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Apresentação

Caro leitor, esta obra destina-se a todos os


professores e professoras, que em sua difícil
missão de distribuir o conhecimento acabam
deparando-se com situações que lhes trazem
desassossego, desanimo e sensação de
impotência frente as dificuldades oferecidas
no dia a dia da sala de aula ou da gestão
escolar.

Neste livro o leitor perceberá que nem tudo


está perdido e que também não somos tão
vulneráveis da forma com que alguns pensam
que somos.

Basta que saibamos como lidar com cada uma


das questões rotineiras ou não do nosso dia a
dia.

Só que para que isso aconteça é necessário


que conheçamos nossos direitos e o direito de
nossos alunos quer sejam eles crianças,
adolescentes ou adultos.

Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

Dedicatória
Dedico esta obra a todos aqueles que
escolheram o Magistério como verdadeiro
sacerdócio, mistério impar em suas vidas,
mulheres e homens dedicados a distribuir
conhecimento independentemente da clientela
ou das condições de trabalho a que são
apresentados ou submetidos e na condição de
sacerdotes, não medem esforços para bem
cumprir sua missão, ainda que, isso custe o
sacrifício de sua própria vida social,
dedicando-se diuturnamente a aprender para
melhor ensinar.

Por tudo isso, rendo minhas humildes


homenagens ao professorado brasileiro que
não ficou parado no tempo, observando os
acontecimentos, nem se vergou frente ao julgo
das dificuldades e falta de reconhecimento,
mas que viveu a historia e efetivamente a
escreveu, cada um em sua própria área, mas
todos juntos na infinita busca do
conhecimento.

Mulheres e homes que sem qualquer


egoísmo resolveram dar de si sem pensar em
si, para formar um povo capaz de criar uma
sociedade educada e justa onde todos,
seremos verdadeiramente iguais.

Wandemberg Marques

Wandemberg Marques 2
Lei como fonte de Educação

Índice
Capítulo I - Violência
1. O que é violência ?........................11-12
2. O que é Violência Escolar?...........13-15
3. Tipos de Violência..............................15
4. Violência contra o patrimônio.............15
5. Violência Simbólica. .....................15-16
6. violência física....................................16
7. Fatores que levam os jovens a praticar
atos violentos................................16-19
8. O que é e como proceder nos casos de
homofobia na escola?...................19-21
9. O que é violência domestica é
violência intra-familiar?..................21-22
10. A violência Intra-familiar é um problema
só do Brasil?.......................................22
11. Existem fatores que contribuem para
violência intra-familiar?.......................22
12. O que é violência de gênero?.......23-24
13. Qual a diferença entre crime e
violência?......................................24-25
14. Qual a natureza dos atos
violentos........................................25-26
15. Praticas pedagógicas enquanto fonte
de violência psicológica ?..............26-30
16. Violência psicológica na relação
professor/aluno: o marco
conceitual......................................30-34

3 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
17. Critérios para identificação do
fenômeno............................................35
18. Rejeição..............................................35
19. Denegrir/Difamar...........................35-36
20. Terrorismo..........................................36
21. Isolamento/Confinamento...................36
22. indiferença frente às demandas afetivas
da criança......................................36-64
23. Violência sexual............................64-65
24. aspectos culturais da violência
sexual.................................................65
25. Incesto...........................................65-68
26. Pedofilia..............................................70
27. O que parece existir de comum entre
um individuo que pratica incesto e outro
que pratica a pedofilia?.................70-71
28. privação ou negligencia?....................71

Capitulo II – Violência
sexual contra criança e
adolescente como
identificar e proceder?
29. Aspectos político-sociais.............72-73
30. Aspectos econômicos...................73-74
31. Quais são as formas de expressão da
violência ou abuso sexual contra a
criança ou adolescente?.....................74
32.Onde a violência sexual pode
ocorrer?..............................................74-75

Wandemberg Marques 4
Lei como fonte de Educação
33.Qual o perfil da vitima de violência
sexual?.....................................................75
34.Treinando o olhar do educador para
identificar a violência domestica e ou
abuso sexual.......................................76-77
35.Como perceber se a criança ou o
adolescente esta sofrendo abuso sexual-
Principais aspectos.............................77-78
36.3Quais são os efeitos mais imediatos
do abuso sexual?.....................................78
37.Quais são os efeitos do abuso sexual
evidenciados em médio e longo
prazo?......................................................79
38.Como abordar a criança ou adolescente
que relata sofrer abuso sexual?.........79-81
39.Como a escola deve proceder em
relação à família de uma criança ou
adolescente que relata sofrer abuso
sexual?...............................................81-82
40.O que a escola pode fazer para prevenir
a violência sexual e orientar as crianças e
adolescentes?..........................................82
Capítulo III –
Condutas do Servidor
e Atitudes da Direção.
41. Qual o direito tem a servidora que
estiver em situação de violência domestica
e familiar?...........................................83-84
42. Que providencias devem ser tomadas
no caso de um servidor agredir, verbal ou

5 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
fisicamente, um outro aluno ou um colega
de trabalho?........................................84-85
43.Lesão Corporal..............................85-87
44.O que fazer com servidor que entrar
com drogas na escola?.......................87-89
45.O que fazer se um servidor se
apresentar para trabalhar sob efeito de
álcool e/ou outras drogas?.......................89
46.O que fazer quando a escola suspeitar
que um servidor está abusando de álcool
e/ou drogas?.......................................89-91
47.O que pode ser feito a fim de evitar
futuras dificuldades com servidores
dependentes químicos?......................91-93
48.O que fazer se um servidor manifestar
atitudes racistas?................................93-99
49.O que fazer diante de um roubo ou furto
cometido por servidor?.....................99-100
50.O que é Roubo?................................101
51.O que é Furto?...........................101-102
52.O que é furto qualificado?.................102
53.O que é peculato?.....................102-103
54.O que fazer diante de uma denuncia de
assédio sexual por parte de servidor contra
aluno?....................................................104
55. O que fazer diante da denuncia de
assédio sexual de servidor contra
servidor?...............................................105
56.Pode existir assédio moral de um
professor em relação ao aluno?.....105-106
57.Abuso de autoridade versus abuso de
poder...............................................106-115

Wandemberg Marques 6
Lei como fonte de Educação

Capítulo IV – Direitos
e Responsabilidades
dos alunos.
59.Quais são os direitos dos alunos e
alunos especiais?..................................116
60.De que forma o aluno deve ser
convocado par o programa de
recuperação?.........................................116
61.De que forma o aluno deve ser
informado de seu direito de recurso em
caso de reprovação?.............................117
62.De que forma o aluno pode reivindicar
direitos individuais ou coletivos?...........117
63.O aluno pode decidir de que forma se
veste para freqüentar as aulas?.....117-118
64.O aluno tem que ser informado sobre
quais são as condutas apropriadas e as
que podem resultar em sanções
disciplinares?.........................................118
65.Em que momento o aluno deve estar
acompanhado de seus pais ou
responsáveis?........................................118
Capítulo V – Deveres
.

dos Alunos
67.Deveres e responsabilidades dos
alunos.............................................119-120

7 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

Capítulo
68 VI –
Conduta em ambiente
escolar
69.O aluno pode ausentar-se da sala de
aula ou prédios escolares?.............121-122
70.O aluno pode usar em sala de aula ou
demais locais de aprendizado escolar
telefones celular ou qualquer outro
equipamento eletrônico que perturbem o
ambiente escolar?..........................122-124
71.Constitui falta disciplinar o aluno que faz
barulho em classe, na biblioteca ou
corredores?.....................................124-125
72.O aluno que desrespeita, desacata ou
afronta Diretores, Professores ou
Funcionários e colaboradores da escola
comete falta disciplinar?........................125
73.O aluno que apresenta-se para aula sob
efeito de substancias nocivas à saúde e a
convivência social comete infração
disciplinar?......................................125-126
74.O que é Calunia?..............................126
75. O que é Difamação?................126-127
76. O que Injuria?..................................127
77. Na atitudes escolares de que forma o
aluno pode incorrer em crime ,fraude,falsa
identidade, falsidade ideológica?...127-129
78. Que crime ou ato infracional comete o
aluno que plagia trabalho escolar de outra
pessoa............................................129-131

Wandemberg Marques 8
Lei como fonte de Educação
79.Quem destrói, danifica de qualquer
forma material ou equipamentos escolares
comete algum crime?.....................131-132
80.O crime de dano........................132-135
81.Empregar gestos ou expressões verbais
que impliquem ameaças a terceiros,
incluindo hostilidade ou intimidação é
crime?.............................................136-138
82. Quem briga na escola, dando tapas,
socos, ponta pés um no outro comete
crime?.............................................138-139
83.Que crime pratica quem participar,
estimular ou organizar incidente de
violência grupal ou generalizada ?.139-141
84.Sujeitos do crime de rixa...........141-142
85. Das formas de surgimento da
rixa..................................................142-143
86.Da tentativa e participação........143-144
87.Legitima defesa na rixa.............145-146
88. Rixa Qualificada.......................146-155
Capítulo VII –
Medidas Disciplinares
90.O não cumprimento dos deveres e a
incidência em faltas disciplinares poderão
acarretar ao aluno que medidas
disciplinares?.................................156-158

9 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
91. As medidas disciplinares deverão ser
aplicadas aos alunos em função da
gravidade da falta, idade do aluno, grau de
maturidade e histórico disciplinar,
comunicando-se aos pais ou responsáveis
.......................................................159-160
Capítulo VIII -
Procedimentos
92.O que é Ampla Defesa?............160-161
93.O que é Contraditório..?............161-162
94 Entendendo melhor a Ampla Defesa e
o Contraditório................................162-172
95A aplicação de medidas disciplinares
isenta os alunos ou responsáveis do
ressarcimento?......................................172
Capítulo IX Recursos
Disciplinares
Adicionais,
referências
bibliográficas

Wandemberg Marques 10
Lei como fonte de Educação

Capítulo I
VIOLÊNCIA
1. O que é violência?

Segundo Maria Helena Palucci Marziale


em seus comentários publicados a Revista
Latino Americana de Enfermagem 2004
março-abril, violência é um problema social e
de saúde pública que ameaça o
desenvolvimento dos povos, afeta a qualidade
de vida e corrói o tecido social. É um
fenômeno mundial que atravessa todas as
fronteiras, que independe de raça, idade,
condição socioeconômica, educação, credo ou
religião, orientação sexual e local de trabalho.

Atualmente atinge proporções


epidêmicas, com amplas ramificações na
atenção a saúde. No entanto, a violência não
é algo novo, a história de Caim e Abel na
Bíblia é exemplo de como é quase impossível
descrever qualquer trajetória humana sem
reconhecer a convivência com o uso da força,
da experiência de dominação e das tentativas
de exclusão do outro.

11 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

Um dos problemas principais do


fenômeno da violência é sua etiologia e sua
pluricausalidade. É simples dizer que a
violência se enraíza nos fundamentos das
relações sociais, é muito difícil determinar
suas causas. Existem correntes que a
sustentam como resultante de necessidades
biológicas, outra que a explica partir dos
indivíduos, outras que a reconhecem como um
fenômeno de causalidade apenas social
provocada ora por ruptura da ordem, ora pela
vingança dos oprimidos, ora pela fraqueza do
Estado.

A violência é definida pela Organização


Mundial da Saúde (OMS) como o “uso
intencional da força ou poder em uma forma
de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo,
outra pessoa ou grupo ou comunidade, que
ocasiona ou tem grandes probabilidades de
ocasionar lesão, morte, dano psíquico,
alterações do desenvolvimento ou privações”.

Além dos conflitos civis e das guerras,


a violência pode ser, física, sexual,mental e
moral. É um termo genérico que inclui todo o
tipo de abusos: o comportamento que
humilha, degrada ou danifica o bem estar, a
dignidade e o valor da pessoa.

Dentre os aspectos atualmente


preocupantes, está a magnitude do problema
apresentado pelas mortes por homicídios e

Wandemberg Marques 12
Lei como fonte de Educação
suicídios, violência intra-familiar, sexual,
contra crianças, adolescentes, idosos,
mulheres e no trabalho.

2. O que é violência escolar?


VIVIANE AVELINO MARCELOS em
artigo publicado sobre sociologia explica de
forma bastante clara e objetiva o que é
violência escola, segundo a qual, a violência é
hoje uma das principais preocupações da
sociedade. Ela atinge a vida e a integridade
física das pessoas. É um produto de modelos
de desenvolvimento que tem suas raízes na
história.

A definição de violência se faz


necessária para uma maior compreensão da
violência escolar. É uma transgressão da
ordem e das regras da vida em sociedade. É o
atentado direto, físico contra a pessoa cuja
vida, saúde e integridade física ou liberdade
individual correm perigo a partir da ação de
outros. Neste sentido Aida Monteiro se
expressa "entendemos a violência, enquanto
ausência e desrespeito aos direitos do
outro"[1]. No estudo realizado pela autora em
uma escola, buscou-se perceber a concepção
de violência dada pelo corpo docente e
discente da instituição.

Para o corpo discente "violência


representa agressão física, simbolizada pelo

13 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
estupro, brigas em família e também a falta de
respeito entre as pessoas". Enquanto que
para o corpo docente "a violência, enquanto
descumprimento das leis e da falta de
condições materiais da população, associando
a violência à miséria, à exclusão social e ao
desrespeito ao cidadão".

É importante refletirmos a diferença


entre agressividade, crime e violência.

A agressividade é o comportamento
adaptativo intenso, ou seja, o indivíduo que é
vítima de violência constante têm dificuldade
de se relacionar com o próximo e de
estabelecer limites porque estes às vezes não
foram construídos no âmbito familiar. O sujeito
agressivo tem atitudes agressivas para se
defender e não é tido como violento. Ele
possui "os padrões de educação contrários às
normas de convivência e respeito para com o
outro ." ABRAMOVAY ; RUA ( 2002) A
construção da paz vem se apresentando em
diversas áreas e mostra que o impulso
agressivo é tão inerente à natureza humana
quanto o impulso amoroso; portanto é
necessária a canalização daquele para fins
construtivos, ou seja, a indignação é aceita
porém deve ser utilizada de uma maneira
produtiva.

O crime é uma tipificação social e


portanto definido socialmente é uma rotulação
atribuída a alguém que fez o que reprovamos.

Wandemberg Marques 14
Lei como fonte de Educação
"Não reprovamos o ato porque é criminoso. É
criminoso porque o reprovamos"(Émile
Durkheim).

Violência pode ser também “uma


reação conseqüente a um sentimento de
ameaça ou de falência da capacidade
psíquica em suportar o conjunto de pressões
internas e externas a que está submetida”.

3. Tipos de violência
A violência que as crianças e os
adolescentes exercem, é antes de tudo, a que
seu meio exerce sobre eles COLOMBIER et
al.(1989). A criança reflete na escola as
frustrações do seu dia - a - dia. É neste
contexto que destacamos os tipos de violência
praticados dentro da escola.

4. Violência contra o patrimônio

É a violência praticada contra a parte


física da escola. “É contra a própria
construção que se voltam os pré-adolescentes
e os adolescentes, obrigados que são a
passar neste local oito ou nove horas por dia."
COLOMBIER et al.(1989)

5 Violência simbólica
É a violência que a escola exerce sobre
o aluno quando o anula da capacidade de

15 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
pensar e o torna um ser capaz somente de
reproduzir. “A violência simbólica é a mais
difícil de ser percebida. porque é exercida pela
sociedade quando esta não é capaz de
encaminhar seus jovens ao mercado de
trabalho, quando não lhes oferece
oportunidades para o desenvolvimento da
criatividade e de atividades de lazer; quando
as escolas impõem conteúdos destituídos de
interesse e de significado para a vida dos
alunos; ou quando os professores se recusam
a proporcionar explicações suficientes,
abandonando os estudantes à sua própria
sorte , desvalorizando-os com palavras e
atitudes de desmerecimento". (ABRAMOVAY ;
RUA , 2002, p.335) a violência simbólica
também pode ser contra o professor quando
este é agredido em seu trabalho pela
indiferença e desinteresse do aluno.
ABRAMOVAY ; RUA (2002).

6. Violência física
"Brigar, bater, matar, suicidar, estuprar,
roubar, assaltar, tiroteio, espancar,
pancadaria, neguinho sangrando, ter guerra
com alguém, andar armado e, também
participar das atividades das gangues”
ABRAMOVAY et al. (1999)

7.Os fatores que levam os jovens a


praticar atos violentos

Wandemberg Marques 16
Lei como fonte de Educação
São inúmeros os fatores que podem
levar uma criança ou um adolescente a um ato
delitivo, a seguir, abordaremos os que
acreditamos serem os mais relevantes.

A desigualdade social é um dos fatores


que levam um jovem a cometer atos violentos.

A situação de carência absoluta de


condições básicas de sobrevivência tende a
embrutecer os indivíduos, assim, a pobreza
seria geradora de personalidades destrutivas.
“A partir desse ... de estar numa posição
secundária na sociedade e de possuir menos
possibilidades de trabalho, estudo e consumo,
porque além de serem pobres se sentem
maltratados, vistos como diferentes e
inferiores. Por essa razão, as percepções que
têm sobre os jovens endinheirados são muito
violentas e repletas de ódio..." ABRAMOVAY
et al. (1999) é uma forma de castigar a
sociedade que não lhe dá oportunidades.

A influência de grupos de referência de


valores , crenças e formas de comportamento
seria também uma motivação do jovem para
cometer crimes.

"O motivo pelo qual os jovens..aderem


às gangues é a busca de respostas para suas
necessidades humanas básicas, como o
sentimento de pertencimento, uma maior
identidade, auto-estima e proteção, e a
gangue parece ser uma solução para os seus

17 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
problemas a curto prazo" ABRAMOVAY et al.
(1999), assim, o infrator se sente protegido por
um grupo no qual tem confiança. “Valores
como solidariedade, humildade,
companheirismo, respeito, tolerância são
pouco estimulados nas práticas de
convivência social, quer seja na família, na
escola, no trabalho ou em locais de lazer. A
inexistência dessas práticas dá lugar ao
individualismo, à lei do mais forte, à
necessidade de se levar vantagem em tudo, e
daí a brutalidade e a intolerância",
(MONTEIRO,2003) a influência das gangues
que se aliam ao fracasso da família e da
escola. A educação tolerante e permissiva não
leva a ética na família. Os pais educam seus
filhos e estes crescem achando que podem
tudo.

É dentro das gangues ou das


quadrilhas como se refere Alba Zaluar que os
jovens provam sua audácia , desafiam o medo
da morte e da prisão. É uma subcultura
criminosa marcada pela atuação masculina
(ZALUAR, 1992, p.27). O indivíduo enfrenta
uma grande oferta de oportunidades: o uso de
drogas, uso de bebidas alcoólicas, uso da
arma de fogo aliada a inexistência do controle
da polícia, da família e comunidade tornam o
indivíduo motivado a concluir o ato delitivo.
“Carências afetivas e causas sócio-
econômicas ou culturais certamente aí se
misturam, para desembocar nestas atitudes”
(COLOMBIER,1989,p.35) . “A disponibilidade

Wandemberg Marques 18
Lei como fonte de Educação
de armas de fogo e as mudanças que isso
impõe às comunidades conflituosas,
contribuindo para o aumento do caráter mortal
dos conflitos nas escolas” ABRAMOVAY ;
RUA (2002, p.73) “a falta de policiamento
agrava a situação na medida em que a polícia
pode ser sinônimo de segurança e ordem"
ABRAMOVAY ; RUA (2002, p.337)

8.O que é, e como proceder nos


casos de homofobia na escola?

A liberdade de orientação sexual está


embasada nos princípios constitucionais, nos
direitos fundamentais e nos direitos da
cidadania. É dever da escola respeitá-la e
fazê-la respeitar, acatados os limites
aplicáveis aos comportamentos
heterossexuais, seja com relação a alunos,
pais, funcionários, colaboradores e a
comunidade.

A Lei Estadual n° 10.948, de 5 de


novembro de 2001, caracteriza a
discriminação homofóbica, considerando
como atos atentatórios e discriminatórios dos
direitos individuais e coletivos dos cidadãos
homossexuais, bissexuais ou transgêneros,
entre outros:

19 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
• Praticar qualquer tipo de ação violenta,
constrangedora, intimidatória ou vexatória, de
ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;

• Proibir o ingresso ou permanência em


qualquer ambiente ou estabelecimento público
ou privado, aberto ao público;

• Praticar atendimento selecionado que não


esteja devidamente determinado em lei;

• Inibir ou proibir a admissão ou o acesso


profissional em qualquer estabelecimento
público ou privado em função da orientação
sexual do profissional;

• Proibir a livre expressão e manifestação de


afetividade, sendo estas expressões e
manifestações permitidas aos demais
cidadãos.

A escola deve trabalhar a questão da


discriminação homofóbica como violação dos
direitos humanos. Ações pedagógicas
focalizando a importância do respeito às
normas e da prática da cidadania, com a
valorização da diversidade e da tolerância,
contribuem para a reflexão e a convivência
harmônica no ambiente escolar e fora dela.

Em casos de denúncias de
discriminação homofóbica, o agredido ou seus
responsáveis, se menor de 18 anos de idade,
devem procurar o Distrito Policial mais

Wandemberg Marques 20
Lei como fonte de Educação
próximo e o Conselho Tutelar e, no caso de o
servidor ser vítima de discriminação, orientá-lo
a registrar queixa no Distrito Policial. Todos os
casos devem ser encaminhados também para
a Secretaria da Justiça e da Defesa da
Cidadania, na forma da Lei Estadualn°
10.948/01.

9.O que é violência intra-familiar


e violência domestica?

O artigo denominado Violência Intra-


familiar da- Fundação Escola Superior do
Ministério Público do Rio Grande do Sul -
Faculdade de Direito explica que: A violência
intra-familiar caracteriza-se por toda a ação ou
omissão que prejudique o bem-estar, a
integridade física, psicológica ou a liberdade e
o direito ao pleno desenvolvimento de um
membro da família (Batista, 2003; Cesca,
2004; Gonçalves, 2005; Morgado, 2005).

Pode ser cometida dentro ou fora de


casa por algum membro familiar, incluindo
pessoas que passam a assumir função
parental, ainda que sem laços consangüíneos.

Estudos indicam que oitenta por cento


dos casos de violência denunciados
ocorreram dentro da casa da vítima, sendo
que os perpetradores da agressão eram,

21 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
principalmente, pais biológicos ou adotivos
(AMENCAR, 1999).

