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A Transmissão da Teosofia
Como Um Estudante Pode
Acelerar Sua Aprendizagem
A etapa seguinte é testar na prática a percepção adquirida, e é neste ponto que surge a
necessidade de perseverança. A nova visão ganhará força real em sua vida à medida que ele
fizer tentativas sucessivas de colocá-la em prática.
Com o tempo, haverá um pequeno êxito. Ao observar uma e outra vez os resultados dos seus
esforços, o aprendiz saberá com nitidez o que é de fato verdadeiro e correto para si próprio.
Só os charlatães pintam o caminho espiritual como algo fácil. Mas a dificuldade da meta
espiritual não é motivo para desânimo. Entre ver um ideal e vivenciá-lo há uma distância
significativa: porém, tal distância é estimulante. Visualizar uma meta é perceber algo que
está a certa distância de nós, e para o qual é possível caminhar. A distância entre o sonho e a
prática provoca o aprendizado. A diferença entre o sonho e a realidade implica que há um
sonho nobre a ser buscado a longo prazo.
Cabe examinar, sem pressa e com espírito prático, de que modo se pode percorrer o caminho
que vai desde a nítida percepção do que é correto até a vivência direta do ideal escolhido.
“Uma vez que as ideias corretas estão estabelecidas em nossas mentes, nós podemos ajudar o
mundo falando sobre elas e exemplificando-as. Isso é algo que nós podemos fazer, por mais
egoísta que seja o modo do mundo se movimentar.” [1]
Quando o filhote de pássaro amadurece, ele se lança para fora do ninho cômodo da rotina, e
testa na prática o seu conhecimento da arte de voar. É assim que aprende a conhecer a sua
própria força. Quanto à necessidade de uma decisão clara sobre nossa meta na vida, o rabino
Hillel ensinou:
“Se eu não for por mim, quem será por mim? Mas se eu for só por mim, o que sou eu? E se
não agora, quando?” [2]
A filosofia teosófica deve ser o leme que orienta o estudante na vida diária. Falar dela
significa expressar a si mesmo e ser sincero com as pessoas. Para o escritor chinês Lin
Yutang, “escrever é dar expressão à natureza própria de cada um, ou ao seu caráter, e ao jogo
do seu espírito vital”. [3] O mesmo pode ser afirmado sobre o ato de falar.
Quando transmitimos a filosofia teosófica para o mundo ao nosso redor, podemos avaliar e
fortalecer o nosso pensamento. Irradiando-a, criamos circunstâncias mais favoráveis para
nosso próprio crescimento individual. As condições mais favoráveis raramente são as mais
cômodas, porque, para germinar, toda semente deve romper a sua própria casca.
Não há vitória sem renúncia, ou perda. À medida que o eu superior desperta, o eu inferior - a
casca da semente - perde força.
A boa lei do carma é a lei da vida. Tudo o que fazemos aos outros retorna para nós: por isso, o
caminho da felicidade é trilhado desenvolvendo ações altruístas.
Se a teosofia é benéfica, ela deve ser promulgada. Aprender e ensinar teosofia são dois fatos
inseparáveis. O conhecimento só cresce quando o colocamos em movimento. É vivenciando,
ensinando e transmitindo que se aprende filosofia esotérica. Mas como será possível divulgar
a teosofia, sem parecer que estamos querendo evangelizar as pessoas, ou dominá-las
mentalmente?
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Sem dúvida, o ato de falar de teosofia pode parecer “evangelização” para alguns. O teosofista
não será corretamente compreendido por todos. No entanto, o ato de dar o seu testemunho de
vida para as pessoas ao redor terá consequências positivas no momento certo.
O carma não amadurece de imediato: a ação teosófica deve ser feita em uma perspectiva de
longo prazo. Quando as circunstâncias estiverem maduras, o processo da transmissão passará
a ser realimentado de forma positiva. Então o magnetismo se acumulará criativamente, e
surgirá um trabalho teosófico coletivo.
