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UMA REVISÃO SOBRE RECEPTORES OPSÔNICOS E NÃO OPSÔNICOS

OPSONIC AND NONOPSONIC RECEPTORS: A REVIEW

artigo original \ uma revisão sobre receptores opsônicos e não opsônicos


LILIANE ROSKAMP1, MARIÂNGELA PEGORARO2, PAOLA ROSA LUZ3, SANDRA CRESTANI4, ROGÉRIO SAAD VAZ5
1
Especialista em Endodontia pela USP e aluna do curso de especialização em Imunologia do
UnicenP.
2
Bióloga e especialista em Genética Humana pela PUC-PR e aluna do curso de especialização
em Imunologia do UnicenP.
3
Bióloga pela UFPR e aluna do curso de especialização em Imunologia da UnicenP.
4
Bióloga pela Faculdades Integradas Católica de Palmas e aluna do curso de especialização
em Imunologia do UnicenP.
5
Doutorando em Biotecnologia pela UFPR e professor dos cursos de farmácia e Medicina do
UnicenP.

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi verificar o atual conhecimento sobre os receptores de célu-
las que participam da fagocitose, um mecanismo crucial de defesa envolvido na resposta imu-
ne inata. Embora não exista uma classificação clara e definida para os mesmos, estes recepto-
res são geralmente classificados como opsônicos e não opsônicos. O primeiro grupo é repre-
sentado pelas opsoninas, moléculas responsáveis por envolver o patógeno a fim de facilitar a
fagocitose pelas células fagocíticas, ou através da ativação da cascata do complemento. No
segundo grupo, o contato e ativação são feitos através de receptores, através de interações
célula-célula, sem a facilitação promovida pelas opsoninas. Mais estudos são necessários para
compreender o exato papel de cada receptor no processo imune para que se possa estabele- 59
cer uma classificação mais acurada.
Palavras-chave: fagocitose; opsonização; receptores opsônicos; receptores não opsônicos.

1 INTRODUÇÃO opsonisadoras estão presentes na parede


dos macrófagos, que se ligam ao comple-
O revestimento de um microorganis- xo opsonina-bactéria, fagocitam a bactéria
mo com moléculas que favorecem sua des- e as matam através de mecanismos oxida-
truição pelos fagócitos é conhecido como tivos e enzimáticos. Algumas bactérias,
opsonização. As opsoninas (facilitadores da como E. coli e Pseudomonas são fagocita-
fagocitose) são proteínas que recobrem as das independente de serem opsonisadas,
bactérias tornando-as mais fagocitáveis. As pois se ligam diretamente a receptores nos
principais proteínas envolvidas nesta fun- macrófagos. Já os neutrófilos, embora ex-
ção são: IgG, frações C3b e C3bi do siste- pressem receptores opsônicos similares,
ma do complemento e fibronectina. não possuem a maioria dos receptores in-
Os patógenos revestidos de anticor- dependentes das opsoninas para a fagoci-
pos são reconhecidos por células efetoras tose. (1)
acessórias através de receptores para a Neste trabalho abordaremos os prin-
porção Fc. Essa ligação ativa o fagócito e cipais receptores envolvidos na fagocitose
leva à lesão ou destruição do patógeno. detalhando seus principais aspectos, bem
Receptores específicos para as proteínas como a correspondente via fagocítica.

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1.1 Porção Fc das Imunoglobulinas 1.2 Receptores do complemento e proteí-
nas de membrana relacionadas
Existem vários receptores opsônicos
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para as subclasses de imunoglobulinas, es- A superfície de muitos tipos celulares


