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O PERFIL DA PRESCRIÇÃO DE ANTIDEPRESIVOS DA CLASSE DOS

INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA (ISRS) EM UMA


FARMÁCIA NA CIDADE DE BAGÉ, RS1
Liliane Azeredo de Mello2
Ana Carolina Zago3

RESUMO

A depressão constitui-se num problema de saúde pública, caracterizada por uma variedade de
distúrbios psicopatológicos que diferem consideravelmente quanto a sintomatologia, gravidade, curso
e prognóstico. O objetivo deste estudo foi identificar, entre os ISRS constantes nos receituários, a
frequencia de prescrições entre os tipos existentes, numa farmácia de Bagé, RS. Os dados
levantados com a pesquisa revelaram que a prescrição de ISRS é significativamente superior aos
demais antidepressivos e ao se fazer uma avaliação geral entre todos os IRSS prescritos, é possível
constatar, tanto em números absolutos como em percentuais a significativa diferença da Fluoxetina
sobre os demais. A Fluoxetina foi o ISRS mais utilizado e a dosagem utilizada em todos os casos foi
de 20mg diárias. A justificativa encontrada para esses dados podem estar na menor agressão ao
organismo, com menor incidência de efeitos colaterais, que surgem apenas no início do tratamento,
desaparecendo com o tempo, bem como a posologia fácil, que exige a ingestão de apenas um
comprimido diário.
Palavras chave: antidepressivos; ISRS; depressão; Fluoxetina; fármaco.

ABSTRACT

The depression constitutes a public health problem characterized by a variety of psychopathological


disorders that differ considerably in their symptoms, severity, course and prognosis. The aim of this
study was to identify, among SSRI prescriptions contained in the frequency of prescriptions between
existing types, a pharmacy in Bage, Brazil. The data collected with the survey revealed that the
prescription of SSRI is significantly superior to other antidepressants and to make a general
assessment of all the SSRIs prescribed, it can be seen, both in absolute numbers and percentages in
the significant difference of Fluoxetine on the other. Fluoxetine is the SSRI most commonly used and
the dosage used in all cases was 20mg daily. The reason found for this data may be less aggression
in the body, with a lower incidence of side effects that emerge only at the beginning of treatment,
disappearing with time and dosage easy, requiring the ingestion of a daily pill.
Keywords: antidepressants, SSRIs, depression, Fluoxetina; drug.

Introdução

A tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda,


derrota, desapontamento e outras adversidades (FORTES et al., 2008). Conforme
Peron et al. (2004), guerras, epidemias, desemprego, divórcios e outros
acontecimentos classificam o século XXI como o século dos deprimidos. Para Souza
et al. (apud PERON et al., 2004), o conceito de depressão engloba uma variedade
de distúrbios psicopatológicos que diferem consideravelmente quanto a
sintomatologia, gravidade, curso e prognóstico.

