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14º Dia e seguintes....

O grupo despediu-se de nós em direcção a Arupuinã a cerca de 130km dali com o fim de se irem recriar numa
cachoeira ali existente para depois seguirem para Juina onde supostamente nos iriamos encontrar na segunda-
feira e depois chegarmos a Nova Mutum a casa de um amigo do Sérgio para ai encerrarmos a Expedição em clima
de festa.

As peças chegaram eram 17h com o rapaz cansado, sujo de lama e contando da diabrura da viagem.

Olho para a caixa e de imediato desconfio, as peças não são iguais...e se desconfiei, ao abrir a caixa, confirmei. A
Bomba de água vinha errada (era mais pequena e diferente) e o Viscoso de igual forma, foi o desespero total...era
domingo e nada podia resolver ou tratar.

Consigo o contacto através do Heliomar de uma empresa em São Paulo que vende peças Land Rover, a Bearmach,
e na segunda-feira de manhã começa a novela para fazer conseguir chegar as peças correctas, que por sorte eles
tinham, a Colniza bem no meio e dificil de circular, Mato Grosso.

Eram 11h da manhã e todo o processo estava planejado, as peças chegariam o mais tardar na sexta-feira a Colniza
depois de virem de Sedex para Cuiabá e depois de terem saido de São Paulo. A partir de Cuiabá seguiriam o
processo normal de envio por empresa transportadora, que é a mesma dos Onibus, que servem os habitantes da
cidade e região.

O Junior decide, e com meu total apoio, ir embora nessa mesma tarde no Onibus das 19h para Cuiabá para chegar
ao Rio de Janeiro a tempo de um compromisso na sexta-feira e eu, fico entregue à descoberta da cidade de
Colniza e dos seus hábitos de vivência nos próximos dias.

Os dias eram passados entre acordar ás 7h para ir tomar café da manhã, dar uma olhada no e-mail, verificar onde
estavam as peças e dormir um pouco de novo até à hora de almoço, não havia motivação para mais. Almoçava e
voltava para o mesmo, indo e vindo a pé e variando os percursos para ir conhecendo a cidade.

A tarde era passada ora na conversa com alguém do hotel ora no computador mas acabava sempre por dormitar
porque não havia mesmo motivação para criar algo.

Quarta-feira à tarde as peças chegam a Cuiabá.

Quinta-feira à tarde, quase 3 dias depois de ter saido de Colniza, recebo noticias do Junior, finalmente, tinha
chegado a Cuiabá....1050km depois e em 3 dias!!!! As minhas peças iriam fazer o mesmo caminho de volta e em 2
etapas, e eu fiquei a pensar...só saio daqui no domingo.....

Para aumentar a agonia, os relatos dos companheiros que tinham saido na frente e no domingo, juntamente com
os que chegavam todos os dias de quem fazia aquela estrada entre Juina e Colniza, com a agravante da intensa
chuva que caiu nos ultimos 3 dias, não me deixavam nada tranquilo.

Sexta-feira fico a saber que as peças só tinham chegado a Juina nessa madrugada e que supostamente sairiam no
Onibus das 19h indo chegar sábado durante a manhã.

Sábado de manhã, depois de passar quase 1h a tentar saber de várias formas onde estavam as peças, porque o
Onibus tinha chegado e nada de peças, havendo a informação extra de que um camion da empresa e carregado
com encomendas estava avariado a 45km da cidade num enorme atoleiro, finalmente sei, que as peças não
tinham saido na sexta-feira ás 19h de Juina, mas sim na manhã de sábado... 

Nessa noite haveria “show” da famosa  banda de nome “Tarraxinha” que se instalaria por completo, eram
alguns 30, fazendo-se transportar num Onibus alugado. A cidade caiu no show por completo, eu cai na cama bem
cedo.
As peças chegariam durante a madrugada de domingo e a empresa abria as portas para entrega de encomendas a
quem quizesse. Combinei com o Edson no domingo de manhã montarmos as peças e ás 6.30h da manhã estava na
porta da transportadora. Finalmente recebia as peças ás 7.00h da manhã...

Depois de mil e um acontecimento para que as peças chegassem em Colniza, por fim, iria sair de Colniza. Eram
8.45m quando o Edson veio parajuntos irmos montar as peças. Tinha ido ao show e estava ainda sem dormir,  .

