Professional Documents
Culture Documents
Grande Depressão
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande
depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de
1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é
considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX. Este
período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do
produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção
industrial, preços de ações, e em praticamente todo medidor de atividade econômica, em
diversos países no mundo.
Os EUA, por sua vez voltaram à antiga política de isolamento, interessados apenas nas
suas próprias áreas de influência na América Latina e no Pacífico.
Assim, a Inglaterra e a França dominaram a Liga das Nações (organização mundial, que
tinha como principal objetivo garantir a paz) e passaram a ditar as regras da política
européia.
O período que se seguiu à guerra caracterizou-se por uma imensa luta entre as forças da
esquerda (socialistas e comunistas), reforçadas pela Revolução Russa de 1917, e as
forças conservadoras, que tiveram sua expressão máxima no nazismo e no fascismo.
As causas
da Segunda Guerra Mundial:
os indivíduos e as classes sociais
Ernest Mandel
Historiador e economista recém-falecido.
Era professor da Universidade de Bruxelas e foi prisioneiro de um campo de trabalho nazista durante a Guerra.
A primazia das relações e dos conflitos entre as forças sociais na determinação do curso
da história é um dos pressupostos fundamentais do materialismo histórico. Nas
sociedades divididas em classes, tais relações são, necessariamente, relações de classe.
Deste modo, a história é explicada, em última análise, como a história das lutas entre as
diversas classes sociais e suas frações essenciais, extensamente sobredeterminada pela
lógica interna de cada modo de produção específico.
Esta concepção da história não está baseada na negação da individualidade humana nem
no menosprezo pela autonomia individual, estrutura de caráter ou valores. A visão de
que a história é configurada basicamente pelas forças sociais resulta, precisamente, do
completo entendimento do fato de que um número infinito de pressões individuais tende
a criar movimentos aleatórios, que se auto-anulariam amplamente, se fossem
exclusivamente individuais.
Para que a história possua um padrão inteligível e não seja uma mera sucessão de fatos
desconexos, aspectos comuns têm de ser descobertos no comportamento dos indivíduos.
Deste modo, milhões de conflitos individuais, escolhas e direções possíveis parecem ter
uma lógica determinada, que permite serem vistos como um paralelogramo real de
forças, sujeitas a um número finito de resoluções e conseqüências possíveis. É isto o
que acontece na história real.
Aqueles que negam a primazia das forças sociais na configuração do destino humano,
de modo paradoxal, também atenuam o papel da maioria dos indivíduos na sociedade.
Só em circunstâncias nas quais a vasta maioria tenha sido excluída do fazer história,
poucos "grandes homens" podem ser dotados do poder de configurar eventos. Quando o
materialismo histórico afirma a primazia das forças sociais sobre as ações individuais,
na determinação do curso da história, não nega que certos indivíduos podem
desempenhar papéis excepcionais. Se homens e mulheres fazem a história, é sempre
com uma certa consciência que pode, é obvio,
ser uma falsa consciência, à medida que interpreta erroneamente seus interesses reais ou
não prevê as conseqüências objetivas de suas ações. Segue-se nesse contexto que certos
indivíduos, na liderança de movimentos sociais, podem ter influência incomum na
história, não como super-homens, mas exatamente como conseqüência de suas relações
sociais.
Personalidades excepcionais não podem mudar a tendência secular dos fatos. O déspota
mais poderoso do mundo não pode escapar às implacáveis demandas da acumulação do
capital, que resulta da estrutura da propriedade privada e da competição no mundo
capitalista. Por exemplo, qualquer tentativa de repor a lógica da produção escravista
(como Hitler tentou fazer) só poderá resultar em dificuldades enquanto persistir a
tecnologia atual e a propriedade privada. Do mesmo modo, nem o talento individual
nem a sede de poder podem alterar os limites da correlação material (sócio-econômica)
de forças. Dessa maneira, dadas as respectivas forças produtivas da Europa capitalista e
dos Estados Unidos em 1941, a Alemanha nazista, mesmo após ter subjugado toda a
Europa, não teria nenhuma chance de vencer uma guerra contra o vasto poder
econômico da América do Norte, a não ser que incorporasse com êxito todos os
recursos naturais e industriais da União Soviética, um processo que levaria anos.
