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Régis Rathmann
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Resumo:
Tendo em vista a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira, procurar-se-á efetuar
uma análise acerca das potencialidades do Brasil neste projeto. Para tanto foi efetuada,
inicialmente, uma discussão acerca dos limites do petróleo como principal fonte de energia do
padrão industrial vigente e, posteriormente, demonstrou-se a evolução histórica mundial das
pesquisas e uso desse combustível. O foco da pesquisa foi analisar os principais limites e
motivações que levaram a criação do Projeto Biodiesel Brasil. Tem-se como conclusões,
dentre outras, que há uma carência de estudos integrados na cadeia, o que demonstra a
necessidade de novas pesquisas para que esse projeto não seja inviabilizado, sob pena de
perder-se uma janela de oportunidades de um negócio de alto valor agregado.
1. Introdução
O objetivo deste artigo é o de efetuar uma breve discussão acerca da inserção do
biodiesel na matriz energética brasileira, analisando seus impactos econômicos, ambientais e
sociais. Para isso parece interessante começar pela apresentação de um breve histórico do
cenário energético mundial, basicamente no que tange ao petróleo e seus derivados. A
utilização de combustíveis intensificou-se, por um lado, com o desenvolvimento econômico,
que colocou a disposição de cada cidadão maiores quantidades de bens manufaturados e
primários e, por outro lado, com aumento vegetativo do número de pessoas em cada país.
Inicialmente, verifica-se o fato de ser quase unânime na literatura, o que
posteriormente procurar-se-á demonstrar, que esse combustível fóssil, enquanto não-
renovável, irá se esgotar. Logo surge a pergunta fundamental: Quais serão as alternativas
estratégicas para o mantenimento deste padrão industrial intensivo em energia? Essa
necessidade de abundância energética revela-se marcante ao se analisarem as séries históricas
de consumo de petróleo no século XX. Essas revelam uma tendência de crescimento contínuo
do consumo, a uma taxa média de 3% ao ano no mundo desde 1985 (PIRES, 2004).
Entretanto as reservas de petróleo, comercialmente exploráveis, crescem a taxas menores que
o consumo, indicando, por conseguinte, um descolamento entre essas duas curvas (reservas e
consumo).
Admitindo que os indicadores de médio e, até porque não, de longo prazo, não
demonstram um esgotamento do sistema capitalista de produção, surge a necessidade da
busca por alternativas energéticas, sob pena do sistema esgotar-se sem que haja um substituto
natural que o suplante.
Em suma, a idéia é mostrar primeiramente a necessidade de um substituto energético
capaz de manter o modo de produção em condições que permita a reprodução do capital, visto
que as reservas petrolíferas rumarão para o esgotamento. Após, intenciona-se mostrar que
existe uma tradição de pesquisa, assim como uma preocupação de alguns países com essa
questão, denotada através da abertura de fontes energéticas alternativas.
O foco deste artigo é mostrar como se insere nesse cenário o biodiesel, mostrando
primeiramente a evolução deste em países-chave, e por fim, especificamente, abrindo uma
maior discussão sobre sua inserção na matriz energética brasileira. Para tanto se detalhará a
estrutura produtiva do biodiesel, ainda que a mesma esteja em sua fase inicial de estruturação.
Fonte: ABIOVE(2005)
Entretanto outros países já têm uma experiência com a utilização de biodiesel para
fins energéticos, o que será apresentada nos sub-capítulos abaixo.
3.1 Alemanha
A utilização do biodiesel na Europa começa em 1991, como conseqüência da
política agrícola comunitária, desse ano, que oferece subsídios para a produção agrícola não-
alimentar, com o que se busca descongestionar os mercados de alimentos, saturados por causa
dos generosos subsídios agrícolas. A Alemanha se encontra em plena utilização do biodiesel
como combustível, sendo que atualmente ela pode ser considerada a maior produtora e
consumidora desse tipo de combustível. As empresas autorizadas pelo governo a utilizar
biodiesel, tanto no segmento de carros de passeio, quanto de máquinas agrícolas e veículos de
carga são: Audi, BMW, Citroen, Mercedes, Peugeot, Seat, Skoda, Volvo, VW.
O estado de Niedersachsen é pioneiro na produção de biodiesel, sendo que em 2004
foram vendidos 34,9 milhões de litros deste combustível nos postos desse território. O estado
de Baviera é o primeiro em número de postos no mundo, com 357 postos, que venderam em
2004, 59,7 milhões de litros de biodiesel. Em segundo lugar encontra-se o estado de
Westfália, com 350 postos, num total de vendas em 2004 de 84 milhões de litros de biodiesel.
3.3 Argentina
A aprovação pelo Congresso de uma lei (Decreto Governamental 129/2001) isentando
de impostos por 10 anos toda a cadeia produtiva do biodiesel é uma conseqüência do preço
baixo das oleaginosas, no inicio da década de 2000. A implantação de várias fábricas de
biodiesel comprova o interesse dos usuários pelos combustíveis alternativos.
45,00 140
128,15
40,00 41,51 120
35,00 31,08
100
30,00 25,98
95,54
25,00 22,12 80
U$$
R$
20,58
20,00 17,20 14,42
59,71 60
15,00
40
10,00
17,17 20
5,00 22,90
0,04
11,34
0,00 0
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
23,00
18,00
13,00
%
8,00
3,00
-2,00
94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05
Álcool Diesel
20,00
15,00
%
10,00
5,00
0,00
94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05
-5,00
7. Os subprodutos do biodiesel
A cadeia produtiva do biodiesel gera alguns subprodutos, os quais devem ser foco de
análises mais detalhadas, pois podem ser um fator determinante para a viabilidade econômica
da produção desse combustível. Entre os principais pode-se citar: glicerina, lecitina, farelo e a
torta de oleaginosa.