A chave da eficiência está em “emitir o sinal” sem esperar resposta fácil das circunstâncias
imediatas, mas deixando que as pessoas certas se aproximem à sua própria maneira do
“mantra”. Isso ocorrerá pelo critério da afinidade e no devido momento.
O teosofista deve dar seu testemunho. Deve compartilhar com os outros o modo como vê a
vida. Deve ensinar que tudo na vida é aprendizagem. Assim ele emitirá um sinal de luz para
aqueles que aguardam - até sem saber - pelo alargamento radical de horizontes que a
teosofia provoca.
Neste processo, deve ser esclarecida a diferença entre “dar o seu testemunho” e “evangelizar”
os outros. A chamada “evangelização” ou “pregação pastoral” é um processo pelo qual
alguém diz a alguém o que deve pensar e no que deve acreditar. A própria palavra
“evangelização” implica a ideia de “introduzir o evangelho na cabeça de alguém”, o que
significa violência intelectual, ainda que bem intencionada. A teosofia, ao contrário, convida
as pessoas a pensarem por si mesmas sobre a vida e o universo.
O que o estudante da teosofia original faz é colocar o saber filosófico ao alcance daqueles que
estiverem prontos para o despertar.
O modo como fará isso no plano físico depende da sua criatividade, da sua perseverança, e
das circunstâncias em que vive e trabalha. Vejamos alguns exemplos:
*Ele pode fazer pequenos cartazes de divulgação do trabalho teosófico e pregá-los em lugares
visíveis, na sua cidade.
*Ele pode enviar material teosófico por e-mail para amigos e conhecidos.
*É possível convidar familiares, colegas e amigos para estudar juntos um bom texto teosófico.
*Está a seu alcance começar a qualquer momento um diálogo com qualquer pessoa, de
qualquer idade, abordando impessoalmente temas vivenciais que lhe permitirão não só evitar
conversas fúteis, mas também praticar a auto-expressão, partilhando com os outros o que há
de melhor em si e colocando em movimento sua visão universal da vida.
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*Ele deve indicar e preservar as fontes do ensinamento. No diálogo com os outros, deve
colocar-se como um co-aprendiz, evitando toda pose de mestre. Assim evitará dar passos em
falso.
É errado pretender interferir diretamente na vida das pessoas. Cada um deve decidir por si. É
correto colocar diante delas a filosofia teosófica e a sua visão da alma imortal. A teosofia
convida as pessoas a examinarem por si mesmas algumas questões básicas. Entre elas:
Para transmitir teosofia como um processo vivo é necessário ter uma quantidade suficiente de
confiança na vida, de confiança em nós mesmos, e de confiança no ensinamento.
Quando é que o ser humano confia? Ele confia quando tem conhecimento e experiência em
relação ao objeto da confiança. Mas a recíproca é verdadeira: o ser humano também ganha
experiência e conhecimento quando tem confiança suficiente para falar aos outros sobre seus
pensamentos, e coragem de colocar à prova no diálogo as suas ideias. Não podemos confiar
no conhecimento enquanto não conversamos sobre ele com os outros, e enquanto não o
colocamos em ação.
O indivíduo sensato examina com calma a vida e decide que coisas são sólidas e confiáveis
para si. Ele confia nos seus bons sentimentos e nos bons sentimentos dos outros, mas também
sabe que tais sentimentos são mutáveis e imperfeitos.
Ele confia na sua própria capacidade de raciocinar. Sabe que comete erros com frequência,
mas percebe que pode aprender com eles. Sente também que tem dentro de si a essência da
verdade, ainda que viva em um mundo em que a ilusão está muito presente. Sabe que, quando
ouve sua consciência, fica internamente satisfeito. Ele avança pelo método científico da
tentativa e do erro, seguidos de nova tentativa. Ele desenvolve um enfoque experimental
diante da filosofia esotérica. Ele vive o seu sentimento de confiança como algo que é sujeito
a um contínuo exame crítico.
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O caminho teosófico pode e deve ser trilhado mais em silêncio do que no mundo das palavras,
e, portanto, o ensino pelo exemplo tem uma importância decisiva. Sem o exemplo não seria
possível transmitir conhecimento. As ações falam com tanta força ou mais do que as palavras.
