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Instituto de Química de São Carlos – IQSC

Universidade de São Paulo

Glicólise
Fermentações alcoólica e lática

Disciplina: SQM0416 - Bioquímica II


Docente: Profa.
Profa. Dra. Fernanda Canduri
Turma: 2010201 - Bacharelado em Química
Conteúdo
 Digestão de carboidratos
 Visão geral da glicólise
 As reações da glicólise
 Fermentação: destino anaeróbico do piruvato
Fermentação homolática
Fermentação alcoólica
Energética da fermentação
 Controle da glicólise
 Metabolismo de outras hexoses
Frutose
Galactose
Manose
 A via das pentoses-fosfato
2º semestre /2010
A digestão de carboidratos inicia-
inicia-se na boca

 Durante a mastigação, a α-amilase salivar atua


brevemente sobre o amido da dieta, rompendo ligações
α(14)
 Amilopectina e glicogênio possuem ligações α(16), e
sendo assim, o produto da digestão da α-amilase
α
contém uma mistura de moléculas de oligossacarídeos
menores e ramificados.
 A digestão dos carboidratos cessa temporariamente no
estômago, devido ao pH que inativa a α-amilase salivar

2º semestre /2010
A digestão subsequente ocorre no intestino
delgado

 No intestino delgado, o conteúdo gástrico é neutralizado


pelo bicarbonato secretado pelo pâncreas, e a α-amilase
pancreática continua o processo digestivo

 A digestão final dos carboidratos ocorre pela ação de


enzimas da mucosa intestinal – dissacaridases e
oligossacaridases

 A absorção de monossacarídeos pelas células da


mucosa intestinal – o duodeno e o jejuno superior
absorvem a maior parte dos açúcares da dieta

2º semestre /2010
Visão geral da glicólise

 A glicose presente no sangue é resultado da quebra de


polissacarídeos, como o glicogênio do fígado, ou o
amido e o glicogênio da dieta.
 Ou ainda de sua síntese a partir de precursores não
glicídicos – a gliconeogênese
 A glicose entra na célula por meio de transportador
específico
 Enzimas da glicólise estão localizadas no citosol da
célula

2º semestre /2010
A glicólise pode ser dividida em dois
estágios:

 1. Investimento de energia. A glicose é fosforilada e


clivada para gerar duas moléculas de triose
gliceraldeído-3-fosfato (GAP). Processo que consome 2
ATPs.

 2. Recuperação de energia. As duas moléculas de


gliceraldeído-3-fosfato (GAP) são convertidas em 2
moléculas de piruvato com a produção de 4 ATPs, tendo
um saldo líquido de 2 ATPs.

2º semestre /2010
1º - Investimento de energia

2º semestre /2010
2º - Recuperação de energia

2º semestre /2010
A reação total

Glicose + 2 NAD+ + 2 ADP + 2 Pi 


2 piruvato + 2 NADH + 2 ATP + 2 H2O + 4 H+

O NADH formado nesse processo deve ser


reoxidado continuamente para manter a via
abastecida com seu principal agente oxidante, o
NAD+.

2º semestre /2010
As reações da glicólise

Hexoquinase – a primeira utilização do ATP


Reação 1: transferência de um grupo fosfato do ATP para
a glicose, formando glicose-6-fosfato (G6P)

2º semestre /2010
A primeira reação

2º semestre /2010
Mudança conformacional da hexoquinase na presença
da glicose

A hexoquinase catalisa a fosforilação de hexoses como D-glicose, D-


manose e D-frutose

O segundo substrato para a hexoquinase é o complexo Mg2+-ATP


A segunda reação

 A reação 2 é a conversão da G6P em frutose-6-fosfato


(F6P) por meio da fosfoglicose-isomerase (PGI) – faz a
isomerização de uma aldose para uma cetose
Fosfofrutoquinase: segunda utilização de ATP

 Na reação 3, a fosfofrutoquinase (PFK) fosforila F6P


para formar frutose-1,6-bifosfato (FBP ou F1,6P)
 Esta enzima catalisa o ataque nucleofílico do grupo C1-
OH sobre o átomo eletrofílico γ-fósforo do complexo
Mg2+-ATP
 A fosfofrutoquinase desempenha um papel fundamental
no controle da glicólise porque catalisa uma das reações
determinantes do fluxo dessa via
 Pode ter a atividade aumentada pelo AMP e inibida pelo
ATP e citrato

