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A disciplina de Filosofia foi elaborada para os professores de ensino médio que atuam

com os conteúdos e procedimentos dessa disciplina nas escolas brasileiras.

A formação docente em nosso País ainda se dá, em grande parte, de modo precário, mas
a dificuldade em orientar-se na preparação de aulas da disciplina no ensino médio
ocorre mesmo entre os professores que tiveram uma boa formação filosófica.

Como despertar o interesse dos jovens? Que conceitos e temas é mais importante
destacar? Devemos dar ênfase à história da filosofia ou à discussão temática? O que
estudar para preparar as aulas? Diante da vastidão da bibliografia filosófica – que cobre
um período de mais de 2.500 anos – que textos selecionar para trabalhar com os alunos?
Além da formação básica, é necessário também criar instrumentos para que a presença
da Filosofia na escola seja significativa, para estudantes, para docentes e para a
comunidade escolar como um todo.

Depois do recente projeto que instituiu a obrigatoriedade da Filosofia no ensino médio,


tornou-se urgente a qualificação de profissionais da área. Este curso apresenta uma
proposta de orientação e instrumentalização em Filosofia, destacando temas e objetivos
que nos parecem mais apropriados para o público-alvo.

Caro professor, cara professora,

Este curso foi criado pensando em um público heterogêneo: queremos que você,
professor já experiente, possa navegar e encontrar, nos pontos que elegemos, material
útil para as reflexões cotidianas de sua prática. Mas queremos também o diálogo com
você, professor recém-licenciado, que busca conceitos, ideias e rumos para suas
primeiras aulas.

Sabemos que a obrigatoriedade do ensino de filosofia nas três séries do ensino médio
esbarra no quadro deficiente de professores na área e, por que não dizer, nos problemas
oriundos da própria formação acadêmica, que nos lançam em especialidades e nos
preparam pouco para a realidade da educação básica e suas especificidades.

Fomos convidados a contribuir para diminuir uma lacuna existente no quadro


educacional brasileiro. Para isso, pensamos em um curso em que possamos trocar com
você nossas reflexões e experiências de professores do ensino médio. Dessa forma, o
curso se destina não somente ao especialista da área, mas a todos os colegas da
educação básica que tenham interesse em filosofia e queiram abrir um canal de diálogo
que possa servir de apoio para a construção de instrumentos que, efetivamente,
traduzam-se em melhores aulas.

Esperamos que a abordagem dos conceitos aqui apresentados possa auxiliar a todos os
que querem ensinar e aprender filosofia. Esperamos que apreciem o curso e que
possamos, por meio de uma tecnologia que abre caminhos para uma educação mais
democrática, criar juntos uma comunidade de investigação que tornará a todos nós,
participantes do curso a distância FILOSOFIA, mais amigos entre nós e do saber que
aqui iremos compartilhar.

Navegar é preciso, viver não é preciso.


Para sobreviver, trabalhar, produzir e reproduzir a própria existência, é preciso formar-
se, reformar-se, qualificar-se, adquirir competências, aprender a navegar em diversas
linguagens e habilidades, em distintos grupos de pessoas e meios de conhecimentos. A
precisão e o equilíbrio exigidos, desde as navegações mais simples, sobre troncos de
madeira, incitaram-nos a desenvolver capacidades técnicas. A navegação permitiu aos
homens percorrer longuíssimas distâncias, levou-os a mundos nunca antes imaginados e
abriu novos horizontes de conhecimento.

A atividade de precisão daqueles que navegam nos leva a uma nova metáfora: a
navegação nos oceanos da informação que estão sempre a descortinar-se. Porque viver é
impreciso, é uma incessante busca. Vamos navegar!

Giovânia Costa, Joana Tolentino, Marcelo Guimarães

Filosofia tem como objetivo orientar e instrumentalizar os professores de ensino médio


que lidam com a Filosofia em sala de aula, indicando ao professor como é possível
selecionar alguns temas importantes em filosofia e trabalhá-los na escola, buscando
estabelecer relações com outras disciplinas e com a experiência dos estudantes.

Sob esse foco, Filosofia foi estruturado em cinco módulos nos quais foi inserido o
seguinte conteúdo...

Módulo 1 – Amar o saber

Neste módulo, serão propostas questões sobre a relação entre Filosofia e Educação,
abordando temas como a filosofia da educação e a educação da filosofia; amar o saber,
ensinar e aprender. Abordaremos também temas mais próximos à prática docente no
ensino médio, como a discussão básica da abordagem da disciplina – histórica, temática,
problemática; a importância da leitura de textos filosóficos; a questão dos modos de
avaliação e de produção escolar; diversos modos de atuação do professor de filosofia na
escola, além de questões legais relativas ao ensino de filosofia.

