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RESUMO
O objetivo deste trabalho foi verificar o atual conhecimento sobre os receptores de célu-
las que participam da fagocitose, um mecanismo crucial de defesa envolvido na resposta imu-
ne inata. Embora não exista uma classificação clara e definida para os mesmos, estes recepto-
res são geralmente classificados como opsônicos e não opsônicos. O primeiro grupo é repre-
sentado pelas opsoninas, moléculas responsáveis por envolver o patógeno a fim de facilitar a
fagocitose pelas células fagocíticas, ou através da ativação da cascata do complemento. No
segundo grupo, o contato e ativação são feitos através de receptores, através de interações
célula-célula, sem a facilitação promovida pelas opsoninas. Mais estudos são necessários para
compreender o exato papel de cada receptor no processo imune para que se possa estabele- 59
cer uma classificação mais acurada.
Palavras-chave: fagocitose; opsonização; receptores opsônicos; receptores não opsônicos.
ali ativados.(6) Falcone & Salisbury demons- ostasia dos tecidos e na defesa do hospedei-
traram que a fibronectina estimula a endoci- ro. Esse receptor contém oito domínios do tipo
tose de complexos lipoproteícos de baixa den- lectina C responsáveis pela endocitose e pela
sidade pelos macrófagos. (7) fagocitose de glicoconjugados manosilados ou
relacionados.(1)
1.5 Colectinas Os receptores de manose constituem
uma família de quatro glicoproteínas (recep-
As colectinas estão envolvidas na defe- tor tipo M para fosfolipase A(2), receptor de
sa imune inata, não adaptativa. Ligam-se aos manose (MR), Dec-205 e Endo 180) sendo
carboidratos de superfície de patógenos, in- cada um, um tipo de receptor transmembra-
duzindo a agregação e, desse modo, impe- na com um domínio N-terminal rico em ciste-
dindo a infectividade ou mediando a fagocito- ína, um único domínio fibronectina e de oito a
se através de receptores específicos nos fa- dez domínios lectina tipo C (CTLDs). Porém,
gócitos. As colectinas possuem duas funções, apesar da presença de domínios semelhan-
a primeira é ligar-se especificamente a car- tes esses receptores possuem atividade liga-
boidratos estruturais na superfície do patóge- dora divergente. East (10,11) sugerem que a
no. A outra função é sinalizar para outras mo- maioria destes domínios não se liga a açúca-
léculas e células, a fim de destruir o patóge- res, e que o Endo 180 se liga de modo cálcio-
no. Algumas colectinas são: as proteínas A e dependente à manose, fucose e N-acetilglu-
D, encontradas na superfície luminal de célu- cosamina mas não para galactose. Sendo
las epiteliais pulmonares e gastro-intestinais; assim os autores sugerem que cada receptor
a ligante de manose-lectina, a conglutinina e da família da manose tenha um conjunto dis-
colectina-43, produzidas no fígado. No ho- tinto de glicoproteínas ligantes in vivo.
62 mem, concentrações séricas baixas de ligan- Os ligantes endógenos incluem hidro-
te de manose-lectina, resultante de mutações lases lisossomais e mieloperoxidase, enquan-
na região do colágeno, são associadas com to uma variedade de organismos pró e euca-
um defeito opsônico comum.(8) rióticos expressam estruturas ricas em mano-
As lectinas dos macrófagos contribuem se que servem como ligantes. Além disso, um
à defesa do organismo por uma variedade de domínio N-terminal rico em cisteína do recep-
mecanismos. Os receptores mais caracteriza- tor da manose é uma lectina distinta para os
dos são o receptor de manose e o receptor glicoconjugados sulfatados expressos em al-
de C3, estes podem mediar a fagocitose de tos níveis nos órgãos linfóides secundários
microorganismos patogênicos e induzir me- (metalófilos marginais, macrófagos dos sinu-
canismos intracelulares de destruição.(9) sóides subcapsulares e células dendríticas fo-
liculares). Uma nova via de transporte do an-
1.6 Receptor de Manose tígeno foi postulada, e através dela o MR so-
lúvel ou associado “a célula T ou B, modulan-
O receptor de manose é uma proteína do suas respostas imunes”.(1)
de 175 Kda encontrada na superfície princi-
palmente de macrófagos e células dendríti- 1.7 Ativação do complemento pela via da
cas, cujas funções incluem liberação de hi- lectina ligadora de manose (MB-lectina)