Hitler não pretendia reduzir o poder da classe dominante alemã à metade do Reich, tal
como ocorreu a partir de 31 de agosto de 1939, mas essa perda de poder e de território
foi precisamente a conseqüência da sucessão de eventos desencadeados pela invasão da
Polônia no dia seguinte. Esses fatos, além disso, incluíram uma série de ações que não
representavam a única escolha possível para o bloco social-nazista, para o qual Hitler,
enquanto indivíduo, possuía uma responsabilidade imediata. A invasão da Polônia, é
verdade indubitável, foi uma decisão, fundamentalmente, de Hitler. Ela expressou, de
maneira surpreendente, as facetas contraditórias de sua personalidade: temeridade,
monomania, oportunismo hábil, bem como uma alternância ciclotímica entre indecisão
paralisante e hipervoluntarismo. Mas também é verdade que, já no ano de 1932, os
círculos principais da classe capitalista alemã tinham decidido — em consideração aos
seus interesses conjunturais — que a única saída para a crise econômica da Alemanha
era estabelecer a hegemonia sobre a Europa ocidental e central.
Por isso, provavelmente não foi acidental o fato de a classe dominante alemã, apesar de
seu orgulho cultural e suas tradições de sustentáculo da "lei e da ordem", colocar o seu
futuro nas mãos de um aventureiro negligente. Naturalmente, sob circunstâncias
normais, a burguesia escolhe suas lideranças políticas dentro de sua própria classe. Em
períodos de crise, entretanto, a burguesia tem tentado repetidamente resolver os
balanços desfavoráveis do poder de classe recorrendo à liderança parlamentar dos
líderes trabalhistas reformistas, desejando preservar as estruturas e os valores básicos do
regime capitalista: uma linhagem colaboracionista que vai de Ebert a McDonald, a Léon
Blum, Clement Attlee e Van Acker, Spaak, Wily Brandt e Helmut Schimidt, terminando
provisoriamente com François Mitterrand.
Para uma classe burguesa poderosa, patrocinar uma autoridade tipo Hitler implica
circunstâncias muito excepcionais: uma profunda crise sócio-econômica que produz
tensões sociais generalizadas de caráter pré-revolucionário. Sob tais condições de crise
excepcional, os estratos declassés de todas as classes sociais, mais especialmente da
pequena burguesia, lançam um grande número de caráteres desesperados com o
propósito de "resolver os problemas da nação" indiferentes ao custo, em termos
humanos ou materiais, e, muito menos, em termos de valores tradicionais. Trotsky
caracterizou de forma competente os aventureiros deste tipo como wildgewordene
kleinbürger (pequeno burguês tornado selvagem).
Não apenas classes mas também grupos étnicos podem manifestar estruturas mentais
coletivas distintas. A maneira pela qual grupos especialmente oprimidos — judeus,
negros, ciganos, palestinos, tribos de todo o mundo etc — apegam-se tenazmente às
tradições lingüísticas, religiosas, étnicas e mesmo gastronômicas, comprova tanto uma
práxis de resistência cultural como a manutenção de mentalités características, as quais
fortalecem a identidade e o respeito próprio contra a extensa violência e indignidade.
Mas esse tipo de estrutura mental geralmente persiste apenas enquanto o meio social
básico é composto pela pequena burguesia pobre. Quando a ampla emergência do
capitalismo irrompe nas antigas estruturas da opressão nacional ou étnica — mesmo se
a discriminação mesquinha e o preconceito sobrevivem —, esse tradicionalismo
defensivo pode ser repentinamente revertido em favor da assimilação quase fanática e
mesmo da superidentificação com a cidadania recentemente adquirida ou do status
nacional. O exemplo clássico dessa transformação ocorreu no século XIX no seio da
burguesia judia assimilacionista da Europa ocidental, porém podem ser notadas
tendências contemporâneas entre os elementos da jovem burguesia negra dos Estados
Unidos ou entre os segmentos anglófilos da classe média indiana expatriada.
