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8
setembro
2008
ficina
SELEÇÃO
BRASILEIRA
a concisão da obra de
Marcelo Spalding
SAMIZDAT 8
setembro de 2008
Autores Convidados
Marcelo Spalding
Textos de:
Paulo Bomfim
Imagem da capa:
http://www.flickr.com/photos/
totemik/2376276117/sizes/l/
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Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
ENTREVISTA
Laura Bacellar 8
MICROCONTOS
José Espírito Santo 14
Marcia Szajnbok 18
Volmar Camargo Junior 18
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA
40 novelas de Luigi Pirandello 20
Marcia Szajnbok
CONTOS
Encarna Val 26
Carlos Alberto Barros
O Imenso e o Infinito 28
Volmar Camargo Junior
A Ordem do Mundo 32
Henry Alfred Bugalho
O Alvo Simbiótico 34
José Espírito Santo
Saudades da Minha Terra 36
Joaquim Bispo
Histórias 38
Maria de Fátima Santos
Melodrama 40
Guilherme Rodrigues
Noite Estrelada 41
Guilherme Rodrigues
A Natureza do Escorpião ou Narrativa
Literário-futebolística em Quinhentas
Palavras 42
Zulmar Lopes
Giralua 44
Alian Moroz
AUTOR CONVIDADO
Seleção Brasileira 46
Marcelo Spalding
TEORIA LITERÁRIA
Pequena Poética do Miniconto 50
Volmar Camargo Junior
Enchendo Lingüística na SAMIZDAT: Writing
for Dummies 54
Volmar Camargo Junior
POESIA
Miopis 58
Carlos Alberto Barros
Sonetos 59
Guilherme Rodrigues
To be and not to be 65
Marcia Szajnbok
SEÇÃO DO LEITOR
Agora o leitor da SAMIZDAT também pode colaborar com a elaboração da revista.
Envie-nos suas sugestões, críticas e comentários.
Você também pode propor ou enviar textos para as seguintes seções da revista: Rese-
nha Literária, Teoria Literária, Autores em Língua Portuguesa, Tradução e Autor Convi-
dado.
Escreva-nos para:
revistasamizdat@hotmail.com
Por que Samizdat?
“Eu mesmo crio, edito, censuro, publico,
distribuo e posso ser preso por causa disto”
Vladimir Bukovsky
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Entrevista
LAURA BACELLAR
Laura Bacellar trabalha em
editoras desde 1983. Começou
na Editora Paz e Terra como
estagiária e já ocupou todas as
funções editoriais – de produto-
ra na Hemus a editora chefe na
Brasiliense. Fundou e dirigiu o
primeiro selo editorial inteiramen-
te dedicado às minorias sexuais,
Edições GLS. Já foi editora em
casas pequenas, como a Mercuryo,
e enormes, como a Scipione.
Sua especialidade é não-ficção,
mas edita também paradidáticos,
literatura adulta, literatura infantil
e interesse geral. Escreveu três
livros como ghostwriter e um
com seu próprio nome, Escreva
seu livro – guia prático de edição
e publicação, pela Editora Mer-
curyo. Adaptou cinco clássicos do
inglês, Robinson Crusoé, Drácula,
Sherlock Holmes, Frankenstein e
Rei Artur, para a editora Scipione
e escreveu uma outra obra infan-
til, Mini Larousse da educação
no trânsito, para a Larousse do
Brasil em 2005. É co-autora, com SAMIZDAT: Laura, como meus colegas, a internet é
o índio cariri Tkainã, do juvenil você percebe a relação vista como algo sem muitos
Mãe d’água pela Scipione. Dá das editoras com a lite- critérios de qualidade, sem
cursos regularmente para autores
ratura que tem surgido seleção prévia. Assim, ficar
e editores em instituições como a
na internet? Os editores lendo textos na rede che-
Universidade do Livro, ligada à
têm prestado atenção no ga a ser pior do que ler os
Unesp. Mantém o site www.escre-
vaseulivro.com.br, que é bastante que ocorre no mundo originais que chegam sem
utilizado por editores para instruir virtual ou ainda preferem ser solicitados às editoras,
autores que os procuram. Atual- os métodos tradicionais porque pelo menos para
mente trabalha como free-lancer para selecionarem autores enviar um texto para análi-
para várias grandes editoras e é inéditos? se o autor tem um trabalho
responsável pela Editora Mala- mínimo, enquanto que para
gueta, a primeira editora dirigida a colocar alguma coisa na in-
lésbicas do Brasil. Laura Bacellar: Claro que só ternet parece muitas vezes
posso falar sobre os edito- não haver nenhum esforço
res que conheço, certo? Mas ou custo.
entre esses profissionais
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Os editores usam tudo o
Pessoalmente, as poucas Diante de um país como que sabem – experiência,
vezes em que naveguei em o Brasil, onde a leitura prêmios, tendências no ex-
sites de textos de ficção, está longe de ser algo que terior, gosto pessoal, conver-
fiquei um tanto escandali- realmente faça parte da sas com o público, atenção
zada com a falta de respeito cultura cotidiana, como da mídia – para apostar nos
pela língua portuguesa e fica o interesse das edi- autores que lhes pareçam
pelas convenções mais bási- toras em lançar novos mais interessantes.
cas sobre como contar uma escritores?
história. Há uma quantida- E o quanto investem em
de imensa de textos ruins possíveis novos talentos
online, ainda L.B.: Olhe, é
impossível depende das editoras em
que mistura- Publicar é um que trabalham, da margem
da a muita generalizar
negócio de risco, a atitude que têm para puro risco, do
coisa boa,
o que desa-
e um escritor das editoras, perfil de aventura ou tradi-
ção cultivado pela casa.
nima quem desconhecido de porque elas
queira fazer ficção é o maior risco são muitas.
