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Nº: 25151
Universidade de Évora,
24/01/2011
Introdução Pág. 5
1 - Origens Pág. 6
2 – Guitarra Renascentista Pág. 7
3 – Guitarra Barroca/Espanhola Pág. 9
4 – Guitarra Clássica Pág. 14
5 – Guitarra Moderna Pág. 18
6 – Conclusão Pág. 21
7 – Bibliografia Pág. 22
O termo “guittern” surge com frequência na Idade Média para designar um instrumento feito
de apenas uma peça de madeira e com fundo redondo. Era um instrumento pequeno e tocado com
uma palheta. Quando os instrumentos começaram a ser construidos através da junção e colagem de
diferente partes o antecessor da guitarra surgiu, no final do séc. XV.
A guitarra renascentista, quando comparada com a actual, era bastante mais pequena e mais
estreita, as ilhargas possuiam uma curvatura muito menos acentuada e a roseta no orificio do tampo
era extremamente trabalhada. Tinha trastos de tripa que eram móveis. Possuía quatro ordens de
cordas (cordas duplas) de tripa (tal como os alaúdes e, mais tarde, a vihuela) que eram afinadas em
quartas e terceiras, sendo a primeira ordem simples (apenas uma corda).
A questão da afinação é complicada, uma vez que, ao contrário do que acontece hoje em dia
e que foi definido no final do séc. XVIII, não havia uma afinação padronizada e universal. A única
certeza é que foi influenciada pela afinação do alaúde. Segundo Juan Bermudo, no seu “El libro
llamado Declaración de instrumentos musicales” (Osuna, 1555), havia dois tipos de afinação
conforme o tipo de reportório que se queria tocar:
– g′/g–c′/c′–e′/e′–a′ (temple nuevos)
– f′/f–c′c′–e′/e′–a′ (temple viejos)
A afinação temple viejos era utilizada para tocar antigos romances e música arpejada. A
afinação temple nuevos era a mais adequada à música moderna.
Ambas as afinações têm uma caracteristica em comum: o último par de cordas é afinado não
em uníssono, como as outras ordens, mas em oitava dando origem ao “bordão” - a corda mais
grave.
Técnica
A técnica da mão direita também foi influenciada pela técnica de alaúde, usada para tocar
música polifónica. Deixou de se usar a palheta e passou e usar-se os dedos pulgar, indicador e
médio, com o mindinho apoiado no tampo ou no cavalete para estabilizar a mão. Também surgiu a
técnica do rasgueado, que consiste em passar repetidamente os diferentes dedos pelas cordas.
A música para guitarra renascentista era escrita segundo o mesmo sistema notacional
utilizado para o alaúde e vihuela: a tablatura.
A tablatura é uma forma de escrever a música indicando fisicamente cada nota, ou seja,
dizendo em que posição o intérprete deve pisar a corda. Haviam dois sistemas de tablatura em
vigor, que partilhavam a mesma base. Eram utilizadas quatro linhas, cada uma delas representando
uma ordem. Em Espanha e Itália a linha mais baixa representa a ordem mais aguda (estabelecendo
uma relação fisica/visual entre o instrumento na posição para ser tocado e a música). O contrário
acontecia na França (relação entre a linha mais alta e a ordem mais aguda). O sistema espanhol
utilizava números para indicar o trasto a ser pisado (0 – corda solta, 1- primeiro trasto, etc.). O
sistema francês usava letras (a - corda solta, b- primeiro trasto, etc.). O ritmo era escrito por cima de
cada pauta.
Repertório e Intépretes
Ao contrário do que é a ideia generalizada, não foi sempre em Espanha que a guitarra teve o
seu epicentro de acontecimentos. No período em questão foi principalmente em França que a
guitarra foi melhor acolhida e valorizada. Era o instrumento favorito do rei Henrique II e os grandes
compositores franceses da época escreveram para guitarra.
As publicações mais marcantes são as de Granjon e Fezandat com música de Guillaume
Morlaye e Simon Gorlier e Le Roy and Ballard com música de Adrian Le Roy e Grégoire
Brayssing. Estas publicações são dos primeiros anos de 1550. Nestes livros encontram-se conjuntos
de danças, intabulações de chansons e fantasias. O segundo e quinto livros de Le Roy são
inteiramente dedicados a repertório para voz e guitarra.
É, no entanto, em Espanha que se encontra o primeiro registo de música escrita para guitarra
na publicação de Alonso Mudarra “Tres libros de musica en cifras para vihuela” (Seville, 1546).
Alonso Mudarra, virtuoso da vihuela e grande compositor, dedica no seu livro com música,
essencialmente, para vihuela algumas peças à guitarra: quatro fantasias (uma nos temple viejos),
uma ‘pavana’ e umas variações de O guardame las vacas.
Em Itália também já se escrevia para guitarra. Exemplo disso é o livro para alaúde de
Melchiore de Barberiis “Opera intitolata contina … Intabolatura di lauto … libro decimo” (1549)
onde se encontram quatro fantasias para guitarra e Alberto da Rippa (c. 1551) que também escreveu
algumas fantasias para guitarra de quatro ordens.
Não podemos esquecer que, durante o séc. XVI,
principalmente, entre 1535 e 1546 (período durante o qual foram
publicados os mais importantes livros de música para vihuela
pelos maiores compositores e virtuosos do instrumento: Luys de
Narvaez, Alonso Mudarra, Luis de Milan, Miguel de Fuenllana,
entre outros), em Espanha, a vihuela era o instrumento predilecto
da aristocracia e da nobreza, simbolizando a renúncia ao passado
em que os árabes ainda habitavam e dominavam territórios
espanhois (daí a decadência do alaúde – instrumento trazido pelos
árabes) e a afirmação do poderio, da independência, da
ostentação, do catolicismo e da nova riqueza não só espanhola,
mas ibérica.
