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Lopes, J., Fortes, C.A. e Souza, R.M.

Potencial de utilização da cana-de-açúcar in natura


para bovinos. PUBVET, Londrina, V. 3, N. 9, Art#530, Mar2, 2009.

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.


Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=530>.

Potencial de utilização da cana-de-açúcar in natura para bovinos

Jalison Lopes1, Caio Augustus Fortes2, Ronan Magalhães de Souza3

1
Zootecnista, Doutorando em Forragicultura e pastagens – DZO/UFLA.
2
Agrônomo, Doutorando em Forragicultura e pastagens – DZO/UFLA.
3
Agrônomo, Doutor em Forragicultura e pastagens.

Resumo

Entre as opções de volumosos suplementares, utilizados nos períodos de


escassez de forragens, a cana-de-açúcar tem posição consolidada. A grande
capacidade de produção de matéria seca e manutenção do potencial energético
durante o período seco associada à facilidade de cultivo ajudaram a disseminar
a cana-de-açúcar como grande opção de volumoso para a alimentação de
bovinos. As vantagens de utilização desta forrageira são amplamente
difundidas, e já tradicionais. Entretanto, evidências claras de erros de manejo
refletem o baixo consumo voluntário dos animais. Esta redução no consumo
decorre principalmente das limitações nutricionais (desequilíbrio de nutrientes
e minerais) e físicas (tamanho de partículas) apresentadas pela cana-de-
açúcar. Os assuntos abordados nesta revisão estão relacionados à escolha
correta da variedade para fins forrageiros, ao tamanho final de partículas da
cana picada e a relação volumoso:concentrado ideal da dieta formulada, os
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quais, são fatores determinantes para se obter desempenhos técnicos e


econômicos satisfatórios quando se utiliza a cana-de-açúcar in natura como
volumoso para bovinos.

Palavras-chave: desempenho animal, volumoso, estacionalidade

Potential of using sugar cane for cattle

Abstract

Among the options for additional roughage, used in periods of shortage of


fodder, the sugar cane has consolidated position. The large capacity of dry
matter production and maintenance of the potential energy during the dry
period associated with the ease of cultivation have helped spread the sugar
cane as a major option of roughage for feeding cattle. The advantages of using
this grass are widely spread, and now traditional. However, clear evidence of
errors in management reflects the low voluntary intake of animals. This
reduction in intake stems mainly from nutritional limitations (imbalance of
nutrients and minerals) and physical (particle size) made by sugar cane. The
subjects covered in this review are related to choosing the correct variety for
animal nutrition, the final size of particles of chopped cane and the correct
ratio of roughage:concentrate ratio, which are determining factors to achieve
satisfactory economic and technical performance when using the sugar cane in
natura as roughage for cattle.

Keywords: animal performance, roughage, seasonality

1. Introdução

A produção eficiente de leite e carne está baseada numa adequada


disponibilidade de forragem de boa qualidade ao longo do ano. Durante a
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estação das chuvas as pastagens podem suportar níveis satisfatórios de ganho


de peso e produção de leite. O principal problema é o baixo crescimento das
pastagens durante o período seco, que nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do
Brasil, coincidem com os meses mais frios, resultando em baixa disponibilidade
e qualidade dos pastos.
Dentre as opções de volumosos suplementares, utilizados nos períodos
de escassez de forragens, a cana-de-açúcar tem posição consolidada.
Simulações comparando as fontes de forragem para o rebanho,
freqüentemente sugerem a cana-de-açúcar como uma das alternativas que
reúne condições mais interessantes para suplementação volumosa dos animais
no período de baixa oferta de forragem.
O alto potencial forrageiro da cana-de-açúcar no Brasil é decorrente da
sua grande capacidade de produção de matéria seca e do alto conteúdo de
energia por unidade de matéria seca, associado à grande capacidade de
manutenção do potencial energético durante o período seco. Na literatura são
citadas produtividades de 15 a 20 toneladas de nutrientes digestíveis totais
(NDT) por hectare, sendo maior que as produções observadas com o milho, o
sorgo e a mandioca, que produzem cerca de dez toneladas de NDT por
hectare.
Estes fatores aliados à facilidade de cultivo e viabilidade econômica
ajudaram a disseminar a cana como volumoso na alimentação tanto de gado
de leite como de corte. Estima-se que dez por cento da produção anual de
cana seja destinada à alimentação de ruminantes. Em volume, esse valor
chegaria a 50 milhões de toneladas de massa verde, de acordo com as
estimativas da safra 2007/2008 (528 milhões de toneladas de cana)
suficientes para alimentar 25 milhões de bovinos durante 150 dias no ano.
A cana-de-açúcar pode simplificar o programa agronômico de produção
de forragens, reduzindo a necessidade de área de plantio de milho para
ensilagem, ou maximizando o número de animais por área de milho cultivada,
já que propicia o uso da silagem de milho apenas nos grupos de animais mais
exigentes nutricionalmente (Pereira, 2003).
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A concentração de esforços para elevação dos índices produtivos da


