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ASSISTÊNCIA TÉCNICA PÚBLICA NA PRODUÇÃO FAMILIAR

jornada.cedsa@yahoo.com.br

Apresentação Oral-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria


FABIANA RODRIGUES RIVA1; NILZA DUARTE ALEIXO OLIVEIRA2; DERCIO
BERNARDES SOUZA3; HIGOR CORDEIRO DE SOUZA4; CAROLINE ESTAFANIE DO
AMARAL BRASIL5.
1.PIBIC/UNIR, PORTO VELHO - RO - BRASIL; 2,3,4,5.UNIR, PORTO VELHO - RO -
BRASIL.

ASSISTÊNCIA TÉCNICA PÚBLICA NA PRODUÇÃO FAMILIAR

Grupo de Pesquisa: Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria

Resumo

Esta pesquisa tem o objetivo de estabelecer um comparativo entre as unidades de produção


familiares assistidas por programa de governo e unidades familiares independentes. A motivação
do estudo considerou que o agronegócio leite é uma das principais fontes de renda do estado de
Rondônia e que a maior representação do arranjo produtivo local do leite é o pequeno produtor,
em termos de quantidade de atores no APL. Em Rondônia, o município de Jaru apresenta a maior
produção e produtividade de leite. Porém essa produtividade ainda é baixa em relação a outras
regiões do país. Sem muitos recursos a produção familiar apóia-se na assistência técnica dos
programas de governo, a fim de melhorar sua produtividade. Diante disso, procurou-se saber
quais são as reais contribuições da assistência técnica para a produção primaria. Em Jaru, 14
produtores foram entrevistados, sendo que sete eram apoiados pela assistência técnica e os outros
não eram assistidos, dessa forma foi efetuado um comparativo entre os dois grupos. Apesar de
possuir características básicas semelhantes, os dois grupos se diferem principalmente em
qualidade e volume de informações, fatores benéficos para as famílias assistidas. Porém a
principal diferencia é demonstrada pela produtividade, onde os produtores assistidos possuem em
média uma produção três vezes maior do que os independentes, evidenciando a importância da
participação da assistência técnica pública no APL.

Palavras-Chaves: Produção Primária, Arranjo Produtivo Local, Assistência Técnica.

ABSTRACT

PUBLIC TECHNICAL ASSISTANCE IN FAMILIAR PRODUCTION

Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,


Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
2

This research aims to establish a comparison between the familiar production units assisted
program of government and independent family units. The motivation of the study found that the
milk agribusiness is Rondônia State’s major source of income and the small producer is the
greater representation of the arrangement local milk production, in terms of number of actors in
APL. In Rondônia, the City of Jaru shows the increased production and productivity of milk. But
the productivity is still low compared to other regions of the country. Without many resources,
household production is based on technical assistance programs of government to improve its
productivity. Thus, it was sought know the real contributions of technical assistance for the
primary production. In Jaru, 14 producers were interviewed, which seven were supported by
technical assistance and the others were not assisted, so a comparison was made between the two
groups. Despite having similar characteristics, the two groups differ mainly in quality and
volume of information, factors beneficial to the families assisted. But the main difference is
demonstrated by productivity, which the productors that are assisted have on average an output
three times bigger than the independents, highlighting the importance of public technical
assistance on participation of APL.

Key Words: Primary Production; Local Productive Arrangement; Technical Assistance

1. INTRODUÇÃO

Cada vez mais estabelecimentos rurais têm ampliado seu foco de negócio, incorporando
práticas administrativas tradicionalmente intrínsecas às indústrias, comércios e empresas urbanas.
Essa mudança é sinal da transformação do espaço rural, deixando de ser apenas um fornecedor de
alimentos para a cidade e passando a tomar papel principal nas relações econômicas e comerciais,
através de sua modernização e caracterização de empresa rural.
Porém, se para os grandes estabelecimentos rurais a utilização das práticas administrativas é
uma necessidade desenvolvida, para os pequenos produtores essa ainda é uma realidade distante.
Isso faz com que a assistência técnica oriunda de programas e instituições do poder público seja
uma das principais medidas para a melhoria da gestão rural. No arranjo produtivo local (APL) do
leite do estado de Rondônia não é diferente.
A pecuária do leite envolve cerca de 35 mil produtores, presentes em todos os municípios
do estado de Rondônia, sendo sua maior parte formada por pequenos produtores. Esses
produtores ao mesmo tempo em que são os trabalhadores da terra, são os proprietários do
estabelecimento, caracterizado pela agricultura familiar, que envolve aspectos importantes:
família, trabalho, produção de leite e as características culturais (Zocal et. al., 2004).
O Agronegócio é uma das principais fontes de renda do Estado, onde os proprietários de
estabelecimentos rurais buscam investir na pecuária leiteira, pois além de ter mercado garantido,
os produtores obtêm uma renda mensal e empregam suas famílias. Muitas famílias se inserem
nessa realidade, gerando uma significativa produção de leite.
Esses e outros fatos fazem com que a indústria de alimentos seja a segunda maior do estado,
sendo que no interior do estado há maior concentração de empresas de médio e grande porte,
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dentre elas, empresas de laticínios. Somente entre 2003 e 2004 a indústria de leite e derivados
cresceu 101,57% em termos de faturamento na saída do produto do estado (SEFIN, 2006), vale
lembrar que esse faturamento não conta com o consumo interno, que demonstra ser em torno de
20% desse valor.
A indústria de Rondônia oferece mais de 40 mil empregos diretos, sendo que somente a
indústria de produtos alimentícios e de bebidas compreende 20,35% do total e para cada 1
emprego direto gerado nessa atividade, mais 3 são gerados indiretamente (SEFIN, 2006). Outras
características da mão-de-obra das indústrias do estado segundo dados da SEFIN (2006) são:
baixa escolaridade; falta de profissionais qualificados e rotatividade da mão-de-obra.
A posição de Rondônia frente ao agronegócio deve-se ao plano de ocupação e
povoamento da Região Amazônica, iniciativa do Governo Federal, com o intuito de defender o
vasto território da ameaça de invasões e interesses de exploração econômica da região
(GONÇALVES, 2000). A partir de então, imigrantes de outros estados brasileiros, alguns
economicamente falidos, viram-se atraídos pelas ofertas de terras no Estado e vieram para
Rondônia em busca de trabalho e trouxeram o conhecimento como principal contribuição para o
processo de desenvolvimento do APL Leite.
Levar em conta todos os atores do arranjo produtivo local do leite é fundamental para o
seu sucesso na hora de propor melhorias para o arranjo. Comércios varegistas, laticínios, o
governo e todas as instituições que interagem com esse produto devem caminhar juntos para uma
melhor articulação do APL.
Direcionando o foco para o APL, um dos principais produtores de leite no estado é o
município de Jaru, criado em 1981, possui solo de boa fertilidade, período chuvoso de seis meses
(EMATER-RO 2006). Segundo a Prefeitura Municipal de Jaru, a infra-estrutura que o município
oferta inclui 1.050 km de estradas vicinais (municipais), 150 km de estradas estaduais, 25 linhas
existentes sendo que 95% dos imóveis rurais possuem energia elétrica. Na figura a seguir está
destacado a localização do município de Jaru no mapa do Estado de Rondônia.

