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O Turismo de Base Comunitária no Nordeste do Brasil

Filipe Ribeiro Cardoso Porto1


Rosimery Martins de Lima2
Francysco Renato Antunes Lopes3

Este trabalho se configura como um resumo crítico do artigo O turismo


comunitário no nordeste brasileiro, que faz parte do livro “Turismo de Base Comunitária:
diversidades de olhares e experiências brasileiras”, lançado pelo Ministério do Turismo
no ano de 2009.
A nova ordem capitalista provocou a revalorização do litoral nordestino para
o turismo e o lazer. A população nativa foi excluída deste processo e a ocupação
imobiliária de grandes empresários que buscavam os mais belos e atrativos locais para
grandes empreendimentos se tornou intensa. Um bom exemplo dessa situação
aconteceu no Ceará, mais precisamente em Jericoacoara e em Canoa Quebrada.
Grandes empreendedores estrangeiros dominaram o mercado turístico local
e expropriaram as duas comunidades pesqueiras, tendo os seus espaços
descaracterizados pela construção de novos empreendimentos de grande porte. Um
grande facilitador para esses empresários estrangeiros são os instrumentos jurídicos
que os favorecem na construção destes grandes empreendimentos. O governo
geralmente se posiciona a favor desse mercado assegurando infra-estrutura básica de
serviços relacionados a transporte, comunicações, pavimentação e etc. Este mesmo
processo voltado para o turismo internacional ocorreu na Praia de Porto de Galinhas,
em Pernambuco; na Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte e em outras localidades.
De todos os serviços do turismo, a hospedagem é a mais impactante não só
por exigir espaço, mas também por necessitar de objetos induzidos pelo turismo,
transformando hotéis em mini centros comerciais. Os resorts são obras arquitetônicas
que utilizam muito espaço e proporciona uma hospedagem no sentido mais pleno,
1
Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia, pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, e do Curso de
Bacharelado em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre, pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
2
Graduada no Curso de Licenciatura Plena em Letras/Espanhol, pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, e
estudante do Curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
3
Estudante do Curso de Bacharelado em Turismo, pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI e do Curso de
Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
dando prazer a quem se hospeda. Eles são equipados com o que há de mais
sofisticado em hospedagem, mas apresentam dificuldade em computar dados
estatísticos, pois há imigrantes que se passam por turistas e vice-versa.
No Brasil o turismo tem se consolidado como atividade geradora de riqueza
e vem se tornando produto de exportação. Uma grande preocupação é que quanto
mais cresce essa estratégia de desenvolvimento, mais a imagem da atividade é
reduzida a dimensões mercadológicas. A prática do turismo apenas como trade pode
ser desastrosa, já que políticas públicas ficam reduzidas apenas a simples ações de
marketing, para a venda de destinos turísticos e assim terras, lugares, viagens, sonhos
e imagens viram mercadorias. Os países pobres são levados a acreditar no turismo
como atividade indutora de desenvolvimento, mas o desenvolvimento econômico tem
bases em atividades produtivas mais sólidas como a industrialização. O lugar precisa
se desenvolver para o turismo progredir com êxito. O turismo comunitário surgiu como
uma forma de resistência aos grandes empreendimentos como os resorts, uma forma
de resistência, de defesa ao turismo que invade e descaracteriza estes locais. No
Brasil, as principais entidades que fazem parte deste novo segmento de turismo são as
comunidades, as ONG’s, as organizações ambientais, os movimentos sociais, os
operadores de comercio e os de economia solidária. Enquanto os grandes hotéis
representam concentração de renda, os pequenos representam solidariedade. O
turismo mapeia e também cria territórios.
A atividade introduzida nas comunidades é uma forma de inclusão, geração
de emprego e renda para os seus residentes que lutam para incluir-se e atrair visitantes
que consumam seus produtos. A atividade econômica destes lugares é assegurada na
base da ideologia do turismo, ou seja, gerando renda e promovendo desenvolvimento