cana-de-açúcar nas propriedades pecuárias deve estar entre os principais focos
de atenção de pesquisadores e extensionistas. Uma vez que a maior
dificuldade para atingir o potencial da cana não está na limitação nutricional,
mas no baixo desempenho agronômico freqüentemente apresentado por essa
planta, em resposta às deficiências de manejo.
Embora as vantagens do uso da cana como suplemento volumoso para
bovinos sejam amplamente difundidas e já tradicionais, evidências claras de
erros de manejo refletem o baixo consumo voluntário efetuado por animais,
em decorrência de limitações nutricionais (desequilíbrio de nutrientes e
minerais) e físicas (tamanho de partículas). Neste sentido, muitos produtores
ainda submetem os animais à subnutrição, ao oferecer cana picada como
suplemento, sem a adoção de práticas tão simples como a correção do teor
protéico com uréia.
Portanto, o objetivo desta revisão é esclarecer alguns aspectos técnicos,
do ponto de vista nutricional, cuja correta observação é fundamental, em
situações onde se adota a cana-de-açúcar in natura, para suplementação de
bovinos, em detrimento a outro recurso forrageiro.

2. Escolha da variedade de cana-de-açúcar para forragem

A escolha da variedade é uma das decisões mais importantes para


produção de cana-de-açúcar. Segundo Barbosa e Silveira (2006) para
alimentação animal a escolha da variedade deve ser baseada em: a)
produtividade de massa, b) qualidade nutricional e c) facilidade de colheita.
Altas produtividades de massa (colmos e folhas) da cana forrageira tem
sido conseguidas por meio de variedades utilizadas para produção de açúcar e
álcool no Brasil, nesse sentido, as variedades indicadas para diferentes
ambientes de produção e sistemas de manejo em usinas e destilarias tem sido
também recomendadas para uso forrageiro (Barbosa e Silveira, 2006).
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No entanto, é importante salientar, que nada adianta o fato de a


variedade ter perfil forrageiro se não for indicada para produção em
determinada condição de manejo ou ambiente de produção, sob pena de
comprometer a produtividade de massa e inviabilizar economicamente o
sistema de produção (Barbosa e Silveira, 2006).
As variedades de cana-de-açúcar selecionadas para produção de açúcar e
álcool são também as mais indicadas para alimentação animal devido aos
açúcares serem de alta digestibilidade. Por outro lado nenhuma ênfase foi dada
à qualidade da fibra sob contexto de nutrição animal, tendo-se de maneira
geral selecionado variedades com valores em torno de 11 a 13% de fibra.
Variedades de fibra mais baixa (inferior a 10%) se tornam mais predispostas
ao acamamento e quebramento por ação dos ventos, além disso, são mais
sensíveis a danos mecânicos ocasionados no corte e transporte. Isso pode
favorecer a contaminação e diminuir o rendimento de produção de açúcar por
tonelada de cana (Barbosa e Silveira, 2006).
Em termo de qualidade nutricional a cana-de-açúcar é limitada pelo
baixo teor de proteína (1,5 a 3,5%) e digestibilidade intermediária (54 a 65%).
Mas com base em alguns resultados experimentais percebe-se que há
variabilidade genética para qualidade de fibra. Freitas (2005) relatou variação
no conteúdo de lignina de 9,97 a 13,54% da FDN em 13 genótipos de cana-de-
açúcar. O mesmo autor indicou o clone RB977512 como o de melhor qualidade
nutricional, pela avaliação conjunta das variáveis FDN, fração indegradável da
FDN, hemicelulose, taxa de degradação dos carboidratos totais e taxa de
degradação da FDN.
A divergência existente entre genótipos de cana-de-açúcar, em relação à
composição química foi avaliada em 18 variedades de cana-de-açúcar, em um
estudo conduzido por Rodrigues et al. (2001), (Tabela 1).
Observa-se que as variedades IAC86-2480 e RB83-5486 apresentaram
relação FDN/POL menor que 3,00, valor máximo sugerido pelos autores como
sendo interessante para utilização como fonte de volumoso para bovinos. Essa
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relação foi seguida de melhores digestibilidades, corroborando com a idéia de


indicar melhores variedades para alimentação de ruminantes.

