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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE


PRODUÇÃO E TRANSPORTES

RESISTÊNCIAS E LOTAÇÃO DOS


TRENS

Disciplina: Infra Ferro-hidro-aero-dutoviária (ENG 09030)


Prof. Letícia Dexheimer

INTRODUÇÃO

Diferentemente do transporte rodoviário, onde o caminhão


possui uma capacidade de carga pré-determinada, tem-se na
ferrovia a liberdade de acoplar vagões e locomotivas na
composição de um comboio para adaptá-lo a necessidade de
transporte de carga ou passageiro ao traçado.
A princípio, o cálculo do número de vagões e locomotivas que
compõem a configuração de um trem leva em consideração a
força de tração das locomotivas e a resistência ao movimento
que todos os veículos oferecem.
A força de tração de cada locomotiva depende do seu peso e
potência. O peso é decisivo para garantir a aderência roda-trilho,
evitando que a máquina patine.
A resistência ao movimento pode ser dividida em normais (atrito
do ar e das peças móveis) e acidentais (rampa, curva e inércia)

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INTRODUÇÃO

O cálculo da lotação é feito para o pior trecho do traçado, ou


seja, aquele que apresenta o maior somatório de resistências e
onde o trem desenvolve velocidade crítica.
O equilíbrio se dá igualando-se o esforço trator com a
resistência total da composição

ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Ft
R

N N

Ft = Força para locomover o trem


R = Forças que resistem ao movimento
N = Forças normais
G = Força peso

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ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Fatores considerados na análise dos esforços

• peso da carga + peso próprio do veículo (tara) = peso bruto


total;

• a via e suas características;

• a força a ser aplicada ao peso bruto total de modo que o trem


se movimente sobre a via.

ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Eficiência na força de propulsão

• A eficiência de uma transmissão indica a porção da


potência de um motor que é efetivamente
transformada em força propulsão, já que uma parte é
perdida na transmissão.

Ft = η * 2685 * P / V

• Ft = força de tração [N]


• P = potência [HP]
• V = velocidade [km/h]
• Para locomotivas diesel-elétricas: η = 0,81

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ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Tração devido a aderência

• Denomina-se por aderência a resistência que se opõe ao


escorregamento de um corpo sobre outro;

• Pode ser entendido como um atrito existente antes do


deslocamento, ou mesmo como um atrito estático;

• Quando há o deslocamento, tem-se um atrito de


deslizamento entre as duas superfícies, que é menor que o
primeiro.

ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Força de aderência

Fa = P × f

onde:
Fa – força de aderência;
P – peso bruto total;
f – coeficiente de atrito do rolamento.

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ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Valor do coeficiente de aderência

Trilho completamente seco ou 0,33


lavado pela chuva
Trilho seco e limpo 0,22

Trilho seco 0,20

Trilho molhado pela chuva 0,14

Trilho úmido de orvalho 0,125

Trilho úmido e sujo 0,11

Trilho com óleo 0,10

ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Tração devido a aderência

Ft > P × f e fe – coeficiente de atrito


estático ou coeficiente de
aderência

Neste caso, a roda terá um movimento de rotação


em torno do eixo, o atrito passará a ser um atrito
de deslizamento e a roda não terá movimento de
translação, ocorrendo a patinagem da roda.

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ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Causas da patinagem

• Aumento de Ft → quando há um aumento brusco da força


tratora, pode acontecer que esta supere o valor P x fe,
levando a locomotiva a patinar, o que se dá principalmente
na partida, porque ela desenvolve maior esforço trator.
Quando ocorrer a patinagem o maquinista deve reduzir o
esforço trator;
• Diminuição de fe → o valor do coeficiente de aderência
pode diminuir com a presença de umidade ou óleo nos
trilhos;
• Diminuição de P → devido a trepidação nos trilhos,
deficiência de nivelamento da via ou mau balanceamento
das rodas, poderá ocorrer o descarregamento de alguma
delas, diminuindo o peso aderente.

ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Tração devido a aderência

Ft ≤ P × f e

Neste caso, a força Ft sobre o trilho é


neutralizada pela força FA de aderência e o
peso P é equilibrado pela reação de apoio.
Assim a força Ft aplicada ao eixo se sobrepõe
ao atrito de rolamento e demais resistências
internas impulsionando o veículo para frente.

