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Copyright © 2.001 por J. A. DAL COL


Título Original: ARRET - O DIÁRIO DA VIAGEM
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional sob nº 224.272
ISBN nº 85-901892-1-X
Código de barras nº 9788590189213

Edição eletrônica revisada e ampliada - Fevereiro de 2009


Editor: J. A. Dal Col
Editoração eletrônica: J. A. Dal Col
Revisão: Maria Solange D. V. DaI Col e Priscila D. V. DaI Col
Capa: J. A. Dal Col, Tathiana D. V. DaI Col e Bruno do VaI Benes

OBSERVAÇÕES:

Os leitores e leitoras estão autorizados pelo autor a repassar cópias


eletrônicas ou em papel para qualquer pessoa desde que não envolva cobrança ou
favorecimento de qualquer espécie.
O principal objetivo é divulgar uma mensagem de esperança para o
maior número de pessoas possível, antes da ocorrência do exame de seleção
planetário, a “separação do joio e do trigo” prevista por Jesus e por inúmeros
profetas, como São Malaquias, que a prediz para o momento seguinte à morte do
Papa atual e eleição do último Papa, o Pedro Romano.
Qualquer comentário, crítica ou sugestão, bem como, o pedido de
remessa, também gratuito, do segundo livro da trilogia, denominado ARRET - O
Passado do Planeta, poderá ser feito diretamente ao autor, através do site e do e-
mail da Ecovila Vale Dourado, conforme orientações na última página deste livro.
Se você gostar deste livro, vai adorar ARRET – O Passado do Planeta e
vai se emocionar com o grande trabalho que os seres espaciais, os Anjos da
Colheita, realizaram antes, durante e, especialmente, após do exame de seleção
planetário.
Acreditamos que quem ler os dois livros não terá mais nenhum tipo de
medo a respeito da transição planetária, também conhecida como exame de
seleção, separação do Joio e do Trigo, ou como “fim do mundo” e final de ciclo.
Pelo contrário, acreditamos que passarão a desejar que esse grande
evento ocorra o mais rápido possível e que logo floresça em nosso planeta a nova
sociedade, conforme está descrito em ARRET - O Passado do Planeta, que algum
tempo depois se transformará no modelo social descrito neste livro.
Para se urbanizar uma favela com moradias dignas, água tratada, rede
de esgotos, ruas, praças e vários equipamentos para melhorar a qualidade de vida
dos moradores, é necessário, antes, derrubar as edificações existentes, retirar os
entulhos, regularizar o terreno e iniciar as construções em novas bases.
É isso que irá acontecer na Terra e não devemos temer nada que irá
melhorar nossas vidas. Esse é o objetivo da divulgação gratuita desses livros.

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J. A. Dal Col

ARRET
O AMANHÃ DA TERRA

O DIÁRIO DA VIAGEM
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS

PREFÁCIO

RESUMO DO LIVRO

INTRODUÇÃO
Considerações iniciais
A crença em Deus
A crença no renascimento
A crença em outras civilizações
O resumo do processo evolutivo

O SONHO E O INÍCIO DA VIAGEM

A CHEGADA À NAVE
As informações iniciais
O encontro com os tripulantes

OS TRÊS DIAS DE PREPARAÇÃO

A PARTIDA DO SISTEMA SOLAR

O PRIMEIRO DIA EM ARRET


O desembarque e os contatos iniciais
A reunião com Arcthuro e o final do dia

OS LEVANTAMENTOS BÁSICOS
Os três primeiros dias de levantamentos
Visitas a cidades em construção
Visitas a áreas agrícolas
As reuniões ministeriais da segunda semana
Visitas a centros avançados de estudos e pesquisas
Visitas a áreas industriais
Visita à CIA – Central de Informações de Arret
O casamento arretiano e seu significado
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Visitas a terminais de transportes
Visitas a centrais de distribuição de bens
Passeio em uma colônia marítima de cúpula simples
As reuniões ministeriais da terceira semana
Visita ao Centro Hospitalar de Agartha
Visitas a escritórios de planejamento urbano
Passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros
Visita a uma cidade em fase final de construção
Visita ao Ministério das Relações Exteriores
Passeio em um parque de preservação ambiental
A escolha e o passeio do fim-de-semana
As reuniões ministeriais da quarta semana
A segunda reunião com Arcthuro
O planejamento dos novos levantamentos

OS LEVANTAMENTOS COMPLEMENTARES
Passeio no Balneário da Ilha dos Colibris
Visita a uma escola de primeiro grau
Passeio no Parque das Águas
Visita a uma escola de segundo grau
Passeio no Balneário das Ilhas Emendadas
Visita a uma escola de terceiro grau
Passeio em uma colônia de cúpulas múltiplas
O parto arretiano
Visita ao Centro de Reabilitação de Campos Verdes
Passeio no Retiro da Serra Dourada
Novas visitas a áreas agrícolas
Passeio em uma estação orbital
Passeio no Balneário dos Corais
Visita a uma indústria de utensílios domésticos
Passeio na Colônia Marítima da Ilha dos Golfinhos
Nova visita a uma indústria de alimentos
Passeio no Parque da Floresta Tropical
Nova visita à CIA – Central de Informações de Arret
A terceira reunião com Arcthuro
Novo passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros
As últimas horas em Arret

O RETORNO À TERRA

AGRADECIMENTOS
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Agradeço a Deus por tudo que me tem concedido e ao Mestre Jesus
pelo apoio em todos os momentos, principalmente por aqueles em que me carregou
no colo, deixando apenas as suas pegadas na areia.
Agradeço também à minha mãe, esposa, filhos e filhas, por terem sido
os primeiros que acreditaram na idéia do livro e me incentivaram a concluí-lo.
Registro um agradecimento especial à minha esposa Solange, pelas
centenas de horas que dela me afastei para ficar diante do computador, indo para
Arret, como eu sempre dizia.

J. A. Dal Col

PREFÁCIO

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A primeira vez que Dal Col me falou sobre Arret, confesso que fiquei um
pouco assustado. Ainda sem conhecer o texto, pensei comigo: "olha aí o Dal Col se
metendo a escritor". Morando em Alto Paraíso de Goiás, a cerca de 1.300
quilômetros de São Paulo, ele me ligou num domingo pela manhã, dizendo que me
mandaria o texto para que eu lesse. Alguns dias depois, aparece um portador em
casa com dois disquetes e um bilhete. Os dois disquetes continham o mesmo
arquivo, cuidado típico do capricorniano Dal Col para o caso de um deles ser
danificado. O bilhete dizia simplesmente: "Zé da Ninha, leia e critique". Zé sou eu e
Ninha é minha mulher.
Li as primeiras páginas ainda no computador, acreditando que desistiria
logo em seguida. Para minha surpresa, não foi o que aconteceu e me envolvi
profundamente. Entretanto, em virtude do meu dia-a-dia extremamente ocupado,
passei a ler Arret – O Diário da Viagem só nos finais de semana. O tema, a
estrutura inovadora e a cronologia me encheram de entusiasmo. Quando eu
comentava com amigos mais próximos sobre o livro, logo vinha a inevitável
brincadeira: "que viagem, hein!!!". Jamais me impressionei com os comentários,
pois tinha certeza que eram fruto do desconhecimento. A minha convicção de que
Dal Col realmente fez a viagem, e que viveu quarenta e poucos dias em Arret, vem
da coerência do texto, dos detalhes das informações, da profundidade dos diálogos
e da rapidez com que foi escrito.
Acreditar se ele viajou ou não passa a ser uma questão de puro ponto-
de-vista. O próprio Dal Col deixa essa questão em aberto no livro. Penso o
seguinte: como alguém, desprovido da prática literária, pode escrever, nas horas
vagas, um texto tão interessante em pouco mais de três meses? Até onde sei, o Dal
Col jamais teve qualquer manifestação como autor de qualquer obra. Relatórios,
descrições e manuais técnicos dos inúmeros sistemas que desenvolveu e
implantou, foram as únicas coisas que havia escrito. De formação técnica e
profundos conhecimentos de informática, mais especificamente da análise de
sistemas, Dal Col ocupou posições importantes em grandes empresas nacionais e
multinacionais, até que, em 1992, seguindo suas convicções, mudou-se com a
família para Alto Paraíso de Goiás.
Conheci Dal Col, um pouco antes, nos idos de 1978. Desde nosso
primeiro contato, percebi que se tratava de uma pessoa especial, diferente. Dotado
de grande inteligência, entregou-se a um importante projeto espiritual e social. A
busca de um mundo melhor e da qualidade de vida, a crença no amor e no respeito
entre as pessoas e o desprendimento dos bens materiais sempre estiveram em sua
mente e em seu coração. E é justamente disso que trata Arret, um planeta
longínquo onde as pessoas são iguais, se amam e se respeitam, no mais profundo
significado das palavras. Ler Arret – O Diário da Viagem é, sem dúvida, um grande
alento às pessoas que acreditam numa vida melhor e, também, um aprendizado
aos que começam a trilhar o caminho da esperança.
Boa viagem e boa leitura!
José Carlos de Oliveira
Jornalista

RESUMO DO LIVRO
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Uma amiga, depois de ler a versão inicial em arquivo eletrônico,
comentou que Arret tinha tudo a ver com a letra de “Imagine”, de John Lennon.
Apesar de tê-la ouvido muitas vezes, nunca a relacionei com o modo de vida do
povo arretiano.
Pedi para uma outra amiga fazer sua tradução e concluí que ela deveria
fazer parte do livro, como um resumo da sua mensagem básica.
“Imagine” nasceu de um sonho de John Lennon. O Diário da Viagem
nasceu da mesma forma e começou a ser escrito no capítulo intitulado “O Sonho e
o Início da Viagem”. Na página seguinte, a tradução realizada por Mariana Negrini.

Imagine que não existe paraíso


É muito fácil se você tentar
Sem inferno abaixo de nós e
Sobre nós apenas o céu

Imagine todas as pessoas


Vivendo plenamente o dia de hoje

Imagine que não existem países


Não é difícil de imaginar
Não há porque matar ou pelo que morrer
E não há religião também

Imagine todas as pessoas


Vivendo a vida em paz

Você pode dizer que eu sou um sonhador


Mas eu não sou o único
Espero que algum dia vocês se juntem a nós
E o mundo será uma unidade

Imagine que não existem donos ou propriedades


Eu adoraria que você pudesse imaginar
Que não houvesse mais cobiça ou fome
E sim uma irmandade de homens

Imagine todas as pessoas


Compartilhando o mundo todo

Você pode dizer que eu sou um sonhador


Mas eu não sou o único
Espero que algum dia vocês se juntem a nós
E o mundo será uma unidade

INTRODUÇÃO
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Considerações iniciais
Ao terminar a revisão do texto que escrevi entre 31 de janeiro a 9 de
maio de 1999, verifiquei que ele não caberia em um livro com menos de 600
páginas. Ciente das dificuldades que teria para publicá-lo, comecei a separar os
textos que fariam parte deste livro e aqueles que formariam outros dois. Um com
uma visão histórica e evolutiva do modo de vida arretiano e outro sobre a realidade
atual, detalhando os sistemas que formam o macrosistema planetário, com suas
relações e dependências.
Quando concluí o trabalho, remeti disquetes com o texto do Diário da
Viagem a vários amigos, a fim de obter uma opinião sobre a viabilidade do livro.
Enquanto aguardava, escrevi seus capítulos iniciais e defini os subtítulos dos
assuntos descritos nos demais volumes. As pessoas que receberam os disquetes,
além de me incentivarem a publicar o livro, faziam inúmeras perguntas a respeito de
como ele foi escrito. Queriam saber se eu realmente tinha viajado até Arret, se era
algum tipo de psicografia, canalização, inspiração, vivência anterior ou uma
abdução. Minhas respostas sempre foram baseadas nas considerações abaixo.
O texto inicial foi escrito em dezenas de etapas, com inúmeras
interrupções e nos mais diversos horários do dia e da noite. Muitas vezes escrevi
durante poucos minutos livres do horário de almoço. Exceto nos dois fins-de-
semana que não precisava trabalhar a cada mês, as etapas variavam de quinze
minutos a três horas diárias, com interrupções para atender telefonemas, minha
esposa, filhos, netos ou visitas. Também foram freqüentes as paralisações por falta
de energia elétrica, para salvar arquivos, ir ao banheiro, tomar água, café ou para
dar atenção ao nosso cachorro que insistia em ficar ao meu lado.
Após cada interrupção, a redação era retomada sem dificuldades e
poucas vezes precisei ler a última página para dar continuidade a um tema. Quanto
à viagem, é difícil afirmar se ela aconteceu ou não e, para mim, essa questão não é
fundamental. O importante é a essência da mensagem contida no livro: a esperança
em um mundo melhor, mais justo, fraterno e feliz, que pode ser materializado na
Terra em um futuro não muito distante.
Acredito que o texto é o registro de um longo e detalhado “sonho” que,
por um processo de difícil compreensão e explicação, conhecido como “projeção de
consciência”, foi gravado na memória inconsciente e lá permaneceu por um curto
ou longo período de tempo. Por outro processo, também difícil de explicar, as
gravações foram transferidas para a memória consciente durante o período de 31
de janeiro a 9 de maio de 1999. Essas características diferenciam essa experiência
daquelas que são comuns às pessoas que sonham e que também desconhecem o
mecanismo que as levam a sonhar e a se lembrar de fragmentos ou de sonhos
detalhados.
Existem outras possibilidades a serem consideradas. O texto pode ser
atribuído à psicografia ou à sua irmã gêmea, a canalização. Porém, pelo que
conheço dessas duas formas de contato com o mundo espiritual, elas não foram
utilizadas. Além de não possuir esses dons, as duas necessitam de um ambiente
apropriado, preparação prévia, horários convenientes e muita concentração. Além
da possibilidade de ser fruto da imaginação, restam duas outras hipóteses. A
redação pode ser atribuída a um tipo de inspiração ou à lembrança de uma vivência

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anterior. Apesar de possíveis, elas são igualmente difíceis de serem explicadas e
aceitas pelo raciocínio lógico convencional.
Com todas essas dificuldades para definir a origem das informações, é
conveniente não dar importância a esse aspecto e sim à sua mensagem básica. Se
os leitores e leitoras aceitarem esse critério, analisando e comparando o modo de
vida arretiano com o terrestre, poderão tirar muito proveito da leitura. Se isso
acontecer, e esse é o objetivo do livro, poderão se juntar a uma grande legião de
pessoas que pensam e sonham com um mundo melhor, mais justo, fraterno e feliz.
Apenas pensando e sonhando, contribuirão para acelerar o processo
cósmico que transformará o sonho em realidade. Vale lembrar que esse também foi
e é o sonho de Jesus, um ser do nono nível da hierarquia divina, que ofereceu sua
majestosa vida para que um novo céu e uma nova Terra pudessem um dia se
materializar em nosso planeta. Já se passaram quase dois mil anos da sua morte
na cruz e ela, com certeza, não foi em vão. Ele não desceria aos lodaçais
terrestres, de quinto nível, para ensinar a mensagem libertadora da paternidade
divina e da irmandade de todos os seres humanos se não tivesse essa certeza.
Este livro foi escrito em forma de diário para facilitar a ambientação e
levar os leitores e leitoras viajar e vivenciar o modo de vida arretiano. Ele descreve
as principais observações feitas durante os três dias de preparação em uma nave e
nos 41 dias de levantamentos realizados no planeta. O Texto obedece a uma
ordem cronológica que independe dos temas levantados e pode dificultar a visão
sistêmica das atividades planetárias, pois, em um mesmo dia, podem estar
registrados assuntos pertinentes a vários sistemas.
Por essa razão e por aquilo que está relatado no início desta introdução,
um terceiro volume apresentará uma visão sistêmica do planeta, sem personagens
e com inúmeros detalhes não registrados neste livro. Pelas razões a seguir
descritas, O Diário da Viagem apresenta poucas informações sobre o passado do
povo arretiano, especialmente, sobre a grande transição lá ocorrida, cujos detalhes
constituirão um segundo volume. Essas informações não foram omitidas com a
finalidade de direcionar os leitores e leitoras para o novo livro.
Elas o foram porque o Diário da Viagem enfoca a atualidade do planeta e
não o seu passado. Além disso, para que essas informações sejam corretamente
compreendidas, é necessário inseri-las em um contexto histórico apropriado, com
os devidos antecedentes e, principalmente, com todos os acontecimentos
posteriores. Se apresentadas de outra maneira, poderão gerar medos infundados e
invalidar a compreensão da mensagem principal. Por isso, as pesquisas históricas
estão superficialmente citadas, apenas para permitir a continuidade dos assuntos e
para justificar o tempo gasto em seus levantamentos.
O Diário da Viagem não foi escrito para ser apenas uma obra de ficção.
Ele descreve uma civilização que vive em um mundo que representa o amanhã da
Terra e seu objetivo é transmitir esperança às pessoas que sonham, sofrem e
esperam por uma grande transformação em nosso globo, onde haverá um só
rebanho e só pastor, conforme as palavras proféticas de Jesus. Arret representa um
possível cenário do novo céu e da nova Terra, pois é um mundo onde todos se
consideram irmãos e filhos do mesmo Pai Celestial. Lá, todos são tratados com
igualdade, vivem em completa harmonia e liberdade, em uma comunidade
planetária justa, fraterna e feliz.

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A crença em Deus
Para tirar maior proveito das informações contidas neste livro, é
importante acreditar na existência de uma energia criadora, mantenedora e
transformadora do universo. Essa energia pode ser traduzida como sendo Deus,
Pai Celestial, Grande Arquiteto do Universo ou outras denominações particulares de
cada religião ou corrente filosófica. A crença em Deus está na base de todas as
religiões e é o último alento aos céticos nos momentos de dificuldades ou de
sofrimentos, quando os recursos do mundo material não são mais suficientes para
explicar ou resolver os problemas que os afligem.
Deus pode ser representado por três aspectos conhecidos por diferentes
nomes. Nas religiões cristãs, especialmente no catolicismo, eles formam a
Santíssima Trindade, constituída pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Desse
conceito tradicional, infere-se que o poder criador está associado ao Pai, o
mantenedor ao Filho e o transformador ao Espírito Santo.
O poder criador é o responsável pelo aparecimento dessa imensidão de
galáxias que formam o universo conhecido, onde cada uma é constituída por vários
milhões de estrelas de todos os tamanhos e, como o nosso Sol, devem ter seus
planetas. Apesar da ciência defender a hipótese de criação do universo por um
"Big-Bang", é pouco provável que uma grande explosão tenha causado o seu
aparecimento e toda a harmonia e leis que regem as órbitas planetárias ou o
nascimento de um pé de feijão. Vale lembrar que a Terra é habitada por seis
bilhões de seres humanos e por uma infinidade de representantes dos reinos
animal, vegetal e mineral, com múltiplas variedades e ciclos de nascimento, de vida
e de morte perfeitamente definidos.
Dentro dessa visão, a hipótese do "Big-Bang" é pouco provável, pois
parte do princípio que o caos gerou a harmonia e as maravilhas que conhecemos.
Estamos nos referindo somente à Terra, deixando de lado a nossa galáxia, as
demais e o próprio universo. Também é válido perguntar para os seus defensores,
quem foi que criou, juntou o material e acendeu o fósforo?
Ainda dentro do aspecto criador da divindade, quem cria alguma coisa é
considerado o pai ou o responsável pela sua criação. Dessa premissa, inferimos
que Deus é o pai de sua criação e que nós somos Seus filhos, como Jesus se
esforçou para transmitir aos seus contemporâneos e eles a nós. Jesus sempre
centrou suas palavras e ações no ideal da Paternidade de Deus e na irmandade
dos seres humanos.
Assumindo que Deus tudo criou, devemos considerar que o poder
mantenedor é o Seu segundo aspecto, à medida que tudo que é criado deve ser
mantido, pois Deus não cometeria o erro de criar e não manter a Sua criação. Esse
aspecto é aquele que sustenta a forma criada e a mantém viva ou coesa, atuando
desde o reino mineral até o humano e outros superiores. No reino humano, esse
poder controla e mantém alguns sistemas do nosso corpo físico, como o hepático,
cardíaco, digestivo e respiratório, de maneira independente da nossa vontade que
não é capaz de interferir em uma única função desses sistemas.
Nos demais reinos, se tomarmos como exemplo as espécies que formam
as florestas milenares, a existência desse poder é facilmente constatável. Basta
analisar a harmonia e a beleza de uma floresta como a Amazônica e procurar
entender quem ou o que a mantém por tantos milênios com toda a sua pujança e

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diversidade de espécies que nasceram e cresceram sem qualquer tipo de
interferência humana.
Se Deus cria e mantém todas as coisas, Ele não as mantém
indefinidamente como as criou. Tudo está em constante mutação, ou em evolução.
A ciência cética e racional foi a primeira a revelar o terceiro aspecto da divindade e,
mesmo sem associá-lo a uma de suas descobertas, ela o definiu como a teoria da
evolução das espécies, formulada por Charles Darwin. O terceiro aspecto também é
conhecido como o destruidor da forma cristalizada e é aquele que a transforma em
algo mais evoluído e melhor adaptado ao seu meio ou às suas necessidades.
Essas ponderações sobre a trindade divina são essenciais para a correta
compreensão da mensagem contida no Diário da Viagem a Arret. Também é
importante salientar que os atributos divinos não estão limitados a esses três
aspectos. Deus também é o amor, a sabedoria e o poder, assim como é a poesia
dos poetas, a musicalidade dos músicos, a fortaleza dos fortes, a humildade dos
humildes, a arte dos artistas, a sabedoria dos sábios, dentre outros atributos. Nada
existe ou se manifesta sem representar, pelo menos, um dos atributos de Deus.

A crença no renascimento
O conceito do renascimento está associado ao terceiro aspecto da
trindade e é essencial para o entendimento dos demais atributos divinos. Para
compreender a verdadeira essência do amor, da justiça, da bondade e da
paternidade de Deus, é necessária uma crença racional desse conceito. Se assim
não for, torna-se difícil entender os atributos divinos quando analisados sob a ótica
dos contrastes existentes entre as variadas condições de vida dos seres humanos.
Além disso, se considerarmos que uma parte da nossa humanidade entende que se
nasce, vive e morre apenas uma vez, os atributos divinos são ainda mais
incompreensíveis e discutíveis. Vamos analisar alguns exemplos que envolvem as
duas situações.
Em todos os lugares da Terra encontramos pessoas que nascem, vivem
e morrem ricas ou pobres; fisicamente perfeitas ou aleijadas; bonitas ou feias;
inteligentes ou não; com fartura ou sem o mínimo necessário à sobrevivência,
dentre vários outros contrastes. Os ricos que vivem com fartura e são fisicamente
saudáveis constituem a minoria, enquanto seus opostos são a maioria. Quando se
acredita que após a morte o espírito é julgado e pode ser salvo ou condenado pela
eternidade, os contrastes humanos sobressaem e representam condições e
recursos desiguais atribuídos sem critérios de amor, de justiça e de bondade
claramente definidos.
Apesar de não ser assim, não seria ilógico supor que Deus atribui
determinadas condições a Seus filhos e filhas, conforme seu humor, preferências
pessoais e outros fatores comuns aos seres humanos detentores de algum tipo de
poder. É difícil acreditar que um bom pai terrestre trate seus filhos de maneira tão
desigual, dando muito para alguns e quase nada para outros. O Pai Celestial deve
ser, e é, infinitamente superior a qualquer pai que conhecemos, por mais justo e
generoso que seja.
Por outro lado, é difícil compreender os motivos de Deus ao criar um
espírito para morrer nos primeiros dias, meses ou anos de vida. Sob a ótica da
unidade de nascimento, de vida e de morte, podemos concluir que a morte de uma
criança representa uma grande vantagem. Seu espírito enfrentará “o julgamento
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final” sem ter cometido um único “pecado”, bem ao contrário daqueles que, por
viverem várias décadas, poderão ser condenados a “passar a eternidade no fogo do
inferno”.
Além de outras, essas análises formam um emaranhado na mente de
qualquer pessoa que procure estudar e compreender as leis divinas sem
preconceitos ou dogmas. Muitas, ao invés de utilizar o raciocínio lógico e a intuição,
os dois atributos que o Criador nos deu para compreendê-Lo, acham mais fácil
acreditar nas explicações das “autoridades” que dirigem ou representam suas
religiões ou correntes filosóficas. Isso não seria censurável, se essas “autoridades”,
a nível local e planetário, seguissem o mesmo “livro sagrado” e tivessem a mesma
opinião a respeito de um determinado tema.
Quando se compreende o conceito do renascimento e seu embasamento
na Lei da Evolução e na Justiça Divina, deixa-se de imaginar que Deus estaria
zangado ou com algum tipo de problema quando criou a maioria dos espíritos que
vivem sobre a Terra. Passa-se a compreender e a ver, nos corpos imperfeitos e nas
situações de vida adversas, espíritos endividados que estão resgatando o mau uso
que fizeram das oportunidades e faculdades igualmente colocadas à disposição de
todos, conforme suas necessidades de evolução. No caso das crianças falecidas
prematuramente, compreende-se que estavam cumprindo um pequeno período de
aprendizado ou procurando ensinar uma grande ou pequena lição aos seus pais.
Deus, o Pai Celestial, não castiga seus filhos e filhas. Ele sempre os
coloca na situação mais favorável para acelerar seu processo evolutivo, da maneira
mais justa e amorosa possível, em cada tipo de situação individual ou coletiva. O
mesmo acontece com os espíritos colocados em uma condição de vida favorável.
Em nosso mundo, a riqueza e o poder associam-se a condições favoráveis. No
mundo espiritual é diferente e, como regra geral, constituem provas com alto nível
de dificuldades. Por outro lado, podem acelerar a evolução daqueles que não se
deixaram envolver pela ilusão da riqueza ou do poder e cumpriram a missão a que
se propuseram, ou que lhes foi destinada.
Analisando essas situações, é impossível acreditar, sentir e
compreender a divindade e seus múltiplos atributos sem entender a Lei do
Renascimento. Se fizermos um estudo sincero e sem preconceitos, utilizando
apenas a intuição e o raciocínio lógico, não é difícil chegar ao entendimento dessa
Lei e de outras questões fundamentais para a evolução do espírito humano.
A questão chave refere-se à paternidade divina e à irmandade dos seres
humanos. Tente imaginar Deus como o Pai justo e amoroso que é e compare-o
com os pais e mães que você conhece. Em geral, todos são capazes de grandes
sacrifícios para proporcionar alegria, bem-estar, estudo e várias outras coisas aos
seus filhos. Muitos o fazem de maneira exagerada, privando-se de seus gostos ou
necessidades pessoais.
Sem a menor dúvida, Deus é um Pai muito mais justo, amoroso, perfeito,
generoso e sábio, além de não ter as limitações impostas aos que vivem na
matéria. Assumindo essas premissas como verdadeiras, procure explicar os
motivos que levam Deus a proporcionar condições de vida tão desiguais a Seus
filhos e filhas dos mais diferentes lugares da Terra. Leve em consideração que
existem reis e milionários de nascença, assim como, pobres que moram nas favelas
das grandes cidades e em locais isolados ou esquecidos. Avalie também aqueles

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que nasceram com graves problemas físicos e os que nasceram perfeitos, além de
vários outros contrastes possíveis.
Caso ainda não seja possível compreender a Lei do Renascimento,
continue avaliando as razões e tentando explicar racionalmente, sem utilizar um
dogma ou uma questão de fé, as diferenças de habilidades, de caráter, de
inteligência e outras qualidades ou defeitos facilmente identificáveis entre os seres
humanos nascidos em idênticas condições e, muitas vezes, em uma mesma
família. Tente explicar por que Mozart dominava o piano aos quatro anos e por que
tantas pessoas que estudaram e se dedicaram ao mesmo instrumento durante uma
vida inteira, nunca atingiram a habilidade que ele demonstrava em tão tenra idade.
Nem é preciso considerar que a maioria nunca chegou a compor uma única peça
musical de qualquer nível de qualidade.
Se assim não for possível chegar à compreensão da Lei do
Renascimento, é provável que Deus ainda não julgou apropriado transmitir essa
crença à sua mente racional, pois ela não salva e também não causa a evolução
automática do espírito humano. Ela é apenas um facilitador, cujo ponto central é o
amor em suas variadas formas de expressão. O amor impessoal é a maior
conquista do espírito e somente ele o salva de todos os abismos, independente do
tipo de crença ou de religiosidade.

A crença em outras civilizações


É uma atitude egoísta imaginar que somos os únicos seres “inteligentes”
em toda a imensidão do universo, ou dos universos. Todos sabem que vivemos em
um dos menores planetas de uma pequena estrela chamada Sol. Uma boa parcela
entende que o Sol faz parte de uma galáxia e que ela é formada por uma infinidade
de outras estrelas. Uma minoria compreende que, além da nossa Via Láctea, existe
outra infinidade de galáxias que formam o universo conhecido, cujos limites são
ampliados a cada novo instrumento de pesquisa colocado em órbita.
A Terra, se comparada com a imensidão do universo, é menor que um
pequeno grão de areia em uma praia de muitos quilômetros quadrados. Por isso,
voltamos a afirmar que é uma atitude egoísta imaginar que a Terra é o único lugar
habitado por seres “inteligentes”, ou humanos. Essa atitude representa um dos
maiores desrespeitos a Deus e aponta para, no mínimo, um total desconhecimento
de seus atributos e perfeições. Vamos fazer um novo exercício e analisar essa
situação sob a ótica de que só existe vida “inteligente” na Terra.
Até poucos séculos atrás, a ciência e a religião eram unificadas e
julgavam que o sol e as estrelas giravam em torno da Terra. Quem pensava de
forma diferente terminava em uma fogueira. Naquela época, o universo era o "céu"
e se confundia com as estrelas visíveis a olho nu, ou através de pequenas lunetas.
Mais recentemente, com a construção de possantes telescópios e outros
instrumentos montados em artefatos orbitais, a ciência chegou ao conceito atual e
descobriu que o universo está em expansão e é formado por milhões de galáxias.
Se Deus criou essa imensidão há bilhões ou trilhões de anos para ser
parcialmente contemplada pelos astrônomos e astrofísicos que nasceram na Terra
nos últimos 50 anos, sua criação é, no mínimo, uma megalomania e um total
desperdício de espaço. É bom lembrar que, em noites sem lua, sem nuvens e sem
poluição atmosférica, é difícil distinguir mais que duas mil estrelas a olho nu.

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Continuando a imaginar que só existe vida na Terra, concluímos que
Deus, seus Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins cuidam exclusivamente da
humanidade terrestre. Se assim for, podemos deduzir um outro grande conjunto de
falhas, pois nossa sociedade apresenta tantos contrastes e imperfeições, que
reduzem os atributos e a competência desses seres a um nível inferior ao humano.
Quando Jesus falou que na casa do Pai existiam muitas moradas, estava
se referindo a mundos habitados por seres mais ou menos evoluídos que aqueles
que formam a humanidade terrestre. Seu aparecimento na Terra é uma prova da
pluralidade dos mundos habitados e das leis do renascimento e da evolução. Jesus
não foi um filho que Deus criou, escolheu, separou dos demais e deu a ele uma
“educação privilegiada”, tornando-o o "seu favorito" e único representante dos Seus
atributos.
É um grande desrespeito a Deus e a esse ser maravilhoso, pensar que
Ele não trilhou os mesmos caminhos a nós oferecidos. Jesus não é um filho que
adquiriu tamanha sabedoria e outras qualidades de maneira gratuita e sem nenhum
esforço. Quando a Terra estava em formação e nossos espíritos ainda não tinham
sido individualizados no reino humano, Jesus já trilhava os caminhos que hoje
percorremos. Ele evoluiu às custas dos mesmos esforços e sofrimentos que
conhecemos.
Jesus é um irmão mais velho e também o mais experiente, respeitado e
confiável representante dos atributos divinos junto à humanidade terrestre. Desse
ponto-de-vista, é lícito atribuir a Ele tudo que as religiões cristãs lhe conferem,
especialmente, a representação do segundo aspecto de Deus, como o filho, ou o
mantenedor. Pelo que está simbolizado em seu batismo, Jesus também representa
o terceiro aspecto e é o responsável direto pela evolução da nossa humanidade.
Ele demonstrou que nos amava a tal ponto, que ofereceu sua majestosa
vida para acelerar nosso processo evolutivo e, portanto, para nos salvar. Ele
conquistou, por mérito pessoal, todas as suas perfeições, especialmente a do amor,
a maior de todas elas. Jesus demonstrou essa sua importante conquista em todos
os momentos de sua última passagem pelo nosso mundo, a ponto de nos confundir
quanto à maneira como adquiriu tamanho conhecimento e sabedoria. Ele é o
grande exemplo a ser seguido e o maior de todos os heróis que já pisaram nesta
Terra.

O resumo do processo evolutivo


Deus concede idênticas possibilidades de evolução para todos os Seus
filhos e filhas, sem privilégios ou perseguições. Cabe a cada um aproveitar, ou não,
as oportunidades que lhe são concedidas. Todos são avaliados segundo o bom ou
mau uso que fizeram das faculdades ou poderes adquiridos ou concedidos, os
quais definem o seu próximo modo de vida. Quando, ao final de um longo ciclo de
aprendizado, é realizado o exame de seleção da humanidade do planeta, aqueles
que não atingiram o grau necessário, repetirão o curso em um outro orbe.
Lá, se juntarão a uma humanidade mais atrasada, terão uma nova
oportunidade e poderão recuperar rapidamente o terreno perdido. Basta que se
conscientizem do poder e do conhecimento intuitivo que possuem e os utilizem para
ajudar e acelerar a evolução da humanidade nativa do planeta. Porém, se o espírito
continuar sua saga de maldades e repetências, tornando-se uma ameaça para a
evolução dos demais, estará sujeito à mais severa das aplicações da Lei Divina.
16
Nesses casos, os Arcanjos da linha da Justiça aprisionam o espírito
rebelde em um bolha de luz e o lançam na superfície de um planeta em formação.
A crosta incandescente e pastosa, sem o menor vestígio de vida, irá queimar e
transmutar a parte animalizada do espírito e impregnar seu magma com a centelha
divina que estava camuflada em sua animalidade.
Esses espíritos terão que aguardar muitas eras para novamente atingir o
reino humano, pois reiniciarão o processo evolutivo a partir do reino mineral. Depois
de passar pelos reinos vegetal e animal, novamente terão as mesmas
oportunidades concedidas igualmente a todos os espíritos individualizados no reino
humano. Essa é a chamada “segunda morte no inferno de fumo e enxofre” e,
mesmo assim, não representa uma condenação eterna. Deus, o Pai Celestial,
sempre dá mais uma oportunidade aos Seus filhos e filhas, mesmo aos mais
rebeldes.

O SONHO E O INÍCIO DA VIAGEM

Em meados de Janeiro de 1999, em meio à grande crise que atingiu o


Plano Real e a esperança dos brasileiros, comecei a meditar sobre a situação do
nosso país. As notícias não eram animadoras e causavam novas preocupações ao
nosso povo. Naquele período, minha esposa Solange e eu fomos descansar um
fim-de-semana no Vale Dourado, o nosso santuário ecológico em Alto Paraíso de
Goiás. Conversamos bastante sobre aquele momento crítico e também sobre um
texto conhecido como “A Profecia do Homem do Cavalo Branco”, contendo
previsões sobre os homens que ocupariam a presidência do Brasil após a morte de
Getúlio Vargas.
“O Homem do Cavalo Branco”, o mais importante deles, chegaria à
presidência em meio a uma crise e parecia que o momento estava se aproximando.
Durante os dois dias que lá passamos, não consegui desviar meus pensamentos
daquele personagem e sentia sua energia a todo o momento, como se ele estivesse
presente em todos os lugares por onde andei ou fiquei.
Foi naquele fim-de-semana, em estreito contato com a exuberante
natureza do planalto central, que decidi escrever um livro sobre aquela profecia,
sem saber ao certo por onde ou como iniciar. Durante a semana tive muitos
afazeres e, apesar de algumas tentativas, não consegui escrever nada que me
agradasse, Tampouco consegui definir um roteiro ou uma maneira de escrever
sobre o assunto.
No sábado seguinte, 30/01/1999, a segunda noite de lua cheia do mês,
apaguei tudo que havia escrito e resolvi recomeçar, registrando as idéias que
viessem em minha mente. Escrevi pouco, apaguei muito, reescrevi, tentei fazer um
índice e, como as idéias não estavam fluindo, resolvi parar e adiar o projeto do livro,
colocando a culpa na semana e no dia atarefado que tive.
Deitei por volta da meia noite, adormeci rapidamente e entrei no mundo
dos sonhos para viver a maior das aventuras que meu espírito experimentou até
aquele dia. Ao contrário do que normalmente acontecia, acordei muito bem
disposto, sem a costumeira sensação de sonolência, sem perceber nada de
diferente e sem lembranças de nenhum sonho, como sempre aconteceu na maioria
dos dias da minha vida adulta.
17
Minha esposa já havia saído para abrir nosso mercado naquele Domingo
e, enquanto tomava o costumeiro banho para “acordar”, senti uma grande vontade
de voltar a escrever o livro, com a nítida sensação que as idéias iriam fluir. Logo
que fechei o mercado e terminei o almoço com a família, liguei o microcomputador e
comecei a escrever sobre um tema que estava martelando minha mente naquela
manhã, com um título básico e uma imagem fixa e invertida do globo terrestre.
Logo que escrevi ARRET, o nome do nosso planeta ao contrário, as
primeiras imagens do longo sonho começaram a se movimentar. Pareciam estar
gravadas em minha mente como em uma fita de videocassete e podiam avançar
em velocidade normal, retroceder rapidamente ou serem paralisadas, conforme
minhas disponibilidades de tempo.
Tudo começou na sala da minha casa em Alto Paraíso, como se eu
estivesse acordado e sentado em um dos sofás, observando alguém olhando para
mim com um amigável sorriso. Logo aquele personagem, que me parecia familiar,
perguntou se eu não me lembrava dele. Senti uma forte sugestão mental dizer que
ele era Oatas, um ser espiritual que conheci e tive diversos contatos em 1978, na
capital paulista. Ele confirmou meus pensamentos e disse que seria meu guia
durante a viagem a um planeta de outro sistema estelar, onde eu conheceria o
modo de vida do seu povo e obteria outras informações para registrá-las no livro
que estava pretendendo escrever.
Ao perguntar como sabia dessa minha intenção, ele disse que meu
Guardião o informou e que esperava por aquele momento há algum tempo.
Enquanto procura entender sua resposta, ele disse que eu deveria manter a mente
aberta e tranqüila, pois iria presenciar situações, fatos e coisas ainda distantes da
nossa compreensão atual, porém, reais e realizáveis no futuro do nosso planeta,
em um período não muito distante.
Oatas perguntou se eu não me lembrava de haver falado com outras
pessoas a respeito do espanto que uma simples lanterna de pilhas iria causar no
homem da idade média, ou de 100 a 200 anos atrás. Retruquei dizendo que ele
estava bem informado sobre as coisas que eu fazia ou falava e, mesmo já sabendo
quem ele era, fiz algumas perguntas para confirmar se aquele era o mesmo ser que
contatei nos idos de 1978.
Indaguei se ele era o meu "Anjo da Guarda", se era um ser espiritual, um
morador de outro planeta e também, se tinha outro aspecto "físico". Ele sorriu e
disse que, como me informou naquele ano, tinha vivido na Terra há muito tempo,
que não era o meu “Anjo da Guarda” e sim um amigo de longa data. Reiterou que
era um ser espiritual da hierarquia marciana e voltou a dizer que iria me levar a um
planeta muito parecido com a Terra e que lá conheceria pessoas muito
interessantes, com as quais me sentiria entre amigos, por uma série de razões que
iria compreender mais adiante.
Assim que terminou, falei que deixou de responder uma parte da
pergunta. Novamente ele sorriu e disse que assim procedeu para testar se eu
estava à vontade em sua presença. Frisou que eu precisaria estar muito tranqüilo
para poder conhecer o planeta, caso contrário, não poderia ser levado até lá. Em
seguida, completou a parte pendente da pergunta.
Disse que, quando vivia na matéria, seu aspecto físico era aquele que eu
estava vendo e que seu espírito poderia se revestir de diversas formas, conforme
fosse necessário ou conveniente. Depois perguntou se eu estava pronto para a
18
viagem, justificando que o tempo corria muito rápido e tínhamos ainda vários
assuntos para conversar. Ao olhar para o relógio, observei que ele marcava meia
noite e cinco, a mesma hora que julgava ter adormecido.
Olhei para Oatas e, antes de perguntar por que estávamos conversando
há mais de meia hora e o relógio não marcava esse tempo, ele falou que eu
precisava me acostumar com as novidades que iria presenciar. Disse que o tempo
era uma convenção humana e que o passado, o presente e o futuro existiam
apenas na mente dos povos que habitavam os mundos físicos. No plano onde
estávamos, nossa conversa de 40 minutos terrestres, aconteceu em apenas 5 ou 6
segundos.
Percebendo que fiquei confuso, me pediu para aguardar o momento
apropriado para ter as respostas sobre um grande conjunto de novidades que iria
conhecer ao longo dos 30 ou mais dias que passaria fora da Terra, durante o
período de sono do meu corpo físico. Quando ele terminou, pensei em como uma
noite de sono poderia ser transformada em mais de trinta dias e noites. Fiz alguns
cálculos e concluí que cada segundo de sono equivaleria a uns 400 segundos no
mundo dos sonhos.
Quando ia dizer que estava pronto e como viajaríamos até o planeta,
Oatas falou que meus cálculos estavam bem próximos da realidade e que haveria
tempo suficiente para vários dias extras. Em seguida, respondendo à pergunta que
não cheguei a fazer, disse que iria fornecer algumas informações para não me
deixar com dúvidas ou inseguro quanto à viagem. Se isso acontecesse, o processo
seria interrompido e, como resultado, meu corpo despertaria com uma sensação
estranha e perderia a memória daquilo que meu espírito presenciou.
Pediu-me para meditar sobre tudo que iria ouvir e decidir se estava
disposto ou não a segui-lo. Em resumo, disse o seguinte, repetindo algumas
informações anteriores.
 Iríamos para um planeta parecido com a Terra, incluindo o aspecto físico do
povo que lá vivia. Ele ficava localizado na constelação de Órion, na estrela
central das Três Marias. Eu o batizei como Arret e ao seu povo, como arretianos.
 Para facilitar a interação com os habitantes do planeta, iria receber um novo
corpo físico, uma réplica ou um "clone" do atual, com pequenas diferenças e
aspecto equivalente aos meus 20 anos. Oatas disse que ele teria uma estrutura
atômica mais leve e contaria com um tradutor de linguagem, como se eu
estivesse falando, lendo e ouvindo em português.
 A viagem seria feita em uma nave, depois de um período de adaptação de três
dias, durante os quais receberia muitas informações sobre diversos aspectos do
planeta e do modo de vida de seus habitantes, facilitando o aprendizado
posterior.
 Durante a permanência na nave e no planeta, minha alimentação seria à base de
sucos naturais, frutas e cápsulas de complementos vitamínicos.
 Finalmente, se aceitasse ir em frente, deveria prometer que respeitaria o modo
de vida arretiano, cujo povo vivia feliz em uma grande e fraterna comunidade
planetária.
Ao terminar, salientou que era muito importante eu entender todas as
suas colocações e condições antes de decidir aceitar ou recusar o convite. Se
aceitasse, iria conhecer um povo com o qual sonhei muitas vezes, como também o
fizeram e fazem milhares de pessoas na Terra. Oatas complementou, de maneira
19
solene, que esse também foi o sonho do maior dos seres que já viveu neste
planeta: Jesus.
Quando ele assim falou, notei uma linda e luminosa silhueta que
começou a se formar no centro da sala, clareando o ambiente com raios de luz
dourada e branca. Em minha mente, ouvi uma voz que dizia: "medita sobre tudo
que ouvistes e toma tua decisão. Independente do que decidires, eu estarei sempre
contigo como sempre estive e estou com todos aqueles que sonham e procuram o
bem, a justiça, a verdade e a fraternidade universal. Não tenhas medo e, se
decidires seguir adiante, poderás ajudar mais efetivamente na realização do sonho
de muitos justos que vivem e sofrem nesta terra".
Enquanto ouvia essas palavras, a silhueta foi se concentrando e formou
uma bela figura de Jesus. Alto, tinha olhos grandes da cor de avelã, cabelos ruivos
até os ombros, barba curta e bigode, vestindo um camisolão comprido e branco. A
imagem foi desaparecendo lentamente com um brilho grandioso nos olhos e um
belo sorriso. Fiquei em silêncio alguns segundos meditando sobre as palavras e a
figura de Jesus, o Mestre, a quem denomino carinhosamente de "Chefe".
Quando voltei a atenção para Oatas, ele estava curvado, em atitude de
reverência e respeito. Depois falou sobre Jesus como um ser grandioso, muito
amado e respeitado por povos de inúmeros planetas, não só pelo seu grande
trabalho na Terra, como em outros mundos mais adiantados. Finalizou dizendo que
eu iria ver como ele era querido e muito popular em Arret.
Em seguida disse que, em respeito ao meu livre arbítrio, precisava saber
qual era a minha decisão. Respondi que estava ansioso para iniciar a viagem e que
não a perderia por nada. Garanti que não iria desapontá-lo e muito menos aos
habitantes do planeta, pois não pretendia levar um puxão de orelhas do "Chefe" que
estaria nos acompanhando durante a viagem.
Oatas disse que Jesus estaria conosco e tinha certeza que eu iria agir da
maneira apropriada, não por medo do puxão de orelhas, mas pelo desejo de
respeitar a comunidade arretiana, cuja energia positiva e vibração amorosa eu
nunca senti na Terra. Quando terminou, apontou para o alto e me pediu para
observar, sem receios, a nave que estava estacionada sobre a casa, a uns
quinhentos metros de distância. Nesse momento, o telhado ficou transparente e
pude vê-la nitidamente.
Era grande, linda e majestosa, refletindo a luz da lua cheia em tons
dourados, chegando ao cobre. Parecia um cilindro achatado e tinha uns 150 metros
de comprimento e 40 de diâmetro. Percebendo minha curiosidade quanto ao meio
de chegarmos até ela, perguntou se eu já estava pronto. Respondi afirmativamente
e ele garantiu que a locomoção seria muito fácil. Disse que bastaria me concentrar
e desejar estar em seu interior que logo estaria acordando bem disposto e com
muita vitalidade. Falou que estaria ao meu lado, em um corpo igual ao seu aspecto
atual. Em seguida, pediu para fechar os olhos, me concentrar e só abrir quando ele
pedisse. Foi exatamente o que fiz.