A família não é, necessariamente, o


centro e o núcleo de proteção dos direitos de
seus membros, podendo muitas vezes ser o
“palco” de um regime de terror e de
desespero.

10. A Violência intra-familiar é um


problema só do Brasil?

Não. A violência intra-familiar constitui-


se em um fenômeno democrático mundial que
atinge diferentes classes sociais, religião,
idade e grau de escolaridade.

11. Existem fatores que contribuem


para violência intra-familiar?

A violência é um fenômeno complexo e


existem inúmeros fatores que podem ser
apontados como desencadeadores deste
fenômeno como: fatores culturais ("em briga
de marido e mulher, não se mete a colher"),
fatores sociais (educação, renda familiar...),
fatores familiares (promiscuidade, dinâmicas e
normas familiares;), comunitários etc.

Violência domestica:

Wandemberg Marques 22
Lei como fonte de Educação
Distingui-se da violência infra-familiar
por incluir outros membros do grupo, sem
função parental, que convivem
esporadicamente e agregados.

12.O que é violência de gênero?

A violência de gênero, termo que


consideramos mais adequado para analisar
as relações violentas de gênero, é praticada
geralmente por aquele que possui maior
parcela de poder numa relação e resulta da
dita superioridade masculina transmitida
pela cultura sexista de nossa sociedade,
que apregoa estereótipos de força,
virilidade e potência.

É um tipo específico de violência que


vai além das agressões físicas e da
fragilização moral e limita a ação feminina.
É muito mais complexa do que a violência
doméstica, pois não acontece somente
entre quatro paredes, mas se faz presente
em todos os lugares, por alegações
aparentemente fúteis. Carrega uma carga
de preconceitos sociais, disputas,
discriminação, competições profissionais,
herança cultural machista, se revelando
sobre o outro através de várias faces: física,
moral, psicológica, sexual ou simbólica.

A violência contra as mulheres,


antes vista como uma questão pertencente

23 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
à esfera privada, a partir de meados da
década de 1980 passou a ser apreendida
de maneira mais complexa. Como resultado
do trabalho dos movimentos feministas para
que o Estado reconhecesse a necessidade
da criação de órgãos especializados em
atender às vítimas de violência e
proporcionasse um tratamento legal ao
assunto, veio à tona um problema que é
cultural, social e público.

A violência contra a mulher é


classificada como violência de gênero. De
acordo com Schariber e D´Oliviera, (1999) a
expressão “violência contra mulher” foi
cunhada pelo movimento feminista na década
de 1970 e diz respeito a situações tão
diversas como:

Violência física, sexual e psicológica


cometida por parceiros íntimos;

Assedio sexual no local de trabalho;

Estupro;

Trafico de mulheres;

Violência étnica e racial;

Violência cometida pelo Estado por ação ou


omissão.

Wandemberg Marques 24
Lei como fonte de Educação
13. Qual da diferença entre
crime e violência?

A violência pode assumir diversas


formas e caracteriza-se por ser fenômeno
social dinâmico e mutável. Isso significa que
suas representações, suas dimensões e seus
significados passam por adaptações conforme
as sociedades e se transformam, dependendo
do momento histórico, da localidade, do
contexto cultural, entre outros fatores
(abramovay ET AL, 2006).

O crime é fato antijurídico típico e


punível é um fenômeno social e pode envolver
violência , mas nem toda violência é crime.

14. Qual é a natureza dos atos


violentos?

Para a OMS existem quatro modalidades


de atos violentos:

Violência física:

Violência fíisica é um comportamento


que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou
objeto. Nega-se autonomia, integridade física
ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o
uso excessivo de força, além do necessário ou
esperado. O termo deriva do latim violentia
(que por sua vez o amplo, é qualquer
comportamento ou conjunto de deriva de vis,

25 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
força, vigor); aplicação de força, vigor, contra
qualquer coisa ou ente.

Assim, a violência diferencia-se de


força, palavras que costuma estar próximas na
língua e pensamento cotidiano. Enquanto que
força designa, em sua acepção filosófica, a
energia ou "firmeza" de algo, a violência
caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente
e baseada na ira, que não convence ou busca
convencer o outro, simplesmente o agride.

Existe violência explícita quando há ruptura


de normas ou moral sociais estabelecidas a
esse respeito: não é um conceito absoluto,
variando entre sociedades. Por exemplo,
rituais de iniciação podem ser encaradas
como violentos pela sociedade ocidental, mas
não pelas sociedades que o praticam.

15. Práticas pedagógicas


enquanto fonte de violência
psicológica:

Violencia pscologica praticada pelo


professor.

Muitas são as formas de violencia, entretanto


não podemos deixar de comentar aquela que
é praticada pelo proprio professor dentro da

Wandemberg Marques 26
Lei como fonte de Educação
sala de aula e para tanto, tomo a liberdade de
trazer aos queridos leitores importante artigo
denominado VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA:
UM ESTUDO DO FENÔMENO NA RELAÇÃO
PROFESSOR-ALUNO da lavra da eminente
educadora Sonia Maria Ferreira Koehler
que sabiamente demonstrou seu
conhecimento amor ao magisterio e tremendo
respeito aos professores, orientando-os nas
praticas corretas de como lidar com o
educando apartir da forma de como o aluno ve
o professor.

O discurso atual dos educadores


valoriza, cada vez mais, o exercício contínuo
da reflexão do professor sobre as
conseqüências de suas ações na prática
escolar, contudo, percebe-se que o professor
ainda não consegue identificar na cultura
escolar algumas fontes de violência, inclusive
aquelas geradas pela sua própria prática
enquanto professor.

Portanto, a intenção básica deste


estudo é revelar que, na dinâmica das
relações interpessoais do professor-aluno,
dentro da instituição escolar, ocorre uma
forma de violência que não deixa marcas
explícitas, identificáveis, – a violência que se
revela através das palavras, dos gestos e que
pode ser denominada Violência Psicológica.

27 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
A partir de uma abordagem emergente,
defendida mais especificamente por Azevedo
e Guerra (2001) de que: a)“infância e
juventude devem ser entendidas como
construção social”; b)“infância e a juventude
não devem ser compreendidas como
fenômenos universais e únicos, mas sim em
relação à classe, gênero1, etnia etc.”; c)“o
relacionamento da infância e juventude com a
sociedade deve ser estudado à luz da própria
perspectiva da infância e juventude e não a
partir da visão dos adultos”; d)“as crianças e
os jovens devem ser vistos como sujeitos da
construção e da determinação de suas
próprias vidas”, assim, este trabalho
diferencia-se pelo levantamento de dados que
demonstram, a prevalência deste tipo de
violência dentro da escola. Um tipo de
violência que não é fácil constatar, pois é
invisível, muitas vezes silenciosa, verbal ou
simbólica na expressão corporal/gestual do
professor; e que, geralmente ocorre no interior
da sala de aula.

Na interação entre as pessoas,


dizemos que há influência quando, uma delas,
por aquilo que diz ou faz, afeta a outra,
modificando seu modo de proceder,
suscitando sentimentos, sendo que essas
modificações e sentimentos são fatores
determinantes do que a pessoa disse e/ou fez.
É como se uma força emanasse de uma
pessoa para outra, condicionando seu modo
de se comportar (Rúdio, 1990).

Wandemberg Marques 28
Lei como fonte de Educação

Certamente remeter a otimização da


educação ao plano exclusivo das relações
interpessoais é uma concepção ao mesmo
tempo ingênua e reducionista. No entanto,
não podem os professores, enquanto pessoas
que estão na função de educadores,
eximirem-se das implicações de seus ATOS
no processo ensino-aprendizagem, nas
relações humanas e na intervenção direta
sobre a constituição da personalidade das
crianças e adolescentes.

1- Neste estudo adotamos a utilização


da terminologia “gênero” que conota a
dimensão psicológica e cultural da vida
humana. Entre outros estudos Cf.
CARVALHO, Marília P. No coração da sala de
aula: gênero e trabalho docente nas séries
iniciais. Silvia A. MARTINEZ. Questão de
gênero e formação de professores (as).

2- Prevalência – refere-se ao número


de sujeitos de um dado segmento
populacional que relatam haverem sido
vítimas do fenômeno passado.

A escola deve contribuir para a


humanização da criança enquanto ser em
desenvolvimento; deve ser reparadora das
mazelas da violência que permeiam nosso
cotidiano nestes últimos tempos. Nas
conquistas e desafios da Declaração Universal
de Direitos Humanos, incluem-se o exercício

29 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
da e na cidadania, a ética, os valores morais;
estes sem dúvida, devem ser vivenciados na
escola, culminando com o (re) significado da
infância no século XXI, a partir da legitimação
dos direitos da criança e do adolescente,
garantidos pela ECA – Estatuto da Criança e
do Adolescente (BRASIL.Lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990).

16. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA NA


RELAÇÃO PROFESSOR / ALUNO: O
MARCO CONCEITUAL

Violência escolar é uma das


modalidades da violência institucional que
Tomkiewicz (1997, p.310) define como “toda e
qualquer ação cometida dentro de uma
instituição, ou toda ausência de ação que
cause à criança um sofrimento físico ou
psicológico inútil e/ou bloqueie seu
desenvolvimento posterior”. Esta definição,
segundo o autor, engloba todo o tipo de
instituição: o meio familiar, as delegacias de
polícia, os centros destinados a proteger e
recuperar crianças, hospitais e escolas ou
qualquer tipo de instituição educativa.

Violência, por sua vez, foi muito bem


caracterizada, por Chauí [a] (1985, p.23-62) e
Adorno [b] (1988, p.3):

a)- Entendemos por violência uma


realização determinada de força tanto em

Wandemberg Marques 30
Lei como fonte de Educação
termos de classes sociais quanto em termos
interpessoais. Em lugar de tomarmos a
violência como uma violação e transgressão
de normas, regras e leis, preferimos
considerá-la sob dois ângulos. Em primeiro
lugar, como uma conversão de uma diferença
e de uma assimetria, numa relação
hierárquica de desigualdade, com fins de
dominação, de exploração e de opressão. Isto
é, a conversão dos diferentes em desiguais e
a desigualdade em relação entre superior e
inferior. Em segundo lugar, como a ação que
trata um ser humano não como sujeito, mas
como uma coisa. Esta se caracteriza pela
inércia, pela passividade e pelo silêncio de
modo que, quando a atividade e a fala de
outrem são impedidas ou anuladas, há
violência.

b)- Ao mesmo tempo em que ela


expressa relações entre classes sociais,
expressa também relações interpessoais (...)
está presente nas relações intersubjetivas,
aquelas que se verificam,entre homens e
mulheres, entre adultos e crianças, entre
profissionais de categorias distintas. Seu
resultado mais visível é a conversão de
sujeitos em objetos, sua coisificação. (...) A
violência é simultaneamente negação de
valores considerados universais: a liberdade,
a igualdade, a vida.

A violência escolar pode envolver tanto


a Violência entre Classes Sociais (violência

31 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
macro) como a Violência Interpessoal
(violência micro). No primeiro caso, a escola
pode ser cenária de atos praticados contra ela
(vandalismo, incêndios criminosos, atentados
em geral). No entanto, a escola - enquanto
organismo de mediação social – também pode
ser veículo da violência de classe: a violência
da exclusão e da discriminação cuja resultante
maior tem sido o fracasso escolar.

A literatura sobre o fracasso escolar no


Brasil e seu significado ideológico é bastante
grande e destacam-se os seguintes trabalhos
(Maria Helena de Souza PATTO, Introdução
à Psicologia Escolar, 1981, Psicologia e
Ideologia, 1984, A Produção do Fracasso
Escolar: histórias de submissão e rebeldia,
1996, Mutações do Cativeiro: escritos de
psicologia e política, 2000, e Cecília A. L.
COLLARES, e M. Aparecida A. MOYSÉS,
Preconceitos no Cotidiano Escolar : ensino
e medicalização, 1996, São Paulo: Cortez .)

No segundo caso, a escola também


pode ser cenário de relações interpessoais de
violência: relações intergeracionais (professor-
aluno, por exemplo) e relações intra-
geracionais (aluno-aluno). Embora sejam
sempre relações interpessoais, essas formas
têm razões e impactos diversos; daí
selecionarmos para estudo a violência
professor-aluno, em especial a que ocorre
entre as quatros paredes da sala de aula, local
por excelência do encontro mestre estudante.

Wandemberg Marques 32
Lei como fonte de Educação

É neste ambiente, que a interação


deveria acontecer de forma respeitosa, sem
coerção, sem “coisificar”; mas é neste local
que pode ocorrer a construção de uma cultura
abusiva no relacionamento interpessoal, no
que diz respeito à responsabilidade do
professor sobre a criança e/ o adolescente.
Apesar do impacto da Violência Psicológica
sobre os alunos – a curto e/ou a longo prazo,
as referências bibliográficas sobre a questão
são raras e genéricas, notadamente por ser
um conceito difícil no tocante a seu
reconhecimento.

A revisão bibliográfica demonstra que


os atos violentos estão sujeitos a um grande
sistema de relações interpessoais, nas quais
as emoções, os sentimentos, os aspectos
cognitivos estão presentes no âmbito
educativo; na verdade, o problema começa
quando se aborda o conflito através do
exercício da autoridade, do castigo, das
humilhações, provocando um clima de tensão
dentro da sala de aula, o qual o professor não
sabe resolver, pois o núcleo desta questão
está submerso em um currículo oculto de
relações interpessoais no processo ensino-
aprendizagem.

Na área das relações familiares,


Azevedo e Guerra (2001b, p.29-33)
mapearam os principais termos e conceitos
encontrados em artigos e livros científicos,

33 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
teses e dissertações, produzidos
internacionalmente no período de 1976/2001,
referentes à Violência Psicológica Doméstica.

Fica evidente que, entre os termos, o


que mais aparece é maltrato e/ou maus
tratos como no ECA – Estatuto da Criança e
do Adolescente (1990); no entanto, outros
termos como: maltrato mental, (Hart, 1987),
abuso psicológico (Garbarino, Guttman e
Seeley, citados por Iwaniec, 1996), abuso não
físico, violência não física, privação emocional
(Bowlby, 1990), tortura psicológica (Gil, 1984),
violência verbal e chantagem emocional
(Forward, 1998), abuso verbal (Evans, 1996)
também são encontrados na literatura
internacional.

Segundo Azevedo e Guerra (1998,


p.177) “violência psicológica - também
designada como tortura-psicológica ocorre
quando pais ou responsáveis constantemente
depreciam acriança, bloqueando seus
esforços de auto-aceitação, causando-lhe
grande sofrimento mental”.

Se acrescentarmos a pais ou
responsáveis, os professores, essa
conceituação poderá ser adotada para
identificar também violência psicológica na
relação professor/aluno. É preciso observar
que a definição privilegia o termo “violência”
na medida em que este explicita tratar-se de
uma relação assimétrica de poder, sem

Wandemberg Marques 34
Lei como fonte de Educação
demandar especificações culturais posteriores
como é o caso dos termos maltrato, abuso.

17. Critérios para a identificação do


fenômeno

Para realizar a pesquisa sobre o


fenômeno da violência contra crianças e
adolescentes – e em especial – sobre a
violência psicológica, é necessário
dispormos de indicadores que nos facilitem a
identificação do fenômeno; trabalhando no
âmbito da violência psicológica doméstica,
em 1995, a “American Professional Society on
the Abuse of Children” (APSAC)4, elaborou
um guia prático para fornecer pistas de
reconhecimento das formas assumidas por
essa violência:

18 Rejeição

As necessidades imediatas da criança


não são reconhecidas como legítimas, não
são valorizadas; há uma diferença expressiva
no modo de tratamento entre a criança que
não é reconhecida em comparação às
outras;4 Cf. APSAC. Guidelines for Practice.
Site www.apsac.org.

19 Denegrir/difamar

Pode estar associado à rejeição; o ato


de depreciar a criança publicamente é uma

35 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
manifestação do adulto sob forma de
humilhação pública; está no uso de
qualificação como apelidos que ridicularizam,
inferiorizam e/ou comparam comportamentos
de outra(s) criança(s);

20 Terrorismo

“Clima” especialmente ameaçador,


atinge a segurança da criança, sempre
supondo o comportamento imprevisível do
adulto; o terrorismo se caracteriza por
ameaças de abandono, castigos, exigências
irreais para a criança, crises de cólera
excessiva e imprevisível;

21. Isolamento / confinamento

Impedimento da criança de se
relacionar, brincar, ter amigos, enfim,
participar de atividades comuns de criança em
casa ou na escola;

22. Indiferença frente às demandas


afetivas da criança

Contrária à rejeição que é explícita –


ativa – a indiferença se manifesta por um
comportamento passivo de negligência,
indiferença às necessidades afetivas e de
relacionamento da criança; Patrícia Evans em
sua obra “The Verbal Abuse and

Wandemberg Marques 36
Lei como fonte de Educação
Relationship”, (1996, p. 81), também procura
explicar o relacionamento entre casais, e a
violência sofrida pela mulher, categorizando,
conceituando e exemplificando diferentes
ATOS nos quais o abuso verbal pode ser
reconhecido no relacionamento humano.

No entanto, a autora também


compreende a violência psicológica como uma
violência que envolve o abuso de poder, o
controle sobre o outro e elenca uma série de
ações/ATOS que são por ela, denominadas
como “categorias do abuso verbal”: decidir
pelo outro; ir contra o desejo/necessidade do
outro; desaprovar; causar insegurança com
ameaças e promessas; causar dano no
desenvolvimento/emocional; chamar o outro
com “palavrões”; esquecer e desprezar;
acusar o outro de uma coisa que não é
verdade.

Essas formas de comportamento,


psicologicamente violento, envolvem pelo
menos três dimensões: poder - no sentido de
“resolver pelo outro” e estão explicitados nas
seguintes palavras: decidir, ir contra, impedir,
acusar, dar ordens, mandar fazer, causar
insegurança, ameaçar; humilhação:
“ridicularizar, chamar por palavrões,
desaprovar”; coisificação do outro: “esquecer
e desprezar, não levar em conta o valor/
desejo/ necessidade do outro, cometer
injustiça”. Abramovay (2002), adverte que ao
analisar as escolas, não basta focalizar atos

37 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
criminosos extremos, como vandalismos,
roubos, brigas entre alunos, desrespeito a
professores, depredações, extorsão, mas
também “as violências simbólicas, verbais,
morais, psicológicas” dos funcionários contra
os alunos.

O “silêncio da academia” sobre essa


questão contrasta com o fato de que atos hoje
observados nas práticas escolares, podem ser
classificados como Violência Psicológica,
sendo praticados em nosso País, desde o
tempo do Brasil colonial. No entanto, nem
sempre somos capazes de identificar essas
práticas como violência, muito menos as
crianças e adolescentes que as sofrem, pois,
ideologicamente são justificadas em nome da
“boa educação”.

1. OBJETIVOS : O ESTUDO
CONTEMPLOU TRÊS QUESTÕES – CHAVE

- A Violência Psicológica (VP) ocorre nas


relações professor-aluno do Ensino
Fundamental?

- Qual o perfil da Violência Psicológica (VP)


em termos de práticas pretensamente
pedagógicas e dos sentimentos dos alunos
face a essas práticas?

- Violência Psicológica (VP) professor/aluno:


questão de gênero ou de escola ?

Wandemberg Marques 38
Lei como fonte de Educação
2. A ABORDAGEM
METODOLÓGICA : OUVIR A VOZ DOS
ADOLESCENTES

Foi escolhido o método de pesquisa


“Survey amostral” (Babbie, 1999), para ouvir o
que os adolescentes têm a dizer. Ouvir
crianças e/ ou adolescentes ainda é um tipo
de pesquisa pouco utilizado nos meios
acadêmicos. E, especificamente, na relação
professor-aluno, esse enfoque do fenômeno
da violência psicológica é, provavelmente,
inédito. Trata-se especificamente de registrar
as marcas que ficaram na memória do
adolescente sobre as suas experiências de
relações interpessoais com o “pior professor”
enquanto eram crianças.

13.1 O instrumento de pesquisa

Foi elaborado e aplicado um


questionário contendo 31 questões, além de
um desenho do professor e frase a respeito do
mesmo, cujo objetivo principal é saber as
características do “pior professor desde o dia
em que o jovem, sujeito dessa pesquisa,
iniciou sua vida na escola”.

13.2 O questionário foi estruturado em três


blocos

- sobre o aluno – questões sobre o tipo de


escola, período, gênero, idade, possível

39 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
repetência, série, etnia, situação ocupacional
da família;

- sobre o perfil do “pior” professor – perguntas


sobre o gênero, idade, disciplina e série que
ensinava na época e tipo de escola, bem
como o tempo em que o sujeito foi aluno
desse professor e a idade do mesmo;

- sobre a vida do aluno com esse professor –


itens buscando identificar as ações dos
professores consideradas como violentas, a
freqüência respectiva e os sentimentos que os
sujeitos experimentavam diante das ações dos
professores.

- Os itens enfocam, especificamente, ações


como: gritar, chamar de algum tipo de
palavrão, apelidar, chamar atenção frente à
classe, profetizar o insucesso futuro do aluno
como adulto, falar mal da família, comparar
com outras crianças, mandar para fora da
sala, rasgar o caderno.

Este último bloco termina com um


espaço destinado a um desenho livre
representando o professor descrito pelo aluno
no instrumento.

O questionário envolveu questões


fechadas e abertas. Para a análise das
questões abertas, foi utilizada a técnica de
“categorização” que pertence ao conjunto de

Wandemberg Marques 40
Lei como fonte de Educação
técnicas da análise de conteúdo (Bardin,
1977, p. 117).

3. PROCEDIMENTO

Pediu-se a cada sujeito que pensasse


somente no seu (sua) “pior professor (a)”
desde o dia em que havia entrado no universo
escolar e respondesse as questões relativas
ao perfil e ATOS desse (a) professor (a), bem
como os próprios sentimentos face aos
mesmos.

Como Azevedo e Guerra (2001b, p. 56)


“(...) propositadamente evitamos (no
instrumento aplicado) a designação
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA (...). Dentro do
referencial teórico adotado, optamos por
investigar a consciência ingênua dos sujeitos
acerca das práticas de tratamento (...)
vivenciadas por eles (...)”.