Apesar disto, e do papel secundário da guitarra, uma vez
que era um instrumento mais limitado do que a vihuela ou o
Notação
No final do séc. XVI surgiu uma forma notacional especifica para a guitarra de cinco ordens
– um sistema de símbolos para representar acordes de cinco notas. Supõe-se ter aparecido pela
primeira vez num manuscrito italiano de 1580. Por baixo de palavras ou de sitios onde haviam
mudanças na harmonia apareciam letras minúsculas do alfabeto, represantando acordes específicos.
Algumas fontes espanholas substituem o alfabeto por números, mas a notação italiana do alfabeto
foi a que se tornou mais comum. Este tipo de notação implicava que
o executante fosse capaz de pensar em termo de blocos verticais de
harmonia.
O primeiro registo impresso do sistema do alfabeto é
“Nuova inventione d’intavolatura per sonare li balletti sopra la
chitarra spagnuola, senza numeri e note” (Florença, 1606) de
Girolamo Montesardo. Durante o ínicio do séc. XVII surgiram
muitos livros dedicados a este sistema, escritos por diferentes
compositores: Foriano Pico (1608), G.A. Colonna (1620, 1623,
1637), Sanseverino (1620), Carlo Milanuzzi (1622, 1623, 1625),
Millioni (1624, 1627), Millioni e Lodovico Monte (1627, 1637,
1644, etc.), G.B. Abatessa (1627, 1635, 1650, 1652), G.P. Foscarini
(1629), Tomaso Marchetti (1635), Corbetta (1639), Agostino
Trombetti (1639), Antonio Carbonchi (1643), Carlo Calvi (1646),
Giovanni Bottazzari (1663), Giovanni Pietro Ricci (1677) e Antonio
di Michele (1680).
Além dos livros para guitarra solo há uma enorme
quantidade de publicaçãoes de árias italianas acompanhadas pela
guitarra escritas por alguns dos melhores compositores: Stefano
Landi (1620, 1627) e Sigismondo d’India (1621, 1623), Andrea
Falconieri, G.G. Kapsperger, Milanuzzi, G.B. Vitali, Biagio Marini,
Guglielmo Miniscalchi, Allessandro Grandi, Monteverdi
(Milanuzzi, 1624, RISM 16347), Frescobaldi (VogelB 1621²),
Domenico Mazzochi (RISM 1621¹6) e Cavalli (RISM 16347).
Os guitarristas deste período eram também executantes de
baixo contínuo, ainda que a guitarra não tivesse um registo grave, a
linha seria feita por, por exemplo, um violoncelo, e o guitarrista executaria o resto do contínuo.
Técnica
Foi na segunda metade do séc. XVIII que a tablatura (e também o sistema de alfabeto) foi
definitivamente abandonada e se adoptou o sistema de claves, escrevendo em clave de Sol, soando
o som real uma oitava abaixo do que aquilo que é realmente escrito – sistema que perdurou até hoje.
Repertório e Intépretes
Técnica
A partir do surgimento da guitarra moderna várias mudanças,
que já se tinham visto nos séculos passados tornaram-se prática
comum: o apoio da guitarra na perna esquerda, a não utilização do mindinho, a utilização do anelar,
a utilização do apoyando e tirando e, mais tarde, a utilização das unhas da mão direita.
Com este novo instrumento surgiu uma nova fase da guitarra, agora sim, com principal foco
em Espanha.
Num período em que a guitarra era considerada apenas um instrumento de acompanhamento
e o piano dominava a produção musical, surge uma figura que ajudaria a mudar o rumo da história
da guitarra.
Francisco Tárrega (Villarreal, Castellón, 21 Nov 1852; Barcelona, 15 Dec 1909), com
apenas 10 anos, foi convidado por Julian Arcas para estudar guitarra com ele em Barcelona, após
este ter dado um concerto a que Arcas assistiu. Após muitas peripécias, em 1869 adquiriu uma
guitarra de Antonio Torres e em 1874 entrou no Conservatório de Paris onde estudou teoria,
harmonia e piano.
Nos anos 70, Tárrega já dava vários concertos e era professor de Miguel Llobet e Emilio
Pujol (seus futuros seguidores, além de Daniel Fortea e Josefina Robledo). Nos anos 80, após
recitais em Paris e Londres, era apelidado como “o Sarasate da guitarra”. Do seu grupo de amigos
faziam parte figuras do romantismo espanhol como: Isaac Albéniz, Enrique Granados, Joaquin
Turina e Pablo Casals.
Começa, por essa altura a compôr as suas primeiras obras para guitarra, tendo composto
algumas das mais famosas obras como são o Recuerdos de la Alhambra ou Capricho Árabe.
Com o conhecimento do piano que Tárrega tinha, dado o dominio do piano na cena musical
e dada a escassez de repertório para guitarra, Tárrega dá inicio àquilo que seria, a partir daí, uma
prática comum entre os guitarristas – a transcrição de obras de outros instrumentos.
De entre as várias transcrições (cerca de 120) de Tárrega contam-se obras de Beethoven,
Chopin, Mendelssohn e Isaac Albéniz que ainda hoje fazem parte do repertório guitarrístico.