Tabela 1 – Médias de teores de FDN, POL, relação FDN/POL e digestibilidade in


vitro da MS de 18 variedades de cana-de-açúcar.
Variedades FDN (% MS) POL FDN/POL DIVMS (%)
IAC84-1042 56,41a 13,72f 4,14a 47,75f
IAC86-2210 47,94efgh 15,53ab 3,11hij 59,28bc
IAC86-2480 44,18i 15,55ab 2,88j 65,9a
IAC87-3184 56,68ab 14,22ef 3,91ab 49,98ef
IAC87-3396 49,64defg 14,85cd 3,38efgh 59,25bc
IAC87-3420 47,09fghi 14,76cde 3,29fghi 62,99ab
IAC88-3359 52,56bcd 13,91f 3,87bc 48,38f
IAC89-3175 52,54bcd 14,65de 3,64cde 51,76ef
PO85-743 53,23abc 14,86cd 3,66bcd 57,95cd
RB72-454 50,86cde 15,59ab 3,31fghi 53,39e
RB83-5486 45,61hi 15,77a 2,93j 67,4a
RB84-5257 46,36ghi 15,38abc 3,06ij 63,2ab
RB85-5113 53,63abc 14,97bcd 3,66bcd 50,39ef
RB85-5536 51,85bcd 14,83cd 3,53def 54,18de
SP80-1816 50,3cdef 15,6ab 3,25ghi 58,68bcd
SP80-1842 53,58abc 15,18abcd 3,56def 50,26ef
SP80-3280 51,99bcd 15,5ab 3,4defg 49,82ef
SO81-3250 47,26fghi 15,34abc 3,13ghij 58,32cd
Medias seguidas de letras diferentes nas colunas não são iguais (P<0,05) pelo
teste de Tukey.
Fonte: Rodrigues et al. (2001)

Ainda, de acordo com Rodrigues et al. (2001) os principais critérios


apontados na escolha das variedades para uso na alimentação de bovinos, são
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a relação entre a fração fibrosa e açúcares solúveis totais (FDN/POL), teor de


FDN na planta e a porcentagem de colmos. Contudo, variáveis adicionais
poderiam ser incluídas nos programas de melhoramento e seleção de
variedades forrageiras, como: digestibilidade de FDN, digestibilidade da fração
“folha verde”, e características agronômicas associadas à colheita mecanizada,
como porte ereto, espessura de colmos, largura de soqueira, vigor de
rebrotação, hierarquia de perfilhos, entre outras.
Em trabalho semelhante, Rodrigues et al. (2006) avaliaram três das 18
variedades já testadas em 2001 pela mesma equipe, além de outras seis
variedades lançadas mais recentemente (Tabela 2).

Tabela 2 – Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), lignina
(LIG), POL e a relação FDN/POL de nove variedades de cana-de-açúcar
MS PB LIG FDN
Variedades (%) (%MS) (%MS) (%MS) POL FDN/POL
IAC87-3396 31,48b 1,75 3,44ab 47,45ab 15,67bcd 3,05ab
IACSP93-3046 30,52bc 1,81 3,5ab 43,59bc 16,28abc 2,69c
IACSP94-2094 32,38ab 1,91 2,95b 51,44a 15,5cd 3,34ab
IACSP94-2101 31,38b 1,93 4,83a 45,78bc 15,82bcd 2,9bc
IACSP94-4004 27,39d 2,09 3,13b 41,98c 16,13abcd 2,62c
IACSP94-5041 33,71a 1,94 4,13ab 47,66ab 16,68a 2,87bc
IACSP94-6025 29,23cd 1,93 2,96b 44,11bc 16,08abcd 2,77bc
RB72-454 30,38bc 2,11 3,84ab 46,39bc 15,42d 3,03ab
SP80-1816 31,95ab 2,07 3,27ab 45,85bc 16,32ab 2,82bc
Medias seguidas de letras diferentes nas colunas não são iguais (P<0,05) pelo
teste de Tukey.
Fonte: Rodrigues et al. (2006)
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Observa-se no estudo mais recente de Rodrigues et al. (2006) que


grande parte das novas variedades lançadas e testadas apresentaram a
relação FDN/POL menor que 3,00, sendo assim, indicadas para a produção
animal, com perspectivas de utilização por grande parte do setor pecuário em
curto espaço de tempo. Essa tendência possivelmente revela progressos em
valor nutritivo nas variedades mais modernas como resultado do empenho dos
programas de seleção de variedades que, atualmente, contemplam o cenário
de produção animal dentre os interesses econômicos no lançamento de novos
genótipos no mercado.
É altamente desejável que variedades indicadas como canas forrageiras
sejam de porte ereto de modo a favorecer tanto a colheita manual como
mecanizada. Atualmente, já se encontram no mercado, colhedoras de
forragem adaptadas para colheita mecanizada de cana-de-açúcar, e para
determinadas situações têm operado com bom desempenho mesmo em canas
acamadas. Também para facilitar a colheita devem-se dar preferência por
variedades que apresentam despalha fácil ou mesmo despalha natural e
também variedades preferencialmente sem joçal (pêlos na bainha das folhas)
(Barbosa e Silveira, 2006).
A variedade IAC86-2480, lançada em 2002, vem se destacando, com um
material bastante adequado para fins forrageiros com uma crescente aceitação
por parte dos produtores. Suas principais características são alto teor de
sacarose, boa produtividade agrícola, longevidade de soqueira, porte ereto,
baixo teor de FDN e baixa relação FDN/POL, boa digestibilidade, boa conversão
alimentar, despalha espontânea e maior rendimento de corte, resistência a
carvão e raquitismo da soqueira, porém apresenta resistência intermediária à
ferrugem, fato que requer atenção quando da sua introdução em áreas que
sejam favoráveis à doença e pouca rusticidade por apresentar-se de média a
alta exigência quanto ao ambiente de produção. Sendo assim, sugere-se
cultivá-la em solos mais férteis, utilizar irrigação dentre outras características
que permitam favorecer a produtividade. Isso limita muito a recomendação
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mais generalizada desta variedade para as diferentes regiões do Brasil, em