pecialmente IgG. A IgG pode funcionar como exibe receptores do complemento. Os monó-
opsonina pela ligação do imunocomplexo com citos e os macrófagos expressam uma varie-
os receptores para porção Fc expressos na dade de receptores heterodiméricos para os
superfície de macrófagos e neutrófilos. O an- produtos de clivagem do C3 (CR1, CR2, CR3
ticorpo também pode ativar o complemento, e CR4) e interagem com outros componentes
e quando o anticorpo e C3b opsonizam o pa- das vias clássica, alternativa ou induzida pela
tógeno, a ligação é grandemente favorecida. lectina de ativação do complemento.(1)
A fagocitose pode ser grandemente potenci- Os receptores de C3 são os receptores mais
alizada quando as bactérias já ativaram o com- bem estudados até os dias de hoje. É impor-
plemento, pois C3b estará fixado às bactérias tante frisar que estes receptores não reconhe-
permitindo a ligação das células de defesa cem o C3 circulante nativo e não são bloque-
através dos receptores para C3b. Os organis- ados pelas proteínas plasmáticas normais.
mos que não ativam eficientemente o com- Existem receptores para C3b, iC3b, C3d e
plemento serão opsonizados pelo anticorpo, C3dg. Estes receptores exibem distribuições
que pode se ligar ao receptor para Fc no fa- celulares características, sendo o receptor
gócito. Neutrófilos, macrófagos e outros fagó- C3b (denominado CR1) proeminente nos eri-
citos mononucleares possuem receptores trócitos, granulócitos, fagócitos mononuclea-
para Fc em suas superfícies. Conseqüente- res, linfócitos B e em 25% das células T nos
mente, se o anticorpo for ligado a um patóge- seres humanos. Contrariamente, o receptor
no, ele pode então se ligar ao fagócito atra- de C3bi (CR3) só é encontrado nas células
vés da porção Fc permitindo, assim, que o fagocíticas. O receptor de C3d (CR2) está pre-
patógeno seja ingerido e destruído pelo fagó- sente nas células linfoblastóides, linfócitos B
60 cito – o anticorpo age como opsonina. Os fa- e numa porção de células T. Estes receptores
gócitos podem reconhecer materiais estra- ligam os vários fragmentos de C3. Se o com-
nhos através do componente ativado C3b do ponente C3 estiver ligado a uma antígeno ou
complemento ou através do anticorpo como partícula-alvo, o antígeno ou alvo liga-se atra-
opsonina, mas a fagocitose será mais eficien- vés do ligante de C3 à superfície das células
te se ambos estiverem presentes. Os recep- com o receptor. Para as células fagocíticas, a
tores das imunoglobulinas são, também, mem- ligação do alvo à superfície do fagócito pode
bros da superfamília das Ig, com dois ou três aumentar o processo de ingestão. O CR2
domínios. Eles contém motivos de ativação (também denominado CR21) é um receptor
imune do receptor dependente de tirosina dos fragmentos C3d e C3dg do componente
(ITAMs) ou motivos inibidores (ITIMs) que, por C3. É encontrado nos linfócitos B, em algu-
interação com outras moléculas de membra- mas células T e nas células epiteliais nasais.(2)
na (p.ex. cadeias ã) e cinases citoplasmáti- CR3 media ambas fagocitoses de bactéria,
cas (p.ex. Syk) e/ ou fosfatases, regulam as opsônica e não opsônica.(3) É um receptor de
vias complexas de sinalização. Além das res- superfície heterodimérico com múltiplos ligan-
postas efetoras (fagocitose, endocitose, cito- tes os quais podem mediar a opsonização via
toxicidade dependente de anticorpo) diferen- complemento bem como a entrada não opsô-
tes receptores Fc também podem controlar nica do Mycobacterium tuberculosis em ma-
negativamente as cascatas inflamatórias e crófagos.(4) Contribui em para o recrutamento
fornecer uma ligação entre a imunidade inata das células mielomonocíticas através da ade-
e adaptativa.(1) são aos ligantes induzidos pelo endotélio, in-

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cluindo a molécula de adesão intercelular-1 sentam leucocitose pronunciada. Foram iden-
(ICAM-1). CR3 é um receptor promíscuo com tificados receptores para o componente c1q
outros ligantes além de iC3b, incluindo o fibri- de C1 em neutrófilos e monócitos, na maioria