A Escola de Frankfurt, dirigida por Horkheimer, nos anos 30, tentou amplamente
desenvolver uma psicologia social através da síntese de idéias de Marx e Freud. O
fracasso fundamental desta ambiciosa reconstrução tem origem menos na interrogação
de Freud do que na sua apropriação mecânica do marxismo. O papel dos impulsos
inconscientes no comportamento social do homem havia, afinal, sido enfatizado por
Engels meio século antes, mesmo não estando ele em condições de investigar sua
precisa natureza. Trotsky, por sua vez, havia sido simpático aos esforços da psicologia
profunda em teorizar a origem e a dinâmica daqueles impulsos.
Mais uma vez, paradoxalmente, essas tentativas de reduzir o peso decisivo das forças
sociais na determinação da história realmente suavizam o papel das idéias e das
personalidades muito mais do que faz o materialismo histórico clássico. Os marxistas
entendem que, apesar dos aspectos instintivos ou infantilizados da psique humana, as
pessoas podem compreender as exigências de sua situação histórica e agir de forma
amplamente congruente com seus interesses objetivos. Somente quando esta dimensão
da vontade racional é admitida no complexo paralelogramo de causação histórica, nós
podemos entender como os indivíduos com talentos ou inclinações particulares podem
sobressair-se por si próprios.
A teoria marxista dos clássicos acerca do papel do indivíduo na história foi esboçada
por Plekhanov em seu famoso ensaio que leva o mesmo título. Embora freqüentemente
associado a um marxismo reducionista, o texto de 1898 de Plekhanov é, de fato, uma
análise notavelmente sutil e atualizada. Ele desenvolve a tese básica de que, embora a
infra-estrutura das relações de produção imponha certos limites materiais sobre a luta de
classes, o caminho através do qual são na verdade expressos tais limites se dá sempre na
forma de uma refração através dos papéis particulares das organizações de massa e de
suas lideranças. Sob tais condições e, especialmente, nos pontos históricos decisivos ou
nos momentos de crise, as peculiaridades pessoais dos indivíduos podem influenciar o
tipo de organização e de liderança de classe que estão disponíveis.
Plekhanov ainda acrescenta dois pontos. Primeiro, como Hegel insinuou, "a sorte das
nações depende freqüentemente dos acidentes de segundo grau"; mas esses "acidentes"
estão entrelaçados com correlações particulares de forças sociais e materiais as quais,
em troca, limitam a esfera autônoma do fator individual. Em segundo lugar, as classes
sociais, em momentos de crise, necessitam de talentos de natureza específica, um tipo
particular de liderança. Geralmente, nesses momentos, alguns ou mais indivíduos que
personificam esses talentos estão disponíveis como candidatos para se tornarem os
novos líderes de seu partido, classe ou nação.
Sob circunstâncias normais, tal reversão radical do balanço de forças sociais e políticas
entre trabalho e capital teria sido impossível na França. Para ocorrer a transição de uma
democracia parlamentar decadente para uma ditadura militar bonapartista aberta, três
condições políticas foram absolutamente essenciais. Primeiro, o último gabinete
parlamentar dirigido por Paul Reynaud teve de renunciar sem resistência. Em segundo
lugar, o Presidente da República teve de recorrer a um defensor aberto do regime
autoritário — neste caso, o Marechal Pétain — para formar um novo governo. Em
terceiro lugar, a maioria do Parlamento, senadores e deputados juntos, tinha de estar
disposta a enterrar a constituição da III República. Como realmente aconteceu, todas
essas condições foram cumpridas sem hesitação quando surgiu uma necessidade social,
e a tendência geral se tornou hegemônica dentro da classe dominante.
Até o fim de maio de 1940, Paul Reynaud havia sido considerado um político obstinado
e violento, hábil em manipular gabinetes e deputados. No entanto, ele se permitiu ser
manobrado numa ambígua votação de gabinete em que pedia não um armistício, mas
apenas condições para um armistício com a Alemanha, atitude que o colocou em
minoria e o conduziu — contrariando completamente sua natureza — a renunciar.
Paralelamente, até então o presidente Lebrun era de modo geral visto como uma pessoa
completamente sem importância, inábil, sem vontade própria, que tinha sido escolhido
apenas por sua posição honorária e porque sua personalidade correspondia ao famoso
dito de Clemenceau: "se você quer um Presidente, escolha o mais estúpido". Contudo,
esta insignificância decidiu a crucial reviravolta dos eventos de 26 de junho de 1940.