especial para o cerrado (Barbosa e Silveira, 2006).

3. Tamanho de partículas versus consumo de cana-de-açúcar

O tamanho de partícula resultante da picagem da forragem está


diretamente associado à taxa de passagem de partículas e ingestão voluntária
de MS pelos animais, especialmente em volumosos com alta efetividade da
fibra (baixa digestão), como a cana-de-açúcar (Nussio et al., 2006). Mertens
(1997) afirma que o consumo é afetado de forma direta pelo tamanho médio
das partículas, segundo a teoria do enchimento físico dos compartimentos
rúmen e retículo. Portanto, o teor de FDN é correlacionado com a capacidade
ingestiva do animal, pois a FDN é responsável pelo enchimento do rúmen.
Assim, uma forma de aproveitar melhor alimentos com alto teor de FDN,
como a cana-de-açúcar, é torná-la mais exposta ao ataque de microrganismos
ruminais, através de uma picagem bem feita (Balsalobre et al., 1999).
Embora alimentos finamente picados possam apresentar problemas de
efetividade da fibra, o tamanho crítico para obtenção de boa ruminação, de 3
mm (NRC, 2001), dificilmente seria atingido pelas colhedoras de cana
disponíveis no mercado.
Em compilação dos folhetos promocionais de várias marcas e modelos de
máquinas forrageiras, realizada por Balsalobre et al. (1999), observa-se
capacidade de corte variando de 10 a 40 t MV/hora, com tamanhos de
partícula entre 3 e 22 mm.
Nas amostragens de cana picada realizadas por Brioni (2003), em 18
propriedades que adotam o corte mecanizado o tamanho médio de partículas
verificado (24 mm) está acima do tamanho de corte mencionado nos catálogos
das principais colhedoras de cana. Essa situação, comumente encontrada, é
decorrente do alto desgaste nos implementos e da baixa freqüência de afiação
e ajuste das facas, que aliadas à velocidade de deslocamento superior à ideal,
contribuem para o tamanho elevado das partículas de cana colhidas
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mecanicamente. Deste modo, em um sistema com corte mecanizado da cana-


de-açúcar, preconiza-se a obtenção do menor tamanho de partícula possível,
para que haja maximização na ingestão de MS das dietas baseadas em cana
(Nussio et al., 2006).
A manutenção das facas das colhedoras afiadas deve ser uma das
principais preocupações do produtor ou técnico, a fim de que se obtenha
tamanho médio das partículas reduzido (<15 mm) e padronizado. Essa ação é
especialmente importante no que tange à cana-de-açúcar, que devido à
robustez da massa induz a abrasão intensa dos componentes do equipamento,
desgaste de facas e rápido aumento no tamanho médio das partículas geradas
devido à perda de precisão de corte (Nussio et al., 2006).
Embora haja grande interesse na aplicação direta dessas informações,
esse tema se constitui em uma área pouco explorada por parte da pesquisa,
necessitando de mais esforços para definição de metas aos tamanhos de
partículas ótimos para o rendimento operacional de colheita e picagem, para os
processos de conservação, e também, para o melhor desempenho dos animais.
A determinação da freqüência ideal de afiação, analogamente, necessita de
novas investigações que considerem resistência de materiais no projeto de
novos implementos, sistemas de picagem com conceito de precisão,
adequação varietal aos sistemas de colheita mecanizada, entre outros (Nussio
et al., 2006).

