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EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO

Difusão de inovações: apreciação crítica dos estudos


de Rogers
m dos campos mais identificados com a comu-
U
RESUMO
A difusão de inovações tem sido uma das atribui- nicação social tem sido o relacionado à difu-
ções mais visíveis e atuais da Comunicação Social, são de inovações. São estudos que mostram a
porém não se observam discussões epistemológicas relevância da comunicação para que idéias, produ-
mais intensas sobre esse assunto. Há uma série de tos e avanços sociais possam ser partilhados, consu-
obras e marcos teóricos que abordam a difusão de midos e usufruídos por uma população. As inova-
inovações, sendo uma das obras referenciais o estu- ções, para serem socializadas, precisam da difusão,
do de Everett Rogers: “Diffusion of Innovations”. O que assume características específicas que, correta-
objetivo desse artigo é discutir a obra de Rogers à mente trabalhadas, podem auxiliar nos objetivos de
luz da crítica da comunicação social utilizando a organizações inovadoras, quer sejam governos, em-
pesquisa bibliográfica e documental. A análise de presas ou entidades que produzem ciência e
“Diffusion of Innovations” revelou que a obra não tecnologia.
atende plenamente as atuais demandas sociais e Considerando a literatura sobre teoria da comuni-
comunicacionais atreladas ao tema, merecendo uma cação, é possível verificar que os estudos de difusão
revisão conceitual mais abrangente e profunda ten- de inovações podem estar alocados em diferentes
do em vista as atuais configurações da Comunica- escolas e em quase todos os temas de comunicação
ção Social. social, já que o conceito e o âmbito da difusão ou
disseminação de inovações se confunde com pró-
PALAVRAS-CHAVE prio processo da comunicação humana.
• difusão de inovações No entanto, é possível observar que a escola funcio-
• comunicação e inovação nalista tem sido grande referencial para tais estudos,
• Everett Rogers talvez em parte por seu berço ter sido nesta direção e
porque sua aplicação técnica nos setores empresariais
ABSTRACT demandem uma orientação pragmática. No entanto,
The diffusion of innovations has been one of the most a difusão de inovações assume importância além dos
visible attributions of Social Communication. However , objetivos organizacionais e tecnológicos, interagindo
we do not observe intense epistemological discussions on e associando-se aos interesses sociais.
this subject. There is a lot of research and theoretical Não é uma posição consensual, mas há autores
studies on the diffusion of innovations. One of the most que inserem a difusão de inovações nas teorias so-
important being “Diffusion of Innovations” by Everett bre os efeitos sociais da comunicação de massa, mais
Rogers. The objective of this article is to discuss the precisamente nas teorias das mediações dos relacio-
studies of Rogers under a critical view of communication namentos sociais (DeFELUR e BALL-ROKEACH,
by means of a bibliographic research and documental 1993; McQUAIL, 1994) por entenderem que o tema
method. The analysis of “Diffusion of Innovations” shows tenha como suporte principal o sistema social em
that Roger’s studies are not sufficient to the current que a comunicação de uma inovação ocorre.
social and communication demand on diffusion of inno- Considerando parte significativa da produção ci-
vations. So, it is necessary to a deep conceptual revision entífica nessa área, surgem como obras referenciais
of the current configurations in this area. os estudos de Everett Rogers (Blackwell et al, 2005),
consolidados e atualizados no livro Diffusion of Inno-
KEY WORDS vations (2003). Essa obra, originalmente publicada
• diffusion of innovations em 1962, foi recebendo novas edições e atualizações,
• communication and innovation sendo a última publicada em 2003. Em 1990, o Insti-
• Everett Rogers tute for Scientific Information considerou Diffusion
of Innovations como “Citação Clássica”, uma vez que
tinha até então cerca de 7 mil citações em artigos
Gino Giacomini Filho publicados em periódicos científicos (ROGERS, 2003).