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nogênio. O papel de CR3 na fagocitose con- dos linfócitos B e numa pequena população
trolada foi bem estudado, e o mecanismo de de linfócitos que carecem de marcadores de
ingestão mediado por CR3 difere marcante- células T e B. Foi demonstrado que a ligação
mente daquele mediado pelos receptores Fc. por meio deste receptor ativa células para uma
As respostas inflamatórias e secretoras tam- variedade de funções celulares, incluindo fa-
bém diferem depois da internalização depen- gocitose e metabolismo oxidativo.(2)
dente de anticorpo e complemento. Os recep-
tores para o complemento contribuem com a 1.3 Proteína C-Reativa
depuração das células apoptóticas bem como
com as defesas do hospedeiro frente a infec- A Proteína C-reativa (PCR), assim cha-
ções, mas também atuam como um receptor mada em razão de sua capacidade de se li-
“seguro” para a penetração de organismos gar à molécula C do pneumoco, é considera-
como micobactérias, pela interação direta com da uma opsonina e liga-se ao receptor Fc-
os ligantes microbianos, ou após a opsoniza- gama. Quando ligada à bactéria, promove a
ção. Os mecanismos de ingestão das partí- ligação do complemento, que por sua vez fa-
culas revestidas com anticorpo são diferen- vorece a ingestão da bactéria pelo fagócito.(1)
tes daqueles mediados por CR3. A internali- Ratos deficientes neste tipo de receptor fo-
zação mediada por FcR procede através de ram utilizados na intenção de avaliar o papel
um processo semelhante a um zíper, em que destes receptores na fagocitose usando-se
a ligação seqüencial entre receptores e ligan- zymosan como ligante. A fagocitose do zy-
tes direciona o fluxo de pseudópodos ao redor mosan pelos macrófagos foi intensificada pela
da circunferência da partícula. Os sítios de con- opsonização com a PCR. Macrófagos de ra-
tato de CR3 são descontínuos para as partícu- tos deficientes nesses receptores não tiveram
las revestidas com complemento, as quais a fagocitose intensificada. Revelou-se que 61
“afundam” no citoplasma do macrófago.(1) estas proteínas são importantes no sistema
Tanto o CR1 quanto o CR3 são impor- imune inato e podem ter sido precursoras na
tante no processo da fagocitose. Entretanto, evolução das imunoglobulinas. O uso de re-
eles também desempenham várias outras fun- ceptores Fc-gama pelo sistema imune inato e
ções. Ambos atuam como co-fatores para a adaptativo provavelmente possui conseqüên-
degradação posterior de fragmentos de C3 cias importantes no processamento e apre-
pela enzima sérica, fator I. O CR3 é um mem- sentação de antígenos a que estas proteínas
bro da família da proteína integrina e desem- se ligam.(5)
penha importante papel na aderência celular.
Outra integrina, p150/95, liga-se a C3b e C3dg 1.4 Fibronectinas
e, foi identificada como CR4. Recentemente,
foram identificadas várias crianças com defi- As fibronectinas são glicoproteínas da
ciência de todas as proteínas relacionadas ao matriz extracelular encontradas sob duas for-
CR3. Elas apresentam uma história de sepa- mas básicas: solúveis, no plasma, e insolú-
ração tardia do cordão umbilical ao nascimen- veis, nos tecidos. A fibronectina plasmática é
to e freqüentes infecções cutâneas e dos te- sintetizada principalmente nos hepatócitos e
cidos moles por uma variedade de microrga- está envolvido com as atividades do sistema
nismos, particularmente estafilococos e Pseu- retículo endotelial. A tissular é sintetizada pe-
domonas aeruginosa. Os neutrófilos que ca- los fibroblastos e células endoteliais e está
recem destes receptores não sofrem margi- envolvida com a adesão, migração, diferenci-
nação normal, e as crianças afetadas apre- ação e crescimento celular. A fibronectina tam-

