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1.

INTRODUÇÃO

O registro de entidades sindicais constitui-se em tema de grande importância


em nosso ordenamento jurídico, pois envolve os basilares princípios organizativos e
o próprio sistema sindical brasileiro.

Neste estudo, Inicialmente, trataremos da natureza jurídica e do registro das


entidades sindicais, e, após, passaremos ao estudo das implicações da portaria nº
186 do Ministério do Trabalho e Emprego em tais institutos.

2. NATUREZA JURÍDICA E REGISTRO DAS ENTIDADES


SINDICAIS.

A definição da natureza jurídica das entidades sindicais torna-se


indispensável para a coerência da discussão acerca do registro das entidades
sindicais a que este trabalho se propõe.

Nesse sentido, a natureza jurídica dos sindicatos é classificada frente a três


vertentes principais.

Para a primeira, seguida por Mauricio Godinho Delgado, “o sindicato


consiste em associação coletiva, de natureza privada, voltada à defesa e incremento
de interesses coletivos profissionais e materiais de trabalhadores, sejam
subordinadas ou autônomos, e de empregadores”.

Tais elementos, que em seu conjunto, formam uma definição da entidade


sindical, também indicam sua natureza, isto é, seu posicionamento classificatório no
conjunto de figuras próximas.

É associação, sem dúvida, e nesta medida aproxima-se de qualquer outra


modalidade de agregação permanente de pessoas. Na linha das associações
existentes na sociedade civil (em contraponto ao Estado), é também entidade de
natureza privada, não se confundindo com organismos estatais.

Distancia-se, porém, das demais associações por ser necessariamente


entidade coletiva, e não simples agrupamento permanente de duas ou de algumas
pessoas. Distancia-se ainda mais das outras associações por seus objetivos
essenciais estarem concentrados na defesa e incremento de interesses coletivos
profissionais e econômicos de trabalhadores assalariados (principalmente estes, na
história do sindicalismo), mas também outros trabalhadores subordinados, a par de
profissionais autônomos, além dos próprios empregadores.

Assim, compreende-se que a natureza jurídica dos sindicatos é de


associação privada de caráter coletivo, com funções de defesa e incremento dos
interesses profissionais e econômicos de seus representados, empregados e outros
trabalhadores.

Em períodos autoritários vivenciados na história ocidental, particularmente


na primeira metade do século XX, teve grande influência a concepção publicística
sobre a natureza jurídica dos sindicatos. Nesse sentido, de acordo com a segunda
vertente, entendeu-se que as entidades sindicais eram pessoas jurídicas de direito
público, realizadoras de funções delegadas do poder público.

Ainda que sendo entidades integradas por seres da sociedade civil


(trabalhadores subordinados ou autônomos, e empregadores), os sindicatos tinham
estrutura e funcionamento de órgãos estatais ou paraestatais, com funções de
caráter público. Daí sua natureza publicística.

Por fim, a terceira posição é a do sindicato como pessoa jurídica de direito


social. Um de seus grandes expoentes na doutrina nacional é Cesarino Júnior, para
quem o sindicato é um ente que não se pode classificar exatamente nem entre as
pessoas jurídicas de direito privado nem entre as pessoas jurídicas de direito
público, constituindo-se, portanto, num terceiro gênero.

Após a discussão da natureza jurídica das entidades sindicais, passamos,


então, a examinar a necessidade de registro das entidades sindicais.

No Brasil, não há divergência sobre a necessidade de registro das


entidades sindicais, uma vez que, no nosso ordenamento jurídico é costume
registrar as pessoa jurídicas para que possam constituir direitos e obrigações.

Neste aspecto, o artigo 45 da Lei nº 10.406/02 (Código Civil) estabelece


que: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo”.
Se quanto à necessidade de registro das entidades sindicais não há
dúvida, quanto à competência para o registro de entidades sindicais, o mesmo não é
verdadeiro. Sendo assim, surgem três correntes sobre a correta interpretação do
inciso I do art. 8 da Constituição Federal de 1988, o qual institui a liberdade sindical.

A primeira corrente sustenta que o registro da entidade sindical no Registro


de Civil das Pessoa Jurídicas é suficiente; a segunda julga que basta o registro no
Ministério do Trabalho; e, por fim, a terceira corrente exige o duplo registro.

Tais questões já foram discutidas no STJ e estão praticamente pacificadas,


entendo o mesmo que o sindicato passa a existir e gozar de representatividade a
partir do registro do seu estatuto perante Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, enquadrando-se assim como pessoa jurídica de direito privado.

Mesmo que o sindicato não possua registro perante o Ministério do


Trabalho, isto não é causa de impedimento para sua existência legal.