Figura 1 – Município de Jaru, estado de Rondônia.


Fonte: EMATER-RO, 2008.

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O rebanho leiteiro do município é superior a 300 mil cabeças, o que ultrapassa o número
do rebanho destinado para corte em Jaru (IDARON, 2006). A produção de leite em 2006 foi de
68.001.000 litros, tendo sido ordenhadas 83.952 vacas (IBGE, 2006), gerando uma produtividade
média de 2,27 litros/dia por vaca, baixa comparada a outros locais, porém alta em comparação
com a média do Estado.
A tabela 1 traz Santa Catarina com 5,90 litros por vaca/dia enquanto em Rondônia essa
média é significativamente baixa, de 1,87. A produtividade ainda é um fator limitante, a partir da
qual conseqüências de ordem econômica, social e ambiental podem ser severas. Econômica,
porque a elevação indiscriminada da oferta de leite reduz o preço pago ao produtor e por
conseqüência a rentabilidade, não apenas para o produtor, mas para a economia como um todo.
Por conseguinte, a redução da rentabilidade pode retirar produtores do campo, levando ao êxodo
rural (efeitos sociais) ou ao desmatamento em uma região amazônica (efeitos ambientais).

Tabela 1 – Produção e produtividade de leite dos cinco estados mais produtivos e em


Rondônia
Produtividade
Produção
Territórios (Vaca ordenhada por
(mil litros de leite)
litro/dia)
Santa Catarina 1.555.622 5,90
Rio Grande do Sul 2.467.630 5,62
Paraná 2.568.251 5,17
Alagoas 236.109 4,09
Minas Gerais 6.908.683 4,06
Rondônia 692.411 1,87
Fonte: Elaborado pelos proponentes com base em dados do IBGE (2006).

Para que não ocorra esse ciclo vicioso, a destinação de tecnologia adequada ao setor
produtivo se faz necessário, para que assim a produtividade se eleve, e de fato, isso tem ocorrido.
Conforme já mencionado, os produtores podem ser divididos em dois grupos, com assistência
técnica pública e independente, em que os resultados de cada grupo são, provavelmente,
diferenciados.
Todavia, a produtividade média do estado é ainda baixa, e em vista disso, essa proposta
de pesquisa visa responder aos seguintes questionamentos: quais as características de cada grupo
de produtores de leite? Quais as peculiaridades que distinguem essas assistências técnicas umas
das outras? Quais os efeitos dessas assistências sobre a produtividade para cada grupo?
O foco principal da pesquisa é a produção familiar no arranjo produtivo local do leite no
município de Jaru. A partir da análise do APL são observados os seus componentes-chaves, como
a produção primária, representada pelas unidades de produção visitadas. A atividade leiteira é
tida como o centro da pesquisa, observando não o ambiente físico somente, mas sim o ambiente
de produção que envolve fatores subjetivos como a capacidade de gestão, fonte de informações
sobre a produção e assistência recebida de programas de governo.
Uma vez que não há na região nenhuma assistência técnica oriunda de empresas
privadas, a assistência técnica de programa de governo torna-se objeto desse estudo. Para

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conhecer a participação dessa assistência técnica, é feito um comparativo entre as famílias que
recebem assistência e aquelas que não a recebem.
Para possibilitar o reconhecimento de produtores de leite apoiados por instituições
públicas, alguns produtores foram pré-selecionados de acordo com a assistência que possuíam.
Essa seleção foi feita com o auxilio da EMATER-RO (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural) de Jaru, que apontou os produtores inscritos nos programas PROLEITE (Projeto
de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira, executado pela EMATER-RO), Cadeia Produtiva,
executado pelo SEBRAE (Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), e produtores que
recebem apenas assistência técnica da EMATER-RO. Os produtores entrevistados que
declararam não receber apoio de nenhuma instituição, denominados neste estudo de produtores
independentes, foram encontrados de forma aleatória, sendo abordados em suas propriedades
mediante sua autorização.
Em Jaru foram entrevistados 14 produtores de leite, sendo que: 3 recebem assistência
técnica da EMATER-RO; 2 produtores estão inscrito no programa PROLEITE; 2 produtores
fazem parte do estudo da cadeia produtiva do SEBRAE-RO e 7 produtores foram considerados
independentes, uma vez que não recebem assistência de nenhuma instituição.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Características da Unidade de Produção