Tivesse ele chamado Reynaud de volta, em vez de convocar Pétain, a III República teria
sobrevivido por mais tempo. Mas, com uma vontade e obstinação totalmente contrárias
à sua natureza e possivelmente com a cumplicidade de Reynaud, ele impôs a ditadura de
Pétain.
Entretanto, é difícil negar que essa reversão radical das normas e hábitos
comportamentais de centenas de políticos — seis ou sete dos quais desempenharam
papéis decisivos na tragicomédia — pôde somente ocorrer porque estava de acordo com
as necessidades coletivas e desejos conscientes da maioria da burguesia francesa. Para
aquela classe, era imperativo não apenas trocar de lado no meio da Guerra, mas derrotar
as conquistas reformistas do movimento trabalhista francês.
Uma conjuntura simétrica, mas oposta, surgiu quando a classe dominante francesa
defrontou-se com a iminência de um desembarque dos Aliados. Aí, o problema para a
maioria dos capitalistas franceses, profundamente desacreditados aos olhos das massas
por sua colaboração com os nazistas, era salvar tanto o capitalismo francês como um
Estado burguês independente (e o Império) diante de um balanço de forças muito
desfavorável vis-à-vis tanto à classe trabalhadora francesa (armada, como resultado do
avanço da Resistência) como às autoridades anglo-saxônicas. Uma mudança radical do
pessoal político e das alianças estava novamente na ordem do dia.
Certamente De Gaulle era uma personalidade excepcional, com uma mente brilhante e
uma vontade de ferro superior à maioria de sua classe, não apenas na França, mas no
resto da Europa. No entanto, enquanto suas virtudes não corresponderam às
necessidades autodefinidas da burguesia francesa, ele permaneceu marginalizado,
considerado meio louco e um aventureiro perigoso. Alguns o consideraram pró-fascista,
outros mais tarde o condenaram como um simpatizante comunista. Mesmo um político
e juiz de renome, normalmente astuto, como Franklin D. Roosevelt — o consumado
corretor de ações na história americana moderna — ridicularizava com freqüência De
Gaulle e suas pretensões de vanglória.
Em junho de 1944, os Aliados ainda estavam prontos para impor uma ocupação militar
à França, que a teria conduzido provavelmente a uma guerra civil ao estilo grego ou
pior. De Gaulle, tendo a sua disposição forças desprezíveis, julgou corretamente as
necessidades do capitalismo francês (e, naturalmente, internacional) e obteve êxito ao
estabelecer, através de um diplomático coup de main, um regime parlamentar renascido,
incorporando a Resistência Comunista.
Com certeza, o fato de que as Forças Armadas francesas tivessem acabado de sofrer
uma derrota humilhante, enquanto os britânicos foram capazes de evacuar a maior parte
de seu exército derrotado para sua fortaleza insular, fez diferença. Mas, novamente, os
mais informados observadores — incluindo o Embaixador americano Joseph Kennedy
— consideraram a posição britânica como basicamente desesperançada. Entretanto, a
França, mesmo que por um lado destruída nas Ardenas, ainda possuía uma frota não
derrotada (a segunda maior da Europa), uma ampla esquadra na África do Norte —
mais forte do que a que os ingleses tinham à sua disposição —, uma significativa
reserva aérea e um Império Colonial intacto.
De fato, a diferença real entre a situação britânica e a francesa era menos suas condições
militares do que as predisposições de suas classes dominantes. A burguesia francesa
tinha-se tornado derrotista de modo crescente, por sólidas razões materiais. Ela havia-se
mostrado econômica e militarmente incompetente para garantir o sistema de Versalhes
na presença do rearmamento e da expansão agressiva da Alemanha. Prosseguindo sob
este aspecto, ela estava obcecada principalmente em conter sua própria classe
trabalhadora, a qual se tinha tornado uma prioridade política mais elevada que a
tentativa de derrotar a competição alemã.
Por outro lado, a burguesia inglesa não estava nem desmoralizada, nem derrotada. Ela já
havia reprimido seu próprio movimento trabalhista, economicamente em 1926, e
politicamente em 1931/35. Ao mesmo tempo, sua posição mundial (mesmo se
rapidamente sendo ultrapassada pelos Estados Unidos) era ainda mais forte do que a da
Alemanha, embora a hegemonia de Hitler sobre a Europa tenha comprometido
claramente o Império Britânico. Além disso, a elite britânica estava convencida de que a
ajuda eventual dos Estados Unidos, junto com a matéria-prima e a mão-de-obra do
Império, fazia da guerra contínua contra a Alemanha uma estratégia realista.