4. Dietas baseadas em cana-de-açúcar para bovinos

A combinação adequada de ingredientes visando corrigir as deficiências


nutricionais da cana-de-açúcar já foi bastante discutida, embora ainda seja
foco de divergências entre técnicos e pesquisadores (Nussio et al., 2006).
Em extensa revisão de literatura, Santos et al. (2005) abordaram os
principais fatores a serem considerados no balanceamento de rações contendo
cana-de-açúcar como ingrediente volumoso. Segundo aqueles autores, a idéia
tradicional de que fontes de amido de baixa degradação ruminal poderiam
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incrementar o desempenho de animais parece equivocada, uma vez que


experimentos metabólicos demonstram que a glicose absorvida, proveniente
do amido que chega ao intestino delgado, é usada quase totalmente pelo
sistema digestório do animal e que a glicose circulante no sangue arterial de
ruminantes provém da gliconeogênese hepática. Assim, ingredientes ricos em
amido, associados à cana-de-açúcar, devem priorizar a digestão ruminal do
amido e o aporte de substrato para crescimento microbiano, maximizando a
produção de ácidos graxos voláteis e consequentemente a produção de glicose
pelo fígado (Nussio et al., 2006).
Resultados recentes de desempenho de animais recebendo rações
contendo cana-de-açúcar onde fontes de amido foram substituídas por polpa
cítrica se mostraram muito positivos ilustrando a possibilidade de explorar com
eficiência a produção de ruminantes sem a necessidade de doses mínimas de
amido (Santos et al., 2005).
Por ser um ingrediente extremamente carente em proteína, a cana-de-
açúcar demanda correção nos teores dessa fração, tanto em PDR (proteína
degradável no rúmen) quanto em PNDR (proteína não degradável no rúmen).
Além da uréia, tradicionalmente utilizada como ingrediente protéico de baixo
custo, fontes de proteína verdadeira, como farelos de soja e algodão, caroço
de algodão, grãos de soja, glúten de milho, entre outros, devem estar
presentes nas rações contendo cana-de-açúcar, quando se almeja
desempenhos elevados de animais, mesmo com elevação no custo unitário da
ração, que na maioria das vezes se reflete em redução no custo do produto
final (carne ou leite) (Nussio et al., 2006).
Uma série de trabalhos de pesquisa vem sendo realizados, avaliando o
efeito da substituição total ou parcial da silagem de milho, por cana-de-açúcar,
visando reduzir os custos com alimentação e elevar a produção de volumosos,
sem necessidade de ampliação na área destinada à produção de forragem na
propriedade.
Comparando silagem de milho e cana fresca corrigida com uréia, Sousa
et al. (2002) verificaram maior consumo de MS para a silagem de milho (21,4
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kg/dia), em relação à cana (15,2 kg/dia), bem como maior produção de leite
(25,0 vs 18,6 kg/dia).
Magalhães et al. (2001), avaliando o efeito de quatro níveis de
substituição (0, 33, 66 e 100%) da silagem de milho por cana-de-açúcar
corrigida com uréia, em rações completas onde o volumoso representava 60%
da MS, para vacas produzindo em média 24 kg de leite/dia, observou
decréscimo linear no consumo de MS e na produção de leite, com o aumento
nos níveis de substituição. Contudo, após a avaliação da variação de peso dos
animais e do retorno econômico da substituição, o autor conclui que a
substituição de 33% da silagem de milho por cana é técnica e economicamente
viável.
Da mesma forma, Costa et al. (2005) avaliaram diferentes relações entre
volumoso e concentrado na MS (60:40; 50:50; 40:60), para rações baseadas
em cana-de-açúcar com uréia, e compararam com ração a base de silagem de
milho (60:40), no desempenho de vacas em lactação. Em todas as rações
experimentais, o concentrado foi composto por fubá de milho, farelo de soja,
farelo de algodão, farelo de trigo e mistura mineral. Os autores verificaram,
para a silagem de milho, maior consumo de MS (19,8 kg/dia) e produção de
leite (21,1 kg/dia), quando comparados ao consumo (15,8 e 17,1 kg/dia) e
produção de leite (16,9 e 17,7 kg/dia) para as dietas baseadas em cana nas
relações 60:40 e 50:50, respectivamente. A cana de açúcar corrigida com
uréia, na relação V:C de 40:60, apresentou consumo de MS (19,7 kg/dia) e
produção de leite (19,9 kg/dia) semelhantes à ração baseada em silagem de
milho. Nesse caso, apesar da redução no consumo e produção de leite
verificadas nas dietas baseadas em cana-de-açúcar, os autores sugerem que é
possível obter resultados de desempenho semelhantes à silagem de milho,
utilizando cana, desde que haja maior participação de concentrado na dieta,
sendo o diferencial entre uma ou outra ração, o fator econômico ou a
disponibilidade de terra.
A avaliação geral destes trabalhos mostra que rações usando cana-de-
açúcar como principal alimento volumoso determinam redução em consumo de
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MS e produção de leite, quando comparadas à silagem de milho, em virtude da


alta efetividade da fração fibrosa da cana. Para obtenção de produtividades
elevadas, faz-se necessária à inclusão de níveis mais elevados de concentrados
na formulação das rações. Ainda assim, rações formuladas com cana são
geralmente de baixo custo, comparativamente aquelas contendo outros
volumosos suplementares. A adoção dessas rações depende de fatores
agronômicos e do interesse em aumentar a produção de leite por unidade de
área (Nussio et al., 2006).
Desequilíbrios na composição do leite produzido por vacas alimentadas
com rações contendo cana-de-açúcar, freqüentemente associados à presença
desse volumoso, provavelmente se devem mais ao desbalanceamento de
nutrientes que a uma característica intrínseca a essa fonte de forragem
(Nussio et al., 2006).

