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Crepúsculo é antifeminista?
Por Kim Vonayr

NOTA: Esse artigo discute Crepúsculo, o filme, e Crepúsculo a série de livros


(particularmente o último livro Breaking Dawn), e a tem MUITOS SPOILERS. Se você
não leu os livros e não quer ler spoilers, NÃO leia esse artigo até você ter lido-os. É
também mais longo do que as minhas colunas usuais, pois eu tinha muito chão para cobrir,
então se você não gosta de ler artigos longos, pule. Obrigada.

Você provavelmente está ciente, mesmo que não goste de livros de vampiros e adolescentes
desastradas e normais se apaixonando por um, que existe uma série popular de livros
chamada de saga Crepúsculo, e o primeiro livro da série, Crepúsculo, está sendo adaptado
para a tela grande pela diretora Catherine Hardwicke. O que você talvez não saiba é da
pequena subcorrente de escritoras mulheres depreciando a série como inerentemente
antifeminista.

A série Crepúsculo cresceu em popularidade, principalmente fora do radar dos grupos


feministas, até que se tornou tão popular que elas começaram a perceber – e ofender. Eu
percebi pela primeira vez dessa feminista reação violenta quando Meg Cabot, autora de O
Diário da Princesa (entre outros livros de menina) respondeu no seu blog para os leitores
que escreveram a ela perguntando o que ela pensava das séries, desta maneira: “Eu não
coloquei o último NOME do meu marido quando nos casamos. Vocês honestamente acham
que eu gostaria de uma história sobre uma garota que considera mudar de ESPÉCIE por
um cara? Sem ofensas a nenhum de vocês, mas como uma feminista, eu simplesmente não
faria isso...”

Eu achei a opinião de Cabot interessante porque eu sou uma feminista, que também não
pegou o último nome do marido quando nós nos casamos, mas eu não acho que a série é
inerentemente antifeminista. Todavia, desde que o quarto livro da série foi lançado,
Breaking Dawn, em 2 de agosto, o murmúrio feminista começou a subir para um enfadonho
rugido.

No Jezebel.com, num artigo carregado de spoilers intitulado “O que esperar quando você
está esperando um vampiro,” elas pulam em cima do livro por ser uma “arrepiante alegoria
antiaborto,” promovendo maternidade adolescente (“No universo de Breaking Dawn,
maternidade na adolescência só faz a sua vida mais radical.”), relacionamentos idealizados,
o traço dominante da personalidade da heroína é a baixa auto-estima, e os livros em geral
promovendo “uma ideologia fundamentalmente conservadora.”

Eu vi os livros serem queimados em diversos lugares, sendo chamados de “um manual de


como ter um relacionamento abusivo,” ridicularizando pela personagem de Bella ter baixa
auto-estima e ser obcecada por um vampiro controlador, e mais. Eu acabei de ler Breaking
Dawn, que tem, interessantemente, provado ser bem divisor mesmo entre os fãs mais
extremistas da série; na realidade, eu não consigo lembrar quando eu vi um livro que é a
continuação de uma série popular gerar tanta ira mesmo entre a sua base de fãs. (Só para
registro, eu me encaixo direito no campo de não ser louca por Breaking Dawn, mas não
pela razão que a maioria das feministas parece ter.) Eu quero discutir aqui as maiores
queixas que o campo feminista parece ter com a série em geral e com Breaking Dawn em
particular:

1) A série Crepúsculo é inerentemente antifeminista, porque Bella está disposta a se


tornar vampiro para ficar com Edward para sempre.

Um dos elementos-chave que os críticos da série parecem não largar é que a autora da série,
Stephenie Meyer, é uma mórmon devota. Enquanto é certamente possível que autores
tendam a deixar de lado seus pontos de vista religiosos para escrever, eu diria que o
Mormonismo de Meyer lapidou sua forma de ver o mundo, e que essa influência,
necessariamente, moldou os relacionamentos entre homens e mulheres da série,
particularmente a relação entre Bella e Edward.
Bella sempre se descreve, durante a série, como simples, frágil, entediante e imperfeita,
enquanto ela idealiza Edward como “deslumbrante”, perfeito, eterno e parecido com um
Deus. Meyer, que eu saiba, jamais explicitou que seus livros expressassem sua fé mórmon,
mas eu acho que olhar para a série sem este contexto é ignorar uma parte importante das
idéias sob as cenas.

Eu não sou mórmon, portanto meu conhecimento das crenças mórmons é derivada
largamente do meu próprio estudo informal da religião e discussão com amigos mórmons.
No geral, o que entendi é que o Mormonismo prega que somente sua doutrina é o caminho
para a salvação eterna, e que o casamento “selado” em um templo mórmon não une um
casal (e as crianças nascidas dessa união) apenas “até que a morte nos separe,” mas para
toda a eternidade. Essa idéia se torna particularmente importante na série Twilight no quarto
livro, no qual os votos de casamento de Bella e Edward são muito próximos aos votos de
casamentos mórmons.

Olhando pelo contexto da fé de Meyer, alguém poderia, talvez, concluir que o


relacionamento de Bella e Edward é uma metáfora do relacionamento entre uma pessoa e
sua fé: Edward – incluindo o desejo de Bella tornar-se uma vampira – representa a
perfeição física, a ausência de todas as faltas humanas e a vida eterna. Bella quer tornar-se
uma vampira para poder ficar com Edward para sempre, é verdade, mas seu verdadeiro
desejo é mais profundo que isso; ela não idolatra apenas Edward, mas toda a família Cullen
e sua maneira vampírica de vida.