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bém pode contribuir para a ativação fagocitá- pecíficas para vários açúcares ligantes, o re-
ria. Elas são encontradas quando os fagóci- ceptor da manose (MR) é o melhor estudado
tos são recrutados para o tecido conjuntivo e e pode exercer um papel singular na home-
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ali ativados.(6) Falcone & Salisbury demons- ostasia dos tecidos e na defesa do hospedei-
traram que a fibronectina estimula a endoci- ro. Esse receptor contém oito domínios do tipo
tose de complexos lipoproteícos de baixa den- lectina C responsáveis pela endocitose e pela
sidade pelos macrófagos. (7) fagocitose de glicoconjugados manosilados ou
relacionados.(1)
1.5 Colectinas Os receptores de manose constituem
uma família de quatro glicoproteínas (recep-
As colectinas estão envolvidas na defe- tor tipo M para fosfolipase A(2), receptor de
sa imune inata, não adaptativa. Ligam-se aos manose (MR), Dec-205 e Endo 180) sendo
carboidratos de superfície de patógenos, in- cada um, um tipo de receptor transmembra-
duzindo a agregação e, desse modo, impe- na com um domínio N-terminal rico em ciste-
dindo a infectividade ou mediando a fagocito- ína, um único domínio fibronectina e de oito a
se através de receptores específicos nos fa- dez domínios lectina tipo C (CTLDs). Porém,
gócitos. As colectinas possuem duas funções, apesar da presença de domínios semelhan-
a primeira é ligar-se especificamente a car- tes esses receptores possuem atividade liga-
boidratos estruturais na superfície do patóge- dora divergente. East (10,11) sugerem que a
no. A outra função é sinalizar para outras mo- maioria destes domínios não se liga a açúca-
léculas e células, a fim de destruir o patóge- res, e que o Endo 180 se liga de modo cálcio-
no. Algumas colectinas são: as proteínas A e dependente à manose, fucose e N-acetilglu-
D, encontradas na superfície luminal de célu- cosamina mas não para galactose. Sendo
las epiteliais pulmonares e gastro-intestinais; assim os autores sugerem que cada receptor
a ligante de manose-lectina, a conglutinina e da família da manose tenha um conjunto dis-
colectina-43, produzidas no fígado. No ho- tinto de glicoproteínas ligantes in vivo.
62 mem, concentrações séricas baixas de ligan- Os ligantes endógenos incluem hidro-
te de manose-lectina, resultante de mutações lases lisossomais e mieloperoxidase, enquan-
na região do colágeno, são associadas com to uma variedade de organismos pró e euca-
um defeito opsônico comum.(8) rióticos expressam estruturas ricas em mano-
As lectinas dos macrófagos contribuem se que servem como ligantes. Além disso, um
à defesa do organismo por uma variedade de domínio N-terminal rico em cisteína do recep-
mecanismos. Os receptores mais caracteriza- tor da manose é uma lectina distinta para os
dos são o receptor de manose e o receptor glicoconjugados sulfatados expressos em al-
de C3, estes podem mediar a fagocitose de tos níveis nos órgãos linfóides secundários
microorganismos patogênicos e induzir me- (metalófilos marginais, macrófagos dos sinu-
canismos intracelulares de destruição.(9) sóides subcapsulares e células dendríticas fo-
liculares). Uma nova via de transporte do an-
1.6 Receptor de Manose tígeno foi postulada, e através dela o MR so-
lúvel ou associado “a célula T ou B, modulan-
O receptor de manose é uma proteína do suas respostas imunes”.(1)
de 175 Kda encontrada na superfície princi-
palmente de macrófagos e células dendríti- 1.7 Ativação do complemento pela via da
cas, cujas funções incluem liberação de hi- lectina ligadora de manose (MB-lectina)
drolases extracelular, internalização de pató-
geno e captura de antígenos (endocitose e A via MB-lectina usa uma proteína simi-
fagocitose). Embora os macrófagos sejam lar a C1q (uma colectina) que induz a cascata
capazes de expressar inúmeras lectinas, es- do complemento. A MBL é uma lectina do tipo

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C que se liga especificamente a resíduos de e é regulada por citocinas. Além do papel fun-
manose e a outros açúcares que estão aces- damental de defesa do próprio, o receptor de
síveis e organizados em um padrão que per- manose provê uma ligação entre a imunida-