11.45h da manhã Saio de Colniza com tudo arrumado e tratado.

Face a tantos comentários negativos e tantos relatos que chegavam diáriamente sobre a rota Colniza-Juina-
Cuiabá, relatada também pelos restantes do grupo que tinham ido na frente, a opção de ir por outra rota em
direcção a Alta Floresta, Sinop e depois Cuiabá fazendo cerca de 200km a mais, era seguramente a melhor opção.
Por estar sózinho optei por esta solução.

Foi de facto muito mais pacifica e com as estradas de asfalto no final de melhor qualidade, como tinham
informado, mas também mais movimentadas com filas continuas de camions carregados de Soja principalmente a
partir das imediações de Sinop e até Cuiabá, eram ás dezenas.

A parte de Colniza até Cotriguaçu é muito bonita com um sobe e desce interessante em trechos estreitos e muito
verdes, e alguns atoleiros, onde é que eu já tinha visto isto antes??..eheheh, e até chegar à balsa são cerca de
190km que fiz em pouco mais de 4h num ritmo muito vivo e sem ter encontrado dificuldades nem trânsito.
Apenas parei em Cotriguaçu para abastecer.
Atravessada a balsa ás 17h conjuntamente com 2 camions e seus respectivos condutores, demoraria 1h a travessia
dos cerca de 5km rio abaixo tendo conversado com os motoristas e ficado a saber da existência de 2 Sucuris de
imponente tamanho residentes fixas das redondezas, uma delas, é inclusivé ponto de atracção e visita pelos locais
que se fazem deslocar nas suas “voadeiras” até bem perto de uma enorme pedra, visivel da Balsa, onde em dias
de muito sol a dita se expôe ao sol deixando se contemplar. A outra habita perto do embarcadouro da Balsa e há
relato (e por isso a descobriram) de ter morto uma criança que se banhava nas margens do rio há uns anos a esta
parte.

Não consegui tirar fotos das Sucuris para confirmar os relatos, estava a pôr-se o sol e elas deviam de andar
ocupadas à procura do jantar noutras paragens por certo.
Andei uns 10km depois de ter saido da Balsa e a roda traseira esquerda dá uma pancada muito forte numa pedra
bem fixa e saliente na trilha que provoca um corte muito grande na lateral interior do pneu e ainda provocando
uma batata bem visivel no interior da roda obrigando-me a usar o pneu suplente. Foi rápida a mudança do pneu,
tanto assim que já estava quase a acabar a mudança quando chegam os 2 camions que tinham saido da balsa
quando eu e que param para me fazer companhia até ao final da operação.

Saio com pressa porque queria tentar chegar a Alta Floresta nessa noite, e faltavam cerca de 250km até ao
destino.

Passo a primeira povoação a 25km da balsa e sigo para a seguinte a cerca de mais 65km onde rapidamente
cheguei, as trilhas já se faziam quase em piloto automático e não havia erosões nem muitos buracos. Começo a
sentir umas falhas de alimentação de combustivel aqui e ali ao acelerar mais forte. Chego perto das 20h na cidade
de Nova Monte Verde. Abasteço e procuro um restaurante para comer, tinha saido de Colniza e não tinha comido
nada mais do que água e algumas bolachas, estava com fome.

Eram cerca das 21.30h e faltando 160km de Trilha e 40km de asfalto, pensei..vou arriscar e tentar, e fiz-me ao
trilho.
Mas não iria longe, durante os 7 a 8km seguintes o carro continuou a falhar e eu pensei, entrou alguma porcaria
em Cotriguaçu quando abasteci e agora que enchi o tanque, piorou, pensei eu-

Tentei continuar, mas não deu mesmo, parou de vez ali no meio do nada com as luzes da cidade bem longe e
debaixo de uma Lua Grande e luminosa que deixava a paisagem parecer a hora do nascer do Sol.

Tinha filtro de combustivel suplente e pensei em trocar o filtro e sangrar todo o circuito para ver se resolvia o
problema para poder seguir. Assim o fiz e o diesel saía perfeitamente no circuito e nos bicos o que me deixou
destroçado sem saber mais onde mexer por desconhecimento mecânico.