A CHEGADA À NAVE

As informações iniciais

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Tudo aconteceu conforme Oatas previu. Não fosse por estar em uma
cama e em um lugar diferente, não perceberia nada de estranho, pois a sensação
no novo corpo era muito boa. Além de não passar pelo processo de despertamento
gradativo, como sempre acontecia, eu tinha lembranças de tudo que ocorreu, o que
foi confirmado pela presença de Oatas.
Ao levantar, realizei vários movimentos, flexões, dei pulos, belisquei o
braço, apalpei o novo corpo e tudo pareceu normal. Oatas riu muito durante o teste
e disse que as diferenças que eu notaria seriam para melhor, com algumas
mudanças no aspecto sexual, o qual foi igualado ao padrão arretiano, por razões
que eu iria entender mais tarde. Fez questão de frisar que, quando retomasse meu
corpo original, tudo votaria a ser como antes e até melhor. Em seguida nos
dirigimos a uma sala próxima.
Era retangular com teto branco e ligeiramente curvo. Tinha paredes em
azul claro e era mobiliada com sofás e uma mesa de centro. Uma das paredes
havia um grande quadro cinza escuro, semelhante a uma tela de cristal líquido. Não
havia janelas e sim uns quadros menores, semelhantes ao maior. Oatas aguardou
minhas observações e, informando que já estávamos em órbita, me pediu para
sentar em frente à tela maior.
Logo surgiu uma imagem da Terra em posição invertida e sem nuvens,
idêntica àquela que estava em minha mente na manhã do dia 31/01/1999. Sua
nitidez permitia distinguir os contornos das Américas e, gradativamente, voltou à
posição normal. Depois, um efeito "zoom" começou a mostrar detalhes do Brasil, do
estado de Goiás e de Alto Paraíso. Logo distingui minha casa e, com espanto, pois
o telhado ficou transparente, pude ver meu corpo dormindo ao lado de minha
esposa.
Oatas disse que sentia as dúvidas que estavam em minha mente e me
pediu para ser paciente e aguardar o momento oportuno para obter as respostas.
Informou que aquelas que não revelassem segredos ainda velados à humanidade
terrestre seriam fornecidas ao longo da viagem e que esses segredos se referiam a
aspectos tecnológicos de difícil compreensão, até para o mais brilhante dos
cientistas da Terra.
Em seguida, disse que iria mostrar algumas imagens e falar sobre uma
série de novidades. Reiterou seu pedido para que eu aguardasse o momento
apropriado para esclarecer as dúvidas, pois tudo seria mostrado com detalhes
durante os três dias de treinamento e, posteriormente, seria visto, vivenciado e
sentido em Arret, ao longo de trinta ou mais dias.
Fiquei observando as imagens e ouvindo as explicações de Oatas
durante quase uma hora. Muitas coisas que pareceram estranhas no primeiro
momento, se tornaram mais claras à medida que outras imagens e explicações se
sucediam. Entendi que não precisava fazer perguntas, pois a maioria das dúvidas
eram esclarecidas em seguida, dentro dos limites por ele definidos. Apesar de
resumido, foi grande o conjunto de informações sobre a nave, seus tripulantes e
sobre Arret.
Ela era batizada como SOL-4, por transitar muito pelo sistema solar.
Tinha o formato de um cilindro achatado, ou uma elipse, e media 144 metros de
comprimento, 48 de largura e 36 de altura. A parte traseira era ligeiramente cônica
e a frente era afunilada, abrigando a cabine de comando. Parecia um dirigível sem
aletas e sua cor externa era uma mistura de dourado com cobre. Seu interior era
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constituído por inúmeros compartimentos, salas, dormitórios, um restaurante e
outras áreas que seriam apresentadas pela tripulação. A iluminação vinha do teto e
das paredes, cujas cores podiam ser trocadas à vontade. Oatas realizou diversas
mudanças apertando alguns botões, sem alterar o padrão de luminosidade.
No final surgiu a imagem dos três casais de tripulantes, apresentados
como sendo os comandantes Antak e Tali, os navegadores Otento e Sathya e os
engenheiros de bordo Salino e Tentra. Quando Oatas pronunciava o nome de cada
um e fazia um rápido resumo pessoal, eles se levantavam e acenavam
simpaticamente, como se estivessem nos vendo e ouvindo.
Pareciam uma mistura de europeu com chinês, pois eram altos, esbeltos
e tinham olhos grandes, amendoados e ligeiramente puxados à moda oriental. Os
olhos eram o ponto forte, pois chamavam a atenção e eram quase hipnóticos.
Tinham o nosso aspecto físico e todos eram muito bonitos, simpáticos e me
pareceram amigos, como se já os conhecesse. Oatas sentiu minha pressa em estar
com eles e comentou que aquele desejo era muito bom. Disse que preferiu
apresentá-los indiretamente, para que eu me acostumasse com a nave, com eles e
não sentisse nenhum tipo de receio.
Em seguida, disse que iria mostrar meu quarto, onde poderia tomar
banho e mudar de roupa, antes de encontrar a tripulação e com ela tomar a refeição
da manhã. Saímos em um corredor e logo entramos em um elevador onde havia
uma tela com informações resumidas de cada andar. Mesmo sabendo que contava
com um tradutor de linguagem, fiquei surpreso ao ler tudo que estava escrito.
Saímos em outro corredor e entramos em uma sala com dois conjuntos de sofás
nas laterais e mesinhas de canto. Na parede do fundo havia duas pequenas telas
que, presumi, seriam utilizadas para abrir as portas de dois aposentos, o que foi
logo confirmado por Oatas.
Como não falei nada, fiz uma pergunta mental procurando saber se ele
estava utilizando a telepatia. Ele confirmou mentalmente e falei que o entendi
perfeitamente. Perguntei como esse processo se desenvolveu tão rápido e ele disse
que foi em razão de estarmos em um ambiente muito mais sutil que o terrestre e
que o meu novo corpo tinha "mecanismos" que facilitavam a telepatia, um atributo
normal nos arretianos. Sentindo que fiquei preocupado, ele disse que eu não
deveria procurar esconder ou ter vergonha dos meus pensamentos, mesmo que os
considerasse impróprios, pois não incomodariam ou ofenderiam os tripulantes que
conheciam muito bem o modo de pensar e os costumes dos habitantes da Terra.
Oatas aproveitou para dizer que, nos próximos dias, eu teria uma grande
oportunidade para treinar e aprimorar a difícil arte de controlar e aquietar a mente.
Em seguida falou que iria mostrar o meu quarto, exatamente igual ao dele e
localizado ao lado do meu. Captei seu pensamento pedindo para colocar a palma
da mão na telinha da esquerda e logo a porta abriu e vi a imagem da Terra em uma
tela igual à anterior. Fiquei alguns minutos observando os detalhes daquele
ambiente e ouvindo as explicações de Oatas às diversas perguntas que fiz.
O quarto era amplo, simples e confortável. No centro havia uma cama
suspensa com uma cúpula transparente e a parede do fundo era quase toda
tomada pela tela que fazia parte do equipamento de áudio e vídeo. Nas laterais
havia portas de armários embutidos e uma que dava acesso ao banheiro. Os
armários destinavam-se à guarda de roupas, pertences pessoais e cristais de áudio
e vídeo. Um deles era uma lavanderia automática e acima das portas havia caixas
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acústicas muito finas, pois pareciam quadros. O assoalho era revestido com um
carpete sem pêlos e a cama chamava especialmente a atenção.
Ela era sustentada pelo mesmo princípio utilizado na nave e a cúpula
servia para manter estável a temperatura, dispensando o uso de cobertores e
permitindo o enriquecimento do ar com maior teor de oxigênio. Tinha controles da
aparelhagem de som e imagem e as regulagens de uma cama hospitalar. Podia ser
posicionada em qualquer lugar ou altura e era uma maravilha tecnológica dedicada
ao descanso do corpo.
Sob a grande tela havia teclas e orifícios para inserção de cristais de
som e imagem. Com uns quatro centímetros de diâmetro e quinze de comprimento,
podiam gravar e reproduzir de duas a três mil músicas e imagens a elas
associadas. Oatas fez demonstrações com músicas terrestres da minha predileção
e peças arretianas. Além de ouvir, observei imagens tridimensionais dos intérpretes
e aquilo que ele denominou como “alma ou forma pensamento" da música.
O banheiro tinha uma pia com armário espelhado e um vaso sanitário
com ducha higiênica externa. A pia e o vaso eram de um material semelhante a um
acrílico leitoso, a água saía da torneira com a aproximação das mãos e o sanitário
dava descarga automática assim que utilizado. O box tinha uma ducha circular e um
chuveiro com diversas regulagens de pressão e temperatura. A parede em frente ao
vaso sanitário tinha uma extensão da aparelhagem de som e imagem.
Depois voltamos ao armário de roupas e Oatas explicou a finalidade de
cada um dos três tipos de trajes e acessórios que os acompanhavam. Um deles era
igual ao que eu estava usando e era o traje de dormir. Os outros eram o de passeio
e o de trabalho, ambos confeccionados com um tecido semelhante ao algodão com
lycra, e ficavam colados ao corpo. O tecido do traje de dormir era o mais fino, o de
passeio, um pouco mais espesso e o de trabalho, o mais encorpado. Todos eram
constituídos por duas peças, uma vestida por cima e a outra por baixo, dispensando
o uso de cuecas.
Os trajes de dormir não cobriam os pés e os braços, enquanto os demais
dispensavam o uso de meias e tinham mangas compridas que podiam ser
complementadas por luvas. As roupas de trabalho e de passeio eram ornadas com
um cinto apresentado em três versões. Cada um continha menor ou maior número
de compartimentos para armazenar objetos diversos. O traje de dormir era
acompanhado por uma sandália de dedos e um mocassim de tecido e solado
sintético. O traje de passeio era complementado por um tênis e o de trabalho era
vestido com uma bota de cano longo, ambos de tecido e solado sintético.
Quando Oatas terminou suas explicações, escolhi um traje de trabalho e
fui para o banheiro, enquanto ele permaneceu no quarto para me socorrer em
qualquer dificuldade. O espelho mostrou que eu estava com a metade da idade
terrestre e com os cabelos um pouco mais compridos. Ao escovar os dentes
percebi que algumas obturações e falhas em minha arcada estavam corrigidas,
assim como algumas cicatrizes nas pernas e na mão. Meu rosto não apresentava
vestígios de barba e não havia pêlos visíveis no peito, axilas, barriga, braços e
pernas. Tomei banho e me vesti sem dificuldades. A ducha circular era uma
maravilha.
Quando me viu, Oatas disse que eu estava muito bem e que fui muito
rápido no primeiro banho em órbita. Providenciamos a lavagem da roupa usada e
fomos para o seu quarto. Enquanto ele tomava banho fiquei observando a "alma ou
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forma pensamento" da música arretiana. Era algo indescritível formado por cores
entrelaçadas, pulsantes e “explosivas” que acompanhavam o ritmo da música. Logo
depois fomos para a cabine de comando, onde os tripulantes nos aguardavam.

O encontro com os tripulantes


Oatas reapresentou cada um deles e fiquei retraído, sem saber
exatamente como cumprimentá-los. Limitei-me a estender a mão e a dizer o
tradicional "muito prazer” e o meu “nome de guerra". Oatas percebeu meu
embaraço e disse que podia abraçá-los e beijá-los como fazia com meus amigos e
amigas na Terra, pois os arretianos eram muito carinhosos. Naquele momento eu
estava sendo apresentado a Salino e, quando nos abraçamos, tive a sensação que
ele era uma pessoa muito querida. Parecendo ler meus pensamentos, ele disse que
era uma pena eu não me lembrar da nossa velha amizade iniciada em um planeta
de outro sistema estelar.
O que se seguiu foi uma longa série de abraços, beijos e recordações,
especialmente para os meus novos amigos. Eles tinham lembranças de suas vidas
anteriores, como se fossem acontecimentos da juventude. Eu, mesmo sem tê-las,
sentia que eram velhos amigos, pois nossa afinidade foi imediata. Desde 1978 tinha
informações a respeito de uma vida anterior com Oatas e ele, juntamente com
Salino e Tentra, foram os que mais conviveram comigo no passado. Por terem
aproveitado as lições de cada vida, se adiantaram espiritualmente e viviam em
mundos mais evoluídos que a Terra. Antes de continuar o relato da nossa animada
conversa, vamos fazer um apanhado das suas características gerais e uma
descrição de cada um deles.
Tinham cabelos lisos, fartos, brilhantes, compridos e seus corpos eram
proporcionais e harmoniosos, com exceção dos dedos das mãos que eram
ligeiramente maiores que o padrão terrestre. Seus rostos eram muito bonitos e a
pele era lisa e sedosa, como das nossas crianças. Vestiam roupas de trabalho do
mesmo modelo, variando a cor, tonalidade e detalhes do cinto ou do calçado. As
cores e desenhos das roupas eram mais sóbrias nos homens e mais alegres e
descontraídas nas mulheres. O nariz era delicado e seus lábios eram mais finos
que os nossos. Os olhos eram o ponto forte de todos eles e foi o detalhe que
chamou minha atenção quando os vi pelo telão. Eram bem maiores que o padrão
terrestre, amendoados e puxados, ao estilo oriental, muito bonitos e quase
hipnóticos, tamanha a atração que exerciam ao se olhar para eles. As sobrancelhas
eram separadas e retas, mais finas nas mulheres e mais grossas nos homens. Eles
tinham uma altura entre 1,90 e 2 metros, um peso próximo de 80 quilos e não
apresentavam vestígios de barba.
As mulheres eram um pouco mais baixas e mais magras, aparentando
uns 60 quilos. Elas tinham cílios naturais mais compridos, os quais conferiam aos
seus grandes olhos uma beleza toda especial. Adornavam a testa com uma espécie
de diadema combinando com a roupa e, no conjunto, eram charmosas e muito
bonitas, tanto de rosto, como de corpo, semelhante ao padrão das nossas
manequins. Tinham seios e bumbuns discretos e a cintura bem marcada. A voz era
delicada, musical e falavam de maneira pausada, fechando ou arregalando os
olhos, dependendo do clima que queriam transmitir.
Antak, o comandante, era o mais forte ou musculoso e tinha olhos
verdes, pele bronzeada e cabelos ruivos. Utilizava um traje azul-marinho e
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apresentava um símbolo no peito, constituído por um triângulo amarelo dourado,
com estrelas no centro. Tinha o equivalente a 70 anos terrestres, a aparência de 40
ou menos e a pele de 20. Não tinha rugas ou marcas de qualquer espécie, apenas
algumas sardas, como a maioria dos ruivos terrestres.
Sua esposa Tali tinha olhos azuis lindíssimos, pele morena e cabelos
negros brilhantes, lisos e grossos, como os de uma japonesa. Vestia uma roupa em
tons rosa e azul claro, como seus olhos. Ostentava o mesmo distintivo do marido,
pois também era uma comandante de nave estelar. Tinha 68 anos e não
aparentava 30. Apesar de ser menos sorridente e falante, Tali era muito meiga e
carinhosa.
Otento, o navegador, tinha olhos azuis quase negros, pele morena e
cabelos semelhantes aos de Tali. Vestia uma roupa amarela e ostentava um círculo
azul no peito com o desenho de um átomo. Era o mais magro de todos e tinha 58
anos terrestres, que também não aparentava. Otento era muito simpático, falante e
brincalhão.
Sua esposa Sathya tinha olhos verdes, pele bronzeada e cabelos num
tom amarelo dourado, ligeiramente ondulados. Vestia um traje amarelo e marrom e
ostentava o mesmo símbolo do seu marido. Tinha a mesma idade de Otento e
parecia uma colegial.
Salino, o engenheiro de bordo, tinha a pele bronzeada, cabelos
castanhos, olhos azuis e era o mais alto deles. Seu uniforme era azul, exatamente
igual ao que eu estava usando. O símbolo que ostentava era uma estrela dourada
dentro de um círculo azul escuro. Salino tinha 55 anos e era alegre, feliz e
brincalhão. Logo de início, seu modo de ser me deixou completamente à vontade e
me contagiou totalmente.
Tentra, sua esposa, tinha a pele bronzeada, cabelos avermelhados e
olhos verdes maiores que os de Tali e Sathya, além de algumas sardas no rosto.
Usava uma roupa combinando tons rosa, azul e amarelo, com o mesmo símbolo
ostentado por Salino. Tinha 53 anos e uma aparência juvenil. Tentra era uma
doçura de pessoa, extremamente meiga e carinhosa. Depois dos cumprimentos
iniciais, ficou o tempo todo ao meu lado relembrando, juntamente com Salino, tudo
que eu tinha "aprontado" com eles em vidas passadas.
Oatas era o mais baixo. Tinha 1,75 metros de altura, pele clara, cabelos
castanhos, ligeiramente encaracolados e devia pesar menos de 60 quilos. Seus
olhos eram castanhos e menores que os demais. Possuía dentes mais largos, o
que fazia supor que tinha menos dentes na boca. Oatas viveu na Terra na época
Atlante, onde nos conhecemos e fomos amigos. Naquela época, adquiriu méritos
que permitiram sua saída da Terra e transferência para Marte.
Depois das apresentações e das conversas iniciais, os tripulantes
mostraram os detalhes da cabine de comando. Ela era muito simples e não tinha
nenhuma semelhança com as cabines das aeronaves terrestres. Parecia uma sala
de estar com dois grandes ambientes. Mais à frente havia uma mesa em forma de
arco, denominada como mesa de comando. Tinha dez assentos e, em frente a cada
um deles, um microfone com fone de ouvido, uma tela e um teclado. Esses
equipamentos permitiam a comunicação com o “supercomputador” que, segundo
Antak, era o verdadeiro comandante da SOL-4.
Seu nome era SINE, a sigla de Sistema Inteligente de Navegação
Estelar. Era um computador que falava, aprendia, se autocorrigia e autoprogramava
25
em situações não previstas ou de emergência. Podia-se conviver com ele, trocar
experiências ou pedir sugestões, sem correr o risco dele se comportar como aquele
do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço.
No centro havia uma grande mesa redonda com várias poltronas,
utilizada para reuniões e bate-papos da tripulação. A frente e as laterais da cabine
eram formadas por uma única tela de cristal líquido, a qual podia ser subdividida e
apresentar diversos tipos ou origens de imagens. Também podia ficar totalmente
transparente e mostrar o exterior da nave.
Na parte do fundo havia seis cabines de teletransporte, cuja frente era
formada por um acrílico escuro. A matéria era "desintegrada" na cabine de origem e
"reintegrada" na de destino, quase que imediatamente. O processo daquelas
cabines era diferente daquele utilizado nas cabines existentes em Arret e era
realizado por posicionamento de coordenadas espaciais e não por velocidade,
como estávamos acostumados a raciocinar. Quando terminaram as explicações,
pedi para ver imagens da Lua, de alguns planetas, do Sol e de satélites artificiais da
Terra.
Salino deu algumas instruções verbais ao SINE e a nave se movimentou,
mostrando a imagem da Lua na tela frontal. Em seguida, utilizando o "zoom",
apareceram montanhas, planícies e detalhes do solo, como se estivéssemos a 50
metros dele. A seguir, surgiram imagens panorâmicas de Saturno, de Júpiter, de
Marte e do Sol, com suas manchas e enormes línguas de fogo. Depois, a nave
voltou-se para a Terra e começou a focalizar satélites dos mais diversos tamanhos
e formatos.
Antak disse que muitos estavam inativos e eram lixos espaciais. Afirmou
que, em respeito à Lei do Livre Arbítrio, as naves do comando da frota de apoio à
Terra recolhiam apenas aqueles que escapavam da atração gravitacional. Pedi para
ver alguma dessas naves e Salino movimentou a SOL-4, mostrando algumas que
trafegavam e outras que estavam estacionadas bem acima da atmosfera.
Informaram que a quantidade delas era grande, aumentando ou diminuindo
conforme o nível de tensão existente na Terra.
Em seguida as imagens desapareceram e a tela voltou a ficar
transparente, mostrando a esfera terrestre. Ainda falaram sobre outros
equipamentos e características gerais da nave, como o seu escudo protetor, a
forma de deslocamento por posicionamento em uma espécie de túnel do tempo,
milhares de vezes superior à velocidade da luz. Depois Antak nos convidou para
uma reunião na mesa redonda.
Começou dizendo que estavam ali para colaborar no meu aprendizado
sobre Arret, para que eu pudesse escrever o livro que estava pretendendo. Disse
que, em linhas gerais, o modo de vida do seu povo representava aquilo que a Terra
será daqui a alguns séculos e que, antes das transformações, era conveniente
escrever sobre o novo sistema social que substituirá o atual, transmitindo
esperança aos seres de boa vontade que aguardam a grande transição e sofrem
com o atual modo de vida terrestre. Falou que eles, com muitas dificuldades
trabalhavam no embrião daquilo que será a fraternidade e a irmandade planetária, a
síntese da última missão de Jesus.
Para atingir esses objetivos, o texto deveria enfocar o novo cenário e as
dádivas que o Pai Celestial distribuirá com abundância aos Seus filhos e filhas que
passarem no exame de seleção que se avizinha. Enfatizou que, ao invés do
26
desenvolvimento tecnológico, os relatos deveriam privilegiar os aspectos sociais,
educacionais, políticos, religiosos, cooperativos e culturais do seu povo e,
principalmente, os motivos da sua felicidade. Pediu para não me preocupar se o
trabalho será grande ou pequeno, se dará frutos ou não e também, se será
publicado em seguida ou após alguns anos.
Enquanto Antak falava, comecei a avaliar a amplitude e a complexidade
do trabalho, pois não imaginava escrever sobre um tema tão abrangente e com
aqueles objetivos. Ele captou meu pensamento e ponderou que eu era um analista
de sistemas que havia levantado dados, definido, descrito, testado, documentado e
implantado inúmeros sistemas em diversas empresas da cidade de São Paulo por
mais de duas décadas, além dos quase sete que estava em Alto Paraíso de Goiás
sem perder contato com minha profissão anterior.
Em seguida perguntou se estava certo sobre o meu currículo. Assim que
concordei, ele disse que a minha experiência profissional era mais que suficiente
para atingir os objetivos propostos. Bastaria eu agir como se estivesse
documentando um grande sistema em operação, ou um macrosistema composto
por vários sistemas integrados, cujo objetivo final era a felicidade do povo arretiano.
Afirmou que me achava capacitado para a tarefa e que gostaria de me "contratar",
sem remuneração, mas com um bom “salário espiritual”. Brincou dizendo que não
podia garantir que o livro traria algum retorno material e em que tempo.
Depois perguntou se eu aceitava ou desistia daquele desafio. Respondi
que aceitava e eles me incentivaram com palavras carinhosas e promessas de
ajuda. Disseram que todos os locais e sistemas do planeta estariam abertos para os
levantamentos necessários, incluindo o governo central. Comecei a ficar
entusiasmado com o novo trabalho e bastante curioso com relação ao governo
central. Tentra adiantou que ele não obedecia a nenhum padrão terrestre e me
pediu para aguardar, pois era muito grande o conjunto de agradáveis surpresas que
eu teria nos próximos dias. Tali disse que aquele momento merecia uma
comemoração e nos convidou para segui-la até o restaurante.
Chegamos a um grande salão com inúmeras mesas, cadeiras e
dimensões semelhantes às da cabine de comando. Localizado abaixo dela, tinha o
mesmo tipo de tela transparente mostrando o globo terrestre. Tali escolheu uma
mesa e falou que iríamos brindar com um vinho branco, parecido com o “moscato
italiano”. Enquanto ela falava, surgiu um robô, semelhante ao C3-PO de Guerra nas
Estrelas, empurrando uma plataforma de dois níveis que flutuava suavemente. Ele
colocou um cálice para cada um e serviu o vinho. Em seguida, disse que aguardaria
o momento para servir a refeição e se retirou.
Antak pronunciou uma breve oração e nos convidou para o brinde. Após
um animado bate-papo, o robô trouxe um carrinho com frutas, castanhas, cápsulas
e garrafas de sucos. As frutas eram semelhantes a algumas espécies terrestres e
os sucos eram deliciosos, consistentes e naturais. Apesar de comer pouco,
ingeriam cápsulas contendo vitaminas, proteínas, sais minerais, fibras,
antioxidantes e me incentivaram a experimentar várias frutas e castanhas, alegando
que meu aparelho digestivo exigia um volume maior de comida. Quando saímos o
robô apareceu e Tali falou alguma coisa com ele, juntando-se a nós em seguida,
pois iríamos a uma sala especial onde meu treinamento seria iniciado.

27
OS TRÊS DIAS DE PREPARAÇÃO

Quando lá chegamos, Antak disse que iriam aproveitar os três dias para
me instruir sobre a atualidade arretiana, seu povo, modo de vida, fauna, flora e
outros assuntos, para que eu lá chegasse com um resumo geral que facilitasse os
levantamentos posteriores. Falou que Oatas estaria o tempo todo comigo e que
eles se revezariam para apresentar e comentar cada tema. Iriam realizar as
apresentações do geral para o particular, à moda cartesiana terrestre, e
começariam com a estrutura do sistema estelar arretiano, a ser apresentado por
Sathya. Os demais se despediram e prometeram retornar no horário do almoço.
Após uma breve descrição do sistema estelar arretiano, cuja imagem
estava fixa na tela, Sathya informou que partiríamos para lá na noite do terceiro dia
e que, dali a poucas horas, a nave se deslocaria para o espaço entre a Terra e
Marte, onde ficaríamos estacionados até o momento da partida. Em seguida a
imagem adquiriu movimento e, durante umas três horas, assistimos a um vídeo
tridimensional, muitas vezes interrompido para explicações de Sathya ou para
responder perguntas que fiz.
Arret era o quarto planeta da estrela central das Três Marias, na
Constelação de Órion. Essa estrela, batizada pela astronomia terrestre com o nome
de Alnilam, era algumas vezes maior que o Sol e, girando em torno dele, havia doze
planetas, alguns com até sete “luas”. Um deles era habitado por um povo mais
evoluído que o arretiano, outros dois tinham grau semelhante e três, um grau
inferior. Os demais não eram habitados por seres humanos.
O planeta era muito parecido com a Terra, com o dobro do seu tamanho,
uma população ligeiramente superior a 12 bilhões de habitantes e possuía três
"luas", sendo uma semelhante à nossa e outra com mais que o dobro do tamanho.
A terceira era cinco vezes maior e também a mais distante. Ela possuía atmosfera
com condições de vida e era habitada por peixes, répteis, animais e pássaros. A cor
da atmosfera era de um azul mais forte que a terrestre e o ar mais rico, possuindo
25 por cento de oxigênio. O planeta era constituído por metade de mares e metade
de terra firme, dividida em sete continentes, sendo cinco na zona equatorial e um
em cada pólo.
No horário combinado os demais tripulantes entraram na sala e Antak
perguntou se eu não gostaria de tomar um banho de cachoeira. Fiquei surpreso
com o convite e, antes da resposta, ele disse que existia uma cachoeira com
piscina, lembrando um pouco daquelas existentes no Vale Dourado. Fiquei
imaginando como seria o lugar e que roupa iria usar, pois não tinha visto nenhum
traje de banho no armário do meu quarto. Eles captaram meu pensamento e
começaram a rir. Tentra disse que tomavam banho ao natural e, como eu não tinha
esse costume, que não me preocupasse, pois no vestiário havia trajes de banho e
que todos iriam usá-los para que eu me sentisse mais à vontade.
Chegamos a um vestiário masculino com alguns bancos, armários e
compartimentos individuais. Escolhi um calção azul e comecei a mudar de roupa
imaginando que tipo de cachoeira com piscina tinham construído na nave.
Enquanto isso, meus amigos já estavam prontos e me esperavam. Notei que tinham
corpos perfeitos, de musculatura discreta e sem pêlos visíveis no peito, braços,
axilas e pernas. Comecei a imaginar como seria o corpo das mulheres e,
novamente começaram a rir.
28
Pedi desculpas e Salino, com seu jeito brincalhão, falou que eu não
deveria tentar inibir pensamentos extremamente comuns e arraigados na mente dos
povos da Terra, cujos costumes eles conheciam e entendiam muito bem. Disse que,
logo que chegasse a Arret, iria me acostumar com o modo de vida do seu povo e
iria pensar e agir naturalmente, sem precisar me esforçar como fazia naquele
momento. Todos disseram algo parecido, com o objetivo de me deixar à vontade e
sem preocupações com qualquer tipo de pensamento que surgisse em minha
mente. Apesar de continuar envergonhado, comecei a admirar aquelas pessoas
pela sua pureza, maneira de agir e de compreender tão bem aqueles que não
pensavam e não agiam como eles.
Salino passou o braço pelo meu ombro e foi caminhando comigo até a
porta que dava acesso à cachoeira. Pediu para fechar os olhos e só abrir quando
ele falasse. Ao abrir, minha surpresa foi enorme. No lugar de um ambiente de
aspecto artificial, existia um enorme espaço com pequenas árvores, pedras,
plantas, flores, arbustos, grama, poltronas, mesas e uma belíssima cachoeira que
caía em uma grande piscina.
A água era realimentada por bombas especiais, depois de passar por um
processo de filtragem e normalização do pH, tornando-a tão pura como as nossas
melhores águas minerais. A piscina tinha formato retangular, com uns 15 metros de
largura e o dobro de comprimento. As bordas eram irregulares e seguiam contornos
de pedras que avançavam ou recuavam. O fundo era formado por areia e pedras,
com profundidade máxima de três metros. O teto abobadado era transparente e o
ambiente estava iluminado por uma luz “solar” que destacava as cores das pedras.
Notei Tali e Sathya nadando na superfície e Tentra submersa. Depois de
uns dois minutos conversando com Salino sobre aquele local, comecei a ficar
alarmado com o tempo que ela estava sob a água. Ele me tranqüilizou dizendo que
os arretianos podiam mergulhar durante cinco a sete minutos e que alguns o
podiam por um tempo maior. Falou que apreciavam os esportes aquáticos e eram
bons nadadores, como eu estava observando. Enquanto isso, Tentra saiu da
piscina e me abraçou pelas costas. Não me assustei porque seu corpo não estava
gelado. Sorridente como sempre, disse que a água era igual à terrestre, que estava
na temperatura do corpo e me convidou para experimentá-la.
Dizendo que eu não gostava de pular, ela me levou a um local com uma
profundidade próxima de um metro, onde havia algumas pedras que chegavam à
superfície. Curioso, perguntei como sabia desse meu costume e ela respondeu que
acompanhava minha vida há muito tempo, pois os verdadeiros amigos nunca se
esqueciam daqueles que amavam.
Ensaiei algumas braçadas sem me distanciar das pedras e, quando
novamente fiquei em pé, todos estavam na piscina. Alguns nadavam na superfície
ou submersos e outros estavam na cachoeira tomando uma ducha sobre uma
plataforma de pedra. Tentra me convidou para nadar até lá e garantiu que estaria
por perto para me ajudar em qualquer dificuldade.
Comecei a nadar do meu jeito desajeitado, ainda mais se comparado
com a elegância e o estilo de campeões dos meus amigos. Cheguei à plataforma
sem dificuldades, pois meu preparo físico tinha melhorado escandalosamente. Após
uma deliciosa ducha sob a cachoeira, Tentra me mostrou o espaço que existia atrás
da água. Lá havia um ambiente com a largura de um metro e um banco esculpido
na rocha, onde era possível sentar confortavelmente e massagear os pés. Depois
29
de uma nova ducha, sentei na beira da plataforma pensando em como tinham
construído aquele local maravilhoso e tão natural.
Antak e Tentra se aproximaram e sentaram-se ao meu lado. Falaram
sobre aquele ambiente denominado como Sala das Águas e o que ela significava
para eles durante as longas viagens. Disseram que ela e a Sala do Horto eram os
lugares onde relaxavam, meditavam e batiam longos papos durante as viagens.
Antak disse que após o almoço iríamos conhecer o outro local e, em seguida,
mergulhou durante alguns minutos.
Tentra explicou que o fôlego deles para mergulho dependia mais do
controle mental, que do condicionamento físico. Também falou que os olhos
arretianos tinham uma constituição que permitia ver com nitidez sob a água e que
os meus tinham a mesma estrutura, pois meu corpo estava totalmente adaptado às
condições de vida em seu planeta. Garantiu que eu poderia ficar submerso mais de
um minuto na primeira tentativa e que esse tempo aumentaria gradativamente.
Seguindo suas recomendações, mergulhei acompanhado por ela e
Salino, um de cada lado. Quando emergi, ela me parabenizou e disse que ficamos
submersos por quase dois minutos. Fiquei espantado com meu novo fôlego e me
animei a continuar o treinamento. Durante uma meia hora, revezei o tempo entre
mergulhos e conversas com meus amigos até sairmos da piscina, quando Tentra
informou que fiquei mais de dois minutos submerso e estava progredindo
rapidamente. Voltamos ao vestiário, mudamos de roupas e fomos ao restaurante.
As frutas, os sucos e as cápsulas eram de espécies diferentes, um
pouco mais leves, pois o organismo requeria menos calorias na parte da tarde.
Novamente notei que comiam pouco. Como algumas frutas pareciam ter sido
colhidas naquela manhã, perguntei se eram produzidas na Sala do Horto. Tentra
explicou que elas estavam armazenadas há uns 25 dias em um equipamento que
não utilizava o frio como meio de conservação e mantinha os alimentos em
condições naturais por diversos meses. Quando terminamos, saímos para conhecer
outro local muito interessante.
A Sala do Horto tinha dimensões semelhantes ao da Sala das Águas,
era um pouco mais comprida e possuía o mesmo tipo de teto. Era uma pequena
floresta com muitas árvores, trilhas e locais gramados, circundados por flores de
várias espécies. Neles havia poltronas suspensas que reclinavam e ofereciam um
grande conforto, substituindo as nossas redes com muitas vantagens. Caminhamos
um pouco para conhecer o local e depois Tentra ensinou como ajustar as poltronas
ao meu gosto.
Conversamos sobre a situação atual da Terra e sobre os acontecimentos
previstos para o final do seu ciclo evolutivo. As informações não aumentaram em
nada os meus conhecimentos, especialmente, quanto a datas. Mais tarde, Antak
disse que o horário de almoço tinha terminado e que estava na hora da aula sobre a
geografia, a flora e a fauna, a ser monitorada por Salino. Era uma continuação da
anterior e ocuparia o restante da tarde.
Chegando à sala, Salino alertou que aquela sessão sobre a geografia, a
fauna e a flora, apesar de longa, seria uma das mais resumidas de todas, dada a
abrangência e a variedade dos temas envolvidos. Disse que eu teria acesso a
muitos outros detalhes durante as viagens, passeios e visitas que faríamos em Arret
durante mais de trinta dias. Mesmo assim, os vídeos e as explicações de Salino
transmitiram um vasto conjunto de informações sobre o planeta.
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Seus mares eram menos salgados e os rios eram de água doce como os
nossos, ambos com muitas espécies de peixes e de vegetação aquática. Além de
grandes ilhas fluviais, havia ilhas marítimas com área superior a 500 quilômetros
quadrados. O relevo era bem menos acidentado que o terrestre, predominando as
planícies. As montanhas raramente ultrapassavam a altura de mil metros em
relação às planícies em que se situavam, as quais, em geral, estavam a quinhentos
metros acima do nível do mar. Em Arret não existiam desertos ou geleiras.
As chuvas eram leves, bem distribuídas, sem ventanias, raios ou trovões
e ocorriam quase sempre à noite, sob comando dos arretianos. A temperatura dos
continentes polares girava em torno de 15 graus centígrados e nos demais, variava
de 18 graus, nos extremos polares, a 25 graus na zona equatorial. O clima geral era
uma mistura de outono e primavera dos nossos países tropicais. A vegetação era
semelhante à nossa, predominando o verde azulado nas matas e um tom mais
claro nas planícies. As flores apresentavam múltiplas cores, mais vivas e brilhantes.
A maioria dos pássaros eram canoros e de pequeno porte. Assim como
os animais, não receavam os arretianos e atendiam prontamente aos seus
chamados. Os animais e os pássaros não eram carnívoros e apresentavam, como
as espécies vegetais, uma quantidade e variedade bem menor que a terrestre. Os
arretianos respeitavam e os consideravam como irmãos de um reino anterior e os
tratavam com muito amor, para que evoluíssem e atingissem mais rapidamente à
individualização no reino humano. Lá não havia mosquitos, baratas, ratos, cobras e
outros seres que aqui consideramos como nocivos.
Tentra chegou no final da aula e nos acompanhou até a Sala das Águas
sem nada dizer a respeito do novo personagem que lá encontramos. Era Othíbio, o
Ministro das Relações Exteriores de Arret. Ele estava retornando de uma missão
diplomática em Marte e aproveitou para fazer a visita. Parecido e como mesmo tipo
físico de Salino, logo demonstrou que também era muito bem humorado e
brincalhão.
Assim que fui apresentado, ele disse que sabia da minha presença na
nave e que Antak e os demais tinham feito um relatório a respeito dos meus
progressos, citando alguns momentos hilariantes, como o teste que realizei em meu
novo corpo. Falou que estava feliz com o nosso encontro e que após o jantar
iríamos conversar sobre “trabalho", pois aquele era um momento de relaxamento.
Em seguida entrou na piscina e nós o imitamos. Tomamos ducha, nadamos,
mergulhamos e "jogamos conversa fora" durante quase uma hora, ficando
evidenciado que Othíbio era uma pessoa simples e acessível como os demais.
Apesar de ser o responsável pelo relacionamento interplanetário do governo
central, ele não demonstrava essa sua posição.
Em uma conversa posterior, Tentra informou que em Arret não existem
classes sociais e todos são tratados igualmente, com os mesmos direitos e
deveres. Tampouco existe o nosso conceito de hierarquia ou de chefia. Os seres de
maior adiantamento espiritual, ou de maior responsabilidade social, são os que
mais se esforçam para melhor servir, compreender e ajudar aqueles que ainda não
atingiram o nível deles. Ela lembrou o caso de Jesus, servindo e se sacrificando na
cruz para dar o exemplo e possibilitar a elevação espiritual da humanidade
terrestre.
Após o banho fomos para o restaurante, onde se repetiu a cena anterior,
desta vez, com frutas mais aquosas, sucos naturais e as indispensáveis cápsulas.
31
Tentra explicou que à noite a alimentação era mais leve, pois o nível energético
requerido era menor e citou um ditado também conhecido na Terra: “de manhã
devemos comer como um rei, à tarde, como um príncipe e à noite como um
mendigo”.
No caminho para o nosso local de descanso, fui conversando com
Othíbio e perguntei como chegou à SOL-4. Ele respondeu que foi teletransportado
de sua nave e que ela poderia ser vista da Sala do Horto. Batizada como Amizade,
tinha o mesmo formato da nossa e dimensões bem maiores. Assim que
começamos a observá-la, um conjunto de luzes de várias cores começou a piscar
em um ritmo musical e Othíbio disse que a tripulação estava nos cumprimentando e
desejando sucesso ao nosso trabalho. Logo elas diminuíram a intensidade, até
restar somente as luzes iniciais.
Sentamos no círculo central e Antak iniciou a conversa falando sobre
Othíbio, seu trabalho em Arret e em outros planetas da nossa zona galáctica.
Depois de dizer que ele tinha um convite a me fazer, passou-lhe a palavra. Othíbio
fez alguns comentários sobre a fala de Antak e disse que Arcthuro, o presidente do
governo central, pediu que me convidasse para uma reunião às três horas da tarde
do dia do nosso desembarque, mantendo a outra que aconteceria no meio da
minha estada no planeta.
Em seguida perguntou se poderia levar minha resposta favorável a
Arcthuro. Fiquei observando Othíbio sem nada dizer, pois estava espantado com o
convite e com a pergunta. Ele a repetiu e eu, ainda confuso, falei que ficaria
aguardando a reunião com grande expectativa. Ele esclareceu que fez a pergunta
em respeito ao meu livre arbítrio e enfatizou que jamais fariam qualquer coisa sem
o meu consentimento. Disse também que Arcthuro era o primeiro e maior cumpridor
dessa Lei.
Pedi para ele falar um pouco sobre Arcthuro e ouvi atentamente o que
ele disse com relação à simplicidade, respeito, justiça, abnegação, bondade e amor
que vinha manifestando aos arretianos nos últimos 80 anos do seu governo. Seu
modo de ser era igualmente reconhecido e retribuído pelo povo, que o amava
profundamente e o respeitava como um pai que se sacrificava pelos filhos. Ele era o
sacerdote que cumpria e ensinava a Lei Divina e o rei que governava com justiça e
sabedoria.
Othíbio me pediu para aguardar com tranqüilidade o momento da
reunião e para ver Arcthuro como uma pessoa igual aos meus demais amigos e não
como o "supremo mandatário" de seu planeta. Em seguida, falou que precisava
retornar à Amizade e partir para Arret. Dizendo que logo nos encontraríamos, se
despediu e saiu com Antak e Salino, com destino à cabine de comando, onde seria
teletransportado.
Os dois retornaram uns dez minutos depois e me pediram para observar
a despedida da Amizade. As luzes coloridas voltaram a piscar enquanto ela se
afastava lentamente. Após uns dois minutos elas se apagaram e seu escudo
protetor ficou visível e começou a brilhar até não se distinguir mais a nave. Tudo
desapareceu após um clarão semelhante a uma explosão e Antak comentou que a
Amizade já havia saído dos limites do Sistema Solar e estava a caminho de Arret.
Continuamos conversando sobre Othíbio, Arcthuro, o governo central e o trabalho
deles na SOL-4. Fiquei sabendo que Othíbio era tio de uma vizinha de Tentra que
eu iria conhecer, a qual trabalhava junto e era muito amiga de sua filha Vércia. Já
32
passava das nove horas quando Antak disse que tinham que tomar algumas
providências e que depois iriam dormir.
Oatas e eu os acompanhamos até a entrada da cabine de comando e
depois fomos para a ante-sala dos nossos quartos. Lá tomamos suco de frutas e
conversamos por quase uma hora. Falei a maior parte do tempo, enquanto Oatas
ouvia, fazia algumas colocações ou respondia às minhas perguntas. Além de ter
falado sobre várias coisas que aconteceram naquele dia, eu estava preocupado em
controlar meus pensamentos, pois eram facilmente captados por ele e pelos
tripulantes.
Além daquilo que Salino, Antak e Otento falaram no vestiário da Sala das
Águas, a conversa me deixou mais aliviado. Antes de ir para o seu quarto Oatas
forneceu outras informações sobre os controles da cama e do equipamento de
áudio e vídeo. Depois de tomar banho e mudar de roupa, deitei ouvindo a Canção
da América e comecei a relembrar as cenas e acontecimentos daquele dia. Quando
ouvi os acordes da Ave Maria, uma sensação de paz me invadiu e logo adormeci.
Após o banho fui com Oatas para o restaurante, onde nossos amigos
nos aguardavam para a refeição matinal. Quando terminamos, Antak disse que
teríamos uma hora de descanso e depois eu iria assistir a duas sessões de vídeo
naquela manhã e a outras duas à tarde. O primeiro seria apresentado por ele e
versaria sobre a forma de governo e o “sistema financeiro”. O segundo, monitorado
por Tentra, seria sobre a família e o relacionamento amoroso. À tarde, Tali
apresentaria uma visão geral dos sistemas de educação, saúde e lazer. Otento
fecharia o dia com os sistemas agrícola e industrial.
Fomos para a Sala do Horto e conversamos sobre os temas do
treinamento do dia e sobre Vércia, a filha de Tentra e Salino. Depois, Antak, Oatas
e eu fomos para a sala de aulas e os demais foram se ocupar com seus afazeres
na nave. A rotina daquele dia seguiu o padrão do anterior, com períodos de lazer na
Sala das Águas e descanso na Sala do Horto. Os temas apresentados me
permitiram começar a entender o modo de vida e os motivos da felicidade dos meus
amigos e do povo arretiano.
A aula sobre a forma de governo e o “sistema financeiro” revelou
aspectos interessantes daquela sociedade planetária. Em Arret falavam uma única
língua e lá não havia países, estados, municípios e proprietários de terras. O
governo central era um organismo planetário que atuava como uma “corporação
empresarial” simples, ágil e objetiva. Seus componentes não concorriam entre si e
todos trabalhavam para atingir os objetivos da "corporação", sem visar poder,
salários, carreiras ou promoções. Trabalhavam por prazer, naquilo que gostavam e
que sabiam fazer melhor, pois independente do que faziam, tinham os mesmos
direitos e obrigações sociais.
Lá não circulava nenhum tipo de moeda e ninguém recebia qualquer
remuneração pelo trabalho no horário padrão. Também não pagavam por nada que
fosse necessário, como alimentação, habitação, vestuário, saúde, educação e lazer.
Para ter acesso a bens não essenciais, como veículos ou aparelhos de som e
imagem, utilizavam as “horas extras” e, tanto o presidente como um jardineiro,
necessitam da mesma quantidade dessas horas para adquirir o mesmo bem.
O horário de trabalho padrão era de seis horas diárias, em dois períodos
de três horas, das oito às onze e das quatorze às dezessete. O expediente semanal
era de cinco dias, durante seis meses por ano. Se trabalhassem mais, produziriam
33
bens em quantidade superior às necessidades da população do planeta.
Trabalhavam um mês e tiravam férias no outro, quando eram substituídos pelos que
descansaram no mês anterior.
As férias eram utilizadas para atividades turísticas, culturais, educativas
e, principalmente, para contatos com os habitantes de outras regiões do planeta. O
presidente do governo central, seus doze ministros e outros administradores do
“alto escalão” tinham um regime de trabalho diferente e raramente tiravam mais que
dois meses de férias por ano. Nos hospitais, centros de lazer e outras atividades
essenciais, o trabalho era ininterrupto, com revezamentos a cada seis horas.
A palestra de Tentra sobre a família e o relacionamento amoroso foi a
mais difícil de ser compreendida ou aceita pela mente terrestre. Em Arret, os casais
se uniam por laços de afinidade pura, a ponto de exercerem a mesma profissão e
trabalharem juntos durante toda a vida, como era o caso dos tripulantes. Assumiam
esse compromisso antes do nascimento e, aos sete anos, já sabiam se iam se
casar e com quem. O namoro começava nessa idade e tinha a conotação de uma
grande amizade. O casamento ocorria em uma cerimônia simples celebrada pelos
seus pais.
Na volta das férias nupciais, a lua-de-mel arretiana, o casal recebia uma
casa mobiliada e equipada, no local que escolheram para viver e trabalhar. Os
filhos, além do respeito e dos fortes laços que os uniam aos seus pais, também
eram considerados filhos de todos os arretianos e, quando começavam a freqüentar
escolas, podiam até morar por longos períodos em uma outra casa. O
relacionamento amoroso era um conceito que apresentava sérias dificuldades para
ser compreendido pela mente terrestre, centrada no sexo e no orgasmo físico,
independente da afinidade entre os parceiros.
Lá, essa parte do relacionamento entre casais era muito diferente. A
mulher não tinha menstruação e a ovulação, seguida de uma relação sexual física,
só acontecia quando o período era propício para o nascimento de um filho ou filha.
Porém, mesmo com duzentos anos de idade, os casais podiam realizar aquilo que
chamavam de entrelaçamento energético, o qual levava a um "orgasmo espiritual"
muito superior ao físico. Podiam realizá-lo sempre que o desejassem, mesmo que
separados por milhares de quilômetros. O processo não tinha nenhuma limitação,
pois ocorria em um outro plano, enquanto os corpos físicos dormiam. Os casais
arretianos realmente faziam e sentiam amor, semelhante à sensação de abraçar e
beijar a filha ou filho querido, potencializada dezenas de vezes.
A aula sobre os sistemas de educação, saúde e lazer, apesar de
resumida, transmitiu informações muito interessantes. Entre os três e os sete anos,
as crianças adquiriam, gradativamente, a memória de suas experiências passadas
e daquilo que vieram fazer no planeta. Aos sete anos estavam intelectualmente
aptas para realizar trabalhos que desenvolveram em vidas passadas,
especialmente na anterior. Por essa razão, lá não havia cursos de alfabetização.
Nessa idade e por sua livre escolha, quase todos freqüentavam cursos de
informação sem currículo mínimo, presença obrigatória ou certificados de
conclusão.
Também podiam não freqüentar esses cursos até os 14 anos, quando
começava a fase de formação profissional para o trabalho que vieram executar.
Nessa idade, os jovens tinham acesso a cursos de capacitação, como medicina ou
engenharia, dentre outros. Escolhiam livremente a escola, o curso e as cadeiras
34
que julgavam necessárias à sua formação. O acesso não dependia de vestibulares,
bastando o registro de sua decisão no período letivo anterior. As avaliações eram
realizadas pelos próprios alunos e, na conclusão do curso, não recebiam
certificados.
Em Arret, valorizavam as qualidades reais ou espirituais de cada pessoa.
Bastava ela dizer que estava capacitada para o trabalho, que ninguém perguntava
onde e quando aprendeu, ou como se preparou, pois ninguém trabalhava em algo
que não gostava e que não pretendia executar com perfeição. Quando julgavam
necessário outros conhecimentos para melhor desempenhar seu trabalho ou
missão, ingressavam em escolas de especialização e alguns ainda freqüentavam
cursos avançados em planetas mais evoluídos.
O sistema de saúde era totalmente preventivo e estava apoiado na
manutenção de um corpo saudável através da alimentação correta e da prática de
esportes, os quais objetivavam apenas exercitar o corpo e a mente. Nos centros
médicos existentes em cada cidade, as poucas cirurgias eram realizadas com a
ajuda de sofisticados aparelhos e quase sempre no corpo vital da pessoa, sem
cortes ou contatos físicos.
O arretiano não ficava doente e vivia saudavelmente até os duzentos
anos com uma energia juvenil. Morria por vontade própria, alguns dias ou meses
após o termino do trabalho que vieram realizar no planeta. Quando chegava esse
momento, despediam-se dos amigos e familiares, dormiam e não acordavam mais.
Os hospitais eram mais maternidades do que outro tipo de clínica.
O parto era natural, sem dores e realizado dentro de uma piscina
especial. A operação cesariana era muito rara e utilizada somente quando existia
risco de vida para a mãe ou para o bebê. Os arretianos faziam “check-up” diário e, a
maioria deles, mais de uma vez por dia, sempre que utilizavam a cabine de
teletransporte. Ela realizava esse procedimento automaticamente e, quando
constatava alguma anormalidade, o sistema de saúde convocava o usuário e
resolvia o problema na fase inicial, de uma maneira rápida, segura e indolor.
O lazer era a atividade mais importante no planeta e incluía a música, o
cinema, o teatro, a dança, os jogos de salão e outras práticas, predominando os
esportes aquáticos, como a natação e o mergulho. Lá, tudo era praticado sem
competição e, portanto, não existiam campeonatos ou torcidas organizadas.
Também não praticavam esportes como o futebol, basquete e vôlei, dentre outros
de natureza competitiva. O objetivo do esporte era apenas exercitar e manter o
corpo e a mente sadios.
O sistema agrícola, além de fornecer a base de sustentação da vida,
colocava os arretianos em estreito contato com a natureza, a qual muito admiram e
respeitam. A maioria das cidades eram agrícolas e ficavam localizadas no centro
das áreas de cultivo, como se fossem agrovilas. Raramente comportavam mais de
18 mil habitantes e produziam uma grande variedade de frutas, alguns legumes e
verduras e poucos cereais. Parte da produção era destinada à alimentação em
estado natural e a outra, ao processamento industrial. Como o clima do planeta não
apresentava variações sensíveis, quase todas as regiões produziam de tudo.
As cidades industriais eram maiores e algumas chegavam a 50 mil
habitantes. Umas só produziam equipamentos básicos ou matérias-primas e outras
as transformavam em utilidades para a vida planetária, desde pequenos objetos,
até grandes naves intergalácticas. O complexo agrícola e industrial era bem
35
distribuído em todo o planeta, sem privilégios para nenhuma região. Os trabalhos
pesados ou repetitivos eram executados por máquinas e robôs de diversos tipos e
habilidades.
Durante o descanso matinal na Sala do Horto, Antak fez uma rápida
exposição dos temas das quatro aulas do dia. Sathya apresentaria os tipos de
naves de transporte e o sistema de distribuição. Tentra se encarregaria do
urbanismo e Tali complementaria seu tema anterior, falando das artes e
espetáculos. Ele iria concluir o treinamento falando sobre o sistema religioso.
Depois iniciamos a programação daquele dia maravilhoso e cheio de novidades
como os dois anteriores, tanto com relação aos temas tratados, como pela
agradável surpresa que tivemos na última aula. Elas continuaram até o final da
noite.
Em Arret havia sete classes de naves de transporte e todas
apresentavam a forma de um charuto achatado, ou uma elipse, cujo comprimento
era sempre o triplo da largura, ou o quádruplo da sua altura. Além dos tipos básicos
abaixo, fabricavam outras com vários formatos, voltadas para a execução de
serviços especiais, ou para transporte em locais específicos, como parques,
canteiros de obras e centrais de abastecimento.
 As grandes naves do tipo 1, com 1.368 metros de comprimento, 456 de largura
e 342 de altura, eram utilizadas para viagens na Via Láctea ou a outras galáxias.
Elas raramente desciam nos planetas visitados e, normalmente, estacionavam
em órbitas elevadas. O contato com o solo era realizado por naves do tipo 4 ou
menores, abrigadas em seu interior.
 As naves do tipo 2, como a Amizade, tinham 456 metros de comprimento, 152 de
largura e 114 de altura. Eram utilizadas para transporte de cargas e para lazer
turístico na Via Láctea ou regiões dela.
 As naves do tipo 3, como a SOL-4, com 144 metros de comprimento, 48 de
largura e 36 de altura, eram utilizadas para viagens em regiões da Via Láctea,
com a mesma autonomia e recursos de navegação das naves do tipo 2. Elas
também eram utilizadas para transporte de cargas dentro e fora da atmosfera
arretiana.
 Para o transporte de cargas a qualquer região do planeta ou do sistema estelar
arretiano, havia as naves do tipo 4. Elas tinham uma largura de 24 metros, altura
de 18 e um comprimento de 72. Podiam dar uma volta em Arret em menos de
dez minutos e, fora da atmosfera, sua velocidade era espantosa.
 As naves do tipo 5 eram utilizadas para o transporte de cargas e de passageiros
em viagens turísticas a qualquer lugar de Arret ou de seu sistema estelar.
Tinham 12 metros de largura, 9 de altura e 36 de comprimento. Dentro da
atmosfera e fora dela, seguiam o mesmo padrão de velocidade das naves do tipo
4.
 Como tipo 6, existia uma nave medindo 8 metros de largura, 6 de altura e 24 de
comprimento. Era o ônibus arretiano, por ser largamente utilizada no transporte
de passageiros para qualquer região do planeta, incluindo colônias marítimas,
estações orbitais e satélites naturais.
 A última nave media 2 metros de largura, 1,5 de altura, 6 de comprimento e era
conhecida como veículo do tipo 7, ou de transporte familiar e individual. Era o
único lá existente para essa finalidade e seu modelo básico era diferenciado

