
coração puro antes de todas as coisas. Como disse Lloyd-Jones1, o cristão sempre deve se
preocupar, em primeiro lugar, sobre o estado do coração das pessoas.

Mas o que significa “coração”? Muitas vezes se confunde coração apenas com emoções e
sentimentos do momento, especialmente na atualidade, onde o emocionalismo religioso é tem
tomado tanta força. Por exemplo, quando dizemos que nos dói o coração, na verdade estamos
querendo dizer que sentimos um sentimento de opressão e de tristeza. Hoje em dia, muitas
vezes nas igrejas se confunde emoções com pureza de coração. Há muitas igrejas que
enfatizam unicamente as emoções do ser humano, buscando algum tipo de experiência
sobrenatural neste sentido, mas não é isto o que o Senhor Jesus está querendo dizer aqui. No
contexto hebraico, quando se falava de coração se entendia como o centro da personalidade.
Os judeus não entendiam a separação de razão e coração (sentimentos) da maneira que o
fazemos nós. Quando na Bíblia fala de coração, sempre se refere à fonte de onde tudo procede
e que inclui a mente, à vontade e as emoções. Quer dizer que a palavra “coração” considera o

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“Estudos no Sermão do Monte” (D.M. Lloyd-Jones). Editora Fiel.

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homem em sua totalidade. Por este motivo o Evangelho sempre aponta ao “coração”. Isto não
se refere a que o Evangelho aponta ao órgão chamado “coração”, mas que aponta ao centro
do homem, a sua mente, a sua vontade e a suas emoções, à totalidade do ser.

Assim sendo, quando consideramos a segunda bem-aventurança, o lamento do cristão, vimos


que nos lamentamos porque entendemos o que há no nosso coração e desejamos ser limpos,
purificados. Isto é totalmente contrário à concepção moderna da psicologia, que atribui todos
os atos malvados do ser humano às condições do meio ambiente no qual ele se desenvolveu. A
Palavra de Deus afirma que o nosso coração é mau desde o nascimento, isto é, a essência, o
centro do homem, aquilo que o move, as suas emoções, sua vontade e sua mente, estão
corrompidas pelo pecado. “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe”
(Salmos 51.5). “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os
pensamentos...” (Jeremias 17.9-10a). Tirem todos os fatores do meio ambiente e verão que
eles apenas contribuíram para manifestar o que há no coração do homem. O pecado está ai,
ele já habita no homem ímpio e vem à luz em diferentes situações da vida. Mas, graças a Deus,
nesta bem-aventurança o Senhor está dizendo que há pessoas “limpas de coração”. O que
significa ser limpo ou puro de coração? A seguir vamos a destacar alguns significados a
respeito.

A- A pureza do coração e a regeneração


A limpeza e a pureza e de coração são sinônimos e em diferentes traduções são usadas ambas
as palavras indistintamente. Se considerarmos o anteriormente exposto, acerca do significado
do coração, é claro que não está se referindo a que há algumas pessoas que nasceram limpas e
puras, “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). O Senhor está
falando aqui de pessoas que “foram limpadas”, que “foram purificadas” e que, portanto, agora
têm um coração puro. Isto nos faz lembrar do texto de Ezequiel 36.25-27:

“Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas
imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei
dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.
Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus
juízos e os observeis.”

Este texto afirma que é o Senhor quem limpa os corações. O Senhor é quem retira o coração
de pedra do ser humano e coloca um coração de carne, isto é, um coração sensível, uma
mente, emoções e vontade que buscam a Deus e que são sensíveis ao pecado. Agora temos
um coração sensível, que sente dor pelo mal, que sofre e se lamenta quando peca. Esta é uma
das marcas distintivas do cristão: ele se lamenta e se arrepende cada vez que peca. Ele tem
sede e fome de justiça e busca a santificação na sua vida. Vejam aqui que, quando a Bíblia está
tratando de um coração puro, não está se referindo a um coração que não tem mais lutas
contra o pecado e que não resvala e, muitas vezes, cai. Mas aqui, está se referindo a um
coração que é sensível a essas coisas. Assim sendo, um coração lavado, purificado, representa
um coração que já não é endurecido em relação ao pecado. O crente deve estar limpo
completamente neste sentido, como disse o Senhor a Pedro na ceia: “Quem já se banhou não
necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas
não todos” (João 13.10). Observem que os discípulos eram considerados limpos pelo Senhor,

