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Por estar lidando com as lutas diárias dos peritos em Papiloscopia há anos, buscaremos
desenvolver o histórico da identificação no Brasil sob uma visão estritamente sindical.
Logicamente, trata-se de uma visão crítica, pois que analisada sob a ótica sindical. Mas
deixamos claro nosso respeito a tudo o que se tem tentado fazer, de forma diversa, pelo
crescimento da Papiloscopia, exatamente por conhecermos a atuação de incontáveis abnegados
que arduamente dão seu esforço para o engrandecimento dessa Ciência.
Introdução
Por estar lidando com as lutas diárias dos peritos em Papiloscopia há anos, buscaremos
desenvolver o histórico da identificação no Brasil sob uma visão estritamente sindical.
Logicamente, trata-se de uma visão crítica, pois que analisada sob a ótica sindical. Mas
deixamos claro nosso respeito a tudo o que se tem tentado fazer, de forma diversa, pelo
crescimento da Papiloscopia, exatamente por conhecermos a atuação de incontáveis abnegados
que arduamente dão seu esforço para o engrandecimento dessa Ciência.
Incontestável afirmação, entretanto, nos impõe atestar ser muito difícil reconhecer o uso
indiscriminado de pessoas e situações para fins não altruístas nestas plagas; mormente por nos
encontrarmos invariavelmente envolvidos por propagandas distorcidas, cujos fins primários
estão muito distantes dos princípios desenvolvidos pelos profissionais da identificação humana
na busca real por um mundo melhor e mais justo.
Todas as informações aqui contidas foram colhidas em pesquisas efetuadas nos maiores centros
de informação histórica do país: Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Museu da República,
Senado Federal, etc.
A Justiça, frise-se, ainda possuía largas ligações com a polícia, haja vista que só
ocorreu a desvinculação destas duas instituições em 1927, pois o intendente geral de
polícia, anteriormente, também comandava o Poder Judiciário.
Ainda se iniciava no Brasil os estudos sobre a medicina legal, o que veio a se tornar
mais forte em meados de 1800 (de 1850 em diante), principalmente nas
universidades (da Bahia e do Rio de Janeiro). Havia uma forte resistência dos médicos
localizados nestas universidades em vincular a nascente atividade de medicina legal
aos organismos policiais. Uma parte dos médicos era favorável e a outra radicalmente
contrária; esta última entendia a atividade médico-legal como essencialmente
científica e ligada indissolúvel e exclusivamente às universidades.
O fato é que a medicina legal não se prestou a fazer o papel exigido pela nova
concepção de polícia que se formava no momento. Muito menos se prestava a realizar
o papel de trabalho conjunto entre investigação e perícia, exigido para o ideal de
polícia técnica que se formava. Não se adequava à elucidação dos novos tipos de
crimes que surgiam, cada vez mais complexos e exigindo uma diversidade de
conhecimentos não dominados pelos legistas. Suas inumeráveis atribuições também
não lhes permitiam.
E no vácuo deixado pelos médicos legistas, exatamente para suprir essa lacuna, surge
a necessidade de criação de um novo departamento. Desta forma, é que surgem os
institutos de identificação. Nascem para dar cabo à complexidade dos novos delitos
surgidos; bem como, e mais importante, para fazer atuar em conjunto o perito
responsável pela investigação e o perito detentor das ciências aplicáveis à elucidação
dos delitos.
Foi a época do boom da Papiloscopia no Brasil. O Departamento de Identificação era a
coqueluche do momento. Tudo girava em seu entorno. Nessa época chegou-se a
cogitar a transformação da Polícia Civil numa Polícia Técnica, tal a operacionalidade
do Departamento de Identificação. Os peritos do Departamento eram responsáveis
pela realização de todas as perícias exigidas pelos crimes em voga naqueles tempos, à
exceção da determinação da causa mortis, que continuava com os legistas.