uma seleção. que existe. Há desde Nos EUA e Europa, os
editoras que agentes literários repre-
caçam ape- sentam um papel impor-
Por outro nas um pos- tante no mercado, servin-
lado, há os sível sucesso do de ponte entre autores
blogs de pessoas inteligen- comercial até aquelas que e editoras. Este modelo
tes, há sites bem escritos, há são projetos de vida, dedi- poderia ser reproduzido
revistas interessantes que cadas a publicar talentos eficazmente no Brasil?
permitem aos editores loca- raros. E no meio também Quais seriam as vantagens
lizar especialistas articula- tem de tudo, passando pelas desta intermediação para
dos em determinadas áreas, que publicam os amigos, as um autor inédito?
há discussões em fóruns e que são cooperativas de au-
toda uma gama de ativida- tores para se auto-publicar,
des intelectuais que podem as que arriscam algo dife- L.B.: Sim, esse modelo ajuda-
servir de vitrine para escri- rente de vez em quando, as ria bastante nosso mercado.
tores. que só publicam clássicos, O problema principal das
as que só olham para os editoras é justamente triar
estrangeiros premiados fora o que tem certa qualidade
Assim, para responder à do país, etc, etc. e depois trabalhar com o
sua pergunta, eu diria que autor de forma a chegar
editores ainda preferem num texto publicável, já
escolher autores de ficção Publicar é um negócio de que a grande maioria dos
que existam fora da rede, risco, e um escritor desco- autores não sabe como
mas usam a internet para nhecido de ficção é o maior produzir um texto acabado.
verificar a abrangência de risco que existe. Dali pode Os agentes fazem isso lá
opiniões daquela pessoa, o brotar um sucesso sensa- fora, mas a um custo. E eles
que existe sobre ela, se ela cional ou uma reputação existem num mercado que
tem contos ou artigos já pu- prestigiosa, mas também têm muito mais intermedi-
blicados em algum lugar, se pode não acontecer abso- ários do que aqui. Qualquer
já fez parceria com alguém lutamente nada. Há autores universidade merreca lá
e todo tipo de informação que não vendem nem dez tem cursos e mais cursos
que é útil ter sobre um exemplares por ano! de escrita criativa, de fan-
autor. tasia, de roteiro, de criação
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de personagens. O escritor L.B.: Acho que elas cum- de serviços já prestados a
americano e canadense e prem a função de atender outros autores a empresa
europeu tem muito mais ao autor que quer ser pu- pode dar?
oportunidades de apren- blicado por razões pessoais,
der e refinar sua escrita de que não envolvem neces-
maneira calma, num am- sariamente uma interação E, como com todo serviço, é
biente profissional, do que o com um público que não o bom olhar em volta e com-
brasileiro. conheça previamente. Mas parar preços.
para lançar autores no mer-
cado, pelo A chamada
Aqui os cursos são pou-
cos e conheço apenas uma
que tenho ...nossos escritores “literatura
visto esses
agente que trabalha com iniciantes são espírita”
prestadores
autores iniciantes. de serviço realmente iniciantes, é um seg-
mento que
não funcio- não entendem nada tem parte
Assim, nossos escritores nam. do processo editorial, considerável
iniciantes são realmente em geral não do mercado
iniciantes, não entendem literário.
Estão criando conseguem separar
nada do processo editorial, um ambien- A maioria
em geral não conseguem uma crítica ao texto das obras é
te perigoso,
separar uma crítica ao texto aliás, de de uma crítica publicada
de uma crítica pessoal, contar lin- pessoal... por editoras
não têm noção de público das histórias, especializa-
e adequação de estilo, são prometer das e têm
super inseguros, de modo várias coisas bem vagas e o lucro revertido para o
geral super ansiosos e difí- extrair quantias respeitáveis movimento ou entidades
ceis de lidar. dos autores. relacionadas - as chama-
das obras básicas, por
exemplo, são editadas
Se houvesse uma batelada Eu não vou me estender pela própria Federação
de agentes explicando para aqui sobre isso porque é Espírita. Outros autores,
essas pessoas o que é o quê, um assunto enorme, mas bem menos proselitistas,
sem dúvida cumpririam a vou dar uma dica: se a seguem a mesma linha,
missão de funcionar como editora pede que o autor estando, em geral, entre os
interface entre eles e os “contribua”, “arque com os mais vendidos.
editores. Facilitaria bem o custos de produção”, “invis-
trâmite e é provável que ta na divulgação” ou qual-
aos poucos venha a aconte- quer outra frase bonita que Um escritor que iniciou a
cer, já que os editores têm subentenda colocar a mão carreira vendendo obras
cada vez menos tempo para no bolso e pagar alguma quase como “manuais de
essa educação do autor, mas coisa, não se trata de uma prática mágica” é Paulo
o mercado está super ativo. editora, mas de um pres- Coelho. Seus livros sem-
tador de serviço. Se é um pre foram grandes su-
prestador de serviço, então cessos e, até hoje, ainda
O que você pensa das edi- vendem muito.
toras que trabalham sob o autor deve com todo o
demanda? Qual a impor- cuidado avaliar a relação
tância delas no mercado custo-benefício. Quais são Qual sua opinião sobre
literário? os serviços que serão pres- esse fenômeno? Como
tados exatamente? Qual a você o explicaria?
garantia? Que exemplos
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L.B.: Ora, as pessoas gostam ao entrar numa livraria, vários tipos de problemas
de ler obras que expliquem compra o primeiro título com a escrita. Os muito au-
os mistérios do mundo. que lembra aquilo que está tocríticos tendem a querer
Se o autor é convincente e sendo tão comentado, sem se certificar demais de que
passa credibilidade, encon- se dar conta que sequer é está tudo certo e aí empa-
tra leitores. a obra original. O Quem cam no mesmo texto para
mexeu no meu queijo sempre. Os muito autocon-
gerou uma série de cópias fiantes acham que qualquer
Qual é “o segredo” da semelhantes e várias delas coisa que produzam está
Rhonda Byrne? tiveram vendas bem razoá- ótima e nem precisa de re-
veis. Mas claro que isso só leitura. Os muito sonhado-
O Jornal O Povo, em pode ser praticado por uma res ficam imaginando tudo
sua versão online de grande editora, que tenha que receberão de prestígio
31/07/07, publicou a no- um bom relacionamento e dinheiro antes mesmo de
tícia “O Segredo é novo com as redes de livraria. tocar um dedo numa tecla.
