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OBSERVAÇÕES:
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J. A. Dal Col
ARRET
O AMANHÃ DA TERRA
O DIÁRIO DA VIAGEM
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
RESUMO DO LIVRO
INTRODUÇÃO
Considerações iniciais
A crença em Deus
A crença no renascimento
A crença em outras civilizações
O resumo do processo evolutivo
A CHEGADA À NAVE
As informações iniciais
O encontro com os tripulantes
OS LEVANTAMENTOS BÁSICOS
Os três primeiros dias de levantamentos
Visitas a cidades em construção
Visitas a áreas agrícolas
As reuniões ministeriais da segunda semana
Visitas a centros avançados de estudos e pesquisas
Visitas a áreas industriais
Visita à CIA – Central de Informações de Arret
O casamento arretiano e seu significado
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Visitas a terminais de transportes
Visitas a centrais de distribuição de bens
Passeio em uma colônia marítima de cúpula simples
As reuniões ministeriais da terceira semana
Visita ao Centro Hospitalar de Agartha
Visitas a escritórios de planejamento urbano
Passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros
Visita a uma cidade em fase final de construção
Visita ao Ministério das Relações Exteriores
Passeio em um parque de preservação ambiental
A escolha e o passeio do fim-de-semana
As reuniões ministeriais da quarta semana
A segunda reunião com Arcthuro
O planejamento dos novos levantamentos
OS LEVANTAMENTOS COMPLEMENTARES
Passeio no Balneário da Ilha dos Colibris
Visita a uma escola de primeiro grau
Passeio no Parque das Águas
Visita a uma escola de segundo grau
Passeio no Balneário das Ilhas Emendadas
Visita a uma escola de terceiro grau
Passeio em uma colônia de cúpulas múltiplas
O parto arretiano
Visita ao Centro de Reabilitação de Campos Verdes
Passeio no Retiro da Serra Dourada
Novas visitas a áreas agrícolas
Passeio em uma estação orbital
Passeio no Balneário dos Corais
Visita a uma indústria de utensílios domésticos
Passeio na Colônia Marítima da Ilha dos Golfinhos
Nova visita a uma indústria de alimentos
Passeio no Parque da Floresta Tropical
Nova visita à CIA – Central de Informações de Arret
A terceira reunião com Arcthuro
Novo passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros
As últimas horas em Arret
O RETORNO À TERRA
AGRADECIMENTOS
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Agradeço a Deus por tudo que me tem concedido e ao Mestre Jesus
pelo apoio em todos os momentos, principalmente por aqueles em que me carregou
no colo, deixando apenas as suas pegadas na areia.
Agradeço também à minha mãe, esposa, filhos e filhas, por terem sido
os primeiros que acreditaram na idéia do livro e me incentivaram a concluí-lo.
Registro um agradecimento especial à minha esposa Solange, pelas
centenas de horas que dela me afastei para ficar diante do computador, indo para
Arret, como eu sempre dizia.
J. A. Dal Col
PREFÁCIO
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A primeira vez que Dal Col me falou sobre Arret, confesso que fiquei um
pouco assustado. Ainda sem conhecer o texto, pensei comigo: "olha aí o Dal Col se
metendo a escritor". Morando em Alto Paraíso de Goiás, a cerca de 1.300
quilômetros de São Paulo, ele me ligou num domingo pela manhã, dizendo que me
mandaria o texto para que eu lesse. Alguns dias depois, aparece um portador em
casa com dois disquetes e um bilhete. Os dois disquetes continham o mesmo
arquivo, cuidado típico do capricorniano Dal Col para o caso de um deles ser
danificado. O bilhete dizia simplesmente: "Zé da Ninha, leia e critique". Zé sou eu e
Ninha é minha mulher.
Li as primeiras páginas ainda no computador, acreditando que desistiria
logo em seguida. Para minha surpresa, não foi o que aconteceu e me envolvi
profundamente. Entretanto, em virtude do meu dia-a-dia extremamente ocupado,
passei a ler Arret – O Diário da Viagem só nos finais de semana. O tema, a
estrutura inovadora e a cronologia me encheram de entusiasmo. Quando eu
comentava com amigos mais próximos sobre o livro, logo vinha a inevitável
brincadeira: "que viagem, hein!!!". Jamais me impressionei com os comentários,
pois tinha certeza que eram fruto do desconhecimento. A minha convicção de que
Dal Col realmente fez a viagem, e que viveu quarenta e poucos dias em Arret, vem
da coerência do texto, dos detalhes das informações, da profundidade dos diálogos
e da rapidez com que foi escrito.
Acreditar se ele viajou ou não passa a ser uma questão de puro ponto-
de-vista. O próprio Dal Col deixa essa questão em aberto no livro. Penso o
seguinte: como alguém, desprovido da prática literária, pode escrever, nas horas
vagas, um texto tão interessante em pouco mais de três meses? Até onde sei, o Dal
Col jamais teve qualquer manifestação como autor de qualquer obra. Relatórios,
descrições e manuais técnicos dos inúmeros sistemas que desenvolveu e
implantou, foram as únicas coisas que havia escrito. De formação técnica e
profundos conhecimentos de informática, mais especificamente da análise de
sistemas, Dal Col ocupou posições importantes em grandes empresas nacionais e
multinacionais, até que, em 1992, seguindo suas convicções, mudou-se com a
família para Alto Paraíso de Goiás.
Conheci Dal Col, um pouco antes, nos idos de 1978. Desde nosso
primeiro contato, percebi que se tratava de uma pessoa especial, diferente. Dotado
de grande inteligência, entregou-se a um importante projeto espiritual e social. A
busca de um mundo melhor e da qualidade de vida, a crença no amor e no respeito
entre as pessoas e o desprendimento dos bens materiais sempre estiveram em sua
mente e em seu coração. E é justamente disso que trata Arret, um planeta
longínquo onde as pessoas são iguais, se amam e se respeitam, no mais profundo
significado das palavras. Ler Arret – O Diário da Viagem é, sem dúvida, um grande
alento às pessoas que acreditam numa vida melhor e, também, um aprendizado
aos que começam a trilhar o caminho da esperança.
Boa viagem e boa leitura!
José Carlos de Oliveira
Jornalista
RESUMO DO LIVRO
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Uma amiga, depois de ler a versão inicial em arquivo eletrônico,
comentou que Arret tinha tudo a ver com a letra de “Imagine”, de John Lennon.
Apesar de tê-la ouvido muitas vezes, nunca a relacionei com o modo de vida do
povo arretiano.
Pedi para uma outra amiga fazer sua tradução e concluí que ela deveria
fazer parte do livro, como um resumo da sua mensagem básica.
“Imagine” nasceu de um sonho de John Lennon. O Diário da Viagem
nasceu da mesma forma e começou a ser escrito no capítulo intitulado “O Sonho e
o Início da Viagem”. Na página seguinte, a tradução realizada por Mariana Negrini.
INTRODUÇÃO
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Considerações iniciais
Ao terminar a revisão do texto que escrevi entre 31 de janeiro a 9 de
maio de 1999, verifiquei que ele não caberia em um livro com menos de 600
páginas. Ciente das dificuldades que teria para publicá-lo, comecei a separar os
textos que fariam parte deste livro e aqueles que formariam outros dois. Um com
uma visão histórica e evolutiva do modo de vida arretiano e outro sobre a realidade
atual, detalhando os sistemas que formam o macrosistema planetário, com suas
relações e dependências.
Quando concluí o trabalho, remeti disquetes com o texto do Diário da
Viagem a vários amigos, a fim de obter uma opinião sobre a viabilidade do livro.
Enquanto aguardava, escrevi seus capítulos iniciais e defini os subtítulos dos
assuntos descritos nos demais volumes. As pessoas que receberam os disquetes,
além de me incentivarem a publicar o livro, faziam inúmeras perguntas a respeito de
como ele foi escrito. Queriam saber se eu realmente tinha viajado até Arret, se era
algum tipo de psicografia, canalização, inspiração, vivência anterior ou uma
abdução. Minhas respostas sempre foram baseadas nas considerações abaixo.
O texto inicial foi escrito em dezenas de etapas, com inúmeras
interrupções e nos mais diversos horários do dia e da noite. Muitas vezes escrevi
durante poucos minutos livres do horário de almoço. Exceto nos dois fins-de-
semana que não precisava trabalhar a cada mês, as etapas variavam de quinze
minutos a três horas diárias, com interrupções para atender telefonemas, minha
esposa, filhos, netos ou visitas. Também foram freqüentes as paralisações por falta
de energia elétrica, para salvar arquivos, ir ao banheiro, tomar água, café ou para
dar atenção ao nosso cachorro que insistia em ficar ao meu lado.
Após cada interrupção, a redação era retomada sem dificuldades e
poucas vezes precisei ler a última página para dar continuidade a um tema. Quanto
à viagem, é difícil afirmar se ela aconteceu ou não e, para mim, essa questão não é
fundamental. O importante é a essência da mensagem contida no livro: a esperança
em um mundo melhor, mais justo, fraterno e feliz, que pode ser materializado na
Terra em um futuro não muito distante.
Acredito que o texto é o registro de um longo e detalhado “sonho” que,
por um processo de difícil compreensão e explicação, conhecido como “projeção de
consciência”, foi gravado na memória inconsciente e lá permaneceu por um curto
ou longo período de tempo. Por outro processo, também difícil de explicar, as
gravações foram transferidas para a memória consciente durante o período de 31
de janeiro a 9 de maio de 1999. Essas características diferenciam essa experiência
daquelas que são comuns às pessoas que sonham e que também desconhecem o
mecanismo que as levam a sonhar e a se lembrar de fragmentos ou de sonhos
detalhados.
Existem outras possibilidades a serem consideradas. O texto pode ser
atribuído à psicografia ou à sua irmã gêmea, a canalização. Porém, pelo que
conheço dessas duas formas de contato com o mundo espiritual, elas não foram
utilizadas. Além de não possuir esses dons, as duas necessitam de um ambiente
apropriado, preparação prévia, horários convenientes e muita concentração. Além
da possibilidade de ser fruto da imaginação, restam duas outras hipóteses. A
redação pode ser atribuída a um tipo de inspiração ou à lembrança de uma vivência
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anterior. Apesar de possíveis, elas são igualmente difíceis de serem explicadas e
aceitas pelo raciocínio lógico convencional.
Com todas essas dificuldades para definir a origem das informações, é
conveniente não dar importância a esse aspecto e sim à sua mensagem básica. Se
os leitores e leitoras aceitarem esse critério, analisando e comparando o modo de
vida arretiano com o terrestre, poderão tirar muito proveito da leitura. Se isso
acontecer, e esse é o objetivo do livro, poderão se juntar a uma grande legião de
pessoas que pensam e sonham com um mundo melhor, mais justo, fraterno e feliz.
Apenas pensando e sonhando, contribuirão para acelerar o processo
cósmico que transformará o sonho em realidade. Vale lembrar que esse também foi
e é o sonho de Jesus, um ser do nono nível da hierarquia divina, que ofereceu sua
majestosa vida para que um novo céu e uma nova Terra pudessem um dia se
materializar em nosso planeta. Já se passaram quase dois mil anos da sua morte
na cruz e ela, com certeza, não foi em vão. Ele não desceria aos lodaçais
terrestres, de quinto nível, para ensinar a mensagem libertadora da paternidade
divina e da irmandade de todos os seres humanos se não tivesse essa certeza.
Este livro foi escrito em forma de diário para facilitar a ambientação e
levar os leitores e leitoras viajar e vivenciar o modo de vida arretiano. Ele descreve
as principais observações feitas durante os três dias de preparação em uma nave e
nos 41 dias de levantamentos realizados no planeta. O Texto obedece a uma
ordem cronológica que independe dos temas levantados e pode dificultar a visão
sistêmica das atividades planetárias, pois, em um mesmo dia, podem estar
registrados assuntos pertinentes a vários sistemas.
Por essa razão e por aquilo que está relatado no início desta introdução,
um terceiro volume apresentará uma visão sistêmica do planeta, sem personagens
e com inúmeros detalhes não registrados neste livro. Pelas razões a seguir
descritas, O Diário da Viagem apresenta poucas informações sobre o passado do
povo arretiano, especialmente, sobre a grande transição lá ocorrida, cujos detalhes
constituirão um segundo volume. Essas informações não foram omitidas com a
finalidade de direcionar os leitores e leitoras para o novo livro.
Elas o foram porque o Diário da Viagem enfoca a atualidade do planeta e
não o seu passado. Além disso, para que essas informações sejam corretamente
compreendidas, é necessário inseri-las em um contexto histórico apropriado, com
os devidos antecedentes e, principalmente, com todos os acontecimentos
posteriores. Se apresentadas de outra maneira, poderão gerar medos infundados e
invalidar a compreensão da mensagem principal. Por isso, as pesquisas históricas
estão superficialmente citadas, apenas para permitir a continuidade dos assuntos e
para justificar o tempo gasto em seus levantamentos.
O Diário da Viagem não foi escrito para ser apenas uma obra de ficção.
Ele descreve uma civilização que vive em um mundo que representa o amanhã da
Terra e seu objetivo é transmitir esperança às pessoas que sonham, sofrem e
esperam por uma grande transformação em nosso globo, onde haverá um só
rebanho e só pastor, conforme as palavras proféticas de Jesus. Arret representa um
possível cenário do novo céu e da nova Terra, pois é um mundo onde todos se
consideram irmãos e filhos do mesmo Pai Celestial. Lá, todos são tratados com
igualdade, vivem em completa harmonia e liberdade, em uma comunidade
planetária justa, fraterna e feliz.
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A crença em Deus
Para tirar maior proveito das informações contidas neste livro, é
importante acreditar na existência de uma energia criadora, mantenedora e
transformadora do universo. Essa energia pode ser traduzida como sendo Deus,
Pai Celestial, Grande Arquiteto do Universo ou outras denominações particulares de
cada religião ou corrente filosófica. A crença em Deus está na base de todas as
religiões e é o último alento aos céticos nos momentos de dificuldades ou de
sofrimentos, quando os recursos do mundo material não são mais suficientes para
explicar ou resolver os problemas que os afligem.
Deus pode ser representado por três aspectos conhecidos por diferentes
nomes. Nas religiões cristãs, especialmente no catolicismo, eles formam a
Santíssima Trindade, constituída pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Desse
conceito tradicional, infere-se que o poder criador está associado ao Pai, o
mantenedor ao Filho e o transformador ao Espírito Santo.
O poder criador é o responsável pelo aparecimento dessa imensidão de
galáxias que formam o universo conhecido, onde cada uma é constituída por vários
milhões de estrelas de todos os tamanhos e, como o nosso Sol, devem ter seus
planetas. Apesar da ciência defender a hipótese de criação do universo por um
"Big-Bang", é pouco provável que uma grande explosão tenha causado o seu
aparecimento e toda a harmonia e leis que regem as órbitas planetárias ou o
nascimento de um pé de feijão. Vale lembrar que a Terra é habitada por seis
bilhões de seres humanos e por uma infinidade de representantes dos reinos
animal, vegetal e mineral, com múltiplas variedades e ciclos de nascimento, de vida
e de morte perfeitamente definidos.
Dentro dessa visão, a hipótese do "Big-Bang" é pouco provável, pois
parte do princípio que o caos gerou a harmonia e as maravilhas que conhecemos.
Estamos nos referindo somente à Terra, deixando de lado a nossa galáxia, as
demais e o próprio universo. Também é válido perguntar para os seus defensores,
quem foi que criou, juntou o material e acendeu o fósforo?
Ainda dentro do aspecto criador da divindade, quem cria alguma coisa é
considerado o pai ou o responsável pela sua criação. Dessa premissa, inferimos
que Deus é o pai de sua criação e que nós somos Seus filhos, como Jesus se
esforçou para transmitir aos seus contemporâneos e eles a nós. Jesus sempre
centrou suas palavras e ações no ideal da Paternidade de Deus e na irmandade
dos seres humanos.
Assumindo que Deus tudo criou, devemos considerar que o poder
mantenedor é o Seu segundo aspecto, à medida que tudo que é criado deve ser
mantido, pois Deus não cometeria o erro de criar e não manter a Sua criação. Esse
aspecto é aquele que sustenta a forma criada e a mantém viva ou coesa, atuando
desde o reino mineral até o humano e outros superiores. No reino humano, esse
poder controla e mantém alguns sistemas do nosso corpo físico, como o hepático,
cardíaco, digestivo e respiratório, de maneira independente da nossa vontade que
não é capaz de interferir em uma única função desses sistemas.
Nos demais reinos, se tomarmos como exemplo as espécies que formam
as florestas milenares, a existência desse poder é facilmente constatável. Basta
analisar a harmonia e a beleza de uma floresta como a Amazônica e procurar
entender quem ou o que a mantém por tantos milênios com toda a sua pujança e
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diversidade de espécies que nasceram e cresceram sem qualquer tipo de
interferência humana.
Se Deus cria e mantém todas as coisas, Ele não as mantém
indefinidamente como as criou. Tudo está em constante mutação, ou em evolução.
A ciência cética e racional foi a primeira a revelar o terceiro aspecto da divindade e,
mesmo sem associá-lo a uma de suas descobertas, ela o definiu como a teoria da
evolução das espécies, formulada por Charles Darwin. O terceiro aspecto também é
conhecido como o destruidor da forma cristalizada e é aquele que a transforma em
algo mais evoluído e melhor adaptado ao seu meio ou às suas necessidades.
Essas ponderações sobre a trindade divina são essenciais para a correta
compreensão da mensagem contida no Diário da Viagem a Arret. Também é
importante salientar que os atributos divinos não estão limitados a esses três
aspectos. Deus também é o amor, a sabedoria e o poder, assim como é a poesia
dos poetas, a musicalidade dos músicos, a fortaleza dos fortes, a humildade dos
humildes, a arte dos artistas, a sabedoria dos sábios, dentre outros atributos. Nada
existe ou se manifesta sem representar, pelo menos, um dos atributos de Deus.
A crença no renascimento
O conceito do renascimento está associado ao terceiro aspecto da
trindade e é essencial para o entendimento dos demais atributos divinos. Para
compreender a verdadeira essência do amor, da justiça, da bondade e da
paternidade de Deus, é necessária uma crença racional desse conceito. Se assim
não for, torna-se difícil entender os atributos divinos quando analisados sob a ótica
dos contrastes existentes entre as variadas condições de vida dos seres humanos.
Além disso, se considerarmos que uma parte da nossa humanidade entende que se
nasce, vive e morre apenas uma vez, os atributos divinos são ainda mais
incompreensíveis e discutíveis. Vamos analisar alguns exemplos que envolvem as
duas situações.
Em todos os lugares da Terra encontramos pessoas que nascem, vivem
e morrem ricas ou pobres; fisicamente perfeitas ou aleijadas; bonitas ou feias;
inteligentes ou não; com fartura ou sem o mínimo necessário à sobrevivência,
dentre vários outros contrastes. Os ricos que vivem com fartura e são fisicamente
saudáveis constituem a minoria, enquanto seus opostos são a maioria. Quando se
acredita que após a morte o espírito é julgado e pode ser salvo ou condenado pela
eternidade, os contrastes humanos sobressaem e representam condições e
recursos desiguais atribuídos sem critérios de amor, de justiça e de bondade
claramente definidos.
Apesar de não ser assim, não seria ilógico supor que Deus atribui
determinadas condições a Seus filhos e filhas, conforme seu humor, preferências
pessoais e outros fatores comuns aos seres humanos detentores de algum tipo de
poder. É difícil acreditar que um bom pai terrestre trate seus filhos de maneira tão
desigual, dando muito para alguns e quase nada para outros. O Pai Celestial deve
ser, e é, infinitamente superior a qualquer pai que conhecemos, por mais justo e
generoso que seja.
Por outro lado, é difícil compreender os motivos de Deus ao criar um
espírito para morrer nos primeiros dias, meses ou anos de vida. Sob a ótica da
unidade de nascimento, de vida e de morte, podemos concluir que a morte de uma
criança representa uma grande vantagem. Seu espírito enfrentará “o julgamento
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final” sem ter cometido um único “pecado”, bem ao contrário daqueles que, por
viverem várias décadas, poderão ser condenados a “passar a eternidade no fogo do
inferno”.
Além de outras, essas análises formam um emaranhado na mente de
qualquer pessoa que procure estudar e compreender as leis divinas sem
preconceitos ou dogmas. Muitas, ao invés de utilizar o raciocínio lógico e a intuição,
os dois atributos que o Criador nos deu para compreendê-Lo, acham mais fácil
acreditar nas explicações das “autoridades” que dirigem ou representam suas
religiões ou correntes filosóficas. Isso não seria censurável, se essas “autoridades”,
a nível local e planetário, seguissem o mesmo “livro sagrado” e tivessem a mesma
opinião a respeito de um determinado tema.
Quando se compreende o conceito do renascimento e seu embasamento
na Lei da Evolução e na Justiça Divina, deixa-se de imaginar que Deus estaria
zangado ou com algum tipo de problema quando criou a maioria dos espíritos que
vivem sobre a Terra. Passa-se a compreender e a ver, nos corpos imperfeitos e nas
situações de vida adversas, espíritos endividados que estão resgatando o mau uso
que fizeram das oportunidades e faculdades igualmente colocadas à disposição de
todos, conforme suas necessidades de evolução. No caso das crianças falecidas
prematuramente, compreende-se que estavam cumprindo um pequeno período de
aprendizado ou procurando ensinar uma grande ou pequena lição aos seus pais.
Deus, o Pai Celestial, não castiga seus filhos e filhas. Ele sempre os
coloca na situação mais favorável para acelerar seu processo evolutivo, da maneira
mais justa e amorosa possível, em cada tipo de situação individual ou coletiva. O
mesmo acontece com os espíritos colocados em uma condição de vida favorável.
Em nosso mundo, a riqueza e o poder associam-se a condições favoráveis. No
mundo espiritual é diferente e, como regra geral, constituem provas com alto nível
de dificuldades. Por outro lado, podem acelerar a evolução daqueles que não se
deixaram envolver pela ilusão da riqueza ou do poder e cumpriram a missão a que
se propuseram, ou que lhes foi destinada.