Os profissionais da Papiloscopia já eram, inquestionavelmente, chamados de peritos,
e ninguém duvidava de tal afirmativa. No Departamento de Identificação se
localizavam os laboratórios periciais, o laboratório fotográfico (a fotografia chegava
ao Brasil naqueles tempos) e o quadro de peritos da Polícia Civil.
Mas, duas coisas caminhavam paralelas, tais como hoje ainda se vê: a identificação
civil e a identificação criminal. Com a crescente complexidade dos crimes e
aparecimento de um sem número de outros, o pouco investimento pelo governo no
departamento (poucos peritos, falta de materiais, falta de cursos de especialização,
etc), e o que é o principal, com o aumento populacional, o que fez voltar basicamente
as atividades para a identificação civil (dava e ainda dá muitos votos), foi-se
paulatinamente perdendo terreno, surgindo daí a necessidade de criação de um novo
departamento para levar a contento as tarefas às quais eram os Departamentos de
Identificação incumbidos, e para fazer trabalhar, de fato, os peritos em ciências
policiais e o perito em investigação, objetivo maior do nascimento do chamado ideal
de criação da polícia científica.
Assim, foram os peritos em Papiloscopia perdendo terreno pouco a pouco, chegando
aos tempos atuais alijados do ideal para o qual foram realmente criados: ser a polícia
que a sociedade exigia, técnica, científica, voltada para a união de investigação e
perícia na busca da elucidação dos delitos. O principal fator da decadência dos
Departamentos de Identificação, entretanto, relato linhas adiante.
Paralelamente a esse enfraquecimento, um novo departamento se fortalecia: o
Gabinete de Pesquisas Científicas. Este Departamento (Gabinete) era responsável,
inicialmente, pela realização de pesquisas voltadas para o auxílio das atividades
desenvolvidas pelos peritos da polícia (então peritos do departamento de
identificação) e pelos investigadores. Era composto basicamente de químicos e
destinava-se aos exames laboratoriais de uma gama de matérias levantados nos
locais de crimes. Deste departamento (Gabinete) nasceu, indubitavelmente, o que
hoje chamamos de departamento de criminalística.
Era a própria Polícia Técnica dos tempos modernos, com seu ideal voltado para a
prestação de um serviço eficiente à população, produzindo provas irrefutáveis para a
condenação dos criminosos.
Posso garantir a todos que os primeiros profissionais do Estado a receberem esta
denominação, qual seja, a de perito oficial, foi o perito em Papiloscopia. Os
profissionais dos departamentos de medicina legal eram chamados de médicos
legistas e os profissionais dos gabinetes de pesquisa científica (hoje departamentos
de criminalística) eram chamados de químicos. Portanto, os peritos dos
Departamentos de Identificação foram os primeiros a receber tal denominação.
Mas, como todo fato histórico que se preze, duas vertentes caminhavam passo a
passo: uma, construída por idealistas; outra, construída pelos inúmeros governantes
brasileiros e aos Institutos de Identificação imposta.
Concomitantemente ao ideal de polícia científica, o Governo do Brasil possuía outras
intenções a respeito da utilização do Departamento de Identificação (má utilização,
diga-se de passagem).
Em 1934, movido por uma onda de violência que assolava o Brasil (o Rio de Janeiro
era a capital da República), com o aumento vertiginoso dos roubos, furtos, uso de
narcóticos, assassinatos, etc, conforme amplamente noticiado pela imprensa à época,
realiza-se no Rio de Janeiro o Primeiro Congresso de Identificação do Brasil. Neste
Congresso, patrocinado por empresas norte-americanas que desejavam vender suas
tecnologias ao país, são traçados os novos rumos a serem seguidos pelo
Departamento de Identificação; rumos estes a serem aplicados em todo o território
nacional.
Realizado sob o Governo de Getúlio Vargas que, devido às suas notórias ligações com
o nazismo de Hitler, pretendia estabelecer uma política de estudos eugênicos
(estabelecimento das qualidades físicas e mentais do homem) para determinar o
estereótipo do criminoso brasileiro.
