You are on page 1of 18

1.

O QUE HÁ DE ESPECIAL

Segundo o livro Saberes e Práticas da Educação, promovido pelo MEC (2003),


a Educação Especial é vista atualmente no Brasil com uma definição mais aberta, indo além do
ponto de vista que visava simples atendimentos especializados. Segundo a nova LDB, trata-se de
um tipo de educação escolar mirando a formação do sujeito, fazendo com que o mesmo fique
ciente e exerça sua cidadania. Como prática complementar e única do sistema educacional,
realiza-se diretamente em todos os níveis de ensino, nas instituições escolares cujo projeto,
organização e prática pedagógica devem respeitar a heterogeneidade dos alunos, a estabelecer
mudanças nas ações pedagógicas que contemplem as necessidades educacionais de todos. Os
atendimentos educacionais especiais não devem ocorrer sozinhos, mas sim atrelados a outras
práticas educacionais para que não segreguem ainda mais estas pessoas. O diagnóstico de várias
pesquisas brasileiras mostra que há intenção de que a educação especial seja considerada um
subsistema, integrando-a com o ensino regular. “Sua ação transversal permeia todos os níveis de
educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação superior, bem como as demais
modalidades de educação de jovens e adultos e educação profissional”. (MEC, 2003)
A atenção à diversidade do grupo escolar é necessária pois somente com a
observação é possível conhecer as reais necessidades e anseios desse grupo. Tal atenção “está
focalizada no direito de acesso à escola e visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem
para todos, irrestritamente, bem como as perspectivas de desenvolvimento e socialização”.
(MEC, 2003) Nesse ponto, a escola traz o respeito às diferenças, fazendo com que tais diferenças
se transformem em fatores de aprimoramento e não de defasagem. A diferença contida no
ambiente escolar não se resume somente às pessoas que possuem algum déficit físico ou mental.
“A expressão “necessidades educacionais especiais” pode ser utilizada para referir-se a crianças e
jovens cujas necessidades decorrem de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para
aprender” (MEC, 2003). Nesse quadro podem ser mostradas também, em várias situações de
dificuldades de aprendizagem, como decorrência de condições individuais, econômicas ou
socioculturais dos alunos: crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e
sensoriais diferenciadas; crianças com deficiência e bem dotadas; crianças trabalhadoras ou que
vivem nas ruas; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias lingüísticas,
étnicas ou culturais; crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados.
O termo “necessidades educacionais especiais” surgiu para evitar os efeitos negativos
de expressões utilizadas no contexto educacional dos deficientes, excepcionais,
subnormais, superdotados, infradotados, incapacitados etc. Não para referir-se aos
alunos com altas habilidades/superdotação, aos portadores de deficiências cognitivas,
físicas, psíquicas e sensoriais. Tem o propósito de deslocar o foco do aluno e direciona-
lo para as respostas educacionais que eles requerem, evitando enfatizar os seus atributos
ou condições pessoais que podem interferir na sua aprendizagem e escolarização. É
uma forma de reconhecer que muitos alunos, sejam ou não portadores de deficiências
ou de superdotação, apresentam necessidades educacionais que passam a ser especiais
quando exigem respostas específicas adequadas.
O que se pretende resgatar com essa expressão é o seu caráter de funcionalidade, ou
seja, o que qualquer aluno pode requerer do sistema educativo quando freqüenta a
escola. Isso requer uma análise que busque verificar o que ocorre quando se transforma
as necessidades especiais de uma criança numa criança com necessidades especiais.
Com freqüência, necessitar de atenção especial na escola pode repercutir no risco de
tornar-se um portador de necessidades especiais. Não se trata de mero jogo de palavras
ou de conceitos. (MEC, 2003)

Portanto, ao se falar em necessidades educacionais especiais, necessita-se


deixar um pouco de lado as necessidades específicas do aluno, visando o que a escola pode fazer
para dar respostas a estas necessidades. “Não se nega o risco da discriminação, do preconceito e
dos efeitos adversos que podem decorrer dessa atenção especial. Em situação extrema, a
diferença pode conduzir à exclusão”. (MEC, 2003) Tal exclusão pode ser tanto devido à
diversidade quanto ao desafio pessoal de conviver com portadores de necessidades educacionais
especiais. A confusão das mesmas com o fracasso escolar é um fator que necessita de atenção dos
educadores, pois o fracasso escolar se dá através de vários fatores e, até mesmo após várias
discussões sobre investigações científicas, não chegou-se a alguma resposta eficiente “para a sua
solução enquanto fenômeno internacional marcado por influências socioculturais, políticas e
econômicas, além de razões pedagógicas”. (MEC, 2003)
As classificações costumam ser adotadas para dar dinamicidade aos procedimentos e
facilitar o trabalho educacional, conquanto isso não atenue os efeitos negativos do seu
uso. É importante enfatizar, primeiramente, as necessidades de aprendizagem e as
respostas educacionais requeridas pelos alunos na interação dinâmica do processo de
ensino-aprendizagem. Identificar as necessidades educacionais de um aluno como
sendo especiais implica considerar que essas dificuldades são maiores que as do
restante de seus colegas, depois de todos os esforços empreendidos no sentido de
superá-las, por meio dos recursos e procedimentos usuais adotados na escola. A
concepção de especial está vinculada ao critério de diferença significativa do que se
oferece normalmente para a maioria dos alunos da turma no cotidiano da escola. (MEC,
2003)