4. Desempenho de bovinos alimentados com dietas baseadas em cana-


de-açúcar

Conforme pode ser observado na Tabela 3, com grande freqüência são


observados experimentos que comparam a cana-de-açúcar in natura picada
diariamente às rações tradicionais constituídas por silagem de milho.
A larga amplitude de resultados de desempenho pode ser atribuída às
diferenças em valor nutritivo das fontes de cana utilizadas, bem como aos
aspectos relacionados à adequação de balanceamento de rações (Nussio et al.,
2006). Além disso, em muitos trabalhos conduzidos a cana-de-açúcar foi
penalizada por receber o estigma de volumoso associado a rebanhos de menor
mérito produtivo, o que resultou em desempenho insatisfatório. Em diversas
oportunidades a cana-de-açúcar recebeu mínimas correções de mineiras,
fontes protéicas ou energéticas e assim, novamente, promoveu desempenhos
não compatíveis com o potencial dessa planta (Nussio et al., 2006).
Lopes, J., Fortes, C.A. e Souza, R.M. Potencial de utilização da cana-de-açúcar in natura
para bovinos. PUBVET, Londrina, V. 3, N. 9, Art#530, Mar2, 2009.

Tabela 3- Utilização de cana-de-açúcar na alimentação de vacas leiteiras:


proporções de volumoso, consumo, produção e composição do leite.
Cana FDN CMS Produção PB Gordura Lactos
Referência V:C %raçã (%MS) (% PV) (kg/dia) (%) (%) e
o (%)
Pires (1999) 50:50 12,5 16,6 2,98 3,07
50:50 25 - - 18,08 3,03 3,34 -
50:50 37,5 14,83 2,92 3,39
Fernandes 72:28 54 40 2,28 11,3
et al. 72:28 54 50 2,28 10,10 - - -
(2001) 72:28 54 60 2,28 8,6
Sousa et al. 60:40 60 2,77 18,64 3,03 3,56
(2002) 60:40 53 - 3,11 19,66 3,06 3,92
60:40 46 3,01 20,55 3,04 3,8
Vilela et al. 95:5 95 57,02 1,3 6,45 2,59 3,33
(2003) 84:16 84 57,02 1,81 7,35 2,85 3,48 -
83:17 83 57,02 1,45 7,13 2,94 3,66
83:17 83 57,02 1,78 7,71 2,82 3,55
Magalhães 60:40 19,98 46,99 3,51 24,98 3,52 4,04
et al. 60:40 39,96 46,99 3,44 24,36 3,55 4,19 -
(2004) 60:40 60 46,99 3,27 21,41 3,63 3,85
Mendonça 60:40 60 48,5 2,9 19 3,2 3,8
et al. 60:40 60 48,5 2,8 18,6 3,2 3,8
(2004) 50:50 50 48,5 3,1 20,1 3,2 3,9
Costa et al. 60:40 60 2,7 16,9 3,63 3,45 4,12
(2005) 50:50 50 - 3 18,82 3,7 3,25 4,22
40:60 40 3,34 19,78 3,73 3,47 4,16
Pereira et 60:40 60 2,62 11 2,9 3,1 4,53
al. (2006) 60:40 60 2,62 12,1 3 3,6 4,56
60:40 60 - 2,62 12,8 3 3,2 4,55
60:40 60 2,62 13,9 3 3,3 4,62
Queiroz 40:60 40 52,38 - 24,6 3,24 3,34 4,27
(2006)
Santos et 43,35:56,65 43,35 - 2,73 23,38 3,39 3,12 4,63
al. (2006) 41,5:58,5 41,5 2,82 22,56 3,2 2,97 4,66
39,5:60,5 39,5 2,76 22,36 3,27 3,17 4,64
Corrêa et al 45:55 45 43,2 3,47 31,90 3,13 3,57 -
(2003)
Fonte: Adaptado de Nussio et al., 2006

Observando-se os dados apresentados na tabela 3, verifica-se que a


variação na participação de volumoso na ração total das vacas foi de 10 a
95%. Com exceção dos estudos de Fernandes et al. (2001) e do experimento
de Vilela et al. (2003), os demais trabalhos conduzidos demonstraram
produções superiores a 11 quilos de leite por vaca/dia, vários deles com
produções diárias por vaca superiores a 20 quilos, reiterando a hipótese da
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para bovinos. PUBVET, Londrina, V. 3, N. 9, Art#530, Mar2, 2009.