Portanto, consideramos pertinente evitar


a expressão “Violência Psicológica” no
instrumento de pesquisa garantindo a
fidedignidade no instrumento. Assim, ela
poderá ser replicável em qualquer cultura e/ou
grupos (s) diferenciados. Poderá ser replicável
em regiões que convivem notadamente com a
violência, inclusive em faixas etárias
diferentes, buscando a validade de constructo,
sem que os sujeitos tenham necessidade de
compreender, cientificamente, a terminologia
“Violência Psicológica”, usada neste estudo.

41 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
4. CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE
PESQUISA

A pesquisa realizou-se em
Guaratinguetá, Estado de São Paulo/Brasil.
O Município de Guaratinguetá está situado no
Vale do Paraíba, entre as serras de Quebra
Cangalha e da Mantiqueira, no nordeste do
Estado de São Paulo. Distante 178 Km de São
Paulo e 254 Km do Rio de Janeiro.

15.1. Os sujeitos da pesquisa: Amostra do


estudo

Optou-se por estudar alunos


matriculados, na 8ª série das escolas da Rede
Pública e Particular no município de
Guaratinguetá, São Paulo, Brasil, no ano de
2001.

Essa opção decorreu da seguinte


ordem de considerações: os alunos desta
série já vivenciaram alguns anos de escola e
assim já possuem condições de avaliar “o
comportamento” dos professores; a faixa de
idade permite identificar e nomear seus
próprios sentimentos, distinguindo com
clareza e crítica o adulto que ajuda ou
atrapalha seu desenvolvimento.

Por ocasião da pesquisa – 1º semestre


de 2001 na amostra total, 49,0% possuíam, na
época, 14 anos de idade. A participação se dá
em todas as idades, desde 13 anos até de 16

Wandemberg Marques 42
Lei como fonte de Educação
anos. Nesta amostra foram consideradas duas
sub-amostras: a de alunos da Rede Pública de
Ensino e a da Rede Particular de Ensino.
Dentro de cada Rede de Ensino foram
consideradas outras duas sub-amostras : a de
alunos do gênero feminino e a de alunos do
gênero masculino.

A tabela que será apresentada a seguir


refere-se ao perfil dos alunos pesquisados
que, no total, são 516 sujeitos - quatro alunos
de uma escola particular recusaram-se a
participar da pesquisa - portanto 441 da Rede
Pública e 75 da Rede Particular.

TABELA nº 1 - Comparação entre os


números amostrais 8ª série do Ensino
Fundamental/2001 (Séries Finais) – Redes de
Ensino Rede Pública Rede Particular Total N°
de Escolas 17 06 23
N° de Alunos 1.858 323 2.181
Amostra 441 75 516
Gênero Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.
223 218 41 34 264 252

Os 516 sujeitos – 49% meninas e 51%


meninos freqüentavam as Escolas da Rede
Pública e Particular, representando 23,61% da
população da 8ª série, matriculados no
município de Guaratinguetá no ano de 2001.

5. RESULTADOS

43 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
16.1 Respondendo a questão - chave A

A Violência Psicológica ocorre nas


relações professor-aluno nas escolas de
Ensino Fundamental no município de
Guaratinguetá?

Os ATOS de Violência Psicológica


estiveram presentes na trajetória escolar de
488 sujeitos, o que equivale a 94,6% de toda
a amostra.

Analisando separadamente as sub-


amostras de cada Rede de Ensino
constatamos que:

- Na Rede Pública a prevalência foi de 416


sujeitos (296 do gênero feminino e 120 do
gênero masculino) 94% conforme.

- Na Rede Particular a prevalência foi de 72


sujeitos (48 do gênero feminino e 24 do
gênero masculino) 96% conforme.

- Os dados mostram que o fenômeno da


Violência Psicológica atinge
indiscriminadamente meninos e meninas de
ambas as Redes Particular e Pública do
Ensino Fundamental – Séries Iniciais – no
município de Guaratinguetá.

Wandemberg Marques 44
Lei como fonte de Educação
- Nas duas Redes de Ensino por ordem de
maior freqüência aparecem os ATOS de gritar,
humilhar e comparar depreciando.

Tabela nº 2 – distribuição dos professores


pelos ATOS de Violência Psicológica –
independente de gênero.

Ato Pública * (%) Particular* (%) Toda


amostra* (%)

Gritar 32,9 31,9 32,8

Humilhar alunos 28,1 27,8 28,1

Comparar depreciando 18,0 8,3 16,6

Outros 7,9 11,1 8,4

Ameaçar alunos 7,2 6,9 7,2

Atirar objetos 1,9 - 1,6

Mentir 1,7 6,9 2,5

Agredir fisicamente 1,2 - 1,0

Quebrar objeto 0,5 1,4 0,6

Base 416 72 488

* Dez alunos não informaram: 9 da Rede


Pública e 1 da Particular.

45 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
16.2 Respondendo a questão - chave B

Qual o perfil dessa violência em termos


de práticas pretensamente pedagógicas e dos
sentimentos dos alunos face a essas práticas?

Para responder a esta questão


consideramos três grupos de indicadores:

- As respostas dos sujeitos que nomearam


seus sentimentos face aos ATOS do “pior
professor” considerando as freqüências
“nunca”, “uma vez”, “de vez em quando” e
“muitas vezes”.

- As características do “pior professor” como a


faixa etária e a disciplina lecionada na série,
época, que os sujeitos conviveram com este
professor.

- Os desenhos produzidos pelos sujeitos e


representativos do “pior professor”.

Como demonstram os dados


estatísticos, o perfil dessa Violência foi
revelado a partir das respostas dos sujeitos
que nomearam e registraram seus
SENTIMENTOS de vergonha, humilhação e
raiva, que segundo os estudos de La Taille
(2002, p.78): “A associação entre vergonha e
humilhação encontra-se justamente, no
sentido do rebaixamento, inferioridade (...)”.

Wandemberg Marques 46
Lei como fonte de Educação
Foram ainda quantificados
significativamente os seguintes ATOS do “pior
professor: chamar atenção na frente da
classe; dizer que o aluno não será “nada ou
ninguém na vida”; falar mal da família do
aluno; comparar os alunos; mandar para fora
da sala de aula; rasgar o caderno do aluno;
apelidos de ordem física e ordem moral.

16.3 Características do “pior professor (a)”

São significativos os dados estatísticos que


revelaram a faixa etária e a disciplina que “o
pior professor” lecionava.

16.4 A faixa etária do professor

Considerando toda a amostra, a


maioria dos alunos avalia os piores
professores com a idade de 36 anos ou
mais.Verifica-se que este julgamento da
Violência Psicológica vai crescendo com a
idade dos professores. Foi atribuída a idade
de menos de 20 anos a apenas 2,0% dos
professores, 30,6% possuíam mais de 40
anos, este fenômeno ocorre tanto na Rede de
Ensino Pública (menos de 20 anos – 1,9% ;
mais de 36 anos – 54,1%) e na Rede
Particular (menos de 20 anos - 2,2 % ; mais
de 36 anos – 75,5%).

47 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
Um dado importante vem da Rede
Particular, na qual 55,5% dos professores têm
acima de 40 anos, caracterizando-se como
mais velhos que na Rede Pública, e sendo
que as mulheres professoras são as que mais
gritam. Este dado confirma a teoria de
Huberman In: Nóvoa, 1992), ao demonstrar as
fases de transição e crises na carreira
docente, demonstrando que a partir dos 40
anos há uma tendência para o
desinvestimento na carreira do profissional -
professor, desencadeando o que o autor
denomina de “síndrome de respostas de
sentimentos negativos, como irritabilidade e
ansiedade.

16.5 Os anos de experiência na carreira e a


idade cronológica do professor

Huberman propõe a seguinte


caracterização para o estudo do “ciclo de vida”
dos professores:

a) a entrada na carreira;
b) a fase de estabilização;
c) a fase de diversificação;
d) distanciamento afetivo;
e) conservantismo;
f) desinvestimento (sereno ou amargo).

Esta fase, aparece como “meio da


carreira” (grifos do autor), um período que se
situa entre os 35 e 50 anos ou entre o 15° e o
25° anos de ensino.

Wandemberg Marques 48
Lei como fonte de Educação

A fase da carreira considerada mais


estressante foi a do 21° ao 30° ano, conforme
atestam 60% dos professores (...) pode-se
supor que as professoras tenham uma
tendência a considerar a faixa de tempo do
magistério em que se encontram atualmente
como mais estressante; é possível que, em
retrospecto, as professoras lembrem-se dos
primeiros anos de magistério como não
estressantes (...) Além disso um número
significativo de professores na faixa de 21° a
30° anos de magistério adota a jornada
integral de trabalho para garantir uma
aposentadoria melhor (Reinhold, 1984).

Os dados apresentados permitem uma


correlação entre o estresse dos professores,
as características da violência psicológica
descritas pelos sujeitos e o processo descrito
por Huberman sobre o Ciclo de Vida dos
Professores a partir da 3ª fase, quando se
inicia o processo de distanciamento afetivo,
culminando com o desinvestimento da
profissão.

Tais dados vêm evidenciar o


reconhecimento da violência psicológica na
dinâmica da relação professor-aluno. Os
conflitos interpessoais, o mau relacionamento
com os colegas, a exaustão emocional, as
frustrações com a profissão, desencadeiam
manifestações negativas para com as pessoas

49 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
no trabalho: raiva, irritabilidade, nervosismo,
impaciência, ansiedade e
Sintomas psicossomáticos como dores no
corpo.

16.6 A disciplina lecionada e os Atos de


Violência Psicológica

Considerando toda a amostra, a


maioria dos alunos informa que os professores
propensos aos ATOS de Violência Psicológica
lecionam Matemática, (30,7%), seguidos dos
de História, (23,4 %) e de Português (20,1%).
Analisando-se, dentro das Redes de Ensino,
verifica-se que na Pública se repete o
observado em toda amostra (Matemática –
31,5% e História - 22,6%). Na Rede Particular,
foi mais citada a disciplina História (28,0%),
seguida da mesma participação, (24,6%) nas
disciplinas de Matemática e Português.

16.7 Apresentação e Análise dos desenhos

O último item do instrumento da


pesquisa foi reservado ao sujeito para que
desenhasse o professor. Sugeriu-se também
que escrevessem uma frase a respeito do
desenho. Foram analisados 465 desenhos da
amostra total, a partir da primeira análise
denominada “impressão geral” (Klepsch &
Logie, 1984, p.51).

Wandemberg Marques 50
Lei como fonte de Educação
16.8 Os procedimentos de análise dos
desenhos

O desenho é considerado uma técnica


projetiva e é compreendido por psicólogos,
educadores e psicanalistas como um
instrumento capaz de revelar a maneira como
o sujeito, consciente ou inconscientemente,
percebe o mundo que o rodeia, percebe a si
mesmo ou as outras pessoas significativas de
sua vida.

Reforçando estas colocações acima,


encontramos nos estudos de Tardivo (1998) e
Grassano (1996, p. 388), a seguinte
colocação: “a produção gráfica, relativa à
representação simbólica obtida, condensa e
transmite tanto os modelos dominantes de
vínculo objetal como dados sobre a
configuração física atual e passada, fatos
traumáticos (...) sofridos e acontecimentos de
toda índole que incidiram na estruturação da
personalidade”.

Segundo Klepsch & Logie (1984, p.156-


158) a avaliação e interpretação dos
desenhos enquanto medida de atitudes deve
ser feita em três níveis: a) impressão geral; b)
indicadores específicos; c) frases e
mensagens incluídas nos desenhos.

Os indicadores foram extraídos da


análise dos 465 desenhos que representavam

51 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
o professor e submetidos a uma categorização
temática:

- Figura humana – atitudes desfavoráveis:


professor autoritário, agressivo (a), punitivo
(a); professor (a) rangendo os dentes; gestos
que demonstram o poder por exemplo, braços
erguidos, braços em riste; mãos na cintura,
rosto sisudo, olhar de reprovação, régua na
mão do professor em posição ameaçadora
(36,2%);

- Figuras mitológicas que causam medo:


bruxa, demônio com tridente e chifres;
monstros (23,8%);

- Figuras humanas ridicularizadas/humor:


nariz enorme, corpo desproporcional, gordos,
descabelados (14,7%);

- Figura humana- aspectos intelectuais ou


cognitivos da aprendizagem:
Professor com livro, óculos destacados no
desenho, livro aberto, camisa do professor
com operações matemáticas; quadro negro
com operações matemáticas; mesa com livro
(9,8%);

- Ambiente: sala de aula; mesa, carteiras com


alunos (5,6%);

- Figura humana - atitudes favoráveis: em


relação ao professor/escola; sorriso no rosto

Wandemberg Marques 52
Lei como fonte de Educação
do professor, professor com os braços
abertos; coração na camisa (4,4%);

- Objetos: caderno, garrafa de pinga, lousa;


tubo de cola, livro, régua (3.3%);

- Figura de um animal: vaca, macaco, cobra;


baleia; cachorro (2,2%).

16.9 Respondendo a questão - chave C

Violência Psicológica professor/aluno:questão


de gênero ou escola ?

Os dados da amostragem indicam que


a Violência Psicológica acontece
independente do gênero ou do tipo de escola.
Trata-se de um fenômeno majoritariamente
presente nas práticas pedagógicas das salas
de aula, a ponto de marcar as lembranças
escolares de gerações de estudantes. O “pior
professor” eleito pelos alunos, 70,9%
pertencem ao gênero feminino e 29,1% ao
gênero masculino. No entanto devemos
considerar que historicamente, já há algumas
décadas, a maioria dos professores é do
gênero feminino.

E próprio da ideologia machista


considerar a mulher como responsável por
cuidar de crianças, a sociedade incorpora esta
idéia e a transmite de geração em geração
(Saffioti, 1987). No processo da contracultura,

53 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
aos poucos a mulher vem adquirindo o status
de motorista dos filhos, babá, costureira,
doceira, enfim, permanece socialmente
responsável pela manutenção da ordem na
residência e pela criação e educação dos
próprios filhos e/ou pelos filhos dos outros. Em
nossa sociedade, pertencer ao gênero
feminino, é estar constituída pelos
condicionamentos sociais do que é e do que
não é feminino: submissão, obediência,
capricho, paciência... O seu contrário:
competitividade, independência, discutir
política, liderar uma organização empresarial,
ainda se opõe aos modelos de feminilidade
vigentes no imaginário dos homens e de
muitas mulheres.

Legitima-se assim, a mulher-


professora, uma profissão inerente a
condição de mulher na tarefa de educar. A
mulher submissa e subjugada ao homem, ao
macho, ao marido, reproduz a relação
assimétrica de poder na figura da professora.
Surge a mulher mandona, que faz do
ambiente escolar uma “extensão do ambiente
doméstico”. Esta mulher professora que “grita,
humilha, envergonha, ameaça, ridiculariza,
comete injustiças, enfim, reproduz com
crianças e adolescentes os ATOS de Violência
que durante séculos, vem sofrendo no âmbito
doméstico.

Wandemberg Marques 54
Lei como fonte de Educação
17. OS RESULTADOS DA PESQUISA

Os rumos desta pesquisa


possibilitaram, estatisticamente, demonstrar “a
partir da voz dos adolescentes” a prevalência
do fenômeno da "Violência psicológica” na
relação professor aluno.

Nos “ATOS dos professores e nos


SENTIMENTOS” frente a estes ATOS.
O contexto atual mostra-nos que a violência
no mundo adulto, tem aguçado a situação de
risco de crianças e jovens, além de reproduzir
os valores desumanos. Precisamos
compreender que uma das possibilidades para
se atingir o paradigma de pleno
desenvolvimento humano está em investir nas
relações interpessoais, na educação e
portanto, na pessoa do professor como
educador.

Quando o professor sente-se


desautorizado, desrespeitado ou impotente
diante da indisciplina ou da atitude rebelde do
aluno, sua reação transforma-se nos ATOS de
Violência Psicológica, detectados nos dados
deste estudo, possibilitando respostas verbais
e/ou corporais de ambas as partes; a pessoa
do professor (a) fragilizada, impotente, fica
impedida de exercer sua função profissional
de educar. É como se a pessoa possibilitasse
uma autoviolência- psicológica contra a sua
identidade de professor (a), expressa nos
sentimentos de desqualificação, “estresse”,

55 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
desilusão, baixo auto-estima, sentimentos
descritos nos estudos de Reinhold.(In: Lipp,
1996).

A criança e o adolescente presentes no


interior da pessoa do professor emergem no
ATO da violência psicológica, portanto, a
criança ferida, rejeitada, humilhada, magoada,
autoriza o desempenho do seu próprio papel a
reagir com autoritarismo, enfrentamento,
tentando subjugar, “para colocar o aluno no
seu lugar (...).”

Para Morin (2002), “ensinar a condição


humana”, deve ser o objeto essencial de todo
o ensino. Unidades complexas, como o ser
humano ou a sociedade, são
multidimensionais, portanto o ser humano é
entendido como constituído enquanto ser
físico, biológico, psíquico, cultural, racional,
afetivo, social, histórico; é uma unidade
complexa da natureza humana e que não
pode continuar sendo desintegrado na
educação por meio de disciplinas que não lhe
conferem o significado do status de ser
humano, de sua identidade comum a todos os
outros seres humanos.

Há que se priorizar na relação


professor-aluno uma orientação valorativa,
normativa e comportamental que privilegia a
convivência social e seu contexto: o ethos
democrático. Este é o nosso desafio enquanto
educadores: construir uma escola que tendo

Wandemberg Marques 56
Lei como fonte de Educação
consciência da complexidade humana (Morin,
2000) possa auxiliar os alunos na sua
evolução como seres éticos . A análise de
Santos Neto (2002), em seu livro “Educação e
complexidade”, abordam o importante papel
do educador, identificando algumas
contribuições pedagógicas nas idéias de
Edgar Morin e Dom Bosco6, demonstrando
principalmente que, neste tempo de crise,
precisamos de “educadores de coração
humano muito grande, educadores de coração
humano complexo muito grande. Isto quer
dizer que a pessoa do educador é, também,
responsável pela consciência de sua
complexidade e pela consciência do outro
enquanto educando.

Assim podemos entender que o


trabalho educativo do professor não pode
conter, de forma alguma, em seu bojo, o
rancor, a rispidez, o mau humor, o
desrespeito, a ofensa, o cinismo, o
autoritarismo que humilha e envergonha.
Enfim, o professor deve ensinar a condição
humana, individual e coletiva. Eis aqui um
desafio para todos os professores,
comprometidos com o “agir pedagógico” que
privilegie, interventivamente, o vínculo pessoal
saudável, a tolerância, a capacidade de cuidar
do outro e se deixar ser cuidado. Esta é uma
tarefa qual devemos disseminar em nossas
reflexões sobre as ações que permeiam
nossas práticas educativas: a pessoa do

57 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
professor enquanto profissional do
desenvolvimento de “corações e mentes”.

Presença, paciência, resgate da


espiritualidade, desenvolvimento da
consciência ecológica e planetária são valores
imprescindíveis à ação educativa; por isso
“como educadores, precisamos mergulhar-nos
vários aspectos da existência humana, que
também nos escapam à lógica e à
racionalidade.(Santos Neto, 2002, p. 41).”

5 - Edgar Morin (1921). Entre muitas


outras obras escritas dede 1946, a partir de
1999 o autor de forma sistematizada,começa
a publicar suas idéias acerca da Educação,
entre elas: “Cabeça bem feita”, “Os sete
saberes necessários a educação do
futuro”, “Complexidade e
Transdisciplinaridade: a reforma da
Universidade e do Ensino Fundamental”,
“Que saberes ensinar nas escolas”, “A
inteligência da complexidade”, “O
pensamento complexo;Edgar Morin e a crise
da modernidade”.

6 - Dom Bosco (1815-1888).A filosofia


de educação de Dom Bosco “(...) enumera
alguns critérios muito válidos para todos os
tempos como causas do sucesso educativo ou
não. O afeto era a regra das relações
educativas.

Wandemberg Marques 58
Lei como fonte de Educação
A proximidade entre educador e
educandos era a fiança de uma vida alegre,
serena, segura e cheia de entusiasmo para o
compromisso e para a prática do bem (...) Cf.
Afonso de Castro (2002) Carisma para
educar e conquistar. São Paulo: Salesiana,
p. 183. “O sistema preventivo na educação
dos jovens” In: João Modesti:Uma pedagogia
perene (1984) São Paulo: Salesiana.

Ao trazer esta compreensão para o


fenômeno da Violência Psicológica na relação
professor-aluno, destacamos como intenção
fundamental o desenvolvimento da
autoconsciência, da compreensão da
complexidade condição humana como parte
de um processo de esclarecimento e
emancipação, propósito da Teoria Crítica.

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23. Violência sexual :

Diz respeito ao ato ou jogo sexual que


ocorre nas relações hetero ou homossexuais e
visa estimular a vitima ou a utilizá-la para
obter excitação sexual e práticas eróticas,
pornográficas e sexuais, impostas por meio de
aliciamento, violência física ou ameaças,
(Minayo mineo). O abuso sexual é a utilização
da violência, do poder, da autoridade ou da
diferença de idade para obtenção de prazer
sexual. Esse prazer não é obtido apenas por
meio de relações sexuais propriamente ditas;
pode ocorrer em forma de caricias, de
manipulação dos órgãos genitais, voyeurismo,
ou atividade sexual com ou sem penetração
vaginal, anal ou oral. Podem ser tipificados
em: atentado violento ao pudor, corrupção de
menores, sedução e estupro.

A preocupação com a violência sexual


é tão grande que o próprio MEC por
intermédio de seu portal disponibiliza
excelente material explicando um pouco desta

Wandemberg Marques 64
Lei como fonte de Educação
problemática e dá dicas de como prevenir e
identificar vitimas e agressores.

Causas do Abuso e da Violência Sexual

A visão de crianças como seres puros e


inocentes não ajuda muito no combate à
violência sexual. Ter desejo sexual é inerente
à espécie humana. É responsabilidade do
adulto estabelecer a fronteira entre afeto e
sexo, respeitando o desenvolvimento sexual
da criança e do adolescente.

O abuso sexual é um fenômeno


complexo e suas causas são multifatoriais. É
preciso estudar os diversos fatores e como
eles se combinam em certos indivíduos,
grupos sociais e culturais e, em certos
momentos históricos, as causas dessa
violência.