36
apenas pelas cores do seu interior e pela sua pintura externa, algumas, uma
verdadeira obra de arte.
A distribuição de bens para a população era realizada em
estabelecimentos semelhantes aos nossos supermercados. Os arretianos tinham
acesso a eles através de duas formas distintas. O primeiro caso, em que os direitos
eram iguais para todos, envolvia uma infinidade de produtos necessários à
sobrevivência, bem-estar, conforto e qualidade de vida, como alimentos, vestuário,
equipamentos e utensílios domésticos, roupas e guarnições, dentre outros. Para
obtê-los, bastava ir a um supermercado, registrar a saída dos produtos nos
inúmeros terminais de leitura lá existentes e levá-los para casa sem necessidade de
pagamento.
O segundo caso envolvia os bens não essenciais, como equipamentos
de som e imagem, cabines de teletransporte e veículos do tipo 7. Para obtê-los, o
interessado dirigia-se a outro tipo de estabelecimento, onde se identificava e
retirava o bem que estaria à sua disposição em até duas semanas após a escolha
do tipo, cor ou modelo, desde que tivesse o crédito necessário em horas extras.
Também podia recebê-lo como presente de casamento de seus pais ou padrinhos
que tivessem o respectivo crédito.
As cidades arretianas eram cuidadosamente planejadas para facilitar o
relacionamento, a convivência comunitária e o aproveitamento das horas de lazer.
As avenidas eram muito largas e possuíam um canteiro central arborizado e florido.
Nelas, a cada cem metros, havia ambientes circulares destinados a atividades
culturais e recreativas. As ruas secundárias não tinham canteiro central, mas eram
largas, arborizadas e floridas. Ambas eram destinadas exclusivamente a pedestres
e eram revestidas com pedras planas e um tipo de grama japonesa.
As residências apresentavam sete tipos de plantas e uma área
construída que variava em função da quantidade de quartos. Podia ter de dois a
cinco dormitórios e de 100 a 210 metros quadrados. Quase todas eram térreas e
apresentavam amplas varandas em sua volta. O material básico empregado nessas
construções era a madeira, combinada com resinas plásticas e fibras minerais,
como a de vidro.
Os terrenos residenciais tinham 50 metros de lado e eram
impecavelmente gramados e arborizados. As habitações eram posicionadas do
centro para frente e, na junção dos quatro terrenos que formavam cada quadra,
existia uma piscina com cachoeira, escorregador e outros equipamentos de lazer
comunitário. Um conjunto variável de quadras formava um bairro e cada um deles
era constituído por residências de mesmo formato e mesma quantidade de quartos.
As cores externas eram variadas, predominando os tons claros. A visão das
quadras e dos bairros, além de muito bonita, era um espetáculo de cores, árvores e
flores.
Os prédios públicos, como teatros, cinemas e supermercados, eram
identificados pelo seu formato e cores peculiares. Eles obedeciam a outro padrão
de construção e raramente tinham mais que dois andares. O prédio mais alto de
Arret era o Palácio da Harmonia, com 28 andares, onde ficava instalado todo o
primeiro escalão do governo central do planeta. Ele era muito bonito, tinha a forma
piramidal e sua base era formada por uma estrela de oito pontas. Externamente,
era uma impressionante estrutura de cristal dourado com topo azulado, onde se
localizava o gabinete de Arcthuro. Apesar do baixo índice de incremento
37
populacional, o Ministério da Habitação sempre construía novas cidades, mais para
manter um padrão de idade média das edificações em torno de duzentos anos,
equivalente à expectativa de vida da população.
As artes e espetáculos foi o tema que apresentou menos novidades, pois
a música, o teatro e a dança, em diferentes graus de manifestação, existiam em
planetas de todos os graus evolutivos. Porém, em Arret, a música era tão popular
que era impossível encontrar uma pessoa que não dominasse, pelo menos, um
instrumento musical, os quais eram muito parecidos com os nossos. A dança
clássica era muito popular e também a de salão, no estilo praticado em nosso
planeta na época das grandes orquestras.
O teatro utilizava avançados recursos de cenografia e o cinema, em três
dimensões, era apresentado em grandes telas côncavas, semelhantes às da SOL-
4, as quais reproduziam a realidade de uma forma assustadora, pois até os odores,
o frio e o calor eram sentidos pela platéia. Apesar de terem recursos parecidos em
suas casas, os arretianos preferiam assistir a filmes em locais públicos, tanto pela
oportunidade de contato e convivência com outras pessoas, como pelas palestras
que sempre ocorriam antes de cada espetáculo. Também assistiam a filmes e
documentários realizados em outros planetas, inclusive na Terra.
A aula sobre o sistema religioso contou com a presença dos demais
tripulantes e, antes de iniciar, Antak fez uma breve oração, após a qual observamos
uma luz dourada que se transformou na imagem de Jesus. Antes que se
desfizesse, foi possível ouvi-lo dizer que estava satisfeito com o trabalho em
andamento e que sempre estaria conosco. Todos se emocionaram e Antak fez
alguns comentários sobre a admiração do povo arretiano por aquele ser
maravilhoso. Dentre outras coisas, disse que Jesus, em várias ocasiões, foi o guia
de Ahelohim, o messias de Arret, como Jesus o era da Terra.
Depois, Antak falou sobre a religiosidade do seu povo, a qual atendia
plenamente aos princípios básicos que Jesus veio demonstrar e ensinar em nosso
planeta. Ao mesmo tempo em que ninguém era ligado a uma corrente religiosa,
todos amavam o próximo como a si mesmos e a Deus sobre todas as coisas. Lá
não havia templos ou igrejas e nem pessoas como padres, pastores ou rabinos.
Porém, antes de qualquer espetáculo cultural, sempre ocorriam palestras de cunho
filosófico, proferidas por membros do governo central ou por cidadãos comuns. Os
Arretianos adoravam essas palestras, onde sempre ocorriam fenômenos como
aquele que acabávamos de presenciar.

A PARTIDA DO SISTEMA SOLAR

Ao término da aula, Antak pediu para Tentra falar sobre a viagem a Arret
e divaguei por alguns momentos da sua exposição, pensando nas razões de todo o
trabalho que estavam tendo comigo. Além daquilo que ela estava fazendo, cujo
objetivo era me tranqüilizar, os demais estavam há três dias à minha disposição,
pois não havia percebido nenhuma outra atividade especial na SOL-4. Tentra
captou essas divagações e pediu para me concentrar na sua fala, pois não queria
que eu ficasse inseguro ou preocupado com alguma coisa que acontecesse fora do
padrão e eu a interpretasse de maneira errada. Depois de dizer que mais tarde
conversaria comigo, continuou sua exposição.
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Ela falou que às três horas da manhã a nave entraria em uma espécie de
túnel do tempo, portal ou “xendra”, como alguns conheciam na Terra. O processo
seria comandado pelo SINE e a viagem, de centenas de anos-luz, ocorreria em um
tempo muito curto, pois às cinco horas a SOL-4 já estaria estabilizada e em órbita
alta em relação à superfície arretiana. Durante essas duas horas eu deveria
permanecer em minha cama com a cúpula fechada, para não acordar com dor de
cabeça ou enjoado. Pediu para não ingerir líquidos após a refeição e para urinar
antes de deitar, pois, entre três e cinco horas, a cúpula não abriria ao meu comando
e estaria bloqueada pelo SINE, para minha total segurança.
Após a exposição, Antak falou que ele, Tali, Otento e Salino iriam tomar
as providências para a viagem e combinaram nos encontrar no restaurante, na hora
do jantar. Ao sair, brincou dizendo que iriam trabalhar enquanto a gente se divertia
na Sala das Águas. No caminho, enquanto Oatas e Sathya conversavam mais à
frente, pedi desculpas a Tentra pelas minhas divagações e ela disse que o povo
arretiano não sabia o que era pedir desculpas, pois lá ninguém se ofendia.
Salientou que fez a observação somente para que eu não perdesse nenhum
detalhe importante, como o travamento da cúpula da cama.
Reiterou que iríamos conversar sobre o assunto das minhas divagações
após alguns mergulhos e perguntou se eu concordava em tomar o banho ao
natural, pois queria saber se eu já estava preparado para encarar essa situação
corriqueira para o seu povo, apesar de incomum e cheia de preconceitos e malícias
na Terra. Respondi que ainda me sentia inibido e sem saber como me comportar,
mas que gostaria de tentar e iria me esforçar para não decepcioná-la. Ela me
incentivou e disse que eu iria me sair bem nessa última etapa do treinamento, no
qual tinha recebido boas notas até então.
Não entendi exatamente o que ela quis dizer, mas não tive tempo para
fazer perguntas, pois estávamos chegando à Sala das Águas. Tentra contou a
novidade para Oatas e Sathya, deixando-os contentes com a notícia e eles me
incentivaram a agir naturalmente, como era comum ente as crianças terrestres. No
vestiário, pedi para Oatas me vigiar e "puxar minha orelha" se fosse necessário. Ele
deu uma gargalhada e disse que não precisaria me vigiar, mas estava ansioso para
me ver no ambiente da piscina. Assim que nos despimos, me pediu para ignorar o
fato e disse que tudo iria dar certo.
Quando entramos, Sathya nadava submersa e Tentra estava em pé sob
a cachoeira. Não pude ignorá-la, pois assim que me viu, pediu para esperá-la na
borda da piscina e mergulhou. Entrei imediatamente na água e os poucos segundos
que ela demorou pareceram minutos, pois nesse tempo houve uma luta entre a
parte dos meus pensamentos que teimavam em observá-la e a outra que
recriminava o procedimento.
Ao chegar, ficou em pé e perguntou como estava me sentindo. Disse que
estava envergonhado, pois não tinha conseguido deixar de observá-la. Ela deu uma
gargalhada e pediu para me despreocupar e, se sentisse vontade de olhar, que não
lutasse contra esse pensamento, como estava fazendo naquele momento. Falou
que não se sentiria desrespeitada por ser observada e garantiu que logo eu me
acostumaria, pois a curiosidade inicial se transformaria em um fato corriqueiro.
Tentra afastou-se um pouco e me pediu para observá-la à vontade, até concluir que
ela era igual a todas as mulheres, sem nada de especial ou digno de ser notado.

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Depois, voltou a perguntar como estava me sentindo. Respondi que,
naquelas circunstâncias, não havia razão para me sentir mal, pois ela era uma
pessoa muito querida que, como uma amorosa e paciente professora, estava ali
para me ensinar uma difícil lição, da maneira mais fácil de ser assimilada. Falei que
sentia a necessidade de aprendê-la para continuar o maravilhoso curso que
estavam me oferecendo, com um empenho e dedicação que eu nunca presenciei
na Terra.
Quando terminei de falar, notei lágrimas em seus olhos e pensei ter feito
ou falado alguma coisa errada. Imediatamente ela disse que suas lágrimas eram de
emoção e de felicidade pelo que eu acabara de sentir e dizer. Falou que os
arretianos eram muito emotivos e choravam facilmente em situações como aquela.
Depois me convidou para um mergulho e só então percebi Oatas e Sathya ao
nosso lado, sorrindo e fazendo sinais de aprovação. Nos divertimos bastante e
durante esse tempo minhas sensações iniciais desapareceram. Mais tarde, Tentra
me chamou para uma conversa fora da piscina.
Assim que sentamos, ela disse que aquilo que estavam fazendo
representava uma grande satisfação para eles e que qualquer arretiano faria coisas
semelhantes, mesmo que não houvesse um motivo claro ou especial. Disse que o
livro ou livros, juntamente com outros já publicados e a serem publicados nos
próximos anos, ajudarão muitas pessoas a pensar e a sonhar com um mundo
melhor, mais fraterno e feliz, baseado no serviço impessoal e desinteressado de
recompensas materiais.
Afirmou que o conjunto desses pensamentos e desses sonhos acelerará
o processo cósmico e ajudará a transformar o modo de vida terrestre em algo
parecido com aquilo que vi e iria confirmar durante os levantamentos em Arret.
Tentra estava muito compenetrada, parecendo observar alguma coisa que eu não
via e afirmou que, antes de estarem fazendo algo pela nossa humanidade, estavam
fazendo por eles mesmos.
Enfatizou que era somente o serviço desinteressado que impulsionava o
ser para estágios mais avançados na senda da evolução e afirmou que, se eu
escrevesse o livro, deveria fazê-lo sem esperar reconhecimentos e recompensas
materiais. Também deveria me preparar para receber mais críticas que elogios, pois
boa parte da humanidade terrestre não entenderia a mensagem central e não tinha
interesse em mudar seu modo de vida atual.
Em seguida, perguntou se eu tinha pensado sob esse prisma. Respondi
que sim e afirmei que nunca imaginei escrever o livro para ganhar dinheiro e que as
críticas também não seriam novidades, pois eu seria apenas mais um dos milhares
que já passaram por situações semelhantes. Ela disse que estava satisfeita com o
meu modo de pensar e que ela e os demais iriam me ajudar em tudo que fosse
possível, para que eu colhesse mais rosas que espinhos.
Oatas e Sathya saíram da água e sentaram-se junto a nós. Apesar de
não terem ouvido a conversa, reforçaram tudo que Tentra falou. Ao final, ele
informou que passei nos testes e que, dali para frente, as coisas seriam mais fáceis
para mim. Em seguida, disse que estava na hora de irmos ao restaurante e, por
essa razão, resolvi não fazer perguntas sobre os testes.
Fomos recebidos com palmas, abraços, cumprimentos e os mesmos
incentivos que acabara de ouvir. Disse a eles que estava achando que me
submeteram a um teste real e, se não fosse aprovado, adeus viagem a Arret. Antak
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confirmou minhas suspeitas e informou que os três dias de treinamento tinham esse
objetivo. Falou que não me informou a respeito para não prejudicar meu
aprendizado sobre seu povo e o processo de assimilação das novas regras de
comportamento social.
Aliviado com a notícia, agradeci a todos pelo carinho e paciência que
tiveram comigo. Depois, Tali nos convidou para um brinde, após o qual ingerimos
uma refeição leve. Enquanto nos dirigíamos à Sala do Horto, perguntei a Antak se
ele sabia algo a respeito do meu corpo original. Ele informou que meu corpo dormia
um sono tranqüilo e que suas funções vitais estavam sendo controladas por uma
cápsula sobre o meu quarto, a qual enviava informações para uma das naves do
comando da frota de apoio à Terra e esta as retransmitia ao computador da SOL-4.
Depois de dizer aos demais que logo os encontraríamos, entramos em
uma sala de treinamento. Antak pressionou uma tecla, deu alguns comandos de
voz e logo a tela se iluminou com uma imagem distante da Terra. Seu tamanho foi
aumentando até que vi minha casa, o meu corpo e o de minha esposa, ambos
dormindo. Notei que o relógio marcava meia noite e quinze.
Fiquei impressionado com o fato de estar na nave há quase três dias e o
relógio ter avançado apenas 10 minutos. Imediatamente lembrei da primeira
conversa com Oatas e dos cálculos que fiz. Antak captou meu pensamento e
comentou que dentro de umas duas horas terrestres eu estaria de volta àquele
corpo e me pediu para ficar tranqüilo, pois ele estava sendo muito bem cuidado.
Informou que durante a estada em Arret não haveria condições para vê-lo em
tempo real e perguntou se eu estava satisfeito. Ante a resposta afirmativa, a tela foi
apagada e saímos ao encontro dos nossos amigos.
A conversa foi muito animada e versou sobre a chegada ao planeta e o
início dos levantamentos. O desembarque ocorreria em Agartha, a sua capital, em
um dia equivalente a uma segunda-feira, após a refeição da manhã. No início da
tarde iríamos à sede do governo central, onde ocorreria a reunião com Arcthuro. No
dia seguinte seriam iniciados os levantamentos básicos, previstos para as três
primeiras semanas. Depois haveria outra reunião com Arcthuro, na qual seriam
definidas as etapas seguintes e o dia do meu retorno à Terra.
Mais tarde, uma informação de Antak me deixou surpreso. Disse que o
trabalho de Oatas estava concluído com grandes méritos e que ele iria voltar a fazer
parte da espiritualidade marciana. Falou que Tentra e Salino seriam meus guias em
Arret, juntamente com outras pessoas que lá eu iria conhecer.
Perguntei por que ele iria nos deixar, se tinha dito que seria o meu guia
durante a viagem. O próprio Oatas respondeu dizendo que assim procedeu porque
eu não estava preparado para compreender e aceitar outra alternativa. Se dissesse
que seriam Tentra e Salino, que eu ainda não conhecia, poderia me deixar inseguro
e prejudicar o plano que estabeleceram. Afirmou que não me enganou e que estaria
sempre comigo, pois seu pensamento jamais me abandonaria. Falou que aquela foi
a melhor maneira que encontraram para fazer o contato comigo e perguntou se eu
agiria de outra maneira naquele tipo de situação.
Concordei plenamente com suas justificativas e relembrei que ele
já havia feito muito por mim desde o nosso primeiro contato em 1978. Falei que ele
sempre ocuparia um lugar especial no meu coração, pois nunca o esqueci. Oatas
brincou dizendo que, naquela ocasião, quase revelou o sistema de sustentação e
de propulsão das naves marcianas, tamanha a minha insistência e de um amigo, o
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Luiz Duarte. Aproveitando o clima, Tentra perguntou se eu aceitava que ela e Salino
fossem meus novos guias. Na mesma linha, falei que a pergunta não merecia
resposta e agradeci a todos, relembrando algumas das coisas que fizeram por mim.
Depois, Tentra relembrou alguns detalhes da viagem e disse que, se eu
estivesse com algum receio, por não contar mais com o Oatas, providenciariam
uma cama extra e eu poderia dormir no quarto deles. Agradeci a oferta e assegurei
que não seria necessário. Garanti que o travamento da cúpula não representaria
nenhum problema, pois não tinha o costume de acordar à noite, a não ser para
urinar e, caso isso acontecesse, me desapertaria na própria cama, a menos que
provocasse algum curto-circuito. Eles riram e Salino afirmou que era a melhor coisa
a fazer, pois não havia esse perigo.
Como já estava se aproximando a hora que devíamos nos recolher,
acompanhamos Oatas até a sala onde recebemos nossos corpos ao chegar à nave.
Ficamos abraçados um bom tempo durante as despedidas e ele aproveitou para
fazer algumas recomendações e para prever várias coisas que poderiam acontecer
nos dias, meses e anos seguintes.
Quando ele deitou e fechou a cúpula da cama e seus olhos, entendi
como funcionava a morte nos mundos mais adiantados, onde era tratada como um
fato natural e não guardava a menor semelhança com aquilo que ocorria na Terra.
Tentra e Salino me acompanharam até o meu quarto e ela repetiu sua proposta
anterior. Voltei a dizer que estava tranqüilo e que não queria alterar o plano que
tinham estabelecido. Assim que saíram fiz a higiene noturna, deitei e fiquei alguns
minutos pensando em Oatas, nos dias que passamos juntos e em tudo que ele
previu para acontecer.

O PRIMEIRO DIA EM ARRET

O desembarque e os contatos iniciais


Quando acordei, a tela do equipamento de áudio e vídeo mostrava uma
imagem semelhante à da Terra. Em meio a nuvens e uma atmosfera azulada,
apareciam oceanos, ilhas e continentes com disposições e formatos diferentes. Foi
nesse momento que me dei conta que estávamos em Arret. Fiquei uns dez minutos
observando e pude notar que a nave completou uma volta em torno do planeta.
Tomei o banho mais rápido da minha vida, vesti-me e fui para o restaurante
pensando em Oatas e onde seu espírito estaria naquele momento.
Durante a refeição eles notaram que eu estava ansioso pelo
desembarque, apesar de toda a carga de informações que recebi sobre o planeta.
Tentra brincou dizendo que eu parecia uma criança às vésperas de receber o
presente do Papai Noel e que isso era muito bom. Quando terminamos, fomos à
cabine de comando para acompanhar os detalhes da entrada na atmosfera e da
aterrissagem.
Ocupamos a mesa de reuniões e ficamos aguardado Antak que, na
mesa de comando, conversava com alguém cuja imagem aparecia na tela à sua
frente. Logo ele juntou-se a nós e me pediu para observar o exterior da nave, pois
ela iria entrar gradativamente na atmosfera, em órbitas espiraladas, permitindo a
visão geral dos continentes, mares, ilhas e de algumas cidades, especialmente a de

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Agartha. Em seguida, a SOL-4 começou a se aproximar do planeta em posição
vertical, com a cabine de comando voltada para ele.
Eu quase nem piscava para não perder nenhum detalhe daquela
operação especial que estavam realizando. Durante quase uma hora fiquei
observando e ouvindo explicações sobre os mais variados acidentes geográficos,
até que paramos sobre a grande ilha de Agartha. Conforme nos aproximávamos do
solo, ficava visível o tráfego de algumas naves e diversos detalhes da cidade.
Quando chegou a uns mil metros do solo, a SOL-4 retomou a posição horizontal e
logo estacionou.
Durante o tempo que a nave permaneceu na vertical e quando mudou de
posição, não houve mudança de sensação ou qualquer tipo de desconforto. Parecia
que a SOL-4 tinha uma gravidade própria, à medida que nada caía das mesas ou
de qualquer outro lugar. Não houve tempo para perguntas a respeito, pois Antak
informou que os veículos deles já estavam a caminho e nos convidou para
desembarcar.
Assim que pisei no solo arretiano, tive uma idéia real das dimensões da
SOL-4. Era um charutão gordo e dourado, quase chegando ao cobre brilhante. Ela
ficava suspensa a um metro do solo e não tinha trens de pouso ou coisa parecida.
Logo minha atenção se voltou para as três pequenas naves ali estacionadas, todas
do mesmo tipo e modelo, com cores e pinturas metálicas diferentes. Eram veículos
do tipo 7 e, como não vi nenhum “motorista”, perguntei quem os tinha trazido.
Salino respondeu que foi o piloto automático dos veículos, obedecendo a um
comando emitido pelo SINE. Eu já estava me acostumando a essas novidades e
passei a observar o enorme aeroporto.
Era uma área quadrada com uns quatro quilômetros de lado, repleta de
arbustos e jardins nas longas e largas faixas que separavam pistas de larguras e
comprimentos diferentes. Seus pisos eram formados por um gramado que parecia
um imenso tapete. Nos quatro lados distinguiam-se construções de diversos
tamanhos e formatos, algumas semelhantes a hangares de aviões terrestres. Havia
três naves como a SOL-4 estacionadas e outras de tamanho menor.
Quando concluí as observações, cada casal se dirigiu aos seus veículos
e Tentra me levou até o deles, cujo nome era Canarinho. Tinha três confortáveis
assentos na frente, outros três atrás e um grande compartimento de bagagens.
Salino me pediu para sentar na lateral dianteira, para melhor apreciar a vista de
Agartha. A pequena nave não tinha volante, câmbio, acelerador, breque e outros
dispositivos próprios dos veículos terrestres, somente pequenas telas e teclados em
frente a cada assento. Parei de observar outros detalhes, pois os veículos dos
nossos amigos começaram a decolar. Pararam a uns 30 metros de altura,
acenaram e saíram a uns duzentos quilômetros por hora.
Em seguida, Tentra apertou uma tecla, deu um comando de voz e logo o
Canarinho se posicionou acima da SOL-4. Obedecendo a outro comando de voz,
começou a se deslocar a uns cem quilômetros por hora. Durante o trajeto notei que
o veículo obedecia a ordens verbais de Tentra ou de Salino para parar, elevar,
baixar, virar, diminuir ou aumentar a velocidade. Além dessas instruções, eles não
prestavam a menor atenção no tráfego e não tocavam em nada. Preocupavam-se
apenas em chamar minha atenção para observar detalhes da cidade, como praças,
mercados, escolas e casas de diversos formatos.