USP Portanto, considerado a relevância dessa obra, po-
demos tê-la como referência para avaliar, em parte,
Elias Estevão Goulart, como se adequariam os estudos de difusão de ino-
IMES vação tendo em vista o contexto da comunicação e
da sociedade atual.
Mônica Pegurer Caprino Assim, propomos como problema central desse
IMES artigo discutir se os estudos de difusão de inovação,

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referenciados pela obra Diffusion of Innovations, aten- O questionamento que pode ser feito a esse con-
deriam a algumas críticas embasadas em conheci- ceito é no sentido de que o autor usa o termo “difu-
mentos atuais da comunicação social. são para atribuir-lhe o sentido da própria comunica-
Embora sejam referências para muitos trabalhos, ção de uma inovação ou novas idéias. “Difusão”
os estudos de Rogers vêm merecendo aceitação e parece ser mais adequado para caracterizar uma
também críticas (MATTELART e MATTELART, parte do processo da comunicação, qualquer que
1999), algo que tem feito o próprio autor aperfeiçoar seja a comunicação, mesmo de idéias que não sejam
seu trabalho. novas. Boudon e Bourricaud também posicionam a
O objetivo proposto é o de discutir a obra Diffusi- difusão como parte do processo da comunicação: “
on of Innovations à luz da crítica da comunicação Chama-se difusão o processo pelo qual uma infor-
social, requerendo para isso a pesquisa documental mação [...], uma opinião, uma atitude ou uma práti-
da obra de Rogers e pesquisa bibliográfica, objeti- ca (por exemplo, a utilização de uma nova técnica
vando estabelecer conexões críticas entre o campo agrícola ou de uma prática anticoncepcional) se ex-
da Comunicação Social e a Difusão das Inovações. pandem numa população dada” (2001, p. 161).
Para que a base crítica sobre a obra de Rogers esteja O conceito de “difusão” sugerido por Rogers pa-
em patamar análogo, iremos nos apegar apenas a rece ser mais adequado para qualificar a expressão
estudos que tenham certa afinidade com a linha “Difusão de Inovações”.
funcionalista. Aliás, Rogers, ao atribuir tal conceito para “difu-
Outro objetivo desse artigo será o de contribuir são”, torna o termo equivalente à “comunicação”.
com a discussão que tal tema merece. Segundo Ro- Isso porque ele tipifica “difusão” como “processo”
gers (2003), a área de Comunicação representa 15% comunicacional. Berlo (1999), por exemplo, lembra
da produção científica em Difusão de Inovação, en- que a comunicação é um processo e, por isso, é
quanto Marketing e Administração representam 16%. inadequada qualquer análise ou compartimentação
Estas duas áreas só são ultrapassadas pela Sociolo- que se faça dos elementos que o integram. Berlo
gia Rural (20%). exemplifica o teatro como um processo, envolvendo
Dois aspectos ainda podem ser destacados. O pri- dramaturgo, peça, diretores, atores, auxiliares técni-
meiro se refere ao vínculo de Rogers com a área de cos, espectadores, cenários, luzes, sala, além das in-
comunicação, pois embora o início de seu trabalho ter-relações dinâmicas entre as partes e fases. Tal-
estivesse alinhado com a área de sociologia rural, vez, por ser difícil separar a “difusão”, que
desde os anos 60 do século XX vem atuando em caracteristicamente se refere à expansão, propaga-
departamentos de comunicação de diferentes uni- ção (STRAUBHAAR; LaROSE, 2004), distribuição
versidades, sendo sua mais recente atuação no De- ou disseminação de inovações, do processo de co-
partamento de Comunicação e Jornalismo da Uni- municação, tenha usado atributos próprios da ação
versidade do Novo México. O outro aspecto se refere comunicacional, mesmo que esse extrapole caracte-
ao “status” teórico de Diffusion of Innovations. Con- rísticas difusionistas.