24- Aspectos culturais da violência


sexual

Ressaltaremos aqui dois pilares


explicativos da violência sexual intra e extra
familiar: o incesto e a pedofilia.

25. Incesto

Incesto é a relação sexual e/ou


amorosa entre pessoas de mesmo sangue,

65 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
principalmente naqueles casos em que o
matrimônio é proibido por lei.

Vem acontecendo em praticamente


todas as sociedades e culturas desde a
antiguidade até a modernidade.

Do ponto de vista legal, a sociedade


brasileira criminaliza a prática do incesto.

Segundo a interpretação do Código


Penal, o incesto praticado por adultos contra
crianças abaixo de 14 anos é considerado
violência sexual, independente de ser
empregada a força física. Por outro lado, o
Código Civil proíbe casamento entre parentes
de primeiro grau (pais e filhos, irmãos e
irmãs). A proibição social e/ou legal do incesto
existe praticamente em todas as culturas e
sociedades. Essa interdição transformou a
prática do incesto em um tabu, o que o torna
tema controverso, obstando uma abordagem
mais isenta de valores de julgamento morais.

O incesto pode ser visto tanto como


uma psicopatologia quanto como uma questão
de diferença cultural de concepções de
infância e família. Para muitos, a idéia do
incesto evoca tanto horror que terminam por
acreditar que os casos de psicopatologias
existentes representam a totalidade dos
casos.

Wandemberg Marques 66
Lei como fonte de Educação
Mas, em muitos casos, as pessoas que
praticam o incesto, mesmo sabendo da sua
interdição, têm diferente visão cultural do fato.
Dependendo de onde foram colhidos
os dados ou números da amostra, a maior
recorrência do incesto pode ser entre pai-filha,
ou padastro-filha, ou ainda irmão-irmã
(sobretudo quando são meio-irmãos ou irmãos
não consangüíneos). Depois desse grupo,
vêm avós e tios. Existem poucos registros de
incesto mãe-filho ou entre avós-netos.
Contudo, estudiosos alertam para não se
interpretar a falta de registro como ausência
do fenômeno, isto pode ser explicado pela
resistência cultural na admissão do incesto
perpetrado por mães. Assim, considerando
que, na imensa maioria dos casos, a relação
incestuosa é iniciada por pessoas do sexo
masculino, muitos estudiosos circunscrevem o
incesto a uma discussão mais ampla da
supremacia da sexualidade masculina nas
sociedades modernas.

Normalmente, as famílias nas quais


essas ocorrências são registradas compõem
estruturas muito fechadas, em que seus
componentes têm pouco contato social.
Possuem uma hierarquia rígida, em que a
obediência à autoridade masculina é
incontestável. A distribuição dos papéis entre
pais e filhos tende a ter perfil mais tradicional,
principalmente quando a menina assume
funções características da mãe (cuidar de
afazeres domésticos e de irmãos menores). O

67 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
padrão de relacionamento não deixa claro as
regras de convivência. A comunicação não é
aberta e as demonstrações de afeto, quando
existem, tendem a ser misturadas com doses
de erotismo (Azevedo e Guerra,1998).

Quando o incesto é cometido pelo


padrasto ou namorado da mãe, a falta de
vinculação biológica com a criança e
adolescente tem papel fundamental na
explicação. A inexistência de relação de
consangüinidade entre ele e a menina ou
adolescente enteada deixa de oferecer, para
alguns homens, a barreira cultural que impede
a relação sexual entre pai e filha, por exemplo.
Nem sempre a proibição de relações de cunho
amoroso-sexual é dirigida exclusivamente a
pessoas do mesmo sangue. Em tribos
africanas, a proibição é extensiva a parceiras
não-aparentadas (Nathan, 1997: 19)

26. Pedofilia

A pedofilia tornou-se tema bastante


comentado nos últimos anos, nos meios de
comunicação, por especialistas da área da
criança e do adolescente e outros
profissionais preocupados com o
comportamento humano. Isso se deve ao fato
da grande visibilidade de situações de
pedofilia, associadas principalmente à
pornografia na Internet, aos vários casos

Wandemberg Marques 68
Lei como fonte de Educação
dessa natureza envolvendo padres da Igreja
Católica. A operação chamada Catedral
denunciou e puniu o envolvimento de padres,
educadores e indivíduos de classe média de
países como Estados Unidos, Reino Unido,
França, Polônia, Alemanha, Áustria, Bélgica.
No Brasil, o tema foi pautado por evidentes
ocorrências de abuso sexual contra crianças
envolvendo médicos, padres, educadores,
síndicos e empregados de condomínios, entre
outros profissionais.

O conceito médico de pedofilia aponta


para uma disfunção sexual. É um tipo de
parafilia, na qual o indivíduo só sente prazer
com determinado objeto. Pode relacionar-se
com outros objetos de prazer, mas sua
energia libidinal está diretamente voltada para
um único objeto, do qual não consegue
desvencilhar-se. Há outros exemplos de
parafilias como necrofilia (atividades sexuais
com cadáver), zoofilia (com animais), hebefilia
(com adolescentes). Para alguns, a pedofilia é
uma psicopatologia, perversão sexual com
caráter compulsivo e obsessivo. O pedófilo é
chamado agressor sexual preferencial. Há,
contudo, posições contrárias a essa visão.
Grupos internacionais de pedófilos vêm-se
organizando em associações e redes que se
multiplicam por todos os cantos do mundo,
principalmente com o advento da internet.
Eles não concordam com as bases morais e
legais que proíbem relações sexuais entre
adultos e crianças ou adolescentes.

69 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

Defendem que o relacionamento sexual


entre adultos e crianças é uma opção sexual e
um direito. Alegam que suas atividades
baseiam-se em sentimentos naturais e
inofensivos. Às vezes, esses grupos
reivindicam a alteração de leis vigentes,
particularmente nos Estados Unidos.

27.O que parece existir de comum


entre um indivíduo que pratica o
incesto e outro que pratica a
pedofilia é o seguinte:
• O pedófilo pode também cometer atos de
incesto. Além disso, pode ser cliente de
prostituição infanto-juvenil e de produtos da
pornografia infanto-juvenil.

• Muitos desses indivíduos sofreram violência


sexual quando crianças. Meninos que não
sofreram, mas cujas irmãs sofreram, podem
tornar-se agressores por identificação.

• A relação de poder e dominação é um forte


motor desses atos, mesmo que utilizem a
sexualidade da criança muito mais como uma
gratificação compensatória de sentimento de
impotência e baixa estima do que como
gratificação sexual.

Outra dimensão cultural é o fato de


pais, parentes e padrastos incestuosos e

Wandemberg Marques 70
Lei como fonte de Educação
pedófílos compartilharem uma série de
crenças da nossa cultura adultocêntrica e
certamente machista,como:

- O desvirginamento de uma mulher é “prato”


altamente cobiçado e sua conquista é
generosamente celebrada no mundo da auto-
afirmação da masculinidade;

- Fazer sexo com adolescentes ocupa o topo


da hierarquia das preferências sexuais de
algumas pessoas. Isso ocorre por dois
motivos: primeiro, porque as jovens têm
propriedades físicas e químicas que tornam o
sexo mais prazeroso – por exemplo, possuem
vagina ou ânus mais apertados e, por isso
mesmo, produzem mais prazer.

Segundo, pela satisfação simbólica de


manter o vigor sexual da juventude, perdido
na maturidade e na velhice ou pelo desejo de
se eternizar num corpo jovem. Nesse caso, a
filha ou enteada representa dupla vantagem:
tem qualidades que lembram as da
esposa/namorada e ainda é jovem.

28. Privação ou negligencia:

Ato de omissão em prover as


necessidades básicas para desenvolvimento
de uma pessoa, incluindo comida, casa,
segurança e educação.

71 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

Capítulo II
VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇA E
ADOLESCENTE
COMO IDENTIFICAR
E PROCEDER?
29.Aspectos político-sociais

A fragilidade de políticas públicas na


área social é fator crucial para a existência e
persistência da violência sexual. As
campanhas educativas e as políticas de
prevenção e mobilização visam realizar a
chamada prevenção primária. Já o
aperfeiçoamento do sistema de garantias
contribui para que se concretizem ações de
prevenção secundária. A implantação de
serviços - tanto para crianças e adolescentes

Wandemberg Marques 72
Lei como fonte de Educação
abusados como para os autores da agressão -
é essencial ao desenvolvimento da prevenção
terciária.

30.Aspectos econômicos

Há muito vem sendo rejeitada a


associação mecânica entre pobreza e
violência sexual- tanto pela sua insuficiência
explicativa quanto pelo seu potencial
estigmatizante dos segmentos populares da
sociedade. A implicação e o papel dos
aspectos econômicos no abuso sexual devem
ser mais bem-esclarecidos. É verdade que a
violência sexual ocorre em todas as classes
sociais, mas é também verdade que a
sociedade brasileira trata desigualmente
autores da agressão e vítimas de acordo com
a classe social, etnia (raça/cor), gênero e faixa
etária e afeta com mais intensidade meninas
entre 7 a 14 anos, negras e pardas das
camadas populares do que outras crianças e
adolescentes.

Mães pobres têm menos condições de


cuidar diariamente de seus filhos (geralmente
por trabalhar fora e não contar com uma rede
de apoio). Têm também menos informação
sobre como abordar temas relativos à
sexualidade com crianças e têm um grau de
dependência maior da contribuição financeira
do companheiro para compor o orçamento
doméstico - fator fundamental para explicar a

73 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
falta de notificação por parte da família, nos
casos em que o pai ou padrasto é o autor da
agressão - do que suas correlatas nas classes
médias e altas.

31.Quais são as formas de


expressão da violência ou abuso
sexual?

São várias as formas de manifestação


da violência sexual, podendo ser:

• Com penetração: coito anal, coito oral ou


coito vaginal.

• Sem penetração: toques impudicos


(manipulação dos órgãos genitais), beijos,
masturbação, pornografia, produção de fotos,
exibicionismo, telefonemas obscenos, envio
de mensagens eróticas ou pornográficas e
exploração sexual comercial.

32.Onde a violência sexual pode


ocorrer?

A violência sexual pode ocorrer em


todos os lugares e situações. Quando ocorre
no âmbito familiar é conhecida como violência
sexual doméstica ou intra-familiar, na qual o
afeto entre os familiares é erotizado, causando
danos físicos e psicológicos às vítimas. Como
decorrência, pode se estabelecer um pacto de

Wandemberg Marques 74
Lei como fonte de Educação
silêncio e de cumplicidade,surgindo o
sentimento de medo, angústia e culpa por
parte das vítimas, o que dificulta o diagnóstico
e a percepção da situação.

33.Qual o perfil da vítima de


violência sexual?

A violência sexual pode acontecer tanto


com meninos quanto com meninas. Contudo,
as estatísticas nacionais e internacionais
demonstram que as vítimas são, em sua
maioria, do sexo feminino, e os agressores, do
sexo masculino, geralmente pessoas próximas
e que convivem, freqüentemente com as
vítimas.

Na violência sexual doméstica, o tipo


mais comum é o incesto pai-filha. Na
exploração sexual também observamos um
maior número de homens na condição de
exploradores e de meninas na condição de
exploradas.

Embora a violência também ocorra com


meninos, o que observamos é uma maior sub-
notificação dos casos. Mudanças de
comportamento podem indicar se uma criança
ou adolescente está vivendo em situação de
violência.

75 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
34.Treinando o olhar do educador
para identificar a violência doméstica
e o abuso sexual

As crianças e adolescentes “avisam” de


diversas maneiras, quase sempre não verbais,
as situações de maus-tratos e abuso sexual.
Reunimos os principais sinais da ocorrência
de abuso para ajudar o educador a “enxergar”
essa situação e “agir” sobre ela. Contudo, é
importante lembrar que as evidências de
ocorrência de violência sexual são compostas
não só por um, mas por um conjunto de
indicadores apresentados pela criança e
listados abaixo.

Se o educador desconfia que uma


criança está sofrendo violência sexual, mesmo
que seja apenas suspeita, deve conferir. Em
caso de indecisão, peça a opinião de seus
colegas de trabalho. Lembre-se sempre,
porém, de proteger a identidade da criança.

Na segunda parte desses comentários


damos uma série de sugestões sobre como
abordar a criança, a fim de verificar o que está
acontecendo com ela. Se o educador preferir,
pode também discutir suas opiniões e ações
com profissionais de outras áreas como
médicos, advogados, psicólogos, assistentes
sociais.

Wandemberg Marques 76
Lei como fonte de Educação
É importante ressaltar que a presença
isolada de um dos indicadores não é
significativa para a interpretação da presença
de violência sexual contra crianças e
adolescentes. Bom conhecimento dos
principais características das diferentes fases
do desenvolvimento infantil ajuda a esclarecer
se o comportamento da criança/adolescente é
indicativo de violência sexual.

35.Como perceber se a criança ou o


adolescente está sofrendo abuso
sexual?

Principais aspectos.

Mudanças de comportamento como


agressividade, isolamento, rejeição ao contato
físico e a demonstrações de afeto, presença
de lesões físicas que não se ajustam a causa
alegada; Indicadores físicos da criança ou
adolescente: ocultamento de lesões
antiga;hematomas e queimaduras em
diferentes estágios de cicatrização ;contusões
corporais em parte do corpo que geralmente
não sofrem com quedas habituais;
Indicadores comportamentais da criança
ou adolescente: Tem medo dos pais e ou
responsáveis, alega causas pouco viáveis as
lesões, fugas do lar; baixa alta estima,
considerando-se merecedor de punições; diz
ter sofrido violência física; comportamento
agressivo com colegas; desconfia de contatos

77 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
com adultos; esta sempre alerta esperando
que algo ruim aconteça Características da
família: Oculta as lesões da criança ou as
justifica de forma não convincente e
contraditória; descreve a criança como má e
merecedora de punições; culpa a criança
pelos problemas do lar; acredita no
disciplinamento severo como forma de educar;
tem expectativas irreais sobre a capacidade
da criança, exigindo-a em demasia; autorizam
o professor a castigar fisicamente a criança.

36-Quais são os efeitos imediatos do


abuso sexual?

Segundo a literatura médica e psicológica,


os efeitos mais imediatos são mudanças do
comportamento e humor (choro, inquietação,
tensão, recusa ou excesso de alimentação,
apatia, agressividade), sentimento de
vergonha, culpa, ansiedade, medo,raiva,
isolamento, sono perturbado, pesadelos
freqüentes, suores e agitação noturna.
Infecção urinaria, dor abdominal, hemorragia
vaginal ou retal, secreção vaginal ou peniana,
dificuldade para caminhar, escoriações,
equimoses, edemas e infecções/doenças
sexualmente transmissíveis também são
sintomas observados.

Wandemberg Marques 78
Lei como fonte de Educação
37.Quais são os efeitos do abuso
sexual evidenciados em médio e
longo prazo?

Comportamento autodestrutivo, baixo


rendimento e abandono escolar, ansiedade,
timidez em excesso, medo de ficar sozinhos,
tristeza e choro sem razão aparente, baixa
auto-estima, dificuldade em acreditar em
outras pessoas, interesse precoce por
brincadeiras sexuais e/ou erotizadas, inibição
sexual, masturbação visível e
continuada,vestimenta inadequada para a
idade, conduta sedutora, dificuldade em
adaptar-se à escola, fuga do lar, rebeldia
excessiva, gravidez precoce, uso de álcool ou
drogas, automutilação, exploração sexual ou
prostituição, depressão crônica e tentativa de
suicídio são sintomas observados em médio e
longo prazo.

38.Como abordar a criança ou o


adolescente que relata sofrer abuso
sexual?

A forma de abordagem é fundamental


para quebrar a barreira que a criança ou o
adolescente constrói em situações de abuso.
Para realizar a abordagem, a escola pode
procurar ajuda de instituições que
desenvolvam trabalhos de proteção à criança,
assim como profissionais capacitados, como
os psicólogos escolares ou os orientadores

79 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
educacionais. Nos hospitais e postos de
saúde há profissionais especializados que
podem dar suporte e orientações.

Os passos que devem ser seguidos na


abordagem à criança ou adolescente que
relata abuso:

• Busque um ambiente tranqüilo e seguro. A


privacidade da criança deve ser preservada;

• Dedique toda a atenção à criança. Ouça-a


sem permitir que interrupções externas
fragmentem o processo de descontração e de
confiança;
• Leve a sério tudo que for dito. O abuso
sexual envolve medo, culpa e vergonha. Não
critique nem duvide da criança, mas
demonstre interesse por ela;

• Aja calmamente, sobretudo se forem


reveladas situações delicadas, pois reações
impulsivas podem aumentar a sensação de
culpa. Aborde o assunto diretamente sem
demonstrar ansiedade ou insegurança;

• Não demonstre aflição nem curiosidade. Não


entre em detalhes sobre a violência sofrida e
não faça a criança repetir inúmeras vezes a
sua história;

• Pergunte o mínimo possível e não conduza a


conversa com perguntas sugestivas. Deixe-a
expressar-se com suas próprias palavras;

Wandemberg Marques 80
Lei como fonte de Educação

• A linguagem deve ser simples e clara para


que a criança ou o adolescente entenda o que
está sendo falado ou perguntado;

• Reitere que a criança ou o adolescente não


tem culpa do ocorrido e que realizar o relato é
a coisa certa a ser feita;

• A transmissão de apoio e de solidariedade


por meio de contato físico somente deve ser
feita se a criança ou adolescente assim o
permitir;
• Não trate a criança ou o adolescente como
"coitadinho". Eles são vítimas, mas devem ser
tratados com dignidade e respeito;

• Proteja, sempre, a identidade da criança ou


do adolescente. Este é um compromisso ético
profissional.

39. Como a escola deve proceder em


relação à família de uma criança ou
adolescente que relata sofrer abuso
sexual?

A providência mais pertinente é comunicar


ao Conselho Tutelar assim que a escola tomar
conhecimento da denúncia, encaminhando o
caso e solicitando orientações de como
deverá proceder. O Conselho Tutelar poderá,
ainda, comparecer à escola para entrevistar o
aluno em questão, deforma discreta, para

81 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
garantir sua privacidade. Nos casos em que a
suspeita de agressão recai sobre um familiar
ou alguém próximo, pode não ser conveniente
alertar o denunciado para que a investigação
não fique prejudicada. A escola deve entrar
em contato com familiares não-agressores
com a devida indicação e autorização do
Conselho Tutelar.

40. O que a escola pode fazer para


prevenir a violência sexual e orientar
as crianças e adolescentes?

A abordagem pedagógica de temas


relacionados ao assunto mostra-se
fundamental à aprendizagem da dimensão
ética que o tema contempla. A abordagem do
tema Orientação Sexual, previsto nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), de
modo transversal e interdisciplinar, favorece a
transmissão de informações e a
problematização de questões relacionadas à
sexualidade, incluindo posturas, crenças,
tabus e valores a ela associados, enfocando-
se a dimensão sociológica, psicológica e
fisiológica da sexualidade.

A abordagem do tema Orientação Sexual,


previsto nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997), de modo transversal e
interdisciplinar, favorece a transmissão de
informações e a problematização de questões
relacionadas à sexualidade.

Wandemberg Marques 82
Lei como fonte de Educação

Capítulo III
CONDUTAS DO
SERVIDOR E
ATITUDES DA
DIREÇÃO
41.Qual direito tem a servidora que
estiver em situação de violência
doméstica e familiar?

A Lei Maria da Penha (Lei Federal n°


11.340, de 7 de agosto de 2006) garante às
mulheres que estejam em situação de
violência doméstica e familiar acesso
prioritário à remoção, por determinação do
juiz, para preservar a integridade física e
psicológica.

"Art. 9° A assistência à mulher em situação de


violência doméstica e familiar será prestada
de forma articulada e conforme os princípios e
as diretrizes previstos na Lei Orgânica da
Assistência Social, no Sistema Único de

83 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
Saúde, no Sistema Único de Segurança
Pública, entre outras normas e políticas
públicas de proteção, e emergencialmente
quando for o caso. (...)

§ 2° O juiz assegurará à mulher em situação


de violência doméstica e familiar, para
preservar sua integridade física e psicológica:

l - acesso prioritário à remoção quando


servidora pública, integrante da administração
direta ou indireta."

1.1 Violência Doméstica

Artigo 129 § 9º Se a lesão for praticada


contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três)


anos.

42.Que providências devem ser


tomadas no caso de um servidor
agredir, verbal ou fisicamente, um
aluno ou um colega de trabalho?

A direção da escola deverá acionar a


Polícia Militar (190) e o serviço de saúde, se

Wandemberg Marques 84
Lei como fonte de Educação
for o caso. Se a vítima for menor de 18 anos
de idade, os pais e o Conselho Tutelar
deverão ser informados. No âmbito
administrativo, a direção deverá comunicar à
Diretoria Regional de Ensino para que seja
instaurada sindicância ou processo disciplinar.

A ocorrência deve ser registrada nos


sistemas da Secretaria da Educação.

43. Lesão corporal

Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a


saúde de outrem:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)


ano.

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º - Se resulta:

I - incapacidade para as ocupações habituais,


por mais de 30 (trinta) dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro,


sentido ou função;

IV - aceleração de parto:

85 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.

§ 2º - Se resulta:

I - incapacidade permanente para o trabalho;

II - enfermidade incurável;

III - perda ou inutilização de membro, sentido


ou função;

IV - deformidade permanente;

V - aborto:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

Lesão corporal seguida de morte

§ 3º - Se resulta morte e as circunstâncias


evidenciam que o agente não quis o resultado,
nem assumiu o risco de produzi-lo:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze)


anos.

Diminuição de pena

§ 4º - Se o agente comete o crime impelido


por motivo de relevante valor social ou moral
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Wandemberg Marques 86
Lei como fonte de Educação
Substituição da pena

§ 5º - O juiz, não sendo graves as lesões,


pode ainda substituir a pena de detenção pela
de multa:

I - se ocorre qualquer das hipóteses do


parágrafo anterior;

II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa

§ 6º - Se a lesão é culposa:

Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um)


ano.

Aumento de pena

§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se


ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, §
4º.

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no


§ 5º do art. 121.

44.O que fazer se um servidor entrar


com drogas na escola?

A direção deverá solicitar a presença


da Polícia Militar (190) para condução do

87 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
servidor ao Distrito Policial e comunicar à
Diretoria Regional de Ensino para abertura de
processo administrativo disciplinar. A
ocorrência deve ser registrada nos sistemas
da Secretaria da Educação. Caso seja
constatada a dependência química, o servidor
deverá ser encaminhado aos serviços de
saúde para tratamento.