Analisando essas situações, é impossível acreditar, sentir e
compreender a divindade e seus múltiplos atributos sem entender a Lei do
Renascimento. Se fizermos um estudo sincero e sem preconceitos, utilizando
apenas a intuição e o raciocínio lógico, não é difícil chegar ao entendimento dessa
Lei e de outras questões fundamentais para a evolução do espírito humano.
A questão chave refere-se à paternidade divina e à irmandade dos seres
humanos. Tente imaginar Deus como o Pai justo e amoroso que é e compare-o
com os pais e mães que você conhece. Em geral, todos são capazes de grandes
sacrifícios para proporcionar alegria, bem-estar, estudo e várias outras coisas aos
seus filhos. Muitos o fazem de maneira exagerada, privando-se de seus gostos ou
necessidades pessoais.
Sem a menor dúvida, Deus é um Pai muito mais justo, amoroso, perfeito,
generoso e sábio, além de não ter as limitações impostas aos que vivem na
matéria. Assumindo essas premissas como verdadeiras, procure explicar os
motivos que levam Deus a proporcionar condições de vida tão desiguais a Seus
filhos e filhas dos mais diferentes lugares da Terra. Leve em consideração que
existem reis e milionários de nascença, assim como, pobres que moram nas favelas
das grandes cidades e em locais isolados ou esquecidos. Avalie também aqueles
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que nasceram com graves problemas físicos e os que nasceram perfeitos, além de
vários outros contrastes possíveis.
Caso ainda não seja possível compreender a Lei do Renascimento,
continue avaliando as razões e tentando explicar racionalmente, sem utilizar um
dogma ou uma questão de fé, as diferenças de habilidades, de caráter, de
inteligência e outras qualidades ou defeitos facilmente identificáveis entre os seres
humanos nascidos em idênticas condições e, muitas vezes, em uma mesma
família. Tente explicar por que Mozart dominava o piano aos quatro anos e por que
tantas pessoas que estudaram e se dedicaram ao mesmo instrumento durante uma
vida inteira, nunca atingiram a habilidade que ele demonstrava em tão tenra idade.
Nem é preciso considerar que a maioria nunca chegou a compor uma única peça
musical de qualquer nível de qualidade.
Se assim não for possível chegar à compreensão da Lei do
Renascimento, é provável que Deus ainda não julgou apropriado transmitir essa
crença à sua mente racional, pois ela não salva e também não causa a evolução
automática do espírito humano. Ela é apenas um facilitador, cujo ponto central é o
amor em suas variadas formas de expressão. O amor impessoal é a maior
conquista do espírito e somente ele o salva de todos os abismos, independente do
tipo de crença ou de religiosidade.
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Continuando a imaginar que só existe vida na Terra, concluímos que
Deus, seus Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins cuidam exclusivamente da
humanidade terrestre. Se assim for, podemos deduzir um outro grande conjunto de
falhas, pois nossa sociedade apresenta tantos contrastes e imperfeições, que
reduzem os atributos e a competência desses seres a um nível inferior ao humano.
Quando Jesus falou que na casa do Pai existiam muitas moradas, estava
se referindo a mundos habitados por seres mais ou menos evoluídos que aqueles
que formam a humanidade terrestre. Seu aparecimento na Terra é uma prova da
pluralidade dos mundos habitados e das leis do renascimento e da evolução. Jesus
não foi um filho que Deus criou, escolheu, separou dos demais e deu a ele uma
“educação privilegiada”, tornando-o o "seu favorito" e único representante dos Seus
atributos.
É um grande desrespeito a Deus e a esse ser maravilhoso, pensar que
Ele não trilhou os mesmos caminhos a nós oferecidos. Jesus não é um filho que
adquiriu tamanha sabedoria e outras qualidades de maneira gratuita e sem nenhum
esforço. Quando a Terra estava em formação e nossos espíritos ainda não tinham
sido individualizados no reino humano, Jesus já trilhava os caminhos que hoje
percorremos. Ele evoluiu às custas dos mesmos esforços e sofrimentos que
conhecemos.
Jesus é um irmão mais velho e também o mais experiente, respeitado e
confiável representante dos atributos divinos junto à humanidade terrestre. Desse
ponto-de-vista, é lícito atribuir a Ele tudo que as religiões cristãs lhe conferem,
especialmente, a representação do segundo aspecto de Deus, como o filho, ou o
mantenedor. Pelo que está simbolizado em seu batismo, Jesus também representa
o terceiro aspecto e é o responsável direto pela evolução da nossa humanidade.
Ele demonstrou que nos amava a tal ponto, que ofereceu sua majestosa
vida para acelerar nosso processo evolutivo e, portanto, para nos salvar. Ele
conquistou, por mérito pessoal, todas as suas perfeições, especialmente a do amor,
a maior de todas elas. Jesus demonstrou essa sua importante conquista em todos
os momentos de sua última passagem pelo nosso mundo, a ponto de nos confundir
quanto à maneira como adquiriu tamanho conhecimento e sabedoria. Ele é o
grande exemplo a ser seguido e o maior de todos os heróis que já pisaram nesta
Terra.
A CHEGADA À NAVE
As informações iniciais
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Tudo aconteceu conforme Oatas previu. Não fosse por estar em uma
cama e em um lugar diferente, não perceberia nada de estranho, pois a sensação
no novo corpo era muito boa. Além de não passar pelo processo de despertamento
gradativo, como sempre acontecia, eu tinha lembranças de tudo que ocorreu, o que
foi confirmado pela presença de Oatas.
Ao levantar, realizei vários movimentos, flexões, dei pulos, belisquei o
braço, apalpei o novo corpo e tudo pareceu normal. Oatas riu muito durante o teste
e disse que as diferenças que eu notaria seriam para melhor, com algumas
mudanças no aspecto sexual, o qual foi igualado ao padrão arretiano, por razões
que eu iria entender mais tarde. Fez questão de frisar que, quando retomasse meu
corpo original, tudo votaria a ser como antes e até melhor. Em seguida nos
dirigimos a uma sala próxima.
Era retangular com teto branco e ligeiramente curvo. Tinha paredes em
azul claro e era mobiliada com sofás e uma mesa de centro. Uma das paredes
havia um grande quadro cinza escuro, semelhante a uma tela de cristal líquido. Não
havia janelas e sim uns quadros menores, semelhantes ao maior. Oatas aguardou
minhas observações e, informando que já estávamos em órbita, me pediu para
sentar em frente à tela maior.
Logo surgiu uma imagem da Terra em posição invertida e sem nuvens,
idêntica àquela que estava em minha mente na manhã do dia 31/01/1999. Sua
nitidez permitia distinguir os contornos das Américas e, gradativamente, voltou à
posição normal. Depois, um efeito "zoom" começou a mostrar detalhes do Brasil, do
estado de Goiás e de Alto Paraíso. Logo distingui minha casa e, com espanto, pois
o telhado ficou transparente, pude ver meu corpo dormindo ao lado de minha
esposa.
Oatas disse que sentia as dúvidas que estavam em minha mente e me
pediu para ser paciente e aguardar o momento oportuno para obter as respostas.
Informou que aquelas que não revelassem segredos ainda velados à humanidade
terrestre seriam fornecidas ao longo da viagem e que esses segredos se referiam a
aspectos tecnológicos de difícil compreensão, até para o mais brilhante dos
cientistas da Terra.
Em seguida, disse que iria mostrar algumas imagens e falar sobre uma
série de novidades. Reiterou seu pedido para que eu aguardasse o momento
apropriado para esclarecer as dúvidas, pois tudo seria mostrado com detalhes
durante os três dias de treinamento e, posteriormente, seria visto, vivenciado e
sentido em Arret, ao longo de trinta ou mais dias.
Fiquei observando as imagens e ouvindo as explicações de Oatas
durante quase uma hora. Muitas coisas que pareceram estranhas no primeiro
momento, se tornaram mais claras à medida que outras imagens e explicações se
sucediam. Entendi que não precisava fazer perguntas, pois a maioria das dúvidas
eram esclarecidas em seguida, dentro dos limites por ele definidos. Apesar de
resumido, foi grande o conjunto de informações sobre a nave, seus tripulantes e
sobre Arret.
Ela era batizada como SOL-4, por transitar muito pelo sistema solar.
Tinha o formato de um cilindro achatado, ou uma elipse, e media 144 metros de
comprimento, 48 de largura e 36 de altura. A parte traseira era ligeiramente cônica
e a frente era afunilada, abrigando a cabine de comando. Parecia um dirigível sem
aletas e sua cor externa era uma mistura de dourado com cobre. Seu interior era
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constituído por inúmeros compartimentos, salas, dormitórios, um restaurante e
outras áreas que seriam apresentadas pela tripulação. A iluminação vinha do teto e
das paredes, cujas cores podiam ser trocadas à vontade. Oatas realizou diversas
mudanças apertando alguns botões, sem alterar o padrão de luminosidade.
No final surgiu a imagem dos três casais de tripulantes, apresentados
como sendo os comandantes Antak e Tali, os navegadores Otento e Sathya e os
engenheiros de bordo Salino e Tentra. Quando Oatas pronunciava o nome de cada
um e fazia um rápido resumo pessoal, eles se levantavam e acenavam
simpaticamente, como se estivessem nos vendo e ouvindo.
Pareciam uma mistura de europeu com chinês, pois eram altos, esbeltos
e tinham olhos grandes, amendoados e ligeiramente puxados à moda oriental. Os
olhos eram o ponto forte, pois chamavam a atenção e eram quase hipnóticos.
Tinham o nosso aspecto físico e todos eram muito bonitos, simpáticos e me
pareceram amigos, como se já os conhecesse. Oatas sentiu minha pressa em estar
com eles e comentou que aquele desejo era muito bom. Disse que preferiu
apresentá-los indiretamente, para que eu me acostumasse com a nave, com eles e
não sentisse nenhum tipo de receio.
Em seguida, disse que iria mostrar meu quarto, onde poderia tomar
banho e mudar de roupa, antes de encontrar a tripulação e com ela tomar a refeição
da manhã. Saímos em um corredor e logo entramos em um elevador onde havia
uma tela com informações resumidas de cada andar. Mesmo sabendo que contava
com um tradutor de linguagem, fiquei surpreso ao ler tudo que estava escrito.
Saímos em outro corredor e entramos em uma sala com dois conjuntos de sofás
nas laterais e mesinhas de canto. Na parede do fundo havia duas pequenas telas
que, presumi, seriam utilizadas para abrir as portas de dois aposentos, o que foi
logo confirmado por Oatas.
Como não falei nada, fiz uma pergunta mental procurando saber se ele
estava utilizando a telepatia. Ele confirmou mentalmente e falei que o entendi
perfeitamente. Perguntei como esse processo se desenvolveu tão rápido e ele disse
que foi em razão de estarmos em um ambiente muito mais sutil que o terrestre e
que o meu novo corpo tinha "mecanismos" que facilitavam a telepatia, um atributo
normal nos arretianos. Sentindo que fiquei preocupado, ele disse que eu não
deveria procurar esconder ou ter vergonha dos meus pensamentos, mesmo que os
considerasse impróprios, pois não incomodariam ou ofenderiam os tripulantes que
conheciam muito bem o modo de pensar e os costumes dos habitantes da Terra.
Oatas aproveitou para dizer que, nos próximos dias, eu teria uma grande
oportunidade para treinar e aprimorar a difícil arte de controlar e aquietar a mente.
Em seguida falou que iria mostrar o meu quarto, exatamente igual ao dele e
localizado ao lado do meu. Captei seu pensamento pedindo para colocar a palma
da mão na telinha da esquerda e logo a porta abriu e vi a imagem da Terra em uma
tela igual à anterior. Fiquei alguns minutos observando os detalhes daquele
ambiente e ouvindo as explicações de Oatas às diversas perguntas que fiz.
O quarto era amplo, simples e confortável. No centro havia uma cama
suspensa com uma cúpula transparente e a parede do fundo era quase toda
tomada pela tela que fazia parte do equipamento de áudio e vídeo. Nas laterais
havia portas de armários embutidos e uma que dava acesso ao banheiro. Os
armários destinavam-se à guarda de roupas, pertences pessoais e cristais de áudio
e vídeo. Um deles era uma lavanderia automática e acima das portas havia caixas
22
acústicas muito finas, pois pareciam quadros. O assoalho era revestido com um
carpete sem pêlos e a cama chamava especialmente a atenção.
Ela era sustentada pelo mesmo princípio utilizado na nave e a cúpula
servia para manter estável a temperatura, dispensando o uso de cobertores e
permitindo o enriquecimento do ar com maior teor de oxigênio. Tinha controles da
aparelhagem de som e imagem e as regulagens de uma cama hospitalar. Podia ser
posicionada em qualquer lugar ou altura e era uma maravilha tecnológica dedicada
ao descanso do corpo.
Sob a grande tela havia teclas e orifícios para inserção de cristais de
som e imagem. Com uns quatro centímetros de diâmetro e quinze de comprimento,
podiam gravar e reproduzir de duas a três mil músicas e imagens a elas
associadas. Oatas fez demonstrações com músicas terrestres da minha predileção
e peças arretianas. Além de ouvir, observei imagens tridimensionais dos intérpretes
e aquilo que ele denominou como “alma ou forma pensamento" da música.
O banheiro tinha uma pia com armário espelhado e um vaso sanitário
com ducha higiênica externa. A pia e o vaso eram de um material semelhante a um
acrílico leitoso, a água saía da torneira com a aproximação das mãos e o sanitário
dava descarga automática assim que utilizado. O box tinha uma ducha circular e um
chuveiro com diversas regulagens de pressão e temperatura. A parede em frente ao
vaso sanitário tinha uma extensão da aparelhagem de som e imagem.
Depois voltamos ao armário de roupas e Oatas explicou a finalidade de
cada um dos três tipos de trajes e acessórios que os acompanhavam. Um deles era
igual ao que eu estava usando e era o traje de dormir. Os outros eram o de passeio
e o de trabalho, ambos confeccionados com um tecido semelhante ao algodão com
lycra, e ficavam colados ao corpo. O tecido do traje de dormir era o mais fino, o de
passeio, um pouco mais espesso e o de trabalho, o mais encorpado. Todos eram
constituídos por duas peças, uma vestida por cima e a outra por baixo, dispensando
o uso de cuecas.
Os trajes de dormir não cobriam os pés e os braços, enquanto os demais
dispensavam o uso de meias e tinham mangas compridas que podiam ser
complementadas por luvas. As roupas de trabalho e de passeio eram ornadas com
um cinto apresentado em três versões. Cada um continha menor ou maior número
de compartimentos para armazenar objetos diversos. O traje de dormir era
acompanhado por uma sandália de dedos e um mocassim de tecido e solado
sintético. O traje de passeio era complementado por um tênis e o de trabalho era
vestido com uma bota de cano longo, ambos de tecido e solado sintético.
Quando Oatas terminou suas explicações, escolhi um traje de trabalho e
fui para o banheiro, enquanto ele permaneceu no quarto para me socorrer em
qualquer dificuldade. O espelho mostrou que eu estava com a metade da idade
terrestre e com os cabelos um pouco mais compridos. Ao escovar os dentes
percebi que algumas obturações e falhas em minha arcada estavam corrigidas,
assim como algumas cicatrizes nas pernas e na mão. Meu rosto não apresentava
vestígios de barba e não havia pêlos visíveis no peito, axilas, barriga, braços e
pernas. Tomei banho e me vesti sem dificuldades. A ducha circular era uma
maravilha.
Quando me viu, Oatas disse que eu estava muito bem e que fui muito
rápido no primeiro banho em órbita. Providenciamos a lavagem da roupa usada e
fomos para o seu quarto. Enquanto ele tomava banho fiquei observando a "alma ou
23
forma pensamento" da música arretiana. Era algo indescritível formado por cores
entrelaçadas, pulsantes e “explosivas” que acompanhavam o ritmo da música. Logo
depois fomos para a cabine de comando, onde os tripulantes nos aguardavam.
27
OS TRÊS DIAS DE PREPARAÇÃO
Quando lá chegamos, Antak disse que iriam aproveitar os três dias para
me instruir sobre a atualidade arretiana, seu povo, modo de vida, fauna, flora e
outros assuntos, para que eu lá chegasse com um resumo geral que facilitasse os
levantamentos posteriores. Falou que Oatas estaria o tempo todo comigo e que
eles se revezariam para apresentar e comentar cada tema. Iriam realizar as
apresentações do geral para o particular, à moda cartesiana terrestre, e
começariam com a estrutura do sistema estelar arretiano, a ser apresentado por
Sathya. Os demais se despediram e prometeram retornar no horário do almoço.
Após uma breve descrição do sistema estelar arretiano, cuja imagem
estava fixa na tela, Sathya informou que partiríamos para lá na noite do terceiro dia
e que, dali a poucas horas, a nave se deslocaria para o espaço entre a Terra e
Marte, onde ficaríamos estacionados até o momento da partida. Em seguida a
imagem adquiriu movimento e, durante umas três horas, assistimos a um vídeo
tridimensional, muitas vezes interrompido para explicações de Sathya ou para
responder perguntas que fiz.
Arret era o quarto planeta da estrela central das Três Marias, na
Constelação de Órion. Essa estrela, batizada pela astronomia terrestre com o nome
de Alnilam, era algumas vezes maior que o Sol e, girando em torno dele, havia doze
planetas, alguns com até sete “luas”. Um deles era habitado por um povo mais
evoluído que o arretiano, outros dois tinham grau semelhante e três, um grau
inferior. Os demais não eram habitados por seres humanos.
O planeta era muito parecido com a Terra, com o dobro do seu tamanho,
uma população ligeiramente superior a 12 bilhões de habitantes e possuía três
"luas", sendo uma semelhante à nossa e outra com mais que o dobro do tamanho.
A terceira era cinco vezes maior e também a mais distante. Ela possuía atmosfera
com condições de vida e era habitada por peixes, répteis, animais e pássaros. A cor
da atmosfera era de um azul mais forte que a terrestre e o ar mais rico, possuindo
25 por cento de oxigênio. O planeta era constituído por metade de mares e metade
de terra firme, dividida em sete continentes, sendo cinco na zona equatorial e um
em cada pólo.
No horário combinado os demais tripulantes entraram na sala e Antak
perguntou se eu não gostaria de tomar um banho de cachoeira. Fiquei surpreso
com o convite e, antes da resposta, ele disse que existia uma cachoeira com
piscina, lembrando um pouco daquelas existentes no Vale Dourado. Fiquei
imaginando como seria o lugar e que roupa iria usar, pois não tinha visto nenhum
traje de banho no armário do meu quarto. Eles captaram meu pensamento e
começaram a rir. Tentra disse que tomavam banho ao natural e, como eu não tinha
esse costume, que não me preocupasse, pois no vestiário havia trajes de banho e
que todos iriam usá-los para que eu me sentisse mais à vontade.
Chegamos a um vestiário masculino com alguns bancos, armários e
compartimentos individuais. Escolhi um calção azul e comecei a mudar de roupa
imaginando que tipo de cachoeira com piscina tinham construído na nave.
Enquanto isso, meus amigos já estavam prontos e me esperavam. Notei que tinham
corpos perfeitos, de musculatura discreta e sem pêlos visíveis no peito, braços,
axilas e pernas. Comecei a imaginar como seria o corpo das mulheres e,
novamente começaram a rir.
28
Pedi desculpas e Salino, com seu jeito brincalhão, falou que eu não
deveria tentar inibir pensamentos extremamente comuns e arraigados na mente dos
povos da Terra, cujos costumes eles conheciam e entendiam muito bem. Disse que,
logo que chegasse a Arret, iria me acostumar com o modo de vida do seu povo e
iria pensar e agir naturalmente, sem precisar me esforçar como fazia naquele
momento. Todos disseram algo parecido, com o objetivo de me deixar à vontade e
sem preocupações com qualquer tipo de pensamento que surgisse em minha
mente. Apesar de continuar envergonhado, comecei a admirar aquelas pessoas
pela sua pureza, maneira de agir e de compreender tão bem aqueles que não
pensavam e não agiam como eles.
Salino passou o braço pelo meu ombro e foi caminhando comigo até a
porta que dava acesso à cachoeira. Pediu para fechar os olhos e só abrir quando
ele falasse. Ao abrir, minha surpresa foi enorme. No lugar de um ambiente de
aspecto artificial, existia um enorme espaço com pequenas árvores, pedras,
plantas, flores, arbustos, grama, poltronas, mesas e uma belíssima cachoeira que
caía em uma grande piscina.
A água era realimentada por bombas especiais, depois de passar por um
processo de filtragem e normalização do pH, tornando-a tão pura como as nossas
melhores águas minerais. A piscina tinha formato retangular, com uns 15 metros de
largura e o dobro de comprimento. As bordas eram irregulares e seguiam contornos
de pedras que avançavam ou recuavam. O fundo era formado por areia e pedras,
com profundidade máxima de três metros. O teto abobadado era transparente e o
ambiente estava iluminado por uma luz “solar” que destacava as cores das pedras.
Notei Tali e Sathya nadando na superfície e Tentra submersa. Depois de
uns dois minutos conversando com Salino sobre aquele local, comecei a ficar
alarmado com o tempo que ela estava sob a água. Ele me tranqüilizou dizendo que
os arretianos podiam mergulhar durante cinco a sete minutos e que alguns o
podiam por um tempo maior. Falou que apreciavam os esportes aquáticos e eram
bons nadadores, como eu estava observando. Enquanto isso, Tentra saiu da
piscina e me abraçou pelas costas. Não me assustei porque seu corpo não estava
gelado. Sorridente como sempre, disse que a água era igual à terrestre, que estava
na temperatura do corpo e me convidou para experimentá-la.
Dizendo que eu não gostava de pular, ela me levou a um local com uma
profundidade próxima de um metro, onde havia algumas pedras que chegavam à
superfície. Curioso, perguntei como sabia desse meu costume e ela respondeu que
acompanhava minha vida há muito tempo, pois os verdadeiros amigos nunca se
esqueciam daqueles que amavam.