1.1. Surdez e Deficiência Auditiva

Perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala por


intermédio do ouvido. Manifesta-se como:
∙ surdez leve / moderada: perda auditiva de até 70 decibéis, que dificulta, mas não
impede o indivíduo de se expressar oralmente, bem como de perceber a voz humana,
com ou sem a utilização de um aparelho auditivo;
∙ surdez severa / profunda: perda auditiva acima de 70 decibéis, que impede o
indivíduo de entender, com ou sem aparelho auditivo, a voz humana, bem como de
adquirir, naturalmente, o código da língua oral. Tal fato faz com que a maioria dos
surdos optem pela língua de sinais. (MEC, 2003)

1.1.1. O diagnóstico

O primeiro e maior obstáculo que a criança com surdez (adquirida desde a


gestação ou nascimento) e a deficiência auditiva (adquirida no decorrer da vida, após ser
oralizado) enfrenta é o preconceito, que na maioria das vezes ocorre em sua própria família.
É mais fácil se perceber uma surdez severa ou profunda do que uma leve ou
moderada, portanto os pais devem observar atentamente as primeiras semanas de vida de seu
filho e, surgindo qualquer dúvida a respeito de seu desenvolvimento auditivo (se a criança não
assusta com barulhos altos e bruscos ou se não reage ao ouvir a voz da mãe), devem procurar
imediatamente o pediatra de rotina. Após a confirmação de alguma anomalia com o aparelho
auditivo, o pediatra encaminha imediatamente a criança para um fonoaudiólogo ou outro
especialista.
Quanto antes se dá o diagnóstico, maiores são as chances de aceitação dessa
disparidade pela família e principalmente pela própria criança. Mas, na maioria dos casos, o
auxílio ou até a percepção da surdez só é efetuado quando a criança entra na escola, o que retarda
consideravelmente seu desenvolvimento.

1.1.2. Como ocorre

São muitas as causas da surdez, sendo que “em cerca de cinqüenta por cento
dos casos, a origem da deficiência auditiva é atribuída a ‘causas desconhecidas’” (CARVALHO;
REDONDO, 2000, p.08)
Durante a gestação, a mãe poderá transmitir geneticamente a surdez para o
filho, principalmente quando existem casos na família. Além da genética, a mãe pode, ainda na
gestação, contrair Rubéola, Sífilis, Toxoplasmose, Doença de Inclusão Citomegálica, Herpes ou
ter incompatibilidade sanguínea com o filho, acentuando a possibilidade da criança nascer surda.
Na hora do parto, a hipóxia é também considerada um fator de risco. A prematuridade, ruídos
muito altos perto da criança nas primeiras semanas de vida, Caxumba, Sarampo, Meningite, ou a
ingestão de medicamentos ototóxicos são algumas causas que podem afetar o aparelho auditivo
após o nascimento.
Por isso é fundamental que a mãe esteja atenta durante a gestação e nos
primeiros anos de vida de seu filho, recebendo orientações médicas periódicos, estando com a
vacinação em dia e se alimentando direito, pois uma nutrição materna deficiente pode resultar em
malformações no organismo do bebê, retardo mental, deficiência auditiva, malformações da
medula e do coração.

1.1.3. O que fazer

Primeiramente é preciso fazer um diagnóstico mais detalhado sobre o caso


específico da criança:
• qual o grau da perda auditiva – leve, moderada, severa ou profunda;
• se a criança recebeu atendimento especializado (e foi indicada a utilização de
aparelho de amplificação sonora individual);
• se foi detectada nos primeiros anos de vida, e qual a reação da família e que tipo de
assistência ela recebeu;
• se a surdez se instalou antes ou depois do nascimento, ou durante o parto;em que fase
isso aconteceu;
• como a audição foi estimulada, desde o início;
• se a surdez está ou não associada a outra deficiência, ou a problemas de saúde.
(CARVALHO; REDONDO, 2000, p.10 )
A partir da análise deste diagnóstico, a família é aconselhada para que tipo de
tratamento ou qual caminho a criança deve seguir para levar uma vida normal e feliz.
As primeiras noções de sentimento e emoções quem passa para o nenê é a
mãe, que elabora um significado simbólico para aquilo que a criança necessita, respondendo com
uma palavra carinhosa, um sorriso ou um toque, fazendo com que a criança elabore também um
significado para o sentimento que experimentou. É dever principal da mãe observar seu filho,
pois o contato mais freqüente e intenso do nenê ocorre com ela, que mesmo estando juntos a todo
momento, pode perceber a surdez de seu filho somente a partir do primeiro ou segundo ano de
vida (como ocorre geralmente). Nesse caso, a resposta da mãe para as necessidades do filho pode
se tornar nula, podendo provocar até um sentimento de abandono, pois a criança só se sentirá
segura quando a mãe estiver na sua frente, já que a criança surda necessitará de sorrisos ao invés
de falas e de carinho ao invés de músicas.
A mãe que conhece a surdez de seu filho precocemente usa muito pouco ou até
abole a fala de seu relacionamento materno. Os pais “devem compreender que há outras formas
de comunicação com o bebê” (CARVALHO; REDONDO, 2000, p.18) e, caso queiram utilizar a
oral, que falem de frente para ele, para que ele consiga ver os seus lábios, pois o trabalho com os
pais é tão importante quanto o trabalho com a criança.