Ressalta-se, ainda, que a Lei n° 11.343,


de 23 de agosto de 2006, prevê penas para o
usuário e para o traficante de drogas ilegais,
determinando aumento nessas penas se o
crime for praticado por alguém que
desempenha, dentre outros, a missão de
educação e se for cometido nas dependências
ou imediações de estabelecimentos de ensino.

"Art. 33. Importar, exportar, remeter,


preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.

Art. 40. As penas previstas nos artigos.


33 a 37 desta Lei são aumentadas de um
sexto a dois terços, se: (...);

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se


de função pública ou

Wandemberg Marques 88
Lei como fonte de Educação
no desempenho de missão de educação,
poder familiar, guarda ou vigilância."

45.O que fazer se um servidor se


apresentar para trabalhar sob efeito
de álcool e/ou outras drogas?

Caso o servidor apresente-se sem


condição de desempenho laborativo,
evidenciando sinais que indiquem estar sob
efeito de substâncias entorpecentes, como
tremores, hálito ou suor etílico, fala arrastada,
perda de equilíbrio, alteração de humor e de
comportamento, a direção da instituição
educacional determinará o retorno do servidor
a sua residência e o encaminhará para
inspeção médica. Se ele se recusar,a família
deve ser avisada e, em caso de resistência, a
Polícia Militar (190) poderá ser acionada. O
servidor será cientificado da instauração de
sindicância ou processo administrativo
disciplinar junto à Diretoria Regional de
Ensino, pelo qual serão apuradas as
circunstâncias da ocorrência.

46.O que fazer quando a escola


suspeitar que um servidor está
abusando de álcool e/ou outras
drogas?

89 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
Segundo Art. 28 do CP, existem dois casos
de embriaguez: embriaguez voluntária ou
culposa, embriaguez acidental, por força maior
ou caso fortuito, sendo que para efeitos
práticos a embriaguez por força maior ou caso
fortuito, sendo esta completa, é excludente de
culpabilidade, portanto não se pode atribuir
pena, torna-se inimputáveis. Vale dizer que a
embriaguez patológica para efeitos práticos se
compara a doença mental. A embriaguez
voluntária não excluí a culpabilidade, portanto
se a pessoa tem a intenção de se embriagar
para assim ter coragem de cometer um ato
ilícito ela responderá sem qualquer tipo de
redução de pena ou mesmo excludentes.

A embriaguez pode ser tanto com


substância etílica como também análogas.
Para que a Embriaguez possa existir
necessariamente terá de existir uma conduta
essa conduta pode ser voluntaria ou
involuntária.

Diante da suspeita de abuso de álcool e/ou


outras drogas, a direção da instituição
educacional poderá encaminhar o servidor aos
programas oferecidos pela Secretaria
Estadual da Saúde e pelo Hospital do Servidor
Público do Estado de São Paulo, bem como
às redes municipais de saúde que possuem
serviços especializados no atendimento a
usuários de drogas. O tratamento da
dependência química é complexo e demorado
e seu sucesso reside no.comprometimento

Wandemberg Marques 90
Lei como fonte de Educação
permanente do dependente e das pessoas de
sua convivência profissional e familiar.

A Secretaria Estadual da Saúde, por meio


do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e
Outras Drogas - CRATOD, promove cursos de
atenção a usuários de entorpecentes e
capacitação de cuidadores de pessoas em
dependência química, além de oferecer
orientações e materiais de apoio para a
prevenção do uso indevido de drogas.

47.O que pode ser feito a fim de


evitar futuras dificuldades com
servidores dependentes químicos?

• Realize ações permanentes de


esclarecimento e prevenção ao uso e abuso
de drogas e substâncias entorpecentes
direcionadas aos servidores e seus familiares;

• Assegure-se de que cada um de seus


servidores compreende qual tipo de
desempenho, assiduidade e regras são
exigidas no ambiente de trabalho;

• Esteja alerta a mudanças adversas no


desempenho e na conduta dos servidores;

• Documente todas as ocorrências de mau


desempenho, falta ao trabalho e condutas
inaceitáveis, utilizando estas anotações
quando for falar com o servidor;

91 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

• Converse com o servidor sobre o declínio de


seu desempenho e mantenha a discussão
baseada nos fatos. Opine apenas sobre o
desempenho, não tente diagnosticar o
problema;

• Avalie em conjunto com o servidor os


prejuízos ao seu trabalho e ao contexto
laborativo e esclareça as conseqüências;

• Registre as faltas não justificadas na folha de


ponto do servidor, sem negociá-las por
abonos, folgas ou férias. Não aja com
paternalismo, isso prejudica o usuário;

• Encaminhe o servidor e seus familiares aos


serviços de atendimento à saúde e aos
programas oferecidos pela Secretaria
Estadual da Saúde e pelo Hospital do Servidor
Público do Estado de São Paulo, bem como
às redes municipais de saúde que possuem
serviços especializados no atendimento a
usuários de drogas. Enfatize que a ajuda é
possível e disponível;

• Caso o servidor apresente resistência ao


encaminhamento, lembre a ele sobre as
medidas disciplinares a que está sujeito se
não cumprir com suas responsabilidades
funcionais;
• Busque o envolvimento e a
responsabilização dos familiares e colegas de
trabalho;

Wandemberg Marques 92
Lei como fonte de Educação

• É importante que a dependência química do


servidor seja abordada com ética, em
conformidade com os direitos humanos e
respeitando sua dignidade e integridade
pessoal.

48.O que fazer se um servidor


manifestar atitudes racistas?

Conforme já esclarecido, racismo é crime e


não deve ser tolerado, no entanto é
necessário saber o que é crime de racismo, da
forma com que leciona Renato Marcão
membro do Ministério Público do Estado de
São Paulo.

“Na noite de 13 de abril de 2005, durante


espetáculo futebolístico televisionado, teve-se
a impressão da ocorrência de ilícito penal
testemunhado por milhares de espectadores.

Segundo foi possível notar, um dos


jogadores de futebol, de nacionalidade
argentina, dirigiu-se a outro, de nacionalidade
brasileira; adversário no certame, chamando-o
de "negro". Conforme declarações prestadas à
imprensa televisiva logo após os fatos, por um
dos advogados do clube de futebol a que
pertence o ofendido, este teria informado à
autoridade policial solicitada, em depoimento

93 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
formal, que fora chamado de: "negro" e "negro
de merda".

Foi o suficiente para a exploração


televisiva, em parte justificável pela conduta
do ofensor, de outro condenável pela forma e
conteúdo das matérias veiculadas sem
qualquer preocupação técnica.

7.1 A real tipicidade da conduta

A Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989,


define os crimes resultantes de preconceito de
raça ou de cor.

A Lei n. 9.459, de 13 de maio de 1997,


alterou o art. 140 do Código Penal, que trata
do crime de injúria.

Conforme leciona Damásio de Jesus:


"O art. 2º da Lei n. 9.459, de 13 de maio de
1997, acrescentou um tipo qualificado ao
delito de injúria, impondo penas de reclusão,
de um a três anos, e multa, se cometida
mediante „utilização de elementos referentes a
raça, cor, religião ou origem‟. A alteração
legislativa foi motivada pelo fato de que réus
acusados da prática de crimes descritos na
Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989
(preconceito de raça ou de cor), geralmente
alegavam ter praticado somente injúria, de
menor gravidade, sendo beneficiados pela

Wandemberg Marques 94
Lei como fonte de Educação
desclassificação. Por isso o legislador
resolveu criar uma forma típica qualificada
envolvendo valores concernentes a raça, cor,
etc., agravando a pena. Andou mal mais uma
vez. De acordo com a intenção da lei nova,
chamar alguém de „negro‟, „preto‟, „pretão‟,
„negrão‟, „turco‟, „africano‟, „judeu‟, „baiano‟,
„japa‟ etc., desde que com vontade de lhe
ofender a honra subjetiva relacionada com
cor, religião, raça ou etnia, sujeita o autor a
uma pena mínima de um ano de reclusão,
além de multa" (Código Penal anotado, 8ª ed.,
São Paulo, Saraiva, p. 437).

Nessa mesma linha argumentativa


salienta Celso Delmanto que "comete o crime
do art. 140, § 3º, do CP, e não o delito do art.
20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza
palavras depreciativas referentes a raça, cor,
religião ou origem, com o intuito de ofender a
honra subjetiva da vítima" (Celso Delmanto e
outros. Código Penal comentado, 6ª ed.,
Renovar, p. 305).

Não se desconhece, ainda, a posição


daqueles que defendem que é impossível falar
em crime de preconceito de raça quando na
essência todos os homens (e mulheres) são
componentes de uma única raça: a raça
humana. Segundo os defensores de tal
doutrina, tal fato impediria a distinção que se
faz na lei a respeito de raças, e não havendo

95 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
raças (no plural), a unidade racial seria óbice
intransponível à pretensa distinção e
conseqüente discriminação ensejadora da
tipificação penal.

A verdade, porém, é que para a


legislação penal brasileira, conforme
consagrado na jurisprudência e na doutrina a
conduta de dirigir-se a outrem o chamando de
"negro", ou mesmo "negro de merda" como na
hipótese aventada, não restará configurado o
crime de racismo.

7.2 Necessidade de cautela na divulgação


dos fatos

A imprensa em sentido amplo, tantas


vezes apontada, não sem justo motivo, como
quarto Poder, tem imediata e profunda
penetração em milhares de lares e ambientes
os mais variados, atingindo inimaginável
número de pessoas.

Suas notícias muitas vezes enfatizadas


influenciam na formação da opinião popular a
respeito de determinados temas, e bem por
isso devem ser cuidadosas, cautelosas,
pautadas pela prudência e pelo equilíbrio. É
preciso ter em mente que: mais do que
noticiar, é preciso noticiar com
responsabilidade e consciência a respeito da
importância da matéria veiculada. É preciso

Wandemberg Marques 96
Lei como fonte de Educação
estar atendo à forma e ao conteúdo daquilo
que se noticia.

Infelizmente nem sempre é assim, pois


tantas vezes notamos a priorização do efeito
impactante; não raras vezes evidencia-se que
a vocação do órgão noticioso é apenas causar
indignação; é chocar; despertar sentimentos
os mais variados sem qualquer preocupação
com os resultados que deles decorrem.

E foi assim, infelizmente, com relação


ao episódio acima narrado, haja vista que,
sem qualquer cautela, a grande maioria dos
canais televisivos que trataram do assunto
passou a propalar ter ocorrido crime de
racismo, quando na verdade tal não ocorreu.

E nem se diga que os veiculadores da


notícia não dispunham de conhecimentos
específicos a respeito do tema, e que por isso
estaria justificado o equívoco. Com todo
respeito, a tese não convence.

Se não estão preparados para a


informação que tem cunho jurídico, que não
se atrevam a campear o desconhecido; que
respeitem os destinatários da notícia e não
transmitam inverdades criando expectativa de
resultado judicial-repressivo que não será
alcançado.

97 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação
Não se trata simplesmente de
descompromisso com a verdade. A questão é
mais profunda.

Com efeito, ao noticiar o ocorrido e


apresentar posição jurídica a respeito, cria-se
expectativa de medidas policiais e judiciais
que logo se verificarão incabíveis à espécie, e
então não faltarão críticas injustificadas e
maldosas à Polícia, ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário.

A população destinatária da notícia não


compreenderá o descompasso entre o que foi
veiculado e as conseqüências jurídicas
efetivamente constatadas, e no mais das
vezes a mesma imprensa não cuidará de
esclarecer os incautos, deixando sempre a
névoa sobre fatos que nem comportavam
tanta dificuldade de compreensão.

Conclusão

O episódio verificado durante a partida


de futebol foi lamentável; deplorável, e está
por merecer justa reprovação penal.

Ao que se pode verificar ocorreu, em


tese, crime de injúria racial (art. 140, § 3º, do
CP) e não crime de racismo regulado na Lei
7.716/97.

Wandemberg Marques 98
Lei como fonte de Educação
Por outro vértice, não menos
lamentável e deplorável foi o sensacionalismo
distorcido a que se prestou parte da imprensa
em relação ao episódio; e quanto a esta
conduta a certeza absoluta é a de que
nenhuma punição virá”.

Caso sejam constatadas atitudes ou


comportamentos racistas por parte de
servidores, ou haja conivência ou incentivo a
essas práticas, a direção da escola deverá
solicitar à Diretoria Regional de Ensino a
abertura de processo sindicante ou disciplinar
e orientar a vítima, ou seus pais ou
responsáveis, a apresentar queixa no Distrito
Policial mais próximo. Se o comportamento for
dirigido contra aluno menor de 18 anos de
idade, além das ações descritas, a direção
deverá oficiar o Conselho Tutelar.

49.O que fazer diante de um roubo


ou furto cometido por um servidor?

A direção deve acionar a Polícia Militar


(190), que conduzirá o servidor até o Distrito
Policial para elaboração do Boletim de
Ocorrência. Posteriormente, deverá
providenciara instauração de processo
administrativo ou sindicante para apuração
dos fatos junto à Diretoria Regional de Ensino
e efetuar o registro da ocorrência nos
sistemas da Secretaria da Educação.

99 Wandemberg Marques
Lei como fonte de Educação

Existe diferença entre Roubo e furto e


também entre o furto praticado por funcionário
publico da forma que veremos:

50- O que é Roubo?

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si


ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos,


e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo


depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça, a
fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para si ou para terceiro.

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até


metade:

I - se a violência ou ameaça é exercida com


emprego de arma;

II - se há o concurso de duas ou mais


pessoas;

Wandemberg Marques 100


Lei como fonte de Educação
III - se a vítima está em serviço de transporte
de valores e o agente conhece tal
circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor


que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;

V - se o agente mantém a vítima em seu


poder, restringindo sua liberdade.

§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal


grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15
(quinze) anos, além da multa; se resulta
morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta)
anos, sem prejuízo da multa.

51.O que é Furto?

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem,


coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,


e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o


crime é praticado durante o repouso noturno.

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de

101 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia
elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.

52. O que é Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8


(oito) anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de


obstáculo à subtração da coisa;

II - com abuso de confiança, ou mediante


fraude, escalada ou destreza;

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais


pessoas.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8


(oito) anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para
outro Estado ou para o exterior.

53.O que é Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público


de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a

Wandemberg Marques 102


Lei como fonte de Educação
posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em
proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos,
e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o


funcionário público, embora não tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou
concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que
lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Peculato culposo

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente


para o crime de outrem:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)


ano.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a


reparação do dano, se precede à sentença
irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
posterior, reduz de metade a pena imposta.

9.6 Peculato mediante erro de outrem

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou


qualquer utilidade que, no exercício do cargo,
recebeu por erro de outrem:

103 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
54.O que fazer diante de uma
denúncia de assédio sexual por
parte de servidor contra aluno?

Assédio sexual é crime previsto no


Código Penal. Se o aluno for menor de 18
anos de idade, é presumida a corrupção de
menores.

"Art. 216-A. Constranger alguém com o


intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo-se o agente da sua
condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função."

"Art. 218. Corromper ou facilitar a


corrupção de pessoa maior de 14(catorze) e
menor de 18 (dezoito) anos, com ela
praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a
a praticá-lo ou presenciá-lo."

A direção deve acionar o Conselho


Tutelar e os pais ou responsáveis para efetuar
o registro do ocorrido no Distrito Policial mais
próximo. Administrativamente, deverá ser
instaurado processo disciplinar, de acordo
com a previsão legal. Caso haja flagrante, a
Polícia Militar (190) poderá ser acionada para
apoiar a condução dos envolvidos ao Distrito
Policial.

Wandemberg Marques 104


Lei como fonte de Educação
55.O que fazer diante da denúncia de
assédio sexual de servidor contra
servidor?

Da mesma forma, o servidor molestado


deve acionar as autoridades, procurando o
Distrito Policial para registrar Boletim de
Ocorrência ou fazendo queixa-crime
(representação) ao Poder Judiciário. A direção
escolar deverá comunicar a ocorrência à
Diretoria Regional de Ensino para adoção das
medidas administrativas cabíveis.

56.Pode existir assédio moral de um


professor em relação a um aluno?

Por extensão, pode existir. O assédio


moral é definido como uma ação executada
por alguém em posição de comando que
humilha sistematicamente outro em situação
de subordinação. Apesar de não haver uma
relação de hierarquia formal entre professor
e aluno, existe uma relação de poder que é
tacitamente reconhecida, portanto a Justiça
pode interpretar a humilhação ou o
constrangimento indevido impostos a um
aluno pelo professor como injúria, que se
assemelha, nesse sentido, ao assédio
moral.

Nessa situação, a direção da escola


deve adotar as medidas administrativas
cabíveis junto à Diretoria Regional de Ensino e

105 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
comunicar aos pais ou responsáveis pelo
aluno, orientando-os a denunciar o ocorrido no
Distrito Policial mais próximo. Tratando-se de
menor de 18 anos de idade, o Conselho
Tutelar também deve ser informado.

57.ABUSO DE AUTORIDADE versus


ABUSO DE PODER

De pronto, importa destacar que a


definição de abuso de autoridade, pelo menos
nos livros de direito administrativo, não vem
sendo tratado expressamente, o que, de certo,
dificulta a distinção dos institutos acima
mencionados, se existente, é claro. No
entanto, há a doutrina autorizada do autor
Hely Lopes Meirelles, que mais se aproxima
por nos oferecer subsídios para a análise do
tema.

O insigne autor observa que o abuso de


autoridade é tratado na Lei n. 4.898/1965,
alterada pela Lei n. 6.657/1979, sujeitando os
agentes públicos federais, estaduais,
municipais e distritais a tríplice
responsabilidade: civil, administrativa e penal.
O autor, ainda, oferece-nos a lição de que os
procedimentos decorrentes dessa lei são
autônomos em relação à responsabilidade civil
e administrativa da própria Administração.

A definição trazida pelo mencionado


autor, apesar de necessária, não é suficiente

Wandemberg Marques 106


Lei como fonte de Educação
para a solução do questionamento
apresentado, pois, cinge-se a mencionar a
existência de procedimentos diferenciados,
sem trazer possíveis distinções de fundo entre
os institutos.

Por isso, vamos nos socorrer ao texto da


aludida Lei. Assim dispõe o art. 1º:

„Art. 1º O direito de representação e o


processo de responsabilidade administrativa
civil e penal, „contra as autoridades que, no
exercício de suas funções, cometerem
abusos, são regulados pela presente lei‟.

O artigo citado traz o denominado


„direito de representação‟ a abusos cometidos
por „autoridades‟. Deparamo-nos com duas
outras questões de fundo conceitual, quais
sejam: direito de representação e autoridade.
No que diz respeito ao direito de
representação, deixando de lado o direito de
comparado (CF/67 e CF/88), pode-se concluir
achar-se prevista constitucionalmente no art.
5º, XXXIV, nos seguintes termos:
„XXXIV - são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos
em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;‟

Quanto à autoridade causadora do ato,


basta a definição trazida pelo art. 5º, da Lei de
Abuso de Autoridade, a seguir:

107 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
Art. 5º Considera-se autoridade, para os
efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego
ou função pública, de natureza civil, ou militar,
ainda que transitoriamente e sem
remuneração.

Ao ler o art. 5º, XXXIV, „a, da CF/88,


nota-se a existência do termo abuso de poder
e, não, autoridade; o que, à primeira vista,
poderia levar-nos ao entendimento de sê-los
institutos idênticos. Essa possível conclusão,
se válida, alcança tão-somente o Direito
Constitucional, haja vista que, para o Direito
Administrativo, outras peculiaridades se fazem
presentes. Com o propósito de afastar a total
identidade no âmbito eminentemente
administrativo, cabe registrar a conceituação
doutrinária do que vem a ser „abuso de poder‟.

O abuso de poder no direito


administrativo está intimamente relacionado
com dois elementos de formação do ato
administrativo, a saber: finalidade e
competência.

Os poderes e prerrogativas que o


ordenamento jurídico comete aos agentes
públicos devem ser instrumentos para a
consecução de interesses coletivos. Portanto,
o uso anormal e, mesmo, extravagante dessas
prerrogativas sujeita de nulidade o ato dele
resultante, devendo essa ilegalidade ser
declarada pela Administração Pública ou pelo
Poder Judiciário.

Wandemberg Marques 108


Lei como fonte de Educação

Nessa esteira, insta consignar que o


abuso de poder, entendido aqui como gênero,
abrange duas modalidades, a saber:

a) a que decorre da atuação do agente fora


dos limites legais de sua competência
(excesso de poder – vício na competência), e

b) a que decorre da atuação do agente


apartada do interesse público, ainda que
dentro de sua competência (desvio de poder –
vício na finalidade).

Sem perder de vista o reconhecimento


do que seja abuso de poder, retorna-se à Lei
de Abuso de Autoridade, para indicar a
capitulação apresentada pelo legislador do
que se constitui abuso de autoridade.

Os artigos 3º e 4º trazem um rol bem


considerado de ações, percebam:

Art. 3º - Constitui abuso de autoridade


qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;

b) à inviolabilidade do domicílio;

(...) omissis

h) ao direito de reunião;

109 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação

i) à incolumidade física do indivíduo;

Art. 4º - Constitui também abuso de


autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da


liberdade individual, sem as formalidades
legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou


custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei;
(...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de


pessoa natural ou jurídica, quando praticado
com abuso ou desvio de poder ou sem
competência legal;

Não se vislumbra nas ações


enumeradas a total identidade com a
conceituação do que apresentamos como
sendo abuso de poder. Inclusive, outro não
pode ser o entendimento, note que as alíneas
„a‟ e „h‟, do art. 4º, traz expressamente o termo
abuso de poder e, não, abuso de autoridade.
Ademais, conforme o magistério do Prof.º Hely
Lopes, os procedimentos são tidos como
diferenciados.

Observem que, de todo o rol de ações


apresentado, a maior parte deve-se a atos
praticados por agentes com competência para

Wandemberg Marques 110


Lei como fonte de Educação
tanto, o que afastaria o denominado ABUSO
DE PODER, na acepção EXCESSO DE
PODER; e, portanto, remeteria ao
reconhecimento de que ABUSO DE
AUTORIDADE é modalidade de ABUSO DE
PODER, no sentido de DESVIO DE PODER
OU DE FINALIDADE.