possibilidade de utilização da cana-de-açúcar como volumoso em rações de


vacas em lactação com maior produção individual (Nussio et al., 2006).
Outro aspecto interessante refere-se à composição do leite de vacas que
receberam a cana em suas rações. Verifica-se nos experimentos mais recentes
(Tabela 3), que não houve alterações significativas nos teores dos principais
componentes do leite das vacas alimentadas com cana, o que contraria o
conceito tradicional e não fundamentado de que rações com base nesse
volumoso seriam determinantes de anormalidade na composição do leite.
Provavelmente, a evolução histórica no balanceamento adequado dessas
rações tenha promovido o equilíbrio necessário para a obtenção de composição
de leite considerada normal (Nussio et al., 2006).
Com isso, fica evidente que ao assumir a postura filosófica de exploração
de maior potencial produtivo dos animais em rações constituídas por cana é
possível reverter a tendência de expectativas de desempenho modesto como
resultados da utilização dessas rações, como ficou bem ilustrado pelo trabalho
de Queiroz (2006), que alimentando vacas em estágio intermediário da
lactação utilizando cana como volumoso exclusivo alcançou produções da
ordem de 24,6 quilos de leite. Porém, o maior exemplo da competência
adquirida na formulação de rações usando cana de açúcar foi relatado por
Corrêa et al. (2003), que avaliaram rações para vacas holandesas de alta
produção, contendo alternativamente cana-de-açúcar, silagem de milho com
textura macia ou silagem de milho com textura endurecida como volumosos
únicos, em rações com 45,5% de forragem na MS e mesmo teor de FDN
proveniente do volumoso, atingindo uma produção de 31,9 quilos nas dietas a
base de cana-de-açúcar como volumoso exclusivo (Tabela 4).
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Tabela 4 – Composição e desempenho de vacas de alta produção alimentadas


com rações baseadas em cana-de-açúcar, silagem de milho dentado ou
silagem de milho duro.
Rações
Variáveis Silagem Silagem Cana-de-açúcar
dentado duro
Proteína bruta, % 19,6 19,1 19,6
MS
FDN, % da MS 26,9 27,9 27,0
Consumo MS, 23,0a 23,1a 21,5b
kg/dia
Prod. Leite, kg/dia 34,2a 34,6a 31,9b
Gordura leite, % 3,5 3,5 3,6
Mastigação, 704 710 687
min/dia
Digestibilidade 63,6 63,0 61,4
aparente MS, %
Digestibilidade 42,4a 41,7a 23,1b
aparente FDN, %
Fonte: Adaptado de Corrêa et al. (2003)

De acordo com a Tabela 5, onde estão relacionados os dados de


experimentos relativos ao desempenho de bovinos de corte recebendo cana-
de-açúcar como fonte de volumoso, notou-se grande variação na participação
da cana-de-açúcar na composição das rações, ficando a inclusão dessa
forragem, compreendida entre 20 e 100% da MS da ração. Os consumos de
matéria seca foram também bastante variáveis, sendo compreendidos entre
1,5 e 2,73% do peso vivo dos animais. As respostas em ganho de peso, de
forma semelhante, também foram bem variáveis, com ganhos reduzidos de
166g diários até valores superiores a 1,5 kg diários, resultante de formulações
contendo 40% de cana-de-açúcar na composição da MS da ração. Dados não
oficiais têm sugerido que a cana-de-açúcar tem sido utilizada em cerca de 35%
dos confinamentos de bovinos de corte em todo país, revelando-se como
cultura adaptada em quase todo o território nacional (Nussio et al., 2006).
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para bovinos. PUBVET, Londrina, V. 3, N. 9, Art#530, Mar2, 2009.

Tabela 5 - Utilização de cana-de-açúcar na alimentação de gado de corte:


proporções de volumoso, consumo, ganho de peso médio diário e conversão
alimentar.
Referência V:C PB ração GMD1 CMS2 CMS CA3
(%) (kg/dia) (%PV) (kg/dia)
Moraes et al. 100:00 13,5 0,166 1,53 2,8 16,86
(2006) 74:26 13,5 0,393 2,03 3,7 9,41
55:45 13,5 0,561 2,42 4,4 7,84
Zanetti et al. 76:24 - 0,497 2,23 8,69 17,91
(2006) 76:24 0,726 2,37 9,27 13,19
Brondani et al. 40:60 12 1,120 - - 8,5
(1991)
Fernandes et 40:60 14,05 1,650 2,37 9,05 5,49
al. (2006) 40:60 14,05 1,300 2,27 8,21 6,38
40:60 14,05 1,320 2,19 7,61 5,81
Silva et al. 60:40 - 1,063 - 8,64 -
(2006) 40:60 0,908 8,09
20:80 1,128 8,79
Rangel et al. 72:25 - 0,601 - - -
(2005) 60:40 0,657
45:55 0,802
Rodrigues e - - 0,390 2,59 - -
Barbosa (1999) 0,360 2,73
1 2
GMD-ganho de peso vivo médio diário; CMS – consumo de matéria seca;
3
CA-Conversão alimentar = quilos de alimento ingerido para conseguir um
quilo de ganho de peso vivo .
Fonte: Adaptado de Nussio et al., 2006