quanto muitos autores apresentem os estudos de Essa indecisão de nomenclaturas (difusão ou co-
Rogers como “Teoria” da Difusão de Inovações (LEE municação) deve ter ocorrido também com Rogers.
e SCHUMANN, 2002; SURRY, 1997; FRANK et al, Isso porque, embora seu primeiro livro em 1962 te-
2004), o próprio autor não tem denominado seus nha sido Diffusion of Innovations, a segunda edição
estudos como “teoria”, razão pela qual também não em 1971 trouxe o título Communication of Innovati-
o faremos, embora esses estudos tenham ingredien- ons: A Cross Cultural Approach, autoria essa compar-
tes típicos de teorias da comunicação de massa, in- tilhada com F. Floyd Shoemaker. As edições seguin-
cluindo pesquisas e modelos. tes (1983, 1995 e 2003) retomaram a denominação
Diffusion of Innovations.Quando Rogers atribui ao con-
“Difusão” ou “difusão de inovações”? ceito de “difusão de inovação” elementos que inte-
A apreciação crítica da obra Diffusion of Innovations, gram todo o processo em que uma inovação é comu-
de Everett Rogers (2003), pode ser iniciada a partir nicada, gera a expectativa de que tal conteúdo
do próprio conceito que o autor faz de Difusão: enverede para todas direções que caracterizam esse
processo, caso de se aprofundar no conteúdo da
Diffusion is the process in which an innovation is mensagem, análise de sistemas culturais da socieda-
communicated through certain channels over time de e das organizações (HARGIE e TOURISH, 1996),
among the members of a social system (p. 5). além de incursões sobre como os aspectos políticos e
ideológicos interagem com a difusão das inovações.
Difusão é o processo pelo qual uma inovação é Porém, nenhum desses temas é razoavelmente con-
comunicada por certos canais durante um certo templado por Rogers.
tempo, dentre os membros de um sistema social
(tradução livre). Inovação: onde estaria o foco?
Outro ponto do trabalho de Rogers que pode merecer
uma análise crítica é o conceito atribuído à inovação:

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An innovation is an idea, practice, or object that is Assim, Rogers, ao contrário do que prevê seu con-
perceived as new by an individual or other unit of ceito de inovação, não conduz seu estudo focando o
adoption (p. 12). universo cognitivo e sócio-cultural das pessoas, uma
vez que por essa mesma conceituação, são as pesso-
Uma inovação é uma idéia, prática, ou objeto as, em função de como “percebem” a novidade, é
que é percebido como novo por um indivíduo que dão sentido à inovação e condicionam sua difu-
ou outra unidade de adoção (tradução livre). são. Os onze capítulos da obra de Rogers (2003)
destinam-se a apresentar o fenômeno da inovação
Tal apresentação conceitual parece assumir o grau enquanto algo sistêmico, privilegiando os aspectos
elevado de complexidade que o termo requer. Isso epistemológicos e tecnológicos das inovações, a for-
porque extrapola a inovação como algo meramente ma como a inovação é processada pelas pessoas e
tecnológico, atribuindo essa condição não somente grupos sociais (e suas conseqüências), e como as
para o ineditismo da idéia em si, mas seu real im- organizações conduzem a inovações. Esses conteú-
pacto social, já que uma novidade, não sendo “per- dos mostram-se alinhados com uma abordagem “fi-
cebida” como nova, tem suas propriedades inova- siológica”, mesmo ainda os assuntos que possuem
doras praticamente anuladas. desdobramentos sociais.