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contudo, eles não eram perfeitos e ainda tinham muito para crescer na vida cristã. Por
exemplo, Pedro, logo depois desta afirmação do Senhor, umas horas mais tarde o negou
diante dos soldados (Mateus 26.69-74) e, também, anos mais tarde, já sendo um dos pilares
da Igreja primitiva, agiu com hipocrisia diante dos judeus a tal ponto que Paulo teve que
chamar a atenção dele (Gálatas 2.11-21). Contudo, Pedro tinha um coração puro, pois foi
lavado pelo sangue de Cristo. Isto se manifesta no fato de Pedro ter um coração sensível, de
carne e não de pedra, que pode se observar no seu arrependimento, pois quando ele negou ao
Senhor, logo chorou amargamente (Mateus 26.75). Também, no relato de Paulo sobre a sua
repreensão a Pedro nada nos diz de Pedro não ter aceitado a repreensão, pelo contrário,
quando vamos à epístola de Pedro, escrita anos mais tarde àquele acontecimento com Paulo,
vemos que ele elogia a Paulo e a sabedoria que Paulo tinha no Senhor (2.Pedro 3.15-16) e não
parece haver nenhum tipo de conflito entre eles. É assim que todo cristão deve ser, uma das
características do coração puro do crente é que não tolera contaminação, a contaminação lhe
faz mal. É como o próprio corpo humano que, quando contaminado, tenta por todas as vias
rejeitar a impureza de si. Assim é o crente, ele se distingue dos ímpios pelo seu
arrependimento, ele não retém seus pecados, mas os rejeita de si sendo purificado
constantemente. E quando ele tenta os reter, acaba clamando como Davi, no Salmo 32.3-5:

“Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes
gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se
tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais
ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a
iniqüidade do meu pecado.” (Salmo 32.3-5)

Davi pecou assassinando a um dos seus servos para tomar a sua mulher, cometeu adultério e
não se arrependeu. Seu coração estava obstinado, por um tempo. Mas chegou a ora na qual o
Senhor confrontou fortemente seu pecado e ele teve que se quebrantar diante do Senhor. A
purificação foi dolorosa, o seu choro foi tal que escreveu:

“Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das


tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha
iniqüidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o
meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é
mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu
julgar. Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que te comprazes
na verdade no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com
hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Faze-me ouvir júbilo e
alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. Esconde o rosto dos meus pecados e
apaga todas as minhas iniqüidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova
dentro de mim um espírito inabalável.” (Salmo 51.1-10)

B- A pureza do coração e a santificação


Isto nos leva a um segundo significado da pureza do coração, o qual é decorrente do primeiro
significado anteriormente exposto e, em certa maneira, já tenho exposto algo dele nas linhas
anteriores, especialmente nesses salmos de Davi. Temos dito que, embora o cristão já tenha
sido purificado, ele se distingue dos ímpios pelo seu arrependimento quando peca, sendo,
também, purificado constantemente. Isto tem a ver com a santificação das nossas vidas, a

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constante separação do mal e a constante limpeza das nossas vidas sendo tornados cada vez
mais puros. João explica muito bem isto quando diz:

“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade
não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça”. (1 João 1.8-9)

João não está escrevendo esta epístola a incrédulos, mas a crentes. Isto ele manifesta em
1.João 1.4 e em 5.13, onde o apóstolo manifesta que escreveu a carta para dar aos leitores a
certeza e segurança da salvação que eles já tinham em Cristo. Diferentemente do seu
evangelho, no qual ele explica que escreveu para que os leitores creiam em Jesus e tenham
vida eterna (João 20.31). Vejam a diferença nos tempos verbais. O evangelho era para crer, e a
epístola era para afirmar, para fortalecer a fé. Então, quando João escreve que devemos
confessar nossos pecados e que o Senhor nos purifica, refere-se a um processo contínuo na
vida do crente, à medida que ele avança no seu caminhar cristão2. Isto é o processo de
santificação, um constante abandono e afastamento das coisas do mundo para nos aproximar
cada vez mais a Deus. Este processo de purificação é realizado pela obra do Espírito Santo na
vida do crente através da Palavra do Senhor, a qual confronta nossas vidas e nosso pecado e
nos mostra como devemos ser, qual é nosso alvo. Isto Paulo descreve em Efésios 5.25-26:

“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água
pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem
coisa semelhante, porém santa e sem defeito.”