1
Artigo apresentado ao Curso de Especialização em Farmácia Comunitária da URCAMP, como
requisito parcial para conclusão do curso.
2
Farmacêutica Generalista pela URCAMP.
3
Orientadora do trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Farmácia Comunitária.
Normalmente, o tratamento dos estados depressivos é realizado de forma
única com terapia medicamentosa, ou pelo menos esta á a principalmente
ferramenta utilizada, sendo os antidepressivos. Tendo como tema o perfil da
prescrição de antidepressivos no município de Bagé, RS, este trabalho tem como
objetivo geral do estudo identificar, entre os ISRS constantes nos receituários, a
frequencia de prescrições entre os tipos existentes, numa farmácia de Bagé, RS,
tendo como base estudos anteriores em centros populacionais maiores, como os
realizados por Campigotto (2008), Perón et al. (2004), Del Porto (1999), é de que a
Fluoxetina seja o ISRS mais dispensado.
Vários estudos, entre os quais citam-se os de Grevet e Cordioli (2001),
Maggioni et al. (2008), Nardi (1999), Scalco et al. (2005) e Terroni (2003), indicam
um maior número de prescrições de ISRS para o tratamento dos diversos tipos de
síndromes depressivas e sintomas de depressão na população em geral, sendo
justificado este fato pelas várias indicações terapêuticas desses fármacos.
Conforme Alvarez (2006), altera a maneira como a pessoa vê o mundo e
sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o
prazer com a vida. Lafer et al. (2010) descrevem a depressão como um transtorno
do humor grave freqüente, e ocorre em todas as faixas etárias, sendo que as taxas
parecem estar aumentando entre jovens e idosos. O conceito de depressão engloba
uma variedade de distúrbios psicopatológicos que diferem consideravelmente
quanto à sintomatologia, gravidade, curso e prognóstico (SOUZA et al., 2001).
A depressão, de acordo com Ballone (2007), é essencialmente um transtorno
episódico e recorrente, isto é, que se repete. De modo geral, Masci (2000)
argumenta que a depressão abrange alterações normais do humor diante de perdas
ou outros problemas de natureza emocional ou ainda, manifestação de doenças
físicas, bem como efeito colateral de medicamentos que o paciente esteja utilizando.
Pela medicina, a depressão é entendida por Strian e Klicpera (2004), mais
como um mal funcionamento cerebral do que má vontade psíquica, ou uma cegueira
mental para as coisas boas que a vida pode oferecer, ou uma falta de ter o que
fazer. Goodman e Gilman (2006) e Fortes et al. (2008) argumentam que os fatores
biológicos envolvidos no mecanismo da depressão estão relacionados a alterações
cerebrais das monoaminas (serotonina, nor-adrenalina e dopamina), principalmente
nor-adrenalina e serotonina conforme Lafer (2006).
Stahl (2008) e Lafer (2006) afirmam que esta teoria apresentada é das
monoaminas e foi formulada por Schildkraut em 1965, que referia a depressão como
o resultado da diminuição de monoaminas no sistema nervoso central. Mas hoje se
aceita mais a idéia de que o aumento da disponibilidade de neurotransmissores
melhora o quadro depressivo, que é o que fazem os antidepressivos e, de acordo
com Alvarez (2006) e Fava (2003), isso parece indiscutível. Em situação normal,
sem depressão, o número de neuroreceptores no neurônio 2 (pós-sináptico) é
normal (STAHL, 2002). Na depressão, na medida em que escasseiam os
neurotransmissores, aumentam os neuroreceptores (BERNIK, 2002; STAHL, 2002).
De acordo com Grevet e Cordioli (2001), apesar das novas e esperançosas
hipóteses mais modernas, vários neurotransmissores (serotonina, noradrenalina,
dopamina, GABA, acetilcolina) e neuropeptídeos (somatostatina, vasopresina,
colecistocinina, opióides endógenos, etc) continuam se relacionando atualmente, de
uma forma direta ou indireta, na patogenia dos transtornos afetivos. Contudo, O
tratamento da depressão só deve ser iniciado depois de um correto diagnóstico da
doença, uma vez que, segundo o DSM IV-TR (2002), é difícil fazer a distinção entre
depressão, a tristeza e o luto.
A depressão, se não tratada corretamente, pode perdurar por muito tempo,
