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A NOÇÃO DO SUJEITO

O questionamento fundamental ao Sujeito da Modernidade encontrou fortes qualidades em filósofos


e correntes de pensamento no século XX, tais como: a analítica existencial, a virada lingüística, o
paradigma estruturalista e, ultimamente nos avanços da contemporaneidade.

“Dentro das noções do sujeito pós-moderno, quando procura dentro de si


uma verdade primordial não encontra a segurança do cogito cartesiano,
mas as intermitências do coração proustianas” (GUATTARI, 1992, p. 52)

É uma instância teórica e uma necessidade político-cultural. A crise da noção do sujeito se reflete
no destino da civilização ocidental. Trata-se, pois, de repensar a subjetividade não mais contra as
diversas criações do inconsciente e as muitas provas da limitação.

Nesse sentido, realizando uma leitura mais diferente do pensamento sociológico da Modernidade e
dialogando com os novos discursos sobre subjetividade marcados pelo descentramento,
fragmentação, diferença e alteridade.

“se os sujeitos não entenderem sobre esse reconhecimento, não haverá


mundo algum, nem mesmo perceptivo, que se possa manter por mais de um
instante.” (Lacan, 1984, p. 215)

A pergunta sobre a noção de sujeito e de modo mais radical a pergunta sobre os seus fundamentos
são, à primeira vista, questões há muito tempo resolvidas. Ao menos e o que se crê e diz no âmbito
psicanalítico. Mesmo assim, o propósito deste trabalho e o de renovar a pergunta sobre a questão
subjetiva. Propósito que lhe confere, não por acaso, esse caráter surpreendente.

Aí a análise atingiria seu alvo, permitindo, ainda que de maneira rápida, o


surgimento de um sujeito, ou melhor, fazendo, para fazer aparecer ainda
uma expressão de Lacan (2001a), “da castração sujeito” (p. 380).

Sobretudo porque implicamos no risco de reprisar coisas já ditas e repetidas, mas que assumimos,
na esperança de revigorar um debate que a tradição julga encerrado. Um debate inspirado na
proposição amplamente conhecida e largamente divulgada que, sob o titulo de retorno a Freud,
serviu de ponto de partida ao ensino de Lacan. Em outras palavras, trata-se de um debate cuja
retomada se apóia na confiança de reencontrarmos algumas das perguntas que são o fundamento da
elaboração de Freud.

Simplesmente para tentar responder a uma série de urgências e problemas que, hoje, pairam sobre a
matéria. Isso nos obriga a falar do hoje e a dizer algumas palavras sobre a atualidade. Por tudo isso,
na obra de Freud a noção de sujeito e uma referencia permanente e sempre presente. Uma referência
constante.

Foi Lacan quem, no contexto de seu primeiro projeto de um retorno a Freud, assumiu a tarefa de
extrair essa referência e expô-la a luz do dia. Com isso, projetou-a para um primeiro plano como
uma das noções centrais da teoria e da doutrina

O sujeito tornou-se o referente lógico da questão freudiana. Nesse sentido, pode-se dizer que toda a
obra de Lacan e um debate em torno da noção de sujeito. Um debate que envolve um trabalho de
crítica permanente e, ao mesmo tempo, um esforço de formalização.

O sujeito e um dos pontos centrais do debate de Lacan. E tanto e assim que, no fim, podemos dizer
que, para ele, o sujeito compõe, juntamente com o sintoma, o saber e o objeto, os quatro pontos de
apoio, os quatro términos que sustentam a noção de estrutura. Isso posto, cabe dizer que a expressão
do “estudo crítico dos princípios” refere a historia dos conceitos analíticos, nela incluindo-se a
historia da noção de sujeito.