Para tanto, o local escolhido para estes estudos foi o Departamento de Identificação.
Fortaleceu-se, nessa época, uma seção do Departamento - a Seção de Antropologia -,
convidando-se para dela fazer parte um grupo de médicos legistas (antropólogos) que
foi incumbido dos estudos referentes à estipulação do biótipo do criminoso brasileiro.
Os médicos legistas incumbidos dos estudos que levaram à estipulação do biótipo do
criminoso brasileiro parecem ter sido escolhidos a dedo, pois eram fervorosos adeptos
de Cesare Lombroso.
Lombroso tentou relacionar certas características físicas, tais como o tamanho da
mandíbula, à psicopatologia criminal, ou a tendência inata de indivíduos sociopatas,
com o comportamento criminal. Assim, a abordagem de Lombroso é descendente
direta da frenologia, criada pelo físico alemão Franz Joseph Gall no começo do século
IX e estreitamente relacionada a outros campos da caracterologia e fisiognomia
(estudo das propriedades mentais a partir da fisionomia do indivíduo). Sua teoria foi
cientificamente desacreditada, mas Lombroso tinha em mente chamar a atenção para
a importância de estudos científicos da mente criminosa, um campo que se tornou
conhecido como antropologia criminal.
A principal idéia de Lombroso foi parcialmente inspirada pelos estudos genéticos e
evolutivos no final do século IX, e propõe que certos criminosos têm evidências físicas
de um "atavismo" (reaparição de características que foram apresentadas somente em
ascendentes distantes) de tipo hereditário, reminiscentes de estágios mais primitivos
da evolução humana. Estas anomalias, denominadas de estigmas por Lombroso,
poderiam ser expressas em termos de formas anormais ou dimensões do crânio e
mandíbula, assimetrias na face, etc, mas também de outras partes do corpo.
Posteriormente, estas associações foram consideradas altamente inconsistentes ou
completamente inexistentes, e as teorias baseadas na causa ambiental da
criminalidade se tornaram dominantes.
Rios de dinheiro público foram aplicados naqueles estudos. Tudo contando com o
apoio dos grupos empresariais estrangeiros que tencionavam vender suas tecnologias
ao Brasil e dominar o emergente mercado da identificação. Isso para não se imaginar
o pior.
Ignorando todo o avanço já desfrutado pela Ciência Papiloscópica e os métodos
desenvolvidos por Juan Vucetich, voltado exclusivamente para fins de
individualização científica (e não segregacionista) dos seres humanos e ferramenta
imprescindível à elucidação dos crimes, passou-se a utilizar com ênfase incontrolável
neste período um método de identificação desenvolvido por Alfonse Bertillon: a
antropometria. Os fins almejados com estes estudos são questionados por inúmeros
historiadores, que o definem como um crime cometido contra o povo brasileiro, tal a
desfaçatez com que foi utilizado.
Os criminosos estudados basicamente eram os oriundos das raças parda, mestiça e
negra. O Departamento de Identificação virou uma central de medições de seres
humanos e uma fábrica de criação de criminosos estereotipados. Ao final, a conclusão
a que chegaram foi de que o criminoso brasileiro era: uma figura de cor negra, nariz
de barraca, com testa pequena e braços longos, lembrando um macaco.
Em primeiro lugar, temos que definir que tipo de polícia temos e que tipo de polícia
queremos ter. Recentemente, li um artigo publicado num dos jornais de Vitória, no
qual se propunha que as forças de segurança pública do país se espelhassem nas
forças anglo-americanas que atacaram o Iraque, objetivando dar um basta à
crescente onda de violência e criminalidade que se abate sobre o país.