Ensaiei algumas braçadas sem me distanciar das pedras e, quando
novamente fiquei em pé, todos estavam na piscina. Alguns nadavam na superfície
ou submersos e outros estavam na cachoeira tomando uma ducha sobre uma
plataforma de pedra. Tentra me convidou para nadar até lá e garantiu que estaria
por perto para me ajudar em qualquer dificuldade.
Comecei a nadar do meu jeito desajeitado, ainda mais se comparado
com a elegância e o estilo de campeões dos meus amigos. Cheguei à plataforma
sem dificuldades, pois meu preparo físico tinha melhorado escandalosamente. Após
uma deliciosa ducha sob a cachoeira, Tentra me mostrou o espaço que existia atrás
da água. Lá havia um ambiente com a largura de um metro e um banco esculpido
na rocha, onde era possível sentar confortavelmente e massagear os pés. Depois
29
de uma nova ducha, sentei na beira da plataforma pensando em como tinham
construído aquele local maravilhoso e tão natural.
Antak e Tentra se aproximaram e sentaram-se ao meu lado. Falaram
sobre aquele ambiente denominado como Sala das Águas e o que ela significava
para eles durante as longas viagens. Disseram que ela e a Sala do Horto eram os
lugares onde relaxavam, meditavam e batiam longos papos durante as viagens.
Antak disse que após o almoço iríamos conhecer o outro local e, em seguida,
mergulhou durante alguns minutos.
Tentra explicou que o fôlego deles para mergulho dependia mais do
controle mental, que do condicionamento físico. Também falou que os olhos
arretianos tinham uma constituição que permitia ver com nitidez sob a água e que
os meus tinham a mesma estrutura, pois meu corpo estava totalmente adaptado às
condições de vida em seu planeta. Garantiu que eu poderia ficar submerso mais de
um minuto na primeira tentativa e que esse tempo aumentaria gradativamente.
Seguindo suas recomendações, mergulhei acompanhado por ela e
Salino, um de cada lado. Quando emergi, ela me parabenizou e disse que ficamos
submersos por quase dois minutos. Fiquei espantado com meu novo fôlego e me
animei a continuar o treinamento. Durante uma meia hora, revezei o tempo entre
mergulhos e conversas com meus amigos até sairmos da piscina, quando Tentra
informou que fiquei mais de dois minutos submerso e estava progredindo
rapidamente. Voltamos ao vestiário, mudamos de roupas e fomos ao restaurante.
As frutas, os sucos e as cápsulas eram de espécies diferentes, um
pouco mais leves, pois o organismo requeria menos calorias na parte da tarde.
Novamente notei que comiam pouco. Como algumas frutas pareciam ter sido
colhidas naquela manhã, perguntei se eram produzidas na Sala do Horto. Tentra
explicou que elas estavam armazenadas há uns 25 dias em um equipamento que
não utilizava o frio como meio de conservação e mantinha os alimentos em
condições naturais por diversos meses. Quando terminamos, saímos para conhecer
outro local muito interessante.
A Sala do Horto tinha dimensões semelhantes ao da Sala das Águas,
era um pouco mais comprida e possuía o mesmo tipo de teto. Era uma pequena
floresta com muitas árvores, trilhas e locais gramados, circundados por flores de
várias espécies. Neles havia poltronas suspensas que reclinavam e ofereciam um
grande conforto, substituindo as nossas redes com muitas vantagens. Caminhamos
um pouco para conhecer o local e depois Tentra ensinou como ajustar as poltronas
ao meu gosto.
Conversamos sobre a situação atual da Terra e sobre os acontecimentos
previstos para o final do seu ciclo evolutivo. As informações não aumentaram em
nada os meus conhecimentos, especialmente, quanto a datas. Mais tarde, Antak
disse que o horário de almoço tinha terminado e que estava na hora da aula sobre a
geografia, a flora e a fauna, a ser monitorada por Salino. Era uma continuação da
anterior e ocuparia o restante da tarde.
Chegando à sala, Salino alertou que aquela sessão sobre a geografia, a
fauna e a flora, apesar de longa, seria uma das mais resumidas de todas, dada a
abrangência e a variedade dos temas envolvidos. Disse que eu teria acesso a
muitos outros detalhes durante as viagens, passeios e visitas que faríamos em Arret
durante mais de trinta dias. Mesmo assim, os vídeos e as explicações de Salino
transmitiram um vasto conjunto de informações sobre o planeta.
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Seus mares eram menos salgados e os rios eram de água doce como os
nossos, ambos com muitas espécies de peixes e de vegetação aquática. Além de
grandes ilhas fluviais, havia ilhas marítimas com área superior a 500 quilômetros
quadrados. O relevo era bem menos acidentado que o terrestre, predominando as
planícies. As montanhas raramente ultrapassavam a altura de mil metros em
relação às planícies em que se situavam, as quais, em geral, estavam a quinhentos
metros acima do nível do mar. Em Arret não existiam desertos ou geleiras.
As chuvas eram leves, bem distribuídas, sem ventanias, raios ou trovões
e ocorriam quase sempre à noite, sob comando dos arretianos. A temperatura dos
continentes polares girava em torno de 15 graus centígrados e nos demais, variava
de 18 graus, nos extremos polares, a 25 graus na zona equatorial. O clima geral era
uma mistura de outono e primavera dos nossos países tropicais. A vegetação era
semelhante à nossa, predominando o verde azulado nas matas e um tom mais
claro nas planícies. As flores apresentavam múltiplas cores, mais vivas e brilhantes.
A maioria dos pássaros eram canoros e de pequeno porte. Assim como
os animais, não receavam os arretianos e atendiam prontamente aos seus
chamados. Os animais e os pássaros não eram carnívoros e apresentavam, como
as espécies vegetais, uma quantidade e variedade bem menor que a terrestre. Os
arretianos respeitavam e os consideravam como irmãos de um reino anterior e os
tratavam com muito amor, para que evoluíssem e atingissem mais rapidamente à
individualização no reino humano. Lá não havia mosquitos, baratas, ratos, cobras e
outros seres que aqui consideramos como nocivos.
Tentra chegou no final da aula e nos acompanhou até a Sala das Águas
sem nada dizer a respeito do novo personagem que lá encontramos. Era Othíbio, o
Ministro das Relações Exteriores de Arret. Ele estava retornando de uma missão
diplomática em Marte e aproveitou para fazer a visita. Parecido e como mesmo tipo
físico de Salino, logo demonstrou que também era muito bem humorado e
brincalhão.
Assim que fui apresentado, ele disse que sabia da minha presença na
nave e que Antak e os demais tinham feito um relatório a respeito dos meus
progressos, citando alguns momentos hilariantes, como o teste que realizei em meu
novo corpo. Falou que estava feliz com o nosso encontro e que após o jantar
iríamos conversar sobre “trabalho", pois aquele era um momento de relaxamento.
Em seguida entrou na piscina e nós o imitamos. Tomamos ducha, nadamos,
mergulhamos e "jogamos conversa fora" durante quase uma hora, ficando
evidenciado que Othíbio era uma pessoa simples e acessível como os demais.
Apesar de ser o responsável pelo relacionamento interplanetário do governo
central, ele não demonstrava essa sua posição.
Em uma conversa posterior, Tentra informou que em Arret não existem
classes sociais e todos são tratados igualmente, com os mesmos direitos e
deveres. Tampouco existe o nosso conceito de hierarquia ou de chefia. Os seres de
maior adiantamento espiritual, ou de maior responsabilidade social, são os que
mais se esforçam para melhor servir, compreender e ajudar aqueles que ainda não
atingiram o nível deles. Ela lembrou o caso de Jesus, servindo e se sacrificando na
cruz para dar o exemplo e possibilitar a elevação espiritual da humanidade
terrestre.
Após o banho fomos para o restaurante, onde se repetiu a cena anterior,
desta vez, com frutas mais aquosas, sucos naturais e as indispensáveis cápsulas.
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Tentra explicou que à noite a alimentação era mais leve, pois o nível energético
requerido era menor e citou um ditado também conhecido na Terra: “de manhã
devemos comer como um rei, à tarde, como um príncipe e à noite como um
mendigo”.
No caminho para o nosso local de descanso, fui conversando com
Othíbio e perguntei como chegou à SOL-4. Ele respondeu que foi teletransportado
de sua nave e que ela poderia ser vista da Sala do Horto. Batizada como Amizade,
tinha o mesmo formato da nossa e dimensões bem maiores. Assim que
começamos a observá-la, um conjunto de luzes de várias cores começou a piscar
em um ritmo musical e Othíbio disse que a tripulação estava nos cumprimentando e
desejando sucesso ao nosso trabalho. Logo elas diminuíram a intensidade, até
restar somente as luzes iniciais.
Sentamos no círculo central e Antak iniciou a conversa falando sobre
Othíbio, seu trabalho em Arret e em outros planetas da nossa zona galáctica.
Depois de dizer que ele tinha um convite a me fazer, passou-lhe a palavra. Othíbio
fez alguns comentários sobre a fala de Antak e disse que Arcthuro, o presidente do
governo central, pediu que me convidasse para uma reunião às três horas da tarde
do dia do nosso desembarque, mantendo a outra que aconteceria no meio da
minha estada no planeta.
Em seguida perguntou se poderia levar minha resposta favorável a
Arcthuro. Fiquei observando Othíbio sem nada dizer, pois estava espantado com o
convite e com a pergunta. Ele a repetiu e eu, ainda confuso, falei que ficaria
aguardando a reunião com grande expectativa. Ele esclareceu que fez a pergunta
em respeito ao meu livre arbítrio e enfatizou que jamais fariam qualquer coisa sem
o meu consentimento. Disse também que Arcthuro era o primeiro e maior cumpridor
dessa Lei.
Pedi para ele falar um pouco sobre Arcthuro e ouvi atentamente o que
ele disse com relação à simplicidade, respeito, justiça, abnegação, bondade e amor
que vinha manifestando aos arretianos nos últimos 80 anos do seu governo. Seu
modo de ser era igualmente reconhecido e retribuído pelo povo, que o amava
profundamente e o respeitava como um pai que se sacrificava pelos filhos. Ele era o
sacerdote que cumpria e ensinava a Lei Divina e o rei que governava com justiça e
sabedoria.
Othíbio me pediu para aguardar com tranqüilidade o momento da
reunião e para ver Arcthuro como uma pessoa igual aos meus demais amigos e não
como o "supremo mandatário" de seu planeta. Em seguida, falou que precisava
retornar à Amizade e partir para Arret. Dizendo que logo nos encontraríamos, se
despediu e saiu com Antak e Salino, com destino à cabine de comando, onde seria
teletransportado.
Os dois retornaram uns dez minutos depois e me pediram para observar
a despedida da Amizade. As luzes coloridas voltaram a piscar enquanto ela se
afastava lentamente. Após uns dois minutos elas se apagaram e seu escudo
protetor ficou visível e começou a brilhar até não se distinguir mais a nave. Tudo
desapareceu após um clarão semelhante a uma explosão e Antak comentou que a
Amizade já havia saído dos limites do Sistema Solar e estava a caminho de Arret.
Continuamos conversando sobre Othíbio, Arcthuro, o governo central e o trabalho
deles na SOL-4. Fiquei sabendo que Othíbio era tio de uma vizinha de Tentra que
eu iria conhecer, a qual trabalhava junto e era muito amiga de sua filha Vércia. Já
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passava das nove horas quando Antak disse que tinham que tomar algumas
providências e que depois iriam dormir.
Oatas e eu os acompanhamos até a entrada da cabine de comando e
depois fomos para a ante-sala dos nossos quartos. Lá tomamos suco de frutas e
conversamos por quase uma hora. Falei a maior parte do tempo, enquanto Oatas
ouvia, fazia algumas colocações ou respondia às minhas perguntas. Além de ter
falado sobre várias coisas que aconteceram naquele dia, eu estava preocupado em
controlar meus pensamentos, pois eram facilmente captados por ele e pelos
tripulantes.
Além daquilo que Salino, Antak e Otento falaram no vestiário da Sala das
Águas, a conversa me deixou mais aliviado. Antes de ir para o seu quarto Oatas
forneceu outras informações sobre os controles da cama e do equipamento de
áudio e vídeo. Depois de tomar banho e mudar de roupa, deitei ouvindo a Canção
da América e comecei a relembrar as cenas e acontecimentos daquele dia. Quando
ouvi os acordes da Ave Maria, uma sensação de paz me invadiu e logo adormeci.
Após o banho fui com Oatas para o restaurante, onde nossos amigos
nos aguardavam para a refeição matinal. Quando terminamos, Antak disse que
teríamos uma hora de descanso e depois eu iria assistir a duas sessões de vídeo
naquela manhã e a outras duas à tarde. O primeiro seria apresentado por ele e
versaria sobre a forma de governo e o “sistema financeiro”. O segundo, monitorado
por Tentra, seria sobre a família e o relacionamento amoroso. À tarde, Tali
apresentaria uma visão geral dos sistemas de educação, saúde e lazer. Otento
fecharia o dia com os sistemas agrícola e industrial.
Fomos para a Sala do Horto e conversamos sobre os temas do
treinamento do dia e sobre Vércia, a filha de Tentra e Salino. Depois, Antak, Oatas
e eu fomos para a sala de aulas e os demais foram se ocupar com seus afazeres
na nave. A rotina daquele dia seguiu o padrão do anterior, com períodos de lazer na
Sala das Águas e descanso na Sala do Horto. Os temas apresentados me
permitiram começar a entender o modo de vida e os motivos da felicidade dos meus
amigos e do povo arretiano.
A aula sobre a forma de governo e o “sistema financeiro” revelou
aspectos interessantes daquela sociedade planetária. Em Arret falavam uma única
língua e lá não havia países, estados, municípios e proprietários de terras. O
governo central era um organismo planetário que atuava como uma “corporação
empresarial” simples, ágil e objetiva. Seus componentes não concorriam entre si e
todos trabalhavam para atingir os objetivos da "corporação", sem visar poder,
salários, carreiras ou promoções. Trabalhavam por prazer, naquilo que gostavam e
que sabiam fazer melhor, pois independente do que faziam, tinham os mesmos
direitos e obrigações sociais.
Lá não circulava nenhum tipo de moeda e ninguém recebia qualquer
remuneração pelo trabalho no horário padrão. Também não pagavam por nada que
fosse necessário, como alimentação, habitação, vestuário, saúde, educação e lazer.
Para ter acesso a bens não essenciais, como veículos ou aparelhos de som e
imagem, utilizavam as “horas extras” e, tanto o presidente como um jardineiro,
necessitam da mesma quantidade dessas horas para adquirir o mesmo bem.
O horário de trabalho padrão era de seis horas diárias, em dois períodos
de três horas, das oito às onze e das quatorze às dezessete. O expediente semanal
era de cinco dias, durante seis meses por ano. Se trabalhassem mais, produziriam
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bens em quantidade superior às necessidades da população do planeta.
Trabalhavam um mês e tiravam férias no outro, quando eram substituídos pelos que
descansaram no mês anterior.
As férias eram utilizadas para atividades turísticas, culturais, educativas
e, principalmente, para contatos com os habitantes de outras regiões do planeta. O
presidente do governo central, seus doze ministros e outros administradores do
“alto escalão” tinham um regime de trabalho diferente e raramente tiravam mais que
dois meses de férias por ano. Nos hospitais, centros de lazer e outras atividades
essenciais, o trabalho era ininterrupto, com revezamentos a cada seis horas.
A palestra de Tentra sobre a família e o relacionamento amoroso foi a
mais difícil de ser compreendida ou aceita pela mente terrestre. Em Arret, os casais
se uniam por laços de afinidade pura, a ponto de exercerem a mesma profissão e
trabalharem juntos durante toda a vida, como era o caso dos tripulantes. Assumiam
esse compromisso antes do nascimento e, aos sete anos, já sabiam se iam se
casar e com quem. O namoro começava nessa idade e tinha a conotação de uma
grande amizade. O casamento ocorria em uma cerimônia simples celebrada pelos
seus pais.
Na volta das férias nupciais, a lua-de-mel arretiana, o casal recebia uma
casa mobiliada e equipada, no local que escolheram para viver e trabalhar. Os
filhos, além do respeito e dos fortes laços que os uniam aos seus pais, também
eram considerados filhos de todos os arretianos e, quando começavam a freqüentar
escolas, podiam até morar por longos períodos em uma outra casa. O
relacionamento amoroso era um conceito que apresentava sérias dificuldades para
ser compreendido pela mente terrestre, centrada no sexo e no orgasmo físico,
independente da afinidade entre os parceiros.
Lá, essa parte do relacionamento entre casais era muito diferente. A
mulher não tinha menstruação e a ovulação, seguida de uma relação sexual física,
só acontecia quando o período era propício para o nascimento de um filho ou filha.
Porém, mesmo com duzentos anos de idade, os casais podiam realizar aquilo que
chamavam de entrelaçamento energético, o qual levava a um "orgasmo espiritual"
muito superior ao físico. Podiam realizá-lo sempre que o desejassem, mesmo que
separados por milhares de quilômetros. O processo não tinha nenhuma limitação,
pois ocorria em um outro plano, enquanto os corpos físicos dormiam. Os casais
arretianos realmente faziam e sentiam amor, semelhante à sensação de abraçar e
beijar a filha ou filho querido, potencializada dezenas de vezes.
A aula sobre os sistemas de educação, saúde e lazer, apesar de
resumida, transmitiu informações muito interessantes. Entre os três e os sete anos,
as crianças adquiriam, gradativamente, a memória de suas experiências passadas
e daquilo que vieram fazer no planeta. Aos sete anos estavam intelectualmente
aptas para realizar trabalhos que desenvolveram em vidas passadas,
especialmente na anterior. Por essa razão, lá não havia cursos de alfabetização.
Nessa idade e por sua livre escolha, quase todos freqüentavam cursos de
informação sem currículo mínimo, presença obrigatória ou certificados de
conclusão.
Também podiam não freqüentar esses cursos até os 14 anos, quando
começava a fase de formação profissional para o trabalho que vieram executar.
Nessa idade, os jovens tinham acesso a cursos de capacitação, como medicina ou
engenharia, dentre outros. Escolhiam livremente a escola, o curso e as cadeiras
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que julgavam necessárias à sua formação. O acesso não dependia de vestibulares,
bastando o registro de sua decisão no período letivo anterior. As avaliações eram
realizadas pelos próprios alunos e, na conclusão do curso, não recebiam
certificados.
Em Arret, valorizavam as qualidades reais ou espirituais de cada pessoa.
Bastava ela dizer que estava capacitada para o trabalho, que ninguém perguntava
onde e quando aprendeu, ou como se preparou, pois ninguém trabalhava em algo
que não gostava e que não pretendia executar com perfeição. Quando julgavam
necessário outros conhecimentos para melhor desempenhar seu trabalho ou
missão, ingressavam em escolas de especialização e alguns ainda freqüentavam
cursos avançados em planetas mais evoluídos.
O sistema de saúde era totalmente preventivo e estava apoiado na
manutenção de um corpo saudável através da alimentação correta e da prática de
esportes, os quais objetivavam apenas exercitar o corpo e a mente. Nos centros
médicos existentes em cada cidade, as poucas cirurgias eram realizadas com a
ajuda de sofisticados aparelhos e quase sempre no corpo vital da pessoa, sem
cortes ou contatos físicos.
O arretiano não ficava doente e vivia saudavelmente até os duzentos
anos com uma energia juvenil. Morria por vontade própria, alguns dias ou meses
após o termino do trabalho que vieram realizar no planeta. Quando chegava esse
momento, despediam-se dos amigos e familiares, dormiam e não acordavam mais.
Os hospitais eram mais maternidades do que outro tipo de clínica.
O parto era natural, sem dores e realizado dentro de uma piscina
especial. A operação cesariana era muito rara e utilizada somente quando existia
risco de vida para a mãe ou para o bebê. Os arretianos faziam “check-up” diário e, a
maioria deles, mais de uma vez por dia, sempre que utilizavam a cabine de
teletransporte. Ela realizava esse procedimento automaticamente e, quando
constatava alguma anormalidade, o sistema de saúde convocava o usuário e
resolvia o problema na fase inicial, de uma maneira rápida, segura e indolor.
O lazer era a atividade mais importante no planeta e incluía a música, o
cinema, o teatro, a dança, os jogos de salão e outras práticas, predominando os
esportes aquáticos, como a natação e o mergulho. Lá, tudo era praticado sem
competição e, portanto, não existiam campeonatos ou torcidas organizadas.
Também não praticavam esportes como o futebol, basquete e vôlei, dentre outros
de natureza competitiva. O objetivo do esporte era apenas exercitar e manter o
corpo e a mente sadios.
O sistema agrícola, além de fornecer a base de sustentação da vida,
colocava os arretianos em estreito contato com a natureza, a qual muito admiram e
respeitam. A maioria das cidades eram agrícolas e ficavam localizadas no centro
das áreas de cultivo, como se fossem agrovilas. Raramente comportavam mais de
18 mil habitantes e produziam uma grande variedade de frutas, alguns legumes e
verduras e poucos cereais. Parte da produção era destinada à alimentação em
estado natural e a outra, ao processamento industrial. Como o clima do planeta não
apresentava variações sensíveis, quase todas as regiões produziam de tudo.
As cidades industriais eram maiores e algumas chegavam a 50 mil
habitantes. Umas só produziam equipamentos básicos ou matérias-primas e outras
as transformavam em utilidades para a vida planetária, desde pequenos objetos,
até grandes naves intergalácticas. O complexo agrícola e industrial era bem
35
distribuído em todo o planeta, sem privilégios para nenhuma região. Os trabalhos
pesados ou repetitivos eram executados por máquinas e robôs de diversos tipos e
habilidades.
Durante o descanso matinal na Sala do Horto, Antak fez uma rápida
exposição dos temas das quatro aulas do dia. Sathya apresentaria os tipos de
naves de transporte e o sistema de distribuição. Tentra se encarregaria do
urbanismo e Tali complementaria seu tema anterior, falando das artes e
espetáculos. Ele iria concluir o treinamento falando sobre o sistema religioso.
Depois iniciamos a programação daquele dia maravilhoso e cheio de novidades
como os dois anteriores, tanto com relação aos temas tratados, como pela
agradável surpresa que tivemos na última aula. Elas continuaram até o final da
noite.