drolases extracelular, internalização de pató-
geno e captura de antígenos (endocitose e A via MB-lectina usa uma proteína simi-
fagocitose). Embora os macrófagos sejam lar a C1q (uma colectina) que induz a cascata
capazes de expressar inúmeras lectinas, es- do complemento. A MBL é uma lectina do tipo
bem como naqueles expostos ao meio exter- composta por 356 aminoácidos com 4 sítios
no, tais como pulmões e trato gastro-intesti- de ligação para N-glicosilação, e o gene que
nal. Já foram caracterizados 10 destes recep- a codifica está situada no lócus 5q23-31. Tra-
tores em humanos e 9 em murinos, 7 dos ta-se de uma proteína de membrana ancora-
quais já tiveram os seus ligantes identificados. da a GPI (glicosilfosfatidilinositol), que age
Os TLR 2 são essenciais no reconhecimento como receptor de reconhecimento de motivos
de diversos PAMPs, incluindo lipoproteínas bacterianos. Devido a ausência de domínio
bacterianas, peptideoglicanos e ácido lipotei- citoplasmático, o CD14, mesmo ligado ao
cóico. Somente linhagem de células mielomo- LPS, não é capaz de iniciar sozinho o sinal de
nocíticas expressam TLR 2 nas suas mem- ativação transmembrana para indução da res-
branas. Nas tonsilas, linfonodos e principal- posta do NF-kB, ligando-se assim ao TLR 4
mente no baço, centros germinativos de célu- que por sua vez transduz este sinal. Ele pode
las B ativadas expressam TLR 2. No sangue também se associar ao TLR 2 ,em resposta à
humano, monócitos CD 14 expressam maior varias infecções microbianas.(13,14,15)
nível de TLR 2, seguido por granulócitos. CD Na sua forma solúvel, o CD 14 é impor-
15+ e células B CD 19+.Células T CD 3+ e tante, pois as células epiteliais de tecidos que
células NK CD 56+ não expressam TLR 2. são expostas ao meio exterior, tais como mu-
TRL3 é implicado no reconhecimento de ví- cosa gengival e células epiteliais da bexiga e
rus RNA dupla fita; TRL4 é predominantemen- cólon, não expressam o CD 14 ligado à mem-
te ativado por lipopolissacarídeos e TRL5 de- brana. Por este motivo, dependem da sua for-
tecta flagelina bacteriana. Recentemente, ma citoplasmática para o reconhecimento de
TRL7 e TRL8 têm sido mostrados por reco- moléculas bacterianas, como o LPS e pepti-
nhecer pequenas moléculas sintéticas virais. deoglicanos, através dos TLR 2 e TLR 4. CD14
64 Os TLRs 2 e 4 são independentemente esti- solúvel aumenta a produção de citocinas nes-
mulados por diferentes ligantes e podem ou tas regiões. A ligação do LPS com o CD 14
não estar na superfície das células. Em mo- acelera a presença de LBP, um lipídeo trans-
nócitos, estes receptores podem se encontrar feridor de proteína que move monômeros de
na membrana plasmática ou intracelularmen- LPS, fosfatidilinositol e outros fosfolipídios
te, ao contrário das células dendríticas, onde para um sítio de ligação no CD 14.(19, 20)
eles encontram-se associados ao Complexo
de Golgi, com grande concentração no cen-
tro de organização dos microtúbulos. Em mui- 2 DISCUSSÃO
tos casos, TLRs requerem a presença de um
co-receptor para iniciar a cascata de sinaliza- O estudo sobre os receptores opsôni-
ção. Um exemplo é TRL4 o qual interage com cos e não opsônicos é um ramo da pesquisa
MD2 e CD14, uma proteína que existe nas que tem recebido uma grande contribuição
formas solúvel e como uma proteína GPI an- nos últimos cinco anos. A cada dia que pas-
corada à membrana, para induzir NF-kB na sa, novas pesquisas vêm sendo publicadas
resposta à estimulação por LPS.(14, 15, 16, 17, 18) em decorrência do aprimoramento das técni-
cas de observação. Entretanto, tal classifica-
1.10 CD 14 ção nem sempre é definida de modo claro na
literatura, podendo inclusive apresentar-se de
O CD14 é um membro do complexo re- maneira aparentemente contraditória. Algu-
ceptor de lipopolissacarídeo (LPS) heteromé- mas vezes o mesmo receptor encontra-se
rico, que também contem TLR 4 e MD 2. É descrito ora como opsônico, ora como não op-
2 Frank MM. Complemento e cininas. In: Sti- 11 East L, Isacke CM. The mannose receptor
tes DP, Terr AI, Parslow TG. Imunologia mé- family. Biochim Biophys Acta 2002 Set
dica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koo- 19;1572(2-3):364-86.
gan; 2000. p.131-9.