com sério prejuízo à vida do paciente: trabalho, família e lazer ficam muito
comprometidos, juntamente com um risco maior de suicídio (FORTES et al., 2008).
Conforme Alvarez (2006), é sempre importante ter-se em mente que os sintomas
ansiosos e físicos desaparecerão com o tratamento da depressão na expressiva
maioria dos casos, sem necessidade de ansiolíticos e/ou medicamentos
sintomáticos.
A escolha do tratamento para a depressão deve, conforme Perón et al.
(2004), ser feita a partir da análise dos fatores clínicos, pelas características do
estados depressivo, pelos fatores que desencadeiam o episódio depressivo e
também pelos antecedentes familiares (PERON et al. 2004; SCALCO, 2003). Para
Lafer et al. (2010), dois pontos fundamentais no tratamento com qualquer
antidepressor são apresentados de forma clara: tempo correto de uso e dose
adequada. Todo antidepressor apresenta um período de latência para o efeito
terapêutico. Antidepressivo é uma substância considerada eficaz na remissão de
sintomas característicos da síndrome depressiva, em pelo menos um grupo de
pacientes com transtorno depressivo (BRASIL e BELISÁRIO FILHO, 2008).
A ação terapêutica das drogas antidepressivas tem lugar no sistema límbico,
o principal centro das emoções (LAFER, 2010). Este efeito terapêutico é
conseqüência de um aumento funcional dos neurotransmissores na fenda sináptica,
principalmente da Norepinefrina (NE) e/ou da Serotonina (5HT) e/ou da dopamina
(DO), bem como alteração no número e sensibilidade dos neuroreceptores (BRASIL
e BELISARIO FILHO, 2000).
Os ADT são os antidepressivos mais usados em crianças. No entanto,
Trallero (2008), diz que esse predomínio parece ser só uma questão de tempo.
Devido ao perfil de menor risco e aos efeitos colaterais, os ISRS estão substituindo
rapidamente os ADT nas suas indicações e pesquisas. Os inibidores da
monoaminoxidase (IMAO) são medicamentos que apresentam interações
medicamentosas importantes, por isso não são tão utilizados atualmente. Podem
interagir com alimentos como queijo, salame, vinho tinto e gerar quadro de
hipertensão grave. Logo, são potencialmente fatais (GOODMAN e GILMAN, 2006).
De acordo com Rang et al. (2003), os antidepressivos atípicos formam um
grupo heterogêneo, possuem ações que não se enquadram nas teorias
monoaminérgicas das doenças afetivas. Não possuem mecanismo de ação comum
e atuam principalmente como antagonistas não-seletivos dos receptores pré-
sinápticos. Já os ISRS são a classe de antidepressivos mais prescrita no mundo.
São drogas relativamente novas e seguras mesmo em doses elevadas, bem
toleradas e com perfil de efeitos colaterais leves (SCALCO, 2003).
De acordo com Rang et al. (2003), a ação antidepressiva dessa classe de
antidepresivos deve-se à inibição da captação neuronal de serotonina pelo sistema
nervoso central. Conforme Moreno et al. (2003), os ISRS inibem de forma potente e
seletiva a recaptação de serotonina, resultando em potencialização da
neurotransmissão serotonérgica. Segundo Melo e Moreno (2008), a potência da
inibição de recaptação da serotonina é variada, assim como a seletividade por
noradrenalina e dopamina. sertralina e paroxetina são os mais potentes inibidores de
recaptação. A potência relativa da sertralina em inibir a recaptação de dopamina a
diferencia farmacologicamente dos outros ISRS.
Os ISRS possuem ação seletiva que bloqueia a recaptação de serotonina nos
receptores 5-HT, 5HT2 e 5-HT3, aumentando a concentração de serotonina na
fenda simpática (SOUZA, 2001; VEIGA, 2003). Já Goodman e Gilman (2003)
argumentam que há suspeitas de que a estimulação dos receptores 5-HT3 possa
contribuir nos efeitos adversos comuns desta classe de fármaco e para o risco de
agitação ou inquietação algumas vezes induzida por inibidores da recaptação da
serotonina. Vários autores citados por Teles-Correia et al. (2003) confirmam que a
dessensibilização está na origem do desaparecimento dos efeitos secundários;
assim, os efeitos terapêuticos possivelmente devam-se a uma atividade
serotoninérgica prolongada aumentada em diferentes subtipos de receptores
daqueles que medeiam os efeitos secundários.