Segundo este artigo, deveríamos utilizar a experiência da guerra feita no Iraque para
aplicá-la na invasão de favelas e nos demais locais atingidos pelo domínio dos
criminosos. Assim, faríamos incursões aéreas nessas áreas, distribuindo panfletos
alertando sobre a futura invasão; bombardearíamos aquelas populações flageladas
com material de propaganda contra o crime e os criminosos; passaríamos todas as
noites subseqüentes atordoando a população do local a ser “invadido” com música e
outros tipos de barulho ensurdecedor (sugerimos 24h com a voz de Xoxoró, pois os
favelados se entregariam mais facilmente - brincadeira); e logo após iniciar-se-ia uma
invasão comandada por tanques de guerra, reduzindo a pó não só os bandidos, mas
principalmente a população honesta que nada tem a ver com o problema, pois é tão
vítima dos bandidos quanto a população que não reside nas favelas. Isto porque todos
sabemos que o Estado há muito está ausente naquelas localidades e não presta o
mínimo apoio a quem nelas reside.
Enfim, se é este tipo de polícia que queremos, podemos encerrar a discussão sobre
polícia técnica neste momento porque neste tipo de combate a violência, a polícia
técnica é desnecessária. Este tipo de polícia representa uma volta triunfal do arbítrio
e dos tempos remotos em que a polícia primeiro prendia para depois investigar.
Podemos, por outro lado, optar por uma polícia conforme manda o moderno
pensamento direcionado às forças de segurança pública: uma polícia cidadã, uma
instituição pública que, antes de ser instituição, é pública; com policiais plenamente
integrados à comunidade, defendendo posturas democráticas e voltadas única e
exclusivamente para a elucidação dos delitos.
Neste tipo de polícia, a polícia técnica é imprescindível.
Em segundo lugar, devemos discutir o problema da inteligência nacional. Todos
sabemos que os centros de inteligência nacional, historicamente, são as
universidades. Temos outros centros de inteligência, é claro, mas de acesso menos
restrito a todos, inclusive policiais.
Todos conhecemos, também, o distanciamento histórico existente entre os mais
diversos setores das universidades e as forças policiais brasileiras. Isto se deve ao
mau uso das polícias no passado, principalmente durante o período da ditadura,
quando foi criada a polícia política dentre dos órgãos da polícia civil, perpetrando esta
um ataque aos mais variados escalões universitários; ataque este descompromissado
dos reais interesses do povo.
Criou-se, inclusive, no âmago das forças policiais, o protótipo do criminoso político:
branco, classe média, rebelde, contestador, comunista, baderneiro e universitário.
Essa política imposta às forças policiais ocasionou um distanciamento entre os
integrantes das polícias e os centros de inteligência do país – as universidades - ainda
hoje não superado, e que talvez jamais o seja.
Então, vejamos que se torna uma tarefa hercúlea falar em inteligência policial, ou
outro qualquer tipo de inteligência, quando possuímos uma polícia completamente
dissociada dos centros de inteligência do país, aumentando cada vez mais o vácuo
existente entre ambos.
Outro ponto a ser abordado trata do que se entende por inteligência policial. Segundo
a Abin – Agência Brasileira de Inteligência, “Para os efeitos de aplicações desta Lei
entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e
disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e
situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação
governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.” (§ 2.º
da Lei 9883/99). E como contra-inteligência, segundo a Abin “Entende-se como
contra-inteligência a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa.” (§ 3.º
da Lei 9883/99). Dá para utilizar, com reservas, esses conceitos.
Alguns dos mais versados doutores em matéria de segurança pública também definem
inteligência policial em termos equivalentes aos preconizados pela Abin, ou seja, uma
polícia que detenha e possa ter acesso a bancos de dados portentosos relativos a
crimes e criminosos; a adoção de uma política de repressão eficiente, concentrada, ou
seja, voltada para as áreas de maior probabilidade de cometimento de delitos;
informatização das polícias; intercomunicação imediata entre os diversos organismos
policiais; aprimoramento constante dos quadros de policiais, com cursos orientados
para os avanços almejados e alcançados pelos criminosos; integração dos diversos
centros de inteligência policial, ao nível federal e estadual; meios materiais postos à
disposição dos policiais para o exercício de um bom trabalho investigativo; etc.