Empresas rurais têm incorporado cada vez mais uma abordagem administrativa típica de
organizações urbanas e industriais. Essa mudança encontra referências inclusive na “(...)
terminologia adotada para representar estas organizações agroindustriais como simbologia
distinta daquelas anteriormente denominada como empresas rurais” (CALLADO E MORAES
FILHO, 2005, pg. 1).
Marion (2000) apud Callado e Moraes Filho, (2005 pg. 1) diz que empresas rurais “são
definidas como aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo através do cultivo da terra,
da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas”.
Callado e Moraes Filho (2005, pg. 5), relatam que para uma gestão agroindustrial aplicada
deve-se “considerar não somente os aspectos financeiros, mas também as demais questões de
grande importância (...) para o processo administrativo, bem como um meio para cumprir os fins
produtivos e sociais da empresa”.
A administração rural deve também levar em conta as características das localidades da
propriedade. O APL leite de Jaru está situado em meio a floresta Amazônia, e é preciso estar
atento a algumas questões especificas dessa região, e adequar a produção aos recursos naturais
locais.
Os recursos naturais podem representar as entradas do processo de produção (leite na
indústria de queijos), o local da produção (a terra), minerais, água, clima, enfim, “são elementos
da natureza que o homem utiliza para produzir bens” (SANTANA, 2005 p. 2). Dentro do arranjo
produtivo local do leite os principais recursos naturais podem ser considerados a terra (pastagem)
e os animais (bovino). Os recursos naturais são limitantes do processo de produção, devido a sua
disposição no ambiente e devem ser utilizados com bastante cautela, pois são finitos.
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Ultimamente uma grande atenção tem sido dada a forma de utilização desses recursos. Em
Rondônia, cada propriedade produtora de leite tem a utilização dos seus recursos naturais
regrados pelo Zoneamento Socioeconômico-Ecológico de 1980, que foi criado com estratégia
para reter os problemas gerados pelo avanço desordenado da atividade rural. O Zoneamento visa:

[...] racionalizar a ocupação do espaço rural do território de Rondônia, de forma


a promover o desenvolvimento econômico evitando desequilíbrios ecológicos,
preservando os ecossistemas frágeis e /ou representativos da biodiversidade [...].
(FIERO e SEBRAE/RO, 2003 p. 35)

Visando essa racionalização do espaço rural, o foco atualmente das instituições


envolvidas com a produção de leite no estado, é a de aumentar a produtividade, sem que para isso
tenha que aumentar a área de desmatamento. Para esse fim, são desenvolvidas atividades de
manejo e recuperação de pastagens, controle de doenças do gado leiteiro, controle da qualidade
do leite entre outras medidas. É preciso lembrar que as questões ambientais são de fundamental
importância para o arranjo produtivo, uma vez que a atividade comercial depende da
sustentabilidade do uso de recursos naturais, porém não é o foco do presente estudo.

2.2. Arranjos Produtivos Locais

Na década de 90, os temas acerca de territorialidade foram novamente o foco nas


organizações internacionais de desenvolvimento. Essa volta não se deu somente pela teoria da
localização, onde a localização de uma indústria se dá pela aproximação da fonte da matéria-
prima e do mercado consumidor. Essa retomada deveu-se as conseqüências positivas das
aglomerações de indústrias de um mesmo tipo, tidas como distritos industriais, fato que já havia
sido identificado por Alfred Marshall, no final do século XIX (BEDUSCHI FILHO E
ABRAMOVAY, 2004).
Segundo Alfred Marshall, encontrado em OCDE (2001a, p. 17) citado por Beduschi Filho e
Abramovay (2004, pg 37), a característica principal desses distritos industriais não era a simples
aglomeração de setores correlatos economicamente, mas sim:

(...) um fator intangível, certa “atmosfera” industrial que se materializava em


três “economias externas”: a difusão dos conhecimentos, das técnicas e da
tecnologia; o desenvolvimento de máquinas de produção especializadas; e a
criação de um importante mercado local de empregos, (...) cada território dispõe
de um capital específico, o ‘capital territorial’, distinto daquele de outros
territórios.

Essa aglomeração traz vantagens competitivas para as empresas que estão nela. As
mudanças e intensificação na competitividade entre as empresas fazem com que estas procurem
formas de interação entre si para garantir sua subsistência no mercado. Esse ‘capital territorial’
que deriva dessa articulação é indispensável para as empresas, principalmente as pequenas.
Assim, como os distritos industriais, surgem os aglomerados, clusters, cadeias produtivas e
arranjos produtivos locais (ANDRIGHI, 2007). Neste estudo, será aprofundado o conceito de
arranjos produtivos locais.
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Para obter uma visão sistêmica do que é um Arranjo Produtivo Local deve-se lembrar que
a estrutura econômica de um estado está de certa forma, estruturada em vários APLs. Um Arranjo
Produtivo Local é um aglomerado de empresas produtoras de um mesmo tipo de produto em um
mesmo território, que interage, articula, coopera e possui relações de aprendizado com outras
empresas, instituições de ensino, pesquisa, associações e governo.
Lastres e Cassiolato (2002) e Lastres et all (2000) apud Scheffer et al (2005, p.3),
descreve APL como:
Aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um
mesmo território, operando em atividades correlacionadas. Dentre tais agentes
figuram empresas produtoras de bens e serviços, fornecedores, clientes,
associações de classe, instituições públicas e privadas que constroem vínculos
de articulação, interação, cooperação e aprendizado que resultam em
capacitações produtivas e inovativas.