Acontece que o legislador previu na


alínea „h‟ (citado acima), a atuação do agente
SEM COMPETÊNCIA LEGAL, o que nos leva
ao entendimento da existência do conhecido
EXCESSO DE PODER.

Ora, a Lei n. 4.898/1965, com suas


alterações posteriores, engloba a
conceituação do que seja ABUSO DE
PODER, tanto na acepção de desvio de
finalidade como de excesso de poder e a
extravasa; logo, apesar de serem conceitos
que se interpenetram, podemos considerar
que ABUSO DE AUTORIDADE não se
confunde com ABUSO DE PODER,
apresentando-se esse como gênero daquele.

Trata-se de estudo monográfico


referente a abusos de autoridade e de poder
praticados por agentes do Estado, por
intermédio de seus servidores, funcionários e
autoridades publicas, quando atentam e não
respeitam as garantias fundamentais da
cidadania consagrados na Carta Magna e nos
instrumentos internacionais de Direitos
Humanos, aqueles ratificados e aderidos pelo

111 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
governo brasileiro e/ou aqueles de aceitação
universal tácita, quando configura delito contra
a honra, contra a liberdade de comunicação,
ao direito de ir e vir, causando
constrangimento não autorizado por lei, em
face ao desrespeito à dignidade da pessoa
humana, cabendo por conseqüência
responsabilidade do Estado e indenização às
vítimas de abuso de poder e de autoridade.
Tudo em nome da segurança jurídica e do
devido processo legal e coibição à geração de
impunidade penal.

Todo e qualquer tipo de abuso de


poder ou de autoridade é passível de
responsabilidade administrativa, civil e
penal, cabendo ao Estado indenizar as
vítimas e ofendidos diretos e indiretos, ante o
dever de assegurar a inviolabilidade da
intimidade, da imagem, da vida privada e da
honra das pessoas (inc. X, art. 5º CF/88;
indenização e reparação do dano - art.
186/188 CC).

As sanções previstas para punição


dos crimes de abuso de poder e de
autoridade (art. 6º, §§ 2º, 3º e 5º e art. 9º da
Lei nº 4.898/65), no âmbito da legislação
nacional estão previstas na esfera
administrativa, penal e civil, com penas na
espécie de advertência, suspensão,
destituição e demissão do cargo ou função
pública, além da prisão (inc. xlvi, art. 5º CF/88;
Leis nsº 9.099/95, 10.259/01 e 11.313/06 do

Wandemberg Marques 112


Lei como fonte de Educação
Juizado Especial Criminal; arts. 32 CP,
restritiva de direitos - arts. 43 e segts. CP,
multa - art. 49 e segts CP); e na esfera
supranacional a reprimenda de organismos e
cortes internacionais de Direitos Humanos.

São circunstâncias que sempre


agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime: ...o abuso de autoridade
ou de poder, por violação ao dever inerente
ao cargo, ofício, ministério ou profissão (art.
61, II, letras “f” e “g”, da Lei nº 7.209/84 –
Código Penal, Parte Geral).

O código penal comum brasileiro


conceitua como funcionário público
qualquer pessoa que embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego
ou função pública (art. 327 CP); e o código de
processo penal regula a forma de julgamento
dos crimes de responsabilidade dos
funcionários públicos (art. 51/518 CPP). E a
modo de direito comparado, o código penal
militar pátrio quando se refere a
funcionário incluí, para efeito de aplicação,
os juízes e os representantes do Ministério
Público, além dos demais auxiliares da Justiça
Militar (art. 27 do CPM - Dec-lei nº 1.001/69).

Considera-se autoridade para os efeitos


da lei nº 4.898/65, quem exerce cargo,
emprego ou função pública, de natureza civil
ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração (art. 5º).

113 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação

A Constituição federal proíbe


discriminação ou tratamento cruel ou
desumano (inc. XLVII, art. 5º CF/88), pelo
princípio da isonomia, porque todos são iguais
perante a lei, não se admite privilégios ou
distinções quanto ao “status social”, condição
econômica ou financeira dos acusados
homens e mulheres, nacionais e estrangeiras,
todos iguais em direitos e obrigações segundo
as leis penais do País (art. 5º “caput”, inc. I
CF/88 cc. art. 1º CC, Declaração Universal
dos Direitos Humanos ONU/1948, e a
Convenção sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher
ONU/ 1979).

“Ninguém poderá ser objeto de


ingerências arbitrárias ou ilegais,...nem de
ofensas ilegais às suas honra e reputação”
(art. 17 do Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos ONU/ 1966).

Por sua vez, o Código de


Conduta para os Funcionários
Encarregados de Cumprir a Lei (ONU –
Res. nº 34/169/79), expressa: “os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devem
cumprir, todo o momento, o dever que a lei
lhes impõe, servindo a comunidade e
protegendo todas as pessoas contra atos
ilegais, em conformidade com elevado grau de
responsabilidade que a sua profissão requer”
(art. 1º).

Wandemberg Marques 114


Lei como fonte de Educação
O desconhecimento da lei é
inescusável (art. 21 CP).

A lei punirá qualquer discriminação


atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais (inc. XLI, art. 5º CF/88).

É a todos assegurado o direito de


petição aos poderes públicos (inc. XXXIV,
“a” CF/88).

A lei não excluirá da apreciação do


Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito
(inc. XXXV, art. 5º CF/88).

115 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação

Capítulo IV
DIREITOS DEVERES E
RESPONSABILIDADE
DOS ALUNOS
59.Quais são os direitos dos alunos
e alunos especiais?

Os alunos têm direito de receber educação


em uma escola limpa e segura de forma
gratuita e os alunos com deficiência, que
requeiram atenção especial, têm direito a
recebê-la na forma adequada às
necessidades e igualmente gratuita.

60-De que forma o aluno deve ser


convocado para o programa de
recuperação?
O aluno e ou seu responsável deverão ser
notificados formalmente, com devida
antecedência, sobre a possibilidade de ser
encaminhado para programa de recuperação,
em razão do aproveitamento escolar.

Wandemberg Marques 116


Lei como fonte de Educação
61.De que forma o aluno deve ser
informado de seu direito de recurso
em caso de reprovação?
O aluno e ou seu representante devem
ser notificados sobre a possibilidade de
recorrer em caso de reprovação escolar e
ainda devem ser informados sobre
procedimentos para recorrerem de decisões
administrativas tomadas pela direção da
escola.

62.De que forma o aluno pode


reivindicar direitos individuais ou
coletivos?

O aluno pode reivindicar direitos


coletivos por meio da criação e participação
de grêmio estudantil ou entidade similar em
sua escola;

63.O aluno pode decidir de que


forma se veste para freqüentar as
aulas?

Sim o aluno pode decidir sobre as


vestimentas pessoais que portará, assim
como sobre distintivos ou adereços de uso
estritamente pessoal, exceto nos casos em
que sua apresentação represente perigo a si
ou para os outros, ou que perturbem o

117 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
ambiente escolar, ou sejam contrários ao
regulamento escolar ou as leis vigentes.

64.O aluno tem que ser informado


sobre quais são as condutas
apropriadas e as que podem resultar
em sanções disciplinares?

A escola precisa respeitar o principio da


anterioridade jurídica para que possa aplicar
qualquer sanção disciplinar ao aluno, assim
sendo uma vez positivada a norma o aluno
deve ser informado pela direção da escola
sobre as condutas consideradas apropriadas e
as inapropriadas sendo certo que estas
podem resultar em sanções disciplinares ou
administrativas, tudo de acordo com as leis
demais regulamentos escolares.

65.Em que momento o aluno deve


estar acompanhado de seus pais ou
responsáveis?
O aluno deve estar acompanhado por
seus pais ou responsáveis em reuniões e
audiências que tratem de seus interesses
quanto ao desempenho escolar ou em
procedimentos administrativos que possam
resultar em sanções disciplinares ou até
mesmo em sua transferência compulsória da
escola.

Wandemberg Marques 118


Lei como fonte de Educação

Capítulo V
Deveres dos alunos
67.Deveres e responsabilidade dos
alunos
1- Freqüentar a escola regular e
pontualmente, realizando os esforços
necessários para progredir nas diversas
áreas de sua educação;

2- Estar preparado para as aulas e manter


adequadamente livros e demais
materiais escolares de uso pessoal ou
comum coletivo;

3- Observar as disposições vigentes sobre


a entrada e saída das classes e demais
dependências da escola;

4- Ser respeitoso e cortês para com os


colegas, diretores, professores,
funcionários e colaboradores da escola,
independente de idade, sexo, raça, cor,
credo, religião, origem social,
nacionalidade, condição física ou
emocional, deficiências, estado civil,
orientação sexual ou crenças políticas;

119 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
5- Respeitar e cuidar dos prédios,
equipamento e símbolos escolares,
ajudando a preservá-los e respeitando
a propriedade alheia, pública ou
privada;

6- Utilizar meios pacíficos na resolução de


conflitos.

Wandemberg Marques 120


Lei como fonte de Educação

Capítulo VI
Conduta em
ambiente escolar
Além das condutas descritas a seguir,
também são passíveis de apuração e
aplicação de medidas disciplinares as
condutas que professores ou a direção escolar
considerem incompatíveis com a manutenção
de um ambiente escolar sadio ou inapropriado
ao ensino-aprendizagem, sempre
considerando, na caracterização da falta, a
idade do aluno e a reincidência específica do
ato.

69.O aluno pode ausentar-se da sala


de aula ou dos prédios escolares ?

Caso o aluno ausente-se das aulas ou


dos prédios escolares, sem prévia justificativa
ou autorização da direção ou dos professores
da escola, a dita ausência deve-se ser
considerada como infração disciplinar
devendo ser comunicada aos pais ou
responsáveis, momento em que deverão
serem tomadas medidas administrativas

121 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
disciplinares para que seja desestimulada
nova conduta.

70.O aluno pode usar em sala de


aula ou demais locais de
aprendizado escolar telefones
celular ou qualquer outro
equipamento eletrônico que
perturbem o ambiente escolar?

É vedado ao aluno utilizar, em salas


de aula ou demais locais de aprendizado
escolar, equipamentos eletrônicos como
telefones celulares, pagers, jogos portáteis,
tocadores de música ou outros dispositivos
de comunicação e entretenimento que
perturbem o ambiente escolar ou
prejudiquem o aprendizado, segundo o que
determina a Lei 12730/07 e o Decreto 52625
de 15 de janeiro de 2008.

1. Lei 12730/07 | Lei Nº 12.730, de


11 de outubro de 2007 do Estado de
São Paulo

Proíbe o uso telefone celular nos


estabelecimentos de ensino do Estado,
durante o horário de aula.

Wandemberg Marques 122


Lei como fonte de Educação
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO
PAULO:
Faço saber que a Assembléia
Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte
lei:
Artigo 1º - Ficam os alunos proibidos de
utilizar telefone celular nos estabelecimentos
de ensino do Estado, durante o horário das
aulas.
Artigo 2º - O Poder Executivo regulamentará
esta lei no prazo de 90 (noventa) dias
contados da data de sua publicação.
Artigo 3º - Esta lei entra em vigor na data de
sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, aos 11 de outubro
de 2007.
José Serra

2. Decreto 52625/08 | Decreto Nº


52.625, de 15 de janeiro de 2008 do
São Paulo

Regulamenta o uso de telefone celular nos


estabelecimentos de ensino do Estado de São
Paulo

JOSÉ SERRA, Governador do Estado de


São Paulo, no uso de suas atribuições legais e

123 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
à vista do disposto no artigo 2º da Lei nº
12.730, de 11 de outubro de 2007, Decreta:
Artigo 1º - Fica proibido, durante o horário
das aulas, o uso de telefone celular por alunos
das escolas do sistema estadual de ensino.
Parágrafo único - A desobediência ao contido
no "caput" deste artigo acarretará a adoção de
medidas previstas em regimento escolar ou
normas de convivência da escola.
Artigo 2º - Caberá à direção da
unidade escolar:
I - adotar medidas que visem à
conscientização dos alunos sobre a
interferência do telefone celular nas práticas
educativas, prejudicando seu aprendizado e
sua socialização;
II - disciplinar o uso do telefone celular fora do
horário das aulas;
III - garantir que os alunos tenham
conhecimento da proibição.
Artigo 3º - Este decreto entra em vigor
na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, 15 de janeiro de
2008 JOSÉ SERRA

71.Constitui falta disciplinar o aluno


que faz barulho em classe, na
biblioteca ou corredores ?

Wandemberg Marques 124


Lei como fonte de Educação
Sim o aluno que comportar-se de
maneira a perturbar o processo educativo,
como por exemplo, fazendo barulho excessivo
em classe, na biblioteca ou nos corredores da
escola comete transgressão disciplinar.

72.O aluno que desrespeita,


desacata ou afronta Diretores,
Professores ou Funcionários e
colaboradores da escola comete
falta disciplinar?

Sim o aluno que desrespeitar,


desacatar ou afrontar diretores, professores,
funcionários ou colaboradores da escola,
comete falta disciplinar passiva de punição
administrativa, além de estar sujeito
dependendo da falta por ele cometida a outras
formas de punições previstas nos Estatuto Da
Criança e do Adolescente, Códigos Penais e
Penais Militares pelo eventual cometimento
atos infracionais ou crimes.

73.O aluno que apresenta-se para


aula sob o efeito de substancias
nocivas à saúde e a convivência
social comete infração disciplinar?

Sim o aluno que apresenta-se ou


comparece à escola sob o efeito de

125 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
substâncias nocivas à saúde e à convivência
social, comete infração disciplinar, porém
temos que tomar muito cuidado para não
cometermos nenhum excesso ou pré
julgamento, pois o simples fato de o aluno
estar cambaleando ou portando-se de modo
inconveniente não são elementos suficientes
para que a escola o acuse de ter ingerido ou
feito uso de qualquer droga, sob pena de
assim agindo o acusador cometer o crime de
calunia, injuria ou difamação dependendo do
caso.

74 O que é Calúnia

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe


falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)


anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo


falsa a imputação, a propala ou divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

75.O que é Difamação

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato


ofensivo à sua reputação:

Wandemberg Marques 126


Lei como fonte de Educação
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, e multa.

76.O que é Injúria

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a


dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses,
ou multa.

Lembre-se que acusações infundadas


ou desprovidas de provas (periciais) ou
materiais podem além de ensejar a nulidade
do processo eventualmente instaurado contra
o aluno, ser revertida em desfavor do
acusador, pois segundo determina o Artigo 5º
inciso Constituição Federal de 05 de outubro
de 1988; todos temos direito a ampla defesa e
ao contraditório.

77.Nas atitudes escolares de que


forma o aluno pode incorrer em
crime de fraude, falsa identidade,
falsidade ideológica?

Lembrem-se que existe diferença entre


crime e ato infracional, pois crime no Brasil
além de além de ter que ser, fato típico e
antijurídico punível somente pode ser

127 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
cometido por aquele que é maior de idade,
enquanto o ato infracional somente é cometido
por menores de idade.

Comprar, vender, transportar ou


distribuir conteúdos totais ou parciais de
provas a serem realizadas ou suas respostas
corretas, pode caracterizar o crime de fraude
ou até mesmo um ato infracional, portanto,
passivo de ser punido administrativamente e
criminalmente.

Substituir ou ser substituído por outro


aluno na realização de provas ou avaliações,
pode representar o crime de falsa identidade.

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a


terceiro falsa identidade para obter vantagem,
em proveito próprio ou alheio, ou para causar
dano a outrem:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1


(um) ano, ou multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave.

O aluno que substituir seu nome ou


demais dados pessoais quando
realizar provas ou avaliações
escolares terá cometido o Crime por
do artigo 299 do Código Penal caso seja maior
de idade se menor de idade terá então
cometido ato infracional da forma que se vê:

Wandemberg Marques 128


Lei como fonte de Educação
Falsidade ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou


particular, declaração que dele devia constar,
ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa
ou diversa da que devia ser escrita, com o fim
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar
a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)


anos, e multa, se o documento é público, e
reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se
o documento é particular.

Parágrafo único - Se o agente é


funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação
ou alteração é de assentamento de registro
civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

78.Que crime ou ato infracional


comete o aluno que plagia trabalho
escolar de outra pessoa?

O aluno que plagiar, ou seja, apropriar-


se do trabalho de outro e utilizá-lo como se
fosse seu, sem dar o devido crédito e fazer
menção ao autor, como no caso de cópia de
trabalhos de outros alunos ou de conteúdos
divulgados pela internet ou por qualquer outra
fonte de conhecimento, comete o crime do
artigo 184 do Código Penal Brasileiro:

129 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação

CÓDIGO PENAL - ARTIGO 184


Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe
são conexos:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)


ano, ou multa.

§ 1º Se a violação consistir em reprodução


total ou parcial, com intuito de lucro direto ou
indireto, por qualquer meio ou processo, de
obra intelectual, interpretação, execução ou
fonograma, sem autorização expressa do
autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor, conforme o caso, ou de quem os
represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos,


e multa.

§ 2º Na mesma pena do § 1o incorre quem,


com o intuito de lucro direto ou indireto,
distribui, vende, expõe à venda, aluga,
introduz no País, adquire, oculta, tem em
depósito, original ou cópia de obra intelectual
ou fonograma reproduzido com violação do
direito de autor, do direito de artista intérprete
ou executante ou do direito do produtor de
fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia
de obra intelectual ou fonograma, sem a
expressa autorização dos titulares dos direitos
ou de quem os represente.

§ 3º Se a violação consistir no oferecimento

Wandemberg Marques 130


Lei como fonte de Educação
ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite,
ondas ou qualquer outro sistema que permita
ao usuário realizar a seleção da obra ou
produção para recebê-la em um tempo e lugar
previamente determinados por quem formula a
demanda, com intuito de lucro, direto ou
indireto, sem autorização expressa, conforme
o caso, do autor, do artista intérprete ou
executante, do produtor de fonograma, ou de
quem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4


(quatro) anos, e multa.

§ 4º O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se


aplica quando se tratar de exceção ou
limitação ao direito de autor ou os que lhe são
conexos, em conformidade com o previsto na
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem
a cópia de obra intelectual ou fonograma, em
um só exemplar, para uso privado do copista,
sem intuito de lucro direto ou indireto.

79.Quem destrói, danifica de


qualquer forma material ou
equipamentos escolares comete
algum crime?

Danificar ou destruir equipamentos,


materiais ou instalações escolares; escrever,
rabiscar ou produzir marcas em qualquer
parede, vidraça, porta ou quadra de esportes

131 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
dos edifícios escolares constitui crime de dano
tipificado no Código Penal Brasileiro no artigo
163.

80. O CRIME DE DANO

O conceito de crime de dano esta


estampado em nosso Código Penal Brasileiro
mais especificamente em seu artigo 163,
conforme reproduziremos abaixo:

Art. 163 CP – Destruir, inutilizar ou


deteriorar coisa alheira:

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis)


meses, ou multa.

Existe ainda uma peculiaridade no


crime de dano, ou seja, quando o agente
comete o crime com a intenção de lucro,
citando como exemplo um concorrente que,
intencionalmente, venha a danificar bem
alheio, incorrendo assim as penas do artigo
ora citado.

Wandemberg Marques 132


Lei como fonte de Educação
O que deve ser observado
principalmente à vontade do agente em lesar
coisa alheia, trazendo prejuízo a outrem.

É muito importante ressaltar que a


objetividade ou o bem jurídico atingido é a
propriedade, ou seja, bem móvel ou imóvel, é
o patrimônio que esta sofrendo o dano.

Vale lembrar que o crime de dano para


ser caracterizar é necessário que a coisa ou o
objeto tenha valor pecuniário para a sua
tipificação.

Por certo, o crime de dano deixa


vestígios, onde a jurisprudência e mansa e
pacifica não bastando à simples confissão do
delito pelo agente, onde se faz necessário, se
for o caso, exame de corpo de delito, fator
indispensável para a formação da
culpabilidade.

Cumpre-nos ainda ressaltar que o


referido delito só admite a modalidade dolosa,
ou seja, quando o agente exerce livremente a
vontade de praticar o referido delito, ou seja,
desejou causar prejuízo.

133 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
A consumação do crime de dano ocorre
com a destruição, inutilização, desmanchar,
demolir, sacrificar determinado animal,
derrubar muro, inutilizar objeto, atitudes em
geral que venham a causar danos,
comprovados através provas diversas
inclusive de perícia técnica, se for o caso.

Conforme entendimento do Supremo


Tribunal Federal, o crime o dano de pequena
monta pode vir a ser ressarcido pelo
responsável antes da denuncia, desta forma
extinguindo a punibilidade do agente. O
código penal Brasileiro em seu artigo 16 do
Código Penal, assim também preceitua.

Art. 16 – Nos crimes cometidos sem


violência ou grave ameaça à pessoa, reparado
o dano ou restituída à coisa, até o
recebimento da denúncia ou da queixa, por
ato voluntário do agente, a pena será reduzida
de um a dois terços.

Ressalta-se ainda que o crime de dano


aceita a hipótese de dano qualificado, ou seja,
pratica de dano em que o agente se utiliza de
violência com objetivo de garantir êxito em sua
ação.

Wandemberg Marques 134


Lei como fonte de Educação
Ainda neste sentido, o crime de dano
recebe a figura qualificadora quando o agente
age em razão de egoísmo ou com prejuízo
considerável a vítima.

Por fim, ressaltamos que a ação penal


é de iniciativa privada, isto nas hipóteses de
dano simples e do qualificado pelo motivo
egoístico ou de prejuízo considerável. Se
houver concurso de uma forma de dano de
ação pública com outra de ação privada do
ofendido, deverá forma-se o litisconsórcio
ativo, entre o Ministério público e a vítima,
esta oferecendo queixa-crime e aquele
formulando denúncia.

Nada impede, além das ações penais


que a vítima ingresse com ação na esfera civil
requerendo perdas e danos, com objetivo de
ter seu bem restituído.

Informações Bibliográficas :

Costanze, Bueno Advogados. (O CRIME DE


DANO). Bueno e Costanze Advogados,
Guarulhos, 12.08.2009. Disponível em :
<http://(www.buenoecostanze.com.br)

135 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
81.Empregar gestos ou expressões
verbais que impliquem ameaças a
terceiros, incluindo hostilidade ou
intimidação é crime?
Segundo professor neto em artigo
publicado em sua pagina
WWW.professorneto.com.br no dia 24 de abril
de 2009, ameaça é crime e esta prevista no
artigo 147 do CPB , este delito visa proteger a
liberdade pessoal e individual de
autodeterminação.