O que atrai uma classe média ou um indivíduo abastado a seguir uma carreira política
em vez de profissões liberais ou de negócios? A ambição pessoal, a convicção
ideológica, o fracasso em outros campos, a tradição de família, ou fatos exteriores
podem todos desempenhar papéis na orientação da escolha pessoal, porém, mais
freqüentemente do que se supõe, as pressões e circunstâncias sociais pesam
decisivamente sobre as disposições individuais.
Nos níveis mais elevados do poder político, o processo de seleção envolve testes de vida
e morte de força de vontade, de precaução e astúcia. As classes dominantes raramente
permitirão que pessoas ascendam a posições do poder central sem que elas tenham dado
garantia prévia de que defenderão, de forma responsável, as estruturas existentes de
propriedade e de acumulação. A função da hierarquia de poder é precisamente sua
habilidade de eliminar candidatos erráticos ou indignos de confiança. Por essa razão,
muitos luminares locais ou demagogos (pense em Enoch Powell na Inglaterra) jamais
chegarão ao topo da estrutura de poder racional.
Para o nacionalista alemão, a direita era uma verdadeira floresta de führers imaginários,
entre os quais Hitler era inicialmente apenas primus inter pares. As lições que ele
aprendeu durante sua luta implacável pela liderança determinaram seu modus operandi,
uma vez que atingiu o poder instalando padrões de crueldade, oportunismo e falsidade.
Procurar a origem desses traços na primeira biografia de Hitler, ao invés de procurá-la
no ambiente social da direita alemã pós-Versalhes, distorce a verdadeira seqüência de
eventos.
Longe de ser um gângster de nascença, Hitler estava inclinado a uma carreira medíocre
em arquitetura ou arte. Se ele se tornou o gângster-mestre do século XX, foi porque
lutou pela conquista da liderança durante uma década numa organização quase clássica
de gângsters — o Partido Nazista —, que não era diferente de organizações como a
Máfia da Sicília e dos Estados Unidos.
Assim também, o Imperador Hiroito havia sido um símbolo passivo para o grupo militar
que governou o Japão desde meados dos anos 30. Por tradição, ele foi uma figura
decorativa, que nunca se intrometeu nos negócios de Estado ou impôs seus pontos de
vista. Mas, quando se evidenciou que a Força Aérea americana poderia destruir as bases
urbano-industriais do capitalismo japonês e que não mais havia qualquer possibilidade
séria para uma paz negociada, o Imperador — aconselhado por Tsugeru Yoshida e seu
círculo de políticos burgueses — habilmente manobrou os teimosos militares para uma
capitulação incondicional. Repentinamente, foi transformado de mera figura decorativa
no líder político da classe dominante. Ele, literalmente, impôs a paz sobre os líderes
militares intransigentes, aumentando sua voz através do rádio, apanhando-os numa
contradição político-ideológica inextricável. Tendo legitimado o militarismo japonês
através do culto à divindade do Imperador, eles não foram capazes de agir contra o seu
apelo "divino".
Na Alemanha, uma operação de salvamento ainda mais ambiciosa foi tentada após o
Desembarque dos Aliados na Normandia. Por volta de 1944, tornou-se claro para a
maioria dos líderes financeiros e industriais alemães — sobretudo para as dinastias
junkers prussianas — que a guerra estava perdida e o Reich seria desmantelado a menos
que o avanço do Exército Vermelho fosse detido por uma paz separada com os
americanos. Ainda mais que nos casos japonês, italiano ou francês, a sobrevivência
absoluta de amplas seções da classe dominante alemã — sobretudo a elite prussiana —
estava em risco. Quando, de fato, os conspiradores militares se lançaram contra Hitler
em 20 de julho de 1944, os soviéticos estavam ainda além do Vístula e é impossível
dizer que seqüência de eventos poderia ter seguido o sucesso do seu golpe — se teriam
ou não tido êxito em apelar para o anticomunismo para dividir o Bloco Aliado.