O carro não trabalhava de jeito nenhum, no entretanto chegam 2 cidadãos de motocicleta e peço ajuda para tirar
o carro do trilho para encostar e poder dormir no carro. Era necessária a ajuda de um mecânico para resolver o
problema.

Eram 22.30h, não tinha conexão de telefone e não me restou outra chance, dormir dentro do carro mesmo para
de manhã procurar solução na cidade nalgum mecânico.

Mas, o próximo veiculo passou em direcção à cidade perto da 1h da manhã e eu acordei e saltei do carro a pedir
que parasse para me rebocar daquele local ermo para a Cidade. O motorista conhecia uma oficina especialista em
Bomba Injectora acedeu. Deixou-me na porta da oficina onde dormi o resto da noite até chegarem os operários ás
6.45h. Choveu de madrugada muito forte não me deixando dormir quase nada.

Começaram a mexer no carro ás 7h, e foram repetir os mesmos passos que eu tinha feito na procura do problema,
demorando quase 1h a descobrir que não chegava corrente 12V à bomba injectora, chamaram o electricista e
quando este chegou, demorou 15m a resolver o problema, o cabo de alimentação de corrente, que estava junto
da instalação do alarme, estava cortado devido a tanto salto e vibração, cabo novo e o motor fazia-se ouvir de
novo. Mais um problema que fiquei a saber de solução, vivendo e aprendendo e mais um ponto a rever na
próxima revisão, isto apesar de ter refeito muita da parte eléctrica do carro aquando da sua preparação, mas a Lei
de Murphy é implacável como todos nós sabemos.

Bom, eram quase 10h da manhã, comprei alimentos, tomei um bom pequeno-almoço dentro da oficina, descansei
um pouco e sai na direcção de Alta Floresta onde chegaria sem mais incidentes 4h depois.

Bonita a trilha com longas rectas rodeadas de enormes fazendas e muito gado. Atoleiros nem vê-los e já perto do
asfalto, uns 20km aproximadamente, já tinham cruzado comigo 4 maquinas niveladoras que avançaram desde o
asfalto para dar um jeito na pista, podendo rolar a cerca de 80kmh tranquilamente.
O fim do trilho...a partir daqui só asfalto, 30km, até Cuiabá.

Procurei um hotel, que recomendo a quem precisa na cidade, o Hotel Mato Grosso, tomei um banho daqueles
merecidos, jantei cedo e ás 21.30h estava na cama.
No dia seguinte enfrentei 820km até Cuiabá onde cheguei perto das 20h levando menos de 10h no total do
trajecto. Os primeiros 200km depois de Alta Floresta até encontrar a BR-163 são muito perigosos apesar de
asfaltados, porque tem muitos buracos, e alguns deles profundos, que exigem muita atenção, e no meu caso que
queria e precisava de chegar a Cuiabá sem mais problemas, muito mais.

Por fim cheguei, deixei o carro no transportador, jantei e ás 3h da manhã locais apanhei o avião para Joinville.

A Expedição terminou e estamos todos mais ricos em sabedoria e vivência com toda a certeza.

A vida de gente aventureira e destemida é feita de pedaços destes que nos enchem de saber e nos fazem viver
mais e melhor e saber compreender melhor locais, as gentes e as suas culturas e saber essencialmente dar valor à
vida e à fauna e flora tão severamente castigada que nos rodeia.

Como afinal de contas só existe uma vida, temos de a viver e o mais intensamente possível.

Viajar é seguramente uma forma inigualável de enriquecer a nossa sabedoria, a nossa alma, e melhorar a nossa
forma de ser e de estar de forma natural convivendo com gente e seus hábitos sempre distintos dos nossos, e
quanto mais aventureira e exótica for, concerteza, mais enrequecedora será.

Considero de todas as viagens que já fiz até aos dias de hoje que a relação humana entre viajantes ou entre
viajante (quando viajo sózinho) e as gentes que vou encontrando é o maior e melhor desafio de viajar.

A todos os que estiveram presentes antes, durante e depois, e que me acompanharam de uma forma ou de outra
à distância, sendo eles familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos, o meu sincero obrigado por partilharem
comigo mais esta aventura.

Até breve num qualquer relato de mais uma viagem pelo Mundo desconhecido.

Afonso Cerejo

04-2011

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