Entretanto praticamente inexistem estudos acerca do aproveitamento desses
subprodutos como elementos de viabilização da cadeia produtiva. Uma das contribuições
precursoras nesse sentido é a de Ferres (2003), a qual demonstra uma estimativa de custos do
biodiesel a partir do óleo de soja. Esse estudo aponta um custo de produção de biodiesel de
US$ 394,78 por tonelada. Como a reação de biodiesel gera em média um subproduto de 15%
de glicerina, estima-se que esse reduziria em US$ 77,79 o custo total por tonelada, passando o
custo de obtenção de uma tonelada de biodiesel para US$ 316,99.
Porém o autor não considera se essa diminuição no custo de fato se realizaria, pois não
aponta como essa oferta de glicerina adicional seria aproveitada pelo mercado. Então
procurar-se-á evoluir na discussão, demonstrando em um breve capítulo, como se compõe o
mercado internacional desse subproduto.
8. Conclusões
A geração de riqueza no mundo está assentada sob um padrão industrial intensivo
em energia, sendo que a principal fonte energética – o petróleo, deve ter suas reservas
exauridas em um período entre 40 e 50 anos. As empresas hoje têm o desafio de produzir
energia retirando da natureza o mínimo possível. Nossas fontes não são inesgotáveis, como se
pensava a 150 anos ou menos. Os últimos 300 foram marcados por três grandes ciclos de
fonte de energia. No século XIX foi o carvão, no século XX foi o petróleo e agora tem-se o
ciclo da biomassa (CASA CÍVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2005).
Um indicativo da consciência dos países sob essa questão é denotado através das
pesquisas e do desenvolvimento de fontes alternativas de energia, especialmente as que usam
a biomassa como fonte. Nesse sentido se ressalta o uso do biodiesel, o qual já é utilizado em
larga escala em países como a Alemanha.
O Brasil insere-se oficialmente nessa questão a partir da aprovação do marco
regulatório do biodiesel. O país possui uma grande vantagem comparativa em relação aos
países que já produzem biodiesel, que é a biodiversidade. Enquanto poderíamos produzir
biodiesel a partir de uma ampla gama de oleaginosas, com altos teores de óleo, a Alemanha
produz quase todo seu biodiesel a partir da colza, a qual não é uma oleaginosa com grande
teor de óleo.
As vantagens da inserção da cadeia produtiva do biodiesel na matriz energética
brasileira são muitas, porém é preciso qualificar a discussão. Uma das vantagens muito
ressaltadas é a economia de divisas que traria o biodiesel em substituição ao óleo diesel.
Entretanto a Petrobrás já produz cerca de 94% do total do diesel consumido no Brasil,
devendo em um curto prazo ser auto suficiente nesse combustível (ANP, 2005). Esse fato
remete a necessidade de se avaliar a questão mais criteriosamente, para não incorrer em gastos
desnecessários.
Para tanto se exemplifica a produção agrícola de grãos, a qual tem no comércio
exterior grande parte de sua venda. A obrigação a partir de 2008 da adição do biodiesel numa
proporção de 2% ao óleo diesel geraria uma necessidade de destinação fixa de oleaginosas
para esse fim. Isso levaria à necessidade de se garantir essa oferta, sob pena do programa
fracassar. Uma solução seria estabelecer contratos de produção com os agricultores que
garantissem que os mesmos destinassem sua produção para o biodiesel, obrigando-os a
sujeitar-se aos compromissos através de uma legislação regulatória específica. A fiscalização
poderia ser efetuada por um órgão regulador, o qual criaria uma Central de Informações para
o caso de agricultores que não cumprissem o contrato.
Estudos preliminares, como o de Ferres (2003) apontam que no início o biodiesel
provavelmente teria um custo de produção maior que o óleo diesel. Entretanto isso parece
uma questão que ocorrerá no período inicial, como já ocorreu com o etanol (álcool), que
segundo a “learning curve”, para esse produto, observou uma queda de US$ 700/m3 para
US$ 200/m3 no custo entre 1980 e 1998 (GOLDEMBERG, 2003).
Um dos elementos que podem viabilizar a produção do biodiesel são os subprodutos
gerados, para os quais inexistem estudos mais apurados acerca de fontes de uso alternativo.
Para tanto foi mostrado sinteticamente o potencial do mercado mundial da glicerina, o qual
poderia aportar um aumento da oferta interna desse produto no Brasil (a lecitina tem múltiplos
aproveitamentos na indústria e não parece que sua oferta possa constituir um grave problema;
quanto ao farelo, ele encontra ampla demanda no mercado mundial de rações para animais
confinados).
O mundo já entende o biodiesel como uma fonte de energia substitutiva do óleo
diesel, porém, especificamente no caso brasileiro, ainda há dúvidas, em relação à organização
das cadeias produtivas e com outros aspectos institucionais, as quais poderão ser minimizadas
com estudos acadêmicos, que contribuam assessorando os agentes de forma a potencializar as
oportunidades desse novo negócio.
Bibliografia
PARENTE, E. J.de S. et al. Biodiesel: uma aventura tecnológica num pais engraçado.
Fortaleza: Tecbio, 2003. 68p.