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Logo avistamos e circundamos o Palácio da Harmonia, onde teríamos a
reunião com Arcthuro na parte da tarde. Como vi na SOL-4, era um prédio muito
bonito e emanava uma energia maravilhosa que pudemos sentir. Apesar de não ser
tão grande ou alto, como muitos prédios terrestres, sua estrutura impressionava e
chamava a atenção de maneira hipnótica.
Alguns minutos depois avistamos um conjunto de residências octogonais
e Tentra mostrou a quadra e a casa onde moravam. O Canarinho parou sobre o
local a uns 50 metros de altura e baixou rapidamente, sem transmitir nenhuma
sensação de queda. Fiz uma pergunta a esse respeito e Salino informou que,
quando fossemos visitar uma fábrica daqueles veículos, eu iria conhecer detalhes
do seu mecanismo de compensação gravitacional, o qual inibia as sensações de
queda, de elevação, de acelerações ou desacelerações rápidas.
Assim que descemos, disseram que aquele era o "meu novo lar" e me
pediram para entrar primeiro. Ao me aproximar da porta ela se abriu, dando acesso
a uma ampla sala com dois ambientes que logo se iluminaram com uma luz que
vinha do teto e das paredes, como na SOL-4. Tentra apertou uma tecla e as janelas
ficaram translúcidas, alterando imediatamente a intensidade da iluminação interna.
Antes que fizesse qualquer pergunta, ela me pegou pelo braço e disse que,
enquanto Salino preparava um suco, iria me mostrar a casa e o meu quarto.
Ela era simples e funcional. Tinha três suítes, sala de estar com dois
ambientes, sala de música e vídeo, cozinha, sala de refeições e despensa
conjugada com lavanderia. O quarto deles tinha uma cama de casal e o de Vércia,
sua filha, tinha uma de solteiro. O meu era o de hóspedes, tinha duas camas de
solteiro e as mesmas comodidades daquele que ocupei na SOL-4. O lado externo
da casa era uma grande varanda com mesinhas, cadeiras, poltronas, vasos de
flores e outros objetos.
Como as demais, a casa ficava posicionada quase no centro de um
terreno com um gramado impecável, cercada por muitas árvores ornamentais e
frutíferas. Quando entramos, Salino nos aguardava na sala de música com uma
jarra de suco de frutas e minhas músicas preferidas. Conversamos sobre a "nossa
casa" e, dentre suas várias características, a que mais chamou minha atenção foi a
inexistência de rede elétrica externa.
Mais tarde me levaram até um compartimento na varanda e me
mostraram as duas baterias responsáveis pelo suprimento elétrico. Uma alimentava
a rede elétrica e a outra só entrava em operação em casos de consumo excessivo
ou falha da principal. Elas eram carregadas por painéis fotovoltaicos com o mesmo
formato das placas que formavam o telhado da casa. Eles não eram facilmente
identificáveis, assim como, os coletores solares que aqueciam a água até o ponto
de fervura.
As baterias tinham alta capacidade de armazenamento e grande
durabilidade. A cada cinco anos, a reserva passava para o lugar da principal e era
substituída por uma nova. Aquele sistema, com baterias de menor ou maior
capacidade era utilizado em todas as edificações do planeta, dispensando as
centrais de geração de energia, as linhas de transmissão e as fiações urbanas.
Quando retornamos à sala de música, conversamos a respeito de Vércia e Tentra
falou dela com muito orgulho.
Informou que, pelo fato de viajarem muito, Vércia era filha única, tinha 25
anos, era solteira, trabalhava no Ministério dos Transportes e Distribuição, estava
44
em viagem de férias e iria retornar a qualquer momento. Segundo Salino, ela era
parecida com Tentra e também era alegre, carinhosa, comunicativa e brincalhona.
Mais tarde ele disse que faltavam algumas coisas na despensa e sugeriu que
fôssemos ao supermercado, pois iria colocar alguns assuntos em dia e esperar por
Vércia.
Tentra pegou um “carrinho” com duas cestas, apertou uma tecla,
chamou-o pelo nome e ele nos seguiu flutuando até o Canarinho. Tentra abriu a
porta traseira, ele se acomodou no "porta-malas". Durante o trajeto, ela explicou
que os arretianos colocavam nomes nas coisas que os cercavam e os serviam,
independente de pertencerem aos reinos mineral, vegetal ou animal. Falou que as
tratavam com carinho, pois também eram constituídas por energias em evolução.
Os nomes eram sempre associados a características ou semelhanças com seres
dos reinos superiores e exemplificou o caso do seu veículo que, além de voar, as
cores de sua carenagem imitavam aquelas de um tipo de Canário lá existente.
O supermercado era um grande prédio de dois andares em forma
piramidal, com o topo cortado na metade da altura, onde centenas de pessoas
faziam "compras", seguidas por seus carrinhos flutuantes. Durante mais de uma
hora que lá ficamos, a maior parte do tempo foi gasto por Tentra para me
apresentar a seus amigos. Eram homens, mulheres, jovens e algumas crianças que
me impressionaram pela forma educada e adulta com que se portavam. Além disso,
eram muito inteligentes, bem informadas e conheciam várias coisas da Terra.
Tive oportunidade de ver pessoas que representavam o conjunto que
conheci durante o treinamento, desde mulatas até loiras, todas com um bronzeado
impecável. Dentre esses tipos, predominavam as de pele morena e Tentra me
apresentou uma delas, uma moça muito comunicativa, simpática e bonita. Tinha
grandes olhos azuis que muito me impressionaram e ela me pareceu bastante
familiar, apesar de Tentra não ter falado nada além do padrão que utilizou nos
demais casos.
Na volta, por ter percebido minha reação ou porque sabia de alguma
coisa ainda não revelada, quis saber o que achei daquela sua amiga. Discorri sobre
as impressões que tive e perguntei se ela estava me escondendo algo. Ela sorriu e
disse que, como falou em diversas ocasiões, eu teria muitas boas surpresas em
Arret, cada uma no seu devido tempo. Ela concluiu o assunto no momento que
estávamos sobrevoando um bonito parque e me pediu para observá-lo, pois fazia
parte do nosso programa de visitas e levantamentos.
Quando Tentra avistou sua casa, falou que sua filha tinha chegado e,
assim que estacionou o Canarinho ao lado do veículo multicolorido de Vércia, ela
veio correndo ao nosso encontro. Mal desci, ela me deu um abraço e diversos
beijos, além de dizer que estava com muitas saudades. Fiquei surpreso e sem
saber o que dizer. Apenas senti que ela era uma pessoa muito querida, pois nossa
afinidade foi instantânea. Fomos abraçados para a sala de estar e, quando Tentra
entrou, Vércia disse que havia se esquecido dela, deu-lhe vários beijos e sentou em
seu colo. Ela era parecida com Tentra, com os mesmos olhos grandes e verdes,
sardas no rosto e cabelos ruivos, um pouco mais escuros.
Salino juntou-se a nós e o assunto foi a nossa amizade de muito tempo
atrás. Lembraram várias coisas não relatadas na SOL-4 e riram muito de algumas
situações que me envolveram com os três ou com parte deles. Enquanto falavam,
algumas imagens vinham à minha mente e eu não sabia se eram criadas por mim,
45
por eles, ou eram lembranças reais. Como já passava das onze e meia, Salino
perguntou se eu não gostaria de tomar um banho de piscina antes do almoço.
Fiquei indeciso e receoso de tomá-lo na presença dos vizinhos que ainda
não conhecia. Vércia captou meu embaraço e brincou dizendo que eu não poderia
ter uma "recaída", pois sabia dos meus progressos na SOL-4 e não aceitaria uma
resposta negativa. Apesar de não me sentir à vontade, aceitei o convite torcendo
para que os vizinhos não aparecessem. Foi exatamente o que aconteceu, pois
chegamos à piscina e não havia ninguém, inclusive, no vestiário, o que me pareceu
bastante estranho. Acabei gostando da ausência e, enquanto eu "enrolava" para me
despir, os três já estavam prontos, pois o vestiário era unissex.
Chegando à piscina mergulhei imediatamente sem observar os detalhes
daquele ambiente. Fiquei uns três minutos submerso, enquanto Salino, Tentra e
Vércia nadavam ao meu lado. Durante esse tempo notei que a piscina tinha o fundo
e contornos semelhantes à da SOL-4. Emergi no lado oposto da cachoeira e só
então pude observar o local.
A cachoeira tinha uns três metros de altura, uma largura de quatro e um
escorregador semicircular com água corrente em cada lado. A piscina tinha uns 20
metros de largura e o dobro de comprimento. Sua profundidade variava de menos
de um a três metros. O ambiente era semelhante ao da Sala das Águas e era
igualmente bonito. Tentra e Vércia se aproximaram e me convidaram para
experimentar o escorregador. Minha primeira experiência foi um desastre e, na
terceira tentativa eu estava adorando. Repeti a operação várias vezes e continuei
achando muito curioso o fato de nenhum vizinho ter aparecido até aquele momento.
Depois de uma ducha, sentamos na plataforma da cachoeira e vi a moça
que conheci no supermercado caminhando em direção ao vestiário. Vércia gritou
seu nome e foi ao encontro dela. Salino e Tentra sentaram-se ao meu lado e
começaram a conversar, fazendo de conta que não viram e não perceberam nada,
pois falaram somente sobre a importância daquele ambiente para eles e seus
vizinhos. Logo as duas desceram pelo escorregador e nadaram até onde
estávamos. Vércia me apresentou Syndi como sendo sua grande amiga e colega de
trabalho. Salino e Tentra mergulharam e as duas sentaram-se ao meu lado.
Vércia iniciou a conversa e depois permaneceu como ouvinte. Logo sua
amiga mostrou-se uma pessoa simpática, brincalhona e comunicativa, perguntando
uma porção de coisas sobre o Brasil, que ela conhecia muito bem. Imaginei que
estava procurando facilitar nosso diálogo e, da minha parte, aumentava a convicção
que ela também era uma conhecida de outros tempos, apesar dela nada mencionar
a respeito. Apenas mostrou-se muito atenciosa e me tratou como um amigo de
infância.
Logo depois os vizinhos começaram a entrar na piscina ou a ocupar
cadeiras para tomar sol. Syndi nos convidou para um mergulho e assim
permanecemos por alguns minutos. Emergimos próximo do local onde Tentra e
Salino conversavam com algumas pessoas e ela me pediu para sair da piscina. Fui
apresentado a elas e acabei virando o centro das atenções. Todas conheciam os
objetivos da minha estada em Arret e me incentivaram bastante. Também
esclareceram o mistério da ausência geral. Disseram que assim procederam para
que eu ficasse à vontade e me acostumasse com o novo ambiente. Novamente
fiquei impressionado com o nível de preocupação dos arretianos com o bem-estar
alheio.
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A reunião com Arcthuro e o final do dia
Mais tarde voltamos para casa e almoçamos. Novamente notei que
comiam pouco e ingeriam cápsulas de três a cinco tipos diferentes. Depois, fomos
para a varanda conversar até por volta das duas e meia, quando Salino lembrou do
nosso compromisso no Palácio da Harmonia. Perguntei se era necessário mudar de
roupa e eles riram bastante. Disseram que eu estava bem vestido para a ocasião e
que Arcthuro usava o mesmo tipo de roupa, como todos os arretianos em horário de
trabalho. Ao indagar sobre como iríamos até lá, Salino disse que usaríamos a
cabine de teletransporte e, para me tranqüilizar, ele iria à frente, eu em seguida e
Tentra por último. Vércia e Syndi iriam aproveitar para colocar "as fofocas em dia" e
logo saíram.
Fomos até a cabine de teletransporte e Salino selecionou as
coordenadas do Palácio da Harmonia. Apreensivo, perguntei se não havia riscos de
misturar as células com alguma outra coisa, como no filme "A Mosca". Os dois riram
muito, disseram que tinham ouvido falar dele e esclareceram que aquilo era
impossível de acontecer em Arret, mesmo que lá houvesse moscas e uma ou várias
entrassem na cabine.
Ela teletransportava um único ser vivo por vez, independente de
pertencer ao reino humano, animal ou vegetal. A "desintegração" somente ocorria
após um processo de validação baseado na análise do código genético contido no
DNA e só era possível teletransportar conjuntamente com um ser humano, coisas e
objetos provenientes do reino mineral, ou dos reinos superiores, desde que inertes
ou reprocessados, como era o caso das nossas roupas e seus acessórios.
Em seguida, Salino entrou na cabine dizendo que me esperaria "do outro
lado" e, assim que fechou a porta, sumiu em poucos segundos. Na minha vez, senti
uma forte sonolência e logo vi um amplo salão e a silhueta de Salino. Quando sai e
olhei em volta, percebi que lá havia umas três dúzias de cabines. Em seguida, ouvi
a voz de Tentra e nossa conversa foi interrompida pela chegada de Antak e Tali,
enquanto Otento e Sathya caminhavam em nossa direção. Nossos cumprimentos
foram tão efusivos, parecendo que estávamos separados há meses.
Entramos em um elevador panorâmico que permitia observar o saguão
de cada pavimento e subimos até a recepção da presidência, no penúltimo andar.
Durante a curta conversa, Tentra afirmou que eu iria sentir uma energia
maravilhosa quando chegássemos à recepção e, maior ainda, quando entrássemos
na sala de Arcthuro. Disse que até mesmo um “casca-grossa”, como eu me
denominava, não iria ficar imune à energia dele. Quando lá chegamos, a
recepcionista cumprimentou todos pelo nome e pediu que aguardássemos alguns
minutos.
Logo Othíbio entrou na sala, nos abraçou e, após relembrar nosso
encontro na SOL-4, pediu-nos para acompanhá-lo até o gabinete de Arcthuro, no
andar de cima. Subimos por uma escada rolante e saímos diretamente na sua sala.
Ele nos aguardava em uma grande mesa redonda, com cadeiras para mais 48
pessoas. Fiquei paralisado quando o vi, pois uma grande emoção tomou conta de
mim. Ele veio ao nosso encontro e parou na minha frente sorrindo. Assim que me
recompus, estendi a mão e ele, ao invés de apertá-la, me deu um caloroso abraço.
Depois de segurar meus braços à moda romana, disse que estava feliz
com a visita e que, como servidor de Arret e amigo do povo da Terra, iria ajudar em
47
tudo que fosse necessário para que o trabalho alcançasse o êxito esperado. Voltei
a me emocionar e ele colocou a mão direita em meu ombro e disse que, se sentisse
vontade de chorar ou de sorrir, que não segurasse ou disfarçasse esses dois belos
sentimentos da alma humana. Em seguida, se dirigiu a cada um dos demais com
amáveis palavras, sempre seguidas de carinhosos abraços. Depois nos convidou
para sentar bem próximos dele.
Arcthuro tinha uns dois metros de altura, cabelos grisalhos até os
ombros, pele morena, grandes olhos castanhos e rosto sem rugas, apesar de já
estar com 165 anos, 80 deles à frente do governo arretiano. Era uma pessoa de
extrema humildade e sabedoria, de fala mansa, pausada, firme e objetiva,
transmitindo tamanha sensação de confiança, que era impossível imaginar algum
outro sentido em suas palavras, ou deixar de atender qualquer pedido seu.
Assim que sentamos, entrou um robô semelhante ao da SOL-4 e serviu
um copo de suco de morangos para cada um. Arcthuro iniciou a reunião falando
que Arret tinha fortes laços com a Terra, pois o Messias responsável pelo seu povo
era Ahelohim, um dos setenta Messias da Aliança de Sírius, o qual era grande
amigo e colaborador de Jesus, o Messias da Terra. Disse que Ahelohim foi seu guia
e protetor em algumas de suas passagens pelo nosso mundo, incluindo a última.
Jesus, do mesmo modo, também foi guia e protetor de Ahelohim em
algumas de suas missões junto ao povo arretiano, onde passou pelas mesmas
situações que seu amigo enfrentou na Terra. Arcthuro enfatizou que esse era um
dos motivos da afinidade entre os dois planetas e tudo que pudesse ser feito para
transmitir esperança aos que sofrem com o atual modo de vida terrestre, sonham e
esperam por um mundo melhor, compensaria qualquer tipo de sacrifício, por maior
que fosse.
Falou que essa era a razão principal daquela reunião e da operação que
montaram para realizar um trabalho que lançaria mais uma semente no solo da
Terra, cuja germinação ficaria subordinada à vontade divina. Afirmou que, em
breve, a Terra passará por uma grande transição, ou transformação, cujos detalhes,
dia e hora era um segredo do Pai Celestial, para não alarmar Seus filhos e filhas
que serão submetidos ao exame de seleção.
Frisou que o livro ou livros que eu pretendia escrever deveria enfocar a
esperança em um mundo melhor, a felicidade e as dádivas que o Criador distribuirá
abundantemente a todos que superarem as barreiras do mundo competitivo, da
vida e dos prazeres materiais. Falou que, se assim eu decidisse quando voltasse à
Terra, deveria escrever pelo simples prazer, sem me preocupar com sua publicação
e, menos ainda, se traria retorno financeiro, se seria lido por muitos ou por poucos,
ou se seria aceito ou repudiado.
Enfatizou que era importante eu fazer a minha parte e deixar o resto por
conta do Pai Celestial, o único que sabia o dia e a hora propícia para a semente se
transformar em árvore e dar frutos. Lembrou que bastaria escrever com isenção que
a idéia seria registrada nos anais espirituais da Terra e muitas pessoas iriam
acessá-la durante o sono ou períodos de meditação. Disse que estavam prontos
para me ajudar no que fosse necessário e voltou a afirmar que a decisão final de
escrever seria minha, que não seria questionada e que não precisaria manifestá-la
naquele momento. Confirmou que Tentra, Salino e outras pessoas me
acompanhariam durante a estada em Arret e me auxiliariam em qualquer
dificuldade.
48
Depois, disse que já era hora de falar sobre como nasceu a semente e
se estabeleceu aquilo que eu chamava de governo central e como teria acesso às
informações necessárias para conhecer a realidade e o modo de vida do seu povo.
Em seguida, Arcthuro fez um resumo dos acontecimentos anteriores e posteriores à
grande transição arretiana, destacando aqueles que levaram à criação do governo
planetário.
Ele traçou um paralelo entre a situação de Arret, há 722 anos atrás, com
a atualidade terrestre e, o ponto que mais chamou a atenção, relacionava-se com a
profecia do "Homem do Cavalo Branco", citada no início deste livro. Naquela época,
com pequenas variações, Arret era a Terra da atualidade, com um modo de vida
semelhante àquele de 1960 e uma tecnologia mais avançada que a de 1999.
Três anos antes da transição planetária, a mão divina colocou um de
seus servidores na presidência de um país com características semelhantes às do
Brasil. Seu nome era Olintho e, com o apoio de suas poderosas alianças espirituais,
reestruturou aquele país e obteve a admiração e o respeito do seu povo e de muitos
governantes dos demais países. Como seu procedimento estava em sintonia com
as leis divinas, quando sobrevieram os dias da prestação de contas ao Criador e o
caos reinou no planeta, seu país foi um dos que menos danos sofreu.
Com isso, socorreram muitos povos mais atingidos e Olintho acabou se
tornando um líder planetário, auxiliando e coordenando esforços de reconstrução
em quase todos os países, sempre com o apoio irrestrito dos seres espaciais, dos
quais era uma espécie de embaixador. Ele foi eleito o primeiro governante
continental e não viveu o suficiente para assistir à implantação do governo central,
mas lançou a semente que frutificou alguns anos depois.
Mais tarde retornou a Arret com o nome de Hórhium e, no final do
primeiro século, assumiu o governo central e realizou uma grandiosa obra de
consolidação e sistematização dos mais variados aspectos da vida planetária.
Conforme pude entender e relacionar com a profecia citada, esse mesmo ser está
vivendo no Brasil, aguardando o momento que o Pai Celestial definiu para colocar
nossos destinos em suas competentes mãos.
Depois, falou sobre aquilo que imaginaram para facilitar meu
aprendizado, sempre submetendo suas conclusões à aprovação dos presentes.
Esse comportamento era comum a todos os arretianos e demonstrava o respeito
absoluto que tinham pelo livre arbítrio. No final, resumiu a estratégia para propiciar
o conhecimento da atualidade planetária.
 Através de visitas e passeios, eu conheceria as atividades básicas de cada um
dos doze ministérios e manteria contato com diversas pessoas, possibilitando
avaliar e sentir o seu grau de satisfação e de felicidade.
 Nas próximas três segundas-feiras, das oito horas ao meio dia, eu teria reuniões
de uma hora com cada um dos ministros cujas áreas foram levantadas na
semana anterior.
 Na última segunda-feira, às três horas da tarde, voltaríamos a nos reunir para
avaliar meu aprendizado, definir as próximas etapas e marcar meu retorno que,
apesar de previsto para dali a trinta dias, poderia se prolongar por mais dez a
doze.
Quando ele disse que, se estivéssemos de acordo, poderíamos encerrar
a reunião e colocar o plano em execução, concordamos imediatamente e nos
despedimos. Achei que o tempo passou muito rápido e também me senti feliz,
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otimista e confiante, como nunca estive em minha vida terrestre. Arcthuro era um
ser maravilhoso e sua presença tinha o poder de impregnar as pessoas com uma
parcela de suas qualidades. Ele era a síntese do povo arretiano e, por isso, era
amado e respeitado por todos. Já no andar térreo, cada grupo retornou à sua casa
e Salino acompanhou Antak para ajudá-lo a ajustar o planejamento do programa de
levantamentos, em função de algumas novas colocações feitas por Arcthuro.
Quando chegamos, Vércia e Syndi estavam em casa e perguntaram
sobre a reunião. Fiz um rápido resumo e Vércia concluiu, pela euforia que sentia em
mim, que ela foi ótima e falou que eu precisava relaxar um pouco na piscina.
Conversamos por mais alguns minutos e fui voltando ao normal, sem nunca mais
perder a confiança e o otimismo. Tentra ficou para preparar nosso jantar e esperar
por Salino, pois iriam visitar os pais dela. Nós fomos à piscina, onde conheci outros
vizinhos e conversei bastante com Syndi.
Ela estava com 25 anos, era solteira e trabalhava no Ministério dos
Transportes e Distribuição, juntamente com Vércia. Era a filha mais nova e seus
dois irmãos eram casados e cada um tinha um casal de filhos. Perguntei com que
idade os arretianos se casavam e ela disse que era entre os 18 e 35 anos, mas iria
permanecer solteira, como acontecia com uns vinte por cento da população. Sua
afirmativa estava baseada no fato de não ter assumido compromissos com
casamento ou filhos para aquela vida e que Vércia estava na mesma situação.
Apesar disso, poderiam ter filhos mesmo sendo solteiras, pois esse fato não era
incomum em Arret. Paramos nesse ponto, pois Vércia lembrou que já era tarde e
que Syndi iria até sua casa antes de jantar conosco.
Voltei com Vércia para a nossa casa e logo Salino e Tentra utilizaram a
cabine de teletransporte e saíram. Imaginei que a visita seria em Agartha e me
espantei quando Vércia disse que seus avós residiam no outro lado do planeta.
Logo me reposicionei e compreendi as comodidades que as cabines representavam
e porque os arretianos não davam tanta importância aos seus veículos particulares.
Enquanto aguardávamos a chegada de Syndi, pedi para Vércia falar sobre o
Ministério dos Transportes e Distribuição. Syndi retornou logo depois e as duas
prometeram continuar o assunto após o jantar, quando me transmitiram uma visão
geral do sistema de distribuição de bens, aclarando vários pontos ainda obscuros.
Depois, por lembrança de Vércia, voltamos ao assunto da conversa com Syndi na
piscina. As duas se revezaram e me forneceram informações muito interessantes.
Disseram que os compromissos com casamento e filhos são feitos
durante a permanência no plano espiritual e não são esquecidos quando do retorno
ao físico. Elas não assumiram esses compromissos e disseram que seus
companheiros da vida anterior, que poderiam ser seus parceiros naquela vida,
estavam em missão em outros planetas. O de Syndi estava vivendo na Terra e o de
Vércia estava em outro sistema estelar. Mesmo assim, poderiam se casar com
alguém em situação semelhante ou, o que era mais comum, assim como, poderiam
continuar solteiras e terem filhos, se quisessem e houvesse necessidade.
Informaram que esse tipo de maternidade somente ocorreria se algum
espírito, com o qual tinham grande afinidade, retornasse de uma missão em outro
planeta durante o período em que elas estavam vivendo na matéria. Se esse
espírito, por alguma razão relevante, necessitasse retornar imediatamente ao plano
físico, precisaria da ajuda de pessoas descompromissadas, como elas duas.

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Quando Tentra e Salino chegaram, falaram sobre a visita realizada e
sobre o dia seguinte, quando conheceríamos algumas escolas básicas. Vércia disse
que nos acompanharia e convidou Syndi, que aceitou o convite. Ao dizer que iria
dormir em sua casa e retornaria na manhã seguinte, Tentra interveio e a convidou
para ficar. Justificou que seus pais estavam viajando e que havia duas camas no
quarto de hóspedes. Em seguida, perguntou se eu concordava em dividir o quarto
com ela.
Surpreso com a inusitada situação, respondi brincando com eles. Falei
que concordava, desde que Syndi não se aproveitasse da minha inexperiência
arretiana. Todos riram e ela disse que isso não iria acontecer, apesar de conhecer
minha experiência terráquea, o que motivou novas risadas. Salino também brincou
dizendo que eu ainda não tinha completado 24 horas em Arret e ele não gostaria de
me ver “traumatizado” por uma “solteirona” como ela. Syndi simulou agredi-lo e,
enquanto ele corria para o seu quarto, fomos para o nosso.
Ela disse que sempre dormia naquele quarto quando seus pais viajavam
e por isso, tinha roupas e outros apetrechos em um dos armários. Depois, pegou
um traje de dormir e foi para o banheiro. Durante o tempo que lá permaneceu, fiquei
analisando aquela situação e relembrei a conversa com Tentra na volta do
supermercado. Resolvi não estranhar mais nada que acontecesse, pois, desde o
contato com Oatas, tudo foi uma sucessão de surpresas e novidades.
Quando retornei do banho, Syndi estava em sua cama ouvindo uma bela
música arretiana. Logo abriu os olhos e perguntou se eu não me incomodava com
aquele tipo de música. Respondi que não, pois era muito agradável, e ela disse que
tinha o costume ouvi-la enquanto relembrava os fatos do dia e fazia uma autocrítica
sobre tudo que aconteceu. Perguntei se ela havia se "autocriticado" muito naquele
dia e sua resposta foi negativa. Falou que o dia foi ótimo, que estava muito feliz
com o nosso reencontro e com a possibilidade de me ajudar a conhecer o povo
arretiano, seus costumes e modo de vida.
Ao ouvir a palavra reencontro, esperei ela concluir e falei a respeito da
impressão que tive no supermercado e sobre a sensação que ela era uma
conhecida de outrora. Depois de me observar atentamente, falou que, como Tentra,
Salino e Vércia, também me conheceu em um outro planeta e, sem fornecer
maiores detalhes, disse que as experiências do passado somente deveriam ser
relembradas se tivessem um propósito útil e pudessem contribuir para o
aperfeiçoamento pessoal ou para evitar repetições de erros.
Depois de dizer que o dia seguinte seria muito movimentado e que já era
hora de repousar, perguntou se eu gostaria que ela aproveitasse o restante de suas
férias para nos acompanhar nos passeios e visitas. Respondi afirmativamente e,
brincando, disse que ficaria endividado com mais uma pessoa e não saberia como
pagar a todos. Ela sorriu e falou que os resultados do trabalho seriam suficientes
para saldar as dívidas e ainda me sobraria bastante.

OS LEVANTAMENTOS BÁSICOS

Os três primeiros dias de levantamentos


Acordei mais tarde que o costume arretiano e Syndi não estava em sua
cama e nem no banheiro. Ao chegar à sala, todos me esperavam para a refeição
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matinal e quando terminamos fomos para a sala de música. Salino detalhou o
planejamento dos passeios e visitas previstos para as próximas três semanas e
depois, Tentra falou que, a exemplo de Syndi, Vércia também nos acompanharia na
maior parte daquela programação. Em seguida saímos com o Canarinho para
iniciar a primeira fase dos levantamentos sobre a atualidade arretiana.
Visitamos quatro escolas onde ministravam cursos de informação para
alunos de 7 a 14 anos, também franqueados a pessoas mais velhas que por eles se
interessassem, ou por algumas de suas matérias. Mesmo sendo um levantamento
superficial, as visitas duraram o dia inteiro, pois estava muito curioso com tudo que
via, além de conversar bastante com alunos e professores. Conheci o tipo de escola
com a qual sonhei desde a minha infância e, apesar de satisfeito com as
informações obtidas, estava ansioso pela visita da manhã seguinte ao CET, o
Centro de Estudos Tecnológicos, onde realizavam pesquisas de ponta e
ministravam cursos de alta especialização.
Chegamos em casa ao entardecer, após um vôo panorâmico sobre
Agartha, que era muito bonita, colorida e arborizada. Tentra perguntou se eu
gostaria de conhecer um dos teatros que sobrevoamos e respondi que queria ir a
um que ficava na zona central. Ela informou que Vércia e Syndi me
acompanhariam, pois iria visitar alguns amigos, juntamente com Salino. Através do
equipamento de áudio e vídeo, Vércia verificou que o teatro estava apresentando
um espetáculo musical.
Tentra e Salino foram preparar a refeição e nós fomos conversar na
varanda. Havia um grupo de músicos no canteiro central da avenida, quase em
frente à nossa casa. Como fiquei curioso, as duas me levaram até o local onde
umas trinta crianças, de sete a dez anos, davam um verdadeiro concerto para uma
platéia composta por várias dezenas de adultos, jovens e outras crianças das
proximidades.
O grupo executava peças belíssimas com instrumentos parecidos com
os nossos, como verdadeiros virtuoses, sem o comando de nenhum maestro e sem
partituras. Minhas amigas disseram que aquele tipo de apresentação era muito
comum no planeta e que o espetáculo que iríamos assistir, era produzido e
executado por grandes músicos, alguns dos quais foram mestres em planetas como
a Terra. Após o jantar, Tentra e Salino saíram e nós fomos ao teatro utilizando a
cabine de teletransporte.
Entramos sem nada pagar, como era o costume, e logo um cidadão de
Agartha foi anunciado para fazer uma preleção sobre a meditação. Ele desenvolveu
seu tema com tal brilhantismo que, durante uns vinte minutos que falou, foi ouvido
com o máximo de concentração e interesse. No final, todos se levantaram e fizeram
reverência com as mãos juntas, encostadas no peito. Logo o ambiente foi tomado
por um suave perfume durante alguns minutos. Assim que o palestrante se
acomodou na platéia, uns cem músicos se posicionaram e começaram a tocar.
O solista sentou-se diante de um grande piano de caudas, posicionado
em primeiro plano e em nível mais baixo que as quatro fileiras de músicos em forma
de semicírculo, cada uma mais elevada que a outra. Não havia maestro, nem
partituras e os instrumentos eram parecidos com os de nossas orquestras
sinfônicas. As músicas eram maravilhosas, semelhantes às nossas sinfonias
clássicas. O som parecia vir de todos os lados, como se estivéssemos no centro da
orquestra.
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A apresentação terminou às dez horas, depois de executarem várias
peças, com pequenos intervalos entre algumas delas. Quando entramos em casa,
ouvimos dois bips e Vércia nos levou até a sala de música, pois havia recado no
equipamento de áudio e vídeo. Após um comando de voz apareceu a imagem de
Tentra fornecendo informações sobre as visitas do dia seguinte. Tomamos um suco
de frutas, conversamos mais um pouco e também fomos dormir.
Durante o descanso matinal Salino informou que o CET estava
localizado a uns 10 mil quilômetros de Agartha, que era freqüentado por alunos de
todo o planeta e que lá se reuniam grandes inteligências científicas atuando como
pesquisadores e professores. Além de ser uma escola de formação avançada, o
local também centralizava todas as pesquisas realizadas em Arret, desde os mais
simples, até sofisticados projetos de naves intergalácticas. Enquanto ele falava
pensei no tempo de viagem para chegar até lá. Imediatamente ele disse que, no
Canarinho, que era um veículo lento, a viagem duraria uns dez minutos. Porém,
iríamos sair com uma hora de folga, para que eu pudesse ter uma visão geral de
dois continentes e de algumas ilhas.
Assim que embarcamos, a pequena nave subiu uns cinco mil metros e
começou a se deslocar sobre a ilha de Agartha. Depois, subiu mais um pouco e
acelerou sobre um grande oceano. Sua visão ficou desfocada, tamanha a
velocidade, próxima de 60 mil quilômetros por hora. Sem que fosse sentida a
aceleração ou desaceleração, o Canarinho transitava lentamente sobre os lugares
que Salino queria me mostrar. Sobrevoamos o CET lentamente e pousamos em um
local onde Sulio, o reitor, e três de seus colaboradores nos aguardavam.
Ele nos levou à sua sala e fez uma exposição geral das áreas de ensino,
pesquisa e desenvolvimento de projetos. O CET tinha o tamanho da cidade de
Agartha e lá vivia, entre alunos, pesquisadores e professores, uma população fixa
de 80 a 100 mil pessoas. Outro tanto formava uma população flutuante de alunos
que residiam em diversos locais do planeta. O local tinha muitos prédios de
diversos formatos, com até três andares. Ao final, pediu para Walber, o
coordenador da área de pesquisas, que nos acompanhasse durante a visita.
Conheci sofisticados laboratórios de ensino e áreas de avaliação e de
desenvolvimento de projetos, onde conversamos bastante com professores e
alunos.
Eles conheciam minhas deficiências técnicas e usavam uma linguagem
bastante acessível. Walber, um dos cientistas mais respeitados de Arret, captava
meus embaraços e me socorria fazendo comparações com termos ou coisas
corriqueiras na Terra, que ele conhecia muito bem. Tinha informações sobre
pesquisas e avanços tecnológicos ainda desconhecidos do grande público.
Segundo ele, eram avanços em estágios iniciais, ainda sujeitos a aperfeiçoamentos.
Almoçamos no local e depois responderam a algumas perguntas que ainda lhes fiz.
Na viagem de volta, Tentra lembrou que passaríamos o restante da tarde
no balneário público de Agartha e, à noite, iríamos jantar na casa de Antak. Logo
começamos a sobrevoar o local e, após as explicações de Salino sobre os
equipamentos lá existentes, pousamos em um amplo estacionamento. O balneário
localizava-se em uma área ligeiramente acidentada da periferia e era dividido por
um rio, no qual desaguavam três riachos que desciam das serras limítrofes,
formando diversas cachoeiras e piscinas naturais de diversos tamanhos. Com uma

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área de uns seis quilômetros quadrados, era um maravilhoso centro de esportes e
lazer, com vários equipamentos naturais e artificiais.
Entre as variadas modalidades esportivas, predominavam as aquáticas,
como a natação, o mergulho, a canoagem e um tipo de “jet-ski”, que tanto se
deslocava na superfície como sob a água. Também havia outras atividades de
lazer, como fliperamas, caminhadas, cama elástica, gangorras e balanços. Tal
como já soubera durante as aulas na SOL-4, não praticavam o futebol e outros
esportes de natureza competitiva. O local era freqüentado por milhares de pessoas
e tivemos a oportunidade de conversar com vária delas, todas muito amistosas e
felizes.
Ao entardecer rumamos para a casa de Antak e Tali. Era um pouco
menor que a nossa, com um quarto a menos, pois seus filhos eram casados e
viviam em outros continentes. Otento e Sathya chegaram e começamos a
conversar sobre tudo que aconteceu desde o desembarque. Após o jantar, Tali nos
convidou para assistir a um documentário sobre a grande transição ocorrida há sete
séculos. Adorei o convite, pois além de conhecer um cinema, iria ter uma noção dos
prováveis acontecimentos previstos para o nosso planeta.
Chegamos a tempo de ouvir a costumeira preleção antes de qualquer
espetáculo. Os arretianos freqüentam esses lugares, mais para confraternizar e
ouvir a preleção, do que para assistir ao filme, pois podem vê-lo em suas casas, em
qualquer dia ou horário, na íntegra ou resumidamente. Logo ouvimos o anúncio da
palestrante e do tema da noite: A Justiça Divina. A oradora, muito conceituada entre
os arretianos, era Talita, a Ministra da Educação. Durante a quase meia hora que
falou, a platéia permaneceu em profundo silêncio, como se todos estivessem vendo
as imagens daquilo que ela dizia. Ao concluir, fizeram a costumeira reverência e
Talita se acomodou na platéia. Naquele dia não ocorreu nenhum fenômeno sensível
para mim.
A sala não ficava totalmente escura e as imagens, em três dimensões,
surgiam em uma grande tela côncava com uns sete metros de altura e quase o
triplo de comprimento. Não eram projetadas e pareciam vivas e reais. Era possível
sentir os odores, o frio ou calor, transmitindo uma assustadora idéia de realidade,
especialmente pelo tema do documentário. As imagens eram muito fortes e, se tudo
aquilo ocorresse na Terra, as previsões apocalípticas iriam se realizar
completamente.
Quando chegamos, Tentra disse que poderíamos dormir até um pouco
mais tarde, pois iríamos sair às nove horas para visitar um parque público de
Agartha. Já em nossas camas, conversei com Syndi sobre o filme que muito me
impressionou. Depois, pedi para ela falar sobre sua “alma gêmea” que vivia na
Terra e sobre Olintho, o provável personagem central da profecia do "Homem do
Cavalo Branco".
Ela disse que não se tratava de sua “alma gêmea” e sim um amigo de
grande afinidade. Afirmou que esse conceito exigia um nível evolutivo mais elevado
que o deles e, sem fornecer maiores detalhes, falou que a verdadeira alma gêmea
era a contraparte divina que morava em nossos corações. Disse que passou as
duas últimas vidas como sua esposa e que a decisão de não se casar, não foi
tomada em função dele estar vivendo na Terra, mas pela necessidade que todo
espírito tem de passar por determinadas experiências em algumas de suas vidas,
sem a companhia de um parceiro solidário.
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Falou que, nas duas ocasiões que formaram um casal, se ajudaram na
conquista de objetivos comuns e, como Tentra e Salino, tiveram a mesma profissão.
Informou que, em vidas anteriores, também foi esposa de Salino, que Tentra foi sua
irmã e Vércia, sua mãe. Essa era a principal razão da grande afinidade e união que
existia entre eles. Depois falou sobre Olintho, enfocando o seu caráter impoluto e
sua maneira de agir rígida e justa em momentos críticos, ou extremamente amável
e paternal em outros. Disse que, de acordo com os níveis da hierarquia divina mais
comumente aceitos na Terra, Olintho era um ser Arcangélico e, como tal, dotado de
muitos poderes.
Informou que sua linha evolutiva estava centrada no aspecto “Justiça” da
divindade, o qual conhecia profundamente e era intransigente defensor e aplicador.
Segundo ela, se o Pai Celestial colocasse Olintho na presidência do Brasil, ele
mudaria muitas coisas. Seu governo seria voltado para os interesses legítimos e
para o progresso do povo como um todo, buscando reduzir as desigualdades
sociais.
Depois, perguntou sobre o que mais eu gostaria de conversar. Eu falei
que havia um assunto que não constava do planejamento apresentado por Salino e
que também não sabia se seria tratado posteriormente ou se deveria ou não fazer
parte do livro. Antes de outras informações, ela disse que captou o assunto e que
poderia falar um pouco a respeito. Esclareceu que era um tema muito complexo e
que necessitaria de muitas horas para expor uma idéia acessível à mente terrestre,
constituída segundo outro modo de pensar, de sentir e de agir.
Depois, falou por mais de meia hora sobre o relacionamento amoroso,
quando tirou várias dúvidas em relação à aula na SOL-4 e me deixou com outras,
como ela previu. Opinou que o tema deveria ser tratado no livro, pela sua
importância para a mente terrestre e prometeu fornecer mais detalhes em outras
conversas, pois era um assunto natural para os arretianos, à medida que fazia parte
da criação divina, como elo de união entre dois seres, meio de reprodução e de
evolução da humanidade.
Naquela manhã iríamos conhecer outro local de lazer, denominado como
Parque do Encontro. Antes de continuar, vale ressaltar que os arretianos
nomeavam quase tudo que os serviam ou utilizavam. Os nomes eram sempre
associados a seres, coisas conhecidas, objetivos ou forma de utilização. Aquele
parque era um local de encontros e lá as pessoas passeavam, descansavam e,
principalmente, conversavam. Com uma área superior a oito quilômetros
quadrados, era maior que o balneário visitado no dia anterior. Tinha alguns lagos e
uma infinidade de trilhas e recantos para descanso, em meio a uma abundante
vegetação. Em vários pontos estratégicos, existiam construções térreas com salas
de música e de reuniões para grupos de 6 a 48 pessoas, além de auditórios com
100 a 150 poltronas.
Neles sempre havia alguém falando sobre aspectos da Lei Divina para
uma platéia muito atenta. As palestras duravam uns quinze minutos e o orador,
após concluir seu tema abria espaço para discussões, o que motivava novas
palestras, pois alguém sempre apresentava um outro enfoque sobre o assunto
anterior ou desenvolvia um novo tema. O objetivo do parque não era "andar para
conhecer" e sim "parar para meditar, conversar e incrementar os relacionamentos”.
Havia dúzias de grupos em animadas conversas e também pessoas solitárias e

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casais em meditação. Além de conhecer boa parte daquele local, conversamos
bastante com vários amigos dos meus anfitriões.
Já em casa, falamos sobre a visita da tarde a uma cidade em
construção, batizada como Lírio do Vale e planejada para abrigar 12 mil habitantes
dedicados à agricultura. Quando Tentra foi preparar a refeição, Syndi disse que ela
e Vércia iriam almoçar em sua casa, pois seus pais tinham retornado de viagem e
elas não nos acompanhariam no programa da tarde, pois iriam visitar duas amigas
que encontraram no parque.
Quando chegamos, Salino sobrevoou o local, forneceu algumas
explicações e pousou ao lado de uma das duas naves idênticas à SOL-4. Elas
serviam de apoio ao pessoal do canteiro de obras e eram utilizadas como escritório,
restaurante e residência de boa parte deles. Fomos recebidos por Kalleb e sua
esposa Shamma, o casal responsável pela execução do projeto. Eles nos levaram
ao interior da nave e fizeram uma exposição do projeto, utilizando sofisticados
recursos de holografia. Fiquei surpreso ao saber que, apesar de pouco mais da
metade do cronograma estar concluído, em menos de 150 dias a cidade estaria em
condições de receber seus moradores.
Acompanhamos a montagem de algumas casas, seu ajardinamento, a
construção de piscinas e vários outros detalhes. Conversei com muitos “operários”
e constatei que, além de cultos, estavam satisfeitos com o trabalho que realizavam.
Tinham variados níveis de especialização e muitos executaram funções “mais
nobres” nos anos anteriores. Alguns foram professores em centros de ensino, como
o CET e, naquele momento, por decisão pessoal, trabalhavam como “operários da
construção civil”.
Os serviços pesados eram executados por naves especiais que
substituíam, com grandes vantagens, os nossos tratores, guindastes e outras
máquinas. Os homens e mulheres que lá trabalhavam, a maioria casais,
executavam diversos trabalhos, desde a operação das máquinas, até detalhes de
acabamento das edificações, incluindo sua decoração. Alguns robôs os auxiliavam
e tudo era muito bem feito e rápido.
Apesar de estarem construindo uma cidade, eles encaravam aquele
trabalho como uma grande diversão, pois parecia que estavam montando um
acampamento de fim-de-semana. Nossa visita acabou se prolongando até o início
da noite, pois ficamos com Kalleb, Shamma e um grupo de “operários” tomando
banho de piscina e conversando sobre detalhes da nova cidade e da vida deles.
Jantamos no local e depois voltamos para casa.
Vércia nos aguardava com um convite para uma peça teatral
humorística. Syndi passaria a noite com seus pais e voltaria para a refeição da
manhã. Chegamos ao teatro quando o orador da noite estava sendo anunciado e
seu tema era a felicidade, em sincronia com a peça a ser apresentada, cujo enredo
era simples e hilariante. Envolvia uma família de quatro membros e um robô que
executava alguns serviços domésticos e cuidava de duas crianças. Ele tinha um
defeito que interferia na sua programação e causava inúmeras confusões. Em duas
ocasiões os atores paralisaram a cena até que a platéia parasse de rir. As situações
não eram tão engraçadas, mas os arretianos riam por qualquer coisa. Muitos riam
das gargalhados dos outros.
Naquela noite senti como os arretianos eram um povo leve e feliz,
parecendo as nossas crianças que morrem de rir com as brincadeiras e trapalhadas
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dos palhaços circenses. Voltamos para casa e logo fomos dormir, pois segundo
Tentra, o dia seguinte seria bastante movimentado. Iríamos conhecer uma cidade
em início de obras e outra que já estava quase pronta para ser habitada.
Assim que deitei, comecei a pensar em tudo que aconteceu desde o
encontro com Oatas e cheguei até a imagem que Antak me mostrou na SOL-4,
quando visualizei meu corpo original e o de minha esposa dormindo. A imagem me
levou a pensar e a sentir saudades da minha família e, como não havia
possibilidade de contato, uma sensação estranha que misturava solidão, medo e
separação começou a tomar conta de mim. Eu me via sozinho naquele quarto, em
um outro planeta, a centenas de anos luz da Terra e parecia que tinha morrido e
não iria mais retornar ao meu corpo original e aos meus familiares.
Nos meus vinte e seis anos de casado, dormi poucas noites fora de casa
e nunca fiquei sem contato telefônico com minha família, ou sem saber como
contatá-la ou vê-la novamente. Pensei nas várias situações que acometem os
espíritos após a morte e me enquadrei em algumas delas. Depois, passei a avaliar
friamente a situação em que me encontrava, concluindo que estava vivo e que
meus familiares continuavam dormindo na mesma noite em que tudo começou.
Entendi também os motivos de Tentra ao colocar Syndi naquele quarto e que tudo
fazia parte do plano que estabeleceram para evitar situações como aquela e facilitar
minha estada no planeta. Logo depois adormeci.

Visitas a cidades em construção


De manhã, não fizeram nenhuma pergunta sobre minhas sensações e
logo que Syndi chegou nos alimentamos e partimos para visitar a primeira cidade,
cujas obras estavam começando. Batizada como Baía Azul, ela estava sendo
construída em uma planície próxima ao litoral do continente polar norte. Era uma
cidade industrial para 12 mil habitantes, destinada à produção de materiais de
limpeza e artigos de higiene pessoal. Ao chegar constatamos que lá também havia
duas naves de apoio.
Fomos recebidos pela responsável, uma bonita mulher chamada
Devaína, e por dois casais que a auxiliavam na tarefa que tinha pela frente.
Assistimos à costumeira apresentação do projeto e, como Devaína sabia da nossa
visita anterior, detalhou apenas as áreas industriais e de lazer, pois as demais eram
semelhantes. Depois, fomos ver os trabalhos de abertura de ruas e avenidas, de
demarcação de residências e outros em execução.
Visitamos as áreas industriais e acompanhamos diversos trabalhos
realizados por equipamentos e máquinas especiais. Uma delas executava as
operações de um possante trator de esteiras e de um transportador de terras,
trabalhando em silêncio quase total. Como no canteiro de obras anterior, tudo ali
era silencioso demais para uma cidade em construção.
Antes do almoço, Devaína providenciou trajes de banho e nos levou a
uma praia localizada a poucos quilômetros do centro da futura cidade, onde seria
construída uma das suas áreas de lazer. Notei que todos usavam trajes de banho,
ao contrário do costume arretiano. Explicaram que, nos locais povoados por seres
aquáticos, ou onde existiam pedras ou corais, utilizavam roupas apropriadas à
proteção do corpo. Nos divertimos bastante, almoçamos no restaurante de uma das
naves e, após conversar com Devaína e um grupo de “operários e operárias”,
partimos para a próxima visita.
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Em poucos minutos estávamos sobrevoando Palmeiras do Vale,
localizada em um dos continentes equatoriais. Era uma cidade agrícola para 12 mil
habitantes que estava totalmente construída e ainda deserta. Após a apresentação,
fomos visitar os principais locais daquela cidade que "cheirava tinta fresca". Foi
bastante curioso e estranho ver as casas sem moradores e os supermercados,
teatros, cinemas, parques e outros equipamentos sem funcionários ou usuários.
Também não havia seguranças ou vigilantes em nenhum local. Apenas
alguns especialistas testavam o funcionamento dos equipamentos ou retocavam
detalhes de acabamento. Matik e sua esposa Odina, os responsáveis pela
construção da cidade, informaram que lá havia menos de cem pessoas trabalhando
e que tudo seria concluído naquele final de semana. Na segunda-feira chegariam os
novos moradores, oriundos de todos os continentes do planeta. No final da tarde,
voltamos ao escritório de Matik e Odina para tomar suco de frutas e conversar com
aquele simpático casal.
Matik revelou que viveu na Terra em um dos países da Atlântida, no
tempo de Antúlio, de quem foi contemporâneo e colaborador. Ele admirava o
trabalho de Jesus e o respeitava como a Ahelohim, o messias arretiano. Odina
esteve na Terra na última passagem de Jesus e conviveu bastante com Ele. Contou
fatos de sua vida que eu conhecia e várias coisas inéditas. Jantamos com eles e
prosseguimos a conversa até por volta das nove e meia, quando retornamos para
casa.
Conforme Tentra previu, o dia foi bastante movimentado, mas muito
agradável, especialmente pela conversa com Matik e Odina. O dia seguinte também
prometia, pois iríamos realizar visitas a algumas áreas agrícolas e cumprir a
programação da semana. Enquanto me transmitiam alguns detalhes sobre as
visitas, Syndi foi para o quarto, pois parecia muito cansada. Logo nos recolhemos e
fiquei aguardando a liberação do banheiro. Ao terminar o seu longo banho, disse
que estava revigorada.
Quando me acomodei na cama, ela interrompeu sua autocrítica e
perguntou por que eu senti solidão e medo na noite anterior. Enquanto ela me
observava atentamente, relatei as sensações que tive e as conclusões que cheguei.
No final, ela disse que não se ausentaria mais até o dia da minha partida, pois não
queria que eu voltasse a ter aquele tipo de experiência que prejudicava o ajuste do
meu espírito ao corpo mais sutil que estava utilizando. Disse que utilizou muita
energia para neutralizar o efeito negativo daquela experiência e por isso ficou
cansada.

Visitas a áreas agrícolas


Quando acordei, Syndi estava em pé me observando e, como não era a
primeira vez que isso acontecia, concluí que sua sugestão mental me despertava, o
que foi logo confirmado por ela, além de dizer que havia uma surpresa me
aguardando. Ao chegar à sala, encontrei um casal que logo identifiquei como sendo
seus pais, pois ela era muito parecida com a mãe.
Seu pai veio ao meu encontro, se apresentou como Ashton e me deu um
forte abraço. Falou que conhecia o objetivo do meu trabalho e, como não tinha
condições de me ajudar, estava feliz em saber que sua filha estava fazendo as
vezes dele e de sua esposa Mani, de quem recebi um caloroso abraço e ouvi
palavras de incentivo. Continuamos a conversa após a refeição, até pouco antes da
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oito horas, quando me despedi com a promessa de jantar e dormir na casa deles
naquela noite.
Chegamos rapidamente ao local da primeira visita e elas estavam sendo
possíveis naquele sábado porque trabalhavam na colheita de alimentos destinados
a um planeta que acabara de passar pela sua grande transição. Além dessas
ocasiões, ninguém trabalhava aos sábados e domingos, exceto em atividades
essenciais, como em hospitais e locais de lazer. Lá havia construções menores e
grandes galpões destinados a garagens de máquinas e equipamentos, restaurantes
e armazéns para embalagem e conservação dos produtos colhidos.
Descemos no meio de um grande pomar dividido em quadras com uns
120 metros de lado, parecendo uma pequena floresta, dadas as variedades que
eram plantadas misturadas e não em áreas específicas para cada tipo. Fomos
recebidos por um grupo de pessoas, entre as quais Vércia e Syndi eram muito
populares, em razão do trabalho delas no Ministério dos Transportes e Distribuição.
Todos tinham, no mínimo, formação equivalente à de nossos engenheiros
agrônomos e muitos eram especialistas em engenharia genética ou em outras
qualificações avançadas.
Andamos pelo meio de algumas quadras com árvores e arbustos viçosos
e sadios, pois em Arret não havia mais as pragas comuns nas lavouras terrestres.
Não utilizavam adubação mineral e raramente recorriam a compostos produzidos a
partir do lixo coletado. Eles eram somente utilizados em áreas de baixa fertilidade,
como aquelas ainda encontradas nos locais onde existiam grandes centros urbanos
na época da grande transição.
Fiquei impressionado com o tratamento carinhoso que dispensavam às
plantas, além de falar com elas como se fossem humanas. A técnica de plantio
utilizada naquele pomar e nos demais, misturando árvores de espécies diferentes,
assemelhava-se ao nosso conceito de permacultura e agrofloresta. Foi lá que tive o
primeiro contato com animais domésticos, parecidos com algumas raças de
cachorros e gatos terrestres. Eram dóceis, obedientes e tidos como animais de
estimação e não como de guarda ou caça.
Levantamos vôo para visitar um local onde cultivavam verduras e
legumes. Apesar de ser uma horta, tinha arborização para quebrar o vento e
propiciar períodos de sombra sobre os canteiros. Eles tinham a altura de um metro,
facilitando os trabalhos de plantio, manutenção e colheita, além de permitir a
aeração e uma perfeita regulagem de umidade. Havia variedades hidropônicas e
muita semelhança com as nossas verduras e legumes. A operação requereria alta
intervenção humana e algumas máquinas e ferramentas agilizavam os trabalhos. A
irrigação era controlada por sensores instalados no interior dos canteiros, os quais
controlavam a abertura dos registros e o volume de água necessária para cada tipo
de hortaliça.
Apesar do alto nível da tecnologia arretiana, o tempo para
desenvolvimento e colheita de cada espécie que eu conhecia, era muito próximo do
ciclo terrestre. Quando perguntei a respeito, responderam que nunca mudavam o
ciclo natural, pois perderiam em termos de sabor e de propriedades nutritivas.
Almoçamos no local e aproveitamos para conversar mais um pouco com aqueles
simpáticos “trabalhadores rurais”.
Novamente entramos no Canarinho para visitar uma área onde
cultivavam quatro tipos de cereais, semelhantes ao milho, cevada, trigo e gergelim.
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As atividades eram mecanizadas e apoiadas por naves especiais que
desempenhavam funções de tratores e colheitadeiras com grande capacidade de
carga. Acompanhamos a colheita de milho realizada por uma nave que retirava a
planta do solo, separava as espigas, debulhava, peneirava, classificava e
armazenava o cereal em seu interior.
Os resíduos eram triturados e devolvidos ao solo, formando uma
cobertura uniforme que se transformava em adubo orgânico. Assim que completava
a carga, se deslocava para entregar o milho em um local a uns duzentos
quilômetros dali. Syndi e eu acompanhamos a operadora numa dessas viagens e
retornamos em menos de 15 minutos. Nossa visita foi muito rápida, pois Salino
ainda queria nos levar a dois outros locais.
Fomos a uma plantação de uvas do tipo rubi sem sementes e de paladar
mais suave e adocicado. Havia muitas pessoas envolvidas na colheita, auxiliadas
por ferramentas e carrinhos flutuantes. Quando carregados, eles se dirigiam a um
galpão, onde outras pessoas lavavam, classificavam, embalavam e armazenavam
as uvas em equipamentos de conservação. Como no pomar e na horta, as pessoas
adoravam seu trabalho e tratavam as plantas com carinho. Entendiam que eram
seres vivos em evolução, como me explicaram em diversas ocasiões.
Em seguida, fomos conhecer um apiário com abelhas do tipo Europa,
maiores que suas similares terrestres, muito mansas e sem ferrão. Ele estava
situado em uma região com muitos pomares e, com isso, obtinham uma produção
de mel do tipo silvestre, menos adocicado e mais energético que o nosso, com um
teor de geléia real três vezes maior. O contato com as abelhas era feito sem
equipamentos de proteção e elas pareciam entender o momento da colheita.
Os favos eram retirados sem necessidade de fumaça e sempre
deixavam alguns para manter a colméia alimentada e saudável. Ao retirar o favo, o
apicultor o balançava suavemente e as abelhas se retiravam. Havia milhares de
colméias sob as árvores, abrigadas em casinhas caprichosamente construídas.
Como nos apiários terrestres, aproveitavam os subprodutos, como própolis, geléia
real e pólen.
Retornamos para Agartha no final da tarde, sobrevoando várias áreas
agrícolas existentes no caminho. Syndi lembrou da promessa que fiz aos seus pais
e, assim que chegamos, peguei uma muda de roupa e fomos à sua casa, bem perto
dali. Ashton e Mani me receberam como um velho conhecido e me deixaram
completamente à vontade. Depois do banho, conversamos sobre a situação atual
da Terra até a hora do jantar. O casal tinha um bom conhecimento sobre tudo que
aconteceu em nosso planeta nos últimos cem anos, principalmente no Brasil.
Também falamos a respeito de Olintho e sobre a grande transição terrestre, sem
obter nenhuma informação relevante.
Após o jantar continuamos a conversa até que Syndi me convidou para
conhecer um mirante na periferia de Agartha, onde poderíamos apreciar a três
"luas" e conversar até um pouco mais tarde. O local era amplo e todo gramado, com
caminhos de pedras, bancos ao ar livre e quiosques fechados com paredes de
vidro. Neles havia poltronas flutuantes, como as da Sala do Horto, as quais oferecia
um grande conforto para se apreciar a paisagem sem os inconvenientes do sereno.
Deixamos o Borboleta, o veículo de Syndi estacionado ao lado de vários
outros e observamos muitas pessoas andando pelo local, ou sentadas nos bancos
ou nos quiosques. Ocupamos um deles e regulamos a poltrona para permitir a
60
observação das três luas que iluminavam a noite de Agartha. Conversamos sobre
os acontecimentos da semana, quando Syndi me esclareceu várias dúvidas e
acrescentou informações relevantes que não captei ou entendi corretamente.
Depois, conforme prometeu anteriormente, voltou a falar sobre o relacionamento
amoroso.
Novamente frisou que era um tema muito complexo e que ainda
teríamos outras conversas a respeito. Alertou que não iria aprofundar o assunto
enquanto eu não entendesse o conceito básico transmitido por Tentra na SOL-4.
Fiquei ouvindo suas explicações até por volta das onze horas, quando voltamos
para casa e fomos dormir. Vários pontos foram esclarecidos, mas o processo do
entrelaçamento energético ainda continuava sendo um mistério para mim. No final,
Syndi disse que iríamos continuar o assunto durante o período de sono, pois isso
facilitaria a eliminação de bloqueios e o entendimento das conversas futuras.
Aquele foi o meu primeiro domingo no planeta e antes de sairmos para a
refeição da manhã na casa de Tentra, Ashton e Mani me fizeram prometer que
voltaria outras vezes. Quando lá chegamos, encontramos Antak, Tali, Otento e
Sathya que nos convidaram para um piquenique em uma floresta semelhante à
Amazônica. Após a refeição, enquanto os demais arrumavam a casa e as nossas
bagagens, Antak e Otento me informavam a respeito das belezas daquele lugar.
Fomos em dois veículos e logo começamos a sobrevoar a grande floresta.
Pousamos em uma larga praia que margeava um caudaloso rio, onde desaguavam
alguns córregos que desciam das montanhas e formavam piscinas e cachoeiras de
vários tipos e alturas.
Alguns animais "selvagens" se aproximaram e vários pássaros pousaram
nos braços e nas mãos dos meus amigos e amigas, assim que eram chamados.
Fiquei encantado com aquela cena e logo começaram também a me atender.
Brincamos com vários animais e pássaros durante uma meia hora e notei que não
fizeram qualquer "sujeira" em nós, nos carros ou no local onde estávamos. Depois
montamos o acampamento, colocamos trajes de mergulho e Salino explicou como
utilizar o escafandro. Ele era composto por um respirador de boca ligado a um
pequeno e leve aparelho colocado nas costas, o qual retirava da água o ar
necessário e permitia várias regulagens do teor de oxigênio.
Mergulhamos naquele rio de águas claras, povoado por peixes
semelhantes aos da Terra. Nadamos rio acima, emergindo nas proximidades de
ilhas ou de riachos que nele desaguavam. Descansamos e tomamos banho em
uma cachoeira que formava uma grande piscina na sua foz. Retornamos ao
acampamento para almoçar e contamos com a participação de diversos animais e
pássaros que aguardavam, educadamente, esperando por algum alimento que lhes
fosse oferecido.
Na parte da tarde mergulhamos rio abaixo e ficamos um bom tempo
tomando água de coco em uma de suas ilhas, conversando sobre aquela região,
seus animais e outros aspectos. A floresta era imensa e fazia parte do maior parque
de preservação que existia em Arret, cuja área era quase do tamanho do Brasil.
Retornamos para a casa de Tentra no início da noite, onde jantamos e
conversamos até por volta da das dez horas, quando nossos demais amigos
voltaram para suas casas.