ecologicamente sustentável, sem poluir o ambiente e nem degradar a agricultura. Desta
maneira, pescadores transformam-se em garçons, jardineiros e vigilantes; rendeiras em
camareiras e garçonetes. Este turismo de base local prioriza o rústico e não o luxo,
associando sustentabilidade, priorizando valores culturais e descobrindo formas
inteligentes de participação na cadeia produtiva do turismo, com produtos
diferenciados. Um turismo que não seja voltado apenas ao consumo, mas à troca de
experiências, fortalecimento de laços de amizades e valorização cultural.
Pode-se definir turismo comunitário ou turismo de base comunitária, como
aquele onde a comunidade participa ativamente de todo o processo, desde o
planejamento à execução de forma que a própria comunidade tenha o controle das
terras e das atividades econômicas.
Em primeiro lugar é estabelecido um acordo entre os membros em defesa de
suas propriedades no intuito de preservar e torná-las produtivas, isso envolvendo
também possíveis compradores de fora da comunidade. Como se pôde perceber a
atividade turística no litoral modificou algumas atividades econômicas tradicionais como
a pesca, sendo substituída pela pesca industrial entre outros aspectos. Em decorrência
dessa evolução nesse tipo de turismo, as comunidades litorâneas viram-se obrigadas a
abandonar seus trabalhos originais para trabalhar com essa nova realidade: o turismo
globalizado.
Percebe-se que esse turismo possui características menos positivas, pois
explora a força de trabalho de homens e mulheres, com jornadas de trabalhos
exaustivas, além de envolver o trabalho infantil, fator mais crítico do processo. Além
disto, é constatado que a comunidade não melhora suas condições de trabalho nem de
moradia.
Ao contrário dessa condição o turismo comunitário preocupa-se com o
trabalho do adulto no intuito de melhorar a renda, associando a atividade turística a
atividades como artesanato, pesca e agricultura, fazendo com que sejam priorizados os
pequenos empreendimentos locais, priorizando a participação da comunidade. No
Brasil existem algumas comunidades inseridas neste modelo de turismo mais
sustentável, com ações da agricultura familiar, a organização das APLs. Mas existe
uma comunidade que pode ser considerada referência nesse tipo de turismo:
Comunidade da Prainha de Canto Verde, em Beriberi, no Ceará.
Esta comunidade destaca-se a princípio pela pescas da lagosta, mas possui
outras atividades e projetos desenvolvidos para melhoria na renda da população local.
Ela está bem articulada, possuindo equipamentos turísticos direcionados a
hospedagem, alimentação, eventos, passeios e trilhas, tudo isso sem perder a
característica simples do lugar, o que chama a atenção de turistas de vários países,
pelo fato de a comunidade preservar suas raízes e mostrá-las a todos como são. Essa
comunidade lidera um conjunto de comunidades, mas assegura a participação das que
ligadas a ela com planejamento descentralizado além de lutar pela regulamentação das
terras litorâneas e das unidades de conservação, priorizando a população indígena,
pesqueira, ou seja, as comunidades nativas.
Para que o turismo comunitário possa ser efetivado com desenvolvimento
apropriado devem ser observados alguns princípios básicos que seguem. Princípios
das necessidades sentidas, onde a própria comunidade sente-se apta e com vontade
de organizar-se de forma a atender a todos os residentes; princípio da participação
onde se deve assegurar o envolvimento da população residente de forma profunda;
princípio da cooperação, onde a comunidade necessita de apoio do poder público e
privado nos seus projetos de desenvolvimento; princípio da auto sustentação onde deve
existir o controle de possíveis alterações econômicas através da gestão manutenção e
controle; princípio da universalidade onde deve-se assegurar a participação de todos os
grupos da comunidades e não apenas de uma parcela dela.
O maior objetivo do turismo comunitário é acrescentar um novo modelo de
turismo na sociedade, não necessariamente mudar o que já existe ou acabar com os
grandes empreendimentos, mas sim trazer novas opções para a sociedade.

REFERÊNCIA:
Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras.
Brasil: Mtur, Letra e Imagem, 2005.

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