Complementando, Ferreira (2006, p.69) relata que “um arranjo produtivo local é
caracterizado pela existência da aglomeração de um número significativo de empresas que atuam
em torno de uma atividade produtiva principal”.
Nessa aglomeração de empresas, é preciso considerar a riqueza de movimentações do
local onde o APL está inserido, tendo em mente o mercado, postos de trabalho, histórico das
empresas, potenciais, singularidade, interação com as políticas públicas, campos de pesquisa e
outras forças (FERREIRA, 2006). Além do campo dessas relações, o APL representa
especificamente um recorte geográfico, onde se observa uma teia de relações, um campo de
forças integradas. Pode-se dizer que o APL “[...] é um território onde a dimensão construtiva é
econômica por definição, apesar de não se restringir a ela” (FERREIRA, 2006, p.69).
Esse recorte geográfico pode ser considerado, por exemplo, uma bacia leiteira, uma
região, ou um município, que apresente sinais de capacidade de desenvolvimento, estabelecer e
manter parcerias para diversificar os investimentos no APL e “promover ou ser passível de uma
integração econômica e social no âmbito local” (FERREIRA, 2006, p.69). Um arranjo produtivo
local é importante pela sua vantagem competitiva frente a outros mercados e, principalmente, se
essa formação for norteada pela inovação, cooperação e fortalecimento das capacidades
produtivas.
O estudo de APLs é vantajoso por ter maior aplicabilidade ao identificar o público alvo, o
marco zero e o processo inicial através de indicadores estabelecidos (MELO, 2004). Desta forma,
a avaliação e acompanhamento dos envolvidos e seus parceiros se torna mais claro.
A aliança estratégica dos atores do arranjo é dada pela cooperação, onde esse elo pode
gerar aos envolvidos um melhor ganho para todos, sem que haja nessa aglomeração uma
competição acirrada. Não é preciso que todos tenham para isso, os mesmos objetivos
estratégicos, no entanto esses objetivos têm que ser complementares. Cada componente do APL
tende a ganhar com essa estrutura, uma vez que a cooperação ajuda a diminuir riscos, custos,
aumentar a produtividade e a fortalecer-se no mercado.
O centro do APL é a sua parte produtiva, o seu produto principal. No agronegócio leite,
neste segmento estão os produtores de leite, que se destina ao lacticínio e é beneficiado, e então,
vendido para distribuidores e comerciantes até chegar ao consumidor final. Conhecer e entender
os elementos que envolvem a produção torna-se necessário na hora de diagnosticar o estado do
arranjo. Em torno dessa relação comercial citada acima, estão outros colaboradores do APL,

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como por exemplo, as universidades, centros de pesquisa, instituições públicas de apoio à


produção e muitas outras organizações.

2.3. Eficiência e Competitividade na Unidade de Produção

A produção de leite e outros produtos agroindustriais são considerados bens de primeira


necessidade e comumente de baixo valor unitário. Essa característica influi na sua relação com o
mercado, já que sua demanda tem menor variação em relação a produtos de outros gêneros: a
demanda de um aparelho de som tende a cair bem mais se seu preço aumentar, enquanto que a
demanda do leite terá pouca variação se o mesmo também elevar seu preço (BATALHA, 2001).
Se houver então uma escassez do leite, o seu preço terá que subir muito a fim de limitar a
aquisição do produto. Entende-se que se a demanda do leite e seus derivados de certa forma não
foram capazes de moldar consideravelmente o seu preço (comparado com produtos), logo serão
as variações na oferta que definirão seu preço.
Essas características de bens de primeira necessidade demonstram o valor dos produtores
rurais, em especial o pequeno produtor que compõe grande parte da cadeia produtiva do leite em
Rondônia e no Brasil.
Dado a importância do pequeno produtor e levando em consideração a utilização dos
fatores de produção, Roberts e Gomes (2004), em seu estudo sobre a eficiência da pequena
produção de leite em Rondônia, relata que a produção de leite do pequeno produtor é eficiente.
Os resultados da pesquisa de Roberts e Gomes (2004) indicam que o produtor tem sim uma
ineficiência técnica, porém ele é eficiente (tem um retorno alto em relação aos fatores produtivos
utilizados). Esses produtores estão operando com crescentes retornos de escala (quanto maior for
sua produção, maior será seu lucro), o que implica na necessidade de aumentar o volume de sua
produção (ROBERTS e GOMES, 2004).
Roberts e Gomes (2004) concluem afirmando que o aumento no volume da produção não
pode ocorrer simplesmente pelo aumento da área ou sistema de produção utilizado, e sim através
da alteração da proporção dos fatores de produção utilizados, “o crescimento extensivo não fará
com que a eficiência de escala melhore.” (ROBERTS e GOMES 2004 p.1).
Além disso, Roberts e Gomes (2004) dizem que há no estado uma tendência a concentrar a
produção de leite nos maiores produtores, fazendo com que o mercado do leite e seus derivados
estejam à mercê dos poderes competitivos dos grandes produtores de leite. Estes têm uma
margem de lucro unitária baixa e grande quantidade produzida, resultando em um lucro líquido
total alto, além de ter um maior controle da qualidade do leite.
Os pequenos produtores são forçados a baixar sua margem de lucro unitário a fim de tornar
o seu preço competitivo (acarretando em um lucro líquido total baixo). Desta forma a redução
das “[...] margens de lucro unitário, tem forçado os produtores a investirem tanto no aumento da
produtividade, como também no volume de produção” (ROBERTS e GOMES, 2004, p.9)
objetivando aumentar sua renda. Mesmo com baixo retorno sobre a atividade, o pequeno produtor
é considerado por vários autores como eficiente. Schultz apud Gomes (2000), diz que o pequeno
produtor é eficiente, porém pobre. Gomes (2000 p. 129) diz:

A pobreza da agricultura tradicional não é conseqüência de quaisquer ineficiências


significativas na alocação dos fatores de produção. Ela é pobre porque os fatores de que
depende sua economia não são capazes de produzir mais, nas circunstâncias existentes.

