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Vossa Excelência e ncaminhou para a nál ise, ava liação e investigação cópia do
Processo nO 08000(lOO3071nOO7-S1, de imeresse do cidadão italiano Cesare Batlisti.
Há pedido de extradição, por parte da República Italia na, matéria apreciada pelo
Supremo Tribunal Federal , por ocasião da Ext radição nO 1.085. Cuida-se de assunto que
se desdobra de mera questão de imeresse particular do extrad itando para referenciais de
tratado internacional. No núcleo do desate do problema há margem de
discricionariedade que o Presidente da República detém, no sentido da própria
interpretação do tratado.
4. Ao que pa rece, é da tradição de nosso dire ito dos tratados a fi xação de cláus ula ..
que co nferem discricio nariedade ao Chefe do Poder Executivo. Po r exe mplo, no tra tado
de ext radição que pactuamos com a Austrália, há previsão de recusa facultativa.
5. Isto é. pactuamos com a Austrália que a e xtradi ção possa ser recusada quando,
e m c irc unstâ nc ias excepcionai s, a parte reque rida, embora leva ndo ta mbém em conta a
gravidade do crime e os interesses da parte requerente, decidir que, devido às
circunstâncias pessoais de pessoa reclamada, a ex tradiçâo seri a incompatíve l com
considerações humanitárias.
8. Com Portugal firmamos que a parte requerida poderá sugerir à parte requerente
que retire o seu pedido de extradição, tendo em atenção razões humanitárias que digam
nomeadamente respeito à idade, saúde, ou outras circunstâncias particulares da pessoa
reclamada.
10. Ao longo das razões que seguem evidencia-se certa apreensão para com eventual
tratamento a ser enfrentado pelo extraditando. Pelo que se apreende de
acompanhamento da imprensa, pode haver motivos que justificariam pelo menos a mais
absoluta cautela, no caso de eventual entrega do indivíduo reclamado pelas autoridades
italianas. Isto é, há fundadas razões para suposição de que o extraditando possa ter
agravada sua situação pessoal. E tal suposição não sugere, e nem suscita, e nem cogita,
de qualquer ato de hostilidade para com as autoridades do Estado-requerente.
11. A questão exige que se proteja, do modo mais superlativo possível, a integridade
de pessoa eventualmente exposta a perigo, em ambiente supostamente hostil. Há pano
de fundo que se relaciona com pensamento criminológico humanitário, especialmente
13. In formo u-se também que há condenação a pena de prisão perpétua com a
ugravunte de isolamento diurno por seis mese!), ordem emit ida pela Procuradoria-Ge ral
da República de Milão, em 29 de abril de 1997. Indica-se na referida No/a que seguiria
requerimento formal de extradição. O pedido é instruído por outro docum ento
produzido pelo Ministério da Justiça na Itália, que, em desfavor do ex traditando
descreve os fatos, nomeadamente, no sentido de que Cesare Battisti:
2 Cf. Luigi Ferrajoti, Direito e Rat.do- Teoria do Garantismo Penal, São Paulo: RT, 2006, p. 195.
Tradução de Ana Paulo Zomer Sica, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luis Flávio Gomes.
a) Matou, com auxílio de outras pessoas, Antonio Santoro , marechal dos
agentes penitenciários, da prisão de Udine, fato ocorrido em Udine, em
06.06.19 78;
de 1007,
16, Deve-se se insisti r no fato de que o Ministro Celso de Mell o chamou a atenção
pa ra a nalUreza da pena imposta, i,e" a pena de prisão perpétua, O Ministro relator
lembrou que a jurisprudência do STF é no sentido de que não se defira a ex tradição em
hi pótese de pena de prisão perpétua, a menos que haja compromisso irretratável e
cfetivo de se com utar a penalidade, por pena de prisão que não seja superior a 30 anos,
como previsto no modelo brasileiro.
17. Em 18 de março de 2007 a Polícia Federal cumpri u a ordem do Ministro Celso
de MeUo. prendendo Cesa re Bal1isti no Rio de Janeiro. Em segu ida o extraditando foi
tra ns ferido para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasilia.
Informou-se a Embaixada da Itália do cumprimento da ordem de prisão. Abriu-se prazo
para que o pedido formal de extradição fosse protocolado pelas autoridades italianas.