1.1.4. Socializando e construindo uma identidade

A socialização acontece antes dos 3 anos, mas se consolida apenas dos 4 aos 6
anos. A criança começa a escolher com quem prefere brincar, filtrando suas amizades. Com a
criança surda não é diferente e é nessa fase que devemos observar a relação dessa criança com as
outras, como se dá a comunicação delas, para que então possa se encaminhar essa criança para
um ensino comum ou para um ensino especializado (classe especial e escola).
Para se desenvolver a comunicação nos surdos, utiliza-se alguns métodos
como:
• Método oral unissensorial: estimula o uso da audição, não permite a
leitura labial nem a língua de sinais. Exemplos: método Pollack e método Perdoncini.
• Método oral multissensorial: baseia-se na utilização de todos os sentidos,
na audição com o uso de aparelhos auditivos, o tato, a visão para a leitura labial mas também não
permite a língua de sinais. Exemplos: método áudio-visual de linguagem.
• Método de comunicação total: o intuito desse método é que haja a
comunicação, independente da forma que ocorra: escrita, mostrando imagens, através de sinais,
leitura labial, ou misturando tudo adequando-se ao emissor e ao receptor da mensagem.
• Bilingüismo: o uso da língua oral e de sinais (Libras) sem que uma
interfira com a outra. Já que devem ser utilizadas separadas.
Complementa-se esses métodos com repetidas formas de dramatizações,
brincadeiras de faz-de-conta, jogos, desenhos e histórias, para que assim o surdo entenda melhor
como funciona o mundo dos ouvintes, fazendo desse mundo tão distante o seu lar.

1.2. Deficiência Visual

É a redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho e após a melhor
correção ótica. Manifesta-se como:
∙ cegueira: perda da visão, em ambos os olhos, de menos de 0,1 no melhor olho após
correção, ou um campo visual não excedente a 20 graus, no maior meridiano do melhor
olho, mesmo com o uso de lentes de correção. Sob o enfoque educacional, a cegueira
representa a perda total ou o resíduo mínimo da visão que leva o indivíduo a necessitar
do método Braille como meio de leitura e escrita, além de outros recursos didáticos e
equipamentos especiais para a sua educação;
∙ visão reduzida: acuidade visual dentre 6/20 e 6/60, no melhor olho, após correção
máxima. Sob o enfoque educacional, trata-se de resíduo visual que permite ao educando
ler impressos a tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos
especiais. (MEC, 2003)

1.2.1. Alguns conceitos


Quando se usa a palavra “deficiência” para se distinguir alguém, deve-se
pensar também em seu significado pesado, cheio de valores morais e discriminadores, querendo
dizer que essa pessoa não é eficiente, não é capaz e tão pouco inteligente. Mas ao se conviver
com uma pessoa portadora de deficiência, vamos percebendo que essa afirmação é incorreta, pois
ela tem dificuldades e capacidades como todos nós.
Entre os graus de capacidade visual, que vão desde a visão perfeita até a
cegueira total, se encaixam algumas patologias como hipermetropia, astigmatismo, miopia,
ambliopia, estrabismo. A expressão deficiente visual se destina a pessoas cuja visão está entre o
grau subnormal (onde, sob a luz do dia, não consegue contar os dedos da mão de uma pessoa a
três metros de distância) até a cegueira. As pessoas encaixadas nessa definição, antigamente,
eram obrigados a aprender o Braille e andar de bengala. Já, nos dias de hoje, se aproveita ao
máximo os resíduos visuais, fazendo com que a qualidade de vida melhore consideravelmente,
sem que a necessidade da visão seja abolida.
O ato de enxergar é inato, necessitamos “aprender a ver”. Quando os pais
fazem perguntas do tipo: ‘Cadê a mamãe?’, para o nenê, estão, sem saber, ensinando seu filho a
como ver as coisas. A visão é um meio de comunicação do corpo com o mundo, serve de guia de
para onde se deve ir, com quem conversar, o que comer... Se nula, é necessário que, com a
utilização de outro sentido, haja um meio de guia diferente. Como em um caminho, a pessoa
cega, ao invés de procurar aquela casa velha para virar a esquerda, sente o tipo de pavimento que
é usado no chão ou escuta aquela rua movimentada, ou ao invés de simpatizar com uma pessoa
por sua aparência, a pessoa cega se identifica com a voz ou o cheiro dessa pessoa.