As reuniões ministeriais da segunda semana


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Logo que Syndi me acordou com sua sugestão mental, lembrou que na
semana seguinte retornaria ao trabalho e perguntou se eu gostaria que ela
conseguisse uma licença até o final da minha estada em Arret. Respondi
afirmativamente e ela disse que iria aproveitar o tempo da nossa reunião com o
Ministro da Agricultura para conversar com seu “chefe” Delphis, o Ministro dos
Transportes e Distribuição.
Perguntei se haveria algum problema e ela disse que não, por três
razões básicas: tinha muitas horas extras acumuladas, seu substituto não se oporia
e nem o seu “chefe”, pois uma das coisas que dava prazer a um arretiano era saber
que estava ajudando ou tornando alguém mais feliz. Após a refeição, conversamos
sobre as reuniões no Palácio da Harmonia e sobre a nova visita ao CET, na parte
da tarde.
Pouco antes da oito horas estávamos na recepção do Ministério da
Educação, juntamente com os demais amigos da SOL-4. Talita veio nos receber e
nos levou até sua sala. Dizendo que estava informada sobre nossas visitas, realizou
uma apresentação geral de sua pasta, enfocando o lado filosófico. Suas palavras e
as imagens projetadas reforçaram tudo que conheci durante os levantamentos. O
terço final da reunião foi reservado para responder várias perguntas que fiz.
Em seguida, fomos para o gabinete de Vhega, a Ministra do Lazer, uma
simpática senhora de 91 anos, onde tivemos uma reunião semelhante à anterior.
Além de administrar parques, balneários e prestar diversos serviços à população
nas áreas de esporte, música, teatro e dança, seu ministério prestava outros em
conjunto com o das comunicações. Mantinham uma completa videoteca, com
filmes, documentários, espetáculos musicais e teatrais, inclusive, anteriores à época
da grande transição. Havia muitos originários de outros planetas, incluindo a Terra.
Depois, fomos ao gabinete de Solânia, a Ministra da Habitação, uma
senhora de 123 anos. Como suas colegas, enfatizou a filosofia habitacional e sua
gratuidade à população, não entrando no mérito das técnicas de construção, as
quais conheci durante as visitas aos canteiros de obra.
Enquanto Syndi falava com Delphis, tivemos a reunião com Mayer, o
Ministro da Agricultura. Fiquei encantado com aquele senhor de quase 180 anos,
com uns dois metros de altura e cabelos brancos sobre os ombros, cheio de vigor e
entusiasmo ao falar da sua alegria em contribuir para a produção de uma boa
alimentação para o povo arretiano. Orgulhava-se ao dizer que, durante os 80 anos
do governo de Arcthuro, havia conseguido, com o apoio do povo, manter a tradição
de mais de quatro séculos sem faltar um único tipo de alimento nos supermercados
do planeta. De volta ao andar térreo, encontramos Syndi que nos informou sobre o
sucesso de sua solicitação. Em seguida nos despedimos e cada grupo retornou
para suas casas.

Visitas a centros avançados de estudos e pesquisas


Almoçamos e no início da tarde pousamos no CET, onde Sulio e Walber
nos esperavam. Em uma sala de apresentações e discussões de projetos, nos
informaram a respeito das principais pesquisas em andamento e enfatizaram a sua
filosofia, sem entrar nos detalhes tecnológicos envolvidos. Depois, fomos conhecer
alguns protótipos de máquinas, robôs e uma série de outras "invenções" e
aperfeiçoamentos ainda não disponíveis para a população. Experimentamos
fórmulas de sucos mais nutritivos e testamos novos detergentes.
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Tentra e Salino também ficaram entusiasmados com as novidades. Os
dois, mesmo exercendo uma profissão que utilizava tecnologia de ponta, não
conheciam detalhes de alguns projetos. Tentra ficou muito interessada em um robô
projetado para realizar trabalhos domésticos que iria entrar em linha de produção
no ano seguinte, a um custo-hora mais baixo que uma cabine de teletransporte.
Além de suas atividades educacionais, de pesquisa e desenvolvimento,
o CET centralizava e realizava testes finais em qualquer invenção ou
aperfeiçoamento desenvolvido em outros centros regionais. Descrever as
novidades, sem falar de outras coisas corriqueiras para os arretianos e inéditas na
Terra, não teria sentido e, além de ser uma tarefa muito difícil, extrapolaria os
objetivos deste livro. Porém, vale registrar aquilo que mais se esforçaram para que
eu compreendesse: a filosofia da pesquisa.
Em Arret, nada era produzido com objetivo de lucro, poder ou
competitividade. Por isso, a pesquisa não era secreta e não era um privilégio de
cientistas, ou de seus laboratórios. Qualquer pessoa podia acessar e obter
informações completas sobre os projetos em andamento no CET ou nos centros
regionais. O acesso era realizado através dos equipamentos de áudio e vídeo
residenciais e qualquer arretiano podia contribuir com sugestões, projetos
completos ou simples opiniões, conforme o grau de interesse e de conhecimentos
de cada um.
No caso do detergente que testamos, a fórmula final foi desenvolvida a
partir de outras remetidas pelos centros regionais e sugestões da população. O
CET avaliou as diversas fórmulas e desenvolveu uma síntese para atender à quase
totalidade das sugestões apresentadas. Depois de ajustada e aprovada, o CET
remetia a nova fórmula para as fábricas de todo o planeta e elas produziriam o novo
detergente em substituição ao anterior, ou como outra alternativa de consumo.
Esse conceito básico era válido para qualquer projeto. Também era
interessante o fato de nossos anfitriões não creditarem uma única invenção ou
aperfeiçoamento aos centros de pesquisa, ao CET, ou a uma pessoa específica.
Diziam que o mérito era do povo arretiano e que o CET apenas dava o polimento
final às idéias e projetos criados coletivamente.
Assim que chegamos fomos para a piscina relaxar e, após o jantar,
Syndi me convidou para outro passeio no mirante, pois as três luas, na fase cheia,
deixavam a noite completamente clara. Aquela conjunção ocorria poucas vezes no
ano e eles disseram que eu deveria aproveitar a ocasião. Salino, Tentra e Vércia
foram visitar alguns amigos e nós utilizamos o Canarinho. Ocupamos o mesmo
quiosque anterior e Syndi falou sobre cada uma das três luas, especialmente sobre
a maior, com atmosfera respirável, vida vegetal e animal, onde mantinham
laboratórios de pesquisa e centros de lazer. Também conversamos sobre a visita ao
CET e sobre aquelas que iríamos realizar no dia seguinte a outros dois grandes
centros de pesquisa.
Após a refeição matinal e o costumeiro bate-papo, saímos com destino
ao CEPA - Centro de Estudos e Pesquisas Agrícolas, onde também ministravam
cursos altamente especializados. O local era também uma cidade universitária do
porte do CET, cercado por extensas plantações. Depois da apresentação geral,
visitamos estufas e laboratórios de genética, onde modificavam as características
de algumas espécies e suas variedades.

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Alteravam a cor, o sabor, o formato, a composição e o teor de vitaminas,
além de eliminar ou diminuir a quantidade de sementes. Também criavam outras
espécies ou variedades, a partir da combinação de duas ou mais delas Como nos
demais lugares de cultivo já visitados, também não utilizavam adubos minerais,
herbicidas e pesticidas.
Quando perguntei a respeito dos pesticidas, disseram que foram
abolidos desde a grande transição, em razão da extinção de “pragas”, insetos e
outros transmissores de doenças vegetais. Informaram que também introduziram
modificações genéticas nas plantas, tornando-as mais saudáveis e resistentes,
principalmente naquelas utilizadas na alimentação humana. Informaram que elas
estavam em constante desenvolvimento e contribuíam para a evolução humana e
vice-versa, formando um ciclo de colaboração e de respeito mútuo, que as
tornavam mais "felizes" e não suscetíveis às doenças.
A exemplo do CET, algumas espécies de frutas, verduras e legumes,
com novo formato, cor ou sabor, também eram novidades para os meus amigos.
Algumas já estavam sendo reproduzidas e logo suas sementes ou mudas seriam
remetidas para plantio em todo o planeta. Outras ainda demorariam vários anos
para atingir o mesmo estágio. Como no CET, os cientistas e técnicos que lá
trabalhavam tinham, pelo menos, o doutorado em diversas áreas, além de cursos
de aperfeiçoamento em planetas mais evoluídos. Almoçamos com nossos anfitriões
e rumamos para outro grande centro de pesquisas.
O CEGEHU - Centro de Estudos da Genética Humana, era outra cidade
universitária, onde estudantes de todo o planeta realizavam cursos de alta
especialização. Ele, juntamente com o CET e o CEPA, eram tidos como os três
centros de estudos e pesquisas mais importantes, onde se reuniam as melhores
mentes científicas do planeta. Após as conversas preliminares e a apresentação do
costumeiro audiovisual, fomos visitar os laboratórios de pesquisa.
Recebi uma aula de anatomia, comparando o corpo humano arretiano
com o terrestre. Havia várias diferenças entre eles e lamentei não conhecer o
assunto para poder melhor interpretá-las. O estômago, intestinos, fígado e rins
eram menores no organismo arretiano e também havia diferenças com relação à
estrutura dos pulmões, composição da saliva, do suco gástrico e de outros líquidos.
Outra se referia ao peso dos dois corpos, de mesma estatura e porte. O arretiano
tinha uma estrutura atômica mais leve, representando cerca de 80 por cento do
nosso, o que modificava minhas previsões a respeito do peso dos amigos da SOL-
4. As diferenças entre os dois cérebro foram difíceis de serem compreendidas e
mais ainda de serem transmitidas.
Para facilitar a tarefa, vamos utilizar dois tipos de microcomputadores
para simular as diferenças. A velocidade de processamento e a capacidade de
memória do nosso cérebro equivalem à de um computador com processador 386 e
4 megas de memória. O arretiano equivale a um Pentium 300 com 128 megas.
Além disso, o espírito, ou o “software”, que opera no cérebro arretiano‚ por ser mais
evoluído, utiliza o ambiente Windows, enquanto o nosso opera em DOS puro. Na
realidade, os dois cérebros eram equivalentes e a maior diferença estava no
espírito que explorava melhor os recursos ainda latentes no nosso.
Aplicando o exemplo ao meu caso, parecia que meu espírito, equivalente
a um sistema operacional DOS, estivesse utilizando um Pentium 200 de 64 megas.
Eu aprendia rápido, tinha maior capacidade de entendimento, de memorização, de
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análise e de classificação. Porém, não utilizava todos os recursos daquele cérebro.
Se isso fosse possível, demoraria meses ou anos para meu espírito se adaptar e
explorar todo o potencial que tinha à disposição, especialmente, as capacidades
telepáticas, lembranças de vidas passadas e outras coisas sutis.
Também mataram minha curiosidade quanto à produção dos corpos
como aquele que estava utilizando. Mostraram alguns deles e explicaram sua
finalidade. Eram clonados a partir do DNA do usuário, em cilindros de diversos
tamanhos, conforme o porte que deveriam atingir. A maioria era destinada a jovens
e, em alguns meses, podiam obter um corpo com o mesmo potencial daqueles
gerados no ventre materno.
Os clones não eram produzidos para serem andróides. Eram destinados
a pessoas que sofreram acidentes graves e precisavam permanecer na matéria
para concluir a missão planejada para suas vidas. Como tinham o mesmo limite de
vida do original, permitiam a conclusão do trabalho, livrando o usuário de
sofrimentos, dificuldades ou impedimentos provocados por paralisias ou órgãos
danificados.
Na volta, Salino disse que após o jantar iriam visitar seus pais com
Tentra e Vércia, como faziam habitualmente. Voltando às suas brincadeiras, falou
que, a menos que quiséssemos acompanhá-los, poderíamos ficar livres deles por
umas três horas. Syndi retrucou dizendo que, já que ele queria se livrar de nós, iria
me levar a algum lugar do planeta que eu desejasse conhecer.
Chegando em casa fomos para a piscina e, como sempre, nos
divertimos e conversamos bastante com os vizinhos. Vários eram os convites para
visitas em suas casas e Tentra sempre me desculpava, alegando a extensa
programação a ser cumprida. O interessante era que eles a associavam com um
trabalho "estressante, duro e cansativo”. Após o jantar, meus amigos utilizaram a
cabine de teletransporte e nós saímos no Canarinho sem destino certo.
Syndi perguntou onde eu gostaria de ir e falei que queria acompanhar o
“pôr-do-sol” na região do equador. Ela gostou da idéia e logo estávamos no local. A
velocidade foi regulada para compensar a rotação do planeta e pudemos
contemplar um magnífico espetáculo sobre dois oceanos, diversas ilhas e um
continente. Aproveitamos para conversar sobre as visitas do dia, especialmente, ao
CEGEHU e ela se esforçou para esclarecer várias dúvidas. Retornamos a Agartha
em baixa velocidade, para observar a paisagem noturna de balneários, cidades,
florestas e outros atrativos. Já em casa, conversamos um pouco com nossos
amigos e logo fomos dormir.

Visitas a áreas industriais


Antes das oito da manhã estávamos sobrevoando uma cidade industrial
responsável pela fabricação de equipamentos de áudio e vídeo, conhecidos como
telões. Depois da apresentação geral, visitamos as linhas de montagem do modelo
utilizado em salas de música e obtive informações curiosas a seu respeito, também
válidas para os demais bens duráveis. O modelo atual não sofria alterações há
cinqüenta anos e foi projetado para acompanhar o usuário durante toda a sua vida.
Se lançassem um modelo novo, criavam facilidades para que todos
tivessem acesso a ele, como ocorreu da última vez, quando os modelos antigos
foram substituídos em menos de três anos. Em Arret tudo era projetado e
construído para durar e não dar trabalho. A manutenção preventiva era limitada a
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equipamentos com peças móveis, como extratores de sucos. A durabilidade
decorria da qualidade dos materiais utilizados, do carinho e cuidado nas linhas de
produção, além de um rígido controle de qualidade realizado por equipamentos
altamente sofisticados.
Ainda de manhã, fomos conhecer uma industria de alimentos sintéticos
que produzia algumas das cápsulas ingeridas durante as refeições, cujo processo
produtivo era totalmente automatizado. As frutas eram selecionadas e lavadas
antes de serem separadas em seus componentes básicos, como cascas, polpas ou
sementes. Depois, passavam por um processo para extração dos respectivos sucos
e, em seguida, por outro processo que extraia seus princípios ativos, como
essências, vitaminas e proteínas, os quais eram transformados em pós ou grânulos.
Finalmente, eles eram acondicionados em cápsulas de diversas cores,
segundo fórmulas específicas. Simplificando o processo, podemos dizer que,
entrava a laranja e saía a vitamina C. As sobras, representadas por bagaços secos,
eram embaladas em fardos e remetidas para as indústrias de rações ou de
compostos orgânicos. Nada era perdido. O processo de secagem era realizado em
equipamentos movidos por energia solar e por geradores especiais, sem poluição.
Sobre essa questão ambiental, eu ainda não havia observado nenhuma fumaça nos
locais visitados ou naqueles que existiam ao longo dos trajetos que realizamos.
Almoçamos no local, conversamos com “operários” e fomos conhecer outra unidade
industrial.
Era uma das visitas mais aguardadas, pois estava muito interessado em
conhecer o processo de montagem, o modo de funcionamento e outros detalhes
dos maravilhosos veículos do tipo 7, como o Canarinho. Além disso, os
responsáveis pela montadora, Drash e sua esposa Ling, eram amigos de Salino e
Tentra. Espirituosos e brincalhões como eles, transformaram nossa visita em um
passeio muito interessante e descontraído.
Esses veículos eram projetados para operar dentro da atmosfera e seu
princípio de sustentação era baseado na inversão da polaridade gravitacional.
Como um helicóptero que pode ficar parado, subir ou descer, mediante mudanças
no ângulo da sua hélice de sustentação, o controlador de polaridade podia anular,
repelir ou atrair a gravidade. O princípio de deslocamento baseava-se na polaridade
magnética do planeta.
Acompanhamos o processo de montagem e recebi uma aula completa
sobre sua dirigibilidade que, como já havia observado, requeria pouca intervenção
humana. Eram imunes a acidentes e tinham um campo de forças que funcionava
como uma espécie de "air-bag" externo e invisível, podendo ser contraído ou
expandido até três vezes o seu diâmetro. Além de impedir qualquer choque,
funcionava como amortecedor nas subidas, descidas, acelerações ou
desacelerações bruscas.
Esses veículos não tinham partes móveis, a não ser nas portas, bancos
e em alguns outros detalhes. Seus dois "motores", ou geradores de energia,
funcionavam alternadamente e eliminavam qualquer possibilidade de pane.
Utilizavam como combustível, além da energia solar, qualquer tipo de matéria.
Consegui entender seu princípio de funcionamento, graças à definição de que
"matéria é energia condensada". Como seus “motores”, todos os controles
eletrônicos e outros equipamentos básicos eram duplicados, o que eliminava
qualquer risco de acidente ou de parada por defeito.
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Foi outra tarde repleta de novidades, as quais me frustraram por não ter
os conhecimentos necessários para as entender corretamente. Salino sempre me
confortava dizendo que a tecnologia que utilizavam era de difícil entendimento para
qualquer cientista da Terra, da mesma forma como seria para Galileu Galilei
entender o funcionamento de uma simples lanterna de pilhas. Antes de voltar para
Agartha, fomos para a casa de Drash e Ling, onde tomamos banho de piscina,
jantamos e conversamos até perto das nove da noite, quando voltamos para casa,
conversamos mais um pouco e fomos dormir.
Syndi posicionou sua cama em frente à minha e falou que queria
conversar sobre minhas freqüentes auto-recriminações a respeito do meu fraco
conhecimento científico. Assim que colocou a questão, eu disse que estava
chateado por não conseguir entender o princípio de funcionamento da maioria das
coisas vistas naquele dia e nos anteriores. Falei que estava preocupado com as
dificuldades que teria para relatá-las, pois, se era difícil entender em Arret, como
conseguiria escrever na Terra?
Ela ponderou que eu estava dando muita importância às questões
tecnológicas, deixando de privilegiar os relacionamentos humanos envolvidos em
cada lugar que visitamos ou que iríamos visitar. Disse que eu deveria apenas
avaliar e entender os motivos da harmonia e da felicidade do seu povo. Enfatizou
que os aspectos tecnológicos estavam sendo mostrados como pano de fundo para
realçar o aspecto principal da questão e que, por mais que me esforçasse para
transmitir uma idéia tecnológica sobre Arret, eu não só não conseguiria, como me
desviaria do assunto principal e cometeria um erro que me levaria a ficar mais
exposto e sujeito a críticas do que aquelas que teria de suportar.
Depois de analisar suas palavras, concordei com tudo e agradeci por ela
estar ali e me lembrar de coisas tão importantes, além de aliviar o trabalho de
Tentra, Salino e Vércia, os quais estavam cansados de ouvir e responder tantas
perguntas que eu não parava de fazer. Syndi falou que, para ela, era um grande
prazer poder me ajudar e tinha certeza que os demais pensavam da mesma
maneira.
Ocupamos o período da manhã para visitar uma indústria de camas
residenciais, onde conheci as linhas de montagem dos modelos de solteiro e de
casal. Aproveitei para conversar bastante com os “operários” e para avaliar o grau
de satisfação deles com o trabalho e com os demais aspectos da vida planetária.
Os conselhos de Syndi me despertaram um maior interesse pelos relacionamentos
pessoais, relegando os aspectos tecnológicos para um segundo plano. Também
pelo fato de conhecer bastante aquele produto, a visita facilitou minha reentrada
nos trilhos e o redirecionamento para o objetivo principal da minha estada em Arret.
Como sempre acontecia nas visitas da manhã, almoçamos com o pessoal da
fábrica e continuamos conversando com os anfitriões e “operários” durante o
período de descanso.

Visita à CIA – Central de Informações de Arret


Depois, fomos para o escritório da CIA, localizado na periferia de
Agartha. Aquela central atuava em duas frentes principais e a primeira dizia respeito
a informações, livros, filmes, produções teatrais e documentários que seu
computador central recebia dos mais diversos locais do planeta. Todos esses
assuntos eram colocados à disposição da população em três níveis de
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detalhamento. No primeiro nível, o mais resumido, obtinha-se apenas o
conhecimento básico do assunto. No intermediário era possível obter um razoável
aprofundamento e, no terceiro, o assunto era apresentado na íntegra, como foi
inicialmente gerado. A título de exemplo, no primeiro nível conhecia-se o assunto
em um minuto, no segundo gastava-se dez e no terceiro, cem. Os três níveis
permaneciam acessíveis ao grande público durante meses e, conforme o seu tipo,
durante anos ou séculos.
Adotavam o mesmo procedimento para os livros, cuja variedade e
quantidade de títulos era bem menor que a terrestre e limitada a temas filosóficos,
técnicos, históricos, didáticos, artísticos e culturais, pois os arretianos não se
interessavam por outros temas freqüentes na Terra. Como os demais assuntos,
podiam ser acessados através dos telões residenciais, mas a população preferia lê-
los em equipamentos portáteis semelhantes a um livro médio. Permitiam armazenar
centenas de volumes, virar páginas, realizar pesquisas no texto ou nos demais
volumes, selecionar partes significativas, alterar o original e muitas outras coisas.
Era o único material que os estudantes levavam à escola.
A segunda frente enfocava as notícias e informações de interesse geral,
ligadas às atividades gerais do governo central. Elas também seguiam os mesmos
critérios de três níveis e de tempo de disponibilidade. Como estava curioso com
relação aos documentários da fase de reconstrução do planeta, assisti a alguns
resumos referentes aos primeiros anos daquele grande trabalho. Neles apareciam
imagens de Olintho, o provável personagem central da profecia do “Homem do
Cavalo Branco”.

O casamento arretiano e seu significado


Na volta para casa, Vércia e Syndi me convidaram para assistir ao
casamento de uma amiga delas. Aceitei imediatamente e perguntei se havia
necessidade de alguma roupa especial. Novamente riram e disseram que qualquer
traje de passeio era apropriado para a ocasião. Tomamos um banho rápido e
chegamos à residência dos pais da noiva uns quinze minutos antes do início da
cerimônia, com tempo de conhecer e conversar um pouco com os noivos Vivatra,
Pólux e seus pais. Depois fomos para o local da piscina, onde estavam umas 150
pessoas.
Pontualmente às seis horas, o pai de Vivatra, com ela entre ele e sua
esposa, se dirigiu aos presentes falando das qualidades dos noivos, de seus
objetivos e missões de vida. Após uns cinco minutos de discurso, seus pais a
abraçaram, beijaram e a levaram até o meio do espaço que os separava do noivo e
seus pais. Lá, disse que ele e sua esposa a entregavam aos cuidados de Pólux
para que, sob a proteção do Pai Celestial, cumprissem a missão que tinham
definido para aquela vida.
Em seguida a mãe do noivo, que também tinha seu filho entre ela e seu
esposo, fez um discurso semelhante e repetiu os mesmos procedimentos. Quando
ficaram juntos, os noivos se abraçaram, se beijaram e, com as mãos dadas, se
ajoelharam, um de frente ao outro e de costas para seus pais. Em seguida, cada
casal colocou uma grinalda de flores brancas na cabeça do filho ou filha e eles
permaneceram ajoelhados e em silêncio durante um minuto ou mais. Até esse
momento, os convidados também guardavam total silêncio.

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Quando os noivos se levantaram e novamente se abraçaram e se
beijaram, foram aplaudidos por todos, pois já estavam casados. A cerimônia durou
uns quinze minutos e, para não dizer que não houve festa, todos brindaram com um
cálice de vinho e ficaram conversando até por volta das sete horas, quando os
convidados se retiraram. Acompanhamos o novo casal até a casa dos pais de
Vivatra, onde se despediram e partiram em férias nupciais.
Voltamos para casa e, após o jantar, Syndi, Vércia e eu fomos ao
mirante de Agartha, onde conversamos sobre o novo enfoque dos levantamentos,
privilegiando os relacionamentos humanos. Depois, comentei sobre a simplicidade
do casamento arretiano, se comparado com as pompas religiosas e as festas dos
casamentos terrestres. Elas disseram que todos eram realizados daquela maneira e
me forneceram informações sobre o significado de cada uma das suas fases.
Disseram que o importante no casamento era a afinidade e a harmonia
necessária para cumprir os objetivos que levaram à união dos dois seres, os quais
iriam repartir o que possuíam de mais sagrado, representado pelas suas naturezas
espiritual e física. O grande objetivo era a ajuda mútua para concluir o trabalho que
se propuseram realizar durante suas vidas e obter os méritos espirituais dele
decorrentes. Na maioria dos casos, como Tentra e Salino, os objetivos eram
idênticos e o casal teria a mesma profissão e os mesmos interesses.
A cerimônia tinha um simbolismo simples e profundo. Os pais eram as
pessoas mais apropriadas para representar o Pai Celestial e, em nome Dele, oficiar
a cerimônia. Os convidados, constituídos por parentes e amigos de grande
afinidade espiritual, além de serem testemunhas e padrinhos, eram aqueles que
iriam ajudar o casal a cumprir seus objetivos de vida. A liberação para iniciar o
trabalho que vieram realizar, estava representada pelo discurso dos pais, pela
colocação dos noivos no ponto central, ou inicial, e pela entrega de um para o outro.
A aceitação da união e a transformação de duas pessoas em um casal
foram simbolizadas nas duas vezes que os noivos se abraçaram e se beijaram. A
pureza de intenções e de ações foi representada pelas flores brancas colocadas em
suas cabeças. A aceitação conjunta da missão e da vontade divina, com humildade,
estava simbolizada no momento em que os dois se ajoelharam e ficaram em
silêncio para ouvir o Pai Celestial. Finalmente, quando se levantaram e foram
aplaudidos, significava que estavam recebendo os incentivos e o apoio necessário
para realizar o trabalho a que se propuseram.
Disseram que não havia casamento civil, contratos matrimoniais ou a
mudança do nome da noiva. Para oficializar o casamento, informavam alguns
dados e o local onde pretendiam residir e trabalhar ao governo central, através do
equipamento de áudio e vídeo de suas casas. Alguns dias antes da cerimônia,
como se fosse o presente de casamento, recebiam a confirmação daquilo que
solicitaram e raramente tinham que escolher algum outro local de residência ou de
trabalho.
Entre a data da confirmação e o final das férias nupciais, o Ministério da
Habitação providenciava uma casa mobiliada e com todas as comodidades
oferecidas a qualquer cidadão, incluindo os bens adquiridos, como cabine de
teletransporte, aparelho de áudio e vídeo, ou outros que ganhassem de seus pais e
padrinhos, ou que tivessem direito e solicitassem. As férias nupciais representavam
um período de adaptação do casal ao novo estilo de vida. Quando retornamos,
Salino e Tentra já estavam dormindo e nós fizemos o mesmo.
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Visitas a terminais de transportes
Naquela manhã vi, pela primeira vez, uma chuva leve que se prolongou
até perto das sete e meia. Depois, fomos visitar o terminal de transportes externos
de Agartha, o nome oficial do aeroporto onde desembarquei em Arret, pois era
voltado para o transporte de passageiros e de cargas entre planetas e seus
satélites. Durante o sobrevôo, observei várias naves dos tipos 2, 3 e 4 estacionadas
e uma nave do tipo 1, daquelas que raramente são encontradas no solo. Quando
aterrissamos, tivemos a surpresa de ver com o casal responsável pelo terminal, os
demais amigos da SOL-4. Tali disse que sentiram saudades, resolveram fazer a
surpresa e aproveitar para rever Molino e Svindra.
Fomos conhecer o terminal de passageiros, no local onde estava
acontecendo um embarque em uma nave do tipo 2. Tive uma nova e agradável
surpresa ao ver Othíbio. Ele estava saindo com destino a três planetas de sistemas
diferentes e disse que estaria de volta no fim-de-semana, pois não faltaria à nossa
reunião na segunda-feira. Depois de cumprimentar meus amigos, abraçou Syndi
com um carinho especial. Ela me reapresentou Othíbio como sendo seu tio, irmão
de seu pai.
Apesar de já ter recebido essa informação na SOL-4, não tinha feito essa
ligação até aquele momento, o que não deixou de ser uma nova surpresa. Depois,
comecei observar a grande nave que estava estacionada a uns trezentos metros
dali e para a qual se dirigiam muitas pessoas. Era bela, majestosa e assustadora,
mas, se comparada à nave do tipo 1, estacionada um pouco mais à frente, era até
pequena. Othíbio disse que era a Amizade e, como ela iria partir em uma hora,
aproveitamos para conhecer o terminal, cujo funcionamento era semelhante ao dos
nossos grandes aeroportos. As pessoas traziam pouca bagagem e, quando se
apresentavam no balcão, colocavam a mão em uma tela e eram imediatamente
liberadas para embarque.
Pouco antes da partida, acompanhamos Othíbio até o local onde um
veículo o esperava. Ficamos aguardando a decolagem e novamente se repetiu a
cena que observei da SOL-4, com uma diferença. Além das luzes, a Amizade
estava se despedindo com uma suave melodia, enquanto subia lentamente. Ao
atingir uns mil metros, as luzes se apagaram e ela sumiu das nossas vistas em
poucos segundos.
Em seguida, embarcamos em um dos veículos de uso local e fomos ao
terminal de cargas, no lado oposto. Molino circundou a nave do tipo 1 e fiquei
impressionado com o seu tamanho. Disse que ela estava ali para revisão e
introdução de aperfeiçoamentos no seu mecanismo de navegação. Era uma nave
antiga e muito segura que logo se deslocaria para o sistema solar, onde se juntaria
a outras que estavam de prontidão na região da Terra.
No terminal de cargas havia duas naves do tipo 2 sendo abastecidas
para socorrer um planeta que, há poucas semanas, tinha passado por violenta
tribulação, pior que a deles há 722 anos atrás. Uma estava sendo carregada com
alimentos e a outra com equipamentos diversos doados pelo governo central para
ajuda aos povos daquele planeta. Muitos veículos especiais, parecidos com
plataformas flutuantes, carregavam contêineres que entravam e saiam por diversas
aberturas laterais das duas naves.

70
Visitamos os depósitos e as pessoas continuavam o trabalho, apesar de
já passar das onze horas. Molino explicou que, em situações como aquela ninguém
interrompia o trabalho enquanto as naves não estivessem carregadas. Almoçamos
com aquele simpático casal e depois fomos, com os amigos da SOL-4, até o local
onde deixamos nossos veículos. Eles não nos acompanhariam, pois iriam para uma
colônia marítima, onde nos esperariam no sábado à tarde. Syndi e Vércia
convenceram Salino e Tentra a seguir com eles e, assim que saíram, entramos no
Canarinho e fomos visitar o terminal de transportes internos, localizado em uma
área contígua ao terminal onde estávamos.
Nele havia diversas naves dos tipos 4 a 6 e suas instalações eram
semelhantes à do anterior, com dimensões menores, pois era voltado para o
transporte de passageiros e de cargas dentro da atmosfera arretiana, incluindo suas
doze estações orbitais. O esquema de funcionamento era igual ao do anterior, com
maior movimentação de cargas e de passageiros, os quais tinham outras opções de
deslocamento, como o teletransporte e veículos individuais, mas preferiam viajar
em veículos coletivos e aproveitar para incrementar os relacionamentos e fazer
novas amizades.
Conversamos com vários deles e, como em outros locais, alguns
disseram que já viveram em nosso planeta em diversas épocas. Conheci dois
personagens famosos que, como os demais, pediram para deixá-los no anonimato,
pois não se davam à importância que tinham na Terra. A ala de cargas recebia
todos os tipos de bens produzidos no planeta, onde eram armazenados e
encaminhados às centrais de distribuição que deles necessitassem para atender
aos supermercados e lojas de bens adquiridos existentes em sua região. A
movimentação era muito grande, especialmente a de alimentos.
Na volta, Vércia nos convidou para jantar na casa de uma amiga e
resolvemos ficar em casa para ver alguns documentários que eu queira assistir
desde a visita à CIA. Assim que chegamos, Vércia se arrumou e saiu. Após o
lanche, Syndi localizou vários títulos, desde o período anterior à grande transição
até algumas décadas depois. O aparelho mostrou os três níveis de cada um deles,
os tempos individuais e totais de cada nível.
Selecionamos uma seqüência de primeiro nível com duração de quase
duas horas. Os mais antigos mostravam as cidades antes do início do governo de
Olintho e havia poucas diferenças entre elas e muitas da atualidade terrestre.
Depois começou o período sobre o seu governo, como chegou ao poder, o
saneamento que realizou em seu país e suas realizações nos três anos anteriores à
grande transição.
A seguir, começaram as imagens daquele acontecimento, como iniciou,
se desenvolveu e atingiu o seu ápice, em poucas horas de alto poder destrutivo, ou
revitalizador do planeta. A parte final mostrou os trabalhos de apoio aos
sobreviventes e o suporte fornecido pelos espaciais durante várias décadas. A
maioria dos documentários referia-se ao país de Olintho, cujo exemplo acabou
sendo seguido por quase todos os demais.
Já passava das dez horas quando a sessão terminou e Syndi estava
calada há algum tempo, parecendo cansada e que tinha sofrido mais do que eu
com as imagens que avivaram em sua mente sensível, todas as dificuldades que
passou naquele período em que foi uma das sobreviventes. Sem esperar por

71
Vércia, fomos para o quarto, pois ela disse que estava precisando tomar um banho
para relaxar um pouco.
Quando terminei o meu e me acomodei, ela ainda permaneceu fazendo
sua autocrítica e ouvindo as músicas que selecionou. Depois, falou do marido e dos
filhos que perdeu durante os cataclismos e relatou como foram difíceis, e ao mesmo
tempo maravilhosos, os primeiros dias e meses daquele período. Lembrou da
mudança radical de comportamento dos sobreviventes e do modo como os antigos
ricos e pobres passaram a encarar a nova vida e a conviver harmoniosamente.
Em seguida, falou que as sensações que sentiu não se referiam às suas
lembranças daquele acontecimento, mas sim, ao impacto que as imagens
causaram em mim, pela possibilidade de sua ocorrência na Terra. Por essa razão,
precisou utilizar muita energia para neutralizar o efeito negativo que poderia
prejudicar o ajuste do meu espírito ao corpo que estava utilizando. Assegurou que
já estava tudo bem e que era melhor descansar, pois iríamos cumprir a
programação semanal no dia seguinte.

Visitas a centrais de distribuição de bens


A central visitada naquela manhã de sábado parecia a ala de cargas do
terminal de transportes internos, com dimensões menores e um tráfego maior de
naves dos tipos 4, 5 e 6. Conhecida como central de distribuição de bens comuns,
ou de uso gratuito pela população, armazenava uma infinidade de itens recebidos
dos terminais de transportes internos e dos centros de produção agrícola mais
próximos, distribuindo-os à rede de supermercados da região por ela atendida.
O sistema de controle, baixa e ressuprimento do estoque da central era
totalmente automático, limitando a intervenção humana ao processo de
recebimento, armazenamento e distribuição. Esse eficiente sistema tinha seu início
nas gôndolas dos supermercados e era completamente integrado nos níveis
superiores. Por essa razão, era impossível não encontrar um produto de linha em
qualquer supermercado do planeta. Conversei bastante com pessoas que
trabalhavam em diversos setores e, como nos demais lugares já visitados, tudo era
executado com dedicação, alegria, boa vontade e espírito de equipe. Almoçamos
no local e saímos para uma nova visita.
Fomos conhecer uma central de distribuição de bens adquiridos, cujo
funcionamento era semelhante ao da anterior, com dimensões ainda menores. Os
itens que faziam parte do seu estoque não eram distribuídos gratuitamente e sua
aquisição dependia de trabalhos em regime de horas extras. Por isso, sua
quantidade, variedade e movimentação de naves dos tipos 5 e 6 era bem menor,
além de serem destinados a lojas específicas das cidades localizadas nos pontos
estratégicos de cada região.

Passeio em uma colônia marítima de cúpula simples


Como a visita foi muito rápida, retornamos para casa no meio da tarde e
nos preparamos para o passeio na colônia marítima. Apesar dos arretianos
preferirem utilizar veículos coletivos nessas ocasiões, optamos pela cabine de
teletransporte para ganhar tempo. Vércia pesquisou e fixou as coordenadas da
colônia e rapidamente chegamos ao local. Nossos amigos não estavam nos
esperando, pois não sabiam que chegaríamos tão cedo.

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Apesar de ter visto a imagem da colônia no telão, levei um pequeno
susto quando deixamos o ambiente das cabines. Estava dentro do mar em um lugar
amplo, mágico e impressionante. A cúpula principal era uma abóbada transparente
com 288 metros de diâmetro e uma altura de 24 metros no ponto central, situado
uns seis metros abaixo do nível do mar. Era protegida por um campo de forças que
mantinha a água afastada da sua superfície, formando um colchão de ar entre ela e
o mar.
Em pontos eqüidistantes havia três túneis inclinados para entrada ou
saída de pessoas e um outro ligado a uma cúpula menor, destinada a
estacionamento de veículos de transporte individual ou coletivo do tipo 6. A cúpula
maior apresentava três conjuntos de quatro semicírculos separados por corredores
que formavam uma cruz. No centro havia uma praça circular e nos semicírculos,
várias suítes, salões de jogos, almoxarifados de equipamentos e de alimentos,
recepção e restaurante. O local era simples e funcional, como todas as instalações
arretianas.
Na parte externa vi muitas pessoas nadando em meio a cardumes com
peixes de vários tipos, cores e tamanhos. Algumas utilizavam um veículo já visto
anteriormente, uma mistura de “jet-ski” e submarino. Fiquei observando os detalhes
daquele impressionante centro de lazer por um bom tempo, enquanto Vércia e
Syndi aguardavam pacientemente. Depois, perguntei por nossos amigos e elas
apontaram para um grupo fora da cúpula. Logo vi Tentra e Salino nadando em
direção a um dos túneis de acesso, onde fomos encontrá-los.
Tentra nos levou ao nosso quarto e Salino foi buscar os escafandros,
combinando nos esperar no mesmo túnel. Como estava muito impressionado com
aquele ambiente, Syndi me acalmou dizendo que os quartos eram completamente
vedados contra um eventual rompimento da cúpula e que eu podia ficar
despreocupado, pois não tinham notícias de acidentes nos últimos duzentos anos.
Colocamos as roupas de mergulho que Tentra deixou nos armários e saímos para
encontrar Salino.
No caminho, recebi algumas "dicas" para facilitar o passeio e tirar o
receio que tinha manifestado com relação aos peixes que vi. Nossos demais
amigos nos esperavam do lado de fora e logo me levaram à superfície, para facilitar
a adaptação à profundidade. Tranqüilizaram-me dizendo que o pulmão arretiano
resistia a longos mergulhos de até 80 metros sem equipamentos especiais e que,
naquele local, a profundidade era de apenas 30 metros. Tive alguma dificuldade
inicial, mas logo me adaptei.
Incentivado pela segurança dos meus amigos, começamos a nos afastar
da cúpula, nadando entre cardumes de várias espécies. Foi uma experiência
inesquecível. Acariciei vários peixes e “cavalguei" um golfinho com uns cinco
metros de comprimento que se entendia perfeitamente com os meus amigos.
Retornamos no final da tarde, tomamos banho, colocamos trajes de passeio e
saímos para conhecer melhor aquele lugar.
Minha primeira surpresa foi ver que, apesar de não mais haver luz solar,
a cúpula iluminava uma grande extensão do mar em sua volta. Ela continuava
transparente e permitia a visão dos cardumes e das pessoas que nadavam a uma
boa distância. Depois, fomos procurar nossos amigos e os encontramos em um dos
salões de jogos eletrônicos, semelhantes a fliperamas, bastante entretidos com
seus brinquedos de alta tecnologia.
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Os jogos simulavam completamente a realidade, tinham caráter
educativo e quase todos eram baseados em projeções holográficas. Ao mesmo
tempo em que divertiam, ensinavam a planejar uma cidade, dirigir naves, plantar
legumes e outras coisas do cotidiano. Após um leve jantar e um período de
descanso voltamos ao mar, juntamente com a maioria das pessoas lá hospedadas.
Até uns 120 metros da cúpula, a claridade era muito boa. Foi outra experiência
inesquecível.
Retornamos aos nossos quartos antes das dez horas e, enquanto Syndi
foi tomar banho, fiquei ouvindo suas músicas de autocrítica e rememorando alguns
acontecimentos desde a chegada ao planeta. Todos estavam associados às
presenças de Salino, Tentra, Vércia e, principalmente, de Syndi, a não ser na
reunião com Arcthuro e na noite que tive uma sensação estranha. Reanalisei as
razões da sua presença constante e cheguei à mesma conclusão daquela noite.
Porém, ainda encarava o fato de dividir o quarto com ela como algo
incomum e não me sentia à vontade para conversar sobre alguns temas, como o
relacionamento amoroso. Talvez, por essa razão, não mais falamos a respeito
desde o sábado anterior. Quando ela saiu, fui para o banheiro esperando que não
tivesse captado minhas análises e lá continuei pensando no assunto. Concluí que
também cumpri as condições definidas por Oatas e que deveria deixar as coisas
seguirem seu curso normal.
Quando retornei, ela estava na costumeira posição de autocrítica, com
sua cama posicionada em frente à minha, significando que queria conversar. Assim
que me acomodei, disse que captou uma espécie de angústia em mim e que esse
sentimento afetava negativamente meu espírito. Pediu para me desabafar sem
nenhum preconceito ou bloqueio, pois não queria que eu sentisse aquilo
novamente. Depois de realinhar meus pensamentos, resumi tudo que havia
pensado e concluído.
Ela começou dizendo que aceitou dividir o quarto comigo, para que eu
não sentisse solidão e a distância que me separava da Terra e dos meus familiares,
como aconteceu na noite em que se ausentou, propositadamente, para testar e
ajustar o plano que estabeleceram para que eu me sentisse querido, protegido e
tivesse a paz e a tranqüilidade necessária para realizar os levantamentos, pois essa
era a razão principal da minha estada no planeta.
Falou que as minhas preocupações eram motivadas por uma guerra
entre preconceitos e sentimentos, enfatizando que os primeiros eram baseados em
premissas que se alteravam com a evolução dos costumes de cada civilização ou
época. Por outro lado, os sentimentos, como a amizade e o carinho, eram baseados
no amor que, além de eterno e imutável, era a mola propulsora da evolução de
todos os seres e do próprio universo. Por isso, eram muito mais fortes e poderosos.
Quanto ao relacionamento amoroso, reafirmou que se tratava de um
tema natural para eles e que só não voltou ao assunto para não agravar minha
situação. Disse que estava apenas querendo que eu não voltasse a ficar angustiado
e não criasse bloqueios para obter novas informações ou esclarecer dúvidas sobre
aquele assunto que, segundo já dissera, era complexo para a mente terrestre e
deveria ser tratado no livro com a devida profundidade.
Falou que além de Tentra, ainda na SOL-4, ela também sentiu minhas
dificuldades para falar sobre o tema desde o meu primeiro dia em Arret. Finalizou
dizendo que estava esperando um oportunidade como aquela para me tranqüilizar e
74
desbloquear minha mente, pois tentou várias vezes durante o sono, sem muito
sucesso, e que ainda tinha muitas coisas para dizer sobre o entrelaçamento
energético. Agradeci suas palavras, prometi que iria mudar minha maneira de
pensar e afirmei que não iria conseguir realizar o trabalho sem sua ajuda e
presença constante em todos os momentos. Syndi voltou a sorrir e disse que, como
todas as mulheres, apreciava ouvir palavras carinhosas e gostava de se sentir útil.
Na manhã seguinte saímos para um passeio que durou umas três horas.
Como eu estava curioso a respeito do “jet-ski” que alguns hóspedes utilizavam,
providenciaram esses veículos para todos nós. Ele comportava duas pessoas
sentadas lado a lado e tanto funcionava sob a água como na superfície. Andei um
bom tempo como passageiro e logo aprendi a dirigi-lo. Chegava facilmente a 60 por
hora na superfície e, sob a água, sua velocidade era bem menor.
Com as facilidades e comodidades que oferecia, nos distanciamos
bastante da cúpula e dividimos o tempo entre mergulhos, contatos com criaturas
marinhas e passeios pela superfície. Após o almoço voltamos para o mar com
aquele maravilhoso veículo e o tempo passou muito rápido. Quando começou a
escurecer, retornamos às nossas casas e resolvemos não sair naquela noite, pois
Vércia voltaria ao trabalho no dia seguinte. Depois do jantar, conversamos até por
volta das dez horas, quando fomos dormir.