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Fazem parte do conjunto de fatores de produção a terra, as benfeitorias, as máquinas, os


animais e o estado dos conhecimentos.

Em outras palavras, o pequeno produtor utiliza todos os de recursos que possui, fazendo
com que estes produzam o máximo possível. Gomes (2000) relata ainda que o problema do
pequeno produtor é a baixa taxa de retorno dos seus investimentos nos fatores de produção, e que
uma melhoria, uma transformação desse quadro só poderá ocorrer mediante a novos fatores de
produção, especialmente novos conhecimentos sobre a atividade, implementação de inovações na
produção e na organização. Isso pode ser implementado como melhorias genéticas do gado,
melhorias das pastagens, cursos técnicos.
Gomes (2000 p. 129) diz que apesar de produzirem com baixos custos, os pequenos
produtores não tem um retorno considerável, isso porque esses produtores “têm baixa capacidade
de resposta aos estímulos de preço”. Em outras palavras, “aumentos do preço do leite conduzem a
pequenos aumentos da oferta deste produto [...], custo baixo sem capacidade de resposta garante
apenas ao produtor o título de eficiente, porém ele continua pobre.” (Gomes, 2000 p. 130).
Outra situação relativa às empresas do arranjo produtivo é o que Batalha (2001) relata:
não basta uma empresa ter uma eficiência produtiva e, ao mesmo tempo, tomar decisões
inapropriadas sobre a comercialização do seu produto. A eficiência relativa à empresa é mais
abrangente que a eficiência produtiva, ou seja, nem só de excelência em produtividade viverá a
empresa, mas também de uma boa gestão que envolva acertos na tomada de decisão. Quanto mais
cada ator do APL estiver coordenado, melhor será a relação cliente/fornecedor no arranjo. Em
geral, quanto melhor for a estrutura de governança do arranjo, mais sucesso ele terá, sendo então
mais competitivo no mercado.

3. RESULTADOS

3.1 Características Gerais dos Produtores

Ao perguntar sobre a origem dos produtores, constata-se a presença de apenas dois


produtores nascidos no estado de Rondônia, no município de Jaru. Esses dois produtores são os
mais novos entre os pesquisados tendo menos de 30 anos. Outras regiões de origem do produtor
citadas são Nordeste e Sul e Sudeste. Essas informações ressaltam a colonização de Rondônia,
ainda recente e que deixa sua herança e influencia na atividade econômica do estado e do
município de Jaru em especial. O perfil dos produtores da pesquisa pode ser observado na tabela
a seguir, dividida entre o grupo dos produtores que tem assistência técnica e os produtores
independentes, ou seja, que não possuem assistência técnica.

Tabela 2 – Perfil do Produtor.


Produtores com Produtores
Média
Assistência Independentes
Idade 52 53
Tempo na propriedade 17 20
Anos na Escola 4 4
Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

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Os dois grupos assemelham-se na idade e em escolaridade (quantos anos freqüentou a


escola). O que diferencia os dois grupos é o tempo em que estão na propriedade, em uma
diferença de apenas três anos em média.
Observando a origem do produtor, e a média de produção de leite diária, evidencia-se com
os seguintes dados a ocorrência de agricultura familiar nos produtores entrevistados: 100% dos
produtores tem sua residência no próprio estabelecimento rural; 100% dos proprietários são os
administradores da propriedade juntamente ou não com sua família (57% dos proprietários
administram sozinhos e 43% tem a ajuda de sua família). Nenhum dos entrevistados contratou
um gestor para administrar a propriedade. Além disso, 71% utilizam a mão-de-obra familiar
como força de trabalho na propriedade. Os demais produtores não possuem mais que 2
colaboradores. A formação da mão-de-obra é igual para os dois grupos de produtores, sendo que
71% dos produtores que possuem assistência não têm empregados, assim como 71%
independentes também não contratam mão-de-obra.

3.2 Qualidade do Leite

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), publicou em 2002, a


Instrução Normativa 51 (IN 51), definindo a nova legislação sanitária sobre a produção, que tem
por objetivo melhorar a qualidade do leite e proporcionar condições para o aumento da
rentabilidade dos produtores e faz uma prospecção de regulamentar a produção, identidade,
qualidade, coleta e transporte do leite até o ano de 2012 (BRITO et. al., 2006).
Isso se dá por meio do incentivo da utilização de tanques de refrigeração para os produtores
e constantes controles de qualidade do leite feito pelas indústrias e outras instituições
regulamentadoras.
Essa medida é uma preparação da expectativa de excedente da produção de leite acima de
1 bilhão de litros no Brasil, que é uma possibilidade muito próxima, considerando o crescimento
da produção e o consumo interno. A solução para esse excedente de produção é o aumento das
exportações de lácteos, já que o mercado interno não será capaz de consumir toda a produção.
Como já posto a alta exigência de mercados internacionais, a qualidade do leite é um pré-
requisito a inserção no mercado internacional. Em Rondônia, assim como em todo o Brasil, um
das principais medidas vista a esses fatos é a Instituição Normativa 51, que entrou em vigor em
julho de 2007 para a Região Norte. É preciso lembrar que quando o produtor tem um leite de
melhor qualidade, isso refletirá no aumento da produtividade e consequentemente em menores
custos de produção.
A IN 51 também regulamenta o transporte do leite cru refrigerado, estipula o tempo
máximo que poderá permanecer antes de ser refrigerado, bem como especifica o transporte desse
leite até o laticínio e temperatura a que será submetido antes de ser processado. A qualidade e
transporte do leite também passarão por controles de qualidade por órgãos e laboratórios
autorizados.
A IN 51 é uma das principais diretrizes do APL leite atualmente. Muitas mudanças no APL
já podem ser observadas como a presença de tanques de refrigeração onde 43% dos produtores
entrevistados nesta pesquisa já apresentam tanques de refrigeração comunitários ou particulares.
Todos esses tanques foram adquiridos há menos de dois anos. Tudo isso foi um esforço levantado
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por produtores de leite, laticinistas, bancos, instituições públicas, associações, cooperativas e