fenômeno editorial”, onde Uma cópia por uma editora Os preguiçosos só falam
se encontra o seguinte pequena sem expressivida- sobre suas histórias. E por
trecho: de de distribuição não sai aí vai. A autora que cito
do depósito. deu muitos daqueles cursos
de escrita tão numerosos lá
Versão impressa do do- nos EUA e portanto tem ex-
cumentário homônimo Mas O segredo está mais periência com uma série de
filmado em 2006, a pu- para Paulo Coelho do que bloqueios comuns de escri-
blicação criou uma es- para cópia... ta, mas não são os únicos.
pécie de “segredomania’’
nacional, dando origem No site “Escreva seu livro”,
a outros lançamentos na Eu não diria que ser metó-
você reproduz algumas dico e disciplinado é o úni-
mesma linha. Recheada dicas de Jean Bryant sobre
de frases e histórias que co caminho para a escrita,
o que o aspirante a escri- mas que sem dúvida a pes-
demonstram que o pen- tor não deve fazer. Entre
samento é o responsável soa precisa dar uma olhada
elas, estão “faça muita para seus próprios hábitos
por tudo o que ocorre pesquisa antes”, “espe-
de bom ou ruim na vida e localizar o bloqueio caso
re até estar inspirado” e deseje escrever e não esteja
das pessoas, a publicação “deixe para depois” - ou
mostra como a força do conseguindo.
seja, algumas das descul-
pensamento pode modifi- pas comumente utilizadas
car a vida de todos. para postergar a escrita. Há quem diga que, para se
Você acha que esse é tornar um escritor profis-
Essa estratégia de pegar a um mal do escritor ini- sional, é preciso suportar,
mesma onda dos títulos ciante, o fato de encarar pelo menos, 15 anos de
que estão fazendo muito a escrita como uma arte rejeição. Tomando isso
sucesso não é novidade. que depende apenas da como verdade, como esse
Com sua experiência, inspiração, esquecendo-se tempo poderia ser dimi-
acha que funciona? do fato de que é preciso nuído?
também transpiração, ou
seja, trabalho metódico e
L.B.: Em parte, sim. Tem disciplinado? L.B.: Virginia Woolf dizia
muita gente que ouve falar que ninguém devia ser
de alguma coisa mas não publicado antes dos trinta
sabe bem o que é. Assim, L.B.: Há vários tipos de anos de idade, hehehe.
personalidade, o que leva a
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escrever feito um maníaco, determinado prazo, dentro
Eu não acho que ninguém apesar de este ter sido o ca- de condições específicas e
deva se preparar para a minho de escritores ótimos oferecem a possibilidade de
rejeição, mas acho muito como Jack London, mas sim um prêmio – muitas vezes
útil abrir os olhos. Se você a dedicação de entender o nada simbólico – como
der uma olhada nos comen- que está acontecendo em incentivo. Mais ainda, dão
tários postados no meu site, volta. a certeza de que a obra será
vai encontrar uma reclama- lida por pareceristas aten-
ção repetida por vários: eu tos.
Porque as pessoas gostam
sou dura, furo o balão dos de tal obra? O que esse
sonhos, jogo baldes de água escritor está dizendo que Nenhuma escolha é isenta
fria. atrai os de vieses,
leitores? Por A escrita, como claro, mas
Eu sempre abro as mãos e que as edito- qualquer carreira, sei de vá-
olho para cima em perple- ras publicam depende de uma rios casos
esse tipo de em que os
xidade quando leio algum conjunção de vários
desses comentários. Então a autor? O que prêmios de
essa autora fatores, incluindo fato abriram
pessoa prefere sonhos sem
base na realidade? Prefere diz que tanto talento, dedicação e caminho
embarcar em lindas his- seduz seu sorte. para que es-
tórias de prestadores de público? critores até
serviço que lhe arrancarão então inédi-
o preço de um carro novo? tos fossem
Já vi várias publicados
Prefere achar que vai ga- ocasiões em
nhar o prêmio Nobel de e recebidos com simpatia
que o autor finalmente teve pelo mercado.
Literatura do ano que vem? um momento aha! e adap-
tou a sua obra, sendo publi-
O quanto antes o escritor cado em seguida. Claro que nada disso vale
novato se livrar desses delí- quando o prêmio é um jogo
rios, tanto melhor para sua dentro de uma panelinha...
Ou seja, entender o lado de
carreira. O quanto antes se trabalho, o lado de constru-
livrar da noção de que a ção das obras, o lado não Ainda no site “Escreva seu
literatura é produzida num romântico da escrita. Não livro”, há várias dicas de
vácuo, que não depende em há nada de errado com a como um escritor pode
nada do mundo ao redor, inspiração, mas sem os pés facilitar a publicação
tanto melhor. na realidade a carreira a de seu livro e como a
meu ver não decola. utilização realista e fun-
A escrita, como qualquer damentada das políticas
carreira, depende de uma editoriais contribui para
Qual sua opinião sobre o possível sucesso dele.
conjunção de vários fatores, concursos literários?
incluindo talento, dedicação Diante disso, o que você
Acredita na eficácia e pode nos falar de sua
e sorte. Todos podem ser valor deles no incentivo à obra “Escreva seu Livro –
cultivados (quem sabe lendo produção literária?
O segredo você muda sua guia prática de edição e
sorte, hehehe), mas não há publicação”? Ela foi plane-
dúvida de que a dedicação L.B.: Sim quando são sérios. jada segundo as próprias
rende bons frutos. E não Eles incentivam as pessoas dicas dadas? Esta aborda-
quero dizer a dedicação de a escrever e entregar num gem funcionou?