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ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Tração devido a aderência

Para um conjunto de rodas:

Ft ≤ ∑ P × f e

ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Valor do coeficiente de aderência

• O coeficiente de aderência varia com a natureza das


superfícies em contato (tipo dos materiais), com o
estado destas (se existe ou não alguma matéria
interposta), com as condições atmosféricas e com a
velocidade;

• Superfícies rugosas apresentam maior coeficiente de


aderência do que as lisas.

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ESFORÇOS ATUANTES NAS FERROVIAS

Aumento da aderência

• Aumento do coeficiente de aderência:

 lançamento de areia sobre os trilhos


(isenta de materiais orgânicos);
 lavagem do trilho com jato de água
quente.

• Aumento do peso aderente:

 aumentar o peso por eixo das


locomotivas.

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• Forças que se opõem ao movimento = resistência ao


movimento R
• A resistência ao movimento deve ser vencida pela força
motriz

• Se:
• Ft > R – veículo submetido a uma aceleração
• Ft < R – veículo está desacelerando
• Ft = R – veículo mantém velocidade constante

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• A resistência de um trem compreende um conjunto de


forças que se opõem ao deslocamento dos veículos
ferroviárias, sejam eles locomotivas ou vagões;
• Tal resistência é considerada no ponto de contato entre as
rodas e os trilhos se opondo a força de tração nas
locomotivas;
• A unidade de medida adotada é dada em Newtons [N];
• A resistência total do veículo (locomotiva ou vagão) poderá
ser determinada multiplicando-se a resistência unitária, em
N, pelo peso bruto total.

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

• A resistência é maior no início do movimento;

• Como a lotação dos trens é feita para o caso mais


desfavorável (rampa e curva), sendo os pátios das
estações sempre em nível e reta, haverá folga no
esforço trator.

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Classificação das resistências

• resistências normais

• resistências acidentais

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistências normais → veículos rebocados e tratores

• nas mangas dos eixos;


resultantes do atrito • no cubo das rodas;
• nos frisos das rodas.

resultantes da gravidade • devido ao rolamento (depressão da linha).

• pressão frontal;
• atrito superficial;
resultantes do ar • turbilhamento sob o veículo;
• sucção na parte traseira;
• correntes atmosféricas.

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistências acidentais → veículos rebocados e tratores

• no início do movimento;
de inércia
• para imprimir maior velocidade;

• escorregamento dos aros das rodas sobre os


trilhos;
de atrito
• escorregamento dos frisos das rodas sobre os
trilhos.

de gravidade • elevação do centro de gravidade dos veículos


ao subir as rampas.

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

Rt = Rr + Ra + Rg + Rc

Onde:
Rr = resistência de rolamento
Ra = resistência aerodinâmica
Rg = resistência de rampa
Rc = resistência de curva

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• Resistência ao Rolamento

c2 ⋅ n
Rr = (c1 + +c 3 ⋅V ) ⋅ G
G
• Onde:
– Rr = resistência de rolamento [N]
C1 = 0,65
– N = número de eixos C2 = 125
– G = peso [KN] C3 = 0,009 (LOCO)
C3 = 0,013 (VAG)
– V = velocidade [km/h]

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• Resistência Aerodinâmica

Ra = ca ⋅ A ⋅ V 2

• Onde:
– Ra = resistência aerodinâmica [N]
– Ca = constante
– A = área frontal [m²]
– V = velocidade [km/h]

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• Área frontal e “Ca” típicos:

Tipo Área Ca
LOCOMOTIVAS
aerodinâmicas 9 - 11 m² 0,031
normais 9 - 11 m² 0,046
VAGÕES
Carga 7,5 - 8,5 m² 0,009
Passageiros 10 - 11 m² 0,006

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

EXEMPLO

• A resistência de um vagão de carga cuja massa


bruta é 100 ton (peso = 980,6 KN), área frontal é
de 8m² que se move a 60km/h é de:

