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A disciplina

Resolvi escrever, pois, nesse momento, parece-me mais fácil escrever do que pensar.
Ainda não sei bem o que é, nem o que não é, isso que escrevo, mas intuo algumas
coisas.

Isso que escrevo não é "minha opinião". Não é parte de minha "vivência interior".
Também não chamaria de "sentimento", mas me afeta fortemente.

Isso que escrevo é estudado, pesquisado, afirmado em todas as suas perspectivas por
muita gente ao redor desse mundo. Livros, pesquisas, grupos de estudo se dedicam a
isso que escrevo.Esses estudos dizem respeito a uma forma de afirmar a vida viva.

Isso que escrevo fala de algo que inclui, porém não é inclusão. Fala de alguma coisa
que é multiplo, mas também é único, simples, idiota.

Algumas questões perdem sentido diante disso que escrevo: falar de barbárie, falar
de degradação do meio ambiente, falar de violência, falar de melhoria de educação.
Falar de consertar algo que não vai bem. Falar que algo não vai bem como
tradicionalmente fazemos.

Não que essas coisas sejam desconsideradas nisso que escrevo. Elas apenas não
existem. Pois, para isso que escrevo, a vida deve ser afirmada em todos os seus
aspectos. Todos.

Quando se consegue pensar da forma como pensa isso que escrevo não há um olhar o
mundo para melhorá-lo. Não há uma abordagem que critica o mundo de fora do mundo.
Para isso que escrevo, só há implicações. E você, eu, tu, nós os múltiplos que somos,
para isso que escrevo, estão sempre implicados nisso que escrevo.

Ainda não sei falar sobre isso muito bem, mas vou aprender. Resolvi escrever para dizer
isso que quero aprender a dizer isso que escrevo. Mas mais que isso, quero aprender a
viver isso que escrevo.

Quando descobrir como viver, dizer e escrever isso que escrevo E, então, souber que um
aluno, jogou uma cadeira em um professor ou que um pai jogou uma criança pela
janela, vou saber que isso é para ser afirmado como vida viva.

Quero saber escrever que isso não significa conformar-se ao mundo, mas afirmá-lo.
Quero saber escrever que criticar isso como violência, barbárie falta de um pensar assim
ou assado não significa nada para isso que escrevo.

Para o que escrevo a potência da vida não vem da crítica à vida, mas de sua afirmação
incondicional.

Mudanças? Podem ocorrer. Ética, certamente. Mas não a ética do discurso tipo
categorias, classes: "Enquanto um professor estiver sendo atacado nenhum professor
pode ficar calado". Essa não é a ética disso que escrevo.
Não sei ainda como dizer isso, mas vou aprender. A ética disso que escrevo não está no
olhar de longe e apontá-lo, mas no viver perto e celebrá-lo, dançá-lo.
É isso que me afeta. Ainda não sei escrevê-lo, muito menos dizê-lo, mas quero aprender
e vou. Tem muita gente se exercitando nisso, vou encontrá-las e aprender com elas.

Vou fazer isso não porque quero um mundo melhor, perfeito, feliz, onde pessoas
filósofas pensam pura e claramente e com isso evitam a barbárie do mundo. Não, para
isso que escrevo, não há um mundo melhor fora desse que vivo agora. Não quero evitar
algo nesse mundo, consertá-lo, quero afirmá-lo. Quero aprender a escrever, dizer e viver
isso que escrevo porque não há outra coisa que eu possa fazer. É o que me move. é o
meu respiro.

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