Metodologia

Trata-se de um estudo observacional retrospectivo, de caráter exploratório,


realizado entre os meses de dezembro 2010 e janeiro de 2011, abrangendo os
receituários emitidos entre abril de 2009 e abril de 2010. A amostra do estudo foi
composta por todos os receituários emitidos entre os meses de abril de 2009 a abril
de 2010 e arquivados no local do estudo. Destes, foram selecionados todos os
receituários com prescrição de antidepressivos, totalizando 1327 prontuários com
prescrição de fármacos antidepressivos, sendo que destes, 744 referiam-se a ISRS,
367 eram ADT, 92 pertenciam à classe dos IMAO e 24 eram de outros tipos.
Os dados foram coletados através do levantamento dos receituários
controlados de medicamentos ISRS no local de estudo, levando em considerações
as seguintes variáveis: princípio ativo, concentração e posologia. Foi feita anotação
em planilha própria, elaborada pela pesquisadora, contendo as informações que
foram analisadas no estudo, a partir do que foi calculada a frequencia de utilização
de ISRS no período do estudo, por meio da divisão da quantidade pelo número de
meses da análise.

Resultados e Discussão

Os dados levantados com a pesquisa revelaram que a prescrição de ISRS é


significativamente superior aos demais antidepressivos.

1,81%
Frequência

6,93%
35,19%

56,07%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00%

ISRS ATC IMAO Outros

Gráfico 1. Proporção da prescrição de antidepressivos em percentual.

Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são uma classe


de fármacos usados no tratamento das síndromes depressivas, transtornos de
ansiedade e alguns tipos de transtorno de personalidade (STAHL, 2002). São a
primeira classe de fármacos psicotrópicos a serem racionalmente desenhados, e
são os antidepressivos mais amplamente prescritos em muitos países (BRASIL,
2005; GREVET e CORDIOLI, 2001; TERRONI, 2003).
Neste estudo, estes dados se confirmam, tendo em vista que a maioria das
prescrições consultadas no ambiente de pesquisa mostrou prevalência dos ISRS
sobre os demais antidepressivos. Por outro lado, de acordo com Campigotto (2008)
e Fava (2003), cerca de 50 a 60% dos pacientes obtêm adequada resposta ao
tratamento com antidepressivos, sendo que 80 a 90% com tratamentos associados.
Contudo, Maggioni et al. (2008) e Terroni (2003) salientam que quanto melhor a
ação do fármaco e menos efeitos colaterais ele proporcionar, maior sua eficiência,
razão pela qual os ISRS têm sido os preferidos nas prescrições antidepressivas.
O grande consumo (prescrição) de ADT é justificado por Campigotto (2008) e
Guimarães (apud MAGGIONI et al., 2008) pelo seu uso em outras condições
psiquiátricas que não a depressão, e também em outras patologias, como
enxaqueca, enurese, bulimia, dor crônica e tensão pré-menstrual. Moreno et al.
(2003), Souza (1999) e Terroni (2003) justificam também pelo seu baixo custo em
relação às outras classes, visto que o tratamento é contínuo por meses e seu custo
altera o orçamento mensal do individuo.
Como qualquer droga antidepressiva, os inibidores seletivos da recaptação de
serotonina demoram pelo menos duas semanas para começarem a fazer efeito e até
oito semanas para atingirem seu potencial máximo (CAMPIGOTTO, 2008; NARDI,
1999; SOUZA, 1999; RANG et al., 2003).
Um dos fatos que pode determinar a maior prevalência dos ISRS nas
prescrições relatado por Moreno et al. (2003) é que eles são menos perigosos que
os tricíclicos (ADT) e não causam efeitos secundários autônomos (MAGGIONI et al.,
2008), mas são possivelmente menos eficazes em casos de depressão profunda
(MORENO et al, 2003). Em relação aos ADTs, os efeitos colaterais dos ISRS são
menos intensos e freqüentes, pela sua baixa afinidade aos receptores colinérgicos,
noradrenérgicos e histamínicos (BRASIL e BELISARIO FILHO, 2000).
Estudos realizados por períodos de até um ano demonstram que a maioria
dos ISRS não causa ganho de peso, ao contrário do que ocorre em muitos pacientes
em uso de antidepressivos tricíclicos (ALVAREZ, 2006). Souza (1999) complementa,
afirmando que o modo mais eficiente de tratar a depressão tem sido relacionado
com uso de tricíclicos ou inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), o
que permite que as drogas sejam administradas uma vez por dia, com exceção dos
tricíclicos que, apesar de meia vida em torno de 24 horas, devido aos efeitos
colaterais, são administrados de duas a três vezes por dia.
Perón et al. (2004) salientam que o custo inicial dos antidepressivos tricíclicos
ainda continua mais baixo do que o de outros antidepressivos. Porém, Souza (1999)
salienta que se forem computados os custos totais do tratamento (horas de
atendimento, dias perdidos, etc), os antidepressivos mais modernos ficam mais
baratos. Mesmo com poucos estudos quanto à eficácia e à segurança a curto e
longo prazo em crianças e adolescentes, os ISRS vem substituindo os ADTs por não
oferecerem risco de cardiotoxicidade e de letalidade por superdosagem (BRASIL e
BELISÁRIO FILHO, 2008).
Dentro dos ISRS, investigou-se qual aparecia nos receituários com maior
prevalência, aparecendo a Fluoxetina com enorme diferença em todos os anos
pesquisados (Gráficos 2 e 3).
25 21 22 22
20 19 19 20
18 17
20 30 21
15 10 9 11 18 19