Nenhum discurso pode ser mais forte do que a prática diária da qual ele emerge. Não é
necessária perfeição, mas o auto-aperfeiçoamento é fundamental: o esforço na direção correta
transmite força às palavras.
Dar um bom exemplo não significa que alguém será aplaudido, porque a busca da sabedoria
contraria as rotinas estabelecidas.
Nem sempre o exemplo de uma vida sábia será reconhecido como tal. O vegetariano está
sujeito a críticas pelo mero fato de abster-se de comer cadáveres de animais inteligentes.
Quem decide parar de ingerir bebidas alcoólicas talvez seja considerado anti-social. Separar
algumas horas por dia para estudos filosóficos provavelmente irá contrariar hábitos familiares.
Aquele que fala de carma, reencarnação e teosofia talvez seja acusado de ter ideias
excêntricas.
É preciso coragem para seguir a voz da consciência e dar o seu testemunho. Uma saudável
indiferença a críticas injustas é parte do autotreinamento. Pode haver dez pessoas criticando e
uma pessoa que sintoniza com as ideias teosóficas. Mas a crítica é geralmente superficial,
enquanto que a sintonia é profunda, e por isso tem mais valor que a soma das reações
negativas. Também é possível que em algum momento haja centenas ou milhares de pessoas
sintonizadas com o trabalho e nenhum crítico ou adversário. Porém, é melhor não apegar-se a
situações agradáveis.
Além do exemplo individual, o estudante pode compartilhar com outros a fonte do seu
aprendizado. Em algum momento da caminhada, ele sente que, assim como a filosofia
teosófica chegou até ele e o libertou de um determinado grau de sofrimento, também é
possível fazer com que o conhecimento chegue a mais pessoas. Desta compreensão emerge a
ideia de passar adiante, como um presente, aquilo que recebeu de graça. É uma forma de
devolução: o estudante dá de volta à Vida aquilo que a Vida lhe deu.
Observar a Intenção
O plantio de altruísmo e a sabedoria em si mesmo e nos outros é uma tarefa que requer
paciência. Devemos examinar a substância da nossa motivação pessoal e da intenção real do
grupo teosófico de que participamos.
“Para a expansão do movimento teosófico - um canal útil para a irrigação dos campos
ressequidos do pensamento contemporâneo com as águas da vida - Lojas são necessárias em
todo lugar. Não meramente grupos de simpatizantes passivos, tais como os exércitos
adormecidos de freqüentadores de igrejas, cujos olhos estão fechados enquanto o ‘demônio’
varre o chão; não, isso não. São necessárias Lojas ativas, profundamente despertas, dedicadas,
inegoístas, cujos membros não estarão revelando constantemente o seu próprio egoísmo ao
perguntar: ‘o que é que nós ganhamos ao aderir à sociedade teosófica, e em que isso pode nos
prejudicar?’; mas estarão examinando a seguinte questão: ‘será que nós podemos ajudar
substancialmente a humanidade ao trabalhar por esta boa causa com todos nossos corações,
nossas mentes, e nossas forças?’.” [5]
A recompensa ocorre quando não pensamos nela: é o auto-esquecimento que abre o caminho
para a felicidade.
NOTAS:
[1] “A Book of Quotations From Robert Crosbie", Theosophy Co., Mumbai, India, 108 pp.,
ver p. 52.
[2] Rabino Hillel, citado em “A Ética do Sinai”, Livraria e Editora Sêfer, SP, 1998, 522 pp.,
ver pp. 54-55.
[3] “La Importancia de Vivir”, Lin Yutang, Editorial Sudamericana, Buenos Aires, décima
edición, Julio de 1945, 593 pp., ver página 515.
[4] “The Analects”, Confucius, Dover-Thrift Editions, Dover Publications, Inc., New York,
1995, 128 pp., Livro XV, p. 96.
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Para saber mais sobre o projeto de ação do movimento teosófico original em língua
portuguesa, escreva a lutbr@terra.com.br.
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