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mite sua ligação a muitos patógenos. A lecti- de inata e a imunidade adquirida.(12)
na ligadora de manose, como a C1q, é uma
molécula formada por seis cabeças que for- 1.8 Receptor de Varredura
mam um complexo com duas proteases zi-
mogênicas, que no caso do complexo MBL, São um grupo de moléculas estrutural-
são as MASP-1 E MASP-2 similares a C1r e mente heterogêneas de, pelo menos, seis for-
C1s. Quando o complexo MBL liga-se à su- mas moleculares distintas. Esses receptores
perfície do patógeno, as MASP-1 e MASP-2 reconhecem certos polímeros aniônicos e li-
são ativadas para clivar C4 e C2. Portanto, a poproteínas acetiladas de baixa densidade.
via da MB-lectina inicia a ativação do comple- Alguns receptores de varredura reconhecem
mento da mesma forma que a via clássica, estruturas que são protegidas pelo ácido siá-
formando convertase C3 a partir de C2b unida lico nas células normais do hospedeiro. Es-
a C4b.(6) tes estão envolvidos na remoção de hemáci-
A regulação das funções efetoras indu- as velhas que perderam o ácido siálico, bem
zidas pelo receptor de manose é complexa e como no reconhecimento e na remoção de pa-
pode envolver fatores do hospedeiro e do mi- tógenos.(6)
croorganismo invasor. É provável que o re-
ceptor de manose tenha um papel dinâmico 1.9 Receptores Toll-like (TRL)
na resposta à infecção: pode agir como um
receptor clássico de reconhecimento na rea- Os receptores Toll-like (TLR) desempe-
ção padrão de fagocitose. Em contraste, o sí- nham um papel crítico no inicio da resposta
tio de ligação da lectina no receptor de C3 inata do organismo à invasão de patógenos.
parece não possuir ligantes derivados do pró- Estes receptores reconhecem motivos estru-
prio organismo e pode ser um receptor verda- turais altamente conservados expressos so- 63
deiro do reconhecimento da resposta pa- mente em microorganismos patogênicos, cha-
drão.(9) mados de receptores de reconhecimento pa-
Apesar de não ser considerada uma das drão ou PAMPs (“pathogen–associated micro-
proteínas da seqüência do complemento, a bial patterns”). Os PAMPs incluem vários com-
proteína de ligação da manose (MBP) é mui- ponentes da parede celular microbiana, como
to importante para o sistema complemento. os lipopolissacarídeos (LPS), peptideoglica-
Foram observados defeitos hereditários des- nos e lipopeptídeos, bem como flagelina, DNA
ta proteína particularmente em crianças com bacteriano e RNA viral dupla fita. A estimula-
infecções freqüentes e defeitos opsônicos. A ção dos TLRs pelos PAMPs inicia a cascata
proteína possui um segmento caudal que se de sinalização que envolve diversas proteí-
assemelha, do ponto de vista estrutural, a C1q nas, como MyD88 e IRAK Esta cascata de si-
e uma região da cabeça que se liga a resídu- nalização leva a ativação da transcrição do
os de manose presentes na superfície de fator NF-kB, o qual induz a secreção de cito-
muitos microrganismos. A proteína tende a cinas pró-inflamatórias e citocinas efetoras
formar um trímero. A MBP ligada pode ativar que direcionam a resposta imune adaptati-
a via clássica do complemento da mesma for- va.(13)
ma que o anticorpo ligado a C1 ativam a via, Os TLRs são proteínas transmembra-
resultando finalmente em opsonização do mi- nas caracterizadas por um domínio extra-ce-
crorganismo.(2) lular rico em leucina e uma cauda citoplasmá-
A expressão desse receptor está relaci- tica que contem uma região conservada cha-
onada com o estado funcional dessas células mada de domínio do receptor Toll/IL-1 (TIR).