10 6
98 787 6 656
9
6
98 8 9
6 6
98
65
9 9
7 8 7 66 8 6 5 20 14 11 12
4 8 9 11 8 7 8 9 8 8 7 8
5 10 5 6 6

0
o 0

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Ag

ar
ze
te

ne
ut

ve

M
ve
Se

De

Ja
No

Fe
Citalopram Fluoxetina Paroxetina Citalopram Fluoxetina Paroxetina
Sertralina Venlafaxina Sertralina Venlafaxina

Gráfico 2 e 3. Tipos de ISRS mais prescritos em 2009 e 2010.

Nos transtornos depressivos, os ensaios clínicos randomizados (ECR), seja


com ADTs ou com ISRS, ainda são poucos e seus resultados contraditórios
(TRALLERO, 2008). Uma extensa revisão de ensaios clínicos conduzidos com
crianças deprimidas mostra que nos quatro estudos abertos, usando controle
plasmático de ADTs, as crianças apresentaram melhora clínica, enquanto estudos
similares em adolescentes evidenciaram resposta negativa (BRASIL e BELISÁRIO
FILHO, 2008). Além disso, de nove ECR com ADTs (BALLONE, 2007a) e um único
com fluoxetina (TRALLERO, 2008), nas duas faixas etárias, só um com ADT
conseguiu demonstrar eficácia em relação ao placebo.
Uma maior evidência da prevalência da Fluoxetina como ISRS de eleição no
tratamento dos transtornos depressivos pode ser visualizado no gráfico que expõe a
proporção em percentuais da prescrição desse tipo de fármaco neste estudo
(Gráfico 4).

12,90%
Frequência

12,90%
13,44%
13,58% 47,18%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00%

Fluoxetina Citalopram Paroxetina


Sertralina Venlafaxina

Gráfico 4. Proporção da prescrição de antidepressivos ISRS em percentual.