Outro ponto importante diz respeito à participação das entidades representativas dos
peritos e dos policiais nos centros de discussão sobre as alterações a serem efetuadas
na polícia, civil e técnica. Repetindo o mesmo erro do governo passado, o governo
atual ainda não chamou estes representantes para uma discussão profunda a respeito
dos rumos exigidos pela sociedade em relação à atividade policial. Nota-se claramente
que lidamos com planos criados em gabinetes, sem qualquer participação dos maiores
interessados e principais atores na cena do filme chamado segurança pública: os
policiais e seus representantes.
Incrível pensar que num momento em que se discute e propugna pela unificação das
polícias civil e militar, com a desmilitarização desta última, parte-se para a criação de
mais um organismo policial, o que ao nosso ver aumentará ainda mais o fosso
existente na atuação obrigatória de investigação e perícia com vistas à elucidação dos
crimes.
Segundo outros, a Polícia Técnica não nasceu com vocação para integrar os quadros
policiais. Quanto a este último, conforme vimos no decorrer deste debate, contraria a
própria história de criação da polícia técnica. Afirmam estes que “polícia não é ciência
e criminalística não é polícia”. Isto está mais do que claro, pois ciência é ciência e
polícia é polícia. Entretanto, polícia técnica é polícia e ciência ao mesmo tempo e
negar este fato é ir de encontro aos motivos que fundamentaram a criação da polícia
técnica.
Quanto às alegações do primeiro grupo, o que alega falta de isenção na feitura dos
laudos dos peritos, as propostas defendidas são antagônicas por si mesmas. É
imaginar que malfeitores existem apenas nos quadros policiais, pois quem sucumbe a
pressões de policiais fatalmente sucumbirá a pressões de outras autoridades a que
estejam subordinados. Bem porque, o poder de mando e de influência de promotores,
governadores e juízes é infinitamente superior ao de qualquer integrante dos quadros
policiais.
Tecnicamente falando, ainda temos algumas questões que devem ser analisadas: o
Ministério Público é responsável pela apresentação das denúncias contra os
criminosos, utilizando-se para tanto das provas fornecidas pelos peritos. Logo, se
quem preside o inquérito não deveria levantar provas, com muito mais razão quem
deve ofertar as denúncias também não deveria.
Quanto à vinculação aos governadores e aos secretários de justiça, não creio que
altere a questão em sua essência.
O problema todo se resume em saber se ainda é necessária uma atuação conjunta dos
peritos em investigação e de polícia técnica na busca da elucidação dos crimes e se a
estrutura policial se corrompeu de tal forma que se torna inviável a manutenção dos
peritos nos quadros da polícia civil. Se este fato está ocorrendo, e não houver mais
solução para o mesmo, só existe uma saída: uma depuração urgente nos quadros da
instituição ou a extinção das polícias civis.
Corre-se um grande risco de se criar um novo e inútil organismo, exigindo que num
curto espaço de tempo renasça a “velha” Polícia Técnica para sanar as deficiências
deixadas por aquela polícia que seria criada, essa ligada indissoluvelmente à
investigação e voltada para resolver os problemas dos pobres. Toda sucateada, sem
recursos, sem condições de funcionamento, com um número de peritos sempre
defasado, mas imprescindível para tapar o vácuo que se pretende criar seguindo o
pensamento dos que defendem a desvinculação de investigação e perícia.
Muito questionável pelo aspecto histórico tal pretensão, pois todos sabemos que a
maioria dos políticos brasileiros não deseja uma política eficiente e democrática, mas
sim uma polícia voltada para o massacre dos pobres e subserviente aos interesses dos
ricos, muitos destes os verdadeiros criminosos que estão a ensejar passarem anos
nas cadeias.