Recentemente, também foram conduzidos alguns estudos para avaliar as


características quantitativas e qualitativas de carcaça de bovinos comparando
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dietas onde o volumoso utilizado foi apenas à cana-de-açúcar e outras onde se


usou apenas a silagem de milho. Brondani et al. (2006) estudando novilhos
Charolês, em terminação com dietas cujo volumoso era cana-de-açúcar (43,65
% da matéria seca da dieta) ou silagem de milho (45,14% da dieta)
formuladas para serem isonitrogenadas (11,76% de PB) observaram que a
percentagem de músculo foi superior para silagem de milho em relação a
cana-de-açúcar (70,67 contra 68,08%), comportamento similar ao da
percentagem de gordura na carcaça, 15,58 e 11,92 %, respectivamente para
silagem de milho e cana-de-açúcar. No entanto a espessura de gordura
subcutânea e área do músculo Longissimus dorsi não foram diferentes.
Trabalhando com bovinos da raça Hereford, Vaz e Restle (2005),
observaram que os animais terminados com silagem de milho apresentaram
maior peso de abate e pesos de carcaças quente e fria, carcaça mais comprida,
com maior perímetro de braço e maior percentual de gordura que os animais
alimentados com cana-de-açúcar, sob as mesmas condições. Não houve
diferença entre tratamentos para rendimento de carcaça fria, quebra durante o
resfriamento e porcentagem dos cortes comerciais da carcaça. A fonte de
volumoso também não afetou a conformação de carcaça, espessura de gordura
de cobertura, área de Longissimus dorsi, assim como as porcentagens de
músculo e osso na carcaça. As características cor, textura, marmoreio, força de
cizalhamento, maciez e quebra na cocção da carne, também não foram
influenciadas pelos tratamentos mas a quebra ao descongelamento foi maior
nos animais alimentados com cana-de-açúcar.
De acordo com Vaz et al. (2003), bubalinos da raça Mediterrâneo
terminados em confinamento e alimentados com dietas contendo, na matéria
seca, 33% de concentrado e 67% de cana-de-açúcar ou silagem de milho
apresentaram peso de fazenda, peso de carcaça quente e peso de carcaça fria
semelhantes. No entanto bubalinos alimentados com silagem de milho
apresentaram maior rendimento de carcaça fria que os animais alimentados
com cana-de-açúcar (51,7 contra 49,9%). Não houve diferença na
porcentagem dos cortes comerciais da carcaça, assim como nas medidas de
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desenvolvimento da carcaça entre os animais dos dois tratamentos. O


tratamento não afetou a conformação de carcaça, área de longissimus dorsi,
assim como as porcentagens de músculo e osso na carcaça. Não houve efeito
nas características cor, textura, marmoreio, força de cizalhamento, maciez e
quebra na cocção da carne, mas a quebra ao descongelamento foi maior e a
palatabilidade e suculência da carne, superiores nos animais alimentados com
cana-de-açúcar.
Fica bem claro que as principais diferenças nas carcaças de bovinos
alimentados com cana-de-açúcar são de ordem quantitativa, o que
provavelmente se deve a melhor qualidade da silagem de milho refletindo em
maior velocidade de ganho de peso dos animais suplementados com esse
volumoso. É importante ressaltar que características quantitativas importantes
como espessura de gordura de cobertura e área do músculo longissimus dorsi
não foram influenciadas pelas dietas nos trabalhos citados. Da mesma forma
as características qualitativas não foram prejudicadas pelo uso de cana-de-
açúcar nas dietas.

6. Considerações finais

Apesar da qualidade da cana-de-açúcar ser inferior a de outros


volumosos, a sua produtividade por área e o seu baixo custo podem trazer ao
pecuarista retornos econômicos satisfatórios quando passamos a avaliar a
produtividade animal não individualmente (kg/animal/dia), mas por área (Kg
de carne ou leite/hectare) desde que os planos nutricionais dos rebanhos onde
este volumoso esteja incluído, sejam corretamente estabelecidos e também
desde que a cultura seja submetida a um manejo agronômico ideal, capaz de
garantir altas produtividades.
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para bovinos. PUBVET, Londrina, V. 3, N. 9, Art#530, Mar2, 2009.

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