21. Há também juntada de documento por parte das autoridades italianas, eXlxmdo
os faiaS cri minais imputáveis a Cesare Battisti , As descrições são exuberantes em
pormenor, e seguem, para esclarec imento, especialmente no que se refere às nítidas
deficiências da trad ução:
N.1982. 20. 150 Registro Extradiçõe.ç
CESARE BA1TISTlfoi condenado com sentença em data 31 .3. /993 pela Corte de
Assise de Apelo de Milão, com adiamento da Corte di Cassaz;one. em seguida ao
29. No processo ad ministrativo há também ca rta que o fil ósofo francês Bemard-
Henri Lévy endereçou a Tarso Genro, então Ministro de Estado da Justiça. No referido
texto o pe nsador francês problematiza o destino de Banisti, manifestando angústia e
preocupação pa ra com a extradição, isto é, se deferida. Be rn a rd~H e nri Lévy n otab ili za ~
• Ocorrência nO3091f2007- 30" DP- Processo Administrativo n" 080000.Q0307lf2007-51. Os. 639-640.
~ Apura tório Preliminar nO 051 f2007-SE S IPE- Processo Administrativo nO080000.003071/2007-5 1, fls.
653-656.
se pela intransigente luta em prol da dignidade humana, linha de ação que se identifica
com pensamento francês avançado e prospectivo, humanitário e solidário, a exemplo do
que se alcança em Louis Althusser, Emman uel Levinas, Jacques Derrida, Albert Camus,
Roland Barthes, cujo antepassado comum seria Alexis de Tocqueville.
30. No processo administrativo sobre exame há também cópia de fax 6 enviado por
Agente de Polícia Federal de plantão na Interpol, dirigido ao Chefe de Divisão de
Medidas Compulsórias do Ministério da Justiça, dando conta de que a Interpol, em
Roma, te ria informado que o Caso 8attisti estaria promovendo muita repe rcussão
naquele país.
35. Jun tou-se também no processo ad minist rativo uma carta redigida por cidadã
francesa, Han na Deuria, da cidade de Bordeaux , endereçada ao Preside nte Luís Inácio
Lul a da Si lva 12 . A missivista sugere que o governo brasileiro nlio atenda pedido do
governo italiano, pela extradição de Cesare Balfisti/J.
I~ Com o mesmo texto e idêntico conteúdo hã também várias outras cartas, todas oriundas da França, no
processo administrativo aqui avaliado.
) Processo Administrativo nO080000.003071 /2007-51, fls. 763.
III) A decisão do Supremo Tribunal Federal na Ext-1.085- República
Italiana
38. A matéria foi intensamente debatida no Supremo Tribunal Federal. De tal modo,
na Extradição- l.085-República Italiana, relatada pelo Ministro César Peluso, o Supremo
Tribunal Federal decidiu, se mpre por maioria apertadíssima, e sem o voto de dois
Ministros que se declararam impedidos (Celso de Mello e Dias Toffoli),
40, Por cinco votos a quatro o Pleno do Supre mo Tribuna l Federa l decidiu que a
concessão de refúgio nào impede o deferimento de extradição, Votaram pela hi gidez do
refúgio deferido pelo Senhor Mini stro de Estado da Justiça, no caso em tela, os
Ministros Eros Grau, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio. Votaram contra
a concessão do refúgio, neste caso específico· • bem entendido· • os Ministros César
Peluso (re lalOr), Gilmar Mendes (então Presidente da Corte), Ricardo Lewandovsky,
Carlos Briuo e Ellen Gracie.
41. O Supremo Tribunal Federal, por maioria apertada, entendeu o ato de concessão
de refúgio como um ato administ rati vo vi ncul ado, e não como ato político, sem
co nstrangimentos estranhos à atividade política, e à condução dos assuntos
internacionais por parte do Se nhor Presiden te da República, no caso implíci ta e
exp licitamente representado pe lo Senhor Ministro de Estado da Justiça.
43. E também por cinco votos a quatro a composição plena do Supremo Tribunal
Federal entendeu que o pedido de extrad ição aco moda-se ao tratado, à tradição
constitucional brasileira e, principalmente, que a natureza dos delitos que fomentaram
toda a movime ntação escaparia de um conteúdo empírico de crime pol ítico .
45. Votaram pela extradição os Ministros César Peluso, Carlos Brino, Ricardo
Lewandovsky, Ellen Gracie e Gilmar Ferreira Mendes. Votaram contra a extradição
todos os Ministros que compreenderam que o refúgio é ato político: Eras Grau, Cármen
Lúcia, Joaqu im Barbosa e Marco Aurél io.