Neste texto Paulo fala aos maridos usando o modelo de Cristo com sua Igreja. Cristo purifica a
sua Igreja pela lavagem de agua que é a sua Palavra. A Igreja está sendo preparada, purificada
e santificada, para ser apresentada um dia gloriosa diante do seu Senhor. Na antiguidade, era
comum que a noiva passasse um longo tempo se preparando para o casamento, usando para
isso espécies aromáticas em banhos especiais. Assim também a Igreja de Cristo está
preparando-se para o encontro e se purifica de todo mal, por meio da lavagem que faz a
Palavra do Senhor em nossos corações, “porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”
(Hebreus 4.14).

Contudo, embora a santificação seja uma obra do Espírito Santo nas nossas vidas, nós também
somos responsáveis por buscar a santidade. Vejam isto em Hebreus 12.14: “Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. A busca pela santificação é uma
condição para ver ao Senhor. Notem que aqui diz que para ver ao Senhor devemos buscar a
santificação, enquanto na bem-aventurança em análise diz que os de limpo ou puro coração
verão ao Senhor. Vêm a semelhança nos textos? A nossa busca espiritual se manifesta através
de vários testes que vimo quando falamos sobre a busca pela justiça, no capítulo VI3. Esses são

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Para mais detalhes sobre esta análise, veja “Estudo Bíblico sobre a Certeza da Salvação - Uma análise
da primeira epístola de João” (A.G.Frank), em http://base-biblica.blogspot.com/search/label/1%20Jo%C3%A3o
3
Vide o capítulo VI, ponto B. Em http://base-biblica.blogspot.com/2011/04/sermao-do-monte-vi-busca-pela-justica.html

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os testes que comprovam se realmente estamos buscando a santificação em nossas vidas.


Quem busca se purificar é aquele que tem fome e sede da justiça de Deus (Mateus 5.6).

C- A pureza do coração e a sinceridade


Outro significado, um pouco mais aplicado, sobre ser limpo de coração é “ser destituído de
hipocrisia”, segundo Lloyd-Jones. Isso significa que tudo está visível, nada está escondido. Isto
também poderia ser entendido como “ser sincero” e não fazer as coisas com duplas intenções.
Um dos maiores problemas do ser humano é precisamente ter um coração dúplice. Uma parte
quer servira a Deus, adorá-lo e estar em comunhão com Ele, mas por outro lado há um amor
ao pecado, às coisas do mundo, sem querer abrir mão delas. O Senhor diz que o verdadeiro
crente não é assim. O coração limpo é o coração que não está dividido, pois sabe que
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro,
ou se devotará a um e desprezará ao outro” (Mateus 6.24a). Por conseguinte, o cristão é
alguém que não oculta o que há nele, pois não tem nada que ocultar. O cristão coloca tudo
diante do Seu Senhor, inclusive os seus pecados, confessando-os e abandonando-os, lutando
contra eles.