• Rt = Rr + Ra

Rt = 2161 N

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• Resistência de Rampa

Rg = 10 ⋅ G ⋅ i

• Onde:
– Rg = resistência de rampa [N]
– G = peso [KN]
– i = declividade [%]

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

EXEMPLO

• A resistência de um vagão de carga cuja massa


bruta é 100 ton (peso = 980,6 KN), área frontal é
de 8m² que se move a 60km/h numa rampa de
0,5% é de:

• Rt = Rr + Ra + Rg

Rt = 7064 N

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RESISTÊNCIAS DOS TRENS

Resistência dos trens

• Resistência de Curva

G
Rc = 698 ⋅
r
• Onde:
– Rc = resistência de curva [N]
– G = peso [KN]
– r = raio da curva [m]

RESISTÊNCIAS DOS TRENS

EXEMPLO

• A resistência de um vagão de carga cuja massa


bruta é 100 ton (peso = 980,6 KN), área frontal é
de 8m² que se move a 60km/h numa curva de
raio 500m é de:

• Rt = Rr + Ra + Rc

Rt = 3530,4 N

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LOTAÇÃO DOS TRENS

Lotação dos trens

• Para que um trem viaje com velocidade de equilíbrio

Ft − Rt = 0 Ft = Rt

• Rt deve ser calculada em função do número de


Locomotivas e Vagões que formam o trem
• Ft é função do número de locomotivas

LOTAÇÃO DOS TRENS

Lotação dos Trens

• Resistência total: locomotivas + vagões

Rt = Rr + Ra + Rg + Rc

Rt = nL ⋅ ( RrL + RaL + RgL + RcL ) +

+ nV ⋅ ( RrV + RaV + RgV + RcV )

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LOTAÇÃO DOS TRENS

Lotação dos Trens

• Força de Tração

P
Ft = nL ⋅ (2175 ⋅ )
V

LOTAÇÃO DOS TRENS

Lotação dos Trens

• Ft = Rt

P
nL(2175 ) = nL ⋅ ( RrL + RaL + RgL + RcL ) +
V
+ nV ⋅ ( RrV + RaV + RgV + RcV )

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LOTAÇÃO DOS TRENS

EXERCÍCIO

• Deseja-se determinar o mais longo trem que possa viajar num aclive de 1%
utilizando 3 locomotivas de 3000 HP de potência, com peso de 1300KN
cada. Os vagões serão carregados de minério e pesam 1100KN cada.
Sabe-se que a área frontal das locomotivas é de 10m², e a dos vagões é de
8,5m²; tanto os vagões quanto as locomotivas têm 4 eixos e sua velocidade
é 20km/h.
– Cacular Rr, Ra, Rg para as 3 locomotivas
– Calcular Rr, Ra, Rg para os vagões
– Calcular o Esforço Trator das 3 Locomotivas
– Calcular o Número de Vagões pela equação de equilíbrio Ft = Rt

74 vagões

LOTAÇÃO DOS TRENS

EXERCÍCIO

• Calcular a lotação de um trem de carga que será rebocado por uma


locomotiva diesel-elétrica de peso bruto total igual a 1150KN em uma linha
de bitola estreita onde o trecho crítico possui rampa de 0.5% e raio de
450m. Os vagões têm 600KN de lotação e 240KN de peso próprio. A área
frontal da locomotiva tem 11m² e a dos vagões é de 8.5m². A velocidade é
de 12km/h e a locomotiva tem potência de 875 HP.
– Cacular Rr, Ra, Rg, Rc para a locomotiva
– Calcular Rr, Ra, Rg, Rc para os vagões
– Calcular o Esforço Trator da Locomotiva
– Calcular o Número de Vagões pela equação de equilíbrio Ft = Rt

22 vagões

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LOTAÇÃO DOS TRENS

Resistência dos trens

• Distância de Frenagem

V 2 − V02
d=
− 76,28 ⋅ µ

• Onde:
– µ = coeficiente de atrito roda-trilho

LOTAÇÃO DOS TRENS

EXEMPLO

• Em um trecho plano, a velocidade de 80km/h,


supondo µ = 0,15. Qual a distância para a
parada completa do trem?

• d=?

D = 559 m

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