Ao condicionar a inovação como algo “percebido” Rogers, na seção “Elementos de Difusão”, focaliza
como novo, Rogers envereda-se pelo campo das teori- o processo básico como ocorre a difusão da inova-
as da aprendizagem, que tem desenvolvido substan- ção. Nessa parte, chega a discutir os “atributos de
ciais estudos sobre “percepção”. Para Bock: “A per- inovações percebidos”, porém atém-se a aspectos
cepção é, pois, um processo que vai desde a recepção operacionais, como vantagens obtidas pela pessoa
do estímulo pelos órgãos dos sentidos até a atribuição ao adotar uma inovação, compatibilidade com seus
de significado ao estímulo” (2001, p. 136). Portanto, valores, complexidade para adotar a inovação, via-
uma pessoa pode ser estimulada com uma nova tec- bilidade (possibilidade de proveito dentro dos limi-
nologia ou idéias inovadoras, mas que apenas serão tes da realidade pessoal) e observabilidade em que
inovações se essa pessoa, dentro de seu universo cog- os resultados são visíveis.
nitivo, atribuir significado de inovação, podendo a Portanto, o que apontamos aqui é uma possível
partir daí aceitar ou rejeitar sua apropriação. distorção do que Rogers enuncia como conceito de
Hockenbury e Hockenbury corroboram com tal inovação e o tratamento que sua obra dispensa a
significado: “A percepção acontece quando integra- esse conceito, que demandaria um foco intenso nas
mos, organizamos e interpretamos as informações pessoas e sociedade, caso de questões culturais, po-
sensoriais de forma significativa” (2003, p. 82). Po- líticas e ideológicas, que condicionam a forma como
rém os mesmos autores alertam que: “As nossas uma novidade é percebida. Tal enfoque poderia fu-
experiências educacionais, culturais e de vida mo- gir de um sentido utilitarista e manipulador, consi-
delam aquilo que percebemos” (idem, p. 114). derando que as inovações deveriam servir à socie-
Nesse ponto, Rogers parece mostrar fragilidades dade, e não prioritariamente a empresas e governos.
no seu trabalho, pois o autor não foca os interesses
pessoais, culturais, políticos, ideológicos e mercado- Inovação e marketing social
lógicos das inovações, embora seja minucioso sobre A forma como ocorre a difusão de uma inovação pode
o impacto que os grupos sociais geram nos indiví- envolver interesses manipulativos. Grupos, empre-
duos para que aceitem ou rejeitem inovação. sas, governos podem fazer uso de técnicas de difusão
O autor pouco discute a adequação das inovações de inovações para chegar a propósitos ilícitos, como
organizacionais à realidade e desejo individual em ocorreu, por exemplo, com a empresa Nestlé no prin-
que uma pessoa tenha livre arbítrio de adotar ou cípio dos anos 70 do século XX (HARTLEY, 1990).
não uma inovação. Não critica o modelo cultural Nesse caso, a empresa utilizou uma série de ações de
dos países ricos, sobre o qual repousa boa parte das marketing (ou marketing social) para difundir seu
“inovações” e que servem de modelo a outros pai- leite em pó utilizando, inclusive, apelos posicionan-
ses, tornando a inovação um fator de dependência do-o como sucedâneo do leite materno.
pessoal e coletiva. Rogers mostra a legitimidade do marketing social
na difusão de inovações, inclusive quando as inova-
A sociedade digital pode ser um instrumento ções são impostas, caso do uso de capacete para
fabuloso de igualitarismo sem a necessidade de motociclistas, cinto de segurança para motoristas e
aniquilar a pluralidade de opções e propostas. restrição ao consumo de cigarro pelos fumantes em
Mas pode converter-se, também, numa forma determinados locais. Segundo o mesmo autor, são
ampliada de dominação. Aqui está o mais su- tarefas do marketing social, que recentemente tem
blime e aterrador dos paradoxos de nossa exis- sido aplicado na conservação de energia, restrição
tência moderna. O homem, inventor e dono da ao fumo, segurança no trânsito, declínio da mortali-
tecnologia, contempla hoje a ameaça de conver- dade infantil e prevenção à Aids.
ter-se em seu escravo (CEBRIÁN, 1999, p. 154.). O autor enfatiza que muitas dessas ações são in-

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convenientes para determinadas pessoas, mas que gociação e de debates, já que os valores, longe de
estas são coagidas a adotar para o bem próprio e serem expressão de sentido dado apenas pelo pro-
coletivo. No entanto, o autor admite que o marke- dutor ou pelo receptor, são o que exprimem o pro-
ting, no campo da inovação, possui vantagens e des- cesso mesmo no qual eles ocorrem” (1995, p. 35-36).