As reuniões ministeriais da terceira semana


Assim que Vércia foi trabalhar, fomos para o Palácio da Harmonia
encontrar os amigos da SOL-4 e, antes das oito horas, estávamos na recepção do
Ministério da Pesquisa aguardando Daleth que, segundo Salino, era uma figura
muito interessante. Logo ele nos levou à sua sala e mostrou-se muito espirituoso e
brincalhão, parecendo alguém que eu conhecia, tanto pela energia que transmitia,
como pelo jeito de falar.
Dentre outras coisas, disse que já viveu na Terra e lamentou a forma
como aqui conduzimos as pesquisas que, além de secretas, não tinham o objetivo
único de beneficiar o planeta e sua população. Visavam, em primeiro lugar,
aumentar o poder e a lucratividade de governos ou empresas. Demonstrando seu
conhecimento sobre o nosso desenvolvimento tecnológico, citou vários casos,
desde a definição da teoria da relatividade até o viagra, passando pela eletrônica e
pela corrida espacial.
Depois, comentou nossas visitas aos centros de pesquisa, enfatizando
os aspectos sociais e de qualidade de vida da população. Daleth era uma pessoa
muito simples e se destacava pelo humor refinado com que tratava qualquer
assunto. Ele só ficou sério no momento que perguntei quando a Terra poderia ter
acesso aos conhecimentos que detinham e dividiam sem restrições com os
planetas da confederação galáctica.
Informou que esse momento, no tempo da Terra, estava muito próximo
de acontecer e citou uma frase lapidar: “Deus nega seus conhecimentos mais
secretos e elevados aos soberbos e àqueles que procuram usufruí-los em proveito
próprio e os dá em abundância aos humildes e puros de coração, que somente
almejam a felicidade dos seus semelhantes”.
No final ele nos acompanhou até a sala de Khap, o Ministro da Indústria
que, segundo ele, era um grande irmão e companheiro de muitas vidas de trabalho
em estreita cooperação. Khap deve ter pressentido nossa aproximação, pois nos
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esperava na recepção do seu gabinete. Depois de nos cumprimentar, ele e Daleth
se abraçaram, como se estivessem separados há meses.
Em seguida, Khap disse que fazia pouco mais de uma hora que não se
viam e, mostrando que também era muito brincalhão, falou que, se passasse um
único dia sem o encontrar e colocar seus pés no chão corria o risco de ter que
realizar muitos dos seus sonhos malucos. Todos riram muito e Daleth nos
acompanhou até a sala de Khap, onde se despediu dizendo que ainda nos
encontraria antes da minha partida.
Khap era muito parecido com Daleth, inclusive no humor. Era um
apaixonado pelo seu trabalho e apresentou vários dados estatísticos que
demonstravam o número crescente de produtos distribuídos gratuitamente à
população, muitos em substituição àqueles que eram obtidos com trabalhos extras,
cujos custos, em número de horas, diminuía a cada dois a três anos.
Ele explicou os critérios para distribuir bens gratuitamente, ou para
"cobrar" horas extras na obtenção de outros. A questão era muito simples, como
tudo em Arret. Informou que a força de trabalho do planeta estava direcionada para
a produção dos bens considerados como necessários para a sobrevivência, o
conforto e a qualidade de vida do povo. Conforme essa força de trabalho
aumentava, ou a produção era racionalizada, o governo podia tomar três decisões
básicas ou combinações delas.
No primeiro caso, diminuía as horas de trabalho diário, ou aumentava o
período de férias. No segundo e mais comum, utilizava a mão-de-obra excedente
para produzir e distribuir gratuitamente uma parte dos bens classificados como
adquiridos. O terceiro envolvia combinações dos dois casos anteriores. Ele finalizou
a reunião com outra frase lapidar: “se a força de trabalho da Terra fosse direcionada
de acordo com os padrões arretianos, seria suficiente para produzir o necessário
para que o dobro da sua atual população tivesse a mesma qualidade de vida da
chamada classe média, mesmo considerando as grandes diferenças tecnológicas
entre os dois planetas”.
Às dez horas estávamos no gabinete de Isis, a Ministra das
Comunicações. Com mais de um metro e noventa de altura, pele clara, cabelos e
olhos negros, era uma mulher muito bonita. Fez uma apresentação geral da sua
pasta e me surpreendeu com sua modéstia. Disse que seu ministério era o menos
importante, justificando que informações, filmes e transmissões culturais não eram
essenciais à sobrevivência do povo.
Interrompi dizendo que, graças aos serviços mantidos pelo seu
ministério, obtive informações muito valiosas. Ela agradeceu e disse que seu único
mérito era manter a população informada sobre a realidade do planeta, permitindo
que cada habitante tivesse acesso a qualquer dado, desde a lista completa de bens
produzidos e onde obtê-los, até informações sobre a situação de outros mundos,
como a Terra.
Depois nos reunimos com Delphis, o Ministro dos Transportes e
Distribuição. Com mais de dois metros de altura, era uma figura imponente e
transmitia muita energia no seu modo de falar bastante claro e objetivo, além de ser
muito simpático e bem humorado. Assim que fomos apresentados, ele disse que
estava curioso para conversar comigo, pelo fato de saber que a idéia do livro
nasceu da minha vontade de escrever sobre uma profecia relacionada com o seu
amigo Olintho. Resumi o conteúdo do texto profético e falei que gostaria muito de
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obter outras informações sobre ele, a quem eu já admirava pelo que vi nos
documentários que assistimos.
Ele falou alguns minutos sobre o seu amigo e disse que poderia
continuar durante horas, mas esse não era o objetivo da reunião. Passou então a
explicar os sistemas do seu ministério, enfatizando a sua filosofia de atuação. Ao
final, disse que liberou Syndi do trabalho, pois sabia o quanto ela estava sendo
importante para o meu aprendizado e para a fixação dos levantamentos em minha
memória espiritual.

Visita ao Centro Hospitalar de Agartha


Já em casa, almoçamos e fomos visitar um hospital que fazia parte do
grupo dos 20 maiores e mais bem equipados do planeta, com atendimento em
todas as especialidades médicas. O que diferenciava esses centros hospitalares
dos demais era o fato de realizarem, além de partos e outros tratamentos comuns,
as chamadas cirurgias de reconstituição de órgãos ou membros lesados por
acidentes, além de outros mais raros, como a troca do corpo físico do paciente.
Excetuando esses casos que exigiam intervenção direta no corpo físico,
os tratamentos eram preventivos e realizados no corpo vital, utilizando
equipamentos de difícil compreensão e explicação. O corpo vital corrigia o problema
no físico, desde tratamentos dentários ocasionais, até outras anomalias mais raras,
como infecções por vírus e bactérias, ou disfunções como gastrite e hipertensão. Se
as necessidades de tratamento não fossem detectadas durante o teletransporte,
eram diagnosticadas nos exames gerais a que todos se submetiam periodicamente.
Lá recebi informações detalhadas sobre o uso médico das cabines de
teletransporte. Toda vez que o corpo era reintegrado e se fosse constatada
qualquer anomalia, ou diferença em relação ao padrão do código genético contido
no DNA do usuário, o computador do hospital mais próximo da cabine de partida
era informado e realizava nova análise dos dados. Se houvesse necessidade de
tratamento, o usuário era convocado para um exame minucioso em um hospital de
sua livre escolha. Qualquer tratamento era simples e rápido, pois o problema era
detectado em sua fase embrionária e sem sintomas físicos.
Utilizamos o restante da tarde visitando a maternidade, onde mães, pais
e bebês eram tratados de uma forma muito especial. O parto normal constituía a
regra e era realizado em uma piscina especial, cercado por um carinho e cuidados
indescritíveis. Era completamente indolor e representava um momento muito
especial e de grande prazer para os pais, parentes e amigos. Raramente ocorriam
casos de cesariana, só utilizada quando a mãe ou a criança corria algum risco.
Assim que chegamos fomos para a piscina e após uns mergulhos, Syndi
me convidou para jantar e dormir em sua casa, pois seus pais retornaram no fim-de-
semana e viajariam no dia seguinte. Ashton e Mani nos receberam com muita
alegria e, após o jantar conversamos sobre as visitas realizadas, sobre o livro e
sobre Othíbio, a quem muito admiravam. Também conheci alguns detalhes da vida
deles. Trabalhavam no Ministério das Relações Exteriores e eram embaixadores de
Arret em um dos planetas daquele sistema estelar, o que justificava o fato de
viajarem muito. Resolvemos nos recolher mais cedo, pois iriam retornar ao planeta
logo que amanhecesse.
Quando terminei o banho, Syndi estava fazendo a costumeira autocrítica
e a posição da sua cama indicava que ela queria conversar. Assim que regulei o
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encosto e me acomodei, ela perguntou se eu já me sentia em condições de voltar
ao tema do entrelaçamento energético. Respondi que após a conversa do último
sábado estava pronto para ouvi-la e fazer as perguntas necessárias, pois várias
dúvidas haviam se dissipado. Ela falou que a base principal foi esclarecida durante
o período de sono e que o restante seria mais fácil de assimilar.
Mesmo assim, me pediu para manter a mente desligada do modelo
sexual terrestre, o qual não guardava similaridade com o entrelaçamento
energético, a começar pelo fato de poderem realizá-lo com roupas e até fisicamente
separados. As novas informações permitiram compreender o conceito e a pureza
do relacionamento amoroso arretiano.
O processo era iniciado com um desejo de unificação, ou de troca de
energia amorosa entre o casal, semelhante a um abraço carinhoso entre duas
pessoas queridas. Assim que seus espíritos se conectavam nessa energia,
começavam a sentir uma sensação de leveza e sonolência, seguida de suaves
arrepios na região da coluna vertebral. As sensações iam aumentando de
intensidade até que os corpos físicos adormeciam e os dois seres se apercebiam
em uma outra dimensão, constituídos por energias conscientes que interagiam
entre si e sentiam intensamente.
Nessa outra dimensão, um ficava em frente ao outro de mãos dadas e o
espaço entre eles era preenchido por energias que os dois seres geravam,
predominado a cor azul do homem e rosa da mulher, além de outras nuanças a elas
entrelaçadas, representativas do nível espiritual e do estado físico e emocional dos
dois seres. Conforme as energias expandiam e se tocavam, elas se entrelaçavam e
formavam uma chama espiralada muito bonita, com luminosidade fluorescente,
crescente e em movimento ascendente.
À medida que a chama os envolvia, os dois seres começam a
experimentar várias sensações agradáveis e indescritíveis, muito mais intensas que
o orgasmo terrestre. O clímax ocorria quando a chama os envolvia completamente
e seus corpos energéticos se unificavam em um abraço, intensificando bastante as
sensações anteriores, além de causar a perda de consciência dos dois espíritos no
plano onde se encontravam. Conforme o grau de afinidade do casal, o
entrelaçamento durava entre cinco e quinze minutos após o adormecimento do
corpo físico e, para acordar em seguida, era necessário fazer uma mentalização
prévia, pois, normalmente, dormiam por várias horas ou até a manhã seguinte.

Visitas a escritórios de planejamento urbano


Enquanto fazia a higiene matinal, relembrei a conversa da noite anterior
e algumas dúvidas não mais existiam. No caminho para a casa de Tentra, comentei
o fato com Syndi e ela disse que foram esclarecidas durante o descanso do corpo,
como já fizera em ocasiões anteriores. Como não era a primeira vez que ela falava
sobre esse assunto, fiquei curioso e pedi para me fornecer maiores detalhes à
noite, pois já estávamos chegando. Após a refeição e o tradicional bate-papo,
fomos visitar um escritório onde iniciavam o planejamento para construção de uma
cidade voltada para o corte e preparação de madeiras para indústrias montadoras
de móveis domésticos.
O trabalho utilizava modelos virtuais holográficos em três dimensões,
projetados sobre grandes mesas e em diversas escalas, podendo representar
desde a planta geral da cidade, até a de uma única residência. Naquele momento
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estavam definindo ruas, avenidas, bairros e a localização de prédios públicos. Com
o apoio tecnológico que dispunham parecia um trabalho fácil, pois modificavam os
modelos com grande agilidade. Porém, levavam em consideração inúmeras
variáveis, como lençóis freáticos, redes de água potável, de esgoto sanitário, linhas
de energia telúrica, volume pluviométrico, quantidade de árvores que seriam
retiradas, volume de terra a ser movimentado, dentre outras, tornando o trabalho
bastante complexo e único.
Uma parte da futura cidade estava com os trabalhos mais adiantados e
sua maquete holográfica era rica em detalhes que simulavam a realidade. Até as
árvores balançavam como se estivesse ventando. Os técnicos perceberam meu
interesse pelos recursos tecnológicos e desviaram sutilmente minha atenção para a
idéia central de todo aquele trabalho.
O objetivo do projeto era causar o menor impacto ambiental possível,
preservar a vegetação nativa e movimentar o mínimo de terra, sem afetar a
funcionalidade da futura cidade e o nível de conforto e de qualidade de vida de seus
habitantes. Era a perfeita integração entre o homem e a natureza onde, em última
análise, predominava o interesse pelo homem, com um profundo respeito pela
natureza. Como sabiam da nossa folga na manhã seguinte, nos convidaram para
visitar uma cidade semelhante, que estava quase pronta para ser ocupada.
Aceitamos o convite e eles se encarregaram de confirmar a visita.
Almoçamos em casa e depois conversamos sobre a visita da tarde e
sobre um centro de lazer que também iríamos conhecer no final do dia: O Balneário
da Baía dos Coqueiros, um dos lugares mais bonitos de Arret, segundo meus
amigos. O plano inicial era lá permanecer até o final da manhã seguinte, mas em
função do convite que recebemos, iríamos deixá-lo após a refeição da manhã. Logo
saímos para visitar um outro escritório de planejamento urbano, cujo projeto estava
sendo concluído.
Referia-se a uma cidade complementar à anterior, onde instalariam
diversas indústrias montadoras de móveis domésticos. Passamos todo o tempo em
volta de uma grande mesa de projeções holográficas, onde analisavam maquetes
em várias escalas ou graus de detalhamento. Parecida com aquela que
conhecemos pela manhã, era voltada para controle e aprovação de projetos,
dispondo de outros recursos interessantes.
Os técnicos mostraram vários detalhes do projeto, como cores,
ajardinamento e decoração das edificações. Previam, com margem de erro mínima,
desde o volume de terra a ser retirado e onde seria realocado, até a quantidade de
flores de cada espécie que seriam plantadas nos jardins públicos e nas residências.
Como as flores, todos os itens necessários para construção, acabamento e
decoração da nova cidade já estavam requisitados junto aos respectivos
fornecedores. A entrega seria feita conforme um cronograma que, no caso das
flores, previa o seu plantio imediato para evitar perdas.

Passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros


Assim que sobrevoamos o local, compreendi a razão do entusiasmo dos
meus amigos por aquele maravilhoso centro de lazer. Era uma baía perfeitamente
arredondada, com diâmetro de quase cinco quilômetros. Suas pontas laterais se
projetavam mar adentro, deixando uma pequena passagem para o mar aberto.
Havia praias arborizadas com coqueiros em todo o perímetro interno e externo da
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baía, além de milhares de chalés e outras edificações, como restaurantes, salões
de jogos, cinemas e habitações coletivas. Também havia um grande pavilhão para
eventos, com uns 20 mil lugares.
Ao fundo, uma cadeia de montanhas servia de moldura para aquele
cenário maravilhoso. Nela existiam alguns mirantes e três riachos que desciam e
desaguavam na baía, formando várias cachoeiras e piscinas pelo caminho. No
centro da baía, a beleza se completava com uma ilha quase circular, com uns
novecentos metros de diâmetro. Também era arborizada com coqueiros e
apresentava várias construções de uso coletivo e muitos chalés.
Suas águas eram claras e sua profundidade média era de 20 metros. O
piso da parte mais funda era constituído por rochas, corais, areia grossa e cascalho.
A cada cem metros havia placas redondas e côncavas, com uns dois metros de
diâmetro. Funcionavam com energia solar coletada por elas mesmas e, conforme
escurecia, iluminavam o fundo e permitiam mergulhos em toda a área. Apesar das
constantes surpresas, não imaginava tal requinte com o lazer da população. Nosso
chalé estava situado no centro da área continental, entre praias de mar e de água
doce, não muito distante de uma cachoeira.
Enquanto guardávamos a bagagem, Salino foi buscar dois “jet-ski” e
equipamentos de mergulho. Utilizamos o rio próximo, nos dirigimos à baía e nela
mergulhamos para conhecer algumas de suas particularidades. Mais tarde, fomos
até uma praia da ilha central para conversar, apreciar o movimento e tomar água de
coco.
Voltamos para o chalé ao anoitecer e pude observar a eficiência das
placas de iluminação. Após o jantar, Salino e Tentra foram para um salão de jogos
eletrônicos e Syndi me levou para um passeio sobre a baía. A visão noturna era
melhor que à luz do dia, pois o fundo apresentava detalhes somente visíveis com a
iluminação. Depois, fomos encontrar nossos amigos e ficamos com eles até perto
das nove e meia, quando voltamos ao chalé.
Já em nosso quarto, retomamos a conversa interrompida naquela
manhã. Syndi falou que preferia elucidar as dúvidas durante o período de sono,
para não cansar minha mente e dificultar ainda mais a compreensão dos
levantamentos que seriam realizados no dia ou dias seguintes. Afirmou que, no
plano astral, tinha facilidades para criar exemplos e imagens elucidativas e que o
espírito compreendia melhor quando estava desligado do corpo, além de facilitar a
fixação dos temas em meu inconsciente e as lembranças quando do retorno à
Terra.
Disse que o sono era um excelente conselheiro e que era uma pena eu
não ter lembranças dessas conversas que, para ela, eram iguais àquela que
estávamos tendo. Compreendi então a razão de ter acordado várias vezes com
uma compreensão que não tinha anteriormente, como era o caso do esquema geral
do entrelaçamento energético. Pedi para me fornecer outros detalhes do processo e
ela o fez comparando as fases principais com suas equivalentes ao sexo terrestre,
repetindo algumas informações anteriores.
Disse que, ao contrário daquilo que se vulgarizou na Terra, o casal
arretiano realmente “fazia amor” pois, para se chegar ao entrelaçamento, era
necessário um elevado grau de afinidade e um sentimento amoroso de grande
pureza entre os parceiros. O processo não ocorreria se um deles tivesse um desejo
físico, algum tipo de bloqueio ou sentimento de posse. Também era necessário que
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representassem polaridades opostas, pois essa era a premissa básica da criação
do homem e da mulher.
As energias que formavam a espiral eram geradas pelos chakras básicos
dos dois seres durante a fase inicial do processo, quando ainda estavam despertos.
Essas energias, equivalentes às carícias preliminares do sexo terrestre, subiam
pela coluna vertebral e provocavam seqüências de suaves arrepios, seguidas por
uma crescente sensação de leveza que causava o entorpecimento gradual da
mente, traduzido por uma sonolência.
Quando o nível de energia chegava a um limite compatível com o grau
de afinidade do casal, elas eram liberadas pelos seus chakras coronários,
provocando o adormecimento dos corpos físicos, a liberação dos dois espíritos e
sua entrada em uma espécie de estado de êxtase. A partir desse momento,
equivalente à penetração, o casal experimentava várias sensações agradáveis, de
difícil individualização e descrição.
Constituíam um misto de alegria, doação, amor, felicidade, sabedoria,
plenitude, unificação, dentre outras, amplificadas pela consciência espiritual em
estado livre e sem as limitações impostas pelo corpo físico, que também não sofria
nenhum tipo de desgaste. Com a prática e o aumento da afinidade, o casal podia
até estar separado por milhares de quilômetros, que conseguiria realizar o
entrelaçamento, pois tudo ocorria no plano espiritual. No auge do processo,
equivalente ao orgasmo físico, quando o casal se fundia em um abraço, ocorria a
intensificação das sensações anteriores, provocando a perda de consciência no
plano onde se encontravam e a entrada em um nível superior, equivalente ao
relaxamento posterior ao ato sexual terrestre, também seguido algumas vezes pelo
adormecimento dos parceiros.
Para manter a consciência nesse outro plano, era necessário um alto
grau de afinidade e muito treinamento, ou um maior nível espiritual. Quando o casal
apresentava essas condições, seus espíritos se unificavam por um tempo maior e
eram envolvidos por uma chama espiralada de grandes proporções, com cores
muito mais vivas e variadas, além de experimentarem outras sensações mais
profundas, sutis e duradouras.
Syndi informou que essa era a parte rotineira dos entrelaçamentos e
começou a falar sobre aqueles onde ocorria a fecundação. Eles somente
aconteciam quando o casal tinha assumido compromisso para receber algum
espírito como filho ou filha e o momento astrológico e sideral era favorável à sua
missão ou trabalho. Nesses casos, os mentores responsáveis pelo renascimento
provocavam a ovulação e o espírito do futuro bebê participava do processo. Esses
entrelaçamentos eram iguais aos demais e apenas necessitavam que os parceiros
estivessem juntos e despidos, o que era um fato corriqueiro entre os casais.
Assim que começava o adormecimento do corpo físico, acontecia uma
modificação química no organismo feminino que, em contato com a pele masculina,
provocava a excitação física de ambos. A penetração acontecia após o
adormecimento, quando começavam a serem envolvidos pela espiral. Durante o
clímax do processo ocorria a ejaculação de um reduzido volume de esperma que
não era posteriormente percebido pelos parceiros, a menos que acordassem em
seguida.
O conhecimento da fecundação podia acontecer imediatamente, ou em
alguns dias, quando a mulher sentia um aumento da sensibilidade psíquica e
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percebia sua ligação com o espírito do futuro bebê. Esse tipo de entrelaçamento
acontecia uma única vez durante o período fértil de três dias, a menos que o óvulo
não fosse fecundado na primeira tentativa, o que era muito raro.
Os entrelaçamentos continuavam durante a gravidez de nove meses e
eram muito especiais, como também acontece entre casais terrestres. A partir do
terceiro mês e de maneira gradativa, contavam com a participação do novo ser,
formando uma chama espiralada com três cores predominantes: rosa, amarelo e
azul. Nesses casos, as sensações eram amplificadas e essa era uma das razões da
grande união entre pais e filhos arretianos. Ela finalizou dizendo que os casais
arretianos não realizavam relações sexuais e sim um profundo relacionamento
amoroso. Depois falou que eu já estava em condições de escrever a respeito do
tema e que qualquer dúvida seria esclarecida durante o período de descanso dos
nossos corpos.

Visita a uma cidade em fase final de construção


Após a refeição da manhã, sobrevoamos novamente aquele magnífico
balneário e saímos com destino a Águas Claras, o nome da cidade em fase final de
construção. Quando lá chegamos vimos uma cidade pronta e sem habitantes, como
outra visitada anteriormente. A rápida apresentação foi limitada aos controles
estatísticos e novamente constatamos o elevado índice de acerto entre o planejado
e o executado. Depois, fomos visitar uns dez galpões industriais.
Estavam localizados na periferia urbana e pareciam prontos para entrar
em operação. Nas serrarias e nas marcenarias havia diversas máquinas
robotizadas para trabalhos com madeiras e, enquanto algumas operavam de
maneira parecida com suas similares terrestres, outras não guardavam a menor
semelhança. No caso das serrarias, a máquina que mais se aproximava das nossas
era uma que “cortava” as toras de madeira e as transformava em tábuas e outras
peças.
A tora era cortada em uma única passagem de feixes de raios paralelos,
deixando as peças completamente lisas e sem o menor sinal de queima. Essa
máquina dispensava a desengrossadeira, a plaina, a lixadeira e não produzia
nenhum tipo de barulho, serragem ou pó. Em todos os lugares observei pessoas
realizando testes e ajustes finais, para que a cidade pudesse estar pronta para ser
habitada em dez dias. Almoçamos no local, conversamos com os “operários” e
depois saímos para realizar outra visita, desta vez, em Agartha.

Visitas ao Ministério das Relações Exteriores


Fomos recebidos por Larina, uma jovem senhora com pouco mais de 70
anos, muito simpática e ativa que, além de ser amiga de Tentra e Salino, era uma
espécie de madrinha de Syndi. Depois de dizer que tinha reservado aquela tarde e
a manhã seguinte para nós, fez uma apresentação geral do Ministério, discorrendo
sobre as estruturas existentes em Agartha, nas embaixadas oficiais em 128
planetas de vários sistemas estelares da nossa região galáctica e nas
representações de acompanhamento de 36 planetas em fase de transição,
incluindo a Terra.
As maiores embaixadas funcionavam com um efetivo de 24 arretianos e
as menores com 6, em regime de substituição mensal, bimestral ou trimestral,
conforme as características do relacionamento mantido com os planetas. As
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representações de acompanhamento utilizavam naves iguais ou maiores que a
SOL-4 e a quantidade de pessoas em cada uma delas variava conforme as
necessidades de acompanhamento, intervenção ou ajuda indireta aos habitantes do
planeta, podendo contar com até três mil arretianos. Nos dias anteriores, durante e
após a grande transição, a quantidade aumentava significativamente.
Já em casa conversamos com Vércia sobre as visitas realizadas. Após o
jantar, Salino e Tentra foram ao teatro e nós ficamos para assistir a alguns
documentários sobre a época da grande transição, cujos resumos havia assistido
anteriormente. As cenas eram impressionantes e mostravam claramente a atuação
saneadora dos quatro elementos da natureza, com destaque para os terremotos e
maremotos, pelo seu alto poder destrutivo. Salino e Tentra acompanharam a meia
hora final e depois nos recolhemos aos nossos quartos.
Assim que me acomodei, Syndi disse que não sentiu nenhum impacto
negativo das imagens em meu espírito e mostrou-se satisfeita com o fato. Depois,
perguntou se eu tinha alguma dúvida sobre a mecânica dos entrelaçamentos.
Aproveitei para esclarecer alguns detalhes e para colocar minhas incertezas quanto
à necessidade e maneira de escrever sobre o assunto, pois temia causar os
mesmos problemas que inicialmente senti. Com sua costumeira paciência, ela
respondeu as perguntas e, no final, voltou a dizer que o tema deveria ser incluído
no livro, com os detalhes que pudesse relembrar. Como ainda não tinha chegado a
uma conclusão, combinamos voltar ao assunto após o término dos levantamentos.
Depois da refeição da manhã e do costumeiro bate-papo, Vércia foi para
o trabalho e nós fomos concluir os levantamentos no Ministério das Relações
Exteriores. Larina apresentou vídeos e falou sobre o funcionamento de várias
embaixadas típicas e sobre algumas representações de acompanhamento,
alongando-se sobre a da Terra, mais em função das perguntas que fiz. As
embaixadas tinham sua contrapartida em Arret e funcionavam com alguns tipos de
serviços, além do intercâmbio de estudantes e turistas. Os serviços variavam em
função das características de cada planeta e incluíam trocas de tecnologias, de
matérias-primas e produtos acabados, sem envolver moedas ou coisa parecida.
Sobre a representação de acompanhamento da Terra, ela forneceu
informações sobre o efetivo de naves e falou que o período de transição estava
próximo. Como eu não podia deixar de fazer uma pergunta a esse respeito, Larina
sorriu e disse que ela iria ocorrer “em menos de cem anos”. Depois, informou que,
naquele momento, tinham à disposição do comando da frota de apoio à Terra, um
total de 21 naves iguais ou maiores que a SOL-4 e algumas dezenas de naves
menores, abrigadas no interior das maiores, ou transitando em nosso planeta.
Quando perguntei sobre as atividades que executavam, ela disse que as
naves e seus tripulantes estavam à disposição do comando da frota de apoio à
Terra, o qual não repassava informações à CIA e ao povo arretiano. Falou em
linhas gerais e afirmou que somente o comandante da frota poderia me dar a
resposta, se o Pai Celestial assim o permitisse.

Passeio em um parque de preservação ambiental


Voltamos para casa, tomamos banho de piscina e, após o almoço,
saímos para conhecer um parque de preservação ambiental. Quando nos
aproximamos do local, Salino elevou o Canarinho para que eu tivesse uma visão
geral da área e de uma pequena cidade onde iríamos pousar, localizada no seu
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centro geodésico. O parque tinha uns 40 mil quilômetros quadrados e, além da
pequena cidade, havia diversos núcleos menores a cada 20 quilômetros, com 50 a
100 casas cada um.
Fomos recebidos por um grupo de pessoas e logo descobri que a
maioria tinha formação avançada em biologia, genética, engenharia florestal e
outras especializações. O parque, além de produzir mudas de espécies nativas
para reflorestamento de outras áreas, se dedicava à reprodução de alguns animais
“selvagens” de pequeno porte. A pequena cidade abrigava umas seiscentas
famílias, tinha todas as comodidades das grandes, além de abastecer os núcleos
menores. Diferente das demais cidades, aquela era protegida por um campo de
forças em forma de abóbada sobre as edificações, sendo que os núcleos também
contavam com o mesmo tipo de proteção.
Sua finalidade era garantir a privacidade dos moradores, pois os animais
“selvagens”, mesmo sendo dóceis, podiam entrar nas casas, pisotear canteiros ou
fazer estragos no supermercado. Como o do Canarinho, o campo era elástico e
parecia uma bolha macia que não feria os pássaros que nele se chocassem. Para
entrar e sair as pessoas portavam um bastão que abria uma passagem através
dele. Assistimos a uma apresentação da área atual e como estava há uns
quatrocentos anos. Era uma área totalmente degradada e fazia parte de uma
grande região metropolitana.
O parque estava no estágio final de reconstituição e seria integrado ao
sistema de lazer dentro de 20 anos, como acontecia com os parques recuperados.
Visitamos três sofisticados laboratórios, uma maternidade para animais e muitos
viveiros de plantas silvestres. No final da tarde, quando conversávamos sobre a
continuidade da visita na manhã seguinte, recebemos um convite para pernoitar em
uma casa disponível no local. Aceitamos a proposta e Tentra comunicou o fato para
Vércia, que preferiu permanecer em Agartha.
Depois de acomodados, fomos tomar banho em uma cachoeira próxima,
juntamente com vários moradores. Após o jantar fomos até uma grande praça
central e lá encontramos quase toda a população espalhada por diversos recantos.
Conversamos com muitos moradores e eles pareciam formar uma única e grande
família. Lá pela dez horas, começaram a retornar às suas casas e nós fizemos o
mesmo.
Salino e Tentra foram dormir e eu fiquei na varanda com Syndi
apreciando os ruídos da floresta, observando as estrelas e conversando sobre os
levantamentos realizados naquele dia. Na manhã seguinte reiniciamos a
programação que previa incursões pelos arredores e visitas a alguns dos 80
núcleos espalhados pelo parque, quando tive a oportunidade de conhecer novas
espécies de pássaros e de pequenos animais. Almoçamos com o responsável por
um dos núcleos e depois retornamos para Agartha.

A escolha e o passeio do fim-de-semana


Já em casa, conversamos sobre o que fazer naquela tarde e no fim-de-
semana, pois os levantamentos básicos estavam concluídos e um novo
planejamento seria conhecido somente após a reunião com Arcthuro, na segunda-
feira. Tentra perguntou que lugar ou lugares eu gostaria de conhecer ou visitar
novamente. Enquanto aguardavam a resposta, pensei em um local e, mesmo
conhecendo as facilidades que tinham com a telepatia, disse que teriam que
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adivinhar. Imediatamente Syndi falou que era o Balneário da Baía dos Coqueiros.
Tentra, além de avisar Vércia, convidou os demais tripulantes da SOL-4 e todos
aceitaram, mas só chegariam no final da tarde.
Ela fez rapidamente as reservas de quatro chalés através do telão e,
mais uma vez, fiquei impressionado com as facilidades que tinham à disposição.
Logo que Tentra acessou o balneário, apareceu sua vista aérea com diversas
divisões setoriais e respectivas quantidades de chalés vagos por tipo, ou
capacidade de acomodação. Informado o período de utilização e selecionado o
setor e o tipo, aparecia sua vista aérea bem detalhada, com os chalés vagos
piscando. Ao selecionar um deles, a tela se dividia e mostrava o chalé, sua planta e
outros detalhes, tudo em três dimensões. Nesse ponto era possível confirmar a
reserva ou continuar a escolha. Assim que era reservado, aparecia um quadro para
informações sobre os ocupantes.
Alguns minutos depois estávamos sobrevoando aquele belíssimo
balneário. Pousamos, descarregamos o Canarinho e, enquanto Tentra e Syndi
davam os retoques finais na arrumação dos chalés, fui com Salino buscar dois
veículos e equipamentos de mergulho para explorar a baía. Passeamos até perto
das cinco horas da tarde, quando voltamos para esperar nossos amigos.
Vércia chegou primeiro e o restante do grupo em seguida. Fomos tomar
banho de cachoeira e depois os homens foram ao supermercado buscar provisões,
pois as mulheres casadas resolveram preparar o jantar nos respectivos chalés e
Syndi convidou Vércia para nos acompanhar. Mais tarde saímos para um passeio à
pé até por volta das dez e meia, quando retornamos para dormir.
Durante o sábado conhecemos vários recantos do balneário,
conversamos com muitas pessoas e, à noite, assistimos a uma palestra de
Arcthuro. Ele estava por lá passando o fim-de-semana, juntamente com quatro de
seus ministros e ministras. Os arretianos adoravam assistir a palestras sobre temas
filosóficos ou religiosos, especialmente, as de Arcthuro. Naquela noite ele falaria
sobre o amor.
O pavilhão principal estava tomado por umas 20 mil pessoas e, pelo
entusiasmo que demonstravam, deu para sentir o quanto ele era amado e
respeitado pelo povo. Ao contrário do que presenciei em outras reuniões, quando
seu nome foi anunciado, todos ficaram em pé e o aplaudiram efusivamente. Ele
falou durante pouco mais de uma hora para uma platéia atenta e silenciosa. Suas
palavras me recordaram um discurso que Jesus pronunciou em um santuário
essênio, conforme está registrado em um dos muitos livros escritos sobre Ele.
Arcthuro desenvolveu o tema sob a ótica da amizade sincera, leal e
desinteressada entre filhos e filhas do Pai Celestial. Quando terminou, todos se
levantaram, aplaudiram e novamente sentaram, esperando que ele continuasse.
Falou por mais alguns minutos e foi novamente muito aplaudido. Durante sua
palestra havia um perfume no ar e a energia do ambiente era tão leve e especial
que eu sentia suaves arrepios em meu corpo e uma vontade de abraçar as pessoas
ali presentes.
Quando ele terminou, realizei meu desejo e abracei meus amigos e
várias pessoas próximas. Logo notei que estavam fazendo a mesma coisa em todo
o salão. Na saída encontramos o palestrante e Othíbio, com os quais me abracei
longamente. Fiquei muito emocionado ao abraçar Arcthuro, como ocorreu

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anteriormente. Ele falou que estaria nos aguardando na segunda-feira e me pediu
para aproveitar bem o dia seguinte, pois ainda teria muito trabalho pela frente.
O domingo foi bastante movimentado e aproveitamos para visitar vários
locais ainda desconhecidos. Encontramos Arcthuro em três ocasiões, sempre
cercado por várias pessoas. Notei que os freqüentadores pareciam mais felizes e
Syndi justificou que a energia de Arcthuro sempre provocava algum tipo de reação
positiva. Disse que houve uma intensificação da energia amorosa de cada um, em
decorrência do tema da palestra. Aproveitamos aquele dia especial até o último
minuto e retornamos para Agartha apenas para dormir.

As reuniões ministeriais da quarta semana


No horário combinado a Ministra da Saúde nos recebeu em seu
gabinete. Alpha tinha 69 anos, a aparência de uma colegial e era muito simpática,
alegre e comunicativa, deixando-nos à vontade logo nos primeiros minutos. Como
de costume, fez uma exposição do seu ministério e utilizou quase todo o tempo
falando sobre sua filosofia de trabalho, voltada para a maternidade e a medicina
preventiva.
Apresentou dados que justificavam o nível de saúde da população e
falou sobre algumas doenças terrestres que lá estão extintas, como o câncer, e
sobre outras que nunca existiram, como a AIDS. No final, sugeriu que visitássemos
outros centros de saúde e me pediu para assistir a um parto completo, para ter uma
idéia exata do processo, pois, segundo já dissera, a maternidade era a principal
razão da existência do seu ministério.
Em seguida, tivemos o encontro com Ghimel, o Ministro do Urbanismo e
Planejamento Urbano, um senhor com 128 anos, esbelto e ágil como um garoto.
Ghimel era muito falante, bem humorado e, ao invés de fazer a apresentação, me
pediu para falar sobre o seu ministério. Para me deixar à vontade, fez algumas
brincadeiras e me incentivou a falar. Durante uns vinte minutos, tracei um paralelo
entre o urbanismo arretiano e o terrestre, misturando o planejamento com a
construção das cidades, que muito me impressionaram.
Quando terminei, Ghimel se levantou, bateu palmas e disse que “me saí
muito bem” e com um “pequeno treinamento”, poderia trabalhar em seu ministério.
Considerei que suas palavras tiveram o objetivo de elevar minha auto-estima, pois
estava consciente que teria que passar por um longo treinamento para poder iniciar
uma simples carreira de aprendiz. Depois, fez várias colocações sobre as
atividades da sua pasta e, no final, disse uma frase que resumia sua filosofia de
trabalho: “Os minerais e os vegetais eram muito importantes e mereciam todo o
nosso respeito. Porém, o bem-estar e a qualidade de vida da população eram ainda
mais importantes. O ideal era manter o equilíbrio entre esses dois fatores e buscar
sempre o dourado caminho do meio”.
Pouco antes das dez horas, Othíbio entrou na sala dizendo, em tons de
brincadeira, que veio nos buscar para que Ghimel não esticasse a sua
apresentação, pois era muito falante e sempre se esquecia dos horários. Ele
retrucou dizendo que iria fazer a mesma recomendação a Honda, com quem
teríamos a reunião seguinte, assegurando que Othíbio era quem mais falava deles
todos. E, olhando para nós com um sorriso maroto, disse que sua afirmação
poderia ser confirmada até fora do sistema estelar arretiano. Rimos bastante e
assim nos despedimos para acompanhar Othíbio até seu gabinete.
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A conversa foi bastante descontraída e sem a tradicional apresentação,
já realizada por Larina. Ele falou sobre o plano de ajuda à Terra após a transição e
sobre seu desejo de instalar uma embaixada oficial em nosso planeta. Como os
demais ministros, Othíbio era uma pessoa singular. Porém, por ser o primeiro que
conheci, sua figura ficou fortemente gravada em minha memória. Ele tinha 105
anos, uns dois metros de altura, pele bronzeada, feições bastante suaves, cabelos
castanhos e olhos de um azul-marinho profundo, os quais transmitiam toda a sua
bondade, sabedoria e superioridade espiritual.
Depois, fomos ao encontro de Honda, a Ministra do Meio Ambiente e a
mais jovem integrante do ministério. Tinha 54 anos, era ruiva de olhos verdes e um
pouco parecida com Tentra, de quem era amiga de infância. Seu gabinete parecia
um jardim, tamanha a quantidade de plantas e flores que lá existia, demonstrando o
quanto ela amava a natureza.
Percebendo minha atenção com as plantas, deu uma volta comigo pela
sala e me apresentou muitas delas, enquanto as acariciava e falava com elas como
se fossem seres humanos. Honda era uma pessoa especial, meiga, carinhosa e
muito bonita. Ela utilizou todo o tempo falando do seu grande amor pela natureza e
sobre o relacionamento harmonioso do seu ministério com os demais, pois o
respeito pelo planeta, como ser vivo e mantenedor das formas de vida, era uma das
principais preocupações do povo arretiano.
Quando começou a traçar um paralelo entre a situação do meio
ambiente arretiano com o terrestre, que ela conhecia muito bem, pareceu uma mãe
que vê seu filho indefeso, sendo agredido e maltratado brutalmente. E foi essa a
imagem que ela me passou. A reunião com Honda fechou com chave de ouro a
fase de reuniões ministeriais. Ela a transformou em uma palestra muito agradável e
poética, conseguindo transmitir todo o amor e carinho do povo arretiano pela
natureza.

A segunda reunião com Arcthuro


Já em casa, enquanto Tentra e Syndi preparavam o almoço, fiquei
conversando com Salino e Vércia sobre a reunião da tarde. Pouco antes de
sairmos, confessei que ainda estava sem uma linha definida para fazer o resumo do
meu aprendizado. Tentra me abraçou e pediu para não me preocupar, pois
Arcthuro, além de ser uma espécie de pai dos arretianos, tinha uma sensibilidade
tão aguçada que, mesmo que eu nada dissesse, ele saberia exatamente o estágio
em que me encontrava. Salino interveio dizendo que o resumo tinha o objetivo de
elevar minha auto-estima, como fez Ghimel, além de facilitar a fixação dos temas e
das imagens em minha mente espiritual.
Logo depois entramos no gabinete de Arcthuro, juntamente com os
amigos da SOL-4. Com extrema amabilidade, ele disse que teríamos a tarde toda
para conversar e, se necessário, até as sete horas, pois seu próximo compromisso
seria um pouco mais tarde. Sentindo minha insegurança, me pediu para falar
livremente sobre tudo que vi e senti, na ordem que achasse conveniente e com o
nível de detalhes que julgasse necessário.
Falei por mais de uma hora sobre as atividades de cada ministério,
incluindo outros temas, como a religiosidade, a família e o vestuário, quase sempre
traçando um paralelo com a nossa realidade, além de comparar a simplicidade e a
facilidade de várias coisas arretianas com as complicações e dificuldades de suas
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congêneres terrestres. No final, falei sobre a impossibilidade de implantar esses
conceitos no momento atual da Terra, a menos que ocorresse uma radical mudança
na estrutura planetária ou na mentalidade da nossa humanidade e dos nossos
governantes.
Quando concluí, Arcthuro disse que havia um tema sobre o qual não falei
e que deveria constar no livro, sob pena de omitir um conceito importante para
todos os povos. Imediatamente entendi o que ele estava dizendo e olhei para
Tentra e Syndi, sem saber por onde começar. Ele me incentivou a falar
abertamente e disse que, apesar de ser um tema muito delicado para mim e para
os povos da Terra, era para eles muito natural e corriqueiro.
Comecei falando do esforço de Tentra, ainda na SOL-4, para transmitir o
conceito básico do relacionamento amoroso. Disse que, até poucos dias atrás,
ainda não tinha entendido o mecanismo do substituto arretiano para o sexo
terrestre, que lá ninguém sentia falta. Intrigava-me o fato de saber que ele era
utilizado somente para procriação, de uma maneira que também não compreendia.
Falei que ficava ainda mais confuso, quando via a forma amorosa e carinhosa com
que os casais se tratavam.
Depois de fazer essas considerações, relatei como Syndi me ajudou a
entender o processo do entrelaçamento energético, que, segundo ela, estava bem
compreendido, pois conversamos sobre o assunto até durante o período de sono.
Finalizei dizendo que ainda me preocupava o fato de não saber ao certo como iria
escrever a respeito, para não confundir a mente dos leitores, como aconteceu
comigo. Arcthuro agradeceu os esforços das duas e disse que, até o final da estada
em Arret, eu iria descobrir a maneira correta de escrever sobre o assunto.
Após uma pausa para tomarmos um suco de frutas, ele garantiu que eu
detinha dados suficientes para escrever sobre a realidade arretiana e que tudo
estava fortemente gravado em minha memória espiritual. Disse que, como as
demais pessoas, estava bastante satisfeito com os resultados obtidos e, em
seguida, falou sobre vários aspectos que necessitavam de um levantamento
complementar.
Sobre eles, fez uma série de considerações e sugestões, sempre
submetendo suas análises à apreciação dos presentes. A seguir, um resumo
daquilo que ele falou.
 Precisaria me aprofundar na história arretiana, desde os anos anteriores à
grande transição até a criação e consolidação do governo central. Depois,
deveria avançar mais rapidamente até a época atual, procurando conhecer
apenas os fatos principais.
 Com relação à atualidade, deveria obter mais informações sobre a estrutura
organizacional do governo central e sobre a religiosidade do povo arretiano.
 Também deveria conhecer novos locais de lazer e fazer outras visitas a escolas,
hospitais e a áreas agrícolas e industriais.
 Durante os levantamentos, deveria conversar bastante com as pessoas,
procurando avaliar o seu grau de harmonia, de felicidade e de satisfação com a
vida planetária.
Quando concluiu, Arcthuro falou que o grau de afinidade, de amizade, de
carinho e de amor que eu sentisse pelas pessoas, coisas e lugares que conheci e
que ainda iria conhecer, seria a única chave que eu teria para abrir as portas do
meu inconsciente e captar, intuitivamente, a realidade arretiana quando voltasse à
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Terra. Enfatizou que a memória consciente seria bloqueada quando reassumisse o
corpo original, para garantir segurança e normalidade à minha vida terrestre.
Informou que o retorno à Terra estava marcado para dali a 19 dias, em
um sábado correspondente ao 41º dia da minha estada no planeta, totalizando 44
com os dias à bordo da SOL-4. Garantiu que ainda iríamos nos encontrar para uma
conversa “informal”, com a presença de todos os ministros. Já passava das seis da
tarde quando nos despedimos de Arcthuro. Assim que chegamos no andar térreo,
Salino disse a Antak e Otento que não precisavam se preocupar com o
planejamento da segunda fase dos levantamentos e cada grupo voltou para sua
casa.