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Os TLRs são predominantemente expressos encontrado em células derivadas da linhagem
em tecidos envolvidos na função imune, tais de monócitos/macrófagos, bem como neutró-
como baço e leucócitos do sangue periférico, filos e linfócitos B. A proteína CD14 madura é
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bem como naqueles expostos ao meio exter- composta por 356 aminoácidos com 4 sítios
no, tais como pulmões e trato gastro-intesti- de ligação para N-glicosilação, e o gene que
nal. Já foram caracterizados 10 destes recep- a codifica está situada no lócus 5q23-31. Tra-
tores em humanos e 9 em murinos, 7 dos ta-se de uma proteína de membrana ancora-
quais já tiveram os seus ligantes identificados. da a GPI (glicosilfosfatidilinositol), que age
Os TLR 2 são essenciais no reconhecimento como receptor de reconhecimento de motivos
de diversos PAMPs, incluindo lipoproteínas bacterianos. Devido a ausência de domínio
bacterianas, peptideoglicanos e ácido lipotei- citoplasmático, o CD14, mesmo ligado ao
cóico. Somente linhagem de células mielomo- LPS, não é capaz de iniciar sozinho o sinal de
nocíticas expressam TLR 2 nas suas mem- ativação transmembrana para indução da res-
branas. Nas tonsilas, linfonodos e principal- posta do NF-kB, ligando-se assim ao TLR 4
mente no baço, centros germinativos de célu- que por sua vez transduz este sinal. Ele pode
las B ativadas expressam TLR 2. No sangue também se associar ao TLR 2 ,em resposta à
humano, monócitos CD 14 expressam maior varias infecções microbianas.(13,14,15)
nível de TLR 2, seguido por granulócitos. CD Na sua forma solúvel, o CD 14 é impor-
15+ e células B CD 19+.Células T CD 3+ e tante, pois as células epiteliais de tecidos que
células NK CD 56+ não expressam TLR 2. são expostas ao meio exterior, tais como mu-
TRL3 é implicado no reconhecimento de ví- cosa gengival e células epiteliais da bexiga e
rus RNA dupla fita; TRL4 é predominantemen- cólon, não expressam o CD 14 ligado à mem-
te ativado por lipopolissacarídeos e TRL5 de- brana. Por este motivo, dependem da sua for-
tecta flagelina bacteriana. Recentemente, ma citoplasmática para o reconhecimento de
TRL7 e TRL8 têm sido mostrados por reco- moléculas bacterianas, como o LPS e pepti-
nhecer pequenas moléculas sintéticas virais. deoglicanos, através dos TLR 2 e TLR 4. CD14
64 Os TLRs 2 e 4 são independentemente esti- solúvel aumenta a produção de citocinas nes-
mulados por diferentes ligantes e podem ou tas regiões. A ligação do LPS com o CD 14
não estar na superfície das células. Em mo- acelera a presença de LBP, um lipídeo trans-
nócitos, estes receptores podem se encontrar feridor de proteína que move monômeros de
na membrana plasmática ou intracelularmen- LPS, fosfatidilinositol e outros fosfolipídios
te, ao contrário das células dendríticas, onde para um sítio de ligação no CD 14.(19, 20)
eles encontram-se associados ao Complexo
de Golgi, com grande concentração no cen-
tro de organização dos microtúbulos. Em mui- 2 DISCUSSÃO
tos casos, TLRs requerem a presença de um
co-receptor para iniciar a cascata de sinaliza- O estudo sobre os receptores opsôni-
ção. Um exemplo é TRL4 o qual interage com cos e não opsônicos é um ramo da pesquisa
MD2 e CD14, uma proteína que existe nas que tem recebido uma grande contribuição
formas solúvel e como uma proteína GPI an- nos últimos cinco anos. A cada dia que pas-
corada à membrana, para induzir NF-kB na sa, novas pesquisas vêm sendo publicadas
resposta à estimulação por LPS.(14, 15, 16, 17, 18) em decorrência do aprimoramento das técni-
cas de observação. Entretanto, tal classifica-
1.10 CD 14 ção nem sempre é definida de modo claro na
literatura, podendo inclusive apresentar-se de
O CD14 é um membro do complexo re- maneira aparentemente contraditória. Algu-
ceptor de lipopolissacarídeo (LPS) heteromé- mas vezes o mesmo receptor encontra-se
rico, que também contem TLR 4 e MD 2. É descrito ora como opsônico, ora como não op-

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sônico, em diferentes trabalhos. O fato é que 3 Heale JP, Pollard AJ, Stokes RW, Simpson
alguns receptores mediam a fagocitose tanto D, Tsang A, Massing B, Speert DP. Two dis-
pela via opsônica quanto pela não opsônica. tinct receptors mediate nonopsonic phago-

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Experiências foram conduzidas para testar a cytosis of different strains of pseudomonas
hipótese de que a capacidade fagocítica opsô- aeruginosa. J Infect Dis 2001 Abr 15;183
nica e não opsônica possa ser alterada. Rei- (8):1214-20.
chner (21) observaram que a resposta fagocíti-
ca depende não somente da natureza da par- 4 Velasco-Velazquez MA, Barrera D, Gonza-
tícula fagocítica, como do local em que os ma- lez-arenas A, Rosales C, Agramonte-Hevia
crófagos são ativados, sua resposta a agentes J. Macrophage-Mycobacterium tuberculosis
ativadores e o mecanismo através do qual a interactions: role of complement receptor 3.
população celular altera o seu potencial fago- Microb Pathog 2003 Set;35(3):125-31.
citário.
5 Mold C, Gresham H.D, Du Clos TW. Serum
amyloid P component and C-reactive protein
3 CONCLUSÃO mediate phagocytosis through murine Fc
gamma Rs. J Immunol 2001 Jan
De um modo geral, os receptores que 15;166(2):1200-5.
participam do processo da fagocitose através
da sua ligação com anticorpos ou fatores do 6 Lefkovits I, Vella AT. Imunidade inata. In:
complemento são chamados de opsônicos, e Janeway CA, Travers P, Walport M,
aqueles cujo contato se dá célula a célula, pelo Shlomchik M. Imunobiologia na saúde e na
reconhecimento direto do patógeno, de não doença. 5 ed. Porto Alegre: Editora Artmed
opsônicos. Entretanto, tal distinção é feita ba- Ltda, 2002. p.68-76.
sicamente com fins didáticos, visto que a ca-
pacidade fagocítica pode ser alterada. Mais 7 Falcone DJ, Salisbury BG. Fibronectin sti-
estudos são necessários para compreender o mulates macrophage uptake of low density 65
exato papel de cada receptor envolvido nos lipropotein heparin-collagen complexos. Ar-
processo da fagocitose e para que se possa teriosclerosis 1988;8:263-73.
estabelecer uma classificação mais acurada.
O aprimoramento das técnicas para detecção 8 Holmoskov UL. Collectins and collectin re-
de receptores e análise de seu comportamen- ceptors in innate immunity. APMIS Suppl
to levará a um maior conhecimento na área da 2000;100:1-59.
resposta imunológica inata e sua interação com
a resposta adaptativa. 9 Linehan AS, Martinez-Pomares L, Gordon
S. Macrophage lectins in host defence. Mi-
crobes Infect 2000 Mar;2(3):279-88.
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dica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koo- 19;1572(2-3):364-86.
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12 Apostolopoulos V, Mckenzie IF. Role of the Dahlfors A. TRL4-dependent recognition of
mannose receptor in the immune respon- lipopolysaccharide cells requires sCD14.
se. Curr Mol Med 2001 Set;1(4):469-74. Cell Microbiol 2002 Aug;4(8):493-501.
artigo original \ uma revisão sobre receptores opsônicos e não opsônicos