1.2.2. A perda de visão

A perda de visão pode ser congênita ou adquirida. Na primeira não há formas


em seus pensamentos, ou seja, não adianta um vidente fechar os olhos para saber como se sente
um cego, pois suas informações sobre o mundo são diferentes. Já, na segunda, ainda guarda-se
lembranças do mundo dos videntes, recordando de luzes, cores, formas. As causas da perda de
visão são muitas, destacando-se o nascimento prematuro (onde a retina não amadureceu ou o
excesso de ar na incubadora provocam a Retinoplatia da Prematuridade), a aquisição de Rubéola
ou outras infecções durante a gestação (causando Catarata Congênita), a atrofia óptica, a
aquisição hereditária ou infecciosa do glaucoma congênito, a aquisição de diabetes, o
descolamento de retina ou o trauma ocular.
Além da visão, o deficiente visual pode perder suas habilidades motoras
básicas, sua liberdade, sua comunicação, enfim, sua identidade, se essa pessoa não procurar
profissionais adequados ou não tiver apoio da família. Quanto antes a pessoa com deficiência
visual receber ajuda (com pedagogos, oftalmologistas, fonoaudiólogos, etc.), maior são as
chances de interação e de sua independência, pois serão eles que dirão que caminhos essa pessoa
deve seguir para ter melhor qualidade de vida.
O AVD (atividades da vida diária) é um programa que “ensina” para o cego
como é a vida para os videntes, como se vestir, dicas de higiene, como se comportar, além do
principal, de como se locomover, despertando seus outros sentidos.

1.2.3. A escola e a família

O incentivo da família é muito importante na hora do desenvolvimento da


criança cega. Eles devem estimular e confiar na criança, não devem passar insegurança para ela e
nem acreditar que ela é incapaz. Já, na escola, os professores e colegas de classe o ajudarão a
vencer obstáculos para juntos descobrirem modos de como quebrar os tabus que a sociedade por
tanto tempo impôs.
Esses tabus impregnados no vocabulário e em certas atitudes deixam certas
pessoas sem saber como reagir com pessoas que possuem alguma deficiência, acabando por
expor esse lado preconceituoso e rude que há dentro de todos. “O convívio com pessoas
portadoras de deficiência (de qualquer tipo) contribui para facilitar a quebra de tabus e de
estigmas, favorecendo a plena inclusão do portador de deficiência na sociedade e auxiliando a
família a lidar com essa deficiência”. (GIL, 2000, p.17)
1.2.4. Conhecendo as fases da vida

De 0 a 3 anos:
O bebê deficiente visual precisa de mais estímulo do que um bebê vidente,
pois por não ter estímulos visuais, não terá motivação para querer pegar aquele brinquedo
colorido ou virar o corpo para contemplar as luzes piscando da televisão. Com isso, o nenê tende
a ficar o mais encostado no colchão possível, pois terá contato físico com ele, fortalecendo assim
os músculos errados. Por isso a estimulação precoce é necessária, para que o bebê possa
desenvolver-se e evoluir, sabendo utilizar-se de seus outros sentidos, fazendo a assimilação
ouvido/mão para que trabalhem juntos para ter a noção de espaço (o vidente utiliza-se do
olho/mão), e transformar a mão em um objeto de explorarão e conhecimento.
Ao retirarmos um objeto das mãos de um bebê cego de oito meses, este não irá
tentar tomar o objeto de volta, pois pensará que esse objeto simplesmente desapareceu. Para
estimular essa criança, os pais podem colocar objetos por perto para que a criança toque-os
acidentalmente, ou dar-lhe um objeto que produza sons e continue produzindo esses sons por
perto da criança.
Para desenvolver a afetividade é preciso não esquecer das palavras e dos
carinhos, mas é preciso não exagerar, pois ela precisa se desenvolver como uma criança normal,
ralando o joelho quando começar a engatinhar, levar tombos ao começar a andar (que pode ser
um pouco mais demorado do que com as crianças videntes, já que elas não se sentem seguras o
bastante para andar sem saber onde estão indo), ocasião em que deve ser estimulada
multissensorialmente, com estímulos táteis e sonoros.

De 4 a 6 anos:
A partir dos quatro anos a criança é inserida na escola. A criança cega pode
tanto participar de classes especiais e freqüentar a escola regular, quanto somente participar da
escola regular, com visitas periódicas de profissionais especializados. Mas também há casos onde
os pais preferem contratar um professor particular, dificultando a socialização da criança, já que
há municípios que perceberam avanços consideráveis nas crianças cegas (e mesmo nas videntes,
diminuindo seu preconceito) ao incluí-las desde as creches. Essa inclusão ajuda também aos
professores, que procuram novos materiais didáticos e novas técnicas para ensinar a esses alunos,
atualizando-se.
Na inclusão de crianças portadoras de alguma deficiência, o professor deve
proporcionar a influência mútua entre crianças. O uso de jogos lúdicos ajuda a criança a conhecer
seus limites e a interagir com outras crianças. As atividades coletivas (prestar bastante atenção na
escolha da atividade para que ela não se torne constrangedora ou traumática para a criança com
deficiência visual) onde todos vão necessitar de todos também é uma boa escolha para a
socialização da sala.
Segundo Gil (2000, p.38):
A escola pode tomar diversas medidas com o objetivo de capacitar os professores e a
comunidade escolar para lidar com as diferenças, como por exemplo:
• convidar pais de crianças portadoras de deficiência, ou professores que já tiveram
essa experiência, para dar depoimentos;
• promover reuniões para discutir as dificuldades;
• convidar especialistas para fazer palestras a professores e alunos;
• distribuir literatura e exibir vídeos a respeito do assunto.