O planejamento dos novos levantamentos


Tentra e Salino foram para a cozinha e comecei a conversar com Vércia
e Syndi sobre como fazer o planejamento sem esquecer as orientações de
Arcthuro. Vércia, que não participou da reunião, disse que ele sugeriu muitas coisas
importantes, a exemplo das pesquisas históricas e garantiu que nada seria
esquecido. Estranhei suas afirmações e perguntei quem a informou sobre a
reunião, ou se ela a captou telepaticamente. Respondendo pela amiga, Syndi disse
que eu ainda precisava conhecer algumas coisas e me levaram à sala de música,
onde Vércia mostrou como ficou sabendo de tudo.
Ela ligou o telão, fez uma seleção e logo surgiu a imagem da reunião.
Fiquei atônito observando os participantes e nossas conversas iniciais até que
Syndi lembrou que me informaram sobre aquele tipo de serviço na visita à CIA, o
qual me tornou conhecido em todo o planeta desde a primeira reunião com
Arcthuro. Com isso, compreendi a razão de saberem o meu nome e o que estava
fazendo em Arret.
Após o jantar iniciamos o planejamento das etapas seguintes do
levantamento de dados. Repassamos a reunião em menos de uma hora e cada
trecho significativo foi editado, transladado automaticamente para a linguagem
escrita, depurado e gravado para análise posterior. Depois, Tentra e Salino
analisaram e revisaram cada trecho, registrando os títulos para visita ou pesquisa
em uma das quatro partes que dividiram a tela. Em paralelo, Vércia e Syndi
verificavam esses títulos e selecionavam os documentários para pesquisa histórica,
ou os locais para levantamentos, criando uma agenda com toda a programação que
eu ainda deveria cumprir.
Depois, com a ajuda de Tentra e Salino, revisaram o planejamento,
refinaram a agenda e deixaram uma trinta opções para passeios em locais de lazer,
constituídos por reservas florestais, colônias marítimas, ilhas paradisíacas,
balneários e retiros. Pediram-me para escolher dez deles com base nas imagens e
detalhes que me apresentaram no telão.
Como a pesquisa histórica poderia ser realizada em qualquer lugar,
resolvemos desenvolvê-la nos locais de lazer, reservando uma parte do dia para
passeios e contatos com os freqüentadores. Nos deslocamentos de um local para
outro, iríamos realizar visitas a escolas, hospitais, áreas agrícolas e industriais. O
trabalho ficou pronto antes das onze horas da noite e na manhã seguinte seriam
definidas as datas e horários, marcadas as visitas e providenciadas as reservas
necessárias.

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Antes de Vércia ir trabalhar, definimos as datas e horários para cumprir a
programação em quinze dias. Gravamos os índices e os níveis dos documentários
em um cristal que, ao ser acionado por qualquer equipamento de áudio e vídeo,
selecionaria automaticamente o primeiro documentário ainda não assistido e
mostraria as imagens transmitidas pelos satélites da CIA. Enquanto fui com Syndi à
sua casa buscar algumas coisas que ela queria levar, Tentra providenciou as
reservas nos locais de lazer e Salino marcou as visitas programadas.

OS LEVANTAMENTOS COMPLEMENTARES

Passeio no Balneário da Ilha dos Colibris


Ainda de manhã, partimos com destino ao balneário da Ilha dos Colibris,
implantado em uma bonita ilha oval com uns dez quilômetros de comprimento e
seis de largura. Seu perímetro era constituído por praias lindíssimas e, em vários
pontos de suas encostas havia cachoeiras de águas quentes e riachos que
desaguavam nas praias, alimentados pela vazão de um grande lago existente no
platô superior. Ao norte da ilha destacava-se um morro com uns três quilômetros de
base e uns oitocentos metros de altura. Tinha forma cônica quase perfeita e o
vértice aplainado, formando uma grande área plana, onde existia um restaurante
panorâmico e um mirante como o de Agartha.
O lago também tinha o formato oval, uma largura de três quilômetros e
um comprimento superior a cinco. Nele havia oito ilhas de diversos tamanhos, todas
com praias enfeitadas com coqueiros e outros tipos de vegetação. Suas águas
eram quentes e transparentes, com uma profundidade máxima de 16 metros. O
fundo era arenoso com várias formações rochosas, de onde brotavam as fortes
nascentes de origem vulcânica.
O balneário apresentava uma vegetação exuberante, formada por
árvores e flores de vários tipos, onde viviam muitos pássaros e, como o nome do
local indicava, uma grande quantidade e variedade de colibris de várias cores e
tamanhos. Também havia milhares de chalés localizados nas encostas da ilha, em
volta do lago e em algumas ilhas. O nosso localizava-se no meio do caminho entre
as praias marítimas e o platô superior, ao lado de uma cachoeira com piscina
natural.
Assim que descarregamos as bagagens fomos relaxar na cachoeira.
Almoçamos no restaurante do mirante, de onde apreciamos a maravilhosa vista do
balneário. Mais tarde, Tentra e Salino nos deixaram no chalé e foram passear.
Durante mais de três horas assistimos aos documentários sobre o período anterior
ao governo de Olintho, como chegou ao poder, o saneamento que fez em seu país
e suas primeiras realizações, quando começou a ser querido pelo seu povo e
respeitado no exterior.
Como sempre iria acontecer ao final de cada sessão, o equipamento
informou a quantidade, os tipos e o tempo dos documentários assistidos, bem
como, o tempo total decorrido e aquele que faltava para concluir a programação.
Quando terminamos, Salino e Tentra nos aguardavam para um passeio no lago do
platô superior, quando conhecemos alguns de seus recantos e conversamos com
vários freqüentadores, constituídos, em sua maioria, por jovens casais em férias
nupciais.
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Retornamos ao chalé no início da noite e fomos tomar uma ducha na
cachoeira. Após o jantar, Salino e Tentra saíram com uns amigos e nós pegamos o
Canarinho para sobrevoar a ilha. O lago tinha a mesma iluminação que existia no
Balneário da Baía dos Coqueiros e a visão do seu fundo era maravilhosa.
Pousamos no mirante e conversamos com vários casais até perto das dez horas,
quando fomos dormir.
Passamos a parte da manhã em uma praia marítima, onde aproveitei
para conversar com os freqüentadores e sentir o seu grau de satisfação em relação
à vida planetária. Como nos demais locais de lazer, lá era possível conhecer
pessoas das mais variadas profissões, oriundas de todos os continentes. Conheci
algumas que viveram na Terra em diferentes épocas e uma delas era um grande
compositor clássico que, como as demais que encontrei, pediu para não revelar seu
nome.
Almoçamos, descansamos um pouco e decidimos esticar a pesquisa
histórica até o início da noite. As duas primeira horas completaram o ciclo de três
anos do governo de Olintho antes da grande transição e forneceu uma visão geral
do trabalho que realizou. Ele promoveu uma abrangente reforma agrária,
desconcentrou os centros urbanos e transformou seu país no maior exportador de
alimentos, tornando-se um líder planetário.
As três horas seguintes mostraram os cataclismos que assolaram o
planeta e forneceram uma visão detalhada das primeiras horas e dias daquele
grande acontecimento que modificou o cenário natural e o modo de pensar e de
agir dos sobreviventes. Dentre as imagens impressionantes, destacava-se o
eficiente trabalho realizado por milhões de seres espaciais e suas maravilhosas
naves. Sem eles e sua avançada tecnologia, a quantidade de sobreviventes teria
sido drasticamente reduzida pela ação dos quatro elementos da natureza e pelo
clima inóspito dos primeiros dias.
Depois do jantar, fomos assistir a uma palestra de Arcthuro sobre a
evolução do pensamento religioso. Mesmo tendo chegado com bastante
antecedência, o local, um grande auditório para mais de 20 mil pessoas, estava
quase lotado. Naquela noite ficou bastante claro que ele era um líder político e
religioso e que, para os arretianos, essas duas coisas que não se complementam
na Terra, eram as duas faces da mesma moeda.
Ele começou com um retrospecto do período anterior à grande transição,
cujo enfoque era semelhantes ao da atualidade terrestre. Depois, falou sobre as
mudanças ocorridas após aquele grande acontecimento, quando os arretianos
deixaram de dar valor a liturgias e começaram a amar o próximo como a si
mesmos, aceitando os princípios da irmandade espiritual e da Paternidade Divina. A
parte final foi dedicada à atualidade e Arcthuro não falou sobre uma religião
específica. Discorreu sobre religiosidade, tendo o respeito à Lei divina, o trabalho
comunitário e a irmandade planetária como base fundamental.

Visita a uma escola de primeiro grau


De manhã, arrumamos as bagagens e fomos visitar uma escola
semelhante àquelas visitadas superficialmente durante o segundo dia em Arret.
Destinada a crianças de 7 a 14 anos, podia ser freqüentada por pessoas de
qualquer idade. Era uma escola de informação onde ministravam cursos de curta
duração e bastante variados, envolvendo desde a teoria musical até a jardinagem.
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Seus cursos não tinham freqüência obrigatória e não forneciam certificados de
conclusão.
As salas de aula eram amplas e formavam um conjunto com várias salas
menores em sua volta, todas muito bem decoradas e envidraçadas. Cada conjunto
ficava distanciado do outro, espalhados em uma grande área arborizada e florida. A
escola mais parecia uma colônia de veraneio, pois contava com piscinas, salões de
jogos e outros equipamentos de lazer.
O método de ensino da parte teórica era muito interessante e válido para
vários cursos. Em cada aula, os professores apresentavam um assunto e
projetavam vídeos com diferentes visões sobre o tema. Em seguida, coordenavam
uma discussão entre os alunos, muito participativa e divertida. Depois, eles eram
divididos em grupos e se dirigiam às salas menores, onde discutiam, chegavam a
um consenso e voltavam à principal. Lá apresentavam suas conclusões aos demais
e podiam chegar a um consenso geral ou continuar com suas premissas iniciais.
Mais importante que a matéria era a participação, a interação social, o
respeito ao livre arbítrio e a ausência de competitividade. Dessa forma, reaprendiam
a viver em sociedade e a respeitar e aceitar opiniões divergentes, sem que isso
interferisse no relacionamento cordial e amoroso de uns com os outros, além de
obterem informações sobre assuntos de utilidade para o dia-a-dia e o futuro de
cada um. A parte prática seguia outros padrões, variando conforme o tipo de curso
ou matéria.
Conversamos com muitos alunos, incluindo alguns que não estavam
assistindo às aulas e se divertiam nos equipamentos de lazer. Ali estavam por dois
motivos básicos: ou já conheciam o assunto ou não se interessavam por ele. Assim
falavam com convicção e não eram repreendidos pelos pais ou professores, mesmo
que passassem o dia todo na escola sem assistir a uma única aula, pois o respeito
ao livre arbítrio era o ponto central. Segundo a visão arretiana da educação,
estavam cultivando melhores relações humanas e esse era o enfoque principal do
aprendizado naquela fase.

Passeio no Parque das Águas


No final da manhã fomos conhecer outro parque de preservação
ambiental. Era um santuário ecológico com lagos, rios e cachoeiras, onde viviam
muitas espécies de pássaros e pequenos animais. O local era batizado como
Parque das Águas, tinha uma área aproximada de 60 mil quilômetros quadrados,
uma cidade central e uns 100 núcleos menores, todos protegidos por campos de
forças. Diferente daquele visitado anteriormente, sua flora estava completamente
reconstituída e ele já integrava o sistema de lazer arretiano.
Nosso destino era um dos núcleos situados às margens de um grande
lago e nosso chalé estava localizado entre duas cachoeiras com lindas piscinas.
Depois que nos acomodamos, fomos tomar banho na maior delas, onde
conversamos com muitas pessoas. Depois do almoço iniciamos o programa que
incluía uma caminhada pela floresta, atividades de lazer no lago e conversas com
freqüentadores.
No final da tarde, Syndi e eu retornamos ao chalé para assistir à primeira
parte de uma longa sessão de documentários sobre o período de apoio aos
sobreviventes, que ainda iria consumir mais alguns dias. Fomos dormir após as dez
horas e interrompemos apenas para jantar com Tentra e Salino. Os documentários
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enfocavam os seis primeiros meses que modificaram o modo de vida dos
sobreviventes e marcaram definitivamente a trajetória de Olintho como líder
planetário.
Seu país foi o primeiro a se reestruturar e seu exemplo foi seguido por
quase todos os demais. Porém, o maior destaque coube aos seres espaciais, desde
os trabalhos solitários que realizaram para limpar os escombros e recolher uma
infinidade de materiais e sucatas, até o apoio irrestrito que prestaram aos
sobreviventes em todas as frentes de trabalho voltadas para a construção de
moradias e auto-suficiência alimentar. Olintho era um tipo de embaixador deles
junto a alguns povos que ainda se mostravam arredios aos “amigos das estrelas”, o
nome carinhoso que a maioria dos arretianos davam aos espaciais.

Visita a uma escola de segundo grau


Após a refeição e o costumeiro bate-papo, fomos visitar uma escola que
ministrava cursos de graduação nas áreas de engenharia ambiental, florestal e
agronômica, voltada para jovens com mais de 14 anos e adultos de qualquer idade.
Localizada em uma grande área na divisa sul do Parque das Águas, permitia aulas
práticas e pesquisas de campo. Apesar de ter um currículo padrão, o aluno podia
deixar de freqüentar qualquer matéria que já conhecesse ou que não fosse útil para
o seu trabalho futuro.
O método de ensino teórico era semelhante ao da escola de primeiro
grau, com maior ênfase nas discussões e consenso grupal. Também enfatizavam a
importância do relacionamento harmonioso, o respeito às opiniões alheias e a
ausência de competitividade. As aulas práticas reproduziam fielmente a realidade
do trabalho que iriam desenvolver e se assemelhavam a algumas ministradas em
cursos equivalentes, nas boas faculdades do nosso país. Vale destacar que todos
os arretianos com mais de 18 anos já haviam concluído os estudos de segundo
grau e a maioria começava a trabalhar nessa idade. Os demais continuavam
estudando e ingressavam em cursos de terceiro grau, a fim de obter uma
especialização adequada ao trabalho que iriam realizar.
Voltamos ao Parque das Águas e repetimos a mesma programação do
dia anterior, alterando os roteiros. Retomamos os documentários sobre o apoio aos
sobreviventes, desta vez, enfocando o período entre seis meses e três anos. Logo
no início, o país de Olintho transformou-se no maior produtor e doador de alimentos
do planeta. No segundo ano foram iniciados, ainda de maneira acanhada, os
movimentos para unificação de alguns países e surgiram também as primeiras
iniciativas para ensino de uma língua única, semelhante ao Esperanto, pois não era
um idioma oficial em nenhum país.

Passeio no Balneário das Ilhas Emendadas


Novamente estávamos em uma manhã de sábado e, após a refeição,
partimos para o Balneário das Ilhas Emendadas, um arquipélago formado por uma
grande ilha central e outras sete em sua volta, formando um círculo com uns seis
quilômetros de diâmetro. Todos as ilhas eram quase planas e tinham praias em sua
volta. As menores eram unidas por um cordão de rochas e terras, com várias praias
nos dois lados. O local era bem arborizado e, visto do alto, lembrava a cratera de
um vulcão.

93
A programação do fim-de-semana previa os dias livres para atividades
de lazer e as noites para a pesquisa histórica. Nosso chalé ficava próximo a uma
das praias da ilha central, em um local bastante arborizado. Quando estacionamos
o Canarinho, além de Vércia, que já era esperada, encontramos os demais amigos
da SOL-4.
Conversamos sobre as novidades da semana, demos muitas risadas e
depois fomos para o mar com os veículos aquáticos. Meus amigos me levaram a
diversos pontos, em visitas rápidas, para que eu pudesse ter uma visão geral e
escolhesse os locais que iríamos explorar detalhadamente até o dia seguinte.
Saboreamos um almoço preparado por Tali, Sathya e Tentra, conversamos mais
um pouco e saímos para o passeio da tarde.
Lá pelas cinco horas, Syndi, Vércia e eu retornamos ao chalé para
reiniciar a pesquisa histórica. Os documentários referiam-se aos trabalhos de apoio
aos sobreviventes no período de três a dez anos, quando estava quase concluído o
processo de montagem da estrutura industrial básica para auto-suficiência do
planeta, com o irrestrito apoio dos espaciais. Sem eles, suas naves e sua
tecnologia, o processo teria demorado dezenas de anos para atingir o estágio em
que se encontravam.
Em dois dos continentes equatoriais houve unificação dos países,
inclusive do novo idioma. O primeiro foi aquele onde se localizava o país de Olintho,
eleito seu governante. Esse foi o embrião do governo planetário e, não fosse sua
morte no décimo ano, o processo teria se acelerado. Ele foi substituído por
Nunzain, um homem de grande sabedoria e liderança, que deu continuidade ao seu
trabalho com grande empenho e retidão.
O domingo foi muito relaxante e visitamos vários recantos daquele
belíssimo balneário, além de conversamos bastante com os freqüentadores. Como
em outros lugares, procuravam me incentivar e todos encaravam minhas atividades
como sendo um trabalho “duro e cansativo”. Para mim, era o mais puro lazer e
divertimento, mesmo tendo que cumprir um programa com certa rigidez.
Jantamos em um restaurante da ilha central e depois Vércia e nossos
amigos retornaram para Agartha. Salino e Tentra saíram para aproveitar a bela
noite do balneário e nós voltamos ao chalé para retomar a pesquisa histórica.
Assistimos a menos de três horas de documentários sobre o apoio aos
sobreviventes, entre os anos 10 e 22.
Nunzain tornou-se um líder planetário, cujos exemplos de dignidade e
trabalho foram seguidos pelos demais países. Além dos dois continentes polares, já
eram quatro os continentes equatoriais unificados, restando apenas um, o mais
problemático desde o princípio. Nesse período, mais da metade da população já
falava e escrevia na nova língua e, nos continentes unificados, a produção
comunitária, agrícola ou industrial, era distribuída em função da composição familiar
e todos viviam em harmonia, com um bom nível de qualidade de vida.

Visita a uma escola de terceiro grau


Após o desjejum, colocamos as bagagens no Canarinho e fomos visitar
uma escola de especialização em eletrônica, denominada de terceiro grau. Com a
mesma técnica e qualidade de ensino que existia no CET, era freqüentada por
pessoas com idade superior a 17 anos e, conforme as matérias cursadas e as
necessidades de aprofundamento do aluno, o currículo podia ser coberto no
94
período de dois a quatro anos. Com isso, um arretiano entre 20 e 22 anos, estava
com sua formação escolar completa e preparado para realizar trabalhos altamente
especializados. Se fosse necessário, ainda podia realizar cursos mais avançados
em planetas que já detinham a tecnologia específica.
Mais de um terço da população havia freqüentado escolas de terceiro
grau e, desse total, metade concluía os cursos até os 22 anos e a outra, em
qualquer idade, quando fosse necessário. Como nas demais escolas, as matérias
do currículo padrão não requeriam freqüência obrigatória e tampouco faziam
avaliações ou emitiam certificados de conclusão. O método de ensino compreendia,
além das discussões e consenso grupal, aulas em sofisticados laboratórios com
avançados recursos tecnológicos, para grupos de três a sete alunos com professor
exclusivo.
Gastamos boa parte do tempo visitando salas de aula e laboratórios,
aproveitando para conversar com professores e alunos. Conheci muitos com mais
de 60 anos que cursavam determinadas matérias de interesse para o trabalho que
iriam desenvolver dali para frente e alguns freqüentavam a escola por apenas um
ou dois semestres.
Durante o tempo que lá permaneciam, entre seis meses e quatro anos,
eram dispensados do trabalho e continuavam com todos os direitos anteriores.
Essa iniciativa era altamente incentivada no planeta e era vista como um esforço
individual e uma oportunidade de progresso espiritual de grande utilidade para a
vida planetária. Com essa visita foi possível entender a filosofia do sistema
educacional, cujo grau de prioridade governamental era máximo.

Passeio em uma colônia de cúpulas múltiplas


No final da manhã rumamos para uma grande colônia localizada na
plataforma marítima de um dos continentes da zona equatorial, com águas mornas
e ricas em termos de fauna e flora. Salino estacionou o Canarinho na superfície do
mar e logo ele submergiu e começou a navegar como um submarino. Um "tubo de
ar" mantinha a água a um metro da sua carenagem e esse efeito era provocado
pelo escudo protetor do veículo, o qual podia ser regulado de zero a três metros.
Salino forneceu algumas explicações, fez umas três regulagens de
diâmetro do tubo e até abriu uma das portas do Canarinho. O tubo era
completamente transparente e elástico, pois os peixes que nele se chocavam eram
repelidos. Logo avistamos as nove cúpulas da colônia e Salino deu uma volta lenta
em seu perímetro para que eu tivesse uma visão panorâmica do local.
Durante a operação, forneceu detalhes sobre dimensões, características
e modo de funcionamento daquele impressionante centro de lazer. No final,
conduziu o veículo por um dos tubos inclinados que dava acesso à cúpula de
estacionamento e nela entrou. Logo chegou uma nave do tipo 6, da qual
desembarcaram diversos passageiros que portavam bagagens de mão e partiu com
outros que lá estavam.
A colônia era constituída por uma grande cúpula central interligada a
outras oito menores, dispostas em círculo, as quais também mantinham ligações
entre si. A maior tinha 432 metros de diâmetro, 36 de altura no ponto central e era
destinada a atividades coletivas, possuindo restaurantes, cinema, mercado e salões
de jogos, dentre outras comodidades. As outras tinham dimensões idênticas àquela
que conheci anteriormente e todas eram protegidas com o mesmo tipo de campo de
95
forças. Uma era destinada a estacionamento, terminal de transporte e almoxarifado
de equipamentos de lazer. As outras sete abrigavam dormitórios que podiam
acomodar mais de seis mil pessoas.
Nos oceanos, rios e grandes lagos, havia umas duas mil colônias iguais
àquela e outras três mil e quinhentas como a anterior. Logo que deixamos as
bagagens em nossos quartos fomos almoçar em um dos restaurantes e depois,
conhecemos alguns ambientes da cúpula maior, quando conversamos com vários
freqüentadores. Mais tarde, saímos para o mar com os maravilhosos veículos
aquáticos. O local tinha muitos bancos de corais, variada vegetação e uma
infinidade de peixes de inúmeros tipos, cores e tamanhos. No final da tarde,
deixamos Salino e Tentra com amigos e retomamos a pesquisa histórica.
Os documentários enceravam o ciclo de apoio aos sobreviventes e
abrangiam um período de 21 anos, indo até o ano 42. Compreendiam o final do
governo de Nunzain, que faleceu no ano 38, três anos após a unificação dos países
que formavam o continente mais problemático. No final daquele período havia uma
grande disposição para a criação do governo central e todo o planeta já falava e
escrevia em uma única língua. Também havia um ideal de igualdade e de
fraternidade entre os povos e, além da casa e do mobiliário, todos tinham direito à
alimentação, vestuário, educação e assistência médica.

O parto arretiano
Fui acordado por Salino, Tentra e Syndi cantando uma música do tipo
“parabéns a você”, pelos meus 30 dias de estada no planeta. Após a refeição,
rememoramos alguns dos principais acontecimentos desde a chegada à SOL-4 e
fomos visitar o hospital de uma cidade industrial do ramo alimentício. Eu estava
bastante curioso, pois, apesar de ter uma boa idéia de como acontecia, ainda não
tinha acompanhado um parto de dentro da piscina. Dois convidados poderiam
assisti-lo e Tentra pediu para Syndi me acompanhar.
As salas de parto tinham duas piscinas interligadas por um corredor e a
água era aquecida à temperatura do corpo. Uma delas era destinada a partos
normais e a outra, com uma mesa anatômica no centro, era utilizada para partos
com indução, ou para a mãe descansar após o parto normal, como era comum. O
ambiente era visível de uma ante-sala, de onde os parentes e amigos
acompanhavam aquele momento especial para os arretianos, semelhante à espera
pelo desembarque de um ente querido que estava ausente por vários anos.
Logo que chegamos, um dos médicos nos levou a uma dessas ante-
salas e, enquanto explicava o processo e como deveríamos nos comportar, um
outro médico entrou com uma futura mamãe, seu esposo, alguns familiares e
amigos. Assim que o jovem casal foi informado sobre o motivo da nossa visita, nos
reconheceram e nos convidaram para assistir ao parto. Essas situações eram
comuns em todos os lugares, em função dos noticiários transmitidos pela CIA.
Savona, a futura mamãe, tinha 25 anos e aquela era a sua primeira
maternidade. Ela disse que nasceria uma menina com cabelos castanhos como os
dela e olhos verdes, como os do pai, além de uma série de outros detalhes sobre a
estatura adulta e feições da filha, pois a avançada medicina arretiana tinha recursos
que embasavam todas as suas afirmações. A conversa foi interrompida pelo médico
que nos pediu para acompanhá-lo até uma sala contígua, onde tomaríamos o
banho anti-séptico e depois entraríamos na piscina.
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Tomamos o banho por último e, quando entramos na sala, o casal
estava mergulhado sob os olhares atentos do médico. Fora da piscina, um outro
médico monitorava Savona em uma mesa de controle, enquanto duas enfermeiras
aguardavam. Logo entramos na piscina com uma delas, pois o parto iria ocorrer em
minutos e sem necessidade de indução, como era mais comum. Assim que
reiniciamos a conversa, Savona começou a sentir contrações sem dor. Recebemos
um escafandro especial, mergulhamos e ficamos observando os cuidados e
carinhos que ela recebia do esposo, do médico e da enfermeira.
Quando ela sentiu uma contração mais forte, pois arregalou os olhos,
observamos a cabeça do bebê. Depois que o médico rompeu o cordão umbilical, a
criança começou a nadar com o pai. Savona se juntou a eles e, em seguida,
passaram para a outra piscina, onde mãe e filha se acomodaram na mesa
anatômica. Permaneceram ali por uns dez minutos, enquanto o médico e a
enfermeira prestavam alguns cuidados às duas.
Durante esse tempo conversamos com o casal e Savona afirmou que
não sentiu dores ou qualquer dificuldade durante o parto. Depois, colocaram mãe e
filha em uma cama flutuante e as levaram até a parede de vidro, para que os
parentes e amigos pudessem observar a criança e conversar com os pais através
de um sistema de comunicações. Alguns minutos depois, as duas foram levadas
para um local onde receberiam os cuidados finais e seriam instaladas em um amplo
apartamento, com todas as comodidades para o bebê, para o casal e para as
visitas.
Em seguida, as piscinas foram esvaziadas, desinfetadas e novamente
cheias, ficando prontas para um novo parto. No restante da manhã visitamos
apartamentos e conversamos com pais, parentes e amigos. O que ficou
evidenciado foi o carinho que dedicavam às mães, aos bebês, aos pais e aos
visitantes, gerando uma energia positiva que contagiava todos.
Voltamos à colônia e, depois do almoço, pegamos os veículos aquáticos
e saímos para um passeio sobre bancos de corais. Retornamos no final da tarde
para uma nova etapa de documentários que abrangiam um período de sete anos,
do 43 ao 49. No final do ano 48, os sete governos continentais e a quase totalidade
da população era favorável à criação do governo central. Nos meses seguintes, os
governantes e suas equipes começaram a se reunir para resolver os últimos
detalhes e definir os critérios para estruturação do novo organismo e escolha da
primeira equipe de dirigentes.
Chegaram rapidamente a um consenso e, na metade do ano 49, houve
uma grande reunião na ilha de Agartha. Como ainda não havia televisão, os
espaciais forneceram o suporte tecnológico, instalaram telões em praças públicas e
o acontecimento foi transmitido para todo o planeta. Depois de emocionados
discursos dos governantes continentais, realizaram uma rápida votação e, quando o
comandante da frota de apoio divulgou os resultados, todos aplaudiram, se
abraçaram e se emocionaram. Essa mesma reação ocorreu nos demais recantos
do planeta e a onda de harmonia, de entendimento e de amor que tomou conta de
todos ocasionou um grande fenômeno.
Ahelohim, o Messias arretiano, se materializou no grande centro de
convenções e transmitiu muitas informações sobre as dádivas que o Pai Celestial
iria distribuir aos seus filhos a partir daquele dia. Também informou que os futuros
governantes seriam por Ele indicados para cumprir a mesma difícil missão que
97
esperava os recém eleitos. A aparição e as palavras de Ahelohim provocaram
tamanho entusiasmo e confiança na população, que tudo foi facilitado. Muitos
problemas potenciais foram facilmente superados e outros nem ocorreram. O
primeiro governante foi Thauro, o mesmo que substituiu Nunzain.

Visita ao Centro de Reabilitação de Campos Verdes


Após a refeição matinal, arrumamos as malas e saímos com destino ao
Centro de Reabilitação de Campos Verdes. Como o hospital de Agartha, era um
dos 20 maiores do planeta e um dos mais procurados para tratamentos
regenerativos, desde a substituição de uma unha até do próprio corpo físico. Esses
tratamentos eram motivados por acidentes em atividades de lazer ou domésticas e
80 por cento deles ocorria antes dos 21 anos. Os acidentes de trabalho ou de
trânsito eram tão raros em todo o planeta, que os arretianos se lembravam
facilmente deles.
Se alguém danificava a mão, clonavam uma nova a partir do seu DNA e
realizavam o implante com avançadas técnicas de microcirurgia, sem deixar o
menor vestígio. Conforme já foi relatado, os casos mais raros ocorriam quando o
corpo sofria danos extensos que impediam o espírito de continuar o seu trabalho.
Nesses casos, criavam um corpo com a idade e características do original, para o
qual transferiam o espírito do paciente e desintegravam o anterior. Um ponto digno
de nota era o grau de satisfação dos internos. Todos se sentiam como se
estivessem em suas casas e não em um hospital. Após a visita, fomos a um
supermercado nos abastecer e rumamos para um outro interessante local de lazer.

Passeio no Retiro da Serra Dourada


Localizado em uma planície sobre uma serra de encostas íngremes,
tinha uma largura média de 8 quilômetros e uns 140 de comprimento. A planície era
coberta por um tipo de cipreste, cuja cor amarelada dava nome àquele local. Em um
dos lados, a serra acompanhava a orla marítima e do outro, tinha vistas para um
grande vale com algumas cidades agrícolas.
O Retiro da Serra Dourada era um local para recolhimento e descanso e
não contava com supermercados, restaurantes e outras facilidades comuns em
outros centros de lazer. Lá havia mais de 100 mil chalés bastante distanciados uns
dos outros e o nosso ficava no lado oeste, com vistas para o grande vale. Tentra e
Salino tinham uma especial predileção por aquele lugar, onde sempre passavam
alguns dias dos seus períodos de férias.
Após o almoço fizemos uma longa caminhada pelo bosque e depois
voltamos para continuar a pesquisa, deixando Tentra e Salino livres. No final da
tarde eles nos interromperam para observar o “pôr-do-sol” e o espetáculo de cores
que ele sempre gerava. Jantamos mais cedo, conversamos um pouco e retomamos
a pesquisa por mais umas três horas.
Os documentários abrangiam o início do ano 50 até meados do ano 96.
Nos primeiros vinte anos, todos os esforços foram voltados para a consolidação do
governo planetário e para a racionalização dos meios de produção. Nesse período,
o restante das pessoas adultas que sobreviveram à grande transição retornaram ao
plano espiritual e aquelas que não conseguiram assimilar os princípios da
irmandade planetária, foram transferidas para mundos mais afinados com suas
idéias e ideais.
98
A partir do ano 70, com a limpeza da aura espiritual do planeta e o
amadurecimento da nova geração, a população começou a vivenciar plenamente o
princípio do "ama ao próximo como a si mesmo", desencadeando uma nova era de
grandes progressos, tanto a nível moral, como científico. Os espaciais, apesar de
todo o suporte que forneciam, ainda não tinham liberado ou transferido nenhuma
tecnologia mais avançada.
Naquele período, começaram a treinar a população e montaram as
primeiras fábricas de naves e de outros bens de alta tecnologia. Vale ressaltar que
as máquinas e equipamentos básicos dessas fábricas vieram de seus planetas de
origem e, como tudo que tinham trazido e distribuído desde os dias da grande
transição, também foram doadas aos arretianos.
Em paralelo, o governo central começou a planejar e a construir cidades
com novos padrões e parques urbanos. Muitos balneários foram estruturados nesse
período para serem utilizados nos fins de semana e nas férias anuais, que já eram
um direito de todos. Thauro faleceu pouco antes da metade do ano 96 e foi
substituído por Hórhium, um ser muito especial e reconhecido pelos habitantes
como o próximo governante do planeta, conforme Ahelohim havia informado.

Novas visitas a áreas agrícolas


Os habitantes das cidades avistadas do nosso chalé se dedicavam ao
cultivo de frutas de inúmeras espécies e variedades. Após a refeição matinal fomos
conhecer três delas, onde acompanhamos diversos trabalhos que realizavam.
Apesar de semelhantes àqueles levantados anteriormente, a visita foi muito útil,
pois serviu para observar inúmeros detalhes e também para conversar bastante
com outros “trabalhadores rurais”.
Almoçamos no último local visitado e depois fomos conhecer um atrativo
singular, a Cachoeira da Fumaça da Serra Dourada. Com um grande volume
d’água e uma queda livre de uns trezentos metros, formava um grande lago com
praias em sua volta. Em razão da altura, a água caía quase vaporizada e, além da
névoa encobrir uma parte do lago, apresentava um lindo arco-íris no período da
tarde.
Depois das três horas, pegamos carona com um casal e fomos para o
chalé, deixando Salino e Tentra com alguns amigos. Até perto das dez e meia da
noite, com intervalo para jantar com Tentra e Salino, assistimos a quase seis horas
de documentários. Eles completaram o ciclo de consolidação do governo unificado
e também apresentaram um resumo dos principais acontecimentos ocorridos até o
governo de Arcthuro. Os mais detalhados, com duração superior a uma hora, eram
referentes aos primeiros 30 anos do governo de Hórhium.
Eles foram destinados à sistematização da produção em novos padrões
tecnológicos e objetivaram elevar a quantidade de bens gratuitos. Também
construíram muitos centros de lazer, pois a carga de trabalho foi reduzida para oito
horas diárias e as férias ampliadas para dois meses. Hórhium viveu 122 anos e
governou durante quase 81. Outros fatos marcantes de seu governo foram o
desenvolvimento telepático, a abertura da visão espiritual, da memória de vidas
passadas e a mudança de hábitos sexuais.
Hórhium era um ser de grande elevação espiritual e tido pelos arretianos
como uma nova manifestação de Olintho. A partir do ano 100, ele consolidou em
um pequeno livro, chamado “A Lei de Deus”, o conjunto de normas que deveriam
99
reger o comportamento social do povo, unificando a função política com a espiritual.
Nos anos e séculos seguintes, ocorreram muitas transformações, de maneira
gradual e segura.
Até o ano 300, a população morava em cidades semelhantes às atuais e
as casas contavam com um mobiliário que incluía os conservadores de alimentos.
O transporte de passageiros e de cargas era comunitário e já havia cabines de
teletransporte nas edificações públicas, locais de trabalho e nas quadras
residenciais. O vestuário e demais itens tinham um padrão próximo do atual e o
horário de trabalho era de oito horas, com férias anuais de três meses. Todos
viviam com saúde até os 150 anos e eram conscientes do momento de retorno ao
plano espiritual. O relacionamento amoroso era praticado nos mesmos moldes da
atualidade, incluindo o entrelaçamento energético.
Do ano 301 ao 400, todas as residências tinham cabines e teletransporte
e as férias anuais chegaram a quatro meses, mantendo-se o horário diário de oito
horas. Naquele século, os arretianos intensificaram os trabalhos para recuperar e
reflorestar as áreas degradadas, especialmente aquelas onde se localizavam as
grandes cidades do passado.
Até o ano 500 havia veículos individuais para todos os interessados e já
transitavam pela nossa região galáctica em grandes naves construídas e operadas
por eles, iniciando a fase de apoio a outros povos e integrando o comando galáctico
em igualdade de condições com os espaciais que os socorreram no passado. O
desenvolvimento tecnológico era semelhante ao da sua atualidade, diferindo
apenas nos detalhes e níveis de aperfeiçoamentos. As pessoas viviam com saúde e
trabalhavam até os 180 anos com vigor juvenil.
Os 100 anos seguintes transcorreram sem novidades, a não ser no
incremento das atividades de lazer no planeta e fora dele. Todos tinham direitos a
seis meses de férias anuais, mas o trabalho diário continuava sendo de oito horas.
A maioria das áreas degradadas estavam recuperadas e os vestígios das grandes
cidades do passado tinham desaparecido.
Entre os anos 601 e 722, o trabalho foi direcionado para uma nova
racionalização da produção, simplificação geral e aperfeiçoamento de um grande
conjunto de itens, especialmente os eletrônicos. Arcthuro assumiu o governo no ano
642 e, como os demais governantes, deu continuidade ao trabalho iniciado pelo
antecessor. Ele transformou a vida arretiana no padrão que eu estava conhecendo
e reduziu a carga de trabalho para seis horas diárias. Os documentários
transmitiram uma visão geral das suas principais realizações, permitindo entender
os motivos do respeito e do amor que os arretianos tinham por ele.

Passeio em uma estação orbital


Após a refeição da manhã, arrumamos as bagagens, deixamos o chalé
em ordem e partimos para conhecer uma área de produção de verduras e legumes.
Como a visita do dia anterior, serviu para conversar bastante com o pessoal e para
fixar vários conceitos sobre as atividades agrícolas desenvolvidas no planeta.
Almoçamos no local e depois nos dirigimos para o Terminal de Transportes Internos
de Agartha, onde estacionamos o Canarinho e embarcamos em uma nave do tipo 6
com destino à Estação Orbital Equador 5.
Quando avistamos a estação, a nave reduziu a velocidade e fez a
aproximação em espiral. Salino explicou que adotavam aquele procedimento
100
sempre que alguém realizava a viagem pela primeira vez, para que pudesse ter
uma visão panorâmica daquele centro de lazer. Essa era mais uma das inúmeras
coisas extraordinárias que existiam em Arret. A Equador 5 era uma das doze
estações em órbita e seu formato era idêntico ao da última colônia marítima que
visitamos.
Possuía uma cúpula central e oito menores, todas interligadas entre si,
com a mesma planta e comodidades básicas. A diferença estava na altura das
cúpulas, equivalente à metade e na curvatura menos acentuada, além de
apresentar uma atmosfera e uma gravidade própria, como a da SOL-4. O teto dos
quartos era opaco e podia ser regulado até ficar completamente translúcido,
permitindo observar o firmamento, confortavelmente deitado ou recostado na cama.
Aquela estação era destinada a atividades de lazer e não existia
possibilidade de passeio externo. Havia mais oito com a mesma finalidade e outras
três que funcionavam como escola de astronomia, engenharia, ciências espaciais e
observatório estelar, com equipamentos de ensino e pesquisa muito sofisticados.
As doze estações também eram satélites de comunicação da CIA.
Passamos parte da tarde conhecendo as particularidades daquele
impressionante local, aproveitando para conversar com seus freqüentadores e
funcionários. Depois, fomos para o nosso quarto e iniciamos a pesquisa sobre a
estrutura atual do governo central. Interrompemos para jantar e para observar o
firmamento, cuja visão das três luas e da infinidade de estrelas era privilegiada,
impressionante e indescritível.
Syndi, como a maioria dos arretianos, tinha um excelente conhecimento
de astronomia e identificou algumas constelações que eu conhecia em nosso
planeta. Vistas de onde estávamos, apresentavam formatos ligeira ou
completamente diferentes, além de um número maior de estrelas. Começamos
fazendo observações a olho nu e depois, com óculos especiais, cujo efeito de
aproximação era equivalente a possantes binóculos.
Meus conhecimentos profissionais ajudaram a entender os
documentários e a estrutura organizacional do governo central. Resumidamente, o
Presidente dirigia o planeta através das áreas de ação de doze ministérios:
Agricultura, Comunicações, Educação, Habitação, Indústria, Lazer, Meio Ambiente,
Pesquisa, Relações Exteriores, Saúde, Transportes e Distribuição, além do
Urbanismo e Planejamento Urbano.
Havia grandes variações de recursos humanos e materiais alocados em
cada um deles e, ao contrário do padrão terrestre, a quantidade de pessoas
envolvidas em atividades administrativas de qualquer tipo, era bem menor que
aquelas que se dedicavam às atividades produtivas, a nível agrícola, industrial ou
de serviços. Com algumas exceções e particularidades, quase todos os ministérios
contavam com uma coordenadoria em cada continente e diversas coordenações
regionais em cada um deles. Muitos também contavam com coordenações locais
em cada cidade ou núcleo populacional.
Lá, as relações hierárquicas eram diferentes do padrão terrestre, pois o
conceito de chefia era semelhante a uma liderança natural ou situacional, sem
linhas de hierarquia, controles ou avaliações de resultados individuais ou coletivos.
O coordenador era um consultor respeitado pela sua experiência técnica e
capacidade administrativa. Sua principal função era interpretar os objetivos e metas,

101
detalhá-los e transformá-los em programas de ação grupal ou individual. Eram
conselheiros e facilitadores, não controladores.

Passeio no Balneário dos Corais


Deixamos a estação orbital e retornamos a Agartha após a refeição da
manhã. Pegamos o Canarinho e logo estávamos sobrevoando o belíssimo
Balneário dos Corais, parecido com o local chamado de Coroa Vermelha, na região
de Porto Seguro. Seus dez quilômetros de praias e recôncavos eram protegidos por
uma barreira de corais que sobressaia até com a maré cheia, formando uma
imensa piscina entre ela e a praia, com até 1 km de largura, onde havia pequenas
ilhas cobertas por coqueirais e outras espécies de plantas. Nosso chalé ficava
próximo à praia e de uma das ilhas.
Quando pousamos e avistei Vércia com os demais amigos da SOL-4,
lembrei que já era sábado. Depois dos abraços e beijos costumeiros, Antak
informou que a reunião com Arcthuro estava confirmada para a quinta-feira
seguinte, às oito horas da manhã, com todos os ministros e ministras. Seria uma
reunião informal para orientações e despedidas, pois minha partida estava marcada
para o sábado, às 18 horas.
Apesar de não ser surpresa, o comunicado provocou um turbilhão em
minha mente, pois comecei a sentir saudades de Arret e da Terra. Eles respeitaram
meu silêncio e, quando voltei a conversar, Salino se encarregou de fazer o
ambiente voltar ao normal. Depois, descarregamos nossas bagagens, pegamos
veículos aquáticos e iniciamos o passeio explorando uma faixa entre a praia e uma
ilha localizada a uns duzentos metros dali. Após o almoço e um animado bate-papo,
resolvemos utilizar o restante da tarde para concluir a pesquisa sobre a estrutura do
governo central, reservando a noite para ficar com eles. Vércia se juntou a nós e os
demais foram passear.
Os documentários mostraram o andamento de alguns projetos pela
estrutura governamental. Seguimos os passos para a construção de uma cidade
para 12 mil habitantes e, para dar uma idéia da agilidade da estrutura arretiana, a
cidade começou a ser habitada no final do décimo primeiro mês. Além da rapidez,
tudo funcionou conforme o padrão constatado durante as visitas realizadas e Vércia
resumiu a causa da harmonia e agilidade da construção: “todos os envolvidos,
desde os que tomaram a decisão inicial, até o jardineiro que plantou a última flor,
trabalharam com amor e deram o máximo de si, pensando em propiciar aos novos
moradores a melhor qualidade de vida possível e que fossem tão felizes quanto
eles eram”.
No início da noite nos juntamos aos demais e fomos a um restaurante
construído sobre um cordão de rochas que avançava uns 50 metros mar adentro,
dando a impressão que ficava suspenso sobre a água. Depois do jantar, apreciando
as praias e o brilho que as luas produziam nas águas calmas, conversamos sobre a
viagem de volta à Terra e sobre os levantamentos daquela semana. Depois,
voltamos para o chalé e continuamos a conversa até perto das onze horas, quando
fomos dormir.
Depois da refeição matinal, todos vieram para o nosso chalé e ficamos
conversando na varanda, pois o dia amanheceu com uma chuva leve. Vércia nos
provocou para um banho e aceitamos o desafio. Molhamos, sujamos as roupas e
brincamos como crianças felizes. Depois, tomamos banho, colocamos trajes
102
apropriados e saímos para o mar com os veículos aquáticos. Exploramos uma parte
do cinturão de corais e após o almoço voltamos a nos divertir em outros recantos do
balneário.
Retornamos a Agartha no final da tarde e Syndi disse que seus pais me
convidaram para jantar com eles e dormir em sua casa, pois iriam viajar no dia
seguinte. Ashton e Mani nos aguardavam com muitas saudades e falaram bastante
sobre os trabalhos que estavam desenvolvendo no outro planeta. Depois do jantar
conversamos sobre os nossos levantamentos e fiz, com a ajuda de Syndi, um relato
completo sobre as visitas e passeios realizados nos dias anteriores.
Conversamos sobre a pesquisa histórica, especialmente, a respeito do
período de implantação e consolidação do governo unificado. Ashton e Mani
forneceram novas informações e detalhes interessantes, pois participaram
ativamente daquele período e estavam presentes no centro de convenções de
Agartha no dia da eleição do primeiro governante. Tinham lembranças nítidas da
materialização de Ahelohim e de todo o ciclo anterior e posterior àquele
acontecimento, o que muito enriqueceu a nossa conversa.