Em Arret havia sete classes de naves de transporte e todas
apresentavam a forma de um charuto achatado, ou uma elipse, cujo comprimento
era sempre o triplo da largura, ou o quádruplo da sua altura. Além dos tipos básicos
abaixo, fabricavam outras com vários formatos, voltadas para a execução de
serviços especiais, ou para transporte em locais específicos, como parques,
canteiros de obras e centrais de abastecimento.
As grandes naves do tipo 1, com 1.368 metros de comprimento, 456 de largura
e 342 de altura, eram utilizadas para viagens na Via Láctea ou a outras galáxias.
Elas raramente desciam nos planetas visitados e, normalmente, estacionavam
em órbitas elevadas. O contato com o solo era realizado por naves do tipo 4 ou
menores, abrigadas em seu interior.
As naves do tipo 2, como a Amizade, tinham 456 metros de comprimento, 152 de
largura e 114 de altura. Eram utilizadas para transporte de cargas e para lazer
turístico na Via Láctea ou regiões dela.
As naves do tipo 3, como a SOL-4, com 144 metros de comprimento, 48 de
largura e 36 de altura, eram utilizadas para viagens em regiões da Via Láctea,
com a mesma autonomia e recursos de navegação das naves do tipo 2. Elas
também eram utilizadas para transporte de cargas dentro e fora da atmosfera
arretiana.
Para o transporte de cargas a qualquer região do planeta ou do sistema estelar
arretiano, havia as naves do tipo 4. Elas tinham uma largura de 24 metros, altura
de 18 e um comprimento de 72. Podiam dar uma volta em Arret em menos de
dez minutos e, fora da atmosfera, sua velocidade era espantosa.
As naves do tipo 5 eram utilizadas para o transporte de cargas e de passageiros
em viagens turísticas a qualquer lugar de Arret ou de seu sistema estelar.
Tinham 12 metros de largura, 9 de altura e 36 de comprimento. Dentro da
atmosfera e fora dela, seguiam o mesmo padrão de velocidade das naves do tipo
4.
Como tipo 6, existia uma nave medindo 8 metros de largura, 6 de altura e 24 de
comprimento. Era o ônibus arretiano, por ser largamente utilizada no transporte
de passageiros para qualquer região do planeta, incluindo colônias marítimas,
estações orbitais e satélites naturais.
A última nave media 2 metros de largura, 1,5 de altura, 6 de comprimento e era
conhecida como veículo do tipo 7, ou de transporte familiar e individual. Era o
único lá existente para essa finalidade e seu modelo básico era diferenciado
36
apenas pelas cores do seu interior e pela sua pintura externa, algumas, uma
verdadeira obra de arte.
A distribuição de bens para a população era realizada em
estabelecimentos semelhantes aos nossos supermercados. Os arretianos tinham
acesso a eles através de duas formas distintas. O primeiro caso, em que os direitos
eram iguais para todos, envolvia uma infinidade de produtos necessários à
sobrevivência, bem-estar, conforto e qualidade de vida, como alimentos, vestuário,
equipamentos e utensílios domésticos, roupas e guarnições, dentre outros. Para
obtê-los, bastava ir a um supermercado, registrar a saída dos produtos nos
inúmeros terminais de leitura lá existentes e levá-los para casa sem necessidade de
pagamento.
O segundo caso envolvia os bens não essenciais, como equipamentos
de som e imagem, cabines de teletransporte e veículos do tipo 7. Para obtê-los, o
interessado dirigia-se a outro tipo de estabelecimento, onde se identificava e
retirava o bem que estaria à sua disposição em até duas semanas após a escolha
do tipo, cor ou modelo, desde que tivesse o crédito necessário em horas extras.
Também podia recebê-lo como presente de casamento de seus pais ou padrinhos
que tivessem o respectivo crédito.
As cidades arretianas eram cuidadosamente planejadas para facilitar o
relacionamento, a convivência comunitária e o aproveitamento das horas de lazer.
As avenidas eram muito largas e possuíam um canteiro central arborizado e florido.
Nelas, a cada cem metros, havia ambientes circulares destinados a atividades
culturais e recreativas. As ruas secundárias não tinham canteiro central, mas eram
largas, arborizadas e floridas. Ambas eram destinadas exclusivamente a pedestres
e eram revestidas com pedras planas e um tipo de grama japonesa.
As residências apresentavam sete tipos de plantas e uma área
construída que variava em função da quantidade de quartos. Podia ter de dois a
cinco dormitórios e de 100 a 210 metros quadrados. Quase todas eram térreas e
apresentavam amplas varandas em sua volta. O material básico empregado nessas
construções era a madeira, combinada com resinas plásticas e fibras minerais,
como a de vidro.
Os terrenos residenciais tinham 50 metros de lado e eram
impecavelmente gramados e arborizados. As habitações eram posicionadas do
centro para frente e, na junção dos quatro terrenos que formavam cada quadra,
existia uma piscina com cachoeira, escorregador e outros equipamentos de lazer
comunitário. Um conjunto variável de quadras formava um bairro e cada um deles
era constituído por residências de mesmo formato e mesma quantidade de quartos.
As cores externas eram variadas, predominando os tons claros. A visão das
quadras e dos bairros, além de muito bonita, era um espetáculo de cores, árvores e
flores.
Os prédios públicos, como teatros, cinemas e supermercados, eram
identificados pelo seu formato e cores peculiares. Eles obedeciam a outro padrão
de construção e raramente tinham mais que dois andares. O prédio mais alto de
Arret era o Palácio da Harmonia, com 28 andares, onde ficava instalado todo o
primeiro escalão do governo central do planeta. Ele era muito bonito, tinha a forma
piramidal e sua base era formada por uma estrela de oito pontas. Externamente,
era uma impressionante estrutura de cristal dourado com topo azulado, onde se
localizava o gabinete de Arcthuro. Apesar do baixo índice de incremento
37
populacional, o Ministério da Habitação sempre construía novas cidades, mais para
manter um padrão de idade média das edificações em torno de duzentos anos,
equivalente à expectativa de vida da população.
As artes e espetáculos foi o tema que apresentou menos novidades, pois
a música, o teatro e a dança, em diferentes graus de manifestação, existiam em
planetas de todos os graus evolutivos. Porém, em Arret, a música era tão popular
que era impossível encontrar uma pessoa que não dominasse, pelo menos, um
instrumento musical, os quais eram muito parecidos com os nossos. A dança
clássica era muito popular e também a de salão, no estilo praticado em nosso
planeta na época das grandes orquestras.
O teatro utilizava avançados recursos de cenografia e o cinema, em três
dimensões, era apresentado em grandes telas côncavas, semelhantes às da SOL-
4, as quais reproduziam a realidade de uma forma assustadora, pois até os odores,
o frio e o calor eram sentidos pela platéia. Apesar de terem recursos parecidos em
suas casas, os arretianos preferiam assistir a filmes em locais públicos, tanto pela
oportunidade de contato e convivência com outras pessoas, como pelas palestras
que sempre ocorriam antes de cada espetáculo. Também assistiam a filmes e
documentários realizados em outros planetas, inclusive na Terra.
A aula sobre o sistema religioso contou com a presença dos demais
tripulantes e, antes de iniciar, Antak fez uma breve oração, após a qual observamos
uma luz dourada que se transformou na imagem de Jesus. Antes que se
desfizesse, foi possível ouvi-lo dizer que estava satisfeito com o trabalho em
andamento e que sempre estaria conosco. Todos se emocionaram e Antak fez
alguns comentários sobre a admiração do povo arretiano por aquele ser
maravilhoso. Dentre outras coisas, disse que Jesus, em várias ocasiões, foi o guia
de Ahelohim, o messias de Arret, como Jesus o era da Terra.
Depois, Antak falou sobre a religiosidade do seu povo, a qual atendia
plenamente aos princípios básicos que Jesus veio demonstrar e ensinar em nosso
planeta. Ao mesmo tempo em que ninguém era ligado a uma corrente religiosa,
todos amavam o próximo como a si mesmos e a Deus sobre todas as coisas. Lá
não havia templos ou igrejas e nem pessoas como padres, pastores ou rabinos.
Porém, antes de qualquer espetáculo cultural, sempre ocorriam palestras de cunho
filosófico, proferidas por membros do governo central ou por cidadãos comuns. Os
Arretianos adoravam essas palestras, onde sempre ocorriam fenômenos como
aquele que acabávamos de presenciar.
Ao término da aula, Antak pediu para Tentra falar sobre a viagem a Arret
e divaguei por alguns momentos da sua exposição, pensando nas razões de todo o
trabalho que estavam tendo comigo. Além daquilo que ela estava fazendo, cujo
objetivo era me tranqüilizar, os demais estavam há três dias à minha disposição,
pois não havia percebido nenhuma outra atividade especial na SOL-4. Tentra
captou essas divagações e pediu para me concentrar na sua fala, pois não queria
que eu ficasse inseguro ou preocupado com alguma coisa que acontecesse fora do
padrão e eu a interpretasse de maneira errada. Depois de dizer que mais tarde
conversaria comigo, continuou sua exposição.
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Ela falou que às três horas da manhã a nave entraria em uma espécie de
túnel do tempo, portal ou “xendra”, como alguns conheciam na Terra. O processo
seria comandado pelo SINE e a viagem, de centenas de anos-luz, ocorreria em um
tempo muito curto, pois às cinco horas a SOL-4 já estaria estabilizada e em órbita
alta em relação à superfície arretiana. Durante essas duas horas eu deveria
permanecer em minha cama com a cúpula fechada, para não acordar com dor de
cabeça ou enjoado. Pediu para não ingerir líquidos após a refeição e para urinar
antes de deitar, pois, entre três e cinco horas, a cúpula não abriria ao meu comando
e estaria bloqueada pelo SINE, para minha total segurança.
Após a exposição, Antak falou que ele, Tali, Otento e Salino iriam tomar
as providências para a viagem e combinaram nos encontrar no restaurante, na hora
do jantar. Ao sair, brincou dizendo que iriam trabalhar enquanto a gente se divertia
na Sala das Águas. No caminho, enquanto Oatas e Sathya conversavam mais à
frente, pedi desculpas a Tentra pelas minhas divagações e ela disse que o povo
arretiano não sabia o que era pedir desculpas, pois lá ninguém se ofendia.
Salientou que fez a observação somente para que eu não perdesse nenhum
detalhe importante, como o travamento da cúpula da cama.
Reiterou que iríamos conversar sobre o assunto das minhas divagações
após alguns mergulhos e perguntou se eu concordava em tomar o banho ao
natural, pois queria saber se eu já estava preparado para encarar essa situação
corriqueira para o seu povo, apesar de incomum e cheia de preconceitos e malícias
na Terra. Respondi que ainda me sentia inibido e sem saber como me comportar,
mas que gostaria de tentar e iria me esforçar para não decepcioná-la. Ela me
incentivou e disse que eu iria me sair bem nessa última etapa do treinamento, no
qual tinha recebido boas notas até então.
Não entendi exatamente o que ela quis dizer, mas não tive tempo para
fazer perguntas, pois estávamos chegando à Sala das Águas. Tentra contou a
novidade para Oatas e Sathya, deixando-os contentes com a notícia e eles me
incentivaram a agir naturalmente, como era comum ente as crianças terrestres. No
vestiário, pedi para Oatas me vigiar e "puxar minha orelha" se fosse necessário. Ele
deu uma gargalhada e disse que não precisaria me vigiar, mas estava ansioso para
me ver no ambiente da piscina. Assim que nos despimos, me pediu para ignorar o
fato e disse que tudo iria dar certo.
Quando entramos, Sathya nadava submersa e Tentra estava em pé sob
a cachoeira. Não pude ignorá-la, pois assim que me viu, pediu para esperá-la na
borda da piscina e mergulhou. Entrei imediatamente na água e os poucos segundos
que ela demorou pareceram minutos, pois nesse tempo houve uma luta entre a
parte dos meus pensamentos que teimavam em observá-la e a outra que
recriminava o procedimento.
Ao chegar, ficou em pé e perguntou como estava me sentindo. Disse que
estava envergonhado, pois não tinha conseguido deixar de observá-la. Ela deu uma
gargalhada e pediu para me despreocupar e, se sentisse vontade de olhar, que não
lutasse contra esse pensamento, como estava fazendo naquele momento. Falou
que não se sentiria desrespeitada por ser observada e garantiu que logo eu me
acostumaria, pois a curiosidade inicial se transformaria em um fato corriqueiro.
Tentra afastou-se um pouco e me pediu para observá-la à vontade, até concluir que
ela era igual a todas as mulheres, sem nada de especial ou digno de ser notado.
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Depois, voltou a perguntar como estava me sentindo. Respondi que,
naquelas circunstâncias, não havia razão para me sentir mal, pois ela era uma
pessoa muito querida que, como uma amorosa e paciente professora, estava ali
para me ensinar uma difícil lição, da maneira mais fácil de ser assimilada. Falei que
sentia a necessidade de aprendê-la para continuar o maravilhoso curso que
estavam me oferecendo, com um empenho e dedicação que eu nunca presenciei
na Terra.
Quando terminei de falar, notei lágrimas em seus olhos e pensei ter feito
ou falado alguma coisa errada. Imediatamente ela disse que suas lágrimas eram de
emoção e de felicidade pelo que eu acabara de sentir e dizer. Falou que os
arretianos eram muito emotivos e choravam facilmente em situações como aquela.
Depois me convidou para um mergulho e só então percebi Oatas e Sathya ao
nosso lado, sorrindo e fazendo sinais de aprovação. Nos divertimos bastante e
durante esse tempo minhas sensações iniciais desapareceram. Mais tarde, Tentra
me chamou para uma conversa fora da piscina.
Assim que sentamos, ela disse que aquilo que estavam fazendo
representava uma grande satisfação para eles e que qualquer arretiano faria coisas
semelhantes, mesmo que não houvesse um motivo claro ou especial. Disse que o
livro ou livros, juntamente com outros já publicados e a serem publicados nos
próximos anos, ajudarão muitas pessoas a pensar e a sonhar com um mundo
melhor, mais fraterno e feliz, baseado no serviço impessoal e desinteressado de
recompensas materiais.
Afirmou que o conjunto desses pensamentos e desses sonhos acelerará
o processo cósmico e ajudará a transformar o modo de vida terrestre em algo
parecido com aquilo que vi e iria confirmar durante os levantamentos em Arret.
Tentra estava muito compenetrada, parecendo observar alguma coisa que eu não
via e afirmou que, antes de estarem fazendo algo pela nossa humanidade, estavam
fazendo por eles mesmos.
Enfatizou que era somente o serviço desinteressado que impulsionava o
ser para estágios mais avançados na senda da evolução e afirmou que, se eu
escrevesse o livro, deveria fazê-lo sem esperar reconhecimentos e recompensas
materiais. Também deveria me preparar para receber mais críticas que elogios, pois
boa parte da humanidade terrestre não entenderia a mensagem central e não tinha
interesse em mudar seu modo de vida atual.
Em seguida, perguntou se eu tinha pensado sob esse prisma. Respondi
que sim e afirmei que nunca imaginei escrever o livro para ganhar dinheiro e que as
críticas também não seriam novidades, pois eu seria apenas mais um dos milhares
que já passaram por situações semelhantes. Ela disse que estava satisfeita com o
meu modo de pensar e que ela e os demais iriam me ajudar em tudo que fosse
possível, para que eu colhesse mais rosas que espinhos.
Oatas e Sathya saíram da água e sentaram-se junto a nós. Apesar de
não terem ouvido a conversa, reforçaram tudo que Tentra falou. Ao final, ele
informou que passei nos testes e que, dali para frente, as coisas seriam mais fáceis
para mim. Em seguida, disse que estava na hora de irmos ao restaurante e, por
essa razão, resolvi não fazer perguntas sobre os testes.
Fomos recebidos com palmas, abraços, cumprimentos e os mesmos
incentivos que acabara de ouvir. Disse a eles que estava achando que me
submeteram a um teste real e, se não fosse aprovado, adeus viagem a Arret. Antak
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confirmou minhas suspeitas e informou que os três dias de treinamento tinham esse
objetivo. Falou que não me informou a respeito para não prejudicar meu
aprendizado sobre seu povo e o processo de assimilação das novas regras de
comportamento social.
Aliviado com a notícia, agradeci a todos pelo carinho e paciência que
tiveram comigo. Depois, Tali nos convidou para um brinde, após o qual ingerimos
uma refeição leve. Enquanto nos dirigíamos à Sala do Horto, perguntei a Antak se
ele sabia algo a respeito do meu corpo original. Ele informou que meu corpo dormia
um sono tranqüilo e que suas funções vitais estavam sendo controladas por uma
cápsula sobre o meu quarto, a qual enviava informações para uma das naves do
comando da frota de apoio à Terra e esta as retransmitia ao computador da SOL-4.
Depois de dizer aos demais que logo os encontraríamos, entramos em
uma sala de treinamento. Antak pressionou uma tecla, deu alguns comandos de
voz e logo a tela se iluminou com uma imagem distante da Terra. Seu tamanho foi
aumentando até que vi minha casa, o meu corpo e o de minha esposa, ambos
dormindo. Notei que o relógio marcava meia noite e quinze.
Fiquei impressionado com o fato de estar na nave há quase três dias e o
relógio ter avançado apenas 10 minutos. Imediatamente lembrei da primeira
conversa com Oatas e dos cálculos que fiz. Antak captou meu pensamento e
comentou que dentro de umas duas horas terrestres eu estaria de volta àquele
corpo e me pediu para ficar tranqüilo, pois ele estava sendo muito bem cuidado.
Informou que durante a estada em Arret não haveria condições para vê-lo em
tempo real e perguntou se eu estava satisfeito. Ante a resposta afirmativa, a tela foi
apagada e saímos ao encontro dos nossos amigos.
A conversa foi muito animada e versou sobre a chegada ao planeta e o
início dos levantamentos. O desembarque ocorreria em Agartha, a sua capital, em
um dia equivalente a uma segunda-feira, após a refeição da manhã. No início da
tarde iríamos à sede do governo central, onde ocorreria a reunião com Arcthuro. No
dia seguinte seriam iniciados os levantamentos básicos, previstos para as três
primeiras semanas. Depois haveria outra reunião com Arcthuro, na qual seriam
definidas as etapas seguintes e o dia do meu retorno à Terra.
Mais tarde, uma informação de Antak me deixou surpreso. Disse que o
trabalho de Oatas estava concluído com grandes méritos e que ele iria voltar a fazer
parte da espiritualidade marciana. Falou que Tentra e Salino seriam meus guias em
Arret, juntamente com outras pessoas que lá eu iria conhecer.
Perguntei por que ele iria nos deixar, se tinha dito que seria o meu guia
durante a viagem. O próprio Oatas respondeu dizendo que assim procedeu porque
eu não estava preparado para compreender e aceitar outra alternativa. Se dissesse
que seriam Tentra e Salino, que eu ainda não conhecia, poderia me deixar inseguro
e prejudicar o plano que estabeleceram. Afirmou que não me enganou e que estaria
sempre comigo, pois seu pensamento jamais me abandonaria. Falou que aquela foi
a melhor maneira que encontraram para fazer o contato comigo e perguntou se eu
agiria de outra maneira naquele tipo de situação.
Concordei plenamente com suas justificativas e relembrei que ele
já havia feito muito por mim desde o nosso primeiro contato em 1978. Falei que ele
sempre ocuparia um lugar especial no meu coração, pois nunca o esqueci. Oatas
brincou dizendo que, naquela ocasião, quase revelou o sistema de sustentação e
de propulsão das naves marcianas, tamanha a minha insistência e de um amigo, o
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Luiz Duarte. Aproveitando o clima, Tentra perguntou se eu aceitava que ela e Salino
fossem meus novos guias. Na mesma linha, falei que a pergunta não merecia
resposta e agradeci a todos, relembrando algumas das coisas que fizeram por mim.
Depois, Tentra relembrou alguns detalhes da viagem e disse que, se eu
estivesse com algum receio, por não contar mais com o Oatas, providenciariam
uma cama extra e eu poderia dormir no quarto deles. Agradeci a oferta e assegurei
que não seria necessário. Garanti que o travamento da cúpula não representaria
nenhum problema, pois não tinha o costume de acordar à noite, a não ser para
urinar e, caso isso acontecesse, me desapertaria na própria cama, a menos que
provocasse algum curto-circuito. Eles riram e Salino afirmou que era a melhor coisa
a fazer, pois não havia esse perigo.
Como já estava se aproximando a hora que devíamos nos recolher,
acompanhamos Oatas até a sala onde recebemos nossos corpos ao chegar à nave.
Ficamos abraçados um bom tempo durante as despedidas e ele aproveitou para
fazer algumas recomendações e para prever várias coisas que poderiam acontecer
nos dias, meses e anos seguintes.
Quando ele deitou e fechou a cúpula da cama e seus olhos, entendi
como funcionava a morte nos mundos mais adiantados, onde era tratada como um
fato natural e não guardava a menor semelhança com aquilo que ocorria na Terra.
Tentra e Salino me acompanharam até o meu quarto e ela repetiu sua proposta
anterior. Voltei a dizer que estava tranqüilo e que não queria alterar o plano que
tinham estabelecido. Assim que saíram fiz a higiene noturna, deitei e fiquei alguns
minutos pensando em Oatas, nos dias que passamos juntos e em tudo que ele
previu para acontecer.
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Agartha. Em seguida, a SOL-4 começou a se aproximar do planeta em posição
vertical, com a cabine de comando voltada para ele.
Eu quase nem piscava para não perder nenhum detalhe daquela
operação especial que estavam realizando. Durante quase uma hora fiquei
observando e ouvindo explicações sobre os mais variados acidentes geográficos,
até que paramos sobre a grande ilha de Agartha. Conforme nos aproximávamos do
solo, ficava visível o tráfego de algumas naves e diversos detalhes da cidade.
Quando chegou a uns mil metros do solo, a SOL-4 retomou a posição horizontal e
logo estacionou.