sindicatos objetivando melhorar a qualidade do leite e seus derivados no APL.
A pesar de todos os esforços serem muito importantes para o cenário atual do arranjo, não
se pode ignorar que 53% dos produtores ainda não possuem um item básico na melhoria da
qualidade do leite: o tanque de refrigeração. Além de conservar por mais tempo o produto, o leite
resfriado tem um valor de mercado mais alto do que o leite “quente”. Os produtores que
possuem o tanque de refrigeração estão divididos em: 57% dos atendidos por instituições de
apoio possuem tanques enquanto que somente 29% dos independentes o possuem, indicando uma
das principais diferenças entre produtores atendidos e não atendidos. Muitos produtores
encontram dificuldades de se adaptar a essa instrução normativa e há ainda uma falta de apoio a
aplicação da IN 51 aos pequenos produtores de leite.
Segundo a normativa, o tempo máximo entre a ordenha e a coleta do latão de leite é de duas
horas. Ultrapassando esse período de tempo, a qualidade do leite se torna mais vulnerável.
Além das horas que o leite passa fora da refrigeração, também foi perguntado aos
produtores qual é a regularidade que o leite é recolhido pelo caminhão tanque do laticínio, onde o
resultado está disposto na figura a seguir.

14%
Mais de dois dias
0%

14%
Dois em Dois
71%

71%
Diariamente
29%

Com Assistência Independentes

Figura 2 – Regularidade do caminhão tanque que recolhe o leite na propriedade.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

Os produtores que possuem o tanque de refrigeração e recebem assistência entregam o leite


em maior parte de dois em dois dias. Os produtores independentes entregam, em maior
quantidade, diariamente. Isso se dá pela presença ou não do tanque de refrigeração. Produtores
que possuem o tanque (individual ou comunitário) podem entregar o leite em um período maior
que dois dias, os produtores que não possuem devem entregar todo dia para que o produto não
seja desperdiçado.

3.3 Ambiente de Produção

A unidade de produção, ambiente onde ocorre a atividade leiteira em si, composta pela
alocação dos fatores de produção e pela gestão da propriedade é tratada de forma diferenciada
nos dois grupos de produtores da pesquisa, bem como no município de Jaru.
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A quantidade média de litros de leite produzidos diariamente é de 182 litros/dia para os


produtores assistidos e 120 litros/dia para os independentes. A média de produção do município
de Jaru é de 192 litros/dia por lote (propriedade rural) segundo dados do IDARON (2006). No
período da seca, há uma queda de 34% da produção de leite em relação ao período das águas para
os dois grupos.
O produtor que apresenta o maior volume de produção recebe assistência técnica da
EMATER-RO e possui o 4º maior lote de terra com 113 ha, acima da média da pesquisa de 86 ha
por lote no geral dos dois grupos. O tamanho médio da propriedade dos assistidos é de 98
hectares e de 61 hectares para os independentes.
Outro fator importante para a qualidade da produção do leite é a quantidade e qualidade de
informações que o produtor recebe. A instituição que forneceu essa informação terá realizado
grande contribuição para o produtor. Assim, na figura a seguir está disposto as principais fontes
de informação para a atividade rural, quando perguntado quais as três principais fontes.

Com Assistência Independentes

7%
treinamento 29%

36%
TV
36%

0%
Revistas
14%

0%
Jornais
7%

7%
Técnico Emater
43%

Técnico Laticínio 0%
7%

14%
Vizinho
14%

Figura 3 – Fontes de informação sobre a atividade rural.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

Para os produtores que participam de programas, as três principais fontes de informação são
as orientações do técnico da EMATER-RO, os programas de televisão (como o canal do boi,
globo rural e outros) e os treinamentos recebidos, reflexo das ações públicas do APL. Já os
produtores independentes citaram os programas de televisão como principal fonte de informação,
além da conversa informal com vizinhos. As informações recebidas através das visitas do técnico
da EMATER-RO, dos treinamentos realizados e outras fontes de informações não foram
consideradas pelos produtores independentes, já que não participam desses programas.

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Os independentes têm a televisão e os vizinhos como grande influência na dinâmica da sua


produção. Como a televisão e as conversas com outros produtores têm a mesma importância para
os dois grupos, pode-se dizer que os outros fatores fazem a diferença entre eles, onde quem tem a
maior quantidade e melhor qualidade das informações tem vantagem.
Quanto à freqüência de utilização dos principais meios de comunicação como fonte de
informação da atividade leiteira, foi observado os programas de televisão, rádio, utilização da
internet e mídia impressa. A utilização mensal dos meios de comunicação esta disposta na figura
a seguir, sendo mensurada pelo número de visualização ou utilização por mês.

