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Editorial

Ficar ou partir

A crise que tem feito crescer o número de desempregados no concelho de


Montemor-o-Novo ao longo dos últimos anos está a afastar os montemorenses da
sua terra Natal. Como tem sido visível, a quantidade de pessoas que acaba por
deixar esta cidade é cada vez maior.
Depois de termos assistido a algum crescimento no sector dos serviços, devido à
abertura de vários balcões de entidades bancárias e de várias superfícies
comerciais, que conseguiram dar emprego a um vasto conjunto de pessoas, hoje
não surgem novas oportunidades de emprego.
Nos momentos de crise os mais pequenos e os mais fracos são aqueles que mais
sofrem. Para as regiões, e mesmo para os países, a situação é idêntica, por isso, um
concelho do interior de um país pequeno, num momento como aquele que se está
a viver não consegue ter uma perspectiva de desenvolvimento positiva. É nos
momentos de crise que as debilidades estão mais à flor da pele, que os pontos
fracos superam os pontos fortes, e que as dificuldades são, de facto, maiores. Por
isso, a decisão de deixar este concelho e partir à procura de um futuro melhor
acaba por ser uma solução para muitas pessoas. Mas partir não é uma decisão fácil,
implica passar por um conjunto de situações e de sentimentos fortes.
Se para os mais novos ir estudar para fora do concelho é algo relativamente normal,
para quem tem uma vida estável neste concelho e se vê forçado a partir, a
situação não é tão linear, por isso, esta não é uma decisão que se tome com

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facilidade. Partir pode significar deixar para trás a família, os amigos, e toda uma
comunidade, para rumar para uma cidade ou local relativa ou totalmente
desconhecido, onde praticamente não se conhece ninguém e onde é necessário,
muitas vezes, começar tudo de novo.
O concelho de Montemor, e praticamente todos os demais concelhos do interior do
país, estão a perder população a um ritmo que é difícil de contrariar. Com as ofertas
de emprego a diminuir, os mais novos, que procuram um primeiro local para
trabalhar, acabam por partir para onde ainda existem postos de trabalho
disponíveis, junto do litoral ou mesmo para outros países. Aqueles que hoje passam
pelas universidades e contactam com o programa ERASMUS têm uma experiência
no estrangeiro bastante cedo, o que certamente permite estabelecer relações e
contactos com outros locais e outras pessoas, o que pode facilitar a obtenção de
um emprego.
Convém salientar que um estudante que termina uma licenciatura numa
universidade pública custou ao Estado, ao longo de toda a sua formação, cerca de
75.000 Euros, por isso, estamos todos a investir em estudantes que, com pouco
trabalho, vão deixar o seu valor acrescentado e o retorno desse investimento noutros
países que em nada contribuíram para a sua formação. A Alemanha já avisou que
está bastante receptiva à entrada de engenheiros vindos de outros países para
trabalhar nas suas empresas, o que, para quem acaba agora um curso é um
aliciante atractivo.
Inverter esta situação tem necessariamente que implicar alterações políticas
significativas. Ao longo das últimas décadas pouco foi feito para travar o abandono
do Alentejo, sendo essa premissa algumas vezes assumida pelos próprios
governantes. Apesar de ocupar um terço do país, a fraca densidade populacional
implica também um fraco peso político. Com poucos deputados na Assembleia da
República, é difícil os alentejanos fazerem-se ouvir e impor as suas reivindicações e,
com o andar da carruagem, no futuro ainda vai ser mais difícil. Se tivermos menos
pessoas seremos cada vez menos relevantes.
Face à queda do governo de José Sócrates, o país vai de novo a eleições no dia 5
de Junho, num dos mais difíceis cenários económicos e sociais que já tivemos desde
o 25 de Abril, pelo que, em matéria de investimentos públicos e privados e
consequente criação de postos de trabalho não há muito a esperar, a não ser por
melhores dias.

A.M. Santos Nabo


Abril 2011

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