Mas, no caso, sua ação foi um fracasso. Por quê? Deveria alguém aceitar explicações
convencionais de que a conspiração sofreu um colapso devido a uma contingência
técnica — a colocação errada da bomba de Stauffenberg — ou, alternativamente, a
opinião de que Beck, o verdadeiro líder dos conspiradores, era uma personalidade
"hamletiana" que, vacilando no momento crucial, foi logrado e manobrado pelo
diabólico Goebbels (auxiliado pela admiração pessoal do major Remer pelo Führer)? É
evidente que não.
O General Ludwig Beck foi, por muitos anos, o Chefe do Estado-Maior, responsável
não apenas pelo rearmamento eficaz do Reich, mas também pela idealização de muitas
das primeiras vitórias militares. Ele foi um planejador soberbo que, comparado com
Vitório Emanuel, Hiroito ou Goebbels, sem falar no major Remer, aparece como
Gulliver entre os liliputianos. Mesmo este planejador hábil e experiente fracassou
miseravelmente até em assegurar regras elementares do coup d’état tais como ocupar as
estações de rádio, apoderar-se do controle do sistema de telecomunicações de Berlim,
ou cortar as linhas telefônicas entre o ministério de Goebbels e a casamata de Hitler em
Rastenburg. Por quê? Teria ele repentinamente perdido sua ousadia?
É difícil crer numa análise do fracasso do golpe que recai sobre as fraquezas pessoais do
General Beck ou de seu parceiro político, Carl Goerdeler, o major de Leipzig.
Incomparavelmente mais importante é a diferença na situação objetiva que os
conspiradores alemães enfrentaram, comparada com a posição dos conspiradores
italianos de 1943 ou com o círculo social do Imperador do Japão durante o verão de
1945.
Na Itália e no Japão, o exército tinha sido derrotado e os centros urbanos, sem auxílio,
foram expostos à Força Aérea Aliada. Havia apenas um caminho aberto para a classe
dominante: terminar a Guerra imediata e incondicionalmente. Havia, deste modo, um
desejo unânime da burguesia de seguir uma trajetória de ação clara. Na Alemanha, ao
contrário, enquanto a Guerra estava obviamente perdida, o exército ainda não havia sido
vencido. Ele ainda possuía vastos recursos materiais e humanos para sustentar sua
capacidade de luta por muitos meses. Além disso, ao contrário dos casos italiano e
japonês (ou dos primeiros exemplos da França e da Inglaterra), a classe dominante
alemã enfrentava um perigo particularmente ameaçador: não apenas a perda de parte de
seu poder e de sua riqueza, mas a expropriação e a destruição de sua posição de classe
pelo Exército Vermelho.
Dessa forma, não foi o caráter "hamletiano" do General Beck que sentenciou o golpe,
mas as hesitações da totalidade da classe dominante alemã, que era, por sua vez, um
reflexo das contradições objetivas e confusões reais. Não foi o indivíduo que causou o
desastre da classe, mas, antes, a classe que impediu o indivíduo de agir com êxito.
Mas há um epílogo para esse incidente que coloca o destino dos conspiradores do 20 de
julho dentro de uma perspectiva irônica. Enquanto Beck, Goerdeler, Stauffenberg e seus
associados estavam preparando o seu golpe, altos funcionários do Ministério Nazista de
Negócios Econômicos (sob a proteção de um dos líderes da SS) estavam pacientemente
preparando um plano para uma Alemanha pós-guerra integrada a uma economia
internacionalmente aberta, baseada em livres movimentos do capital e em um marco
conversível — isto é, uma ruptura completa com todas as práticas autárquicas
comerciais e financeiras do Terceiro Reich. Os arquitetos desta visão — compreendida
posteriormente como o "milagre da República Federal"— não foram outros a não ser
Ludwig Erhard, o futuro Chanceler, e Ludwing Emminger, futuro Presidente do
Bundesbank. Enquanto eles haviam colaborado com os nazistas durante uma década,
quando se tornou necessário para a sobrevivência de sua classe, mudaram sua trajetória
em 180 graus. Suas maquinações hábeis contrastaram com o fracasso da Conspiração de
Julho, a qual assegurou a liquidação dos junkers e a perda de quase a metade do Reich
alemão.
