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Colóquio O espelho cultural da pobreza: imagens, vozes e silêncios nas artes e nas

ideias

Promovido pelo Departamento de Línguas e Literatura Moderna da


Universidade dos Açores e pelo Centro de História Além-Mar decorreu em ponta
delgada, de 1 a 3 de Novembro, o colóquio O espelho cultural da pobreza: imagens,
vozes e silêncios nas artes e nas ideias.

Organizado no âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à exclusão


social, como objectivo de sensibilizar os cidadãos, e apresentar algumas ideias que
contribuam para a resolução desta problemática, este colóquio contou com um
diversificado painel de oradores. As comunicações apresentadas basearam-se nas
formas de representação da pobreza e da exclusão social através da arte.

A literatura tem sido ao longo dos tempos uma das formas de arte em que o tema
da pobreza é amplamente divulgado e equacionado. As formas literárias como os
poemas líricos, as crónicas e os romances são alguns dos exemplos aonde podem ser
encontradas representações da pobreza segundo a integração histórica e literário-
periodológica dos respectivos autores.

A forma como este tema foi retratado em diversas obras literárias e por
diferentes autores, ao longo da história, serviu de ponto de partida algumas das
apresentações proferidas durante o colóquio. A perspectiva do filósofo do século II d.C.
sobre as mudanças da ordem social, a doença como factor de exclusão social retratada
por Fernando Namora, a economia vista por Giuseppe Dessí, a exclusão dos retornados
e das minorias pela voz de Lobo Antunes, foram alguns dos exemplos apresentados.

A representação da pobreza e da exclusão social através da música também é


uma realidade. No caso concreto a canção popular urbana, Buddy, Can You Spare a
Dime, surge como exemplo de como podem ser tratados, com sucesso, temas sensíveis
da sociedade. Salienta-se que as limitações impostas pelas regras existentes na indústria
musical, em termos de duração e mediatismo, dificultam a abordagem destes temas.

A imagem como representação social. A pintura e a fotografia como formas de


expressão artística que permitem a identificação dos estratos sociais lá representados.
Foi realçada a relevância da associação entre imagem visual e literária, através de
algumas obras do museu Carlos machado e da obra As Ilhas Desconhecidas de Raúl
Brandão, para uma melhor compreensão da paisagem cultural açoriana, na primeira
metade do século XX.

A conferência de encerramento abordou a arte como representação simbólica da


riqueza e da pobreza, no período que medeia o renascimento e a época contemporânea.
A análise de algumas obras baseada nos conceitos de Vanitas (fútil) e de humilitas
(modesto), permitiu ao orador concluir que, sobretudo a partir do século XIX, os
conceitos apresentados “ tendem a partilhar os mesmos princípios morais e a traduzir,
de formas opostas, uma idêntica avaliação moral crítica, dos indivíduos, dos objectos e
da sociedade. O que não invalida a ambígua relação que a arte sempre manteve com a
riqueza, o luxo e a ostentação e os artistas com os mais ricos e poderosos”.

Este colóquio realçou a forma como a arte pode ser utilizada para denunciar
temas sensíveis da sociedade, como a pobreza e a exclusão social. A Literatura, a
Música, a Pintura e a Fotografia são, apenas, alguns dos exemplos de expressão artística
que possibilitam, através das suas representações do objecto social, a consciencialização
para problemas reais. A arte como espelho cultural da pobreza serviu, ainda, de ponto
de partida para a Mesa-Redonda Pobreza e Exclusão: das representações à acção.

Cristina Costa

20082692

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