Durante o tempo que a nave permaneceu na vertical e quando mudou de
posição, não houve mudança de sensação ou qualquer tipo de desconforto. Parecia
que a SOL-4 tinha uma gravidade própria, à medida que nada caía das mesas ou
de qualquer outro lugar. Não houve tempo para perguntas a respeito, pois Antak
informou que os veículos deles já estavam a caminho e nos convidou para
desembarcar.
Assim que pisei no solo arretiano, tive uma idéia real das dimensões da
SOL-4. Era um charutão gordo e dourado, quase chegando ao cobre brilhante. Ela
ficava suspensa a um metro do solo e não tinha trens de pouso ou coisa parecida.
Logo minha atenção se voltou para as três pequenas naves ali estacionadas, todas
do mesmo tipo e modelo, com cores e pinturas metálicas diferentes. Eram veículos
do tipo 7 e, como não vi nenhum “motorista”, perguntei quem os tinha trazido.
Salino respondeu que foi o piloto automático dos veículos, obedecendo a um
comando emitido pelo SINE. Eu já estava me acostumando a essas novidades e
passei a observar o enorme aeroporto.
Era uma área quadrada com uns quatro quilômetros de lado, repleta de
arbustos e jardins nas longas e largas faixas que separavam pistas de larguras e
comprimentos diferentes. Seus pisos eram formados por um gramado que parecia
um imenso tapete. Nos quatro lados distinguiam-se construções de diversos
tamanhos e formatos, algumas semelhantes a hangares de aviões terrestres. Havia
três naves como a SOL-4 estacionadas e outras de tamanho menor.
Quando concluí as observações, cada casal se dirigiu aos seus veículos
e Tentra me levou até o deles, cujo nome era Canarinho. Tinha três confortáveis
assentos na frente, outros três atrás e um grande compartimento de bagagens.
Salino me pediu para sentar na lateral dianteira, para melhor apreciar a vista de
Agartha. A pequena nave não tinha volante, câmbio, acelerador, breque e outros
dispositivos próprios dos veículos terrestres, somente pequenas telas e teclados em
frente a cada assento. Parei de observar outros detalhes, pois os veículos dos
nossos amigos começaram a decolar. Pararam a uns 30 metros de altura,
acenaram e saíram a uns duzentos quilômetros por hora.
Em seguida, Tentra apertou uma tecla, deu um comando de voz e logo o
Canarinho se posicionou acima da SOL-4. Obedecendo a outro comando de voz,
começou a se deslocar a uns cem quilômetros por hora. Durante o trajeto notei que
o veículo obedecia a ordens verbais de Tentra ou de Salino para parar, elevar,
baixar, virar, diminuir ou aumentar a velocidade. Além dessas instruções, eles não
prestavam a menor atenção no tráfego e não tocavam em nada. Preocupavam-se
apenas em chamar minha atenção para observar detalhes da cidade, como praças,
mercados, escolas e casas de diversos formatos.
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Logo avistamos e circundamos o Palácio da Harmonia, onde teríamos a
reunião com Arcthuro na parte da tarde. Como vi na SOL-4, era um prédio muito
bonito e emanava uma energia maravilhosa que pudemos sentir. Apesar de não ser
tão grande ou alto, como muitos prédios terrestres, sua estrutura impressionava e
chamava a atenção de maneira hipnótica.
Alguns minutos depois avistamos um conjunto de residências octogonais
e Tentra mostrou a quadra e a casa onde moravam. O Canarinho parou sobre o
local a uns 50 metros de altura e baixou rapidamente, sem transmitir nenhuma
sensação de queda. Fiz uma pergunta a esse respeito e Salino informou que,
quando fossemos visitar uma fábrica daqueles veículos, eu iria conhecer detalhes
do seu mecanismo de compensação gravitacional, o qual inibia as sensações de
queda, de elevação, de acelerações ou desacelerações rápidas.
Assim que descemos, disseram que aquele era o "meu novo lar" e me
pediram para entrar primeiro. Ao me aproximar da porta ela se abriu, dando acesso
a uma ampla sala com dois ambientes que logo se iluminaram com uma luz que
vinha do teto e das paredes, como na SOL-4. Tentra apertou uma tecla e as janelas
ficaram translúcidas, alterando imediatamente a intensidade da iluminação interna.
Antes que fizesse qualquer pergunta, ela me pegou pelo braço e disse que,
enquanto Salino preparava um suco, iria me mostrar a casa e o meu quarto.
Ela era simples e funcional. Tinha três suítes, sala de estar com dois
ambientes, sala de música e vídeo, cozinha, sala de refeições e despensa
conjugada com lavanderia. O quarto deles tinha uma cama de casal e o de Vércia,
sua filha, tinha uma de solteiro. O meu era o de hóspedes, tinha duas camas de
solteiro e as mesmas comodidades daquele que ocupei na SOL-4. O lado externo
da casa era uma grande varanda com mesinhas, cadeiras, poltronas, vasos de
flores e outros objetos.
Como as demais, a casa ficava posicionada quase no centro de um
terreno com um gramado impecável, cercada por muitas árvores ornamentais e
frutíferas. Quando entramos, Salino nos aguardava na sala de música com uma
jarra de suco de frutas e minhas músicas preferidas. Conversamos sobre a "nossa
casa" e, dentre suas várias características, a que mais chamou minha atenção foi a
inexistência de rede elétrica externa.
Mais tarde me levaram até um compartimento na varanda e me
mostraram as duas baterias responsáveis pelo suprimento elétrico. Uma alimentava
a rede elétrica e a outra só entrava em operação em casos de consumo excessivo
ou falha da principal. Elas eram carregadas por painéis fotovoltaicos com o mesmo
formato das placas que formavam o telhado da casa. Eles não eram facilmente
identificáveis, assim como, os coletores solares que aqueciam a água até o ponto
de fervura.
As baterias tinham alta capacidade de armazenamento e grande
durabilidade. A cada cinco anos, a reserva passava para o lugar da principal e era
substituída por uma nova. Aquele sistema, com baterias de menor ou maior
capacidade era utilizado em todas as edificações do planeta, dispensando as
centrais de geração de energia, as linhas de transmissão e as fiações urbanas.
Quando retornamos à sala de música, conversamos a respeito de Vércia e Tentra
falou dela com muito orgulho.
Informou que, pelo fato de viajarem muito, Vércia era filha única, tinha 25
anos, era solteira, trabalhava no Ministério dos Transportes e Distribuição, estava
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em viagem de férias e iria retornar a qualquer momento. Segundo Salino, ela era
parecida com Tentra e também era alegre, carinhosa, comunicativa e brincalhona.
Mais tarde ele disse que faltavam algumas coisas na despensa e sugeriu que
fôssemos ao supermercado, pois iria colocar alguns assuntos em dia e esperar por
Vércia.
Tentra pegou um “carrinho” com duas cestas, apertou uma tecla,
chamou-o pelo nome e ele nos seguiu flutuando até o Canarinho. Tentra abriu a
porta traseira, ele se acomodou no "porta-malas". Durante o trajeto, ela explicou
que os arretianos colocavam nomes nas coisas que os cercavam e os serviam,
independente de pertencerem aos reinos mineral, vegetal ou animal. Falou que as
tratavam com carinho, pois também eram constituídas por energias em evolução.
Os nomes eram sempre associados a características ou semelhanças com seres
dos reinos superiores e exemplificou o caso do seu veículo que, além de voar, as
cores de sua carenagem imitavam aquelas de um tipo de Canário lá existente.
O supermercado era um grande prédio de dois andares em forma
piramidal, com o topo cortado na metade da altura, onde centenas de pessoas
faziam "compras", seguidas por seus carrinhos flutuantes. Durante mais de uma
hora que lá ficamos, a maior parte do tempo foi gasto por Tentra para me
apresentar a seus amigos. Eram homens, mulheres, jovens e algumas crianças que
me impressionaram pela forma educada e adulta com que se portavam. Além disso,
eram muito inteligentes, bem informadas e conheciam várias coisas da Terra.
Tive oportunidade de ver pessoas que representavam o conjunto que
conheci durante o treinamento, desde mulatas até loiras, todas com um bronzeado
impecável. Dentre esses tipos, predominavam as de pele morena e Tentra me
apresentou uma delas, uma moça muito comunicativa, simpática e bonita. Tinha
grandes olhos azuis que muito me impressionaram e ela me pareceu bastante
familiar, apesar de Tentra não ter falado nada além do padrão que utilizou nos
demais casos.
Na volta, por ter percebido minha reação ou porque sabia de alguma
coisa ainda não revelada, quis saber o que achei daquela sua amiga. Discorri sobre
as impressões que tive e perguntei se ela estava me escondendo algo. Ela sorriu e
disse que, como falou em diversas ocasiões, eu teria muitas boas surpresas em
Arret, cada uma no seu devido tempo. Ela concluiu o assunto no momento que
estávamos sobrevoando um bonito parque e me pediu para observá-lo, pois fazia
parte do nosso programa de visitas e levantamentos.
Quando Tentra avistou sua casa, falou que sua filha tinha chegado e,
assim que estacionou o Canarinho ao lado do veículo multicolorido de Vércia, ela
veio correndo ao nosso encontro. Mal desci, ela me deu um abraço e diversos
beijos, além de dizer que estava com muitas saudades. Fiquei surpreso e sem
saber o que dizer. Apenas senti que ela era uma pessoa muito querida, pois nossa
afinidade foi instantânea. Fomos abraçados para a sala de estar e, quando Tentra
entrou, Vércia disse que havia se esquecido dela, deu-lhe vários beijos e sentou em
seu colo. Ela era parecida com Tentra, com os mesmos olhos grandes e verdes,
sardas no rosto e cabelos ruivos, um pouco mais escuros.
Salino juntou-se a nós e o assunto foi a nossa amizade de muito tempo
atrás. Lembraram várias coisas não relatadas na SOL-4 e riram muito de algumas
situações que me envolveram com os três ou com parte deles. Enquanto falavam,
algumas imagens vinham à minha mente e eu não sabia se eram criadas por mim,
45
por eles, ou eram lembranças reais. Como já passava das onze e meia, Salino
perguntou se eu não gostaria de tomar um banho de piscina antes do almoço.
Fiquei indeciso e receoso de tomá-lo na presença dos vizinhos que ainda
não conhecia. Vércia captou meu embaraço e brincou dizendo que eu não poderia
ter uma "recaída", pois sabia dos meus progressos na SOL-4 e não aceitaria uma
resposta negativa. Apesar de não me sentir à vontade, aceitei o convite torcendo
para que os vizinhos não aparecessem. Foi exatamente o que aconteceu, pois
chegamos à piscina e não havia ninguém, inclusive, no vestiário, o que me pareceu
bastante estranho. Acabei gostando da ausência e, enquanto eu "enrolava" para me
despir, os três já estavam prontos, pois o vestiário era unissex.
Chegando à piscina mergulhei imediatamente sem observar os detalhes
daquele ambiente. Fiquei uns três minutos submerso, enquanto Salino, Tentra e
Vércia nadavam ao meu lado. Durante esse tempo notei que a piscina tinha o fundo
e contornos semelhantes à da SOL-4. Emergi no lado oposto da cachoeira e só
então pude observar o local.
A cachoeira tinha uns três metros de altura, uma largura de quatro e um
escorregador semicircular com água corrente em cada lado. A piscina tinha uns 20
metros de largura e o dobro de comprimento. Sua profundidade variava de menos
de um a três metros. O ambiente era semelhante ao da Sala das Águas e era
igualmente bonito. Tentra e Vércia se aproximaram e me convidaram para
experimentar o escorregador. Minha primeira experiência foi um desastre e, na
terceira tentativa eu estava adorando. Repeti a operação várias vezes e continuei
achando muito curioso o fato de nenhum vizinho ter aparecido até aquele momento.
Depois de uma ducha, sentamos na plataforma da cachoeira e vi a moça
que conheci no supermercado caminhando em direção ao vestiário. Vércia gritou
seu nome e foi ao encontro dela. Salino e Tentra sentaram-se ao meu lado e
começaram a conversar, fazendo de conta que não viram e não perceberam nada,
pois falaram somente sobre a importância daquele ambiente para eles e seus
vizinhos. Logo as duas desceram pelo escorregador e nadaram até onde
estávamos. Vércia me apresentou Syndi como sendo sua grande amiga e colega de
trabalho. Salino e Tentra mergulharam e as duas sentaram-se ao meu lado.
Vércia iniciou a conversa e depois permaneceu como ouvinte. Logo sua
amiga mostrou-se uma pessoa simpática, brincalhona e comunicativa, perguntando
uma porção de coisas sobre o Brasil, que ela conhecia muito bem. Imaginei que
estava procurando facilitar nosso diálogo e, da minha parte, aumentava a convicção
que ela também era uma conhecida de outros tempos, apesar dela nada mencionar
a respeito. Apenas mostrou-se muito atenciosa e me tratou como um amigo de
infância.
Logo depois os vizinhos começaram a entrar na piscina ou a ocupar
cadeiras para tomar sol. Syndi nos convidou para um mergulho e assim
permanecemos por alguns minutos. Emergimos próximo do local onde Tentra e
Salino conversavam com algumas pessoas e ela me pediu para sair da piscina. Fui
apresentado a elas e acabei virando o centro das atenções. Todas conheciam os
objetivos da minha estada em Arret e me incentivaram bastante. Também
esclareceram o mistério da ausência geral. Disseram que assim procederam para
que eu ficasse à vontade e me acostumasse com o novo ambiente. Novamente
fiquei impressionado com o nível de preocupação dos arretianos com o bem-estar
alheio.
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A reunião com Arcthuro e o final do dia
Mais tarde voltamos para casa e almoçamos. Novamente notei que
comiam pouco e ingeriam cápsulas de três a cinco tipos diferentes. Depois, fomos
para a varanda conversar até por volta das duas e meia, quando Salino lembrou do
nosso compromisso no Palácio da Harmonia. Perguntei se era necessário mudar de
roupa e eles riram bastante. Disseram que eu estava bem vestido para a ocasião e
que Arcthuro usava o mesmo tipo de roupa, como todos os arretianos em horário de
trabalho. Ao indagar sobre como iríamos até lá, Salino disse que usaríamos a
cabine de teletransporte e, para me tranqüilizar, ele iria à frente, eu em seguida e
Tentra por último. Vércia e Syndi iriam aproveitar para colocar "as fofocas em dia" e
logo saíram.
Fomos até a cabine de teletransporte e Salino selecionou as
coordenadas do Palácio da Harmonia. Apreensivo, perguntei se não havia riscos de
misturar as células com alguma outra coisa, como no filme "A Mosca". Os dois riram
muito, disseram que tinham ouvido falar dele e esclareceram que aquilo era
impossível de acontecer em Arret, mesmo que lá houvesse moscas e uma ou várias
entrassem na cabine.
Ela teletransportava um único ser vivo por vez, independente de
pertencer ao reino humano, animal ou vegetal. A "desintegração" somente ocorria
após um processo de validação baseado na análise do código genético contido no
DNA e só era possível teletransportar conjuntamente com um ser humano, coisas e
objetos provenientes do reino mineral, ou dos reinos superiores, desde que inertes
ou reprocessados, como era o caso das nossas roupas e seus acessórios.
Em seguida, Salino entrou na cabine dizendo que me esperaria "do outro
lado" e, assim que fechou a porta, sumiu em poucos segundos. Na minha vez, senti
uma forte sonolência e logo vi um amplo salão e a silhueta de Salino. Quando sai e
olhei em volta, percebi que lá havia umas três dúzias de cabines. Em seguida, ouvi
a voz de Tentra e nossa conversa foi interrompida pela chegada de Antak e Tali,
enquanto Otento e Sathya caminhavam em nossa direção. Nossos cumprimentos
foram tão efusivos, parecendo que estávamos separados há meses.
Entramos em um elevador panorâmico que permitia observar o saguão
de cada pavimento e subimos até a recepção da presidência, no penúltimo andar.
Durante a curta conversa, Tentra afirmou que eu iria sentir uma energia
maravilhosa quando chegássemos à recepção e, maior ainda, quando entrássemos
na sala de Arcthuro. Disse que até mesmo um “casca-grossa”, como eu me
denominava, não iria ficar imune à energia dele. Quando lá chegamos, a
recepcionista cumprimentou todos pelo nome e pediu que aguardássemos alguns
minutos.
Logo Othíbio entrou na sala, nos abraçou e, após relembrar nosso
encontro na SOL-4, pediu-nos para acompanhá-lo até o gabinete de Arcthuro, no
andar de cima. Subimos por uma escada rolante e saímos diretamente na sua sala.
Ele nos aguardava em uma grande mesa redonda, com cadeiras para mais 48
pessoas. Fiquei paralisado quando o vi, pois uma grande emoção tomou conta de
mim. Ele veio ao nosso encontro e parou na minha frente sorrindo. Assim que me
recompus, estendi a mão e ele, ao invés de apertá-la, me deu um caloroso abraço.
Depois de segurar meus braços à moda romana, disse que estava feliz
com a visita e que, como servidor de Arret e amigo do povo da Terra, iria ajudar em
47
tudo que fosse necessário para que o trabalho alcançasse o êxito esperado. Voltei
a me emocionar e ele colocou a mão direita em meu ombro e disse que, se sentisse
vontade de chorar ou de sorrir, que não segurasse ou disfarçasse esses dois belos
sentimentos da alma humana. Em seguida, se dirigiu a cada um dos demais com
amáveis palavras, sempre seguidas de carinhosos abraços. Depois nos convidou
para sentar bem próximos dele.
Arcthuro tinha uns dois metros de altura, cabelos grisalhos até os
ombros, pele morena, grandes olhos castanhos e rosto sem rugas, apesar de já
estar com 165 anos, 80 deles à frente do governo arretiano. Era uma pessoa de
extrema humildade e sabedoria, de fala mansa, pausada, firme e objetiva,
transmitindo tamanha sensação de confiança, que era impossível imaginar algum
outro sentido em suas palavras, ou deixar de atender qualquer pedido seu.
Assim que sentamos, entrou um robô semelhante ao da SOL-4 e serviu
um copo de suco de morangos para cada um. Arcthuro iniciou a reunião falando
que Arret tinha fortes laços com a Terra, pois o Messias responsável pelo seu povo
era Ahelohim, um dos setenta Messias da Aliança de Sírius, o qual era grande
amigo e colaborador de Jesus, o Messias da Terra. Disse que Ahelohim foi seu guia
e protetor em algumas de suas passagens pelo nosso mundo, incluindo a última.
Jesus, do mesmo modo, também foi guia e protetor de Ahelohim em
algumas de suas missões junto ao povo arretiano, onde passou pelas mesmas
situações que seu amigo enfrentou na Terra. Arcthuro enfatizou que esse era um
dos motivos da afinidade entre os dois planetas e tudo que pudesse ser feito para
transmitir esperança aos que sofrem com o atual modo de vida terrestre, sonham e
esperam por um mundo melhor, compensaria qualquer tipo de sacrifício, por maior
que fosse.
Falou que essa era a razão principal daquela reunião e da operação que
montaram para realizar um trabalho que lançaria mais uma semente no solo da
Terra, cuja germinação ficaria subordinada à vontade divina. Afirmou que, em
breve, a Terra passará por uma grande transição, ou transformação, cujos detalhes,
dia e hora era um segredo do Pai Celestial, para não alarmar Seus filhos e filhas
que serão submetidos ao exame de seleção.
Frisou que o livro ou livros que eu pretendia escrever deveria enfocar a
esperança em um mundo melhor, a felicidade e as dádivas que o Criador distribuirá
abundantemente a todos que superarem as barreiras do mundo competitivo, da
vida e dos prazeres materiais. Falou que, se assim eu decidisse quando voltasse à
Terra, deveria escrever pelo simples prazer, sem me preocupar com sua publicação
e, menos ainda, se traria retorno financeiro, se seria lido por muitos ou por poucos,
ou se seria aceito ou repudiado.
Enfatizou que era importante eu fazer a minha parte e deixar o resto por
conta do Pai Celestial, o único que sabia o dia e a hora propícia para a semente se
transformar em árvore e dar frutos. Lembrou que bastaria escrever com isenção que
a idéia seria registrada nos anais espirituais da Terra e muitas pessoas iriam
acessá-la durante o sono ou períodos de meditação. Disse que estavam prontos
para me ajudar no que fosse necessário e voltou a afirmar que a decisão final de
escrever seria minha, que não seria questionada e que não precisaria manifestá-la
naquele momento. Confirmou que Tentra, Salino e outras pessoas me
acompanhariam durante a estada em Arret e me auxiliariam em qualquer
dificuldade.
48
Depois, disse que já era hora de falar sobre como nasceu a semente e
se estabeleceu aquilo que eu chamava de governo central e como teria acesso às
informações necessárias para conhecer a realidade e o modo de vida do seu povo.
Em seguida, Arcthuro fez um resumo dos acontecimentos anteriores e posteriores à
grande transição arretiana, destacando aqueles que levaram à criação do governo
planetário.
Ele traçou um paralelo entre a situação de Arret, há 722 anos atrás, com
a atualidade terrestre e, o ponto que mais chamou a atenção, relacionava-se com a
profecia do "Homem do Cavalo Branco", citada no início deste livro. Naquela época,
com pequenas variações, Arret era a Terra da atualidade, com um modo de vida
semelhante àquele de 1960 e uma tecnologia mais avançada que a de 1999.
Três anos antes da transição planetária, a mão divina colocou um de
seus servidores na presidência de um país com características semelhantes às do
Brasil. Seu nome era Olintho e, com o apoio de suas poderosas alianças espirituais,
reestruturou aquele país e obteve a admiração e o respeito do seu povo e de muitos
governantes dos demais países. Como seu procedimento estava em sintonia com
as leis divinas, quando sobrevieram os dias da prestação de contas ao Criador e o
caos reinou no planeta, seu país foi um dos que menos danos sofreu.
Com isso, socorreram muitos povos mais atingidos e Olintho acabou se
tornando um líder planetário, auxiliando e coordenando esforços de reconstrução
em quase todos os países, sempre com o apoio irrestrito dos seres espaciais, dos
quais era uma espécie de embaixador. Ele foi eleito o primeiro governante
continental e não viveu o suficiente para assistir à implantação do governo central,
mas lançou a semente que frutificou alguns anos depois.