2º semestre /2010
A terceira reação

2º semestre /2010
As três
primeiras
reações da
glicólise

2º semestre /2010
Aldolase
 A aldolase catalisa a quarta reação
 Cliva a frutose-1,6-bifosfato para formar duas trioses –
gliceraldeído-3-fosfato (GAP) e diidroxiacetona-fosfato (DHAP)
Triose--fosfato
Triose fosfato--isomerase (TIM)

 Somente um dos produtos da reação, o gliceraldeído-3-


fosfato, continua na via glicolítica

 Ambos, gliceraldeído-3-fosfato (GAP) e diidroxiacetona


fosfato (DHAP), são isômeros cetose-aldose, assim
como a F6P e a G6P

 GAP e DHAP são interconvertidos por uma reação de


isomerização com um intermediário enediol

2º semestre /2010
Reação de isomerização pela TIM

A triose-fosfato-isomerase catalisa esse processo na


reação 5 da glicólise, a reação final da etapa 1.

2º semestre /2010
Balanço da etapa 1 da glicólise

 Uma molécula de glicose foi transformada em duas


moléculas de GAP

 2 ATPs foram consumidos na geração de intermediários


fosforilados

 O investimento de energia ainda não foi compensado

2º semestre /2010
Gliceraldeído--3-fosfato
Gliceraldeído fosfato--desidrogenase (GAPDH)

 Formação do primeiro intermediário de alta energia

 A reação 6 é a oxidação e a fosforilação do GAP por


NAD+ e Pi catalisada pela GAPDH

 Reação exergônica que promove a síntese do acil-


fosfato de alta energia, 1,3-bisfosfoglicerato (1,3-BPG)

 acil-fosfato – compostos com alto potencial de


transferência de grupos fosfato

2º semestre /2010
Síntese do 1,3-
1,3-bifosfoglicerato
Reação 6 – primeira reação da segunda etapa

2º semestre /2010
Fosfoglicerato--quinase (PGK)
Fosfoglicerato

 Primeira geração de ATP


 A reação 7 produz ATP junto com 3-fosfoglicerato
(3PG), em uma reação catalisada pela fosfoglicerato-
quinase
 Esta mesma quinase realiza a reação inversa, que é
uma transferência de grupo fosfato do ATP para o
3PG, formando 1,3-BPG.

fosfoglicerato-quinase
A reação realizada pela PGK

2º semestre /2010
Acoplamento entre as reações de GAPDH e PGK

 Uma reação levemente desfavorável pode ser acoplada a


uma reação altamente favorável, de forma que ambas
ocorram no sentido direto
 Nas reações 6 e 7, o 1,3-BPG é o intermediário comum

GAP + Pi + NAD+  1,3-BPG + NADH ∆G0 = +6,3kJ/mol

1,3-BPG + ADP  3PG + ATP ∆G0 = -18,5 kJ/mol

GAP + Pi + NAD+ + ADP  3PG + NADH + ATP


∆G0 = -12,2 KJ/mol

Exemplo de fosforilação ao nível do substrato


Fosfoglicerato--mutase
Fosfoglicerato

 Na reação 8, o 3-fosfoglicerato é convertido em 2-


fosfoglicerato (2PG) pela fosfoglicerato-mutase (PGM).
 As mutases catalisam a transferência de um grupo
funcional de uma posição para outra em uma mesma
molécula.
 Esta reação é uma preparação para a próxima reação
da via.
Enolase

 Formação do segundo intermediário de alta energia


 Na reação 9, o 2-fosfoglicerato é desidratado a
fosfoenolpiruvato (PEP)
Piruvato quinase (PK)

 Segunda geração de
ATP
 Na reação 10, a reação
final, a PK acopla a
energia livre da
clivagem do
fosfoenolpiruvato a
síntese de ATP
durante a formação do
piruvato
Piruvato quinase (PK)

 A reação é altamente exergônica, fornecendo energia


livre suficiente para promover a síntese de ATP

 Outro exemplo de fosforilação ao nível do substrato

 O alto potencial de transferência de grupo fosfato do


PEP reflete a alta liberação de energia livre ao converter
o produto enolpiruvato em piruvato.
Avaliação da etapa 2 da glicólise