“Antolisei assevera que a tranqüilidade


individual é, sem possibilidade de
contestação, importante bem na pessoa, ela é
e deve ser considerado o verdadeiro objeto da
tutela jurídica no delito de ameaça”
(BITENCOURT, 2003, P.440).

Na ameaça, o agente deseja somente


amedrontar, atemorizar, apavorar a vítima.

Este pavor vem a produzir mudança na


liberdade psíquica, alterando a livre formação
de vontade, como também vem a produzir
alteração na liberdade física, eis que devido à
gravidade da ameaça, esta causará
insegurança, tolhendo a liberdade de
movimento da vítima.
Concluímos que ameaçar é incutir medo, mas
o que vem a ser medo?

Wandemberg Marques 136


Lei como fonte de Educação
Medo é um sentimento cuja valoração
pode variar de pessoa para pessoa e de
situação para situação, medo é sentimento de
viva inquietação, ante a noção de perigo real
ou imaginário de ameaça, pavor ou temor. Os
meios em que se praticam tal delito são: 1) por
palavra, de maneira oral como por telefone ou
pessoalmente, etc.…; 2) por escrito, e não é
necessário que esteja assinado, pode ser por
e-mail, correspondência, etc.…; 3) por gesto,
(mímicas) às vezes gestos significam até mais
gravidade do que palavras; 4) por qualquer
outro meio simbólico, exemplos que
acontecem neste caso são os bonecos
perfurados com agulhas, enviar uma faca de
presente, pendurar uma caveira na porta da
vítima, etc.… Além da realização de um dos
meios já citados, é também necessário para
configuração do crime os seguintes requisitos:
a) que o mal prometido seja injusto, não
possuindo meio legal para realização do ato;

b) o mal prometido deve ser grave, capaz de


intimidar a vítima; c) que este mal injusto e
grave seja futuro, porém há entendimento que
este mal poderá ser atual ou futuro a qual
afilio-me, eis que o futuro “é tudo aquilo que
ainda não aconteceu” (BITENCOURT, 2003,
P.288), lembrando que “a lesão jurídica
também ocorre com o prenúncio de mal
iminente” (BITENCOURT, 2003, P.288).

Não há crime de ameaça culposo,


somente doloso, ou seja com a vontade livre e

137 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
consciente de ameaçar alguém de causar-lhe
mal injusto.

O crime se consuma quando a vítima


adquirir conhecimento da ameaça, ou seja,
quando o teor da ameaça chega ao
conhecimento do (a) ameaçado (a).

A ação penal deste crime é pública


condicionada, (necessário
representação) porém é necessário que a
vítima represente contra o agente no prazo de
seis meses do dia em que vier a saber quem é
o autor do delito.

82.Quem briga na escola, dando


tapas, socos, ponta pés um no outro
comete crime?
Não cometem crime e sim
contravenção penal prevista no artigo 21 do
Decreto Lei nº 3688 de 3 de outubro de 1941
(Lei das Contravenções Penais)

14.1 Praticar vias de fato contra alguém:


Comentário: Exemplo de vias de fato:
empurrão, tapa, rasteira. Não há lesão aferível
pelo exame de corpo de delito pois, neste
caso, haveria lesão corporal artigo 129 do CP.

Wandemberg Marques 138


Lei como fonte de Educação
Pena – prisão simples, de quinze dias a
três meses, ou multa, de cem mil réis a um
conto de réis, se o fato não constitui crime.

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de


1/3 (um terço) até a metade se a vítima é
maior de 60 (sessenta) anos. (Incluído pela
Lei nº 10.741, de 2003)

83.Que crime pratica quem


participar, estimular ou organizar
incidente de violência grupal ou
generalizada?
Para responder a esta questão
invocamos os ensinamentos do eminente
Advogado João Carlos Carollo que publicou
brilhante artigo no Jus Navigandi no mês de
outubro de 2002 sob o titulo Crime de rixa e
sua vexata quaestio, da forma que a seguir
leremos:

Resumo: O presente artigo procura


abordar de forma simples e didática o crime
de rixa em seus vários aspectos dissonantes
na doutrina e na jurisprudência, porém sem a
pretensão de tentar esgotar toda as
discussões sobre tema tão complexo em um
simples artigo. O trabalho em questão, tem

139 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
como foco principal, a segunda parte do art.
137 do Código Penal e sua relação causal
com o parágrafo único, assim como, a
natureza do terceiro que intervém na rixa.

Sumário: 1. Introdução; 2.Sujeitos do crime


de rixa; 3. Das formas do surgimento da rixa;
4.Da tentativa e da participação; 5. A legítima
defesa na rixa; 6. Da rixa qualificada; 7. Do
concurso de crimes na rixa;
8.Responsabilidade penal objetiva no crime de
rixa; 9. A vexata quaestio.

Introdução:
A rixa é um crime de concurso
necessário (crime plurissubjetivo), mas com a
característica especial de ser concurso
necessário de condutas contrapostas,
diferente da maioria dos crimes de concurso
necessário, nos quais as condutas são
convergentes (ex.: art. 288, CP, bando ou
quadrilha). Desnecessário dizer que, para a
sua existência, é imperioso que haja mais de 2
(dois) participantes, do contrário teríamos
apenas vias de fato ou lesões corporais
recíprocas, dependendo do dolo, pois, nessas
condutas, com apenas 2 (dois) participantes, é
possível individualizar-se perfeitamente as
suas condutas e apurar as responsabilidades
de cada autor. Também é possível, para se

Wandemberg Marques 140


Lei como fonte de Educação
configurar o número mínimo de participantes
para o delito de rixa, a inclusão de
inimputáveis, entretanto o inimputável não
será, é claro, considerado rixoso, mas ao
menos um dos rixosos deve ser imputável.
Devendo-se excluir, no entanto, as pessoas
que, porventura, venham a separar ou tentar
separar os rixosos.

84. Sujeitos do crime de rixa.

Característica interessante no crime de


rixa ocorre quanto ao sujeito passivo, muito
debatido na doutrina. O pensamento
majoritário na doutrina é que o sujeito passivo
é o próprio participante da rixa, ou seja, todos
os participantes são, ao mesmo tempo,
sujeitos ativos e passivos, uns em relação aos
outros, porquanto todos são punidos pelo
perigo reciprocamente criado. Há, no entanto,
na doutrina, quem entenda de modo diverso,
como Manzini, citado por Alberto da Silva
Franco; aquele entende que este crime é
coletivo unilateral, porque a atividade punível
é considerada em seu complexo,
unilateralmente, como perigosa para a
incolumidade das pessoas, e não com
referência às partes que se opõem à rixa.
Assim, em tal caso, os participantes da rixa
não seriam sujeitos passivos, e, como o
resultado de perigo é presumido, não teria
este crime sujeito passivo particular, sendo o
sujeito passivo a coletividade de cidadãos,

141 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
indeterminado, por conseguinte, como nos
crimes contra a incolumidade pública. Embora
interessante a tese, a maior parte da doutrina
não se inclina nesse sentido.

85.Das formas de surgimento da rixa.

Aqui se faz mister abordar as formas de


surgimento da rixa: a primeira é a rixa "ex
improviso", e a segunda, a "ex propósito". A
primeira é a que tem seu surgimento
subitamente, da simples exaltação dos
ânimos, sem nenhuma hora ou local
combinado para ocorrer. A segunda é a rixa
que tem dia, hora e local previamente
estabelecido, é a rixa propositada. No nosso
modesto entendimento, só a primeira
modalidade pode ser aceita, pois entendemos
que, no momento em que se podem definir 2
(dois) grupos distintos com hora e local para
uma contenda, como se fosse um duelo
grupal, se pode também definir quem são os
sujeitos ativos e os passivos e suas
respectivas condutas individualizadas,
descaracterizando-se, dessa forma, o crime
de rixa, e configurando-se, assim, um crime de
lesões corporais ou outros possíveis de serem
realizados por 2 (dois) grupos definidos. Se,
"exempli gratia", 2 (dois) grupos de 10
pessoas marcam dia, hora e local para uma
briga, ao final do conflito, dever-se-ão apurar
quais foram os bens penalmente protegidos
violados. Se, no primeiro grupo, morreu 1 (um)

Wandemberg Marques 142


Lei como fonte de Educação
e, no segundo, houve 1 (uma) lesão corporal,
deverá a autoridade responsável pela
apuração do caso imputar a conduta típica de
homicídio aos integrantes do grupo 2 em
concurso de pessoas, e, aos integrantes do
grupo 1, deverá ser imputada a conduta típica
de lesões corporais, também em concurso de
pessoas. Entendemos ter sido este o
pensamento do legislador ao criar o tipo do
art. 137 do Codex Repressivo, ou seja, o
conflito generalizado, a indefinição de
partícipes e condutas violentas nascidas da
alteração súbita de ânimos, parecendo-nos
esta a melhor interpretação da norma.
Podemos verificar que tal posicionamento
também se encontra presente na
jurisprudência, analisando este excerto:

"Configura rixa um conflito generalizado,


que surge de improviso, sem prévio concerto,
entre três ou mais pessoas, agindo cada qual
dos contendores por conta e risco próprios.

Assim, não há falar no delito, em sendo o


tumulto formado por grupos distintos, cujos
membros agem de maioria uniforme e bem
definida" (TACRIM-SP-AC- Rel. Camargo
Aranha – JUTACRIM 40/165).Mas a doutrina e
a jurisprudência, já de muito, consagraram a
rixa "ex propósito".

86.Da tentativa e participação.

143 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
Como se pode notar, sem dificuldade,
para aqueles que defendem a existência
somente da rixa "ex improviso", não será
possível a tentativa de rixa por não existir um
"iter criminis" possível de ser interrompido. Já
para aqueles que entendem possíveis também
a rixa "ex propósito", a tentativa seria viável,
tendo-se em vista o "iter criminis" amplo e
possível de ser obstado, como, por exemplo,
no caso de 2 (dois) grupos de torcidas que
marcam dia e hora para brigar, porém a
polícia é avisada, vindo a impedir tal conduta
quando os grupos já estavam com paus e
pedras prontas para a luta. Aqui fica clara a
possibilidade da tentativa nessas
circunstâncias. Por uma questão de coerência
com o nosso posicionamento, já acima
exposto, não podemos concordar com tal
entendimento.

Outro tema bastante discutido na


doutrina é a possibilidade, ou não, da
participação no crime de rixa. Não confundir
com a participação na rixa, a qual é a conduta
de quem atua diretamente na rixa (autor). A
participação no crime de rixa é perfeitamente
possível, apesar de opiniões em contrário,
sendo o exemplo mais elucidativo o caso de
terceira pessoa que, ao avistar o conflito
generalizado, se aproxima da briga e começa
a depositar ali perto paus e pedras, com o
intuito de facilitar o conflito, alimentando-o,
configurando-se, com essa conduta, a sua
participação material na rixa.

Wandemberg Marques 144


Lei como fonte de Educação
87- A legítima defesa na rixa.

A legítima defesa que iremos abordar


agora não é a de terceiros, que se encontra
na segunda parte do art. 137 do Código
Penal, e iremos deixar para o final, mas a
legítima defesa própria, que pode ocorrer na
rixa. A hipótese é a do rixoso que, durante a
rixa, saca de uma arma (faca ou arma de
fogo) com o propósito de matar outro rixoso, e
este, então, em legítima defesa, mata o seu
agressor. À primeira vista para os neófitos,
pode parecer estranha a legítima defesa
nessas circunstâncias, dado que parece faltar
o requisito básico da legítima defesa, que é a
injustiça da agressão, pois, se todos estavam
agredindo e todos estavam cometendo
conduta ilícita, como se justificar a legítima
defesa, uma vez que o comportamento de
todos é injusto? A verdade é que, em alguns
casos concretos, como o descrito acima, a
legítima defesa será possível. Basta pensar na
desproporcionalidade de condutas para poder
vislumbrar tal possibilidade, amparada no
princípio da relação de proporção entre causa
e efeito, ou seja, quando o partícipe no crime
de rixa toma parte na contenda, em nenhum
momento adere ou visualiza uma violência
maior do que uma briga. Manzini escreve que
"A faculdade de legítima defesa surge para
o rixoso somente quando, na luta, sofre ou
é ameaçado de sofrer violência mais grave

145 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
ou perigosa do que aquela que aceitou, ao
participar da rixa".

Alguns autores como Luíz Jiménez de


Asúa e, aqui em nosso direito pátrio, Aníbal
Bruno entendem preferível, nesses casos, a
causa supra legal da inexigibilidade de
conduta diversa, que excluiria a culpabilidade.
Cabe apenas lembrar que, qualquer que seja
a excludente de ilicitude ou culpabilidade, esta
morte excluirá apenas o crime de homicídio do
agente em legítima defesa, todavia não
excluirá a rixa qualificada do parágrafo único
do art. 137 do Código Penal em relação a
todos os rixosos.

Também não nos podemos esquecer


da ocorrência de lesão grave ou morte de
terceiros que não participam da rixa, isto é,
apenas transeuntes, vez que, nesses casos,
também haverá rixa qualificada, uma vez que
o perigo de dano não é só para os
participantes da rixa, senão também para a
coletividade. Podem ocorrer outros crimes e,
geralmente, ocorrem, em concurso com o
crime de rixa, como o desacato, o disparo de
arma de fogo e injúrias. Por esses crimes,
responderá o autor que os praticar em
concurso com a rixa. Concurso só não haverá
com as vias de fato, pois estas integram a
rixa.

88.Rixa qualificada.

Wandemberg Marques 146


Lei como fonte de Educação

Na rixa qualificada, encontramos mais


uma peculiaridade desse crime a qual o
distingue dos demais crimes de perigo; é que,
na rixa, o resultado qualificador pode ser tanto
a título de dolo como de culpa, o mesmo não
ocorrendo nos outros crimes de perigo, como,
por exemplo, a omissão de socorro, maus
tratos, abandono de incapaz etc., onde o
resultado qualificador será somente a título de
culpa. É por esta razão que o legislador tomou
o devido cuidado de colocar a rixa em um
capítulo à parte.

Importante, também, lembrarmos que


não ocorrerá a qualificadora no caso de
alguma morte ou lesão grave decorrente de
uma causa exclusiva, mas não decorrente da
rixa. O melhor exemplo é o do rixoso que,
durante a rixa, percebe a presença na briga de
um desafeto, com isso vindo a matar ou
lesionar gravemente o mesmo. Essa morte ou
lesão são exclusivamente atribuíveis ao seu
autor; o que ocorre aqui é apenas um
homicídio ou lesão ocorrente no momento da
rixa, não sendo essa morte ou lesão
conseqüências do crime de rixa.

Aspecto peculiar do crime de rixa,


causador de perplexidade aos estudantes das
primeiras linhas do Direito Penal, é o fato de a
vítima da agressão grave também responder
pela rixa qualificada, contudo não há razão

147 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
para tanto, basta analisar o parágrafo único do
art. 137 do Código Repressivo, onde se
encontra a brilhante expressão que dá
fundamento a essa conclusão: "pelo fato da
participação na rixa". A vítima, ao participar
da rixa, já comete o delito, isto é, nesse
momento, ela e os outros rixosos já criaram
uma situação de perigo, não somente para
estes, como também para os transeuntes que
possam passar pelo local da contenda.

Concurso de crimes

Deve-se ter atenção à identificação do


autor da lesão grave ou homicídio, dado que,
se for possível a identificação individualizada
do autor, responderá sempre por sua conduta
(lesão grave ou morte) mais rixa simples em
concurso material, afigurando-se
entendimento ainda minoritário. O
entendimento majoritário capitaneado por
Nelson Hungria é o de que o autor do
homicídio ou lesão grave deverá responder
por esses delitos em concurso material com a
rixa qualificada. "Data máxima venia", não
podemos concordar com tal posicionamento,
já que, assim, se estará punindo o agente
duas vezes pelo mesmo fato, configurando-se,
com isso, um caso claro de "bis in idem".

As lesões graves ou a morte devem


ocorrer durante a rixa ou em conseqüência
dela, sendo certo que as lesões ou a morte

Wandemberg Marques 148


Lei como fonte de Educação
que antecedem a rixa não a qualificam, pelo
simples fato óbvio, de que não foram
conseqüências da rixa.

16.7 Responsabilidade penal objetiva no


crime de rixa.

O tema mais debatido, entretanto, na


doutrina e na jurisprudência se refere à
existência, ou não, da famigerada
responsabilidade penal objetiva no crime de
rixa. Alguns doutrinadores vislumbram essa
possibilidade ao analisar a expressão contida
no parágrafo único do art. 137, CP, que diz:
"Pelo fato da participação na rixa". O
exemplo mais ventilado é o da morte que
ocorre após a saída do rixoso, mas ainda com
a rixa em desenvolvimento. Outra hipótese
alegada por alguns autores é com relação aos
rixosos que, segundo esses autores, não
atuaram com dolo ou culpa em relação à lesão
grave ou morte; só teriam atuado com dolo em
relação à rixa, não aderindo à conduta do
causador direto da qualificadora. Nos dois
casos, todos os rixosos responderão pela rixa
qualificada. Grande parte da doutrina entende
que tanto o rixoso que saiu da rixa, como os
rixosos que só queriam a rixa, e não a
qualificadora, não agiram com dolo ou culpa e,
portanto, haveria ao menos resquícios da
responsabilidade penal objetiva. Não
comungamos tal entendimento. Os rixosos, ao
participarem da rixa, têm ampla previsibilidade

149 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
do resultado (culpa é a imprevisão do
previsível), ou seja, a ocorrência da lesão
grave ou morte, conquanto não desejada, é
perfeitamente previsível e, conseqüentemente,
haverá culpa. Para a ocorrência da
responsabilidade penal objetiva, há
necessidade de total falta de culpa, o que
efetivamente não acontece. Nelson Hungria
brilhantemente escreve: “Nenhum deles,
portanto, responde pelas conseqüências
que não produziu, mas pelas
conseqüências não imprevisíveis de uma
situação ilícita, a que consciente e
voluntariamente prestou sua cota de
causalidade"
.
16.8 A vexata quaestio
.
Chegamos ao tema principal deste
artigo e pouco comentado pela maioria da
doutrina. Esse tema se refere ao terceiro que
intervém na rixa para separar os contendores,
agindo, dessarte, esse terceiro poderá causar
lesão grave ou morte de algum dos rixosos, o
que é perfeitamente possível, não restando
dúvida de que agirá aqui acobertado pela
excludente da legítima defesa de terceiros,
mas a pergunta que surge é a seguinte: esta
morte ou lesão grave irá qualificar a rixa
em relação a todos os rixosos? Pouco se
tem falado na doutrina e muito menos na
jurisprudência sobre o tema. Para alguns
doutrinadores, a resposta é positiva. Alegam

Wandemberg Marques 150


Lei como fonte de Educação
esses doutrinadores que quem quer que
cause a rixa responderá por toda a
conseqüência que dela possa advir, ou seja,
ao transformar o perigo de dano (rixa simples)
em dano efetivo (rixa qualificada) deveriam
responder pelas suas conseqüências, em
função do nexo causal. Damásio de Jesus, em
seu curso de Direito Penal, vol. 2, sugere três
perguntas, das quais transcrevemos as duas
que são atinentes a este artigo: A rixa é
qualificada se um estranho a ela mata um
dos rixosos quando de sua intervenção
para separá-los? Responde que sim, pois
bastaria que a morte tivesse nexo causal com
o fato. E, completando seu raciocínio, formula
esta pergunta sobre este tema: E se a
autoridade policial intervém para impedir a
rixa, causando a morte de um dos rixosos?

Aqui o mestre Damásio responde


entender que não é o caso de se aplicar a
qualificadora, uma vez pensar ele ser
necessário que a morte ocorra por causa
inerente, e não estranha à rixa. Confessamos
que não compreendemos muito bem como ele
chegou a essa conclusão, porquanto, para
nós, as respostas às perguntas são
incongruentes, como tentaremos mostrar mais
à frente. Esses mesmos autores usam como
fundamento o caso da legítima defesa própria,
ocorrida na rixa (já comentada anteriormente)
para justificar a presença da qualificadora
nesta aparente mesma circunstância, isto é,
na legítima defesa própria, a rixa seria

151 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
qualificada para todos e, por isso, não haveria
por que ser diferente no caso da legítima
defesa de terceiros efetuada pelo interventor
da rixa, porque, sendo a mesma causalidade,
deveria ser, também, o mesmo resultado,
devendo-se aplicar a qualificadora a todos os
rixosos.

Devemos reconhecer que, à primeira


vista, esse entendimento parece atraente e
muito coerente, não obstante, após
analisarmos com mais acuidade a questão,
podemos notar que falta a este raciocínio um
detalhe que consideramos importante e que
não foi notado aparentemente, que é o
causador da lesão grave ou da morte, pois,
nessa hipótese, quem causa o resultado
qualificador não é um dos rixosos, e sim o
terceiro interveniente. Entendemos que esse
resultado qualificador deveria ocorrer
efetivamente do comportamento de um dos
rixosos. Pensamos, também, que a conduta
do terceiro é estranha à conduta dos rixosos,
e essas conseqüências mais gravosas devem
ser produzidas por causas inerentes à rixa, e
não estranhas a ela. Ao se analisar o tipo do
art. 137, 2ª parte, CP, onde está escrito:
"salvo para separar os contendores,"
verifica-se que o legislador quer um
tratamento diferenciado ao terceiro interventor,
e, por tal razão, a conduta de terceiro não
deverá imiscuir-se na qualificadora da rixa,
pois fica diáfano que quem separa a rixa não
pode ser rixoso. Nas perguntas formuladas

Wandemberg Marques 152


Lei como fonte de Educação
pelo mestre Damásio (reproduzidas acima),
temos a impressão de que o grande mestre vê
o interveniente como um rixoso, ao menos o
particular, ou seja, não estranho à rixa, isso
fica evidente quando se refere à autoridade
interveniente, como se pudesse haver
espécies de intervenientes, oficiais ou não-
oficiais; ora, parece-nos a nós que só existe
uma espécie de interveniente, o que intervém
para separar a rixa, autoridade, ou não. E
então, por tal raciocínio, o nexo causal seria o
mesmo, a qualificadora deveria ser imputada a
todos os rixosos ou, por coerência, não
deveria ser aplicada, o que eu não vejo é
como se fazer tal distinção. Veja que, na
legítima defesa própria, a causa é interna,
sendo dos próprios rixosos, mas, na legítima
defesa de terceiros, a causa é externa,
estranha à rixa. Pode-se notar aqui uma
quebra na causalidade. Poderíamos, dessa
forma, trabalhar com um caso concreto e
semelhante para ajudar o raciocínio. Se, v.g.,
um carro viesse trafegando na pista de
rolamento e logo à frente se deparasse com
os rixosos que ocuparam a pista em razão de
uma batalha generalizada e esse mesmo
carro colidisse com um dos rixosos, matando-
o ou lesionando-o, seria o caso da imputação
da qualificadora a todos os rixosos?