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L.B.: Sim, eu escrevi o livro
com base nas necessidades
que sentia nos autores, com
base em minha experiência
de vários anos como edito-
ra. Note que deixei de lado
reminiscências, causos e
outros assuntos que pode-
riam ser divertidos para
mim mas não iriam auxi-
liar em nada meu público
potencial, além de poderem
tornar a obra grande e cara.
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Microcontos
Contos Mínimos:
Série Cupido
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Par
José Espírito Santo
Paradoxo
José Espírito Santo
Alvo
José Espírito Santo
Naquele dia, iria treinar com “D.Juan”, o seu alvo
preferido...
Miopia
José Espírito Santo
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Microcontos
Confusão
José Espírito Santo
Interpretação
José Espírito Santo
Troca
José Espírito Santo
Faziam sempre amor no guarda-fato. Um dia, o ma-
rido dela chegou mais cedo. Aníbal correu a escon-
der-se na cama.
Difícil
José Espírito Santo
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Microcontos
Coisas de Mulher
Marcia Szajnbok
VII.
Dor, emoção, expectativa. Luz. Frio. A voz do médico:
- Vamos lá, agora uma força comprida, só mais uma!
Respirou. Empurrou. Um choro encheu a sala e esvaziou a barriga.
Compreendeu, naquele instante, porque nem a deus é possível fazer não aconte-
cer o que já aconteceu. Estava comprovada a irreversibilidade do tempo.
I
Então ele me perguntou: “Vai doer?”.
II
Depois de ter presenciado aquela cena, Ronald tomou sua decisão.
IV
O cachorrinho voltou e quis de volta o que era seu.
V
Aguarde um momento que ela já vai atendê-los.
VI
— Tá, e daí?
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Recomendações de Leitura
40 novelas
de Luigi Pirandello
Marcia Szajnbok
40 Novelas de Luigi
Pirandello
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Autor em Língua Portuguesa
A ALMA PAULISTANA
de PAULO BOMFIM
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Soneto I
http://www.flickr.com/photos/revilla/1347710195/sizes/o/
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Contos
ENCARNA VAL
Carlos Alberto Barros
carloseducador@hotmail.com
E os tambores ressoaram.
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Contos
O IMENSO E O INFINITO
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
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uma consulta? sível cuja única imagem que dejá vu, do pior tipo deles:
— Na verdade, não. Aqui é tenho é uma silhueta negra os que dão certeza absoluta
a Gilda Menezes, fui vizinha que alguém disse “aquele de “já vivido”, mas nenhuma
da doutora. Eu poderia falar é o capitão do navio”, esse lembrança de “tempo” nem
com ela? É um assunto de Capitão anunciou estarmos “lugar”. Quando se aproxima-
família... retornando ao continente. va de casa, um homenzinho
O tempo piorou considera- exótico aguardava defronte
— Um momento, por favor. velmente depois disso. Sinto ao seu portão. Vestia-se com
[ ...ouve-se Pour Elise... ] muito sua falta. Espero que uma formalidade um tanto
esteja bem.” cômica, de terno cor-de-cane-
— Alô, Gilda?
la e sapatos pretos.
— Oi, Doutura.
— Estou começando a
— Minha secretária disse
ficar com medo dessas cartas, — Tenho uma mensagem
que era um assunto de famí-
Gilda. para a senhora. – disse o
lia. Aconteceu alguma coisa
— E eu, então. Sabe essa homemzinho entregando-lhe
com o Seu Clóvis?
cena do capitão? um envelope.
— Não, doutora, O papai
— Sim. O que tem? — Então é você que tem
está ótimo. Obrigada por
deixado essas cartas na mi-
perguntar. O caso é outro. A — Há muitos anos, a pri- nha casa! O que pensa que
senhora se lembra daquele meira vez que saímos juntos, está fazendo? Eu vou denun-
rapaz canadense que se hos- Sérgio me levou ao cinema, ciá-lo!
pedou em sua casa? para vermos “Era uma vez na
América”. Eu vi pela janeli- — Por favor, senhora. Não
— Sim, o coitado. Foi tão
nha da sala de projeção a me interprete mal. Esse é o
triste... como soube?
silhueta de um homem, e meu trabalho.
— Como soube de quê?
perguntei quem era. O Sérgio — Trabalho? É o seu traba-
— Peter sofreu um aciden- disse exatamente isso: “aquele lho importunar a família de
te de carro. Permaneceu em é o capitão do navio”. Isso é pessoas doentes?
coma por meses, mas acabou assustador. Mas sabe... não é — Não, de forma alguma.
falecendo. Eu lembro até a isso o que me assusta mais. Eu sou apenas um telegrafis-
data. Foi no dia dez de abril.
— Não? O que pode ser ta.
mais aterrorizante que isso? Tendo dito isso, o homem
“Dezoito de abril de 19.... — O quadro de saúde virou de costas e desceu
dele. O médico disse que a rua sem olhar para trás.
o Sérgio está piorando. O Gilda abriu o envelope ali
Estive uns dias sem comu-
organismo não reage mais mesmo.
nicar-me porque o telegra-
ao tratamento, e as chances
fista do navio se ausentou.
de óbito... Deus do céu... não
Não sei como, mas acredito “Vinte de junho de 19.....
gosto nem de pensar nisso.
que a tripulação deva ter seu
Ele estava se recuperando tão
próprio equipamento, já que
bem.
é um instrumento impor- Finalmente estamos retor-
tante em alto-mar. Mesmo nando à terra firme. É curio-
assim, com a paciente ajuda Gilda voltava do traba- so quando se está há algum
de Peter, imagine só, aprendi lho de ônibus. Em um sinal tempo em alto mar, sobre
a escrever em código Morse. vermelho, cinco meninos um oceano tão estável e que
Esta mensagem fui eu mes- atravessaram na faixa de inesperadamente está-se num
mo que redigi. E sabe que é pedestres. O menorzinho, turbilhão e uma tempestade
bem fácil? Ontem enfrenta- que andava mais à frente, de tão grandes proporções
mos nossa primeira situação fez uma graça como um que mesmo eu, que sempre
realmente tensa a bordo. O passo de dança. Abateu-se apreciei tanto o mar, quis
Capitão, um homem inaces- sobre Gilda um daqueles muito voltar ao continente.