Recentemente, um ECR conduzido por Rey-Sanches et al. (apud BALLONE,


2007), demonstrou eficácia da fluoxetina, na dose de 20 mg/dia, em crianças
deprimidas, e poucos efeitos colaterais foram registrados. Num ensaio clínico aberto
em crianças com depressão maior, relatado por Brasil e Belisário Filho (2008), foi
observada melhora clínica e boa tolerância à paroxetina com doses variando entre
10 mg e 20 mg (dose média: 16,2 mg/dia).
Na prática, Cammarota (2010) e Campigotto (2008) referem os ADTs e os
ISRS com o fármacos indicados nos transtornos depressivos quando a manifestação
é grave, traz sofrimento, prejuízos (no âmbito pessoal, social e escolar) e riscos para
o paciente desse grupo etário. Cheniaux (2005) comenta que geralmente este tipo
de medicação é empregado junto a outras intervenções terapêuticas (psicoterapia
de base analítica, cognitivo-comportamental, atendimento à família, orientação a
professores, entre outras).
Martin et al. (apud BRASIL e BELISARIO FILHO, 2008) apresentam
minuciosa árvore decisória para o tratamento de depressão maior. Nos casos leves
e moderados, sugerem abordagens psicoterápicas e, nos casos graves, o uso de
ISRS (fluoxetina/paroxetina). Para Cheniaux (2015), os ADTs, pelos efeitos
cardiotóxicos, ficam reservados para casos refratários ou, como segunda opção,
quando houver comorbidade com TDAH, tiques ou transtornos de ansiedade.
A Fluoxetina foi o ISRS mais utilizado e a dosagem utilizada em todos os
casos foi de 20mg diárias. Cammarota (2010) salienta que a fluoxetina é um
antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina, cujas principais indicações são
o tratamento da depressão, do transtorno obsessivo-compulsivo e da bulimia
nervosa. Cheniaux (2005), Grevet e Cordioli (2001) e Moreno et al. (2003)
comentam que a dose geralmente usada varia entre 20 e 80mg ao dia. O ajuste da
dose depende dos benefícios e efeitos colaterais que o paciente estiver passando.
Cammarota (2010) e Moreno et al. (2003) salientam que pacientes que tenham
alcançado um benefício satisfatório com 20mg não terão motivo para elevar a dose.
A fluoxetina foi o primeiro ISRS lançado no mercado (SCALCO, 2003) e a sua
fácil posologia de um comprimido por dia e o seu perfil de efeitos adversos leves,
principalmente quando comparado às drogas existente na época, tornaram-na
rapidamente a segunda droga mais vendida nos EUA durante o início da década de
90 e o principal antidepressivo no mundo (BIEDERMAN, 2001).
A dose efetiva da fluoxetina relatada por Moreno et al. (2003) e Stahl (2002) é
20mg por dia, dosagem encontrada nos receituários levantados neste estudo,
quantidade capaz de manter até 80% da serotonina cerebral atuando por mais
tempo. É importante lembrar que seu efeito clínico só começa a ser relevante a partir
da terceira semana de uso (SOUZA, 1999).
Pacientes que não respondem até seis semanas podem ter sua dose elevada
progressivamente até o máximo de 80mg/dia (CAMPIGOTTO, 2008). Quando
suspensa, a fluoxetina ainda permanece viável na circulação por mais 4-6 dias,
sendo a droga desta classe com maior meia-vida (FORTES et al., 2008). Já existe
uma nova formulação de fluoxetina que pode ser tomada uma vez por semana
(FAVA, 2003).

Conclusão

O antidepressivo é uma droga de origem psiquiátrica indicada no tratamento


dos transtornos do estado do ânimo e do humor. Este estudo, ao investigar o uso de
antidepressivos da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina
(ISRS) mostrou uma prevalência significativa da Fluoxetina sobre os demais
fármacos desta classe, resultado que também foi encontrado por outros estudos
avaliados nesta pesquisa.
A justificativa encontrada para esses dados podem estar na menor agressão
ao organismo, com menor incidência de efeitos colaterais, que surgem apenas no
início do tratamento, desaparecendo com o tempo, bem como a posologia fácil, que
exige a ingestão de apenas um comprimido diário.
Sendo que a principal variável relacionada à não adesão dos pacientes ao
tratamento dos transtornos depressivos são os efeitos colaterais, a busca constante
da redução dos efeitos colaterais é fundamental para o êxito do tratamento. Assim,
os dados deste estudo encaminham à conclusão de que a Fluoxetina é o
antidepressivo da classe dos ISRS mais prescrito tendo em vista justamente o que
foi exposto sobre sua menor carga de efeitos colaterais, bem como pela sua
posologia, facilitada pela ingestão diária de uma dose única do medicamento.

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