Visita a uma indústria de utensílios domésticos


Quando acordamos eles já haviam saído e deixaram uma mensagem
curta e significativa no telão. Diziam que nos amavam e que estariam de volta no
sábado para as despedidas. Fomos para a casa de Tentra e, após a refeição,
saímos com destino a uma cidade industrial voltada para a produção de utensílios e
utilidades domésticas. O objetivo da visita não era conhecer os produtos e sim o
comportamento e o comprometimento das pessoas com o processo produtivo.
Mais uma vez fiquei encantado com a harmonia e alegria dos
trabalhadores, muito diferente do ambiente das nossas fábricas. Como acontecia
nos locais de atividades agrícolas ou industriais, grande parte dos jovens casais
não retornava às suas casas no horário de almoço. Preferiam o lazer e a refeição
conjunta com os colegas de trabalho, os quais eram os seus maiores amigos.
Almoçamos no local e depois partimos com destino a uma das seis colônias
marítimas da Ilha dos Golfinhos.

Passeio na Colônia Marítima da Ilha dos Golfinhos


Como da outra vez, o Canarinho mergulhou suavemente e alguns
golfinhos passaram a nos acompanhar. Navegamos lentamente para melhor
apreciar nossos alegres companheiros até a entrada do túnel de acesso à cúpula
de estacionamento. A colônia era igual à última que visitamos e, depois de
acomodar as bagagens, pegamos dois veículos aquáticos para explorar o local e
brincar com os golfinhos e seus filhotes. Eu estava começando a me comunicar
com eles, o que era um fato corriqueiro para os meus amigos. No final da tarde
retornamos à colônia para a fase final da pesquisa que pretendíamos concluir no
dia seguinte.
Assistimos a uma seqüência de documentários sobre o comportamento
religioso, desde os 50 anos anteriores à grande transição, quando lá existia cinco
correntes religiosas principais. Uma delas era semelhante ao Cristianismo, pois
surgiu após a última passagem de Ahelohim e tinha três vertentes básicas, uma
muito ramificada, a exemplo dos nossos evangélicos. Suas inúmeras denominações
e templos aumentavam à medida que a grande transição se aproximava e, nos
103
cinco a dez anos anteriores, o comportamento religioso era semelhante ao da Terra
de hoje, com um nível de fanatismo maior que envolvia, em diferentes graus, a
quase totalidade dos países.
A Providência Divina não deixou nenhuma igreja em condições de ser
freqüentada após os dias da prestação de contas ao Criador. Nos primeiros dias e
meses, em função das preocupações com a sobrevivência, as diferenças religiosas
passaram para um segundo plano e os espaciais contribuíram bastante para a
rápida mudança de mentalidade. Sempre que eram solicitados para expor suas
idéias religiosas, eles o faziam com grande autoridade moral decorrente do exemplo
e do irrestrito apoio que prestavam à população do planeta.
As reuniões eram realizadas ao ar livre e de maneira ecumênica,
iniciando a unificação do pensamento religioso em torno de Ahelohim e da sua
filosofia original, centrada na paternidade de Deus e na irmandade dos homens e
mulheres de todas as raças, credos e crenças. Em pouco tempo, a maioria dos
sobreviventes não mais defendia suas antigas convicções baseadas em querelas e
detalhes separatistas. A mudança aconteceu tão rapidamente que, em menos de
três anos, o conceito de "um só rebanho e um só pastor" estava firmemente
gravado na mente popular.
As igrejas não foram mais construídas e com o passar dos anos
ocorreram pequenas mudanças no pensamento religioso, relacionadas com a
maneira de praticar a irmandade planetária e de sentir a paternidade divina. A partir
do ano 100, quando Hórhium aprimorou e simplificou as leis que regeriam o
comportamento do povo arretiano e as consolidou em um pequeno livro chamado A
Lei de Deus, o pensamento religioso se estabilizou, mantendo-se quase inalterado
até os dias atuais.

Nova visita a uma indústria de alimentos


Arrumamos novamente as malas e fomos visitar uma cidade industrial
que produzia alimentos não-sintéticos, como compotas de frutas, sucos em pó e
outros alimentos pré-cozidos de preparo rápido, cujas linhas de montagem
requeriam baixa interferência humana. Como em outras fábricas do mesmo tipo, o
expediente era superior a oito horas, em razão do apoio alimentar que Arret estava
prestando a um planeta que acabara de passar por sua grande transição. Apesar
de estarem cumprindo um horário bem superior ao padrão, os "operários"
trabalhavam com redobrada alegria e prazer.
Diziam que estavam retribuindo aquilo que receberam no passado,
quando também atravessaram um período de grandes dificuldades e foram
socorridos. Mesmo sendo um procedimento automático do governo central,
ninguém dava importância ao fato de “ganhar” horas extras para aquisição de vários
bens. Muitos tinham créditos suficientes para requisitar dois veículos como o
Canarinho e outros bens que alguns ainda não possuíam. Almoçamos no local e
partimos para o nosso próximo destino.

Passeio no Parque da Floresta Tropical


Logo começamos a sobrevoar o Parque de Preservação da Floresta
Tropical. Salino elevou o Canarinho acima de 20 mil metros e iniciou uma trajetória
espiralada em direção ao centro, a uma velocidade próxima de 30 mil quilômetros.
Demoramos cerca de uma hora para aterrissar e observamos apenas uma parte da
104
floresta que formava aquele gigantesco parque onde realizamos um piquenique na
primeira semana da estada em Arret.
Sua área tinha 6 milhões de quilômetros quadrados e era quase do
tamanho do Brasil. Lá havia uns 7 mil povoados, alguns com até 8 mil habitantes
fixos. Mais de dois mil eram destinados exclusivamente ao lazer e outro tanto ao
uso misto. A população fixa se dedicava à extração de látex, frutas silvestres,
resinas e essências. Também retiravam muitas madeiras destinadas às indústrias
de construção civil e de mobiliário, aproveitando apenas as árvores maduras e em
final de ciclo vegetativo.
Nosso destino era um povoado de uso misto localizado no centro da
floresta e a visita objetivava avaliar o comportamento e o grau de satisfação
daqueles que viviam no local mais isolado do planeta. Fomos recebidos por um
grupo de animados “trabalhadores florestais” e, depois de uma rápida conversa
sobre as atividades que lá desenvolviam, deixamos as bagagens no chalé e saímos
com um dos casais responsáveis pelo povoado. Utilizamos um veículo do tipo 7
especial e fomos para o local onde umas duzentas pessoas trabalhavam na
extração de castanhas.
Algumas delas realizavam a colheita na copa das árvores e outras, no
solo, separavam e embalavam castanhas parecidas com as do Pará. As árvores
eram muito altas e utilizavam um equipamento que anulava a gravidade e permitia
que o usuário trabalhasse em pé ou sentado, com conforto e segurança.
Conversamos com diversos trabalhadores e, quando perguntava sobre o aparente
isolamento em que viviam, a resposta era sempre a mesma: podiam visitar qualquer
local do planeta no horário de almoço, após o expediente ou nos fins de semana e,
nas férias, podiam viajar até para outros planetas. Não se sentiam isolados, mas
sim privilegiados.
Como todos os arretianos, eram grandes amantes da natureza e curtiam
aquele trabalho como um privilégio. Visitamos ainda dois outros lugares e, no
primeiro, as pessoas se dedicavam à extração de resinas de algumas árvores. No
segundo, colhiam folhas, cascas e flores de diversos tipos. O grau de satisfação
deles com o trabalho e com o local onde viviam era idêntico ao do primeiro grupo.
No final da tarde fomos tomar banho em uma praia fluvial, onde conversamos com
vários moradores e nos divertimos bastante. Jantamos na residência do casal
anfitrião e, enquanto Salino e Tentra continuaram a conversa com eles, fomos para
o chalé assistir à parte final da longa série de documentários. Dormimos aliviados,
pois conseguimos concluir o trabalho com um dia de antecedência.
O pequeno livro denominado A Lei de Deus, compreendia todas as leis
religiosas, civis, criminais, tributárias, trabalhistas e políticas. Sua versão original
sofreu pequenas alterações ao longo dos séculos e era o único volume impresso no
planeta, lido e praticado por todos os arretianos com mais de três anos de idade.
Sua essência era baseada nos mais altos preceitos da Lei Divina, respeitada e
praticada em planetas com grau evolutivo superior ao nosso. Como todos cumpriam
esses preceitos, não havia transgressões, julgamentos ou penalidades. Também
não havia juízes, advogados, promotores, policiais, fiscais ou organismos
representativos da justiça dos homens.
Parece estranho tratar desse assunto dentro do campo religioso. Porém,
em Arret, essas questões tinham a mesma base, cuja essência era o respeito à
individualidade e à coletividade, pois se não existisse respeito, não haveria um bom
105
relacionamento humano, sem o qual não floresceria a amizade, o amor, a justiça e
a fraternidade que a todos integrava em uma única família, como irmãos e filhos do
mesmo Pai. Essa filosofia de vida eliminava a possibilidade de alguém fazer alguma
coisa prejudicial aos seus irmãos do reino humano ou aos demais seres dos reinos
inferiores.
Por essas razões, pela inexistência de templos e de autoridades
religiosas, não existia uma religião formal em Arret. Porém, seus habitantes eram
conscientes de suas obrigações sociais e praticavam a lei do amor, da irmandade e
da paternidade divina, sem necessidade de freqüentar igrejas. Seus atos práticos e
diários avalizavam sua religiosidade interior e os juntava em um só rebanho que
seguia um único pastor. Na medida que respeitavam e amavam seus semelhantes
como a si mesmos, exteriorizavam sua forma de amar a Deus sobre todas as
coisas.

Nova visita à CIA – Central de Informações de Arret


Após a refeição e o bate-papo matinal, deixamos aquele impressionante
parque e retornamos a Agartha para conhecer maiores detalhes sobre o trabalho
realizado pela CIA. Como já foi registrado, os assuntos eram sempre
disponibilizados na íntegra e em resumos com dois níveis de detalhamento, sendo
que mais de noventa por cento deles vinham assim preparados. Se recebiam
apenas a íntegra, providenciavam e divulgavam os resumos pertinentes. A CIA se
dedicava, prioritariamente, à preparação das informações e notícias ligadas à
atuação do governo central. Além do departamento referente à presidência,
existiam outros especializados em assuntos de cada um dos doze ministérios. A
técnica utilizada para preparar os resumos era muito simples e contava com apoio
tecnológico e com operadores bem treinados.
Partindo da íntegra, o conjunto era pré-marcado por sofisticados e
rápidos programas de inteligência artificial. Alguns temas delicados eram assistidos
e confirmados ou remarcados pelos operadores. Outro programa selecionava os
trechos marcados e editava os resumos de segundo e de primeiro nível, liberando-
os para a população. O trabalho realizado pela CIA, juntamente com as notícias,
informações e documentários produzidos nos mais diversos recantos do planeta,
substituía os jornais, revistas e noticiários que aqui conhecemos.
Além de poderem acessar muitos assuntos ao vivo, como era o caso das
atividades do governo central, os demais entravam na rede da CIA no momento em
que eram gerados, correspondendo ao terceiro nível. Entre uma e seis horas
depois, disponibilizavam os dois resumos. Apesar da grande capacidade de
armazenamento que dispunham, tinham um critério para decidir quando deveriam
retirar um tema de circulação. Como tudo em Arret, ele também primava pela
simplicidade e eficiência.
Sempre que um tema de qualquer nível era consultado, um contador era
atualizado e datado. Se ficasse três meses sem receber consultas, era selecionado
para exclusão e ia para um índice de assuntos e ementas. Como todos tinham uma
origem e classificação, alguns eram submetidos ao responsável pela sua geração,
que decidia excluir os três níveis ou manter parte deles. Mesmo excluídos, podiam
ser acessados mediante solicitação simples e rápida à CIA. Quando concluímos a
visita fomos para a nossa casa e, logo que Vércia chegou, matamos a saudade da
piscina até a hora do almoço. Assim que ela voltou ao trabalho, retornamos à
106
piscina e lá ficamos até a hora do jantar. Tentra e Salino foram visitar alguns
parentes, enquanto Vércia, Syndi e eu fomos ao mirante para conversar e apreciar
o luar.

A terceira reunião com Arcthuro


Após a refeição, Vércia informou que fez reservas para nós no Balneário
da Baía dos Coqueiros até o sábado de manhã e para seus pais no Retiro da Serra
Dourada. Justificou que merecíamos um descanso depois de tantas atividades
desenvolvidas nas últimas semanas. Assim que ela saiu, fomos para o Palácio da
Harmonia, onde Antak, Tali, Otento e Sathya nos aguardavam.
Quando entramos no gabinete de Arcthuro, todos os seus ministros
estavam com ele e seguiu-se uma longa sessão de cumprimentos e incentivos que
me emocionaram, pois mesmo sabendo que a reunião seria com eles, não
esperava que me tratassem como alguém que realizou um “estafante” trabalho de
levantamentos e pesquisas históricas. Também procuraram me tranqüilizar quanto
às dificuldades que eu imaginava ter para me recordar de tudo quando voltasse à
Terra.
Conversamos durante uma meia hora, até que Arcthuro nos convidou
para sentar. Ele iniciou a reunião dizendo que todos estavam satisfeitos com os
resultados do trabalho e, como já havia dito anteriormente, fez questão de frisar que
eu não estava obrigado a escrever a respeito. Salientou que minha decisão não
seria questionada por ninguém, mas se escrevesse, o texto seria gravado nos anais
espirituais da Terra e as pessoas que tivessem afinidade com o tema poderiam
acessá-lo durante o sono, como acontecia com muitos que sonhavam com um
mundo melhor.
Afirmou que quanto mais pessoas sonhassem com o amanhã da Terra e
procurassem viver mais próximos de seus novos padrões, menos dolorida seria a
transformação. Se decidisse escrever o livro ou livros, pois o tema era extenso,
disse que eu poderia utilizar o ano terrestre de 1999 para fazer um resumo geral e
complementá-lo aos poucos, sem me preocupar com o tempo necessário para
terminar o trabalho. Alguns ministros e ministras fizeram comentários parecidos,
enfatizando a minha liberdade de decisão. Enquanto Othíbio, Vhega, Khap, Delphis
e Isis falavam, Arcthuro parecia observar o infinito ou algo que eu não via.
Quando Isis terminou, aproveitei para falar que o livro era uma certeza e
que iria escrevê-lo em duas ou mais partes. A primeira estava bem definida e seria
em forma de diário, descrevendo tudo que aconteceu desde o encontro com Oatas.
A outra, que poderia ser dividida em dois livros, conforme os detalhes que fossem
relembrados, conteria uma visão histórica e filosófica desde o período anterior à
grande transição e descreveria a atualidade do planeta com um enfoque sistêmico,
objetivando racionalizar sua aparente utopia. Disse que só não o faria se minha
memória fosse bloqueada na volta à Terra.
Arcthuro afirmou que isso não aconteceria, apesar de que eu acordaria
na Terra sem nenhuma lembrança da estada em Arret. Elas surgiriam
gradativamente e, no primeiro momento, eu apenas sentiria uma grande vontade de
voltar a escrever o livro que tentei iniciar algumas vezes. Porém, assim que
começasse a escrever, as idéias e as imagens iriam surgir continuamente, como em
um filme proveniente de um sonho, ou da minha imaginação. À medida que as

107
primeiras páginas fossem escritas, eu teria a sensação da estada na SOL-4 e,
posteriormente, entre eles.
Afirmou que, quando chegasse a esse ponto, a conexão seria
completada e eu teria as mesmas lembranças que tinha naquele momento, desde
que me mantivesse no objetivo de compartilhá-las com outros “sonhadores” que
vivem na Terra. Agindo assim, eu seria assistido por eles e por outros seres, além
de contar com a chave representada pelas pessoas, locais, máquinas e objetos que
conheci. Disse que todos, de alguma forma, gravaram imagens e informações em
meu espírito, as quais seriam transmitidas gradativamente à memória consciente.
Novamente, alguns ministros e ministras fizeram colocações sobre as facilidades
que eu teria para concretizar o livro.
Depois, Arcthuro disse que tudo foi cuidadosamente planejado, desde o
contato inicial com Oatas até o momento do retorno à Terra e reentrada no meu
corpo original. Falou que assim procederam para que não houvesse nenhum
impedimento que não decorresse do meu livre arbítrio. O plano envolveu seres
como Oatas, Tentra, Salino, Antak, Tali, Otento, Sathya, Vércia e Syndi, porque
todos conviveram comigo no passado. Arcthuro fez um agradecimento a eles e, de
maneira especial, a Oatas, Tentra, Salino e Syndi, quando os presentes se
emocionaram e houve alguns segundos de silêncio.
Logo comecei a sentir um agradável perfume e notei dois pontos
crescentes de luz oval atrás de Arcthuro. Quando atingiram uns dois metros de
altura, eles se condensaram e se transformaram nas figuras representativas de
Jesus e de Ahelohim. Eles sorriram, começaram a circundar a mesa e, quando
passaram pelo local onde eu estava, senti uma intensa vibração, seguida por uma
grande sensação de paz e felicidade. Ao retornarem à posição inicial, olharam para
todos com um belo sorriso e, sem nada dizer, começaram a se transformar em luz
que foi aos poucos se apagando. Ficou no ar o perfume e sensação que tive.
Fiquei intrigado, pois tinha certeza que tinham transmitido alguma
mensagem que não consegui captar. Antecipando-se à minha pergunta, Arcthuro
disse que eles estavam satisfeitos com o trabalho realizado e que Jesus, quando
passou por mim, expressou que havia chegado o momento de retomar o trabalho
iniciado em 1978, agora em um nível diferente, mas com o mesmo objetivo. Depois,
Arcthuro perguntou se eu tinha entendido a mensagem. Respondi afirmativamente
e muitas coisas do passado desfilaram pela minha mente.
Todos estavam emocionados e felizes com a presença daqueles dois
seres de alta envergadura espiritual e Arcthuro falou deles, especialmente sobre
Jesus, a quem também amavam e respeitavam como a Ahelohim, pois Jesus o
ajudou em muitas de suas aparições e missões junto ao povo arretiano. Por isso, os
povos dos planetas que conheciam o seu difícil trabalho na Terra, estavam juntos
em uma grande cruzada de apoio à nossa humanidade, antes, durante e,
principalmente, após a grande transição, cujo momento estava se aproximando e
iria ocorrer no dia e na hora determinada pelo Pai Celestial.
A seguir, ele falou que a SOL-4 iria partir às seis horas da tarde do
sábado com a mesma tripulação e que eu poderia retornar a Arret em alguns meses
ou anos, dependendo de como as coisas evoluíssem na Terra. Disse que, após
escrever o livro ou livros, seria importante não me preocupar com sua publicação,
divulgação, sucesso ou insucesso. Frisou que essas coisas não estariam mais sob

108
o comando da minha vontade, mas sob os cuidados de outros seres, com maior
liberdade e facilidade para esse tipo de avaliação e determinação.
Quando terminou, ele se levantou, agradeceu novamente aos presentes,
aos habitantes de Arret e, em seguida me abraçou e desejou sucesso. A despedida
dos ministros e ministras demorou vários minutos, pois todos tinham uma palavra
de incentivo e de carinho. Meus demais amigos receberam o reconhecimento de
todos e, na saída, Arcthuro lembrou que eu estava com a chave que abriria minha
memória inconsciente após o retorno à Terra e falou que estaria conectado comigo
sempre que eu estivesse pensando ou escrevendo sobre Arret. Essas foram as
últimas palavras daquele ser maravilhoso. Já no saguão do Palácio da Harmonia,
despedimo-nos dos amigos da SOL-4 e marcamos um novo encontro para a hora
do embarque.

Novo passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros


Quando chegamos em casa, conversamos sobre a reunião, almoçamos
e continuamos a conversa até Vércia voltar para o trabalho. Depois, arrumamos as
bagagens e partimos. Salino e Tentra foram no Canarinho e nós utilizamos o
Borboleta, o veículo de Syndi. Durante o trajeto ela disse que não iríamos comer em
restaurantes, pois queria que eu partisse com uma boa impressão de seus dotes
culinários. Mais tarde entendi o real motivo daquela conversa: eu precisava ter uma
experiência completa com os equipamentos de uma cozinha e com a preparação de
uma refeição típica.
Depois de descarregar as bagagens, fomos buscar os suprimentos
necessários, guardamos as "compras", pegamos um veículo aquático e saímos
para um passeio pela baía até o início da noite. Apesar de ter entrado diversas
vezes em uma cozinha e ter ajudado em algumas ocasiões, eu ainda não tinha
preparado uma refeição completa. A experiência foi interessante e, mais uma vez,
pude constatar a simplicidade das coisas arretianas.
Nosso jantar teve uma entrada à base de torradas, biscoitos e três tipos
de patês. O prato principal foi uma sopa de legumes e, como sobremesa,
saboreamos uma compota de figos. A bebida escolhida, ao contrário do padrão
noturno, foi um vinho frisante, semelhante ao “moscato italiano”, igual àquele que
Tali escolheu para o brinde na manhã da chegada à SOL-4. Também ingerimos
alguns tipos de cápsulas e atuei como assistente de Syndi, mais observando do que
trabalhando.
As torradas, biscoitos, patês, sobremesa e as cápsulas vinham em
porções individuais, bastando abri-las e servi-las. Para preparar a sopa, colocamos
um pacote de legumes em pó e outro de legumes pré-cozidos em uma travessa,
despejamos água quente, mexemos e tampamos. Finalmente, tiramos a tampa da
garrafa de vinho e nosso jantar estava pronto. Todo o processo não durou vinte
minutos, incluindo as longas explicações de Syndi. Arrumamos a cozinha em uns
dez minutos e boa parte deles foram gastos por ela falando sobre os cuidados para
separar e processar os restos orgânicos e as embalagens, para permitir seu
aproveitamento e reciclagem.
Em seguida, saímos para conhecer o mais alto dos mirantes, com uma
linda vista panorâmica da baía iluminada. Levamos óculos iguais àqueles que
utilizamos na estação orbital e observamos muitos detalhes daquele maravilhoso
balneário. Conversamos bastante a respeito da estratégia para escrever sobre Arret
109
e deixamos alguns pontos para serem concluídos no dia seguinte. Por volta das dez
horas retornamos ao chalé e fomos dormir.
A refeição matinal, apesar de mais variada e reforçada que a anterior, foi
igualmente fácil de preparar. Assim que terminamos a arrumação da cozinha,
saímos para um passeio a pé e mais tarde retornamos ao chalé, pegamos o veículo
aquático e mergulhamos na baía. Alegando que estava satisfeito com seus dotes
culinários, que já conhecia os princípios básicos da cozinha arretiana e que
precisávamos ganhar tempo para conversar com os freqüentadores, convenci Syndi
a almoçar em um restaurante da ilha central. Continuamos o passeio até o
anoitecer e jantamos em um dos restaurantes da baía.
Conversamos bastante durante a refeição e ela estava especialmente
feliz naquela noite. Fomos para o mirante mais alto, acertamos os detalhes finais da
estratégia para escrever o livro e a forma de abordagem dos temas mais delicados,
como o entrelaçamento energético e a grande transição. Sobre ela, resolvemos
resumi-la ao máximo no primeiro volume, deixando os detalhes da sua ocorrência e
os acontecimentos anteriores e posteriores para o segundo livro, pois o conjunto de
informações dos documentários era muito grande.
Depois, colocamos os óculos especiais e começamos a observar o
balneário e o firmamento. Porém, minha mente não se fixou nas belas imagens
daquele local e focou um assunto ainda pendente. Durante todo o tempo que
estivemos juntos, conversei com ela sobre os mais variados temas e um deles
ainda me intrigava. Existia uma grande amizade entre nós e sua dedicação me
impressionava, como nas dezenas de horas que assistimos aos documentários que
só representavam novidades para mim.
Ela me incentivava, ajudava nas dificuldades e esclarecia dúvidas até
durante o período de sono. Porém, sempre que eu falava sobre a origem da nossa
amizade, ela desconversava e mudava de assunto. Como fiz algumas tentativas
sem sucesso, resolvi respeitar seu silêncio e esperar que ela tomasse a iniciativa de
falar a respeito. Syndi dever ter captado meus pensamentos, pois fez uma série de
revelações e justificou seu silêncio até aquele momento.
Disse que iniciamos nossa evolução no reino humano em um outro
planeta, quase ao mesmo tempo. Em algumas vidas formamos um casal e em
outras, fomos parentes ou grandes amigos. Assim se passaram muitos milênios e,
enquanto ela conseguiu aprender e praticar mais rapidamente as lições de cada
vida, eu fui me atrasando. Quando houve a primeira seleção naquele planeta, ela
ficou por lá e eu fui transferido para um outro, que ainda não era a Terra. Desde
então, não tivemos mais oportunidade de nos encontrar no plano físico.
Mesmo quando comecei a me atrasar, nunca deixou de existir uma
grande amizade entre nós e essa era a razão da nossa afinidade. Ela continuou
dizendo que a amizade não diminuía com o passar do tempo, pois era uma das
mais altas expressões do amor, cuja natureza era divina e eterna. Daquele planeta,
ela foi para Arret em boas condições espirituais e, quase ao mesmo tempo, fui
transferido para a Terra, onde aprendi várias coisas e sofri bastante para recuperar
o terreno perdido.
Justificou que não achou conveniente falar sobre nossas vidas passadas
nos primeiros dias, porque eu estava cheio de bloqueios e não queria que as
informações influenciassem o meu comportamento com ela. Por isso, resolveu
deixar para conversar após a conclusão dos levantamentos, em um momento como
110
aquele. Em seguida, voltou a falar da amizade e reafirmou que era um sentimento
eterno que, ao invés de diminuir, aumentava com o passar do tempo, pois era
fermentado por um outro sentimento que também tinha suas raízes no amor.
Era conhecido como saudades, ou o desejo de rever ou de estar perto
de alguém ou de alguma coisa querida. Disse que o nosso reencontro era o
primeiro motivo que a fazia sentir-se feliz e o segundo e mais importante, era o fato
de eu já ter recuperado a maior parte do terreno perdido. Retornamos por volta das
dez horas, pois o dia seguinte seria muito movimentado.

As últimas horas em Arret


Quando chegamos à casa de Tentra, ela, Salino, Vércia, Ashton e Mani
nos aguardavam para definir a programação do dia e estavam à disposição para
uma maratona de despedidas. Eu sabia que os arretianos não tinham esse
costume, pois lá, as distâncias são tão curtas e os encontros fáceis, que nunca se
despedem. Depois da refeição fomos para a varanda e Salino perguntou onde eu
gostaria que me levassem.
Pensei um pouco e disse que queria passar o dia com eles, preferindo
seguir o padrão arretiano, e iria me despedir apenas dos vizinhos que
encontrássemos durante o banho na piscina. Depois, Vércia, Syndi e eu fomos com
Ashton e Mani até sua casa, com a promessa de um encontro na piscina e o
almoço na casa de Tentra. Assim que chegamos, tomamos suco e fomos à varanda
para conversar sobre os passeios e visitas dos dias anteriores. Depois, quiseram
conhecer o que definimos a respeito do roteiro para escrever o livro. O assunto
vinha sendo discutido com Syndi há algum tempo e nos últimos dias definimos seu
título básico e a estratégia para escrevê-lo.
Falei que começaria registrando tudo que viesse à mente, mesmo que
parecesse estranho ou inconsistente. Agiria dessa maneira para não dificultar o
processo de transferência de informações da memória inconsciente para a
consciente, segundo a chave definida por Arcthuro. Iria descrever as pessoas, os
lugares e os acontecimentos na ordem que surgissem e com os detalhes que
conseguisse relembrar.
Logo que a redação fosse concluída, iria realizar uma revisão geral e
ajustar os tópicos inconsistentes com a idéia geral, além de utilizar a lógica e o
senso crítico para introduzir situações omitidas, cortar excessos e complementar
idéias importantes. Assim que a revisão fosse concluída, a menos que o tamanho
do texto não justificasse, iria dividi-lo em dois ou mais volumes, o que seria bastante
provável que acontecesse.
O primeiro e mais resumido estava bem definido e seria um diário da
viagem. Relataria os acontecimentos desde o encontro com Oatas, até o momento
do retorno à Terra. Descreveria, cronologicamente, todos os levantamentos, visitas,
passeios e pesquisas realizadas no dia-a-dia, além de citar os personagens e
situações envolvidas. Conteria uma visão geral da atualidade do planeta e do modo
de vida do seu povo, enfatizando os motivos da sua felicidade. Não entraria em
detalhes do passado e se limitaria a apresentar sinopses dos documentários
assistidos.
O segundo volume apresentaria uma visão histórica, filosófica e evolutiva
do modo de vida arretiano. Começaria com os antecedentes históricos e
descreveria detalhadamente os acontecimentos da grande transição e os trabalhos
111
de apoio aos sobreviventes, até a criação e consolidação do governo central,
enfatizando as mudanças de costumes e de filosofia de vida. Os séculos seguintes
seriam apresentados resumidamente, com uma visão geral das mudanças
ocorridas.
A realidade atual voltaria a ser descrita detalhadamente em um terceiro
volume, agrupando os diversos sistemas componentes do macrosistema planetário,
com suas relações e dependências. O objetivo desses dois volumes seria
racionalizar a aparente utopia do atual modo de vida arretiano, mediante a
demonstração dos caminhos e meios que permitiram a sua implantação e
consolidação, de maneira lógica, gradual e segura. Ashton, Mani e Vércia
aprovaram a estratégia e comentaram que o roteiro iria facilitar as lembranças da
minha estada entre eles.
Mais tarde fomos encontrar Tentra e Salino na piscina e, como da
primeira vez, lá não havia mais ninguém. Uns quinze minutos depois, os moradores
daquela e de outras quadras que conheci, apareceram todos juntos, como se
tivessem combinado. Antes de irem para o vestiário, disseram que vieram se
despedir à moda terrestre e, quando entraram na piscina, fizeram várias
brincadeiras comigo. As despedidas me emocionaram, pois recebi o carinho e o
incentivo de todos.
Voltamos para a casa de Tentra e, enquanto ela e Mani preparavam a
refeição, ficamos conversando na varanda. Continuamos a conversa depois do
almoço, até por volta das quatro horas, quando Ashton e Mani retornaram à sua
casa em companhia de Vércia, prometendo estar no terminal de transportes na hora
do embarque.
Tentra e Salino foram arrumar suas bagagens, tomar banho e vestir seus
uniformes de trabalho. Coloquei a mesma roupa que usei no dia do desembarque e,
como não tinha bagagem para arrumar, aproveitei para conversar com Syndi e
agradecer tudo que ela fez por mim. Desejei que permanecesse feliz como sempre
esteve e que os seus sonhos se realizassem. Ela me desejou a mesma coisa e me
fez prometer que não deixaria nada me afetar na volta à Terra, onde tinha uma
maravilhosa família me esperando e muito trabalho pela frente.
Assim que Salino e Tentra terminaram seus preparativos, embarcamos
no Canarinho e logo estacionamos ao lado da SOL-4, chegando quase ao mesmo
tempo em que Vércia, Ashton e Mani. Entramos e ficamos conversando em uma
sala próxima da porta de embarque, aguardando Antak, Tali, Otento e Sathya que
estavam no interior da nave ultimando os preparativos para a partida e logo se
juntaram a nós.
Continuamos a conversa por mais alguns minutos, até que Antak disse
que logo iríamos partir. Despedi-me dos que ficaram e os acompanhei, juntamente
com Tentra, até a porta por onde entramos. Foi só quando ela começou a fechar
que senti a separação daquelas pessoas muito queridas. Tentra me abraçou,
começou com suas brincadeiras e logo nos juntamos aos demais tripulantes na
cabine de comando.

112
O RETORNO À TERRA

Assim que nos acomodamos na mesa de controle, comecei a observar a


paisagem externa, procurando pelos veículos dos amigos que ficaram. Antak
percebeu o fato e informou que eles não estavam mais na região, pois tiveram que
se afastar para permitir a decolagem da SOL-4. Às seis da tarde, depois de
algumas interações com o SINE, o supercomputador da nave, ela começou a subir
lentamente, virando sua frente para baixo. Logo sua velocidade aumentou e foram
aparecendo os contornos da ilha de Agartha, dos continentes e do próprio planeta.
Assim que entrou em órbita, Antak pediu para ocuparmos a mesa
circular, onde iria explicar os detalhes da viagem de volta, antes de irmos para a
Sala das Águas. Começou informando que eu tinha deixado meu corpo original a
umas 1.050 horas e que ele estava dormindo durante duas horas e quarenta
minutos terrestres. Disse que iríamos permanecer em órbita até o início da
madrugada, quando o SINE comandaria a viagem de volta a Alto Paraíso e o
processo de transferência do meu espírito ao seu corpo original.
Continuou dizendo que eu acordaria bem disposto e com uma sensação
muito agradável, sem conseguir particularizar o motivo ou me lembrar de algum um
sonho. Reafirmou que as lembranças iriam surgir gradativamente, assim que
começasse escrever o livro e esse seria o único desejo que eu teria ao acordar. Ele
iria se manifestar fortemente, por ser a causa primária de tudo que aconteceu
desde o encontro com Oatas.
Disse que eu iria dormir na mesma cama onde recebi o novo corpo e que
o processo de transferência seria invertido. Antak salientou que esse procedimento
era uma operação rotineira, sem nenhum tipo de risco e me pediu para dormir
tranqüilo, como nas noites anteriores. Recomendou que, antes que o sono
chegasse, fizesse uma retrospectiva geral, desde o encontro com Oatas, até os
primeiros dias em Arret, pois isso iria facilitar bastante as recordações.
Enfatizou a importância da chave para acessar a memória inconsciente,
conforme Arcthuro informou, e falou que bastava rememorar os principais pontos de
cada etapa, sem necessidade de chegar ao momento atual. Garantiu que eu não
teria nenhuma dificuldade para me recordar de tudo que presenciei se a
retrospectiva chegasse até Syndi. Depois perguntou se eu tinha alguma dúvida ou
receio. Como respondi negativamente, ele nos convidou para um banho na Sala
das Águas.
Quando lá chegamos, relembrei o dia do meu primeiro banho ao natural
e comentei o fato com Tentra e Salino. Agradeci pela paciência que tiveram comigo
durante o período de treinamento e perguntei se eles não me achavam desajeitado
ou ridículo naqueles dias. Eles riram bastante e Salino me confortou dizendo que
não dei tanto trabalho como estava imaginando.
Informou que outros habitantes de mundos como a Terra e alguns
terráqueos que passaram por experiências semelhantes deram mais trabalho. Falou
que, por diversos motivos, a maioria deles não conseguiu realizar uma visita tão
longa e, como conseqüência, não conheceram tantas coisas. Quando procurei obter
outros detalhes a respeito dos terráqueos, ele prometeu fornecê-los após alguns
mergulhos.

113
Salino cumpriu sua promessa sem revelar nomes ou países de origem
dos antecessores. Disse que muitos livros e artigos sobre extraterrestres, final de
tempos, operações de resgate e assuntos semelhantes, foram escritos por pessoas
que passaram algum tempo no interior de naves ou em outros planetas. Algumas
delas, por não terem convivido com seres afins, ou por razões de crenças pessoais,
dentre outras, não se recordaram ou não escreveram com isenção a respeito da
experiência que tiveram, ou centraram seus escritos em aspectos pontuais ou
polêmicos.
Algumas trataram somente das catástrofes, sem falar da misericórdia e
do amor que o Pai Celestial dedica a todos os seus filhos e filhas. Seus relatos
serviram mais para amedrontar, do que para transmitir esperança e a visão de um
mundo melhor. Ao enfatizar a transição planetária, não conseguiram transmitir a
idéia real ou aproximada da nova sociedade e do grau de felicidade dos povos que
passaram pelo exame de seleção.
Outras escreveram sobre mudanças dimensionais de difícil compreensão
ou sobre conjuntos de condições que consideraram imprescindíveis para a
“evolução ou salvação do espírito”, como a obrigatoriedade de mudar hábitos
alimentares, de meditar, ou de se isolar em ambientes campestres comunitários.
Salino lembrou que a seleção ou “salvação”, será baseada, exclusivamente, nas
boas qualidades cultivadas no coração de cada um e na forma como respeita e se
relaciona com seus semelhantes e demais seres da criação.
A “salvação” independe de hábitos alimentares, de crenças religiosas, do
tempo de meditação diária e até da "fé em Deus". Basta que o coração seja um
terreno fértil para germinar a semente da irmandade e da fraternidade. Enfatizou
que essas pessoas não foram mal intencionadas ou mentirosas. Elas apenas
cometeram erros ao descrever somente uma parte da realidade que presenciaram,
desconectada de uma visão histórica e sistêmica. Muitas se dedicaram à divulgação
de seus escritos e acabaram criando novas correntes de pensamento e formando
prosélitos com os mesmos padrões sectários e de fanatismo encontrados em
muitas religiões.
Continuou dizendo que, para evitar esses erros, eu deveria escrever
sobre a esperança em um futuro e em um mundo melhor, enfatizando a paternidade
divina e a irmandade planetária, pois esse era o objetivo do exame de seleção e da
prestação de contas ao Criador. Salino falou que ele e os demais acreditavam que
eu iria atingir o objetivo, tanto pela visão geral que tinha sobre o modo de vida do
seu povo, como pela estratégia que utilizaram e pelo roteiro definido com Syndi, o
qual dificilmente eu esqueceria. Disse que bastaria iniciar a redação que as
lembranças iriam surgir cada vez mais nítidas.
Em seguida fomos para o restaurante, onde tomamos uma leve refeição
e nos dirigimos à Sala do Horto. Lá procuraram manter o ambiente descontraído e
Salino fez diversas brincadeiras, permeadas de observações muito importantes
sobre os cuidados que eu deveria observar nos dias e meses seguintes, sempre
corroborado pelos demais.
Disse que eu iria enfrentar uma realidade totalmente diferente dos
padrões arretianos e que deveria voltar a me comportar e a agir como um
terráqueo. Todos foram enfáticos ao dizer que durante a redação e revisão, eu
estaria revivendo o modo de vida deles e correria o risco de não conseguir
reposicionar minha mente dentro dos padrões terrestres. O risco seria maior
114
quando interrompesse a escrita para voltar à atividade de comerciante, a qual não
era mais do meu agrado e nem da minha família.
Tali disse que, apesar de ter facilidades para me adaptar, deveria ficar
atento a essas questões, pois a correta separação e dedicação a cada uma das
duas atividades seria o meu grande teste, maior que aquele a que fui submetido
durante os três dias iniciais. Segundo ela, até que minha situação como
comerciante não fosse convenientemente resolvida, eu deveria manter um perfeito
equilíbrio entre os dois mundos e aguardar, com muita paciência, o desenrolar dos
acontecimentos e a mudança que iria ocorrer na minha vida e na da minha esposa
e filhos.
Mais tarde, Antak lembrou que havia chegado a hora das despedidas, ou
do "até logo mais", e me acompanharam até o local onde iria dormir, deixar aquele
corpo juvenil e retomar minha vida na Terra. Fiz um breve discurso de
agradecimento e os tranqüilizei quanto ao meu estado de espírito e total aceitação
das regras que deveria obedecer a partir daquele momento.
Em seguida, abracei e beijei cada um deles à moda arretiana e disse que
podiam ir para os seus aposentos. Quando se retiraram, coloquei uma música
arretiana suave, regulei a luz ambiente para uma intensidade baixa, me acomodei
na cama e comecei rememorar os acontecimentos, conforme as orientações de
Antak, indo muito além daquilo que ele recomendou.
Naquele corpo, meu raciocínio era muito rápido e tinha enormes
facilidades para criar imagens mentais detalhadas e nítidas. A maioria delas, pelo
tempo que ficamos juntos, estavam associadas a Syndi. Rememorei várias frases
proferidas por Arcthuro nas três reuniões e os motivos de todo o planejamento que
fizeram para que a estada em Arret atingisse os objetivos. Ela era a essência da
chave por ele citada e, além de ser um reencontro de espíritos afins, sua presença
constante visava facilitar as lembranças daquela grande aventura.
Relembrei algumas de nossas conversas e logo visualizei seu rosto
sorrindo e confirmando minhas conclusões. Aos poucos ele foi se apagando e meus
pensamentos se voltaram à minha família terrestre. Assim adormeci e me desliguei
daquele corpo que utilizei durante 44 dias e que me permitiu conhecer e aprender
tantas coisas. Foi uma “morte” tranqüila ao estilo arretiano e com ela obtive a
informação que faltava em meus levantamentos, todos baseados em observações,
sentimentos, vivências ou experiências práticas.

Obrigado por ler este livro. Se gostou, esperamos que leia sua
continuação em ARRET - O Passado do Planeta e que se junte aos sonhadores e
sonhadoras que propagam um ideal de vida semelhante ao arretiano.
Com isso ajudaremos a materializar o sonho representado pela vida,
pela obra, pelas palavras e pelo exemplo de Jesus. Para solicitar ARRET - O
Passado do Planeta leia o último parágrafo da biografia do autor.
Apesar dos direitos autorais deste livro estar devidamente protegido e
registrado na Fundação Biblioteca Nacional, conforme dados na página dois deste
livro, você pode ceder cópias a seus amigos e amigas, pois nosso maior desejo é
divulgar a mensagem nele contida.

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BIOGRAFIA DO AUTOR

J. A. Dal Col, batizado como José Aparecido Dal Col, nasceu em 23 de


Dezembro de 1948, às 15:13 hs em uma fazenda na cidade de Guarantã – SP.
Começou a trabalhar ainda jovem em várias atividades e empresas e, em 1967, já
morando na cidade de São Paulo, ingressou na antiga Companhia Telefônica
Brasileira, onde atuou como escriturário, encarregado, chefe de seção e analista de
sistemas. Casou-se em 1973 com Solange, com quem teve três filhos e adotou
outros dois.
Em 1978, graduou-se em administração com especialização em análise
de sistemas. De 1974 até 1988, desempenhou diversas funções de direção nas
áreas de sistemas da Manah, Votorantim, Prodam e bancos estrangeiros, como o
First Chicago e BNL. Em fins de 1988 montou sua empresa de consultoria na área
de sistemas e, em setembro de 1992 mudou-se para Alto Paraíso de Goiás, onde
montou um supermercado e adquiriu uma propriedade rural, o Santuário Vale
Dourado, uma área de 658 hectares, com muitas cachoeiras, rios e outras belezas
naturais.
Em 1999, depois de registrar a grande aventura arretiana, mudou-se com
sua esposa Solange para o Santuário Vale Dourado onde passaram a viver em
estreito contato com a natureza, obtendo a sustentabilidade através do Ecoturismo.
Em 2008, tendo como inspiração o modo de vida do povo arretiano, descrito neste
livro e, especialmente, em ARRET – O Passado do Planeta, definiram um projeto
de Ecovila e começaram a compartilhar o local com outras pessoas interessadas
em praticar um novo modo de vida em harmonia com a natureza e um novo estilo
de convívio social baseado na cooperação e no respeito à individualidade.
Novas pessoas estão se interessando, ajudando, ou se integrando ao
projeto da Ecovila como Sócio(a) Cotista e ela está se desenvolvendo conforme o
planejado.
Para outras informações acesse o site www.ecovilavaledourado.com
que detalha o projeto de ecoturismo e apresenta outras informações sobre a
Ecovila, incluindo o download de um folder eletrônico com detalhes da filosofia, do
projeto geral da Ecovila e como dela participar como Sócio(a) Cotista.
No site acima, você também poderá fazer o download gratuito de ARRET
– O Passado do Planeta e de duas propostas referentes à Reforma Política e
Reforma Agrária. Se quiser, também pode entrar em contato conosco pelo e-mail
ecovilavaledourado@gmail.com.

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