Mais tarde retornou a Arret com o nome de Hórhium e, no final do
primeiro século, assumiu o governo central e realizou uma grandiosa obra de
consolidação e sistematização dos mais variados aspectos da vida planetária.
Conforme pude entender e relacionar com a profecia citada, esse mesmo ser está
vivendo no Brasil, aguardando o momento que o Pai Celestial definiu para colocar
nossos destinos em suas competentes mãos.
Depois, falou sobre aquilo que imaginaram para facilitar meu
aprendizado, sempre submetendo suas conclusões à aprovação dos presentes.
Esse comportamento era comum a todos os arretianos e demonstrava o respeito
absoluto que tinham pelo livre arbítrio. No final, resumiu a estratégia para propiciar
o conhecimento da atualidade planetária.
Através de visitas e passeios, eu conheceria as atividades básicas de cada um
dos doze ministérios e manteria contato com diversas pessoas, possibilitando
avaliar e sentir o seu grau de satisfação e de felicidade.
Nas próximas três segundas-feiras, das oito horas ao meio dia, eu teria reuniões
de uma hora com cada um dos ministros cujas áreas foram levantadas na
semana anterior.
Na última segunda-feira, às três horas da tarde, voltaríamos a nos reunir para
avaliar meu aprendizado, definir as próximas etapas e marcar meu retorno que,
apesar de previsto para dali a trinta dias, poderia se prolongar por mais dez a
doze.
Quando ele disse que, se estivéssemos de acordo, poderíamos encerrar
a reunião e colocar o plano em execução, concordamos imediatamente e nos
despedimos. Achei que o tempo passou muito rápido e também me senti feliz,
49
otimista e confiante, como nunca estive em minha vida terrestre. Arcthuro era um
ser maravilhoso e sua presença tinha o poder de impregnar as pessoas com uma
parcela de suas qualidades. Ele era a síntese do povo arretiano e, por isso, era
amado e respeitado por todos. Já no andar térreo, cada grupo retornou à sua casa
e Salino acompanhou Antak para ajudá-lo a ajustar o planejamento do programa de
levantamentos, em função de algumas novas colocações feitas por Arcthuro.
Quando chegamos, Vércia e Syndi estavam em casa e perguntaram
sobre a reunião. Fiz um rápido resumo e Vércia concluiu, pela euforia que sentia em
mim, que ela foi ótima e falou que eu precisava relaxar um pouco na piscina.
Conversamos por mais alguns minutos e fui voltando ao normal, sem nunca mais
perder a confiança e o otimismo. Tentra ficou para preparar nosso jantar e esperar
por Salino, pois iriam visitar os pais dela. Nós fomos à piscina, onde conheci outros
vizinhos e conversei bastante com Syndi.
Ela estava com 25 anos, era solteira e trabalhava no Ministério dos
Transportes e Distribuição, juntamente com Vércia. Era a filha mais nova e seus
dois irmãos eram casados e cada um tinha um casal de filhos. Perguntei com que
idade os arretianos se casavam e ela disse que era entre os 18 e 35 anos, mas iria
permanecer solteira, como acontecia com uns vinte por cento da população. Sua
afirmativa estava baseada no fato de não ter assumido compromissos com
casamento ou filhos para aquela vida e que Vércia estava na mesma situação.
Apesar disso, poderiam ter filhos mesmo sendo solteiras, pois esse fato não era
incomum em Arret. Paramos nesse ponto, pois Vércia lembrou que já era tarde e
que Syndi iria até sua casa antes de jantar conosco.
Voltei com Vércia para a nossa casa e logo Salino e Tentra utilizaram a
cabine de teletransporte e saíram. Imaginei que a visita seria em Agartha e me
espantei quando Vércia disse que seus avós residiam no outro lado do planeta.
Logo me reposicionei e compreendi as comodidades que as cabines representavam
e porque os arretianos não davam tanta importância aos seus veículos particulares.
Enquanto aguardávamos a chegada de Syndi, pedi para Vércia falar sobre o
Ministério dos Transportes e Distribuição. Syndi retornou logo depois e as duas
prometeram continuar o assunto após o jantar, quando me transmitiram uma visão
geral do sistema de distribuição de bens, aclarando vários pontos ainda obscuros.
Depois, por lembrança de Vércia, voltamos ao assunto da conversa com Syndi na
piscina. As duas se revezaram e me forneceram informações muito interessantes.
Disseram que os compromissos com casamento e filhos são feitos
durante a permanência no plano espiritual e não são esquecidos quando do retorno
ao físico. Elas não assumiram esses compromissos e disseram que seus
companheiros da vida anterior, que poderiam ser seus parceiros naquela vida,
estavam em missão em outros planetas. O de Syndi estava vivendo na Terra e o de
Vércia estava em outro sistema estelar. Mesmo assim, poderiam se casar com
alguém em situação semelhante ou, o que era mais comum, assim como, poderiam
continuar solteiras e terem filhos, se quisessem e houvesse necessidade.
Informaram que esse tipo de maternidade somente ocorreria se algum
espírito, com o qual tinham grande afinidade, retornasse de uma missão em outro
planeta durante o período em que elas estavam vivendo na matéria. Se esse
espírito, por alguma razão relevante, necessitasse retornar imediatamente ao plano
físico, precisaria da ajuda de pessoas descompromissadas, como elas duas.
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Quando Tentra e Salino chegaram, falaram sobre a visita realizada e
sobre o dia seguinte, quando conheceríamos algumas escolas básicas. Vércia disse
que nos acompanharia e convidou Syndi, que aceitou o convite. Ao dizer que iria
dormir em sua casa e retornaria na manhã seguinte, Tentra interveio e a convidou
para ficar. Justificou que seus pais estavam viajando e que havia duas camas no
quarto de hóspedes. Em seguida, perguntou se eu concordava em dividir o quarto
com ela.
Surpreso com a inusitada situação, respondi brincando com eles. Falei
que concordava, desde que Syndi não se aproveitasse da minha inexperiência
arretiana. Todos riram e ela disse que isso não iria acontecer, apesar de conhecer
minha experiência terráquea, o que motivou novas risadas. Salino também brincou
dizendo que eu ainda não tinha completado 24 horas em Arret e ele não gostaria de
me ver “traumatizado” por uma “solteirona” como ela. Syndi simulou agredi-lo e,
enquanto ele corria para o seu quarto, fomos para o nosso.
Ela disse que sempre dormia naquele quarto quando seus pais viajavam
e por isso, tinha roupas e outros apetrechos em um dos armários. Depois, pegou
um traje de dormir e foi para o banheiro. Durante o tempo que lá permaneceu, fiquei
analisando aquela situação e relembrei a conversa com Tentra na volta do
supermercado. Resolvi não estranhar mais nada que acontecesse, pois, desde o
contato com Oatas, tudo foi uma sucessão de surpresas e novidades.
Quando retornei do banho, Syndi estava em sua cama ouvindo uma bela
música arretiana. Logo abriu os olhos e perguntou se eu não me incomodava com
aquele tipo de música. Respondi que não, pois era muito agradável, e ela disse que
tinha o costume ouvi-la enquanto relembrava os fatos do dia e fazia uma autocrítica
sobre tudo que aconteceu. Perguntei se ela havia se "autocriticado" muito naquele
dia e sua resposta foi negativa. Falou que o dia foi ótimo, que estava muito feliz
com o nosso reencontro e com a possibilidade de me ajudar a conhecer o povo
arretiano, seus costumes e modo de vida.
Ao ouvir a palavra reencontro, esperei ela concluir e falei a respeito da
impressão que tive no supermercado e sobre a sensação que ela era uma
conhecida de outrora. Depois de me observar atentamente, falou que, como Tentra,
Salino e Vércia, também me conheceu em um outro planeta e, sem fornecer
maiores detalhes, disse que as experiências do passado somente deveriam ser
relembradas se tivessem um propósito útil e pudessem contribuir para o
aperfeiçoamento pessoal ou para evitar repetições de erros.
Depois de dizer que o dia seguinte seria muito movimentado e que já era
hora de repousar, perguntou se eu gostaria que ela aproveitasse o restante de suas
férias para nos acompanhar nos passeios e visitas. Respondi afirmativamente e,
brincando, disse que ficaria endividado com mais uma pessoa e não saberia como
pagar a todos. Ela sorriu e falou que os resultados do trabalho seriam suficientes
para saldar as dívidas e ainda me sobraria bastante.
OS LEVANTAMENTOS BÁSICOS
53
área de uns seis quilômetros quadrados, era um maravilhoso centro de esportes e
lazer, com vários equipamentos naturais e artificiais.
Entre as variadas modalidades esportivas, predominavam as aquáticas,
como a natação, o mergulho, a canoagem e um tipo de “jet-ski”, que tanto se
deslocava na superfície como sob a água. Também havia outras atividades de
lazer, como fliperamas, caminhadas, cama elástica, gangorras e balanços. Tal
como já soubera durante as aulas na SOL-4, não praticavam o futebol e outros
esportes de natureza competitiva. O local era freqüentado por milhares de pessoas
e tivemos a oportunidade de conversar com vária delas, todas muito amistosas e
felizes.
Ao entardecer rumamos para a casa de Antak e Tali. Era um pouco
menor que a nossa, com um quarto a menos, pois seus filhos eram casados e
viviam em outros continentes. Otento e Sathya chegaram e começamos a
conversar sobre tudo que aconteceu desde o desembarque. Após o jantar, Tali nos
convidou para assistir a um documentário sobre a grande transição ocorrida há sete
séculos. Adorei o convite, pois além de conhecer um cinema, iria ter uma noção dos
prováveis acontecimentos previstos para o nosso planeta.
Chegamos a tempo de ouvir a costumeira preleção antes de qualquer
espetáculo. Os arretianos freqüentam esses lugares, mais para confraternizar e
ouvir a preleção, do que para assistir ao filme, pois podem vê-lo em suas casas, em
qualquer dia ou horário, na íntegra ou resumidamente. Logo ouvimos o anúncio da
palestrante e do tema da noite: A Justiça Divina. A oradora, muito conceituada entre
os arretianos, era Talita, a Ministra da Educação. Durante a quase meia hora que
falou, a platéia permaneceu em profundo silêncio, como se todos estivessem vendo
as imagens daquilo que ela dizia. Ao concluir, fizeram a costumeira reverência e
Talita se acomodou na platéia. Naquele dia não ocorreu nenhum fenômeno sensível
para mim.
A sala não ficava totalmente escura e as imagens, em três dimensões,
surgiam em uma grande tela côncava com uns sete metros de altura e quase o
triplo de comprimento. Não eram projetadas e pareciam vivas e reais. Era possível
sentir os odores, o frio ou calor, transmitindo uma assustadora idéia de realidade,
especialmente pelo tema do documentário. As imagens eram muito fortes e, se tudo
aquilo ocorresse na Terra, as previsões apocalípticas iriam se realizar
completamente.
Quando chegamos, Tentra disse que poderíamos dormir até um pouco
mais tarde, pois iríamos sair às nove horas para visitar um parque público de
Agartha. Já em nossas camas, conversei com Syndi sobre o filme que muito me
impressionou. Depois, pedi para ela falar sobre sua “alma gêmea” que vivia na
Terra e sobre Olintho, o provável personagem central da profecia do "Homem do
Cavalo Branco".
Ela disse que não se tratava de sua “alma gêmea” e sim um amigo de
grande afinidade. Afirmou que esse conceito exigia um nível evolutivo mais elevado
que o deles e, sem fornecer maiores detalhes, falou que a verdadeira alma gêmea
era a contraparte divina que morava em nossos corações. Disse que passou as
duas últimas vidas como sua esposa e que a decisão de não se casar, não foi
tomada em função dele estar vivendo na Terra, mas pela necessidade que todo
espírito tem de passar por determinadas experiências em algumas de suas vidas,
sem a companhia de um parceiro solidário.
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Falou que, nas duas ocasiões que formaram um casal, se ajudaram na
conquista de objetivos comuns e, como Tentra e Salino, tiveram a mesma profissão.
Informou que, em vidas anteriores, também foi esposa de Salino, que Tentra foi sua
irmã e Vércia, sua mãe. Essa era a principal razão da grande afinidade e união que
existia entre eles. Depois falou sobre Olintho, enfocando o seu caráter impoluto e
sua maneira de agir rígida e justa em momentos críticos, ou extremamente amável
e paternal em outros. Disse que, de acordo com os níveis da hierarquia divina mais
comumente aceitos na Terra, Olintho era um ser Arcangélico e, como tal, dotado de
muitos poderes.
Informou que sua linha evolutiva estava centrada no aspecto “Justiça” da
divindade, o qual conhecia profundamente e era intransigente defensor e aplicador.
Segundo ela, se o Pai Celestial colocasse Olintho na presidência do Brasil, ele
mudaria muitas coisas. Seu governo seria voltado para os interesses legítimos e
para o progresso do povo como um todo, buscando reduzir as desigualdades
sociais.
Depois, perguntou sobre o que mais eu gostaria de conversar. Eu falei
que havia um assunto que não constava do planejamento apresentado por Salino e
que também não sabia se seria tratado posteriormente ou se deveria ou não fazer
parte do livro. Antes de outras informações, ela disse que captou o assunto e que
poderia falar um pouco a respeito. Esclareceu que era um tema muito complexo e
que necessitaria de muitas horas para expor uma idéia acessível à mente terrestre,
constituída segundo outro modo de pensar, de sentir e de agir.
Depois, falou por mais de meia hora sobre o relacionamento amoroso,
quando tirou várias dúvidas em relação à aula na SOL-4 e me deixou com outras,
como ela previu. Opinou que o tema deveria ser tratado no livro, pela sua
importância para a mente terrestre e prometeu fornecer mais detalhes em outras
conversas, pois era um assunto natural para os arretianos, à medida que fazia parte
da criação divina, como elo de união entre dois seres, meio de reprodução e de
evolução da humanidade.
Naquela manhã iríamos conhecer outro local de lazer, denominado como
Parque do Encontro. Antes de continuar, vale ressaltar que os arretianos
nomeavam quase tudo que os serviam ou utilizavam. Os nomes eram sempre
associados a seres, coisas conhecidas, objetivos ou forma de utilização. Aquele
parque era um local de encontros e lá as pessoas passeavam, descansavam e,
principalmente, conversavam. Com uma área superior a oito quilômetros
quadrados, era maior que o balneário visitado no dia anterior. Tinha alguns lagos e
uma infinidade de trilhas e recantos para descanso, em meio a uma abundante
vegetação. Em vários pontos estratégicos, existiam construções térreas com salas
de música e de reuniões para grupos de 6 a 48 pessoas, além de auditórios com
100 a 150 poltronas.
Neles sempre havia alguém falando sobre aspectos da Lei Divina para
uma platéia muito atenta. As palestras duravam uns quinze minutos e o orador,
após concluir seu tema abria espaço para discussões, o que motivava novas
palestras, pois alguém sempre apresentava um outro enfoque sobre o assunto
anterior ou desenvolvia um novo tema. O objetivo do parque não era "andar para
conhecer" e sim "parar para meditar, conversar e incrementar os relacionamentos”.
Havia dúzias de grupos em animadas conversas e também pessoas solitárias e
55
casais em meditação. Além de conhecer boa parte daquele local, conversamos
bastante com vários amigos dos meus anfitriões.
Já em casa, falamos sobre a visita da tarde a uma cidade em
construção, batizada como Lírio do Vale e planejada para abrigar 12 mil habitantes
dedicados à agricultura. Quando Tentra foi preparar a refeição, Syndi disse que ela
e Vércia iriam almoçar em sua casa, pois seus pais tinham retornado de viagem e
elas não nos acompanhariam no programa da tarde, pois iriam visitar duas amigas
que encontraram no parque.
Quando chegamos, Salino sobrevoou o local, forneceu algumas
explicações e pousou ao lado de uma das duas naves idênticas à SOL-4. Elas
serviam de apoio ao pessoal do canteiro de obras e eram utilizadas como escritório,
restaurante e residência de boa parte deles. Fomos recebidos por Kalleb e sua
esposa Shamma, o casal responsável pela execução do projeto. Eles nos levaram
ao interior da nave e fizeram uma exposição do projeto, utilizando sofisticados
recursos de holografia. Fiquei surpreso ao saber que, apesar de pouco mais da
metade do cronograma estar concluído, em menos de 150 dias a cidade estaria em
condições de receber seus moradores.
Acompanhamos a montagem de algumas casas, seu ajardinamento, a
construção de piscinas e vários outros detalhes. Conversei com muitos “operários”
e constatei que, além de cultos, estavam satisfeitos com o trabalho que realizavam.
Tinham variados níveis de especialização e muitos executaram funções “mais
nobres” nos anos anteriores. Alguns foram professores em centros de ensino, como
o CET e, naquele momento, por decisão pessoal, trabalhavam como “operários da
construção civil”.
Os serviços pesados eram executados por naves especiais que
substituíam, com grandes vantagens, os nossos tratores, guindastes e outras
máquinas. Os homens e mulheres que lá trabalhavam, a maioria casais,
executavam diversos trabalhos, desde a operação das máquinas, até detalhes de
acabamento das edificações, incluindo sua decoração. Alguns robôs os auxiliavam
e tudo era muito bem feito e rápido.
Apesar de estarem construindo uma cidade, eles encaravam aquele
trabalho como uma grande diversão, pois parecia que estavam montando um
acampamento de fim-de-semana. Nossa visita acabou se prolongando até o início
da noite, pois ficamos com Kalleb, Shamma e um grupo de “operários” tomando
banho de piscina e conversando sobre detalhes da nova cidade e da vida deles.
Jantamos no local e depois voltamos para casa.
Vércia nos aguardava com um convite para uma peça teatral
humorística. Syndi passaria a noite com seus pais e voltaria para a refeição da
manhã. Chegamos ao teatro quando o orador da noite estava sendo anunciado e
seu tema era a felicidade, em sincronia com a peça a ser apresentada, cujo enredo
era simples e hilariante. Envolvia uma família de quatro membros e um robô que
executava alguns serviços domésticos e cuidava de duas crianças. Ele tinha um
defeito que interferia na sua programação e causava inúmeras confusões. Em duas
ocasiões os atores paralisaram a cena até que a platéia parasse de rir. As situações
não eram tão engraçadas, mas os arretianos riam por qualquer coisa. Muitos riam
das gargalhados dos outros.
Naquela noite senti como os arretianos eram um povo leve e feliz,
parecendo as nossas crianças que morrem de rir com as brincadeiras e trapalhadas
56
dos palhaços circenses. Voltamos para casa e logo fomos dormir, pois segundo
Tentra, o dia seguinte seria bastante movimentado. Iríamos conhecer uma cidade
em início de obras e outra que já estava quase pronta para ser habitada.
Assim que deitei, comecei a pensar em tudo que aconteceu desde o
encontro com Oatas e cheguei até a imagem que Antak me mostrou na SOL-4,
quando visualizei meu corpo original e o de minha esposa dormindo. A imagem me
levou a pensar e a sentir saudades da minha família e, como não havia
possibilidade de contato, uma sensação estranha que misturava solidão, medo e
separação começou a tomar conta de mim. Eu me via sozinho naquele quarto, em
um outro planeta, a centenas de anos luz da Terra e parecia que tinha morrido e
não iria mais retornar ao meu corpo original e aos meus familiares.
Nos meus vinte e seis anos de casado, dormi poucas noites fora de casa
e nunca fiquei sem contato telefônico com minha família, ou sem saber como
contatá-la ou vê-la novamente. Pensei nas várias situações que acometem os
espíritos após a morte e me enquadrei em algumas delas. Depois, passei a avaliar
friamente a situação em que me encontrava, concluindo que estava vivo e que
meus familiares continuavam dormindo na mesma noite em que tudo começou.
Entendi também os motivos de Tentra ao colocar Syndi naquele quarto e que tudo
fazia parte do plano que estabeleceram para evitar situações como aquela e facilitar
minha estada no planeta. Logo depois adormeci.
63
Alteravam a cor, o sabor, o formato, a composição e o teor de vitaminas,
além de eliminar ou diminuir a quantidade de sementes. Também criavam outras
espécies ou variedades, a partir da combinação de duas ou mais delas Como nos
demais lugares de cultivo já visitados, também não utilizavam adubos minerais,
herbicidas e pesticidas.
Quando perguntei a respeito dos pesticidas, disseram que foram
abolidos desde a grande transição, em razão da extinção de “pragas”, insetos e
outros transmissores de doenças vegetais. Informaram que também introduziram
modificações genéticas nas plantas, tornando-as mais saudáveis e resistentes,
principalmente naquelas utilizadas na alimentação humana. Informaram que elas
estavam em constante desenvolvimento e contribuíam para a evolução humana e
vice-versa, formando um ciclo de colaboração e de respeito mútuo, que as
tornavam mais "felizes" e não suscetíveis às doenças.
A exemplo do CET, algumas espécies de frutas, verduras e legumes,
com novo formato, cor ou sabor, também eram novidades para os meus amigos.
Algumas já estavam sendo reproduzidas e logo suas sementes ou mudas seriam
remetidas para plantio em todo o planeta. Outras ainda demorariam vários anos
para atingir o mesmo estágio. Como no CET, os cientistas e técnicos que lá
trabalhavam tinham, pelo menos, o doutorado em diversas áreas, além de cursos
de aperfeiçoamento em planetas mais evoluídos. Almoçamos com nossos anfitriões
e rumamos para outro grande centro de pesquisas.
O CEGEHU - Centro de Estudos da Genética Humana, era outra cidade
universitária, onde estudantes de todo o planeta realizavam cursos de alta
especialização. Ele, juntamente com o CET e o CEPA, eram tidos como os três
centros de estudos e pesquisas mais importantes, onde se reuniam as melhores
mentes científicas do planeta. Após as conversas preliminares e a apresentação do
costumeiro audiovisual, fomos visitar os laboratórios de pesquisa.
Recebi uma aula de anatomia, comparando o corpo humano arretiano
com o terrestre. Havia várias diferenças entre eles e lamentei não conhecer o
assunto para poder melhor interpretá-las. O estômago, intestinos, fígado e rins
eram menores no organismo arretiano e também havia diferenças com relação à
estrutura dos pulmões, composição da saliva, do suco gástrico e de outros líquidos.
