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A TEIA: REDE de RELACIONAMENTOS

A intenção de desenvolver o tema vem da percepção pessoal de uma necessidade de observar


outras estratégias de seres vivos e com elas melhorar nossa convivência e possibilidade de uma
vida onde queiramos de fato estar e viver. Aqui vou partir de algumas observações sobre a teia
da aranha.

Observando uma teia vemos que fios finos e delicados vão possibilitando as diversas arquiteturas
de construção. Servem ao mesmo tempo de sinalizador, quando um inseto fica preso nela, a
aranha pelas oscilações provocadas logo se desloca na sua direção, e local para guardar a ou as
presas que forem caindo na armadilha.

Se por exemplo uma folha ficar grudada na teia, a aranha percebe, vai ao local e como não é um
inseto, alimento, logo vai realizando a tarefa de retirar a folha. Isto é a teia ao mesmo tempo
em que fixa a presa permite também que possa ser desgarrada dela. Desse modo a aranha faz a
manutenção da teia e mantém-a sempre pronta para o seu objetivo, captura de alimento.

Podemos perceber algumas vezes que um fio pode estar rompido. Provavelmente algo se
prendeu aí e o fio não suportou o peso. Portanto, vemos que a teia sustenta muito mais peso
pelo conjunto dos fios que a compõe, fixos aqui e ali de modo a dar equilíbrio e sustentação.

A aranha também tem percepção sobre o local onde irá construir sua teia. De nada adiantaria
uma teia num local de fácil construção e pelo qual não passasse nenhum inseto. Ela
normalmente faz a construção em pontos onde os insetos também poderão estar. A construção
aérea é bem comum, os fios finos não permitem que o inseto perceba a existência da teia. A
teia pode estar num local aonde o inseto irá se refugiar, canto de alguma rocha, próximos a
fontes de luz noturna, cantos de casas e outros.

Mas, o objetivo aqui não é desenvolver um tratado sobre teias de aranha e sim a partir delas, de
uma observação simples, aprender sobre elas para uso em nosso dia a dia. Nós ficamos por
demais separados e individualistas, perdemos a capacidade de construir teias, ou melhor, daqui
para frente usaremos a denominação redes de relacionamentos, tanto pessoais, comunitárias,
sociais, cidadãs e tantas outras.

Voltando ao caso da aranha. Quando uma aranha caça sozinha, existem espécies desse tipo, o
gasto de energia para adquirir alimento para si e para as futuras aranhas é maior. Além de estar
mais sujeita aos predadores, se bem que a natureza em sua evolução permitiu outros
mecanismos de defesa, caso contrário nós não as conheceríamos.

No caso das pessoas, individualmente podemos fazer diversas coisas e dar conta do nosso dia a
dia. O que muitas vezes esquecemos é de que muito do que fazemos está relacionado a um
conjunto de pessoas das quais muitas vezes nem temos conhecimento. Estamos numa rede e não
percebemos as ligações, não fazemos as conexões e por conseqüência não sabemos como aquela
rede funciona.

Isso de um lado é muito explorado e tem seu ponto alto no excesso de consumo. Como perdemos
a capacidade de perceber as ligações, vamos seguindo na onda e nos deixando levar por aquilo
que é incutido para vestirmos, consumirmos ou mesmo pensarmos. No entanto, esse modelo está
se mostrando cada vez mais perigoso, inclusive para nossa existência como espécie. Já não
precisamos mais saber de notícias remotas, os problemas estão no lixo da nossa rua, nos
congestionamentos, nos problemas de segurança, na falta de educação, saúde e exercício da
cidadania, para citar alguns.

Podemos então observar outros seres vivos e buscar com eles estratégias para construir redes de
relacionamentos que possam dar condições de uma vida melhor, equilibrada e
interdependentemente sustentável. A partir das observações anteriores sobre as teias vou
enumerar alguns pontos que julgo serem importantes nas redes de relacionamentos. O objetivo
não é levantar todas as possibilidades, mas dar início ao processo em si.

1- Uma rede de relacionamentos é constituída por pessoas que individualmente não teriam
capacidades para uma mesma ação que será desenvolvida na e pela rede. Hoje quando
compramos um pão na padaria, ele é resultado de toda uma rede de produção, logística e
distribuição.

2- Uma rede de relacionamentos para existir precisa ter uma visão comum.

3- A rede de relacionamentos abriga certo número sustentável de indivíduos. Você não vai
encontrar uma teia de aranha com mais aranhas do que ela suporta sustentar.

4- Quando um novo elemento é agregado à rede de relacionamentos, o ganho individual de


cada elemento da rede é ampliado.

5- A rede de relacionamentos precisa ser dinâmica, receber manutenção para permitir


mudar de posição, rever a visão comum, traçar novos objetivos, encontrar um lugar
melhor para funcionar e atuar.
6- Estar numa rede de relacionamentos de forma consciente, supõe a participação com
altruísmo, reciprocidade e reputação. A pessoa que faz parte contribui ao mesmo tempo
em que recebe e com a intensidade dessas trocas a rede vai ganhando reputação e os
seus participantes também. Aqui não estamos definindo se a reputação é boa ou não. O
inverso também pode acontecer fazendo com que a rede deixe de existir.