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Contos
A Ordem do Mundo
Henry Alfred Bugalho
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Contos
O Alvo
Simbiótico José Espírito Santo
jjsanto@gmail.com
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Contos
Saudades
da minha
Terra
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Joaquim Bispo
Sou camionista de longo passar o mês inteiro de férias A certa altura, senti-me leve,
curso. Passo os dias pelas a visitá-la, a conhecê-la, a solto, fluido. Acordei aéreo
estradas da Europa, rodeado amá-la. e atmosférico. Achei-me um
de carros, mas sozinho, a ver Assim que cheguei, fechei- pouco estranho mas, longe
desfilar cidades para lá das me em casa, cerrei as per- de me inquietar, aceitei-me e
estradas e serras para lá das sianas e ferrei-me a dormir, foi sob essa feição que parti
cidades, a trabalhar demasia- como se já não dormisse há finalmente a conhecer a Mi-
das horas por dia, a dormir semanas, o que não era com- nha Terra.
mal e pouco, a levantar cedo. pletamente mentira. Queria Iniciei a viagem muito len-
Este ano que passou foi parti- recuperar o vigor, nem que tamente, como leve aragem,
cularmente cansativo. Parecia para tanto gastasse dois ou percorrendo a sua superfície.
que o mês de Julho nunca três dias de férias. Durante Subi o Alentejo langorosa-
mais acabava. Ansiava por horas incontáveis, dormi pro- mente, acariciando a planície,
voltar para a Minha Terra, fundamente, pressentindo o a contra-pêlo. A Minha Terra
tão bela e tão mal amada. meu corpo a relaxar, a dis- parecia agradada. Mostrava-
Ah, quando chegasse, ia pôr tender-se, a ganhar as formas me, de vez em quando, o
o sono em dia e, depois, ia que a Natureza lhe quis dar. branco dos seus casarios.
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Contos
HISTÓRIAS
Maria de Fátima Santos
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MELODRAMA
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Guilherme Rodrigues Tarde alegre. Linda. Ensolarada. Passarinhos a cantar. Sen-
tados abraçados no banco da praça. Quero dormir aos seus
braços. Alguns beijos, uns apertões. Mais beijos. Eu te amo.
Também te amo, linda. É para sempre.
...
Acabou!
Fim de tarde triste, melancólico...
A visão se torna embaçada, meus olhos se enchem de água
e ela, cada vez mais distante, vai embora.
A lágrima que escorre pelo meu rosto é o grito de dor, o
desabafo do aperto que me sufoca. Um soluço, desprendi-
mento da angústia que se encontra em meu peito.
Ela passa do meu lado tão disforme pelo encharque que
meus olhos se encontram. Nem a me olhar. Um toque com a
ponta dos dedos, eu estremeço e ela se vai, perdida na névoa
obscura, desaparece.
Tudo escurece, os pensamentos se esvaíram, vertigem, vo-
zes distantes......
Querido, acorde. Acorde.
Ahn... que... que aconteceu?
Você desmaiou.
Ah... te amo.
Também te amo.
Me abraça.
NOITE ESTRELADA
Guilherme Rodrigues Todas as noites, abria a janela do quarto e ficava por ho-
ras contemplando o céu estrelado. Tinha certeza de que lá
do outro lado havia uma pessoa a observá-lo também.
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Contos
A Natureza do Escorpião
ou Narrativa Literário-
futebolística em
Quinhentas Palavras
Zulmar Lopes
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Contos
O GIRALUA
Alian Moroz
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Autor Convidado
SELEÇÃO
BRASILEIRA
Marcelo Spalding
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Juarez, ou melhor, Doutor Juarez Fonseca, o lateral direito, aquele que defende pela direita
e sempre pela direita. Nasceu em 1964, aprendeu a ler em sessenta e nove e muito cedo de-
cidiu-se pelo quartel. Ordens, horários, compromisso. Doutor virou e causas nobres defende.
Com a veemência dos justos. Defende proprietários de terras, jornais, bancos, mercados, lojas,
governos, ilhas, mansões, BMWs. Agora está em dúvida o Doutor Juarez: foi mucha plata o
que el Argentino ofereceu.
3
Gente como o João não devia andar armada. Homenzarrão, alto e forte como só um
zagueiro central pode ser. Um dia chegou em casa e a mulher estava sobre uma poça. Poça
vermelha de sangue. Nunca mais foi o mesmo, sabia que naquele morro só morria quem el
Argentino deixava. Pegou a arma – eu avisei que gente assim não devia andar armada –, e
subiu bufando até la casilla rosada. Os olhos turvos de raiva, a cabeça devagar de raiva, o
corpo explodindo de raiva. Chutou a porta e esvaziou o cartucho, oito tiros. Matou abuela e
tía.
4
Carlos é o quarto zagueiro, o que dá cobertura para o zagueiro central. Levou a sério de-
mais essa história de cobertura. Apaixonou-se por João e ao mesmo tempo, por óbvio, odiou
a loira dele. Conhecia bem o João, seus um e noventa de puro músculo, sua pele negra de
um negro chocolate. Sabia também que o negão mataria ele se soubesse dos olhares, dos sus-
piros no vestiário. Mas Carlos é zagueiro de cobertura, não desiste nunca. Yo puedo ajudarte,
ofereceu el Argentino em troca duns trocados. Foi mais fácil pagar do que sujar as mãos de
sangue.
5
Émerson, por orientações táticas, jogava exatamente entre a defesa esquerda e a direita,
protegendo ambas dos avanços dos adversários. Homem correto, íntegro, religioso, funcio-
nário modelo na fábrica, pai de um menino e uma menina. Amava sua esposa, nunca traiu,
nunca desconfiou dela, nunca forçou uma transa. Seria um legítimo representante da classe
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média não morasse no morro. E não fosse ele vizinho de la casilla rosada del Argentino. E
não fosse sua casa confundida com la casilla rosada del Argentino. Morreu de bala de polí-
cia sem ter tempo de pagar a última prestação da televisão.