Outra se referia ao peso dos dois corpos, de mesma estatura e porte. O arretiano
tinha uma estrutura atômica mais leve, representando cerca de 80 por cento do
nosso, o que modificava minhas previsões a respeito do peso dos amigos da SOL-
4. As diferenças entre os dois cérebro foram difíceis de serem compreendidas e
mais ainda de serem transmitidas.
Para facilitar a tarefa, vamos utilizar dois tipos de microcomputadores
para simular as diferenças. A velocidade de processamento e a capacidade de
memória do nosso cérebro equivalem à de um computador com processador 386 e
4 megas de memória. O arretiano equivale a um Pentium 300 com 128 megas.
Além disso, o espírito, ou o “software”, que opera no cérebro arretiano‚ por ser mais
evoluído, utiliza o ambiente Windows, enquanto o nosso opera em DOS puro. Na
realidade, os dois cérebros eram equivalentes e a maior diferença estava no
espírito que explorava melhor os recursos ainda latentes no nosso.
Aplicando o exemplo ao meu caso, parecia que meu espírito, equivalente
a um sistema operacional DOS, estivesse utilizando um Pentium 200 de 64 megas.
Eu aprendia rápido, tinha maior capacidade de entendimento, de memorização, de
64
análise e de classificação. Porém, não utilizava todos os recursos daquele cérebro.
Se isso fosse possível, demoraria meses ou anos para meu espírito se adaptar e
explorar todo o potencial que tinha à disposição, especialmente, as capacidades
telepáticas, lembranças de vidas passadas e outras coisas sutis.
Também mataram minha curiosidade quanto à produção dos corpos
como aquele que estava utilizando. Mostraram alguns deles e explicaram sua
finalidade. Eram clonados a partir do DNA do usuário, em cilindros de diversos
tamanhos, conforme o porte que deveriam atingir. A maioria era destinada a jovens
e, em alguns meses, podiam obter um corpo com o mesmo potencial daqueles
gerados no ventre materno.
Os clones não eram produzidos para serem andróides. Eram destinados
a pessoas que sofreram acidentes graves e precisavam permanecer na matéria
para concluir a missão planejada para suas vidas. Como tinham o mesmo limite de
vida do original, permitiam a conclusão do trabalho, livrando o usuário de
sofrimentos, dificuldades ou impedimentos provocados por paralisias ou órgãos
danificados.
Na volta, Salino disse que após o jantar iriam visitar seus pais com
Tentra e Vércia, como faziam habitualmente. Voltando às suas brincadeiras, falou
que, a menos que quiséssemos acompanhá-los, poderíamos ficar livres deles por
umas três horas. Syndi retrucou dizendo que, já que ele queria se livrar de nós, iria
me levar a algum lugar do planeta que eu desejasse conhecer.
Chegando em casa fomos para a piscina e, como sempre, nos
divertimos e conversamos bastante com os vizinhos. Vários eram os convites para
visitas em suas casas e Tentra sempre me desculpava, alegando a extensa
programação a ser cumprida. O interessante era que eles a associavam com um
trabalho "estressante, duro e cansativo”. Após o jantar, meus amigos utilizaram a
cabine de teletransporte e nós saímos no Canarinho sem destino certo.
Syndi perguntou onde eu gostaria de ir e falei que queria acompanhar o
“pôr-do-sol” na região do equador. Ela gostou da idéia e logo estávamos no local. A
velocidade foi regulada para compensar a rotação do planeta e pudemos
contemplar um magnífico espetáculo sobre dois oceanos, diversas ilhas e um
continente. Aproveitamos para conversar sobre as visitas do dia, especialmente, ao
CEGEHU e ela se esforçou para esclarecer várias dúvidas. Retornamos a Agartha
em baixa velocidade, para observar a paisagem noturna de balneários, cidades,
florestas e outros atrativos. Já em casa, conversamos um pouco com nossos
amigos e logo fomos dormir.
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Quando os noivos se levantaram e novamente se abraçaram e se
beijaram, foram aplaudidos por todos, pois já estavam casados. A cerimônia durou
uns quinze minutos e, para não dizer que não houve festa, todos brindaram com um
cálice de vinho e ficaram conversando até por volta das sete horas, quando os
convidados se retiraram. Acompanhamos o novo casal até a casa dos pais de
Vivatra, onde se despediram e partiram em férias nupciais.
Voltamos para casa e, após o jantar, Syndi, Vércia e eu fomos ao
mirante de Agartha, onde conversamos sobre o novo enfoque dos levantamentos,
privilegiando os relacionamentos humanos. Depois, comentei sobre a simplicidade
do casamento arretiano, se comparado com as pompas religiosas e as festas dos
casamentos terrestres. Elas disseram que todos eram realizados daquela maneira e
me forneceram informações sobre o significado de cada uma das suas fases.
Disseram que o importante no casamento era a afinidade e a harmonia
necessária para cumprir os objetivos que levaram à união dos dois seres, os quais
iriam repartir o que possuíam de mais sagrado, representado pelas suas naturezas
espiritual e física. O grande objetivo era a ajuda mútua para concluir o trabalho que
se propuseram realizar durante suas vidas e obter os méritos espirituais dele
decorrentes. Na maioria dos casos, como Tentra e Salino, os objetivos eram
idênticos e o casal teria a mesma profissão e os mesmos interesses.
A cerimônia tinha um simbolismo simples e profundo. Os pais eram as
pessoas mais apropriadas para representar o Pai Celestial e, em nome Dele, oficiar
a cerimônia. Os convidados, constituídos por parentes e amigos de grande
afinidade espiritual, além de serem testemunhas e padrinhos, eram aqueles que
iriam ajudar o casal a cumprir seus objetivos de vida. A liberação para iniciar o
trabalho que vieram realizar, estava representada pelo discurso dos pais, pela
colocação dos noivos no ponto central, ou inicial, e pela entrega de um para o outro.
A aceitação da união e a transformação de duas pessoas em um casal
foram simbolizadas nas duas vezes que os noivos se abraçaram e se beijaram. A
pureza de intenções e de ações foi representada pelas flores brancas colocadas em
suas cabeças. A aceitação conjunta da missão e da vontade divina, com humildade,
estava simbolizada no momento em que os dois se ajoelharam e ficaram em
silêncio para ouvir o Pai Celestial. Finalmente, quando se levantaram e foram
aplaudidos, significava que estavam recebendo os incentivos e o apoio necessário
para realizar o trabalho a que se propuseram.
Disseram que não havia casamento civil, contratos matrimoniais ou a
mudança do nome da noiva. Para oficializar o casamento, informavam alguns
dados e o local onde pretendiam residir e trabalhar ao governo central, através do
equipamento de áudio e vídeo de suas casas. Alguns dias antes da cerimônia,
como se fosse o presente de casamento, recebiam a confirmação daquilo que
solicitaram e raramente tinham que escolher algum outro local de residência ou de
trabalho.
Entre a data da confirmação e o final das férias nupciais, o Ministério da
Habitação providenciava uma casa mobiliada e com todas as comodidades
oferecidas a qualquer cidadão, incluindo os bens adquiridos, como cabine de
teletransporte, aparelho de áudio e vídeo, ou outros que ganhassem de seus pais e
padrinhos, ou que tivessem direito e solicitassem. As férias nupciais representavam
um período de adaptação do casal ao novo estilo de vida. Quando retornamos,
Salino e Tentra já estavam dormindo e nós fizemos o mesmo.
69
Visitas a terminais de transportes
Naquela manhã vi, pela primeira vez, uma chuva leve que se prolongou
até perto das sete e meia. Depois, fomos visitar o terminal de transportes externos
de Agartha, o nome oficial do aeroporto onde desembarquei em Arret, pois era
voltado para o transporte de passageiros e de cargas entre planetas e seus
satélites. Durante o sobrevôo, observei várias naves dos tipos 2, 3 e 4 estacionadas
e uma nave do tipo 1, daquelas que raramente são encontradas no solo. Quando
aterrissamos, tivemos a surpresa de ver com o casal responsável pelo terminal, os
demais amigos da SOL-4. Tali disse que sentiram saudades, resolveram fazer a
surpresa e aproveitar para rever Molino e Svindra.
Fomos conhecer o terminal de passageiros, no local onde estava
acontecendo um embarque em uma nave do tipo 2. Tive uma nova e agradável
surpresa ao ver Othíbio. Ele estava saindo com destino a três planetas de sistemas
diferentes e disse que estaria de volta no fim-de-semana, pois não faltaria à nossa
reunião na segunda-feira. Depois de cumprimentar meus amigos, abraçou Syndi
com um carinho especial. Ela me reapresentou Othíbio como sendo seu tio, irmão
de seu pai.
Apesar de já ter recebido essa informação na SOL-4, não tinha feito essa
ligação até aquele momento, o que não deixou de ser uma nova surpresa. Depois,
comecei observar a grande nave que estava estacionada a uns trezentos metros
dali e para a qual se dirigiam muitas pessoas. Era bela, majestosa e assustadora,
mas, se comparada à nave do tipo 1, estacionada um pouco mais à frente, era até
pequena. Othíbio disse que era a Amizade e, como ela iria partir em uma hora,
aproveitamos para conhecer o terminal, cujo funcionamento era semelhante ao dos
nossos grandes aeroportos. As pessoas traziam pouca bagagem e, quando se
apresentavam no balcão, colocavam a mão em uma tela e eram imediatamente
liberadas para embarque.
Pouco antes da partida, acompanhamos Othíbio até o local onde um
veículo o esperava. Ficamos aguardando a decolagem e novamente se repetiu a
cena que observei da SOL-4, com uma diferença. Além das luzes, a Amizade
estava se despedindo com uma suave melodia, enquanto subia lentamente. Ao
atingir uns mil metros, as luzes se apagaram e ela sumiu das nossas vistas em
poucos segundos.
Em seguida, embarcamos em um dos veículos de uso local e fomos ao
terminal de cargas, no lado oposto. Molino circundou a nave do tipo 1 e fiquei
impressionado com o seu tamanho. Disse que ela estava ali para revisão e
introdução de aperfeiçoamentos no seu mecanismo de navegação. Era uma nave
antiga e muito segura que logo se deslocaria para o sistema solar, onde se juntaria
a outras que estavam de prontidão na região da Terra.
No terminal de cargas havia duas naves do tipo 2 sendo abastecidas
para socorrer um planeta que, há poucas semanas, tinha passado por violenta
tribulação, pior que a deles há 722 anos atrás. Uma estava sendo carregada com
alimentos e a outra com equipamentos diversos doados pelo governo central para
ajuda aos povos daquele planeta. Muitos veículos especiais, parecidos com
plataformas flutuantes, carregavam contêineres que entravam e saiam por diversas
aberturas laterais das duas naves.
70
Visitamos os depósitos e as pessoas continuavam o trabalho, apesar de
já passar das onze horas. Molino explicou que, em situações como aquela ninguém
interrompia o trabalho enquanto as naves não estivessem carregadas. Almoçamos
com aquele simpático casal e depois fomos, com os amigos da SOL-4, até o local
onde deixamos nossos veículos. Eles não nos acompanhariam, pois iriam para uma
colônia marítima, onde nos esperariam no sábado à tarde. Syndi e Vércia
convenceram Salino e Tentra a seguir com eles e, assim que saíram, entramos no
Canarinho e fomos visitar o terminal de transportes internos, localizado em uma
área contígua ao terminal onde estávamos.
Nele havia diversas naves dos tipos 4 a 6 e suas instalações eram
semelhantes à do anterior, com dimensões menores, pois era voltado para o
transporte de passageiros e de cargas dentro da atmosfera arretiana, incluindo suas
doze estações orbitais. O esquema de funcionamento era igual ao do anterior, com
maior movimentação de cargas e de passageiros, os quais tinham outras opções de
deslocamento, como o teletransporte e veículos individuais, mas preferiam viajar
em veículos coletivos e aproveitar para incrementar os relacionamentos e fazer
novas amizades.
Conversamos com vários deles e, como em outros locais, alguns
disseram que já viveram em nosso planeta em diversas épocas. Conheci dois
personagens famosos que, como os demais, pediram para deixá-los no anonimato,
pois não se davam à importância que tinham na Terra. A ala de cargas recebia
todos os tipos de bens produzidos no planeta, onde eram armazenados e
encaminhados às centrais de distribuição que deles necessitassem para atender
aos supermercados e lojas de bens adquiridos existentes em sua região. A
movimentação era muito grande, especialmente a de alimentos.
Na volta, Vércia nos convidou para jantar na casa de uma amiga e
resolvemos ficar em casa para ver alguns documentários que eu queira assistir
desde a visita à CIA. Assim que chegamos, Vércia se arrumou e saiu. Após o
lanche, Syndi localizou vários títulos, desde o período anterior à grande transição
até algumas décadas depois. O aparelho mostrou os três níveis de cada um deles,
os tempos individuais e totais de cada nível.
Selecionamos uma seqüência de primeiro nível com duração de quase
duas horas. Os mais antigos mostravam as cidades antes do início do governo de
Olintho e havia poucas diferenças entre elas e muitas da atualidade terrestre.
Depois começou o período sobre o seu governo, como chegou ao poder, o
saneamento que realizou em seu país e suas realizações nos três anos anteriores à
grande transição.
A seguir, começaram as imagens daquele acontecimento, como iniciou,
se desenvolveu e atingiu o seu ápice, em poucas horas de alto poder destrutivo, ou
revitalizador do planeta. A parte final mostrou os trabalhos de apoio aos
sobreviventes e o suporte fornecido pelos espaciais durante várias décadas. A
maioria dos documentários referia-se ao país de Olintho, cujo exemplo acabou
sendo seguido por quase todos os demais.
Já passava das dez horas quando a sessão terminou e Syndi estava
calada há algum tempo, parecendo cansada e que tinha sofrido mais do que eu
com as imagens que avivaram em sua mente sensível, todas as dificuldades que
passou naquele período em que foi uma das sobreviventes. Sem esperar por
71
Vércia, fomos para o quarto, pois ela disse que estava precisando tomar um banho
para relaxar um pouco.
Quando terminei o meu e me acomodei, ela ainda permaneceu fazendo
sua autocrítica e ouvindo as músicas que selecionou. Depois, falou do marido e dos
filhos que perdeu durante os cataclismos e relatou como foram difíceis, e ao mesmo
tempo maravilhosos, os primeiros dias e meses daquele período. Lembrou da
mudança radical de comportamento dos sobreviventes e do modo como os antigos
ricos e pobres passaram a encarar a nova vida e a conviver harmoniosamente.
Em seguida, falou que as sensações que sentiu não se referiam às suas
lembranças daquele acontecimento, mas sim, ao impacto que as imagens
causaram em mim, pela possibilidade de sua ocorrência na Terra. Por essa razão,
precisou utilizar muita energia para neutralizar o efeito negativo que poderia
prejudicar o ajuste do meu espírito ao corpo que estava utilizando. Assegurou que
já estava tudo bem e que era melhor descansar, pois iríamos cumprir a
programação semanal no dia seguinte.
72
Apesar de ter visto a imagem da colônia no telão, levei um pequeno
susto quando deixamos o ambiente das cabines. Estava dentro do mar em um lugar
amplo, mágico e impressionante. A cúpula principal era uma abóbada transparente
com 288 metros de diâmetro e uma altura de 24 metros no ponto central, situado
uns seis metros abaixo do nível do mar. Era protegida por um campo de forças que
mantinha a água afastada da sua superfície, formando um colchão de ar entre ela e
o mar.
Em pontos eqüidistantes havia três túneis inclinados para entrada ou
saída de pessoas e um outro ligado a uma cúpula menor, destinada a
estacionamento de veículos de transporte individual ou coletivo do tipo 6. A cúpula
maior apresentava três conjuntos de quatro semicírculos separados por corredores
que formavam uma cruz. No centro havia uma praça circular e nos semicírculos,
várias suítes, salões de jogos, almoxarifados de equipamentos e de alimentos,
recepção e restaurante. O local era simples e funcional, como todas as instalações
arretianas.
Na parte externa vi muitas pessoas nadando em meio a cardumes com
peixes de vários tipos, cores e tamanhos. Algumas utilizavam um veículo já visto
anteriormente, uma mistura de “jet-ski” e submarino. Fiquei observando os detalhes
daquele impressionante centro de lazer por um bom tempo, enquanto Vércia e
Syndi aguardavam pacientemente. Depois, perguntei por nossos amigos e elas
apontaram para um grupo fora da cúpula. Logo vi Tentra e Salino nadando em
direção a um dos túneis de acesso, onde fomos encontrá-los.
Tentra nos levou ao nosso quarto e Salino foi buscar os escafandros,
combinando nos esperar no mesmo túnel. Como estava muito impressionado com
aquele ambiente, Syndi me acalmou dizendo que os quartos eram completamente
vedados contra um eventual rompimento da cúpula e que eu podia ficar
despreocupado, pois não tinham notícias de acidentes nos últimos duzentos anos.
Colocamos as roupas de mergulho que Tentra deixou nos armários e saímos para
encontrar Salino.
No caminho, recebi algumas "dicas" para facilitar o passeio e tirar o
receio que tinha manifestado com relação aos peixes que vi. Nossos demais
amigos nos esperavam do lado de fora e logo me levaram à superfície, para facilitar
a adaptação à profundidade. Tranqüilizaram-me dizendo que o pulmão arretiano
resistia a longos mergulhos de até 80 metros sem equipamentos especiais e que,
naquele local, a profundidade era de apenas 30 metros. Tive alguma dificuldade
inicial, mas logo me adaptei.
Incentivado pela segurança dos meus amigos, começamos a nos afastar
da cúpula, nadando entre cardumes de várias espécies. Foi uma experiência
inesquecível. Acariciei vários peixes e “cavalguei" um golfinho com uns cinco
metros de comprimento que se entendia perfeitamente com os meus amigos.
Retornamos no final da tarde, tomamos banho, colocamos trajes de passeio e
saímos para conhecer melhor aquele lugar.
Minha primeira surpresa foi ver que, apesar de não mais haver luz solar,
a cúpula iluminava uma grande extensão do mar em sua volta. Ela continuava
transparente e permitia a visão dos cardumes e das pessoas que nadavam a uma
boa distância. Depois, fomos procurar nossos amigos e os encontramos em um dos
salões de jogos eletrônicos, semelhantes a fliperamas, bastante entretidos com
seus brinquedos de alta tecnologia.
73
Os jogos simulavam completamente a realidade, tinham caráter
educativo e quase todos eram baseados em projeções holográficas. Ao mesmo
tempo em que divertiam, ensinavam a planejar uma cidade, dirigir naves, plantar
legumes e outras coisas do cotidiano. Após um leve jantar e um período de
descanso voltamos ao mar, juntamente com a maioria das pessoas lá hospedadas.
Até uns 120 metros da cúpula, a claridade era muito boa. Foi outra experiência
inesquecível.
Retornamos aos nossos quartos antes das dez horas e, enquanto Syndi
foi tomar banho, fiquei ouvindo suas músicas de autocrítica e rememorando alguns
acontecimentos desde a chegada ao planeta. Todos estavam associados às
presenças de Salino, Tentra, Vércia e, principalmente, de Syndi, a não ser na
reunião com Arcthuro e na noite que tive uma sensação estranha. Reanalisei as
razões da sua presença constante e cheguei à mesma conclusão daquela noite.
Porém, ainda encarava o fato de dividir o quarto com ela como algo
incomum e não me sentia à vontade para conversar sobre alguns temas, como o
relacionamento amoroso. Talvez, por essa razão, não mais falamos a respeito
desde o sábado anterior. Quando ela saiu, fui para o banheiro esperando que não
tivesse captado minhas análises e lá continuei pensando no assunto. Concluí que
também cumpri as condições definidas por Oatas e que deveria deixar as coisas
seguirem seu curso normal.
Quando retornei, ela estava na costumeira posição de autocrítica, com
sua cama posicionada em frente à minha, significando que queria conversar. Assim
que me acomodei, disse que captou uma espécie de angústia em mim e que esse
sentimento afetava negativamente meu espírito. Pediu para me desabafar sem
nenhum preconceito ou bloqueio, pois não queria que eu sentisse aquilo
novamente. Depois de realinhar meus pensamentos, resumi tudo que havia
pensado e concluído.
Ela começou dizendo que aceitou dividir o quarto comigo, para que eu
não sentisse solidão e a distância que me separava da Terra e dos meus familiares,
como aconteceu na noite em que se ausentou, propositadamente, para testar e
ajustar o plano que estabeleceram para que eu me sentisse querido, protegido e
tivesse a paz e a tranqüilidade necessária para realizar os levantamentos, pois essa
era a razão principal da minha estada no planeta.
Falou que as minhas preocupações eram motivadas por uma guerra
entre preconceitos e sentimentos, enfatizando que os primeiros eram baseados em
premissas que se alteravam com a evolução dos costumes de cada civilização ou
época. Por outro lado, os sentimentos, como a amizade e o carinho, eram baseados
no amor que, além de eterno e imutável, era a mola propulsora da evolução de
todos os seres e do próprio universo. Por isso, eram muito mais fortes e poderosos.
Quanto ao relacionamento amoroso, reafirmou que se tratava de um
tema natural para eles e que só não voltou ao assunto para não agravar minha
situação. Disse que estava apenas querendo que eu não voltasse a ficar angustiado
e não criasse bloqueios para obter novas informações ou esclarecer dúvidas sobre
aquele assunto que, segundo já dissera, era complexo para a mente terrestre e
deveria ser tratado no livro com a devida profundidade.
Falou que além de Tentra, ainda na SOL-4, ela também sentiu minhas
dificuldades para falar sobre o tema desde o meu primeiro dia em Arret. Finalizou
dizendo que estava esperando um oportunidade como aquela para me tranqüilizar e
74
desbloquear minha mente, pois tentou várias vezes durante o sono, sem muito
sucesso, e que ainda tinha muitas coisas para dizer sobre o entrelaçamento
energético. Agradeci suas palavras, prometi que iria mudar minha maneira de
pensar e afirmei que não iria conseguir realizar o trabalho sem sua ajuda e
presença constante em todos os momentos. Syndi voltou a sorrir e disse que, como
todas as mulheres, apreciava ouvir palavras carinhosas e gostava de se sentir útil.