 O investimento da primeira etapa é pago em dobro na


segunda etapa
 Duas unidades C3 fosforiladas são transformadas em
dois piruvatos, com a síntese acoplada de 4 ATPs

GLICOSE + 2 NAD+ + 2 ADP + 2 Pi 


2 PIRUVATO + 2 NADH + 2 ATP + 2 H2O + 4H+

2º semestre /2010
Os três destinos metabólicos comuns do piruvato
Fermentação: o destino anaeróbico do piruvato

 O piruvato deve ser convertido em um produto final


reduzido para reoxidar o NADH oxidado pela reação de
GAPDH

 Em leveduras, o piruvato é descarboxilado para produzir CO2 e


acetaldeído, o qual é reduzido na presença de NADH,
produzindo NAD+ e etanol – fermentação alcoólica
 A fermentação ocorre em vários microrganismos
 Nos músculos, em condições anaeróbicas, o piruvato é
reduzido a lactato para gerar novamente NAD+ em um
processo conhecido como fermentação homolática

Na glicólise anaeróbica, a energia livre de oxidação é


dissipada sob a forma de calor.
2º semestre /2010
Fermentação homolática

 Nos músculos, durante atividade física vigorosa, a


demanda de ATP é alta e o suprimento de O2 é baixo

 A lactato desidrogenase catalisa a oxidação de NADH e


a redução do piruvato produzindo NAD+ e lactato

 Esta reação é reversível, de forma que as


concentrações de piruvato e lactato são prontamente
equilibradas

2º semestre /2010
Fermentação homolática

O processo geral pode ser


representado como:
GLICOSE + 2 ADP + 2 Pi
2 LACTATO + 2 ATP + 2 H2O + H+

2º semestre /2010
Fermentação homolática

 O lactato pode ser exportado da célula como convertido


novamente a piruvato

 Grande parte do lactato é transportado pelo sangue até


o fígado, onde é usado para sintetizar glicose

2º semestre /2010
Fermentação alcoólica

 Nas leveduras, o piruvato é convertido em


etanol e em CO2

 O etanol é o ingrediente ativo dos vinhos e


destilados de bebidas

 O CO2 produzido faz crescer o pão

2º semestre /2010
As duas reações
consecutivas

A descarboxilação de
piruvato a acetaldeído
e CO2 pela piruvato-
descarboxilase

A redução de
acetaldeído a etanol
pela álcool-
desidrogenase, na
presença de NADH

2º semestre /2010
Energética da fermentação

 Para a fermentação homolática

GLICOSE  2 LACTATO + 2 H+ ∆G0 = -196 kJ/mol

 Para a fermentação alcoólica


GLICOSE  2 CO2 + 2 etanol ∆G0 = -235 kJ/mol

2º semestre /2010
Energética da fermentação

 A fermentação resulta na produção de 2 ATPs por


glicose, ao passo que a fosforilação oxidativa produz até
38 ATPs por glicose

 A velocidade de produção de ATP pela glicólise


anaeróbica pode ser até 100 vezes mais rápida que a da
fosforilação oxidativa

 Quando o músculo consome ATP, ele volta a gerá-lo


quase completamente pela glicólise anaeróbica

 Não há desperdício de glicose, pois o lactato é


aerobicamente reconvertido em glicose pelo fígado

2º semestre /2010
O ciclo de Cori - o lactato é aerobicamente
reconvertido em glicose pelo fígado
Controle da glicólise

 Enzimas que operam longe das condições de equilíbrio


são potenciais pontos de controle

 Identificação dos modificadores alostéricos das enzimas


que catalisam as reações determinantes da velocidade
da via – efeito sobre a cinética da enzima

 Variação da concentração dos metabólitos

2º semestre /2010
Variações fisiológicas reais de energia livre
associadas a cada reação da via

Reação Enzima ∆G (kJ/mol)


1 Hexoquinase -20,9 -27,2
2 PGI +2,2 -1,4
3 PFK -17,2 -25,9
4 Aldolase +22,8 -5,9
5 TIM +7,9 +4,4
6+7 GAPDH + PGK -16,7 -1,1
8 PGM +4,7 -0,6
9 Enolase -3,2 -2,4
10 PK -23,0 -13,9

2º semestre /2010
Apenas três reações funcionam com grandes variações
negativas de energia livre no músculo cardíaco