Acreditamos que a resposta deva ser


negativa e achamos que, aqui neste exemplo,
a corrente anterior encontraria dificuldades de
afirmar a presença da qualificadora. Embora

153 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
se possa afirmar também estar aqui presente
o nexo causal. Essa colocação fica cristalina
ao se interpretar a "contrario sensu" o
parágrafo único do art. 137, CP, que diz "pelo
fato da participação na rixa", ou seja, o
terceiro não participou da rixa e, assim sendo,
a sua conduta não deverá contaminar a
qualificadora. Elucidativo o pensamento de
Manzini, quando escreve: “A morte ou a
lesão grave de um rixoso ou de outra
pessoa, causada pelo emprego de armas
por parte da força pública, que intervém
para terminar a desordem, não concretiza
evidentemente a agravante". Não temos
dúvida de que este entendimento é
minoritário, mas esperamos, humildemente,
poder estar contribuindo com este pequeno
artigo para um melhor debate sobre esta
"vexata".

Bibliografia:

FRANCO, Alberto Silva. Código Penal e sua


interpretação jurisprudencial. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2001.

JESUS, Damásio Evangelista de. Curso de


Direito Penal, 2° volume. 18. ed. São Paulo:
Saraiva,1996.

JESUS, Damásio Evangelista de. Código


Penal Anotado. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
1997.

Wandemberg Marques 154


Lei como fonte de Educação
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios
Básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 1994.

Apropriar-se de objetos que pertencem a outra


pessoa, sem devida autorização ou sob
ameaça;

Consumir, portar, distribuir ou vender


substâncias controladas, bebidas alcoólicas
ou outras drogas lícitas ou ilícitas no recinto
escolar.

155 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação

Capítulo VII
MEDIDAS
DISCIPLINARES
90.O não cumprimento dos deveres e
a incidência em faltas disciplinares
poderá acarretar ao aluno que
medidas disciplinares?

Não se cogita de infração ou sanção


senão em face de prévia previsão e
cominação regimental, observada a legislação
em vigor, em especial o art. 5º da Constituição
Federal do Brasil.

Aplicam-se às infrações disciplinares,


quando cabíveis, as excludentes do estado de
necessidade, da legítima defesa, do estrito
cumprimento do dever legal e do exercício
regular de direito.

Quem, de qualquer modo, concorre


para a infração, incide nas sanções a ela
cominadas, na medida de sua culpabilidade.

I Advertência verbal;

Wandemberg Marques 156


Lei como fonte de Educação
Consiste a advertência verbal em
admoestação oral ao infrator pela autoridade.

II Retirada do aluno da sala de aula ou


atividade em curso e encaminhamento à
diretoria para orientação;

Consiste a expulsão do recinto na


determinação verbal ao infrator pela
autoridade, no sentido de que se retire do
local onde se realiza atividade escolar.

III Comunicação escrita dirigida aos pais


ou responsáveis;

Consiste a advertência escrita na


admoestação ao infrator, reduzida a termo,
firmado por ele e pela autoridade que a impõe
e também pelos pais ou responsáveis;

IV Suspensão temporária de participação


em visitas ou demais programas
extracurriculares;

Consiste a suspensão temporária da


proibição ao infrator de freqüentar qualquer
atividade acadêmica, e anotada no prontuário
do infrator.

V Suspensão por até 5 dias letivos;

VI Suspensão pelo período de 6 a 10 dias


letivo;

157 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação

VII Transferência compulsória para outro


estabelecimento.

Wandemberg Marques 158


Lei como fonte de Educação

Capítulo VIII
PROCEDIMENTOS
91.As medidas disciplinares deverão
ser aplicadas aos alunos em função
da gravidade da falta, idade do
aluno, grau de maturidade e
histórico disciplinar, comunicando-
se aos pais ou responsáveis.

As medidas previstas nos itens I e II


serão aplicadas pelo professor ou diretor;

As medidas previstas nos itens III, IV e


V serão aplicadas pelo diretor;

As medidas previstas nos itens VI e VII


serão aplicadas pelo Conselho de Escola.

As faltas descritas nos itens 5.23. a


5.30. deverão necessariamente ser
submetidos ao Conselho de Escola para
apuração e aplicação de medida disciplinar,
devendo a unidade escolar informar à
Secretaria Estadual da Educação sua
ocorrência e a medida disciplinar aplicada.

159 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
Em qualquer caso será garantido amplo
direito de defesa, ao aluno e aos seus
responsáveis, cabendo pedido de revisão da
medida aplicada e, quando for o caso, recurso
ao Conselho Escolar.

92.O que é Ampla defesa?

O Princípio do Contraditório e da
Ampla Defesa é assegurado pelo artigo 5º,
inciso LV da Constituição Federal, mas pode
ser definido também pela expressão audiatur
et altera pars, que significa “ouça-se também
a outra parte”.

É um corolário do princípio do devido


processo legal, caracterizado pela
possibilidade de resposta e a utilização de
todos os meios de defesa em Direito
admitidos.

No meio processual, especificamente


na esfera do direito probatório, ele se
manifesta na oportunidade que os litigantes
têm de requerer a produção de provas e de
participarem de sua realização, assim como
também de se pronunciarem a respeito de seu
resultado.

Abrange qualquer tipo de processo ou


procedimento, judicial, extrajudicial,
administrativo, de vínculo laboral, associativo
ou comercial, garantindo a qualquer parte que

Wandemberg Marques 160


Lei como fonte de Educação
possa ser afetada por uma decisão de órgão
superior (judiciário, patrão, chefe, diretor,
presidente de associações, etc).

Tal princípio não encontra, no entanto,


aplicação no campo de procedimentos
inquisitivos e investigatórios, como o inquérito
policial, procedimentos judiciais e
administrativos de cunho meramente
investigatórios, sendo que o investigado pode
ser até afastado de suas atividades através da
suspensão do contrato de trabalho, em casos
de inquérito administrativo no âmbito da CLT,
ou, até mesmo, ser preso, nos casos de prisão
preventiva do acusado que pode atrapalhar as
investigações

93 O que é Contraditório

É inerente ao direito de defesa, é


decorrente da bilateralidade do processo:
quando uma das partes alega alguma coisa,
há de ser ouvida também a outra, dando-lhe
oportunidade de resposta. Ele supõe o
conhecimento dos atos processuais pelo
acusado e o seu direito de resposta ou de
reação.

O Princípio do Contraditório exige:

161 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
a) a notificação dos atos processuais à parte
interessada;

b) possibilidade de exame das provas


constantes do processo;

c) direito de assistir à inquirição de


testemunhas;

d) direito de apresentar defesa escrita.

94 Entendendo melhor a Ampla


defesa e o contraditório.

A resposta para essas questões é


fundamental para o prosseguimento de nosso
estudo, pois sem entendermos o que é a
ampla defesa e o contraditório, fica impossível
de nos defendermos contra os eventuais
abusos ou inobservâncias legais praticadas ou
deixadas de serem praticadas em desfavor
daquele que está sendo processado.

Para explicar o que é um instituto e o


outro, tomamos emprestados os
ensinamentos da matéria publicada no site do
Instituto de Relações Internacionais datado de
25 de fevereiro de 2009 da lavra de Gilson
Wessler Michels, segundo o qual:

“Não há, na lei, um conceito objetivo do


que seja a ampla defesa, nem mesmo há uma
definição de seu conteúdo mínimo. Partindo-

Wandemberg Marques 162


Lei como fonte de Educação
se, portanto, do comando constitucional que
assegura o direito da ampla defesa, “com os
meios e recursos a ela inerentes” (inciso LV
do artigo 5.º), cumpre que se busque, na
doutrina, a extensão de seus limites.

Para Alberto Xavier, o direito de ampla


defesa é manifestação do devido processo
legal, sendo seu significado prático o de que o
poder jurídico-público se faça nos termos de
um processo justo e disciplinado em lei, no
qual seja dado ao particular afetado, o direito
de conhecer os fatos e o direito invocado pela
autoridade, além do direito de ser ouvido
pessoalmente e de apresentar provas,
confrontando as posições que lhes são
opostas. Assim se manifesta o jurista:

O direito de ampla defesa reveste, hoje,


a natureza de um direito de audiência (audi
alteram partem), nos termos do qual nenhum
ato administrativo suscetível de produzir
conseqüências desfavoráveis para o adminis-
trado poderá ser praticado de modo definitivo
sem que a este tenha sido dada a
oportunidade de apresentar as razões (fatos e
provas) que achar convenientes à defesa dos
seus interesses.

O direito de defesa ou direito de


audiência é um direito de participação
procedimental, que pressupõe a atribuição ao
particular do estatuto jurídico de “parte” no

163 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
procedimento administrativo, com vista à
defesa de interesses próprios.

Celso Ribeiro Bastos, ao analisar o


princípio da ampla defesa no âmbito do
processo administrativo e judicial, declara que
“de outra forma, nada obstante o fato de o
procedimento administrativo disciplinar não
ser guiado nos seus atos da mesma forma
que o é o processo penal, algumas fases,
contudo, são inafastáveis. Por exemplo, a
ciência inicial da imputação ao acusado, a sua
audiência e a produção de provas e
contraprovas, dentre outras”.

Já Nelson Nery Costa enfatiza que o


direito de plena defesa não fica evidenciado
pelo que ocorre durante o processo ou no
processo, mas de um rito previamente
estabelecido no qual as sanções legais e as
condições para que a defesa seja ampla e
justa estejam também antecipadamente
definidas. O jurista afirma, ainda, a
indissolubilidade entre o princípio da ampla
defesa e o do contraditório, defendendo a
inocuidade da defesa que não puder
contraditar a acusação, estabelecendo o
caráter dialético do processo, que caminha
através de contradições a serem finalmente
superadas pela atividade sintetizadora do juiz;
não basta “o simples oferecimento de
oportunidade para produção de provas, mas
também a quantidade e a qualidade de defesa
devem ser satisfatórias”.

Wandemberg Marques 164


Lei como fonte de Educação

Odete Medauar também enfatiza a


vinculação entre ampla defesa e
contraditória, para fins de declarar que não
pode haver limitações à produção da defesa
tendente a contradição das questões
levantadas pela acusação. Assim, “a
possibilidade de rebater acusações,
alegações, argumentos, interpretações de
fatos, interpretações jurídicas, para evitar san-
ções ou prejuízos, não pode ser restrita, no
contexto em que se realiza”, estando esta
visão sustentada pela própria expressão final
do inciso LV do artigo 5.º da Constituição
Federal de 1988 – “com os meios e recursos a
ela inerentes” -, que não se coaduna com
qualquer interpretação restritiva do direito de
defesa.

Dissecando o princípio da ampla


defesa, a mesma jurista destaca algumas de
suas características fundamentais, sem as
quais o direito perde o sentido que lhe atribui
o texto constitucional:

(a) Caráter prévio da defesa ou sua


anterioridade em relação ao ato decisório:
defende a idéia de que a partir da nova
Carta Magna, deve o direito de defesa ser
permitido antes da efetivação do ato
administrativo, apenas admitindo exceção
nos casos que envolvem risco de vida e
segurança da população, nos quais a

165 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
gravidade da situação torna indispensável
uma decisão imediata;

(b) desnecessidade de previsão do direito de


defesa em lei ou demais normas: entende
que o direito de defender-se deriva da
Constituição, que na alínea “a” do inciso
XXXIV do artigo 5.º prevê o direito de
petição, e no inciso LV consagra a ampla
defesa como requisito inafastável de qual-
quer judicial ou administrativo. Assim,
uma autoridade não se desobriga de
permitir a defesa do cidadão, alegando a
falta de previsão legal;

(c) possibilidade de opção pela autodefesa ou


pela defesa técnica:

não pode haver exigência de defesa


técnica em todos os procedimentos
administrativos, até porque isso obrigaria a
instituição de defensoria dativa pelo poder
público. Entende a jurista, no entanto, que
a exigência poderia existir em casos
específicos, especialmente nos casos em
que os processos atingissem com
gravidade os direitos e atividades do
cidadão (exemplos: demissão, fechamento
de estabelecimento comercial etc.);

(d) obrigatoriedade da informação geral: de


todos os fatos e desdobramentos do feito
administrativo devem ser cientificados aos

Wandemberg Marques 166


Lei como fonte de Educação
interessados. “Assim, o direito de ser
notificado do início do processo, devendo
constar do texto a indicação dos fatos e
bases legais; o direito de ser cientificado,
com antecedência, das medidas ou atos
referentes à produção das provas; o direito
de ser cientificado da juntada de
documentos; o direito de acesso aos
elementos do expediente (vista, cópia ou
certidão)”;

(e) possibilidade da produção de provas:


devem as provas poderem ser solicitadas,
produzidas e consideradas, não
significando isto, no entanto, que seja
permitido o uso abusivo das mesmas
(exemplos: ouvida de 100 testemunhas,
realização de provas irrelevantes etc.) ou a
utilização de provas obtidas por meios
ilícitos.

Para outro jurista, Marçal Justen Filho, “pouca


utilidade teria um procedimento em que
não fosse prevista a livre manifestação de
todos os interessados, com direito a
participação ativa e vedação a atuação
unilateral de uma das partes. Enfim, o
procedimento não consiste na observância
formalística de um ritual. Não se
compadece com o Estado Democrático a
instituição de procedimento com perfil
arbitrário ou prepotente”. Para ele, são
inerentes à ampla defesa:

167 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
(a) a transparência da atividade administrativa:
da mesma forma que não pode haver
apropriação pura e simples de bens dos
particulares, também não pode haver
decisões sem prévia audiência do
acusado. Não há ampla defesa se o
cidadão desconhece a acusação ou a
pretensão estatal, posto que não seja
possível formular defesa para todas as
pretensões possíveis e imagináveis;

(b) a instauração do contraditório: além de


saber do que é acusado e em que termos
isto é feito, deve ser permitido ao cidadão
à apresentação de defesa prévia à
decisão, a audiência a todos os eventos e
a produção de provas adequadas à
defesa;

(c) a imparcialidade do julgador: a disciplina


do procedimento deve assegurar a
imparcialidade do julgador e consagrar o
dever de aplicar o direito objetivamente ao
caso concreto, sendo inadmissíveis, por
exemplo, os casos em que o agente que
julga está hierarquicamente subordinado a
quem é parte na relação jurídica
estabelecida, ou então, em que o mesmo
órgão formaliza a exigência contestada e
julga sua procedência;

(d) a ilimitação da defesa: ampla defesa


significa ilimitação de defesa, não
podendo a lei ou normas administrativas

Wandemberg Marques 168


Lei como fonte de Educação
vedar ao cidadão a invocação de
determinado argumento ou a utilização de
determinado elemento de prova em defesa
de seu interesse. Só poderiam ser
excluídos os argumentos incompatíveis
com o sistema jurídico e os valores
fundamentais, além daqueles elementos
de prova obtidos ilicitamente;
(e) a motivação completa e minudente da
decisão: a motivação das decisões
associa-se à obrigatoriedade de
consideração, por parte do julgador, de
todas as provas apresentadas. Sem a
indicação dos fundamentos de direito e de
fato que dão respaldo à decisão, tornar-se-
ia inócuo o conjunto de garantias
concedidas ao cidadão no âmbito do
procedimento administrativo.

A partir de todas estas contribuições


doutrinárias, já se pode elencar, então, um
conjunto de requisitos que, se não presentes,
comprometem a efetividade do princípio da
ampla defesa. Tal elenco auxiliará a aferição,
que posteriormente se fará, quanto à sua
presença no âmbito do procedimento
administrativo que aqui se discute. São eles:

(a) existência de um rito previsto em lei: sem a


definição das etapas que compõem o
procedimento, perde ele nitidez e
transparência, tornando difícil ao cidadão
identificar suas possibilidades de
participação no curso processual, como

169 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
tais os meios recursais e as vias de
contestação dos atos produzidos;

(b) previsão de comunicação dos atos


processuais: de todos os atos processuais
deve ser cientificado o cidadão, a fim de
que possa, eficazmente, exercer seu
direito de defesa. Este requisito inclui tanto
o direito de saber qual a acusação e/ou
exigência que lhe é imputada/formulada - e
os fundamentos sobre os quais se embasa
-, como também o direito de ser informado
de todos os desdobramentos do feito, para
que possa em relação a eles manifestar-
se. Em outras palavras, tem o cidadão o
direito à citação, por meio da qual saberá o
que lhe é imputado, e em que termos esta
imputação é formalizada, e à intimação
dos atos praticados, por meio da qual lhe
será dado conhecimento das provas
juntadas ao processo, dos argumentos
avocados pela parte contrária, das
medidas adotadas pelo julgador, enfim, do
curso do processo como um todo;

(c) instauração do contraditório: além de ser


comunicado da acusação que lhe é
imputada e dos atos que dão curso ao
feito, deve o procedimento incluir medidas
que permitam ao cidadão contestar o feito
previamente à decisão, e que viabilizem a
confrontação producente dos elementos
de prova e argumentos apresentados

Wandemberg Marques 170


Lei como fonte de Educação
pelas partes componentes da relação
jurídica;

(d) ilimitação na apresentação de provas:


possibilidade de o cidadão produzir todas
as provas que julgar necessárias para sua
defesa, podendo fazer uso tanto da
autodefesa quanto da defesa técnica. Esta
ilimitação só pode encontrar restrições no
que se refere às provas ilícitas, vedadas
pela Constituição Federal, e aos
argumentos incompatíveis com o sistema
jurídico e os valores fundamentais. De se
ressaltar que na ilimitação das provas está
incluída a sua devida consideração pelo
julgador, sem o que o direito esvai-se por
via indireta;

(e) julgamento por julgador imparcial e


motivação da decisão: o procedimento
deve ser conduzido e decidido por julgador
imparcial, que não esteja, por exemplo,
subordinado ao órgão formulador da
exigência discutida. Do mesmo modo,
suas decisões devem ser necessariamente
motivadas, com expressa referência às
razões de fato e de direito que a
condicionam;

(f) recorribilidade das decisões: deve haver a


previsão de meio recursal destinado à
revisão ou reforma da decisão inicial.
Apesar de não estar previsto em qualquer
disposição legal expressa, presta-se o du-

171 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
plo grau de jurisdição não apenas à
depuração do processo decisório –
justificável diante da falibilidade humana -,
como também à consideração da
tendência natural do ser humano de não
conformar-se com decisões de única
instância. Assim, a previsão, no âmbito
administrativo, de um duplo grau de
apreciação dos litígios, concorre para a
efetividade do direito de defesa.

Da existência ou não destes requisitos


em um dado procedimento, é que se pode
aferir a sua atenção ao preceito constitucional
da ampla defesa.

Por mais que se tenha aprendido sobre os


institutos da ampla defesa e do contraditório,
não há como aplicá-los sem o devido
processo legal.

94.A aplicação de medidas


disciplinares isenta os alunos ou
reponsaveis do ressárcimento?

A aplicação das medidas disciplinares


previstas não isenta os alunos ou seus
responsáveis do ressarcimento de danos
materiais causados ao patrimônio escolar ou
da adoção de outras medidas judiciais
cabíveis.

Wandemberg Marques 172


Lei como fonte de Educação

Capítulo IX
RECURSOS
DISCIPLINARES
ADICIONAIS
Para restaurar a harmonia e o
adequado ambiente pedagógico, além das
medidas disciplinares descritas nestas
Normas, professores, direção e o Conselho de
Escola podem utilizar, cumulativamente, os
seguintes instrumentos de gestão da
convivência escolar:

1- Envolvimento de pais ou responsáveis


no cotidiano escolar;

2- Orientações individuais ou em grupo


para mediar situações de conflito;

3- Reuniões de orientação com pais ou


responsáveis;

4- Encaminhamento aos serviços de


orientação em situações de abuso de
drogas, álcool ou similares;

173 Wandemberg Marques


Lei como fonte de Educação
5- Encaminhamento a serviços de
orientação para caso de intimidação
baseada em preconceitos ou assédio;

6- Encaminhamento aos serviços de


saúde adequados quando o aluno
apresentar distúrbios que estejam
interferindo no processo de
aprendizagem ou no ambiente escolar;

7- Encaminhamentos aos serviços de


assistência social existentes, quando
do conhecimento de situação do aluno
que demande tal assistência
especializada;

8- Comunicação às autoridades
competentes, dos órgãos de segurança
pública, Poder Judiciário e Ministério
Público, de crimes cometidos dentro
das dependências escolares.

9- Comunicação às autoridades
competentes, dos órgãos de segurança
pública, Poder Judiciário e Ministério
Público, de crimes cometidos dentro
das dependências escolares.

Wandemberg Marques 174


Lei como fonte de Educação

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das
Graças - Violência nas escolas. Ed.UNESCO,
doações institucionais.
ABRAMOVAY, Miriam ; et alli - Gangues ,
galeras, chegados e rappers. RJ, Ed.
Garamond , 1999.
COLOMBIER,Claire; MANGEL,Gilbert;
PERDRIAULT,Marguerite . A violência na
escola. São Paulo, Ed.Summus,1989.
GUIMARÃES, Eloisa. Escola, Galeras e
Narcotráfico. Ed. UFRJ.
SILVA,Aida Maria Monteiro. EDUCAÇÃO E
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www.dhnet.org.br/inedex.htm, 2002
SILVA,Aida Maria Monteiro. A VIOLÊNCIA NA
ESCOLA : A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS E
PROFESSORES.
www.dhnet.org.br/inedex.htm, 2002
ZALUAR, Alba (org). Violência e educação.
São Paulo, Cortez editora, 1992

175 Wandemberg Marques


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