6
Jerônimo, codinome Fonseca, irmão caçula do Juarez, nascido no dia exato do AI-5. É o la-
teral esquerdo e, pelo óbvio, defende sempre pela esquerda. Não pôde ser advogado nem ad-
ministrador nem contador e ganhar muito dinheiro, como sonhava a mãe e insistia o irmão.
Preferiu o jornalismo. E ali travou batalhas primeiro contra os professores, depois contra os
chefes de redação e mais tarde contra as mulheres e os amigos e os políticos. Espremia-se à
esquerda do mundo. Odiava carros, estrangeirismos, lanchonetes fastifud, internéti, roliúde,
televisão, detestava todo lixo produzido pela tal indústria cultural, livros, filmes, gibis, bostas,
tudo bosta. Largou também os Sem Terra e a União dos Estudantes. Procura causas novas,
talvez uma guerrilha armada em pleno centro urbano. Já pensava à sério na proposta del
Argentino.
7
Caio é pequeno e veloz, um legítimo segundo atacante, ou atacante de velocidade. Pon-
teiro, para os saudosistas. Investe na área adversária surpreendendo os zagueiros, servindo o
centroavante e às vezes ele mesmo fazendo uns golzinhos. Caio ganhou muito dinheiro com
isso. E investe tudo em ações, veloz é para comprar e vender, aposta nas opções, lança mão
de debêntures, tanto arrisca no curto prazo que já dobrara seu capital. Mas precisava mais,
e um dia Caio perdeu. Perdeu dinheiros e razão e mulher. Perdeu opções e poder e BMW.
Não ouviu o Kléber, esse dizia para não se meter com o submundo, ainda mais con el hom-
bre. Mas com rapidez se infiltrou na área inimiga, e com rapidez perdeu tudo. Sua última
aposta foi um suicídio sem surpresas.
8
Patrício é o segundo volante, sempre à serviço do craque do time, para quem deve en-
tregar a bola depois de desarmar. Trabalha na MR Comunicações desde os catorze, quando
o pai sumiu e a mãe enlouqueceu. Cresceu na empresa, funcionário modelo por dois anos
seguidos, jornada de catorze horas na maioria dos dias da semana e seis horas no Sábado.
Nunca ficou doente. Nunca reclamou. Dez anos de casa. Teria um sido um coitado feliz. Mas
um dia descobriu no que tinha se tornado su padre e foi morar en la casilla rosada.
9
Wilson Holmer é o centroavante, atacante mais enfiado, homem de finalização, famoso
por todos e desejado por todas. Quando acerta. Estava num dia ruim. Chegou na televisão
vinte minutos depois, pediu café, trouxeram com adoçante, atirou no chão café, bandeja,
script, paciência. Voltaram com um café fresco, e ele lá escolhendo as notícias para aquela
noite. Vibrava com cada ponto na audiência como se fosse o miléssimo gol. E de dia já esta-
va lendo impressos do mundo todo, envolto por um palacete bem decorado. Mas aquele era
um dia ruim. O jornal abria com notícia sobre um acidente: policial mata desempregado por
10
Marcelo Reis é um craque, grande armador, responsável por lucros estupendos tanto da
agência onde trabalha quanto dos clientes que nele confiam. Formado num colégio de pa-
dres e sem interesse algum em qualquer faculdade, abriu o negócio confiando em seu talen-
to nato: MR Comunicações. Hoje atende proprietários de terras, jornais, bancos, mercados,
lojas, governos, ilhas, mansões, BMWs. Mas nunca tinha aparecido um cliente como esse: a
Polícia Civil. Precisamos melhorar nossa imagem nos morros, dizia o comandante. A popu-
lação não acredita mais em nós e, quer saber, nem eu, mas disseram que você faz milagre.
E fez. Marcelo Reis, craque, armador, descobriu el Argentino y su carisma, el Argentino y su
gana, el Argentino e o temor que causava em toda cidade e diagnosticou pra polícia: matem
esse cara numa batalha difícil, ao vivo. Se possível sacrifiquem dois ou três homens seus no
tiroteio. Mas façam barulho.
11
Ricardo é o elo entre o ataque e o resto. Por vezes um pouco à frente do dez, mas na
maioria das vezes ao seu lado e mesmo atrás. Homem versátil no campo e na vida. Na vida é
policial civil por profissão, segurança de boate para ganhar dinheiro. Fatura bem numa noite
indicando el Argentino. Mas um dia levou calote. Logo ele, o que fazia a ligação entre o sub-
mundo do adversário das leis e a própria lei, logo ele levou calote. Tinha que mostrar quem
manda. Aproveitou que naquele dia estaria fardado. Convenceu o colega e foram de viatura.
Subiram o morro sem alarde. Chegando em la casilla, pediram pra falar com el Argentino.
Mudou-se para a casa ao lado, avisou uma mulher. Pulou a cerca, arma destravada, pronta. A
intenção era dar um tiro na perna do caloteiro filho da puta. Tocou uma, duas vezes. Émer-
son, cansado do jogo, se levantou devagar para abrir. Ricardo não gosta de esperar. Grita
que é a polícia, conta mais três, quatro, cinco. No dia seguinte, os jornais estampam: policial
mata desempregado por engano.
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Teoria Literária
PEQUENA POÉTICA DO
MINICONTO
Marcelo Spalding
Conto de horror
http://www.flickr.com/photos/wmshc_kiwitayro/2358007302/sizes/o/
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Lopes (2001), Eles eram muitos cavalos, de Luiz podem. Uma tosse às três da manhã pode ser a
Rufatto (2001), Mínimos Múltiplos Comuns, superfície de um miniconto; a insônia, não.
de João Gilberto Noll (2003), Os cem menores
contos brasileiros do século, organizado por
Marcelino Freire (2004), Ao homem que não
me quis, de Ivana Arruda Leite (2005), Tentando
entender Monterroso, de Luiz Arraes (2005), Narratividade
A milésima segunda noite, de Fausto Wolff
(2005), Contos de Bolso e Contos de Bolsa, da
Casa Verde (2005 e 2006), Curta-Metragem e Caiu da escada e foi para o andar de cima.