 Hexoquinase
 Fosfofrutoquinase
 Piruvato quinase

 São pontos de controle da via

 As outras reações funcionam próximo ao equilíbrio,


sendo sensível às mudanças na concentração dos
intermediários da via, e acomodando-se às mudanças
no fluxo geradas pelas etapas determinantes da
velocidade

2º semestre /2010
Hexoquinase (HK), Fosfofrutoquinase (PFK) e Piruvato
quinase (PK) são pontos de controle da via

Alguns efetores das enzimas que agem longe do equilíbrio

2º semestre /2010
A fosfofrutoquinase é o principal ponto de controle da via
glicolítica

Regulação pela frutose 2,6-


difosfato (F2,6P):

• a PFK é uma enzima


bifuncional (quinase-fosfatase)
•F2,6P é o ativador mais
potente da PFK
• consequentemente, é inibidor
da frutose 1,6-bifosfatase
• as ações recíprocas
asseguram que ambas as rotas
não estejam completamente
ativas ao mesmo tempo

2º semestre /2010
Metabolismo de outras hexoses

 As hexoses frutose, galactose e manose são


combustíveis metabólicos importantes

 Estes são convertidos em intermediários glicolíticos, os


quais são metabolizados pela via glicolítica

2º semestre /2010
Visão geral do metabolismo de outras hexoses

2º semestre /2010
Metabolismo da galactose

2º semestre /2010
A via das pentoses-
pentoses-fosfato

Também denominada desvio hexose-monofosfato


O NADP é gerado pela oxidação de G6P por meio de uma
via alternativa a glicólise - a via das pentoses-fosfato
Presente nos tecidos mais envolvidos na biossíntese de
lipídeos, como fígado, glândulas mamárias, tecido adiposo
e córtex adrenal
Presente em microrganismos fermentativos

2º semestre /2010
A via
das
Pentoses--
Pentoses
Fosfato
Via das pentoses-
pentoses-fosfato
Compreende três estágios:

1. reações oxidativas que


produzem NADPH e
ribulose-5-fosfato (Ru5P)
2. Reações de
isomerização e
epimerização que
transformam Ru5P em
ribose-5-fosfato ou
xilulose-5-fosfato
3. Reações de clivagem e
de formação de ligações
carbono-carbono

2º semestre /2010
Via das pentoses-
pentoses-fosfato
1

3
Reações não-oxidativas

2º semestre /2010
Reações oxidativas
Reações de isomerização e epimerização da
ribulose--5-fosfato
ribulose

isomerização

epimerização
Reações de clivagem e de formação de ligações
carbono--carbono
carbono

transketolase + R5P
Diferentes modos de ação da via das pentoses-
pentoses-fosfato

1. R5P e
NADPH são
necessários:
toda Ru5P
são
convertidas a
R5P. Via
oxidativa
2. R5P é o mais 3. A célula precisa
requerido: de NADPH e ATP:
R5P é G6P é convertido a
sintetizado R5P (via
pelas vias oxidativa), e este é
oxidativa, e convertido a F6P e
não oxidativa GAP, e usados na
via glicolítica
2º semestre /2010
Lista de exercícios

1. Defina: anabolismo e catabolismo. Como ambos processos se relacionam? Dê exemplo de uma via
anabólica e de uma via catabólica.
2. Descreva as diferentes formas de controle do fluxo metabólico.
3. A hidrólise do ATP é um processo espontâneo ou não espontâneo? Porque? Que enzimas utilizam
ATP em suas reações?
4. Explique o significado metabólico das reações que funcionam próximas ao equilíbrio e das reações
que atuam distantes do equilíbrio.
5. Analise a via glicolítica:
a. Por que seu saldo final são 2 ATPs e 2 NADH? Explique.
b. Qual reação gera 2 moléculas de H2O?
c. Qual o destino dos ATPs gerados?
d. Qual o significado metabólico das reações que funcionam próximas ao equilíbrio e das reações
que atuam distantes do equilíbrio?
e. Como a glicose chega à corrente sanguínea? Quais seus possíveis destinos?
f. Qual a importância da triose fosfato isomerase?
g. Quais os possíveis destinos da glicose-6-fosfato?
h. Quais os possíveis destinos do piruvato? Explique considerando a presença e ausência de O2.
i. Que enzima realiza a reação determinante da via? Porque?
6. Fale sobre a importância da via das pentoses-fosfato. Porque é considerado um desvio das hexoses
monofosfato?

2º semestre /2010

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