Neste sentido, o julgamento da lavra do Ministro José Delgado:

"Constitucional. Sindicato. Personalidade Jurídica após o Registro Civil no


Cartório. Registro no Ministério do Trabalho não essencial mais sim aquele é que
prevalece para todos os fins. Precedentes. – Recurso especial interposto contra
v.acórdão que, ao julgar a ação, na qual servidores públicos pleiteiam o reajuste de
11,98%, declarou o Sindicato recorrente carecedor de ação, ao argumento de não
ter capacidade postulatória, por ausência de registro no Ministério do Trabalho. A
assertiva de que o registro no Ministério do Trabalho tem preferência e é mais
importante não tem amparo face à nova ordem constitucional. A partir da vigência da
Constituição Federal de 1988, as entidades sindicais tornam-se pessoas jurídicas,
desde sua inscrição e registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos e
Registro Civil das Pessoas Jurídicas, não conferindo o simples arquivamento no
Ministério do Trabalho e da Previdência Social, às entidades sindicais nenhum efeito
constitutivo, mas, sim, simples catálogo, para efeito estatístico e controle da política
governamental para o setor, sem qualquer conseqüência jurídica. Precedentes das
1ª. Turma e 1ª. Seção desta Corte Superior. Recurso provido, com retorno dos autos
ao egrégio Tribunal a quo para prosseguir no julgamento da apelação e da remessa
oficial quanto aos demais aspectos" Resp. 381118/MG, DJ 18.03.02.
3. Portaria nº 186/2008 do Ministério do Trabalho e Emprego.

A Portaria nº 186, de 10 de abril de 2008, publicada em 14 de abril de 2008,


do Ministro Carlos Lupi, do Trabalho e Emprego, fixou normas sobre os pedidos de
registro sindical e alteração estatutária.

A Carta Magna de 88, em seu artigo 87, parágrafo único, inciso II, e o Título
V da CLT, deram um peso maior a essa Portaria, além de referir-se expressamente
à Súmula 677 do STF, a qual dispõe que “até que lei venha a dispor a respeito, cabe
ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela
observância do princípio da unicidade”.

A Portaria 186/2008 é considerada por muitos operadores do direito como


parcialmente inconstitucional, uma vez que existem algumas falhas e ilegalidades
que necessitam de imediata revisão. Uma delas é o fato de a CLT ser precária, visto
que não existe lei sindical específica que regulamente a criação de entidade sindical.

Como as regras sindicais são questionáveis, o MTE adota normas


regulamentadoras e inovadoras, através das portarias e das instruções, agindo
como verdadeiros legisladores. Um exemplo são as várias portarias sobre registro
sindical, em que os Ministros têm o poder de decidir sobre as impugnações,
podendo determinar o arquivamento das mesmas e o deferimento do pedido de
registro da entidade sindical.

Outro ponto importantíssimo é a formação e registro das entidades de grau


superior, federações, confederações que são organizadas com base nos artigos 534
e 535 da CLT.

Como o processo de desmembramento de entidades sindicais não está


explicitado em lei, o MTE vem reconhecendo a pluralidade no campo federativo e
confederativo, apesar desses campos já estarem definidos no sistema da unicidade
sindical.

Nesse sentido, há evidente ilegalidade na Portaria nº186/2008, já que o


sistema confederativo é reconhecido na Carta Magna, em seu inciso II, do artigo 8º,o
qual prediz que “é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em
qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma
base territorial (...)”, ou seja, qualquer grau, entende-se também no grau superior
das federações e confederações.

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho, percebemos que ao analisar-mos a natureza jurídica dos


sindicatos três teorias se apresentam para tentar definí-la. Vimos também, que não
há divergência sobre a necessidade de registro das entidades sindicais, entretanto,
quanto à competência para o registro de entidades sindicais, o mesmo não é
verdadeiro. Sendo assim, surgem três correntes sobre a correta interpretação do
inciso I do art. 8 da Constituição Federal de 1988, o qual institui a liberdade sindical.

Em decisões anteriores do STF foram confirmados, tanto o princípio da


unicidade sindical, como o da liberdade e autonomia sindica, bem como a
necessidade do registro no MTE., o qual deveria garantir o respeito a esses
princípios.

Entretanto, na prática sindical ocorre a livre fundação da entidade; o pedido


de reconhecimento pelo registro no Ministério do Trabalho e Emprego; a
possibilidade da impugnação por entidade sindical que for atingida em sua
representatividade sindical ou na sua base territorial.

Destarte, é em torno do registro no MTE que as lutas entre as várias


correntes do movimento sindical ocorrem, pois é a partir da decisão do Ministério,
favorável ou não, que o Poder Judiciário decide sobre a infrigência ou não dos
princípio constitucionais que orientam a organização sindical.

Sendo assim, não é viável que o Ministério do Trabalho e Emprego baixe


novas instruções, visto que apenas abrem espaço para novas disputas sindicais, ao
invés de solidificar o princípio da unicidade sindical.
4. REFÊRENCIAS BIBLIOGRAFICAS

JÚNIOR, Cesarino. Direito Social, São Paulo: LTR, 1980.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Compêndio de direito sindical, 2ª. ed., São


Paulo: LTR, 2000.

VIANNA, Segadas. O Sindicato no Brasil, Olímpica Editora, 1953.

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