Imaginar que seriam investidos rios de dinheiro numa nova polícia técnica seria
risível se não fosse sério e nada solucionaria. Não seriam criados os centros de
inteligência pretendidos, pois, se assim o fosse, as próprias universidades não
estariam totalmente falidas, sucateadas, e num patamar aproximado ao direcionado
às Polícias Técnicas.
Hoje, o que se observa são ações voltadas para defender os interesses de cargos e
órgãos e não o interesse maior da sociedade: a busca da elucidação dos crimes. Os
interesse de uns poucos se sobrepõem claramente aos interesses da coletividade.
Com isso observa-se que os primeiros a chegar ao local de um crime, em vez de isolá-
lo e comunicar imediatamente aos demais encarregados da elucidação dos delitos,
passam a querer solucionar o caso, antes de tudo tentando engrandecer o nome dos
quadros a que pertencem. E não vamos crucificar apenas a eles, pois dessa forma
ocorre com quase todos os demais encarregados da elucidação dos crimes.
Termino, portanto, constatando, com todas as letras que, apesar das tentativas e de
alguma melhora, continuamos dissociados no presente momento dos centros de
inteligência policial e nacional; abandonados, sem qualquer tipo de perspectiva a
curto e médio prazos.
Antônio Tadeu Nicoletti Pereira Perito Papiloscópico Oficial (Estado do Espírito Santo)
Bacharel em Direito e Economia
Diretor do Sindipol-ES, da Cobrapol, da Fenapp e da Associação dos Peritos
Papiloscópicos ES
Há quem goste de voltar reiteradas vezes à Inglaterra de alguns séculos atrás, descrevendo o
surgimento de uma figura folclórica naquele país que congregava em torno de si as qualidades
inerentes tanto à investigação (poder investigativo) quanto ao domínio de inúmeras ciências.
Esta figura é bem representada por um personagem conhecido de todos nós, surgido tempos
depois: Sherlock Holmes. Este personagem idealizava uma figura que detinha conhecimentos
vários em diversas áreas e que os aplicava na busca da elucidação dos delitos, unindo, de forma
indissociável, ciência e investigação; habilidade em ciências gerais e específicas aplicadas à
elucidação dos crimes com habilidade em investigar profundamente os crimes. Faço menção a
este personagem pois entendo imprescindível para a discussão que vamos iniciar. Mas não vou
retroceder tanto no tempo. Vou começar nosso debate a partir da publicação do Código Criminal
do Império, em 1830, quando pela primeira vez aparece uma menção à medicina legal, e
também centrá-lo a partir do fim do século dezenove e início do século vinte, quando veio à
efervescência, por aclamação popular, a necessidade de criação de uma polícia científica,
voltada realmente para combater práticas ainda comuns naquela época, desgastadas e por
todos deploradas. Naqueles tempos ainda se praticavam penas degradantes, como a pena de
banimento, penas das galés, o açoite, as chibatadas e até a pena de morte. Naquela época a
polícia detinha quase todos os poderes, fazendo o papel inclusive da Justiça (o Intendente Geral
dirigia a polícia e a Justiça). Foi exatamente para se contrapor a estas penas degradantes, e
diante de veementes apelos da população, que já não suportava mais tantas injustiças, é que
surgiu na mente de alguns idealistas a necessidade de adaptação da atividade policial aos novos
tempos que se avizinhavam, principalmente na Europa, tornando-a mais humana no trato com
os delinqüentes e com a população. Era a época do prender primeiro para depois investigar que
se buscava dar um fim. Assim é que alguns abnegados sonhavam com novos tempos para a
atividade policial; com uma polícia voltada para a defesa dos interesses gerais; afastada das
influências malévolas exercidas por políticos dissociados da vontade popular. A população não
suportava mais ser vitimada por tantos arbítrios. Desta forma é que surgiu esse desejo de