Sendo assim, impõe-se a evidência de que, para a psicanálise, a noção do sujeito denota duas coisas:
uma função e um referente clínico. A função refere ao campo epistêmico. O referente clínico, a
prática da cura. Essa dupla inscrição representa uma anfibologia. Uma dualidade que deve ser
lembrada a todo o momento, pois o risco de deslizarmos de um plano a outro – do clinico para o
epistêmico. Com as conhecidas conseqüências. Um deslize em moto - continuo. E, no fim, uma
certa desordenação dos conceitos.
A conseqüência óbvia dessa dupla a descrição e a introdução de uma diferença no estatuto do
sujeito na teoria e na doutrina analítica singular.

“O afastamento das singularidades de ‘classe’ ou ‘gênero’ como


categorias conceituais e organizacionais básicas resultou em uma
consciência das posições do sujeito”(BHABHA, 1998, p.19/20).
Dessa doutrina evidencia-se:
Para a psicanálise o sujeito e uma coisa. A coisa em questão. E ao pé da letra. Simplesmente porque
o sujeito e uma questão. Seu estatuto varia conforme se adote a perspectiva da filosofia ou se tome
como referência a psicanálise. Tanto em um quanto em outro caso o sentido não pode ser o mesmo.
Em hipótese alguma. Isso nos obriga a realizar uma distinção no próprio conceito. Por
conseqüência, no seu manejo. Uma distinção impossível de desconhecer. Sobretudo numa época em
que, sob a pressão dos problemas da contemporaneidade, após o declínio da modernidade e da era
que ficou caracterizada pela primazia do discurso da ciência, impõe-se a discussão das alternativas
reais, assim como a pergunta pelos horizontes éticos da experiência humana. Trata-se de uma
distinção necessária e mais do que isso: fundamental, se quisermos integrar o debate sem perder de
vista a referencia que representa o discurso do analista.

“as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social,
estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o
individuo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado’’ (HALL,
Stuart, 2006, p.07, tese do Livro “A Identidade Cultural na Pós-
Modernidade’’)

A noção do Sujeito pós-modernista, segundo Hall, corresponde ao segundo deslocamento do sujeito


moderno cartesiano, deslocando-o, descentrando-o e fragmentando-o.

Esses descentramento e deslocamento se deram em virtude de cinco pontos e acontecimentos: as


tradições do pensamento Marxista de Marx a Althusser; a ‘’descoberta’’ do inconsciente coletivo
por Freud e seu desenvolvimento em Lacan; a Lingüística em Saussure; a relações entre
saber/poder/ processos de subjetivação-individuação em Foucault; e os movimento dos anos de
1960 como as revoltas estudantis, os movimentos juvenis, contra-culturais e antibeliscistas, as lutas
pelos direitos civis, os movimentos de libertação do terceiro mundo, os movimentos pela paz, os
ecologistas, a liberdade sexual, e principalmente o feminismo que teve um forte impacto nas
estruturas sociais modernas.

Esta perda de um ‘’sentido de si’’ estável é chamada, algumas vezes, de


deslocamento - descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo
social e cultural quanto de si mesmos constitui uma ‘’crise de identidade’’
para o indivíduo.
(HALL, 2006, p.09)
REFERÊNCIAS

GUATTARI, Félix. Restauração da cidade subjetiva. IN: Caosmose: um novo paradigma estético.
Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Ed. 34, 1992, pp 169-179.
LACAN, Jacques. La fonction de l’écrit. In: Le Séminaire. Livre XX. Encore. Paris: Seuil, 1984.
[1992], 279p. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A
Editora, 2006, 102p
HALL, S. Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro. DP.& A. 2000.
HARVEY apud Ribeiro. Cultura e política no mundo contemporâneo, p 26.
CANCLINI, N. G, La Globalización imaginada. Buenos Aires: Paidós. 2001
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade, São Paulo: Editora UNESP, 1991.
HARVEY, David. Condição pós-moderna- uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural, São
Paulo: Edições Loyola, 1996, 349 p.
BELLAMY, Richard. Liberalismo e sociedade moderna. Tradução por Magda Lopes.
FREUD, Sigmund (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição

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