Com Assistência Independentes

Internet 0
0
8
Outros Programas TV 13

Globo Rural 7
1
15
Rádio 4

Revistas 0.3
1
0.1
Jornais 0

0 5 10 15 20

Figura 4 – Utilização dos Meios de Comunicação.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

A televisão (especificamente o Canal do Boi e TV Terra Viva) mais uma vez aparece como
mais utilizada pelos produtores assistidos e a rádio em segundo lugar, porém com menos
freqüência. Os independentes têm a rádio como principal meio de informação sobre a atividade
leiteira. Em segundo e terceiro plano aparece a televisão e o programa globo rural com
significativa incidência.
Os meios de comunicação menos utilizados pelos dois grupos foram: a internet, onde há
dificuldade de acesso físico, financeiro e estrutural na área rural do município; leitura de revistas
e jornais visto o pouco costume e escolaridade dos produtores, que dificulta o seu interesse nesse
quesito. Esses três pontos são fundamentais para a disseminação do conhecimento no meio rural.
Isto porque o produtor que depende somente da televisão e rádio para adquirir novos
conhecimentos não terá a oportunidade de filtrar as informações que necessita naquele momento
ou se aprofundar em determinado tema.
Para conhecer a assiduidade das visitas do técnico da instituição de quem recebe assistência,
foi perguntado quantas visitas de assistência técnica foram realizadas. A figura a seguir
demonstra o resultado dessa freqüência.

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Com Assistência Independentes


57%

43% 43% 43%

14%

0% 0% 0%

Sem Visita 1 a 2xano 3 a 6x ano mais de 6

Figura 5 – Quantidade de visitas anuais do técnico que assiste a propriedade.


Fonte: Dados da pesquisa, 2008

A maior parte dos produtores foi visitada mais de uma vez no ano, ao passo que 35% não
receberam nenhuma visita. Na figura há uma evidente divisão entre produtores independentes a
esquerda (menos visitas) e quase todos os produtores que recebem assistência do lado direito (que
mais recebem visitas). Como podem ser observados, três produtores que não são assistidos por
nenhuma instituição, receberam pelo menos uma visita ao ano de um técnico agropecuário de
uma das organizações que prestam apoio a produção de leite. O produtor que recebe assistência e
não recebeu nenhuma visita durante o período, alegou que o programa no qual participa não tem
muita consistência quanto o seu objetivo e se retirou do programa no inicio do período, porém o
programa considera esse produtor como participante.
Em relação à quantidade de informações que mais recebe sobre a produção de leite, foram
questionadas quais eram os assuntos mais freqüentes. Os assuntos eram pertinentes a alimentação
do gado, sanidade animal, manejo do pasto, melhoramento genético, gerenciamento da produção,
e produção do leite e o meio ambiente rural. As respostas podem ser observadas na figura a
seguir.

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Com Assistência Independentes

43%

36%

29% 29%

21% 21% 21%

14% 14%14% 14%

7%

Alimentação Sanidade Manejo Genética Gerência Meio


Ambiente

Figura 6 – Quantidade de Informações Recebidas.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

A informação que é mais recebida pelos produtores que tem assistência é quanto o
melhoramento genético, meio ambiente, manejo e alimentação do rebanho. Os produtores
independentes citaram como mais freqüentes assuntos quanto o manejo do rebanho, melhoria
genética e meio ambiente. Na figura é fácil observar claramente que os produtores que possuem
assistência recebem mais informações sobre os diversos temas do que os produtores
independentes.
Em geral, as informações que o produtor rural mais recebe são relativas quanto ao
melhoramento genético e a que menos recebe é sobre o gerenciamento da produção de leite. Essa
informação pode ser interpretada como conseqüência do Projeto Inseminar, que está em seu 4°
ano de execução e já começa a apresentar seus resultados. Já o gerenciamento da produção de
leite é um assunto comumente pouco abordado, apesar de ser de grande importância para o
produtor. É através desse gerenciamento que se tornará possível o processo de produção na
unidade e geração do produto principal do APL: o leite.
A gerência da unidade de produção é um fator importante para a sua dinâmica. Dentre os
produtores assistidos 86% estabelecem metas para a produção de leite, para a produtividade da
unidade e para as receitas, e 71% tem metas para as despesas. Dentre os independentes, apenas
29% estabelecem meta para a produção, 29% para despesas, 43% para a produtividade e para
receitas. Verifica-se que os independentes têm menor planejamento da unidade de produção do
que os assistidos.
Em relação à qualidade de informações, foi perguntado aos produtores se as informações
recebidas eram muito boas, boas, regular, ruim ou péssima. A figura a seguir demonstra as
respostas obtidas.

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Com Assistência Independentes


57% 57%

43% 43%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

Muito Boas Boas Regular Ruim Péssimas

Figura 7 – Qualidade das Informações Recebidas.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