criação de uma polícia científica, bem preparada, dotada de conhecimentos e meios técnicos e
científicos indispensáveis à produção de provas que fundamentassem as acusações lançadas
contra as pessoas que se desviavam do seu caminho, partindo para a prática de delitos. Mais do
que isso até, baseava-se e remetia-se a essa figura acima referida - o Sherlock Holmes -, como
o ideal a ser perseguido por uma polícia técnica. Chegou-se até a imaginar o nascimento de
uma polícia civil toda técnica e científica, contendo em seus quadros unicamente cargos
técnicos e científicos (sonho ainda não realizado).Mormente porque nunca foi da nossa tradição
uma figura tipo essa, unindo numa mesma pessoa qualidades de ciência e de investigação -
várias cabeças num mesmo corpo -, buscou-se aliar o ideal perseguido às peculiaridades
brasileiras. Isso porque era impossível alcançar aquele ideal com governantes que buscavam
arregimentar investigadores não entre aqueles dotados de maior técnica e preparo para lidar
com o povo, mas sim entre aqueles que demonstrassem maior predisposição em abater
potenciais agressores do sistema.Outro fato relevante ao qual credito essa impossibilidade, era
e ainda é o abandono a que estão relegados todos os policiais; que são deixados pelos
governantes ao alvedrio da própria sorte na busca do aprimoramento constante a que deveriam
ser constantemente submetidos. Fator relevante, outrossim, são as peculiaridades inerentes às
práticas criminosas de cada povo. Na Inglaterra, bem ao contrário do Brasil, os criminosos
ainda não fazem das armas e das agressões irracionais um massacre inútil contra inocentes.
Exatamente por isso, a polícia inglesa dispara pouquíssimos tiros por ano (média de meia dúzia
toda a polícia), impondo a todos o uso precípuo da cabeça e do aprimoramento ininterrupto
como meio mais eficiente de combate aos delitos (apesar do assassinato brutal do brasileiro,
recentemente, confundido com um terrorista).Mas todo o ideal de criação da polícia técnica
nasceu da necessidade de se unificar, senão numa mesma pessoa, mas fazendo com que
trabalhassem conjuntamente dois tipos de peritos: um, conhecido de todos nós, os peritos da
polícia técnica, detentor de conhecimentos em ciências específicas voltadas para a elucidação
dos crimes (papiloscopia, documentoscopia, balística, grafotecnia, etc) e de ciência gerais
aplicáveis a esta elucidação (física, química, biologia, matemática, etc), a um outro perito
ignorado por muitos - e por muitos não considerado perito: o perito em investigação (o
investigador, ou detetive, como queiram). Esta figura, o detetive, tal como nós, também é um
perito, em seu sentido lato, um perito em investigação. Para unir estas duas figuras, o perito
em polícia técnica e o perito em investigação, nasceu todo o ideal de criação da polícia técnico-
científica. Seu ideal, diverso do congênere inglês, buscava unir vários corpos numa só cabeça.A
Justiça, frise-se, ainda possuía largas ligações com a polícia, haja vista que só ocorreu a
desvinculação destas duas instituições em 1927, pois o intendente geral de polícia,
anteriormente, também comandava o Poder Judiciário.Ainda se iniciava no Brasil os estudos
sobre a medicina legal, o que veio a se tornar mais forte em meados de 1800 (de 1850 em
diante), principalmente nas universidades (da Bahia e do Rio de Janeiro). Havia uma forte
resistência dos médicos localizados nestas universidades em vincular a nascente atividade de
medicina legal aos organismos policiais. Uma parte dos médicos era favorável e a outra
radicalmente contrária; esta última entendia a atividade médico-legal como essencialmente
científica e ligada indissolúvel e exclusivamente às universidades.O fato é que a medicina legal
não se prestou a fazer o papel exigido pela nova concepç
Nota:
Por Antônio Tadeu Nicoletti Pereira
Perito Papiloscópico Oficial (Estado do Espírito Santo)