46. O Ministro Eros Grau havia insistido que quem defere ou recusa a extradição é
o Presidente da República, a quem incumbe manter relações com Estado.~
49, O Supremo T ribu nal Federal manlém tradição em nosso direito extrad icional ,
que se fiUa ao modelo belga , Se a decisão do Supremo é pelo indeferimento da
extradição, o Presidente da República não pode autorizar a entrega do extraditando, Na
hipótese da decisão se r pelo defe rimento da ext rad ição, o Presiden te da Repúbl ica pode
acompa nhar (ou não) a decisão do Supremo Tribunal Federal, conquanto que o faça nos
limites do pactuado intemacionalme nle. É esse o quadro que se apresenla.
52. O Supremo Tribunal Federal sufragou a linha adotada pe la just iça italiana, no
sentido de que os c rimes atribuídos a Battisti seriam qualificados por natureza comum
(e não política)24. Ta l percepção afasta ria a alegação de que estrangeiro não possa ser
extrdditado por crime político, por força do fato de que não se poderia, em princípio,
a tribuir-se, no Brasil, natureza política pard delito que no local de origem não fora
compreendido como tal.
53. É o que se extrai, mudando-se o que deva ser mudado) do decidido na Ext
1 149/República Ital iana, re latada pelo Mini stro Joaquim Barbosa, em julgamento de 3
de dezembro de 2009, quando se vedou a análise, por parte do Judic iário brasileiro, do
mérito da ação penal corrida no estrangeiro, determinante do pedido de ex tradição:
EMEN1~L EXTRADIÇ.4o. TRAFICO DE ENTOIIPECENTES.
RE'f'UIJLlCA n:4L1ANA. TRATADO DE EXTRADiÇÃO. REQU/S17DS
OBSERVAD05;. t.--XTR.4DIÇA-O DEFERIDA. 1. Pedido de ex/mdjç(io reqllerido
com bllse tiO TraJado Bilaleral pmll/lllgado pelu Decrt'/(J "o863/ 93. 1. Acusarão
da prática do crime dt' Irtijico de enlorpecentt's. em 2006. na Illilia. com
malldado de prisão pl't' venli\'CI expedido pela lIutoridtJde call1pnenre. 3. Razões
alinewes ao mérif(} da açilo pellal ( ' III trâmite na IltÍlia 0/1 cUlldiçrJes pessuais
/ú\'orúwis au E"lradilandu 11(10 .~iio /JlIssiveis dt' anúlist' /lO proce.\'so de
eXfradiçi'io lIem iII/pedem seu d eJáimellfU. -/. Obur\'ado.s tU reqllüifUs imposlos
paro (I COllcessüu c/a t'xtradiç-'iio. 5. t-xlI'adiçcio deferida.
54. É cediço que o Supremo Tribunal Federal não aprecie o mérito, no que se refe re
ao pedido de ex tradição, a propósito do decidido na Ex l 11 26/República Federal da
Aleman ha, processo relatado pelo Ministro Joaquim Barbosa, em julgamento de 22 de
outubro de 2010, cuj a ementa segue:
EMENTA : E\·lrllllirõ(). Repúhlica Federal da Alemallha. Pedido
jiJrmlllado COIII prollles.WI de reciprocidade. COlllli"iíes de adllli....sibilidade.
Observância. Prescn~'a da dupla lipiddac/e. I!locorrêllcia de cXfilJ(.:c10 da
pUllibilidade pelll prew'rirüo da preft'lIsiio pllllilim. Pf'l'CI1Chimell/o dos
reqll;.I'ilos .f()rlllllis. /Ilegalil'a de aUlor;a. IlIcidênl'ia dos m'fS. 89 e 90 c/c arfo 6 7
tia Lei II" 6.815/ 1980. Aplica('i'io da COIl\'cm;i'io das .f\'açlles Un idas ('ollfra o
Crime Organi=ado Transnacional. pronlllJ/o!at/a /1('10 Brasil metliante (I Decrefo
,," 5.0/5/0-/. COIII/x'lúlóa reconhec ida ao E.~tado requerente. Preliminar
rej,'i/atla. Precedel/les. EXlraditalldo condellado 110 Brasil pelo crime til.' /1'l!{iCII
ilícito dl' enwrpecellfe.ç. CI/lllprimelllo integral da pello impus/li. Aus,;ncia de
.íhice. Defe rimento tia exlradiçúo. Precedell/l's da '<;lIprenlll Corle. () pedido de
cXfratli('iío foi formalizado nos autos. com mandado de pri.wlo C/"e indica COIII
slIjicicme prec:isiío o local. a c/ata. a nllflfl'eZa e as c:irClms/állcias das filIO.\'
delitlloso~' atribuidos ao extraditando, transcrevendo m' dispositivos legais da
ordem jurídica alemii palille1lfeS (/0 caso. Ub~'ervllclos os requisitos do arl. 77
do ü 'i na 6.815/80. "!lere-se. dos dOClIlllcnlM lIpresell/(ulo.\· j llnto às No/m
:~ Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que o entrelaçamento de crime comum com
crime político obSlaculizaria a extradição. Ext 994/ltália, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, cm
j ulgamento de 14 de dezembro de 2005 .