2) O relacionamento entre Bella e Edward é abusivo e controlador.


Alguns dos críticos da série ridicularizam a disposição de Bella de desistir de seus
relacionamentos com seus pais e amigos para poder ficar com Edward, mas se você leu os
livros atentamente, Bella diz muito que acredita que será capaz de controlar a urgência
matadora de uma “vampira recém-nascida” com o tempo e então poderá encontrar uma
maneira de manter esses relacionamentos e também ter seus sonhos vampirescos realizados.
Bella nunca acha que ela estará desistindo de seus pais, ou até seus amigos, para sempre.
Ela quer ter ambas as coisas, e sua força de vontade é o bastante no quarto livro, quando ela
realmente se torna uma vampira, os Cullen ficam impressionados com sua habilidade de
controlar a luxúria dos recém-nascidos por sangue. Isso não parece para mim uma
personagem feminina que é inerentemente fraca e controlada por outros – ela não é sequer
controlada por sua própria natureza, como todos os outros são; ao contrário, ela a controla,
através de seu desejo de assim o fazer.
Fora isto, durante a série, Bella convence Edward tanto quanto ele a convence. É Bella
quem repetidamente faz os avanços sexuais, e Edward quem restringe a si mesmo, por
medo de machucá-la em seu frágil estado humano. Edward não força ou coage Bella sobre
virar uma vampira; é bem o contrário – ele resiste em transformá-la numa o tempo todo,
porque acha que ela perderia sua alma, e é Bella que finalmente convence Edward a
concordar com seu plano de juntar-se à ele em sua vida eterna. Ela pode ter problemas de
auto-estima, mas dificilmente é uma garota fraca.
3) O quarto livro da série, Breaking Dawn, é particularmente anti-feminista porque
Bella fica grávida de uma criança meio-vampira que quase mata ela durante a
gravidez, mas ela se recusa a ter um aborto.
Esta me deixa realmente irada, mas antes que nós nos aprofundemos nessas águas turvas,
um pouco de definições é necessário. Para mim, uma grande parte das crenças feministas
têm a ver com o conceito da escolha; o que quero dizer é que acredito que o feminismo é
sobre ser pró-escolhas, o que não é o mesmo que ser pró-aborto. A idéia do pró-escolhas
significa ajudar mulheres que é a certa para elas sobre sua gravidez – não converter o
aborto a única escolha correta.
Em Breaking Dawn, Bella se recusa a fazer um aborto, mesmo que sua gravidez e o
nascimento possam matá-la; ela acredita que mesmo que ela chegue perto de morrer, os
Cullen vão salvá-la, transformando-a numa vampira antes que seja tarde demais. Como
muitas mães podem afirmar, o impulso maternal de uma mulher por proteger seu bebê pode
ser muito forte, chegando até num ponto em que a mulher deva se sacrificar para proteger a
criança.
Desde quando a maternidade e o impulso maternal são anti-feministas? Algumas mulheres
escolhem ser mães, algumas não escolhem, e essa é a parte da ideologia feminina sobre a
liberdade de escolha. Mas a liberdade de escolha tem que funcionar dos dois jeitos, não
apenas do seu jeito; o direito das mulheres de abortar tem que, por outro lado, incluir o
direito de uma mulher prosseguir com a gravidez, mesmo que ponha sua vida em risco.
Mude a situação – o que diriam essas feministas para um homem médico que forçasse um
aborto à uma mulher que não o quisesse? Você não pode ter liberdade de escolha por
apenas um caminho.
4) O quarto livro promove e idealiza a gravidez adolescente.
Eu acho insultante para as muito excelentes e educadas jovens mães que eu conheço falar
que engravidar quando você é um adolescente mais velho (ou até aos 20 e poucos) é o Fim
do Mundo. Eu tive minha filha mais velha ao 17 anos, e eu sobrevivi e tive sucesso. É o
caminho mais fácil ou o que eu escolheria ou recomendaria às minhas próprias filhas? Não,
não necessariamente, mas novamente, minha vida hoja não seria a mesma sem minha filha
mais velha como parte do meu caminho de vida, portanto eu também não consideraria
como a ruína de suas vidas.
E francamente, eu conheço algumas mulheres em seus 30 e 40 anos que são mães bem
piores dos que as mães mais jovens que cruzaram meu caminho. A habilidade de ser uma
boa mãe e crescer como pessoa com as mudanças que a maternidade traz inevitavelmente
têm muito mais a ver com o caráter da mulher e com seu apoio do que com a quantidade de
anos que ela viveu nesse planeta.
Portanto, não, eu não acho que a série Twilight é inerentemente anti-feminista. Eu também
não acho que o movimento feminista vá impactar negativamente a bilheteria do primeiro
filme. Eu acredito que os fãs da série vão apoiar o filme; até mesmo os fãs que não
gostaram do quarto livro não vão ficar longe da versão em filme do primeiro. Quanto à
Breaking Dawn e sua cena de nascimento sangrenta e toda a falta de ação, será que poderá
ser colocada em filme? Bem, isso é uma pergunta para outro dia.

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