D- A pureza do coração e o amor


Finalmente, ser limpo de coração também significa não ter maldade, no sentido de buscar
sempre ver a vida com bondade e com amor e simplicidade e não com inveja, nem pesar e
nem ódio. É ver o mundo através do amor, um coração puro é também um coração que ama.
Um coração puro é como o coração de uma criança, que é simples, que ama e que enxerga
tudo através do amor. Por isso também o Senhor Jesus disse que para entrar no Reino de Deus
temos que ser como crianças, na fé e no proceder em relação à maldade. Esse é o amor que
descreve 1.Coríntios 13. O amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1.Coríntios
13.7). Este é o amor que provêm unicamente de um coração puro. O mundo não tem
capacidade de amar de verdade, com o amor de Deus. É por isso que João disse (1.João 4.7b):
“todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”. No mundo, vemos a dificuldade
que as pessoas têm para amar, por terem sido machucadas, por terem maldade em si mesmas
e por outros tantos motivos. Elas perderam a simplicidade do amor de uma criança (embora
teologicamente falando nunca a tivessem), já deixaram de crer e de se entregar
completamente a amar ao seu cônjuge, amigo, parente, etc. É assim que o Senhor descreve os
últimos dias: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mateus
24.12). Mas os de limpo coração perseveram no amor e na bondade, por isso o Senhor
acrescentou: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 24.13).
Aquele que tem coração puro não deixa de crer, não deixa de amar, pois a sua esperança está
em Deus e não nos homens.

Consequências práticas
Passemos agora a considerar algumas consequências práticas acerca da pureza do nosso
coração. Mas, antes disso, em primeiro lugar temos que nos perguntar: já fomos purificados e
lavados no sangue de Cristo? Nosso coração já está purificado? Descrevendo melhor esta
pergunta, vamos a colocar da seguinte maneira: o centro da nossa vida, nossa mente, nossa
vontade e nossas emoções estão purificadas em Cristo? Temos entregado estas três partes do
nosso ser ao senhorio de Cristo? Observem bem que eu disse “senhorio”. Nós confessamos a
Jesus Cristo como Salvador e “Senhor”. Isto quer dizer que ele nos salva para senhorear as

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nossas vidas, tomar o controle absoluto. Vimos que purificar envolve uma mudança de foco,
uma rejeição do pecado e uma busca constante pela santificação, tudo em submissão a Cristo.
Assim sendo, a seguir destaco quatro pontos para nos avaliarmos diante do Senhor em .

E- A pureza da mente, da vontade e das emoções


Então vamos a desdobrar isto um pouco. Vamos a começar pela mente. Já está purificada a
nossa mente? Paulo disse aos filipenses (Filipenses 4.8):

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e
se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”

Com que está sendo ocupada a sua mente? Vejam que neste texto Paulo está apontando às
coisas que deveriam ocupar a nossa mente. Com que estamos enchendo a sua mente? Muitas
vezes o problema não é que estejamos enchendo ela com coisas negativas, mas com coisas
que carecem de valor, com futilidades. Este também é um aspecto muito importante para
todos nós, mas especialmente para os recém nascidos na fé: quando deixamos o mundo e
seguimos a Cristo, há todo um processo de edificação de nossas vidas, de crescimento e de
purificação do velho homem. Quando abrimos mão das coisas do mundo, não podemos ficar
vazios, mas precisamos enchê-lo com algo. Lembre da parábola que o Senhor falou sobre a
casa da qual o demônio foi expulsa e que ficou limpa, mas vazia. O que aconteceu com ela?
Encheu-se com mais demônios ainda. Foi pior ainda. Assim nós, devemos encher a nossa
mente com as coisas de Deus, devemos substituir as atividades mundanas que fazíamos por
atividades que edifiquem nosso espírito. O mesmo com a música, as amizades, os livros, os
lazeres. Tudo o que era negativo em nossa mente não deve ser apenas eliminado, mas
substituído por coisas que agradam a Deus. É isso que Paulo afirma nesse trecho de Filipenses.

Em que você pensa durante o dia? O que ocupa os seus pensamentos? Podemos esconder os
nossos pensamentos diante das pessoas, mas lembre que limos anteriormente que a Palavra
de Deus discerne todas as coisas e traz todas as coisas a manifesto (Hebreus 4.12-13).
Deveremos dar contas ao Senhor até dos nossos pensamentos. É por isso que Davi suplicou ao
Senhor no salmo 139.23-24: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e
conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho
eterno”. Que seja assim a nossa oração sincera, buscando que o Senhor guie e domine os
nossos pensamentos e que eles também estejam inundados da presença do Senhor! Clame ao
Senhor para que ele purifique o seu coração e o leve a pensar nas coisas relacionadas à vida
eterna!