Deve-se ainda observar que o terror nazista, desencadeado por Himmler após o fracasso
do golpe, além dos efeitos do arrasador bombardeio dos Aliados, destruiu o potencial
que ainda restava aos setores da classe trabalhadora alemã para intervir como força
autônoma para terminar a Guerra. O maciço afluxo de mais de 10 milhões de refugiados
da Prússia oriental e outros territórios alemães perdidos criou um imenso exército
industrial de reserva que manteve os salários baixos durante 15 anos e preservou as altas
taxas de lucros originariamente geradas pela redistribuição da renda entre as classes, na
ditadura nazista.
Como consequência da 1ª Guerra Mundial, as frágeis democracias de alguns países europeus foram
substituídas por regimes políticos de extrema-direita, como o fascismo e o nazismo.
Na segunda década do século XX, implantou-se na Rússia um regime totalitário de esquerda, que durante o
governo do ditador Stalin atingiu um grau de repressão e violência jamais visto na história da Europa.
Do ponto de vista econômico, a guerra provocou a maior crise que o sistema capitalista conhecera até então: a
crise de 1929.
De maneira geral, a guerra arruinou até os países vitoriosos, com exceção dos Estados Unidos, o único que
enriqueceu, principalmente devido ao crescimento extraordinário de sua produção industrial, notadamente a
bélica, que transformou os norte-americanos nos principais fornecedores de armas e munições para os países
da Tríplice Entente e seus aliados.
A crise mundial de 1929, iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York, foi causada por uma crise de
superprodução e pela falta de interesse dos grandes capitalistas em avaliar os efeitos da crescente produção
agroindustrial norte-americana.
A recuperação dos Estados Unidos se deu com a adoção do New Deal, a nova política econômica do presidente
Roosevelt, caracterizada pelo intervencionismo estatal.
A situação social de fome, miséria e desemprego, bem como as constantes crises econômicas e políticas do
pós-guerra, criou em algumas nações européias as condições necessárias para a implantação das ditaduras de
direita e de esquerda, que transformaram profundamente a história da Europa.
O fascismo, criado por Mussolini, agrupava elementos de várias tendências políticas. Caracterizou-se pela
exaltação da força, da violência, da guerra e do nacionalismo; rejeitava a democracia, o liberalismo, o
socialismo e o marxismo, e negava o racionalismo.
Com suas pregações totalitárias, Mussolini conseguiu convencer os grandes capitalistas, homens de negócios e
industriais italianos, de que o fascismo seria a melhor solução para o crescimento nacional e para a
neutralização dos movimentos operários.
Essa situação, somada ao fato de o governo se mostrar incapaz de solucionar os problemas nacionais, facilitou
a ascensão de Hitler, que prometia ao povo desesperado salvar o país dos efeitos da guerra.
O nazismo, implantado por Hitler, além das mesmas características gerais do fascismo, apresentou a
singularidade da crença de que os alemães pertenciam a uma raça superior e do particular racismo contra os
judeus.
A ascensão do franquismo na Espanha se deu depois de uma sangrenta guerra civil entre as forças populares e
as conservadoras da Falange, que temiam as reformas sociais e políticas do governo republicano.
Em síntese, a violência, o assassinato, a tortura e a repressão física e psicológica foram métodos aplicados
tanto por regimes totalitários de direita quanto de esquerda, em qualquer lugar do mundo onde foram
instalados.
A paz humilhante e revanchista imposta no Congresso de Versalhes aos derrotados na 1ª Guerra Mundial foi,
sem dúvida, uma das causas da 2ª Guerra Mundial, iniciada 20 anos depois.
Podemos citar ainda, causas determinantes do segundo conflito mundial, a crise de 1929, a implantação dos
regimes totalitários de direita e de esquerda e os interesses imperialistas e expansionistas de algumas das
grandes potências mundiais, como a Alemanha, a União Soviética, o Japão, a Itália e outras.
No período entre guerras, as nações européias reiniciam suas políticas de alianças político-militares, a corrida
armamentista e acordos de não-agressão, que não foram respeitados, principalmente pelos alemães e italianos.
Em 1941, os Estados Unidos entraram na guerra ao lado dos seus aliados tradicionais, França e Inglaterra, e a
Alemanha invadiu a União Soviética, quebrando o acordo de não-agressão e neutralidade assinado por Hitler e
Stalin em 1939.