Metade dos entrevistados alegou que as informações recebidas eram de boa qualidade,
sendo que os produtores que recebem assistência apontaram que recebem informações melhores
do que os independentes. Nenhuma das respostas apontou informações ruins ou péssimas. Essas
respostas podem elucidar uma aceitabilidade do produtor rural quanto às informações que recebe,
julgando que são úteis e tem respaldo na sua atividade diária, isto é, é de utilidade do pecuarista.
Sobre o conhecimento de outras instituições como SENAR e SEBRAE, os dois grupos
tiveram as mesmas respostas: 86% disseram já conhecer o SENAR e o SEBRAE, sendo que 50%
desses que já ouviram falar já participaram de treinamentos promovidos pelo SENAR e 17% já
participaram de treinamento no SEBRAE (alguns participaram de treinamentos das duas
instituições). Quanto aos treinamentos do SENAR foram citados: Doma de animais, cuidados
com o manuseio do leite, inseminação artificial, gestão da produção, administração da
propriedade, associativismo e cooperativismo. Já pelo SEBRAE, foram citados participações em
palestras e instruções sobre o sistema de qualidade do leite.
Ao realizar uma avaliação sobre a produção, foi perguntado aos entrevistados qual o motivo
de terem escolhido a produção de leite como centro da unidade de produção. Dentre as possíveis
respostas estavam: é um negócio lucrativo, existe uma renda mensal, combina com outras
explorações na propriedade, tem um mercado garantido, não sabe fazer outra coisa, emprega a
família. As respostas que tiveram maior incidência foram respectivamente porque existe uma
renda mensal, tem mercado garantido e é um negócio lucrativo, ou seja, os produtores escolheram
essa atividade porque estão certos do negócio que executam. Além disso, para os próximos anos,
100% dos produtores declararam que pretendem melhorar a sua tecnologia e aumentar a
produção de leite.
Com os dados obtidos n formulário, foi possível mensurar a produtividade dos dois grupos
de produtores, levando em conta a quantidade de litros produzidos e quantidade de vacas que o
produtor possui. A próxima figura demonstra a produtividade litros/vaca/dia.

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Figura 8 – Produtividade Litros por Vaca/dia.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2008.

Os produtores assistidos têm uma produtividade média de 2,8 litros por vaca/dia, enquanto
que os não assistidos apresentam 0,9 litros vaca/dia. Após todos os quesitos analisados referentes
ao ambiente da produção, esse é o que evidencia mais a contribuição dos programas de governo
no APL leite em Jaru. As contribuições das políticas públicas já citadas como inseminações
artificiais, alimentação do gado e boa sanidade animal são fatores que contribuem para o aumento
da produtividade por vaca, logo os produtores assistidos tem maior chance de ter uma maior
produtividade do que os independentes. Além do controle de partos, onde a quantidade de vacas
falhadas (que não estão produzindo leite) é maior do que as vacas em lactação (que estão
produzindo). Quanto maior for o número de vacas em lactação, maior será a produtividade da
empresa rural, o que implica em necessidades de uma melhor gestão do produtor.

4. CONCLUSÕES

A unidade de produção familiar apoiadas por iniciativas de governo tem mais chances de
sobrevivência no mercado do que as unidades que não tem apoio. Um indicativo disso é a ampla
diversidade de informações que esses produtores recebem. A base principal dessa comparação
está em que as características básicas dos dois grupos de produtores são semelhantes, mas
possuem resultados de produção diferentes.
Ao intensificar as visitas técnicas aos produtores do município, há maiores chances de
melhorar a qualidade do leite produzido, aumentando a produção e produtividade, reduzindo
custos e aumentando a receita. Beneficiando a produção, desencadeará uma sucessão de
benefícios, observados por uma visão sistêmica. Na pesquisa não foi identificado nenhuma ação
de iniciativa privada, logo as ações de políticas públicas tem significativa contribuição no
desempenho da produção do município de Jaru, e apresentaram ampla contribuição para os
produtores que são assistidos, quando comparados com os independentes.
Os dois grupos de produtores têm alguns fatores em comum, como as características da
mão-de-obra, idade, escolaridade, origem, tempo na propriedade, conhecimento sobre a
existência do SEBRAE e do SENAR em Rondônia. Os fatores que fazem as principais diferenças
para o melhor desempenho dos produtores assistidos por programas de governo são: presença do
tanque de refrigeração, influenciando nas condições armazenamento do leite e conseqüente
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melhor qualidade e preço do leite; melhores fontes de informação, além de essas ser as mais
confiáveis; número de visitas do técnico rural na propriedades familiares; mais informações sobre
a dinâmica da produção; maior acesso a informações, oriundas principalmente de treinamentos e
visitas dos técnicos; melhor capacidade de gerência da propriedade. A vantagem nesses quesitos
pode ser atribuída a assistência técnica prestada ao produtor.
Outra vantagem dos assistidos que independe da contribuição governamental é o tamanho
da propriedade, que pode influenciar no volume de produção, mas não na produtividade da
empresa rural, medida aqui em litros por vaca/dia, onde as famílias assistidas têm uma
produtividade três vezes maior do que os independentes. Essa significativa diferença é o
resultado principal da propriedade. Este é um resultado concreto da assistência técnica prestada
pelos programas de governo dentro de Jaru. Em outras palavras, mesmo que os assistidos
tivessem mais informação e estrutura do que os independentes e não tivesse uma produtividade
maior, a assistência técnica não seria eficiente. A quantidade e qualidade de informações
recebidas influenciam diretamente nos resultados obtidos na produção.
É importante também ressaltar que a produtividade média das famílias independentes é
inferior a média do estado de Rondônia. Já a produtividade média das famílias assistidas é
levemente superior a do município de Jaru, que tem a melhor produtividade do Estado. Os
produtores assistidos são mais orientados a obter melhores resultados, e condizem com a vocação
do município no agronegócio leite.
O agronegócio do leite é uma atividade expressiva e fundamental para a economia do
estado de Rondônia e para o município de Jaru. As evidencias de crescimento da oferta do leite,
em termos absolutos não representará uma oportunidade para o APL se a persistência na baixa
produtividade não for revertida. O que poderá gerar efeitos econômicos, sociais e ambientais
indesejáveis.
Os programas de governo implementados no APL leite do município de Jaru contribuem
para os resultados demonstrados dos produtores assistidos, porém ainda não alcançam todo o
arranjo. Muito mais deve ser investido e ampliado, para a que cada vez mais atores do arranjo
possam ser beneficiados, gerando mais solidez ao APL.

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