De 7 a 11 anos:
Com a leitura de mundo, a criança vidente vai criando noções e incentivo para
a alfabetização. Já a criança com deficiência visual pode ter a compreensão das relações espaciais
e temporais afetadas devido a falta de estímulo visual. Como cada criança é única, o método que
o professor deverá usar para a alfabetização deve ser único também, pois “não existe uma receita
pronta e infalível para educar essa ou aquela criança”. (GIL, 2000, p.41)
Se a criança tem uma visão subnormal, por exemplo, pode apoiar-se em
materiais próprios, com letras maiores. Caso não se adapte, o uso do Braille (que pode ser escrito
através da reglete e punção ou através da máquina de datilografia Perkins-Braille) também é
recomendado, mas seu uso requer mais paciência pois não há estímulos como cadernos coloridos,
e a maioria das pessoas não sabe ler o Braille, fazendo com que os próprios pais sejam
analfabetos, o que desestimula ainda mais a criança cega.
O processo de integração na escola ajuda a perceber que as diferenças individuais são
relativas, todos temos dificuldades e, ao mesmo tempo, qualidades, o que nos dá direito
à igualdade e à diferença. Assim, devemos centralizar nosso interesse na resolução, e
não no problema; na qualidade de vida, e não na facilidade da segregação; na
diversidade, e não na homogeneidade; na atenção às necessidades individuais, e não na
simplificação da educação. (GIL, 200, p.53)
Mas não é somente na escola que deve acontecer a integração. Ela deve
acontecer no dia-a-dia da criança, no clube, na sorveteria, criando situações de vivência
significativas para que, assim, a pessoa se sinta mais segura e confiante em si mesma.
Antigamente se pensava apenas na reabilitação da pessoa cega, não dando valor aos aspectos
afetivos, motores e emocionais dessa pessoa. Nos dias de hoje, percebeu-se que, se a auto-estima
da criança não está bem, ela não tem estímulos para evoluir.

Adolescência e vida adulta:


Devido à superproteção, alguns pais de deficientes visuais vêem seus filhos
como eternas crianças e, sem perceber que eles estão crescendo, vão deixando de dar informações
essenciais para a vida. A descoberta da sexualidade é um exemplo. A desinformação transforma a
vida sexual em um jogo de faz-de-conta, podendo até ter resultados inesperados, como uma
gravidez. É dever dos pais e professores esclarecer as dúvidas e dar informações verdadeiras e
precisas para que, assim, essa “criança” possa se transformar num adulto saudável.
A orientação vocacional é um bom incentivo para a pessoa cega que, ao fazer
tal teste, se encaixará em um mundo até então muito distante de ser alcançado, se sentindo uma
pessoa normal, com possibilidades e escolhas, e a partir daí se preparar para uma profissão futura.

1.3. Deficiência Mental

Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significativamente


abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limitações
associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo
em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos:
∙ comunicação;
∙ cuidados pessoais;
∙ habilidades sociais;
∙ desempenho na família e comunidade;
∙ independência na locomoção;
∙ saúde e segurança;
∙ desempenho escolar;
∙ lazer e trabalho.
(MEC, 2003)
1.3.1. Definições

Segundo Amaral e D’Antino (1998, p.7):


A definição de deficiência mental mais difundida e aceita atualmente é a dada em 1992
pela American Association of Mental Retardation (AAMR):
Funcionamento intelectual significativo abaixo da média, coexistindo com limitações
relativas a duas ou mais das seguintes áreas adaptativas: comunicação e autocuidado,
habilidades sociais, participação familiar e comunitária, autonomia, saúde e segurança,
funcionalidade acadêmica, de lazer e de trabalho. Manifesta-se antes dos 18 anos de
idade.

Citam ainda:
Algumas vezes, a própria ciência formulou hipóteses e defendeu teses depreciativas,
como Platter que, no século XVI, enfatizava o caráter de degenerescência da deficiência
mental:
Por seus pais, alguns entre os imbecis, recebem um caráter hereditário, e são causas
internas que são, então responsáveis pela imbecilidade; daí decorre muitas vezes que
como os homens ativos e inteligentes concebem seres semelhantes a eles, assim
também os improdutivos concebem crianças de espírito embotado.