Expresso 600, de Edson Rossatto (2006), Entre
Duas Mortes, organizado por Frederico Alberti
(2006), entre tantos outros. Há inclusive um Adrienne Myrtes (Os cem menores..., 2004)
livro de minicontos juvenis, do competente e
criativo gaúcho Leonardo Brasiliense, Adeus
conto de fadas (2006), que ao testar esta estética
com outro público comprovou a flexibilidade Se a brevidade originada pela concisão
do miniconto e a possibilidade de o tratarmos diferencia o mini do conto tradicional, é a
como um gênero (da mesma forma que os poe- narratividade que primeiro diferencia o mini-
tas tratam como gênero o haicai). conto do haicai ou do poema em prosa (que
não necessariamente são narrativos, ainda que
possam sê-lo). Ser narrativo significa, por óbvio,
Devido ao seu formato enxuto e de rápida narrar algo, contar a passagem de uma perso-
leitura, o miniconto se tornou um gênero cul- nagem de um estado a outro, implicitamente
tivado não apenas pelos leitores como também (como no mini do Trevisan) ou explicitamente
pelos escritores das novas gerações, seduzidos (como neste exemplo da Adrienne). Sem essa
pela (aparente) facilidade de se escrever um narratividade, corre-se sempre o risco de fazer
bom miniconto. Só aparente. Aqui nesta pre- uma simples descrição de cena ao invés de um
tensiosa poética pretendo demonstrar como al- miniconto.
gumas regras são, se não fundamentais, bastan-
te indicadas para que um miniconto funcione.
Efeito
Concisão
TV NO QUARTO
Exatidão
AVENTURA
Nasceu.
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Teoria Literária
enchendo lingüística
na samizdat:
WRITING FOR DUMMIES
http://www.flickr.com/photos/0olong/479270001/sizes/l/
Bibliografia
Criação literária
CRESSOT, Marcel. O estilo e as suas técnicas. Edições 70, 1980.
FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. Ática, 1999.
COSTA, Lígia Maura da, e REMÉDIOS, Maria Luiza Ritzel. A tragédia - Estrutura e histó-
ria. Ática, 1988.
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. Caderno de análise literária. Ática.
MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo. Ática.
BRAIT, Beth. A personagem. Ática, 1998.
GOLDBERG, Natalie. Mente selvagem. Como se tornar um escritor. Gryphus, 1994.
ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. Martins Fontes, 1993.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Vozes, 1987.
POUND, Ezra. ABC da literatura. Cultrix.
PERISSÉ, Gabriel. Ler, pensar e escrever. Arte & Ciência, 1998.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. Ática, 1999.
NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. Ática, 1995.
LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da língua portuguesa. Martins Fontes, 1991.
MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística. T. A. Queiroz, Editor, 1997.
MOISÉS, Massaud. A criação literária. Prosa I. Cultrix, 1997.
MOISÉS, Massaud. A criação literária. Prosa II. Cultrix, 1994.
GARDNER, John. A arte da ficção - orientação para futuros escritores. Civilização Brasi-
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Ensaios de quatro autores. A personagem de ficção. Perspectiva, 1998.
MOISÉS, Massaud. A análise literária. Cultrix, 1996.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Perspectiva, 1992.
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CORTÁZAR, Julio. Valise de cronópio. Perspectiva, 1993.
Conto
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GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. Ática.
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MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Como contar um conto. Casa Jorge Editorial, 1997.
GIARDINELLI, Mempo. Assim se escreve um conto. Mercardo Aberto, 1994. Cultura
Romance
DOURADO, Autran. Uma poética de romance. Matéria de Carpintaria. Rocco, 2000.
VIEIRA, Yara Frateschi. Níveis de significação no Romance. Ática.
NARCEJAC, Boileau. O romance policial. Ática.
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em 52 fins de semana. Ática, 1998.
FORSTER, Edward Morgan. Aspectos do romance. Globo, 1998.
ZUCKERMAN, Albert. Como escrever um romance de sucesso. Mandarim, 1996.
Poesia
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. Cultrix, 1997.
MOISÉS, Massaud. A criação literária. Poesia. Cultrix, 1989.
Roteiro
COMPARATO, Doc. Da criação do roteiro. Rocco, 2000.
FIELD, Syd. Manual do Roteiro. Objetiva, 1982.
FIELD, Syd. Quatro roteiros. Objetiva, 1994.
FIELD, Syd. Os exercícios do roteirista. Editora Objetiva, 1996.
CHION, Michel. O roteiro de cinema. Martins Fontes.
MEADOWS, Eliane. Roteiro para TV cinema e vídeo. Quartet, 1997.
REY, Marcos. O roteirista profissional. Ática, 1997.
HOWARD, David. Teoria e prática do roteiro. Globo, 1996.
VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. Ampersand, 1997.
Dramaturgia
PALLOTTINI, Renata. Introdução à dramaturgia. Ática, 1988.
PALLOTTINI, Renata. Dramaturgia. A construção do personagem. Ática, 1989.
Diversos
Ricardo Piglia é escritor argentino, autor de, entre outros, “Respiração Artificial” (Iluminuras) e
“Dinheiro Queimado (Companhia das Letras). O texto acima foi publicado originalmente em “O
Laboratório do Escritor” (Iluminuras).
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Poesia
MIOPIA
Carlos Alberto Barros
carloseducador@hotmail.com
http://www.flickr.com/photos/mscolly/69989549/sizes/o/
Só terão visões do alto?
Até quando a cegueira
Continuará em seus assaltos?
A Face
http://www.flickr.
com/photos/20986960@
N04/2388045935/sizes/o/
Eu sou flor que flora à tua presença,
alegre, contente, muito feliz.
Sou a flor que definha à tua ausência,
triste, implora por água, Flor-de-Lis.