Vamos a considerar o segundo aspecto de um coração puro: uma vontade pura. Qual é a
verdadeira vontade que está no íntimo do nosso coração? Ela é pura e realmente quer seguir
os caminhos dos Senhor ou quer buscar seus próprios caminhos? Considere o seguinte
provérbio (Provérbios 16.1-3):

“O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR.
Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o SENHOR pesa o espírito.
Confia ao SENHOR as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos.”

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Você acha que seus caminhos e a vontade que você tem em traçar um determinado caminho é
pura? Melhor pergunte para o Senhor! Ele que sabe se realmente é assim. A sua vontade está
dominada por uma sede e fome da justiça de Deus ou é controlada pela sensualidade do
pecado? Se assim for, clame a Deus que purifique o seu coração!

Por fim, o terceiro aspecto de um coração puro são as emoções puras. Como são as suas
emoções? O que o estremece e o faz emocionar-se profundamente? São as vaidades do
mundo ou é a Palavra de Deus, a adoração ao Senhor e a meditação na formosura da sua
santidade? Você se sente emocionado no seu interior quando medita acerca do que Deus já
fez na sua vida? Você se sente emocionado quando descobre uma nova verdade na Palavra?
Aliás, você descobre novas coisas durante sua leitura da Bíblia? Oxalá seja isto o que
verdadeiramente nos emociona e nos leva às lágrimas de alegria e não as vaidades da vida.
Oxalá seja a nossa emoção controlada pelo conhecimento de Deus e não a emoção por simples
emoção, como tem acontecido em muitas igrejas. Muitos crentes buscam uma adoração
através de um estado de emocionalismo, choro, quedas, pulos, e outras manifestações que se
assemelham às atitudes de uma pessoa fora de controle e não de alguém que tem adorado ao
Senhor “em espirito e em verdade” (João 4.23-24). Vejam que o Senhor focalizou a adoração
no espírito e principalmente na verdade. Conhecer a verdade, viver a verdade de Deus tem
que ser nossa adoração e tem que ser o que nos emociona, o que nos exalta de alegria. Além
disso, as nossas emoções não podem estar desligadas das outras duas partes do coração:
nossa vontade e nossa mente. “Que farei, pois?”, disse Paulo, “orarei com o espírito, mas
também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”
(1.Coríntios 14.15).

F- A pureza e a sensibilidade ao pecado


Também temos falado que a pureza do coração tem a ver com termos sido regenerados e,
agora, termos um coração de carne e não de pedra, o qual é sensível ao pecado. Como está a
sua vida em relação ao pecado? Você é sensível de maneira tal que quando peca vem a se
arrepender e luta para rejeitar esse pecado na sua vida? Ou você é tão duro de coração que faz
emudecer a voz do Espírito Santo e o faz entristecer (Efesios 4.30; 1.Tessalonicenses 4.19)?
Tenha cuidado de não agir como tolo, fazendo-se como que não escuta e não enxerga o mal
que está na sua frente, pois o Senhor muitas vezes nos deixa por um tempo andarmos na
nossa tolice até nos depararmos com uma parede muito dura contra a qual acabamos
batendo. Oxalá não seja assim sua vida espiritual. Oxalá seu coração seja puro e sensível à voz
do Senhor, de maneira que diga como disse Samuel: “Fala, [Senhor] porque o teu servo ouve”
(1.Samuel 3.10).

G- A pureza e a sinceridade
Temos falado também que ser puro de coração significa não ter um coração dúplice, mas um
coração sincero diante de Deus e diante dos homens. Você seria capaz de permitir que alguém
projetasse em uma tela tudo o que passa pelo seu interior, todas as emoções, vontades e
pensamentos, sem se envergonhar? Este é um teste difícil, mas precisamos buscar a pureza
neste sentido. Em 1.Coríntios 4.5 nos diz:

“Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente
trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos
corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.”

