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Redação

Agreste de Newton Moreno

Agreste é múltipla em forma e em tema ela é de


caráter narrativo e aspecto pós dramático. Escrita
por Newton Moreno. A fábula que narra a estória
de um casal de lavradores nordestinos aborda
temas intensos: preconceito social, ignorância,
amor incondicional. Podemos dizer que, sobretudo,
o enredo da peça gira em torno da complexidade
das relações humanas.

Dália Nídia.*
Análise Crítica da Obra Agreste de Newton Moreno

Agreste é múltipla em forma e em tema ela é de caráter narrativo e aspecto pós


dramático. Escrita por Newton Moreno. A fábula que narra a estória de um
casal de lavradores nordestinos aborda temas intensos: preconceito social,
ignorância, amor incondicional. Podemos dizer que, sobretudo, o enredo da
peça gira em torno da complexidade das relações humanas.

Agreste traz um “causo de amor” narrado por um contador de histórias. Não se


trata, no entanto, do amor idealizado, romântico, por vezes banalizado. É o
amor em seu estado mais abstrato: aquilo que não é possível descrever ou
explicar, apenas sentir. Esse caráter “invisível” do amor está presente em
diversos momentos da peça. O próprio narrador, durante uma reflexão onde se
confundem os pensamentos do contador com os da viúva, faz a seguinte
pergunta “Amor? o que seria isso? Dor e alívio?”. Dor e alívio, pois é esta a
sensação que a viúva tem ao lembrar-se da mãe. E pensa nela como forma de
refúgio. Em um momento anterior, quando questionada sobre o amor que tem
por seu falecido esposo (“Você o ama?”), Maria responde “Num sei o que é
isso não. Eu queria ir mais ele.” Esse “ir mais ele” não seria uma forma de
alívio da dor que a perda lhe causa?

A morte de Etevaldo é o motivo da reviravolta no “causo de amor”. A viúva, que


nunca se vira por inteira, ignorante da própria sexualidade, também nunca vira
seu marido nu. Assim, duas velhas encarregadas de vestir o morto descobrem
que ele é, na verdade, uma mulher travestida em homem. Se Etevaldo e sua
mulher eram “um casal benquisto”, deixam de sê-lo e passam a “filhas do
demo”. Eis o preconceito, a ignorância e a intolerância de uma sociedade
patriarcal, conservadora e hipócrita. A viúva não é capaz de compreender a
dimensão daquela descoberta: “A viúva não entendia nada. Não entendia a
morte. Não entendia homem. Naquele momento, só entendia a perda.” Para
ela, a pessoa morta não é homem, nem mulher, nem nada: é Etevaldo, seu
companheiro que “desapareceu a ela”.

O texto de Newton Moreno tem uma estrutura aberta, mais de provocação do


que naturalista. O texto da peça tem três grandes blocos:

 O primeiro é o tempo mítico. “Ele andava muito para encontrá-la.” Tudo


é indeterminado.

 No segundo bloco, “naquele dia, naquela manhã...”, é o tempo focado.


É o tempo do acontecido. O tempo da relembrança do acontecimento, do fato.
E o tempo da urgência do acontecimento, do esclarecimento e suas decisões.
Não existe psicologia. Existe uma mudança rítmica e melódica na fala limpa,
cadenciando a respiração e alterando o estado do espectador pela construção
de ritmos alternados em que, ávido por companhar o causo, ele é colocado em
outro estado. Ativo.
Aqui aparecem as primeiros escritos, nas repetições do que teriam sido: o riso
dele ao vêla, a felicidade dela, o êxtase, a apresentação da sonoridade da fala
folclórica dos conversadores.
O primeiro movimento. Girar a cabeça para conversar com o outro.
“— Chegaria no mar de tanto passo.
“— Chegaria se tivesse corrido esse tanto de chão pro outro lado.”
E a complementação do pensamento de um no outro. São dois. São um.
Surgimento do estado de consciência, e a tomada de decisão.
Voltar ou continuar o caminho da opção feita.

 O terceiro é a condição psicofísica dos personagens.


“O sol”, “muito tempo caminhando”.
“— Deitaram os corpos na sombra de um mandacaru. Na margem do que fora
um riacho.”
A alucinação, visões. O encontro com outra realidade. A explosão da vida. E
morte.

A obra Agreste, pode ser chamada de Peça que faz a gente pensar, um tapa
na cara de todos nós. O enredo inicial nos faz querer que os dois: Etevaldo e
Maria fiquem juntos, todos ficamos louco para que o Contador fale sobre o
encontro e etc; o segundo enredo é quando eles ficam juntos, e nós sentimos
uma felcidade imensa, assim como os filmes que sempre o “The Happy End”,
(O Final Feliz). Porém quando Etevaldo morre, o Final Feliz vira Final Triste e
trágico, nada do que esperávamos ficou concluído neste estória. A morte do
Etevaldo vira uma repercursão, pois descobrimos que “ele, é ela”, e ficamos
pasmos, não só nós leitores, como o próprio povo daquele vilarejo. O povo a
gente espera que fiquem espantados, mas ao contrário disso, cria-se uma
revolta em massa, a Maria, não sabe de nada e ao invés de falar que ela
amava Etevaldo, ela só sabe dizer “Eu queria ir mais ele”. A revolta se espalha,
o padre seria a última esperança de salvação para nós leitores, mas nem ele,
pôde salvá-lo, daí vem o delegado, um sem escrúpulos, chega e a ofende. A
cada reviravolta nós leitores, vai caindo num poço sem fundo. Até que por fim,
chega a hora da provável salvação, e risca-se o primeiro fósforo, e o fogo toma
de conta de cada parte da casa, inclusive do corpo vivo de Maria. É o fim.
Triste fim, o fim que ninguém espera ter, o fim que ninguém espera ler ou ver.

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