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Poesia
LABORATÓRIO POÉTICO
Poetrix O eco dos homens
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
“Canção” de quê?
“Minha terra tem palmeiras...
onde canta o...”
Como era o nome mesmo?
O fim do mar
Há tanto tempo no mar
Que mar não haverá mais
Quando o tempo, enfim, acabar.
Previdência
Guarda essa vida, depressa.
Que outra assim, igual a essa
Só se vê depois que passa.
Das profundezas
http://www.flickr.com/photos/pensiero/302897854/sizes/o/
Muito de tudo
Há muito de tudo,
Há, às toneladas
E é tão pesado.
É pó.
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Poesia
Poetrix
José Espírito Santo
In finito Companhia
Chegado ao infinito, Acompanhas-me para todo o lado,
perguntou: suave constante ausência
E agora, onde vou?
Ardor Casa
Língua de fogo Á porta, ficou por ali a Berta,
não sabe a nada. já nela fechada e de morada no olhar frio,
Mais arde a pimenta em só de si, o esquecimento ou vazio!
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Poesia
Folha
Marcia Szajnbok
marciasz@hotmail.com
Sou folha...
Que venha o vento!
Que não me deixe sem sopro,
No esquecimento.
http://www.stratfordfestival.ca/imagegallery/production_images/hamlet09.jpg
Sou
Mas não sou muito
Não sou sempre
Nem sou bem isso
Sou ao meio
O que penso que seria
E o resto
Que não sou
Não sendo
Me acomete
http://www.flickr.com/photos/lf-photodesign/1565041545/sizes/o/
E desmascara
Ou subverte
O que dentro da luva havia
Sem que a mão lá supusesse
Ter sido recheio um dia.
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66 SAMIZDAT agosto de 2008
66
IZ
E SA OS
M
BR
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B R E O S AU TO R E S D A
S O
SAMIZDAT
SOBRE OS AUT
ORES DA
SAMIZDAT
Alian Moroz
SOBRE OS AUTORES DA Formado em Matemática pela
SAMIZDAT
UFPR,lecionou durante 20 anos. For-
mado ainda pela Faculdade de Belas
Artes do Paraná em Licenciatura em
Desenho,trabalhou junto a Estúdios de pro-
paganda e no setor editorial. Historiador e
Filósofo amador, venceu em 2006 o Prèmio
‘Destaque cultural’ promovido pela secre-
taria de Cultura de Curitiba com o livro ‘
Desvendando a História e os mitos Bíblicos’.
SOBRE Lançou em 2007 a primeira edição de ‘ O Manuscrito XXXII’,
seu primeiro
OS AU romance , pela Editora Corifeu. Poeta e músico nas horas vagas,
têm como
TORES
principais influências,Umberto Eco e Luis Fernando Veríssimo.
SAMIZ DA alian.moroz@hotmail.com
Carlos Alb
Paulistano
ta de s d e s e m p
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www.samizdat-pt.blogspot.com 67
67
Giselle Sato
Giselle se autodefine apenas como uma contadora de his-
tórias carioca. Estudou Belas Artes e foi comissária de bordo
— cargo em que não fez muita arte, esperamos. Adora viajar
(felizmente!) e fala alguns idiomas.
Atualmente se diverte com a literatura, participando de
concursos e escrevendo para diversos sites pela net. Gosta de
retratar a realidade, dedicando-se a textos fortes que chegam
a chocar pelos detalhes, funcionando como um eficiente pa-
norama da sociedade em que vivemos, principalmente daquilo que é
comumente jogado
para baixo do tapete pelos veículos de comunicação.
gisellesato@superig.com.br
http://www.trilhasdaimensidao.prosaeverso.net/
Guilherme Rodrigues
Estudante Letras na
Universidade do Sagrado
Coração, em Bauru, onde
sempre morou. Nutre
grande paixão por Línguas,
Literatura e Lingüística,
áreas em que se dedica
cada vez mais.
o
Henry Alfred Bugalh
a pela UFPR, com
É formado em Filosofi ra e
pecialista em Literatu
ênfase em Estética. Es as
atro romances e de du
História. Autor de qu
.
coletâneas de contos
Nova York, com sua
Mora, atualmente, em
sua cachorrinha.
esposa Denise e Bia,
.com
henrybugalho@gmail
www.maosdevaca.com
Joaquim Bispo
Ex-técnico de televisão,
xadrezista e pintor amador,
licenciado recente em His-
tória da Arte, experimenta
agora o prazer da escrita,
em Lisboa.
Marcia Szajnbok
Médica formada pela Facul-
dade de Medicina da Univer-
sidade de São Paulo, trabalha
como psiquiatra e psicanalista.
Apaixonada por literatura e lín-
guas estrangeiras, lê sempre que
pode e brinca de escrever de vez
em quando. Paulistana convicta,
lo.
vive desde sempre em São Pau
marciasz@hotmail.com
Volmar Camargo Ju
nior é gaúcho. Form
em Letras pela Unive ado
rsidade de Cruz Alta,
leciona por sua próp nã o
ria vontade. Entrou na
em 2004, e desde en ECT
tão já morou em meia
de “Pereirópolis” pelo dúzia
Rio Grande. Atualm
vive com a esposa Na en te
tascha em Canela, na
Gaúcha. Dividem o ap Serra
artamento com Marie,
uma gata voluntario
sa e cínica.
v.camargo.junior@gm
http://recantodasletra ail.com
s.uol.com.br/autores/v
cj
Zulmar Lopes -
ca. Formado em jorna
Zulmar Lopes é cario tra ba lh a
de Gama Filho,
lismo pela Universida ciana e
prensa. Alma provin
como assessor de im en-
contra-se provisoriam
coração suburbano, en irro
olita Copacabana, ba
te exilado na cosmop sit ua ções
personagens e
fonte de inspiração de fu gir
ntos. Escreve para
que compõem seus co
do marasmo.www.samizdat-pt.blogspot.com 69
Também nesta edição,
textos de