Comparando as citações acima, podemos perceber a evolução de pensamentos


sobre o mesmo assunto. O deficiente mental era visto como um ser que precisava ser excluído da
sociedade, viver alienado, sendo visto como “‘depositária do mal’, ‘objeto de maldição’ ou
‘tragédia familiar’. Ou, inversamente, como ‘detentora de poderes sobrenaturais’, ‘beneficiária de
especial proteção’ etc”. (AMARAL E D’ANTINO, 1998, p.8). Infelizmente, nos dias de hoje,
esse preconceito ainda está embutido na personalidade das pessoas que, na maioria das vezes,
confundem doença mental (distúrbios emocionais, psicoses, etc) com deficiência mental.
[...] alguns mitos persistem, como por exemplo:
• Pessoas com deficiência mental morrem cedo, devido a ‘graves’ e ‘incontornáveis’
problemas de saúde;
• Pessoas com deficiência mental precisam usar remédios controlados;
• O meio ambiente pouco pode fazer pelas pessoas com deficiência;
• Toda pessoa com deficiência mental é doente;
• Para o aluno deficiente mental, a escola é apenas um lugar para exercer alguma
ocupação fora de casa;
• Existe um culpado pela condição de deficiência;
• Pessoas com deficiência mental só estão ‘bem’ com seus ‘iguais’;
• Pessoas com deficiência mental são generalizadamente incompetentes;
• Pessoas com deficiência mental são agressivas e perigosas, ou dóceis e cordatas.
(AMARAL E D’ANTINO, 1998, p.9)

Além do mais, a deficiência mental é muitas vezes confundida como doença


mental. O doente mental (mais ligado a psicoses) não necessariamente tem inteligência abaixo do
padrão social, podendo até ter um padrão acima da sociedade, como o caso dos superdotados. Os
deficientes mentais, por terem uma alteração no sistema nervoso central, sempre são menos
inteligentes que o padrão.

1.3.2. O diagnóstico e os tipos de prevenção

Muitas vezes a família não percebe alguma alteração psicológica na criança,


por desatenção ou por não quere acreditar que possui um filho que não é “perfeito”. Essa
alteração só será percebida na escola, onde o professor, ao compará-lo com as outras crianças,
perceberá que seu desenvolvimento não acompanha a evolução do restante da sala. Mas essa
hipótese não pode ser logo tomada como verdadeira pois é necessário que haja um diagnóstico
médico por trás dessa suposição. Algumas deficiências mentais podem ser detectadas ainda na
barriga da mãe.
Passada a fase da deficiência mental ser conhecida tal como uma doença,
começa-se a pensar como ela pode ser evitada. Há três tipos de prevenção diferentes segundo
Amaral e D’Antonio, 1998, p.11:
► Prevenção primária:
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as medida voltadas para a prevenção
primária podem ser assim esquematizadas:
Medidas Pré-Natais:
• Condições de saneamento básico;
• Cuidados especiais em regiões de risco radioativo;
• Planejamento familiar;
• Aconselhamento genético pré-natal;
• Acompanhamento da gestação (saúde e nutrição materna);
• Diagnóstico pré-natal.
Medidas Perinatais:
• Atendimento médico-hospitalar de qualidade na situação do parto;
• Atendimento de qualidade ao recém nascido;
• Screeing neonatal;
• PKU (teste do peziho).
Medidas pós-natais:
• Condições de saneamento básico;
• Serviços de puericultura adequados (que incluem as campanhas de vacinação);
• Prevenção de acidentes domésticos.
A prevenção primária é voltada para a comunidade em geral, com o objetivo de
diminuir a incidência de doenças e acidentes que possam ser causadores de deficiência.
Depende prioritariamente de ações políticas que tornem viável a implantação de
programas preventivos garantidos em dispositivos legais, tais como o Estatuto da
Criança e do Adolescente.
► Prevenção secundária
A prevenção secundária se refere às ações que reduzem a duração dos problemas já
existentes, ou revertem seus efeitos. É destinada a pessoas que já apresentam uma
condição de deficiência, ou manifestam problemas que, se não receberem atendimento
adequado, podem resultar em deficiência.
Esse tipo de atendimento é feito por meio de programas destinados a conter a evolução
de doenças capazes de causar deficiência, ou então por meio de programas de
estimulação destinados a minimizar os agravos provocados por um quadro de
deficiência.
São exemplos de ações de prevenção secundária: diagnóstico precoce, programas que
incluem dieta para crianças com fenilcetonúria, programas de estimulação precoce etc.
► Prevenção terciária
A prevenção terciária se dirige às pessoas que já vivem a condição de deficiência
mental. Tem por objetivo possibilitar o pleno desenvolvimento das potencialidades do
indivíduo, diminuindo as eventuais defasagens provocadas por sua condição. Tais ações
incluem o atendimento clínico e o atendimento pedagógico (pré-escolar, escolar, de
preparação para o trabalho etc.).
Em nossa sociedade, são precárias as políticas de prevenção. Assim, as ações se voltam
prioritariamente para a atenção terciária. Além disso, devido à falta de políticas
públicas firmes, essas ações resultam da expressiva participação da sociedade civil
(pais, profissionais, associações etc.).
Malgrado os esforços desses segmentos, é bem pouco o que se oferece à maior parte da
população com deficiência mental. Alguns estudos indicam que 67 por cento dos
portadores de deficiência mental não recebem atendimento algum; e apenas 33 por
cento recebem um atendimento razoável. Entre o que é oferecido, merece especial
atenção o aspecto educacional que, no Brasil, é tradicionalmente entendido como
Educação Especial.