7- Uma rede de relacionamentos não tem sentido se não der condições para que seus
participantes possam continuar existindo enquanto seres humanos. Esse é um ponto
crucial e que define se a rede vai continuar existindo e se de fato é uma rede. Aqui se
observarmos as redes de franquia veremos que muitas delas desaparecem porque não dão
condições de sustentabilidade para todos os participantes.

Outros pontos podem ser levantados e uma proposta interessante é pensar em outras
possibilidades individualmente ou em grupo. Claro que em grupo é muito mais rico.

O uso do exemplo da teia de aranha pode algumas vezes causar confusão no entendimento do ser
vivo. Associamos mais facilmente a aranha com a pessoa que irá fazer a rede. Mas, não é esse o
sentido da proposta que apresento e sim ter as pessoas nos pontos de conexão dos fios da teia.

Até aqui usei a teia da aranha porque percebi nela um bom exemplo para melhor entendimento
da rede de relacionamentos como um ser vivo. Precisamos urgentemente mudar nosso pensar.
Nosso modelo de pensar não pode ser somente linear, mesmo sendo necessário em muitas
situações para podermos de fato participar de uma rede de relacionamentos. Por quê?

A rede de relacionamentos é um sistema e um sistema não pode ser pensado, compreendido e


possível se não usarmos o pensamento sistêmico. Pesando de forma sistêmica em conjunto com o
1
pensamento linear iremos vislumbrar a complexidade que resulta dessa integração.

Temos assim vários pensares atuando de forma conjunta e a proposta é realizar uma dinâmica,
um fazer para poder experimentar numa situação concreta a construção da teia e a rede de
relacionamentos.

Aqui proponho a realização de uma dinâmica da teia. Para facilitar vou enumerar a seqüência
em que pode ser feita a dinâmica. Ela é auto-aplicável.

1
SENGE, Peter. A Quinta Disciplina: arte e prática da organização que aprende. São Paulo: Editora Best Seller, 1998.
Páginas: 102 e 103.
Material: linha grossa e um objeto que tenha um anel que possa correr a linha (parafuso, anel,
cadeado).

Objetivos:
1- Construir uma teia com a participação de todos.
2- Dar uso a teia pelo deslocamento de um objeto.
3- Criar situações em relação aos dois objetivos anteriores.

Prática:

Dispor todos os participantes em círculos, de pé, para que todos tenham a mesma distância
entre si e com o centro do círculo. Podem ser usadas outras formações, triângulo, quadrado ou
outro. O círculo é mais fácil para uma primeira vez.

Em seguida vamos começar a passar a linha, uma pessoa segura uma ponta na mão e passa para
outra que não pode ser sua vizinha, o melhor é passar para alguém mais longe possível. Em
seguida, aquele que recebeu a linha tenciona a mesma levemente, de modo a ficar esticada com
aquele do qual recebeu e faz o mesmo passando a linha adiante. Quando a linha chegar ao
último teremos formado uma teia. A linha não precisa ser cortada. O último fica com o carretel.

Assim dispostos, podemos pedir que um dos participantes solte a linha. O que aconteceu? Qual a
ligação com o que foi visto anteriormente? Quais soluções são possíveis?

Voltamos novamente à teia com todos os seus pontos e com as ligações, pela linha, levemente
tencionadas. Vamos então passar a ponta inicial da linha no anel que estaremos descolando pela
teia. A tarefa vai ser deslocá-lo até o final. Durante o deslocamento os participantes deverão
baixar e levantar de acordo com a necessidade de deslocamento, de modo que o plano
desenhado pela teia se mantenha mesmo na inclinação deste.

Essa tarefa pode ter sido mais fácil ou não dependendo de como inicialmente a teia foi
construída. Podemos aqui observar que não temos somente a teia, temos uma rede de
relacionamentos, todos precisam participar para que a tarefa possa ser cumprida.

Agora podemos fazer o sentido inverso do deslocamento e observar outras situações.

Uma pessoa não quer mais participar, soltou seu ponto. Quais as soluções encontradas?

Como seria deslocar o anel se a teia não tivesse a conexão entre pontos levemente tencionada?
Chegou mais um participante. Onde ele poderia participar para que a teia continuasse existindo
e cumprindo sua tarefa de deslocar o anel?

Agora que fizemos o trajeto várias vezes, podemos colocar como tarefa diminuir o tempo de
deslocamento. O que acontece?

Essas e outras situações que aparecem na dinâmica exemplificam a teia, algo concreto. Seu
objetivo comum, tarefa de deslocar o anel, forma uma rede de relacionamentos, onde temos ao
mesmo tempo a participação individual com sua percepção, entendimento, reação, sentimento,
ansiedade e tudo o que acontece quando do deslocamento do anel.

Finalizando, espero ter demonstrado pelo exemplo da teia esse processo sistêmico, dinâmico e
complexo, para que outros possam ser desenvolvidos e termos condições de juntos construirmos
uma vida melhor que possibilite nossa existência sustentável enquanto espécie.

Cláudio Loes
Junho - 2008

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