13 Medzhitov R, Preston-Hurlburt P, Janeway 20 Uehara A, Sugawara S, Tamai R, Takada


CA. A human homologue of the Drosophila H. Contrasting responses of human gingi-
Toll protein signals activation of adaptive val and colonic epithelial cells to lipopoly-
immunity. Nature 1997 Jul 24;388 saccharides, lipoteichoic acids and pepti-
(6640):394-7. doglycans in the presence of soluble CD14.
Med Microbiol Immunol. (Berl) 2001
14 Underhill DM, Ozynsky A. Toll-like recep- Set;189 (4):185-92.
tors: key mediators of microbe detection.
Curr Opin Immunol 2002 Fev;14(1):103-10. 21 Reichner JS, Fitzpatrick PA, Wakshull E,
Albina JE. Receptor-mediated phagocyto-
15 Jurk M, Heil F, Vollmer J, Schetter C, Kri- sis of rat macrophages is regulated diffe-
eg AM, Wagner H et al. Human TRL7 or rentially for opsonized particles and non-
TRL8 independently confer responsiveness opsonized particles containing beta-glucan.
to the antiviral compound R-848. Nat Im- Immunology 2001 Oct;104(2):198-206.
munol 2002;3:499.

16 Ochoa MT, Legaspi AJ, Hatziris Z, Godo- ABSTRACT


wski PJ, Modlin RL, Sieling PA. Distributi-
on of toll-like receptor 1 and Toll-like recep- The aim of this study is to verify the actual
tor 2 in human lymphoid tissue. Immunolo- knowledge about the cell receptors involved in
gy 2003 Jan;108(1):10-5. fagocitosis, a crucial defense mechanism invol-
ved in the innate immunity. Although, there is not
66 17 Uronen-Hansson H, Osman M, Squires G, a clear and definite classification for them, they
Klein N, Callard RE. Toll-like receptor 2 are usually classified as opsonic and non-opso-
(TLR2) and TLR4 are present inside hu- nic receptors. The first group is represented by
man dendritic cells, associated with micro- opsonins, molecules that are supposed to invol-
tubulos and the Golgi apparatus but are not ve the pathogens in order to facilitate fagocitosis
detectable on the cell surface: integrity of by fagocitic cells, or through activation of the com-
microtubules is required for interleukin-12 plement cascade. In the second one, the contact
production in response to internalized bac- and activation is made through receptors, by cell-
teria. Immunology 2004 Fev;111 (2):173- to-cell interaction, without the facilitation promo-
8. ted by opsonins. More studies are required to un-
derstand the exactly role of each receptor in the
18 Takeuchi O, Akira S. Genetics approaches immune process and then, can be possible esta-
to the study of Toll-like receptor function. blish a more accurate classification.
Microbes Infect 2002 Jul;4(9):887-95. Key words: fagocitosis; opsonization; op-
19 Backhed F, Meijer L, Normark S, Richter- sonic receptors; non-opsonic receptors.

RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.12-16, abril/jun. 2005

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