1.3.3. Educação

A educação da criança portadora de deficiência mental pode ser feita através


de classes especiais (a Educação Especial) ou através da educação regular, quando há uma troca
de experiências entre as crianças portadoras dessas deficiências com as crianças e professores
dessa sala. Toda criança deve ter o direito de freqüentar a sala regular, “independente de suas
possibilidades de aprendizagem acadêmica, até porque o sentido aqui atribuído ao processo
educacional ultrapassa, e muito, os limites impostos a um programa restrito à educação formal,
acadêmica”. (AMARAL E D’ANTINO, 1998, p.13)

1.4. Deficiência Física


Quando se fala em deficiência física logo se pensa em um “coitado” em uma
cadeira de rodas, sem profissão ou sentimentos. Só se vê um cadeirante e não uma pessoa.
Maciel, (1998, p.50), através de uma suposição, mostra que para ser um deficiente físico, basta
apenas um segundo de descuido, e que não é difícil que esse “coitado” seja você:
Imagine que você tem uma vida comum, como a de todo mundo. Levanta cedo, se
arruma, toma seu café da manhã e sai para trabalhar. Vai almoçar em casa, depois volta
para o escritório. No final da tarde, pega o ônibus lotado e vai para o curso que está
fazendo, com a intenção de melhorar de emprego e de salário.
À noite, cansado, finalmente chega em casa. Lá, você janta com a família e vai para a
cama; no dia seguinte, começa tudo novamente. Enfim, essa é sua rotina.
De repente, um dia, o inesperado...Você está atravessando a rua e é atropelado. Tudo é
muito rápido. Quando acorda está numa UTI, lembra vagamente do que aconteceu...
Você está se sentindo estranho, não consegue mexer a perna e o braço esquerdo, mas
não entende direito o que está acontecendo. Em seguida, chega um médico e lhe diz:
Você foi atropelado, teve um traumatismo craniano e ficará hemiplégico! Você só
entende que foi atropelado, e o resto? O que foi isso que ele disse?
Vamos por partes. Um traumatismo craniano ocorre quando uma batida muito forte na
cabeça destrói células nervosas no interior do cérebro.
Em seu caso, foram lesionadas as células que mandavam o movimento da metade
direita de seu corpo; agora, elas não conseguem mais desempenhar seu papel. Em
conseqüência, você ficou com uma hemiplegia, ou seja, uma paralisia na metade de seu
corpo que recebia o comando da parte do cérebro que foi lesada.
Após um mês de internação, e após vários exames, finalmente você tem alta. Volta para
casa, mas precisa começar a fazer fisioterapia, em um centro de reabilitação para
deficientes físicos. Você tem esperança de se recuperar totalmente e, depois de algum
tempo, ficar igualzinho ao que era antes do acidente. Depois de seis meses, a equipe
que trabalha na recuperação lhe informa que o objetivo já foi alcançado.Você se
pergunta: Mas como, se eu não mexo meu braço e arrasto minha perna para andar?
Mais uma vez lhe explicam o que é uma lesão no cérebro e quais são suas
conseqüências. Na hora em que você bateu a cabeça, as células nervosas que mandavam
ordens para o braço direito e para a perna direita morreram. Por isso, você não consegue
mais mexer esse braço, nem ter movimentação completa da perna. Você agora é um
deficiente físico.