Módulo 2 – Conhecimento

Este módulo está estruturado em torno de uma grande área do pensamento filosófico
que trata do Conhecimento. Apresentaremos a Filosofia como a busca racional da
verdade bem como discutiremos alguns sentidos em que se podem entender os
conceitos de razão, verdade, conhecimento, saber e ciência. Apresentaremos conceitos
de autores clássicos, da Antiguidade à Idade Moderna, procurando traçar um percurso
básico da cultura científica e racional do Ocidente, até o surgimento da ciência
moderna. Apesar de distantes no tempo, pretendemos mostrar que os conceitos
abordados ainda fazem parte de nossas vidas e pensamentos.

Módulo 3 – Ética e política

Neste módulo, discutiremos temas relacionados às áreas conhecidas como Ética e


Política. Apresentaremos os conceitos de modo histórico, realizando estudo da origem
das palavras e das formações sociais em que eles se desenvolveram. Partiremos daí para
propor duas discussões, sobre ética e política na modernidade e também na educação.
No final, sugeriremos formas de trabalhar os temas discutidos em sala de aula, visto que
a prática na própria escola e na vida diária é o caminho de relação com a experiência
dos estudantes.

Módulo 4 – Estética

Neste módulo, discutiremos questões da Estética. Os conceitos abordados são o belo, a


arte, a técnica, a arte como imitação e como expressão, relações entre a arte e a
educação e a indústria cultural. Apresentaremos duas visões bem amplas e influentes da
arte – a arte como imitação, conceito oriundo da Antiguidade; e a arte como expressão,
característico de uma visão moderna da arte. Também relacionaremos questões da arte a
questões da educação e da formação humanas. Por fim, discutiremos a questão
contemporânea da relação entre a arte e a indústria, incluindo a questão da formação do
gosto e das sensibilidades.

Módulo 5 – Encerramento

Neste módulo – além da avaliação desse trabalho –, você encontrará algumas divertidas
opções para testar seus conhecimentos sobre o conteúdo desenvolvido nos módulos
anteriores – caça-palavras, palavras cruzadas, forca e criptograma. Entre neles e bom
trabalho!

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.


Neste rico repertório da linguagem filosófica, acessível a todos e condensado em 2.500
verbetes, todos os termos filosóficos estão registrados, explicados e documentados com
citações dos textos fundamentais da tradição filosófica ocidental, dos pré-socráticos a
nossos dias.

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo:
Loyola, 2000.
Nesta obra, Rubem Alves argumenta a favor da ideia de que todo mito é perigoso
porque induz o comportamento e inibe o pensamento. O cientista, afirma ele, virou um
mito. Por isso, antes de mais nada, é necessário acabar com o mito de que o cientista é
uma pessoa que pensa melhor que as outras.

ANDERY, Maria Amália et alii. Para compreender a ciência: uma perspectiva


histórica. Rio de Janeiro: Garamond; São Paulo: EDUC, 2003.
Este livro resulta de uma experiência de mais de dez anos com material didático
elaborado para um curso de Metodologia Científica da PUC-SP. Pretende mostrar que o
método científico é histórico, isto é, que está fundado em concepções amplas de mundo,
devendo ser avaliado também a partir delas.

CHÂTELET, François. Uma história da razão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
Nessa reprodução de oito entrevistas radiofônicas, o mestre francês discorre, com
desenvoltura, sobre os passos, percalços e transformações por que passou o pensamento
ocidental, esboçando um quadro consistente da história da filosofia até nossos dias.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 1994.


Um exuberante exercício do pensamento, que fomenta a reflexão crítica e lança um
facho de luz sobre questões do dia a dia, realçando seu caráter histórico e ampliando os
horizontes do leitor – eis o alcance deste livro. Convite à Filosofia é uma obra que
utiliza o próprio instrumental filosófico para atualizar conceitos e fazer uma releitura
dialética do mundo por uma das mais consistentes intelectuais do País.

JAPIASSU, Hilton & MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
Este dicionário dá aos termos técnicos da filosofia uma definição acessível e quase
sempre esclarecida pela etimologia. Seu objetivo é ajudar o leitor não especializado a
fazer um juízo da utilidade da filosofia e de seu impacto sobre nossa língua,
identificando os mais importantes filósofos.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
Essa antologia de textos dos grandes pensadores tem como objetivo pôr o estudante em
contato direto com as fontes da filosofia ocidental. Com finalidade didática, o volume
inclui pequenas introduções aos filósofos e a cada um de seus textos, além de uma série
de questões e temas para discussão em sala de aula ou em grupos de estudo.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a


Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
Resultado de mais de 15 anos dedicados ao ensino da filosofia, este verdadeiro guia da
história do pensamento ocidental situa pensadores e correntes filosóficas em seu
contexto histórico, discute ideias e conceitos e, quando necessário, apresenta os textos
mais relevantes dos filósofos em questão, como o mito da caverna de Platão ou a tabela
dos juízos e categorias de Kant.

NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. São
Paulo: Globo, 2005.
Neste livro, aborda-se o pensamento de cinquenta dos maiores filósofos da humanidade,
de Tales até os pensadores do início do século XX. Desenvolvido com base nas obras
originais, o livro propõe um prazeroso processo que permite ao leitor formular suas
próprias questões e identificar o que diferentes pensadores de épocas distintas
argumentaram a respeito.

NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. São Paulo: Ática, 1989.


Esta obra, que aborda com acuidade o modernismo, o movimento antropofágico e a
crítica do século XIX até fins do século XX no Brasil, analisa as obras dos principais
filósofos que criaram as bases da filosofia da arte contemporânea.

KOHAN, Walter (Org.). Filosofia: caminhos para seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A,
2004.
Esta coleção apresenta uma fecunda reflexão para o debate sobre relações entre filosofia
e educação. Um elemento comum aos livros que a compõem é o interesse pela
problematização filosófica da filosofia, da educação e das relações entre esses dois
campos do conhecimento, apresentado segundo temáticas, estilos e referências diversos.

Neste módulo, serão propostas questões sobre a relação entre Filosofia e


Educação, abordando temas como a filosofia da educação e a educação da
filosofia; amar o saber, ensinar e aprender. Abordaremos também temas
mais próximos à prática docente no ensino médio, como a discussão básica
da abordagem da disciplina – histórica, temática, problemática; a
importância da leitura de textos filosóficos; a questão dos modos de
avaliação e de produção escolar; diversos modos de atuação do professor
de filosofia na escola, além de questões legais relativas ao ensino de
filosofia.

Herdeiros de uma tradição de mais de 25 séculos, como nos orientamos para definir o que é ensinar?
Os filósofos dialogam entre si, se contradizem...
E nós, mortais, como saber como e por onde começar?
Todo filósofo é homem.
Todo homem é mortal.
Logo, todo filósofo é mortal.
Mas e nós, todos os mortais, poderemos ser filósofos?
Por onde começaremos a falar de filosofia? Começaremos a falar da filosofia pela palavra, pela
linguagem.

Há controvérsias sobre o início do uso desse termo, mas Diógenes Laércio narra que Pitágoras teria
inventado a palavra philosophia, ao dizer que não era um sophós, um sábio, mas um philosophós,
um amigo ou amante da sabedoria.
Não aquele que detém o saber, mas o amigo do saber, aquele que ama o saber e, por isso, busca-o.
A sabedoria seria privilégio dos deuses; aos homens, cabe buscá-la, sem pretender tê-la alcançado
de todo.
A etimologia da palavra filosofia remete a uma atividade, não a um conteúdo.

Amar o saber é se abrir a ele, é ir em busca dele.

Sócrates – Quais então, Diotima – perguntei-lhe –, os que filosofam, se não são nem os sábios
nem os ignorantes?

Diotima – É o que é evidente desde já – respondeu-me – até a uma criança: são os que estão
entre esses dois extremos, e um deles seria o Amor. Com efeito, uma das coisas mais belas é a
sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o Amor ser filósofo e, sendo
filósofo, estar entre o sábio e o ignorante. E a causa dessa sua condição é a sua origem: pois é
filho de um pai sábio e rico e de uma mãe que não é sábia, e pobre. É essa então, ó Sócrates, a
natureza desse gênio; quanto ao que pensaste ser o Amor, não é nada de espantar o que tiveste.
Pois pensaste, ao que me parece a tirar pelo que dizes, que Amor era o amado e não o amante;
eis por que, segundo penso, parecia-te todo belo o Amor. E, de fato, o que é amável é que é
realmente belo, delicado, perfeito e bem-aventurado; o amante, porém, é outro o seu caráter, tal
qual eu expliquei.

(Platão. O Banquete, 201 d-204 c. Disponível em www.dominiopublico.gov.br. Tradução: José


Cavalcante de Souza)

Apresentamos esse trecho apenas para oferecer uma primeira imagem do filósofo, semelhante ao
Amor do mito, ambos situados em um ponto intermediário entre a ignorância e a sabedoria, único
ponto que permite realizar a busca dessa última.

Ainda que a imagem do Amor, no texto, refira-se a Eros, e não a Philía, os significados que estão
em jogo nesse contexto aproximam o filósofo e a filosofia daquela posição intermediária entre a
ignorância e a sabedoria, ocupada pelo Amor.

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