vantagens. Um dos aspectos é o ético, quando os Rogers também faz incursões interessantes no cam-
profissionais do mercado dão mais prioridade para po da mídia e do jornalismo. Segundo o autor, um
suas necessidades (ou de suas organizações) do que dos enfoques dos estudos de comunicação tem sido
dos consumidores. o estudo da difusão de eventos noticiosos, caso da
Porém, Rogers não vai muito além dessas obser- morte da princesa Diana, assassinatos de líderes na-
vações. O autor não discute obsolescência progra- cionais e desastres, como o da espaçonave Challen-
mada gerada por inovações (HAUG, 1997), o impac- ger e os ataques terroristas de 11 de setembro. Para-
to das constantes inovações para criar necessidades fraseando Rogers:
sociais supérfluas e gastos desnecessários (GAL-
BRAITH, 1987) e as inovações que contrariam o mo- Uma característica dos eventos noticiosos é que
vimento consumerista causando, inclusive, prejuí- eles se difundem mais rapidamente que outras
zos ao meio ambiente (OTTMAN, 1994). inovações. Fatos como o assassinato do presi-
Pressões ideológicas ilegítimas têm obstruído e dente Kennedy, explosão da espaçonave Chal-
ofuscado a real utilidade ou pertinência de inova- lenger e os ataques de 11 de setembro foram
ções, que também por isso são ignoradas, evitadas conhecidos por significativa quantidade de pes-
ou rejeitadas, pois são inovações lastreadas em ações soas em pouco tempo, algo possível pelo notici-
de “marketing social” manipulativo servindo a inte- ário. Essa rapidez ocorre porque o individuo
resses corporativos. precisa apenas obter conhecimento do evento
Ram e Sheth justificam que as barreiras psicológi- noticiado, enquanto a adoção de inovações tec-
cas são fundamentais na difusão de inovações. Pro- nológicas precisam de conhecimento, persua-
põem uma série de estratégias de marketing para são, decisão e implementação para seu proces-
viabilizar a aceitação das inovações, inclusive a do so decisório. Nessas situações, tais eventos
agente inovador: “Respeitar as tradições e normas encontram espaço noticioso interrompendo pro-
dos usuários e perceber que ajustar-se com a situa- gramações e as gráficas param de rodar os jor-
ção é a melhor solução possível” (1989, p. 13). nais para inserir esses eventos no conteúdo a ser
levado ao público. Pessoas estranhas comentam
Contribuições substantivas de Rogers esses eventos com outras que não conhecem (tra-
Ao discorrer sobre modelos, pesquisas e estudos de dução livre, p.75–76).
difusão de inovações, Rogers tem contribuído so-
bremaneira com diversas áreas do conhecimento, Tudo isso, segundo Rogers, mostra como a difu-
inclusive a comunicação social. Por ser um campo são pelos meios massivos é importante até chegar
complexo e abrangente, seria difícil qualquer autor nos meios inter-pessoais. Essa rapidez com que se
não merecer críticas e reparos a sua obra, o que propagam os fatos pelo noticiário é difícil de ser
fizemos até aqui. estudada, sendo uma das técnicas a “Pesquisa Fi-
Porém, mesmo em pontos polêmicos e discutíveis, é rehouse” (usada por Deutschmann e Danielson, se-
possível registrar contribuições significativas que Ro- gundo Rogers), em que muitas pessoas fazem conta-
gers apresenta na sua obra Diffusion of Innovations. to por telefone até 24 horas depois do evento a fim
Um desses pontos se refere ao tratamento proces- de saber quantos conhecem e como foi a repercussão
sual e sistêmico que Rogers atribui à difusão de do evento.