No exemplo citado pela a autora, a pessoa passará de um ser humano com


todas as capacidades físicas perfeitas para uma pessoa portadora de deficiência física devido a um
traumatismo cerebral. Mas, a paralisia pode ocorrer também, ainda segundo a autora, por outros
motivos:
• pré-natais: problemas durante a gestação, como por exemplo, remédios
ingeridos pela mãe, tentativas de aborto malsucedidas, perdas de sangue
durante a gestação, crises maternas de hipertensão, problemas genéticos e
outras;
• perinatais: problema respiratório na hora do nascimento, prematuridade,
bebê que entra em sofrimento por passar da hora do nascimento, cordão
umbilical enrolado no pescoço e outras;
• pós-natais: o bebê sofre uma parada cardíaca, pega infecção hospitalar, tem
meningite ou outra doença infecto-contagiosa, ou seu sangue não combina
com o da mãe (se esta for Rh negativo). Quando criança, ao ter uma parada
respiratória por choque anafilático ou ter uma queda muito forte, bater com a
cabeça ou, como era muito freqüente antigamente no Brasil, a poliomielite
(causadora da paralisia infantil), mas que foi erradicada devido à campanhas
de vacinação. No adulto, quando ocorre uma lesão medular, aneurisma ou
acidente vascular cerebral, amputação devido a alguma doença.
Para algumas destas causas existe a prevenção, que dentre elas estão a
conscientização de gestantes com o pré-natal e das pessoas em geral com os riscos da hipertensão
e diabetes, treinamento específico para os profissionais que trabalham com resgate e melhor
infra-estrutura nas maternidades.
Após a autora transferir o leitor para o mundo dos deficientes físicos, ela
continua a dissertação, imaginando como seria a rotina daquela pessoa que acaba de descobrir
que será hemiplégico para o resto de sua vida:
[...] Logo de início, você se sente revoltado: Por que comigo? Mas não encontra
resposta.
Depois, vem a depressão: Minha vida acabou mesmo, nada mais tem sentido e graça:
Enfim os dias passam... Você tem de continuar sua vida, mas como? Começa, então, a
aprender uma nova forma de viver.
Você levanta, ou melhor, você senta na cama, e precisa que sua esposa o auxilie a tomar
banho, vestir a roupa (só para abotoar a camisa se passam 15minutos...) e tomar seu
café da manhã.
E para ir até o trabalho? Ah! Ainda bem que existem ônibus especiais para o deficiente
físico. Mas você precisa sair de casa bem mais cedo porque, até mesmo em cidades
grandes como São Paulo, eles são poucos e demoram muito, às vezes uma hora.
Quando ele chega, o acesso é feito por meio de uma plataforma.
Ufa! Uma dificuldade já se foi!
Você desce perto do trabalho, mas quando olha aquela escadaria logo na entrada, tem
vontade de desistir. Pensa: Custava ter um elevador?
Mas não há o que fazer: você fica esperando alguém que o ajude a subir O esforço é
grande e o equilíbrio, difícil.
Na hora de ir ao banheiro, como fazer para se apoiar? Custava ter uma barra de apoio?
Quando constroem um prédio, será que não pensam que uma pessoa com deficiência
física também precisará ter acesso às instalações?
O dia é corrido, há muito serviço. Seu ritmo é um pouco mais lento que o dos colegas
de trabalho, pois afinal, o que todos fazem com duas mãos, você faz com uma só. Será
que os outros entendem isso?
Chega a hora do almoço. É difícil cortar os alimentos, porque não dá para segurar o
garfo e a faca ao mesmo tempo, com uma só mão.
À noite, aquele curso que você começou antes do acidente... Outra escada, que
sacrifício. Um colega o ajuda a subir. As carteiras são desajeitadas para um deficiente
físico! Depois de muita conversa, você consegue uma carteira melhor, embora não seja
bem adequada.
O professor coloca uma série de conceitos na lousa, mas logo apaga e você ainda está
na metade... Seu ritmo é mais lento, porém isso não significa que você não conseguirá
aprender tudo. Você tem apenas uma limitação motora, e não de inteligência.
Na volta para casa, a mesma dificuldade de transporte se repete.
Você fica pensando: Será que os outros deficientes têm os mesmos problemas?

Essa pessoa é muito batalhadora, mas ainda não se adaptou à nova vida que irá
levar. Ela começa a demonstrar como um deficiente físico se sente por não ter acessibilidade,
como suas rotinas anteriores transformam-se em obstáculos. A pessoa nunca prestava atenção
nesses “obstáculos” pois, por ter perdido recentemente seus movimentos, ainda não pensava
como deficiente físico, diferentemente de pessoas que já nascem com algum tipo de paralisia.
Um bebê que nasce com paralisia cerebral, por exemplo, tem desenvolvimento
mais lento que as outras crianças, podendo ter além de disfunções físicas e mentais. Há os
atetósticos (que fazem movimentos involuntários) e os espáticos (que mantém os músculos
rígidos). Ele se desenvolve mais lentamente que as crianças com movimentos motores completos,
pois não tem estímulos físicos para atingir certos objetivos.
Há também outras denominações para alguns tipos de paralisia:
∙ Hemiplegia: quando há paralisação total da metade esquerda ou direita do
corpo;
∙ Paraplegia: paralisação dos membros inferiores;
∙ Tetraplegia: paralisação dos quatro membros;
∙ Miopatia: quando a criança nasce bem e por volta dos três anos começa a
cair muito, vai perdendo a força dos músculos e tem vida curta.
∙ Hipotônicos: quando os músculos são muito fracos.
Maciel (1998, p.54) continua a história, citando um exemplo de uma garota
que ficou paraplégica:
[...] Um dia, você conhece uma jovem que foi assaltada e levou um tiro. A bala se
instalou na coluna, ela foi submetida a uma cirurgia, mas ficou paraplégica: perdeu o
movimento da cintura para baixo, não sente mais nada nessa região. Por pouco ela não
se tornou tetraplégica, ou seja, com os quatro membros paralisados (pernas e braços).
A moça somente se desloca sentada em uma cadeira de rodas. Em muitos lugares, a
cadeira de rodas não passa pela porta. Mas, ainda bem, pelo menos ela pode passear no
shopping, se quiser. Lá há rampas e elevadores, e até banheiros especiais para
deficientes físicos, com porta larga para a passagem de cadeiras de rodas, e também
com barra de apoio. Ao andar na rua, ela também conta com guias rebaixadas para
atravessar, perto de onde mora e em vários outros lugares.

Após a reflexão sobre essa hipótese, deve-se começar (muito tardiamente) a


refletir sobre a condição das pessoas com deficiência física. Antigamente definia-se como pessoa
com deficiência física aquela que não era capaz de ter uma vida individual ou social, o que não
cabe aos dias de hoje, pois o deficiente físico, dentro de suas limitações, tem uma vida como a de
qualquer um.

1.5. Deficiência Múltipla

“É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências


primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no
desenvolvimento global e na capacidade adaptativa”.(MEC, 2003)

You might also like