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Então precisamos nos purificar para que naquele grande Dia do Senhor não tenhamos que nos
envergonhar diante de todos, pois naquele dia tudo será manifesto, até o mais íntimo do
nosso coração. Falamos com sinceridade? Falamos verdades absolutas ou falamos verdades a
meias, as quais não são mais do que mentiras? As nossas palavras têm ambiguidade e duplo
sentido ou são sinceras e diretas? Mostramos o que realmente somos ou nos colocamos uma
máscara diante das pessoas? Que a nossa oração a Deus seja perguntando sinceramente:
“Senhor, quem sou eu? Me ajuda a ser sincero e não agir com hipocrisia!” Que o Senhor nos
ajude a que nossas obras sejam congruentes com a nossa profissão de fé!

H- A pureza e o amor
Vimos neste estudo que os puros de coração são aqueles que realmente sabem amar com o
amor de Deus. Como devemos lutar nestes tempos difíceis para que o nosso amor não
esmoreça! Você ama como o amor descrito em 1.Coríntios 13? É capaz de ter todas essas
qualidades independentemente das atitudes dos homens? Lembre que o Senhor nos amou
incondicionalmente. Se ele teria nos amado em base ao que nós éramos não teríamos tido
chance nenhuma. Mas ele nos amou primeiro. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”
disse o apóstolo João em 1.Jo.4.19. O amor de você é condicionado às atitudes do próximo?
Você está ressentido e machucado e, portanto, não consegue mais amar? Lembre as palavras
do Senhor: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos, aquele,
porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 24.12-13). Pela graça de Deus, oxalá
você seja dos que perseveram até o fim no amor de Cristo a Deus, em primeiro lugar, e ao
próximo, como consequência.

Considerações finais sobre a pureza do coração


Para finalizar, ainda temos uma palavra de esperança, a maior de todas as esperanças que
pode haver nesta terra para o crente: os puros de coração “verão a Deus”. Assim como nas
outras bem-aventuranças, parte desta promessa já a estamos gozando hoje. A cada dia
podemos “ver” a Deus através da fé. Podemos ver as suas obras maravilhosas nas nossas vidas,
podemos ver Deus agindo na história da humanidade, podemos ver Deus e conhece-lo nas
Escrituras. Todas estas são formas de ver a Deus com os olhos do espírito. O homem mundano
não pode ver isto, ele não consegue acreditar pois seus olhos estão cegados. Mas o espiritual
consegue ver todas estas coisas (1.Coríntios 2.6-16). Você consegue ver Deus operando na sua
vida? Não perca esta oportunidade! Medite a cada dia no que Deus está fazendo na sua vida e
não corra como tolo esquecendo que o Senhor é um Deus vivo até nos detalhes menores da
sua vida.

Por outro lado, há ainda uma promessa para o futuro. Os puros de coração verão a Deus. A
forma em que veremos a Deus é um mistério e muito tem sido falado a respeito. Há alguns
que acham que nunca o poderemos ver em sua plenitude, pois ninguém, exceto o Filho tem
visto a Deus e ele mora na luz inacessível (Jo1.18; 1Tm 6;16). Mas a Palavra nos diz que, de
alguma maneira, contemplaremos a formosura da sua glória. Na verdade, todo homem verá a
Deus no sentido de ter que se apresentar diante do seu trono para o grande julgamento. Isto é
relatado em Apocalipse 20.11-15. Porém, nos o veremos na sua formosura, na sua glória, na
santidade, e não na sua ira. Isso é de grande consolo e alegria para nós! Além disso, veremos a
imagem perfeita do Deus Pai: o Filho unigénito, a Jesus Cristo, a imagem do Deus invisível
(Colossenses 1.15; João 14.8-14). E, ainda, seremos glorificados nEle, seremos semelhantes a

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Cristo, como diz 1.João 3.2: “...ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que,
quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.
Oh que grandiosa promessa! Por isso irmãos, prossigamos para o alvo, prossigamos em
conhecer mais a Deus e em purificar as nossas vidas, busquemos a santidade, oremos,
clamemos ao Senhor, escrutemos a Sua Palavra e avaliemos as nossas vidas, peçamos a Ele um
coração puro e busquemos todas as coisas do alto, para estarmos um dia diante da presença
do Senhor, vendo-o e nos regozijando na Sua presença para todo sempre!

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