inovação; ou seja, ele se afasta da concepção de que Para Cébirán (1999), a Guerra do Golfo (ocorrida
uma inovação é algo pontual. Segundo o autor, con- em 1991) trouxe um marco para as transmissões de
quanto seja mais simples para os acadêmicos em TV, proporcionando que emissoras como a america-
difusão investigar a extensão de cada inovação como na CNN enviasse imagens e sons em tempo real ao
um evento independente, isso é uma distorção da das ações da invasão dos EUA ao Iraque, envio esse
realidade. proporcionado pelas novas tecnologias associadas
Uma contribuição substantiva de Rogers se refere ao uso de satélites.
ao conceito de “reinvenção”, que seria o grau que Porém, a Internet incrementa ainda mais o poten-
uma inovação é mudada ou modificada por um usu- cial de transmitir novas informações, ampliando a
ário no processo de adoção e implementação. Para o capacidade de um fato ou fenômeno ser conhecido
autor, uma inovação não é necessariamente invariá- de forma mais imediata por diferentes públicos, in-
vel durante o processo de sua difusão e o adotante clusive pela convergência das mídias, caso da televi-
não tem necessariamente um papel passivo. são com a Internet (CÉBIRÁN, 1999).
Segundo Wilton, o receptor precisa ser visto como No entanto, aqui também cabem ressalvas ao tra-
entidade contextualizada num espaço individual e balho de Rogers, uma vez que o autor não tece críti-
coletivo: “Tais espaços são ao mesmo tempo de ne- cas sobre a cobertura jornalística de eventos políti-

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cos e bélicos. O mesmo se aplica no caso do jornalis- GALBRAITH, J. K. A sociedade afluente. São Paulo:
mo científico (OLIVEIRA, 2002), em que muitos veí- Pioneira, 1987.
culos de comunicação passam conteúdos alinhados
com certas ideologias e interesses políticos desvian- HARGIE, Colin; TOURISH, Dennis. Corporate com-
do o real sentido da ciência ou inovação de um munication in the management of innovation and
sentido social. change. Corporate Communications. Bradford. V.1,
n.2, p. 3, 12p., 1996.
Considerações finais
A obra Diffusion of Innovations, um dos estudos refe- HARTLEY, Robert F. Errores en el marketing. Madrid:
renciais sobre difusão da informação e comunica- Paraninfo, 1990.
ção, tem sido considerada “modelar” por muitos
pesquisadores. Apreciando criticamente tal obra, dis- HAUG, Wolfgang Fritz. Crítica da estética da mercado-
corremos sobre o patamar dos estudos de difusão de ria. São Paulo: UNESP, 1997.
inovação oferecido por Rogers e, com isso, analisa-
mos sua pertinência com referenciais epistemológi- HOCKENBURY, D.; HOCKENBURY, S.E. Descobrin-
cos atuais e do campo da comunicação social. do a psicologia. São Paulo: Manole, 2003.
Nossa análise crítica apresentou muitas conside-
rações que podem merecer reservas quanto a uma LEE, Jinkook; SCHUMANN, David W. The influen-
aplicação automática em trabalhos no campo da di- ce of communication source and mode on consu-
fusão de inovações, mas também propiciou uma vi- mer adoption of technological innovations. The
são de que a contribuição de Rogers deve estar em Journal of Consumer Affairs. Madison. V. 36, n. 1,
permanente construção.Embora o próprio autor te- p. 1, 27 p., Summer 2002.
nha o cuidado de não denominar seus estudos de
difusão de inovações como “teoria”, consideramos MATTELART, Armand e MATTELART, Michele.
que há espaço para que um conjunto de pesquisado- História das teorias da comunicação. São Paulo:
res possam construir parâmetros sustentáveis para Loyola, 1999.
uma teoria da difusão de inovações a fim de que
esse campo tenha um tratamento mais sistematiza- McQUAIL, Denis. Mass Communication Theory: an
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