As vitórias alemães nos primeiros anos de guerra e a ocupação nazista de países como França, Noruega,
Dinamarca, Bélgica, Holanda, Grécia, Iugoslávia e outros geravam a crença de que Hitler poderia dominar o
mundo.
A entrada dos Estados Unidos na guerra e o fim da neutralidade soviética começaram a inverter tal situação.
A partir de 1943, depois da vitória da União Soviética na Batalha de Stalingrado, começou a supremacia dos
exércitos soviéticos sobre as tropas alemães.
A partir do famoso Dia D, quando os aliados iniciaram a grande ofensiva para libertar a França, os exércitos
nazistas, que já sofriam sucessivas derrotas na frente oriental para os soviéticos, foram recuando para suas
fronteiras até a rendição final, em Maio de 1945.
O Japão, que insistiu em continuar a guerra, foi bombardeado pelos norte-americanos, que lançaram bombas
atômicas sobre Hiroxima e Nagasáqui. O Japão finalmente assinou sua rendição em Setembro de 1945.
Após a 2ª Guerra Mundial o mundo foi dividido em dois grandes blocos: o capitalista e o socialista.
No mundo capitalista a propriedade privada é intocável, existe a possibilidade de mobilidade social, a burguesia
capitalista é dona dos meios de produção, o operariado para sobreviver vende a sua força de trabalho e a
produção é organizada pelo capitalista, que visa à obtenção de lucro.
No mundo socialista a economia é planificada e controlada pelo Estado, que dirige a administra todos os meios
de produção.
A desejada paz mundial não foi alcançada após 1945. Pelo contrário, o mundo pós-guerra é cheio de conflitos e
divergências entre os povos.
As disputas pela liderança mundial entre as duas superpotências – União Soviética e Estados Unidos – geraram
a Guerra Fria, uma guerra ideológica na qual cada uma delas procura ampliar sua área de influência.
A Guerra Fria foi causada pelo expansionismo soviético do Leste europeu, pela Doutrina Truman e pelo Plano
Marshall.
Depois de um período de declínio no final dos anos 50, as tensões mundiais aumentaram no início dos anos 60
com a construção do muro de Berlim e a crise dos mísseis, esta última motivada pela pretensão soviética de
instalar bases de lançamento de mísseis em Cuba.
A 2ª Guerra Mundial trouxe também como consequência a descolonização da África e da Ásia, devido ao fim do
mito racista de superioridade do homem branco, à crescente consciência nacionalista dos povos daqueles
continentes e à luta pelo direito de autogoverno e autodeterminação defendidos pela ONU.
Na Conferência de Bandung, em 1955, os países participantes não aceitaram a divisão do mundo em dois
blocos , nascendo daí o chamado Terceiro Mundo.
No contexto pobre e miserável da quase-totalidade dos países africanos, a África do Sul é uma exceção. É o
país mais industrializado de todo o continente africano e o mais rico pelas suas minas de diamante, ouro,
urânio e carvão.
Porém, a minoria branca dirigente da África do Sul impôs um regime segregacionista, conhecido como
apartheid, com base no falso mito da inferioridade biológica do negro.
A frágil estabilidade da paz mundial é constantemente ameaçada por conflitos armados e divergências entre
vários povos, cujo exemplo maior são as rivalidades entre árabes e judeus, no Oriente Médio.
Nos países da América Latina predominam a dependência econômica em relação às grandes potências
capitalistas e uma estrutura produtiva basicamente agrária, em que as oligarquias latifundiárias dominam a
política e o latifúndio é responsável por profundas desigualdades sociais.
A concentração da riqueza nas mãos de poucos e a miséria das massas camponesas e urbanas geram
constantes crises políticas e tornam a América Latina receptiva às ideologias estrangeiras.
O expansionismo soviético no pós-guerra resultou na sovietização dos países do Leste europeu, onde os
governos se submeteram à orientação da União Soviética, a economia é controlada pelo Estado, os meios de
produção foram estatizados e a direção política acabou nas mãos dos partidos comunistas.
A estrutura política do Leste europeu foi profundamente afetada com a ascensão de Gorbatchev ao poder na
União Soviética e com o conjunto de suas reformas econômicas e políticas, conhecidas respectivamente por
perestroika e glasnost.