Na manhã seguinte saímos para um passeio que durou umas três horas.
Como eu estava curioso a respeito do “jet-ski” que alguns hóspedes utilizavam,
providenciaram esses veículos para todos nós. Ele comportava duas pessoas
sentadas lado a lado e tanto funcionava sob a água como na superfície. Andei um
bom tempo como passageiro e logo aprendi a dirigi-lo. Chegava facilmente a 60 por
hora na superfície e, sob a água, sua velocidade era bem menor.
Com as facilidades e comodidades que oferecia, nos distanciamos
bastante da cúpula e dividimos o tempo entre mergulhos, contatos com criaturas
marinhas e passeios pela superfície. Após o almoço voltamos para o mar com
aquele maravilhoso veículo e o tempo passou muito rápido. Quando começou a
escurecer, retornamos às nossas casas e resolvemos não sair naquela noite, pois
Vércia voltaria ao trabalho no dia seguinte. Depois do jantar, conversamos até por
volta das dez horas, quando fomos dormir.
85
anteriormente. Ele falou que estaria nos aguardando na segunda-feira e me pediu
para aproveitar bem o dia seguinte, pois ainda teria muito trabalho pela frente.
O domingo foi bastante movimentado e aproveitamos para visitar vários
locais ainda desconhecidos. Encontramos Arcthuro em três ocasiões, sempre
cercado por várias pessoas. Notei que os freqüentadores pareciam mais felizes e
Syndi justificou que a energia de Arcthuro sempre provocava algum tipo de reação
positiva. Disse que houve uma intensificação da energia amorosa de cada um, em
decorrência do tema da palestra. Aproveitamos aquele dia especial até o último
minuto e retornamos para Agartha apenas para dormir.
89
Antes de Vércia ir trabalhar, definimos as datas e horários para cumprir a
programação em quinze dias. Gravamos os índices e os níveis dos documentários
em um cristal que, ao ser acionado por qualquer equipamento de áudio e vídeo,
selecionaria automaticamente o primeiro documentário ainda não assistido e
mostraria as imagens transmitidas pelos satélites da CIA. Enquanto fui com Syndi à
sua casa buscar algumas coisas que ela queria levar, Tentra providenciou as
reservas nos locais de lazer e Salino marcou as visitas programadas.
OS LEVANTAMENTOS COMPLEMENTARES
93
A programação do fim-de-semana previa os dias livres para atividades
de lazer e as noites para a pesquisa histórica. Nosso chalé ficava próximo a uma
das praias da ilha central, em um local bastante arborizado. Quando estacionamos
o Canarinho, além de Vércia, que já era esperada, encontramos os demais amigos
da SOL-4.
Conversamos sobre as novidades da semana, demos muitas risadas e
depois fomos para o mar com os veículos aquáticos. Meus amigos me levaram a
diversos pontos, em visitas rápidas, para que eu pudesse ter uma visão geral e
escolhesse os locais que iríamos explorar detalhadamente até o dia seguinte.
Saboreamos um almoço preparado por Tali, Sathya e Tentra, conversamos mais
um pouco e saímos para o passeio da tarde.
Lá pelas cinco horas, Syndi, Vércia e eu retornamos ao chalé para
reiniciar a pesquisa histórica. Os documentários referiam-se aos trabalhos de apoio
aos sobreviventes no período de três a dez anos, quando estava quase concluído o
processo de montagem da estrutura industrial básica para auto-suficiência do
planeta, com o irrestrito apoio dos espaciais. Sem eles, suas naves e sua
tecnologia, o processo teria demorado dezenas de anos para atingir o estágio em
que se encontravam.
Em dois dos continentes equatoriais houve unificação dos países,
inclusive do novo idioma. O primeiro foi aquele onde se localizava o país de Olintho,
eleito seu governante. Esse foi o embrião do governo planetário e, não fosse sua
morte no décimo ano, o processo teria se acelerado. Ele foi substituído por
Nunzain, um homem de grande sabedoria e liderança, que deu continuidade ao seu
trabalho com grande empenho e retidão.
O domingo foi muito relaxante e visitamos vários recantos daquele
belíssimo balneário, além de conversamos bastante com os freqüentadores. Como
em outros lugares, procuravam me incentivar e todos encaravam minhas atividades
como sendo um trabalho “duro e cansativo”. Para mim, era o mais puro lazer e
divertimento, mesmo tendo que cumprir um programa com certa rigidez.
Jantamos em um restaurante da ilha central e depois Vércia e nossos
amigos retornaram para Agartha. Salino e Tentra saíram para aproveitar a bela
noite do balneário e nós voltamos ao chalé para retomar a pesquisa histórica.
Assistimos a menos de três horas de documentários sobre o apoio aos
sobreviventes, entre os anos 10 e 22.
Nunzain tornou-se um líder planetário, cujos exemplos de dignidade e
trabalho foram seguidos pelos demais países. Além dos dois continentes polares, já
eram quatro os continentes equatoriais unificados, restando apenas um, o mais
problemático desde o princípio. Nesse período, mais da metade da população já
falava e escrevia na nova língua e, nos continentes unificados, a produção
comunitária, agrícola ou industrial, era distribuída em função da composição familiar
e todos viviam em harmonia, com um bom nível de qualidade de vida.
O parto arretiano
Fui acordado por Salino, Tentra e Syndi cantando uma música do tipo
“parabéns a você”, pelos meus 30 dias de estada no planeta. Após a refeição,
rememoramos alguns dos principais acontecimentos desde a chegada à SOL-4 e
fomos visitar o hospital de uma cidade industrial do ramo alimentício. Eu estava
bastante curioso, pois, apesar de ter uma boa idéia de como acontecia, ainda não
tinha acompanhado um parto de dentro da piscina. Dois convidados poderiam
assisti-lo e Tentra pediu para Syndi me acompanhar.
As salas de parto tinham duas piscinas interligadas por um corredor e a
água era aquecida à temperatura do corpo. Uma delas era destinada a partos
normais e a outra, com uma mesa anatômica no centro, era utilizada para partos
com indução, ou para a mãe descansar após o parto normal, como era comum. O
ambiente era visível de uma ante-sala, de onde os parentes e amigos
acompanhavam aquele momento especial para os arretianos, semelhante à espera
pelo desembarque de um ente querido que estava ausente por vários anos.
Logo que chegamos, um dos médicos nos levou a uma dessas ante-
salas e, enquanto explicava o processo e como deveríamos nos comportar, um
outro médico entrou com uma futura mamãe, seu esposo, alguns familiares e
amigos. Assim que o jovem casal foi informado sobre o motivo da nossa visita, nos
reconheceram e nos convidaram para assistir ao parto. Essas situações eram
comuns em todos os lugares, em função dos noticiários transmitidos pela CIA.
Savona, a futura mamãe, tinha 25 anos e aquela era a sua primeira
maternidade. Ela disse que nasceria uma menina com cabelos castanhos como os
dela e olhos verdes, como os do pai, além de uma série de outros detalhes sobre a
estatura adulta e feições da filha, pois a avançada medicina arretiana tinha recursos
que embasavam todas as suas afirmações. A conversa foi interrompida pelo médico
que nos pediu para acompanhá-lo até uma sala contígua, onde tomaríamos o
banho anti-séptico e depois entraríamos na piscina.
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Tomamos o banho por último e, quando entramos na sala, o casal
estava mergulhado sob os olhares atentos do médico. Fora da piscina, um outro
médico monitorava Savona em uma mesa de controle, enquanto duas enfermeiras
aguardavam. Logo entramos na piscina com uma delas, pois o parto iria ocorrer em
minutos e sem necessidade de indução, como era mais comum. Assim que
reiniciamos a conversa, Savona começou a sentir contrações sem dor. Recebemos
um escafandro especial, mergulhamos e ficamos observando os cuidados e
carinhos que ela recebia do esposo, do médico e da enfermeira.
Quando ela sentiu uma contração mais forte, pois arregalou os olhos,
observamos a cabeça do bebê. Depois que o médico rompeu o cordão umbilical, a
criança começou a nadar com o pai. Savona se juntou a eles e, em seguida,
passaram para a outra piscina, onde mãe e filha se acomodaram na mesa
anatômica. Permaneceram ali por uns dez minutos, enquanto o médico e a
enfermeira prestavam alguns cuidados às duas.
Durante esse tempo conversamos com o casal e Savona afirmou que
não sentiu dores ou qualquer dificuldade durante o parto. Depois, colocaram mãe e
filha em uma cama flutuante e as levaram até a parede de vidro, para que os
parentes e amigos pudessem observar a criança e conversar com os pais através
de um sistema de comunicações. Alguns minutos depois, as duas foram levadas
para um local onde receberiam os cuidados finais e seriam instaladas em um amplo
apartamento, com todas as comodidades para o bebê, para o casal e para as
visitas.
Em seguida, as piscinas foram esvaziadas, desinfetadas e novamente
cheias, ficando prontas para um novo parto. No restante da manhã visitamos
apartamentos e conversamos com pais, parentes e amigos. O que ficou
evidenciado foi o carinho que dedicavam às mães, aos bebês, aos pais e aos
visitantes, gerando uma energia positiva que contagiava todos.
Voltamos à colônia e, depois do almoço, pegamos os veículos aquáticos
e saímos para um passeio sobre bancos de corais. Retornamos no final da tarde
para uma nova etapa de documentários que abrangiam um período de sete anos,
do 43 ao 49. No final do ano 48, os sete governos continentais e a quase totalidade
da população era favorável à criação do governo central. Nos meses seguintes, os
governantes e suas equipes começaram a se reunir para resolver os últimos
detalhes e definir os critérios para estruturação do novo organismo e escolha da
primeira equipe de dirigentes.
Chegaram rapidamente a um consenso e, na metade do ano 49, houve
uma grande reunião na ilha de Agartha. Como ainda não havia televisão, os
espaciais forneceram o suporte tecnológico, instalaram telões em praças públicas e
o acontecimento foi transmitido para todo o planeta. Depois de emocionados
discursos dos governantes continentais, realizaram uma rápida votação e, quando o
comandante da frota de apoio divulgou os resultados, todos aplaudiram, se
abraçaram e se emocionaram. Essa mesma reação ocorreu nos demais recantos
do planeta e a onda de harmonia, de entendimento e de amor que tomou conta de
todos ocasionou um grande fenômeno.
Ahelohim, o Messias arretiano, se materializou no grande centro de
convenções e transmitiu muitas informações sobre as dádivas que o Pai Celestial
iria distribuir aos seus filhos a partir daquele dia. Também informou que os futuros
governantes seriam por Ele indicados para cumprir a mesma difícil missão que
97
esperava os recém eleitos. A aparição e as palavras de Ahelohim provocaram
tamanho entusiasmo e confiança na população, que tudo foi facilitado. Muitos
problemas potenciais foram facilmente superados e outros nem ocorreram. O
primeiro governante foi Thauro, o mesmo que substituiu Nunzain.
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detalhá-los e transformá-los em programas de ação grupal ou individual. Eram
conselheiros e facilitadores, não controladores.
107
primeiras páginas fossem escritas, eu teria a sensação da estada na SOL-4 e,
posteriormente, entre eles.
Afirmou que, quando chegasse a esse ponto, a conexão seria
completada e eu teria as mesmas lembranças que tinha naquele momento, desde
que me mantivesse no objetivo de compartilhá-las com outros “sonhadores” que
vivem na Terra. Agindo assim, eu seria assistido por eles e por outros seres, além
de contar com a chave representada pelas pessoas, locais, máquinas e objetos que
conheci. Disse que todos, de alguma forma, gravaram imagens e informações em
meu espírito, as quais seriam transmitidas gradativamente à memória consciente.
Novamente, alguns ministros e ministras fizeram colocações sobre as facilidades
que eu teria para concretizar o livro.
Depois, Arcthuro disse que tudo foi cuidadosamente planejado, desde o
contato inicial com Oatas até o momento do retorno à Terra e reentrada no meu
corpo original. Falou que assim procederam para que não houvesse nenhum
impedimento que não decorresse do meu livre arbítrio. O plano envolveu seres
como Oatas, Tentra, Salino, Antak, Tali, Otento, Sathya, Vércia e Syndi, porque
todos conviveram comigo no passado. Arcthuro fez um agradecimento a eles e, de
maneira especial, a Oatas, Tentra, Salino e Syndi, quando os presentes se
emocionaram e houve alguns segundos de silêncio.
Logo comecei a sentir um agradável perfume e notei dois pontos
crescentes de luz oval atrás de Arcthuro. Quando atingiram uns dois metros de
altura, eles se condensaram e se transformaram nas figuras representativas de
Jesus e de Ahelohim. Eles sorriram, começaram a circundar a mesa e, quando
passaram pelo local onde eu estava, senti uma intensa vibração, seguida por uma
grande sensação de paz e felicidade. Ao retornarem à posição inicial, olharam para
todos com um belo sorriso e, sem nada dizer, começaram a se transformar em luz
que foi aos poucos se apagando. Ficou no ar o perfume e sensação que tive.
Fiquei intrigado, pois tinha certeza que tinham transmitido alguma
mensagem que não consegui captar. Antecipando-se à minha pergunta, Arcthuro
disse que eles estavam satisfeitos com o trabalho realizado e que Jesus, quando
passou por mim, expressou que havia chegado o momento de retomar o trabalho
iniciado em 1978, agora em um nível diferente, mas com o mesmo objetivo. Depois,
Arcthuro perguntou se eu tinha entendido a mensagem. Respondi afirmativamente
e muitas coisas do passado desfilaram pela minha mente.
Todos estavam emocionados e felizes com a presença daqueles dois
seres de alta envergadura espiritual e Arcthuro falou deles, especialmente sobre
Jesus, a quem também amavam e respeitavam como a Ahelohim, pois Jesus o
ajudou em muitas de suas aparições e missões junto ao povo arretiano. Por isso, os
povos dos planetas que conheciam o seu difícil trabalho na Terra, estavam juntos
em uma grande cruzada de apoio à nossa humanidade, antes, durante e,
principalmente, após a grande transição, cujo momento estava se aproximando e
iria ocorrer no dia e na hora determinada pelo Pai Celestial.
A seguir, ele falou que a SOL-4 iria partir às seis horas da tarde do
sábado com a mesma tripulação e que eu poderia retornar a Arret em alguns meses
ou anos, dependendo de como as coisas evoluíssem na Terra. Disse que, após
escrever o livro ou livros, seria importante não me preocupar com sua publicação,
divulgação, sucesso ou insucesso. Frisou que essas coisas não estariam mais sob
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o comando da minha vontade, mas sob os cuidados de outros seres, com maior
liberdade e facilidade para esse tipo de avaliação e determinação.
Quando terminou, ele se levantou, agradeceu novamente aos presentes,
aos habitantes de Arret e, em seguida me abraçou e desejou sucesso. A despedida
dos ministros e ministras demorou vários minutos, pois todos tinham uma palavra
de incentivo e de carinho. Meus demais amigos receberam o reconhecimento de
todos e, na saída, Arcthuro lembrou que eu estava com a chave que abriria minha
memória inconsciente após o retorno à Terra e falou que estaria conectado comigo
sempre que eu estivesse pensando ou escrevendo sobre Arret. Essas foram as
últimas palavras daquele ser maravilhoso. Já no saguão do Palácio da Harmonia,
despedimo-nos dos amigos da SOL-4 e marcamos um novo encontro para a hora
do embarque.
112
O RETORNO À TERRA
113
Salino cumpriu sua promessa sem revelar nomes ou países de origem
dos antecessores. Disse que muitos livros e artigos sobre extraterrestres, final de
tempos, operações de resgate e assuntos semelhantes, foram escritos por pessoas
que passaram algum tempo no interior de naves ou em outros planetas. Algumas
delas, por não terem convivido com seres afins, ou por razões de crenças pessoais,
dentre outras, não se recordaram ou não escreveram com isenção a respeito da
experiência que tiveram, ou centraram seus escritos em aspectos pontuais ou
polêmicos.
Algumas trataram somente das catástrofes, sem falar da misericórdia e
do amor que o Pai Celestial dedica a todos os seus filhos e filhas. Seus relatos
serviram mais para amedrontar, do que para transmitir esperança e a visão de um
mundo melhor. Ao enfatizar a transição planetária, não conseguiram transmitir a
idéia real ou aproximada da nova sociedade e do grau de felicidade dos povos que
passaram pelo exame de seleção.
Outras escreveram sobre mudanças dimensionais de difícil compreensão
ou sobre conjuntos de condições que consideraram imprescindíveis para a
“evolução ou salvação do espírito”, como a obrigatoriedade de mudar hábitos
alimentares, de meditar, ou de se isolar em ambientes campestres comunitários.
Salino lembrou que a seleção ou “salvação”, será baseada, exclusivamente, nas
boas qualidades cultivadas no coração de cada um e na forma como respeita e se
relaciona com seus semelhantes e demais seres da criação.
A “salvação” independe de hábitos alimentares, de crenças religiosas, do
tempo de meditação diária e até da "fé em Deus". Basta que o coração seja um
terreno fértil para germinar a semente da irmandade e da fraternidade. Enfatizou
que essas pessoas não foram mal intencionadas ou mentirosas. Elas apenas
cometeram erros ao descrever somente uma parte da realidade que presenciaram,
desconectada de uma visão histórica e sistêmica. Muitas se dedicaram à divulgação
de seus escritos e acabaram criando novas correntes de pensamento e formando
prosélitos com os mesmos padrões sectários e de fanatismo encontrados em
muitas religiões.
Continuou dizendo que, para evitar esses erros, eu deveria escrever
sobre a esperança em um futuro e em um mundo melhor, enfatizando a paternidade
divina e a irmandade planetária, pois esse era o objetivo do exame de seleção e da
prestação de contas ao Criador. Salino falou que ele e os demais acreditavam que
eu iria atingir o objetivo, tanto pela visão geral que tinha sobre o modo de vida do
seu povo, como pela estratégia que utilizaram e pelo roteiro definido com Syndi, o
qual dificilmente eu esqueceria. Disse que bastaria iniciar a redação que as
lembranças iriam surgir cada vez mais nítidas.
Em seguida fomos para o restaurante, onde tomamos uma leve refeição
e nos dirigimos à Sala do Horto. Lá procuraram manter o ambiente descontraído e
Salino fez diversas brincadeiras, permeadas de observações muito importantes
sobre os cuidados que eu deveria observar nos dias e meses seguintes, sempre
corroborado pelos demais.
Disse que eu iria enfrentar uma realidade totalmente diferente dos
padrões arretianos e que deveria voltar a me comportar e a agir como um
terráqueo. Todos foram enfáticos ao dizer que durante a redação e revisão, eu
estaria revivendo o modo de vida deles e correria o risco de não conseguir
reposicionar minha mente dentro dos padrões terrestres. O risco seria maior
114
quando interrompesse a escrita para voltar à atividade de comerciante, a qual não
era mais do meu agrado e nem da minha família.
Tali disse que, apesar de ter facilidades para me adaptar, deveria ficar
atento a essas questões, pois a correta separação e dedicação a cada uma das
duas atividades seria o meu grande teste, maior que aquele a que fui submetido
durante os três dias iniciais. Segundo ela, até que minha situação como
comerciante não fosse convenientemente resolvida, eu deveria manter um perfeito
equilíbrio entre os dois mundos e aguardar, com muita paciência, o desenrolar dos
acontecimentos e a mudança que iria ocorrer na minha vida e na da minha esposa
e filhos.
Mais tarde, Antak lembrou que havia chegado a hora das despedidas, ou
do "até logo mais", e me acompanharam até o local onde iria dormir, deixar aquele
corpo juvenil e retomar minha vida na Terra. Fiz um breve discurso de
agradecimento e os tranqüilizei quanto ao meu estado de espírito e total aceitação
das regras que deveria obedecer a partir daquele momento.
Em seguida, abracei e beijei cada um deles à moda arretiana e disse que
podiam ir para os seus aposentos. Quando se retiraram, coloquei uma música
arretiana suave, regulei a luz ambiente para uma intensidade baixa, me acomodei
na cama e comecei rememorar os acontecimentos, conforme as orientações de
Antak, indo muito além daquilo que ele recomendou.
Naquele corpo, meu raciocínio era muito rápido e tinha enormes
facilidades para criar imagens mentais detalhadas e nítidas. A maioria delas, pelo
tempo que ficamos juntos, estavam associadas a Syndi. Rememorei várias frases
proferidas por Arcthuro nas três reuniões e os motivos de todo o planejamento que
fizeram para que a estada em Arret atingisse os objetivos. Ela era a essência da
chave por ele citada e, além de ser um reencontro de espíritos afins, sua presença
constante visava facilitar as lembranças daquela grande aventura.
Relembrei algumas de nossas conversas e logo visualizei seu rosto
sorrindo e confirmando minhas conclusões. Aos poucos ele foi se apagando e meus
pensamentos se voltaram à minha família terrestre. Assim adormeci e me desliguei
daquele corpo que utilizei durante 44 dias e que me permitiu conhecer e aprender
tantas coisas. Foi uma “morte” tranqüila ao estilo arretiano e com ela obtive a
informação que faltava em meus levantamentos, todos baseados em observações,
sentimentos, vivências ou experiências práticas.
Obrigado por ler este livro. Se gostou, esperamos que leia sua
continuação em ARRET - O Passado do Planeta e que se junte aos sonhadores e
sonhadoras que propagam um ideal de vida semelhante ao arretiano.
Com isso ajudaremos a materializar o sonho representado pela vida,
pela obra, pelas palavras e pelo exemplo de Jesus. Para solicitar ARRET - O
Passado do Planeta leia o último parágrafo da biografia do autor.
Apesar dos direitos autorais deste livro estar devidamente protegido e
registrado na Fundação Biblioteca Nacional, conforme dados na página dois deste
livro, você pode ceder cópias a seus amigos e amigas, pois nosso maior desejo é
divulgar a mensagem nele contida.
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BIOGRAFIA DO AUTOR
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