Verhaü, qlle o.~· {'rimes impu/(u/os (10 t'x!mdilc/JIdo atendem o requisilo da dupla
lipicidllde e corre.\"flondelll, fIIJ I1ms;/. arl.\" crimes de trájico ifícifO de
"f/fOrpeCen!es e de associarão para o IrtiJico. previsfOs. re.\])ccli\'wl/elllc, /lOS
w"tiRus 33 e 35 da Lei n" 11.3./3/ 06, satüja:e/l(!o , (I!)·.üm, ao reqllisiw da dupla
!ipicidade. prt''''.~to no arl. 77, im:. II, da Lei II " 6.815/80. A eXlinçào da
punibilidade pela prescriçào da pn'u'l/siio pllnirim nào ocorreu nt'm ii luz da
legis/m,;âo a/emli. lIem da brasileirCl. Todo.ç os requisito.5 exigidos pelo art. 80 e
parágmfiJs da Lei 6.8/5/ 1980 joram inrt'Xrallllellle preenchidos. Nilo cabe, em
processo de extradição, o exame do méril() da pretemi/o pellal dedll=idll em
jllbo 1/0 país solicitante, razlío pur que tlle}:(lções com:emellles ii mnréria de
defesa próprio da arào pellal, !fll como (/ rI/!glltiva de {JI/toria. niio elidem o
defaimemo do pedido. Precedellfes. () Estado 1"('(luf!rente telll competência p(lm
processar e .iulgm' extraditando. por cri/llt' de Irájico illlernaciolla/ de
substàncias enlorpeCt'nfes. na hipótese de li ir!fraçiio ter sido L'oll/elida 1'01" 11111
de seus cidadàos. .ti pefUl imposla (lO e.rtradilamlo p<'hl JlIsli«u redeml c/e Seio
Pau /o. pela prútica do cl'imt' de lrtíjico de enlOrpecellfc.\'. foi il1legmlmenre
cumprida, lUtO s l/bsistilldo óbice pal"ll li exenlçeio imt!diala da prescnle
eXlradiçtio. O tempo de prisiiu do extraditam/o fIO Brasil, por/im;a do {Jresel1fe
pedido, deve ser cOI1(abili:ac/o ptlra ejeito dt' delraçiio. 11(1 t!w?lI!lfolidade de
condenação 110 .-I/('mallllll, A extradiçiio .w.í MI"á execulada após a cOllclusão de
outro prucesso (I que f) extraditando f! \'ellllltllll/('lI!e responde 1/0 Brllsil, 0 /1 após
o cumprimento da pena aplicado. podendo, no ('lIImllo, o Pn'sidenlt' da
República dispor em l'ontrário. 1m.\" lerll/O.\· do art. 67 da Lei n O6.8/5/80. Pedido
de extradü,:tio d.jerit!o com a.\" re.\".wil'o,\' indicada.\·.
55. Isto é. não pode também o Supremo Tribunal Fede ral reenquadra r o ex traditando
por cri me diverso, o que qualifica ria - - incl usive - - a te ntado à soberania do Estado
reque rente, como decidido na Ext 987ntália, rela tada pelo Ministro Carlos Britto, em
j ulgamento de 23 de ma rço de 2006:
EMENTA: E.ITRÂDf(AO EXECUTÓRIA. TRAFICO INTERNACIONAL
DE ENTORPECENTES ALE0ACAO DE QUE O ESTRAN0EIRO
RECLAMADO ERA USUARIO. E N ,jU TRAFICANTE INVIABILIDADE DE
ANALISES MERITÓRIAS NA ESFERA EXTRADlCIONAL IMPU0NA('ÀO
VOLTADA li SUPOSTA MA INSTRUÇJO DO PEDIDO, Pedidu de (~xtrudiriio
que atende às exige,lcia.\· Ji.lrmaü constantes do Trawdo Di/meral (Decreto II "
1)63/ 93) e do E.\'Iaf/f1O du E.'arangl' im. Nâa Jlrocede {/ 1Ilef!{I(la OUSllllcill de
c/ocum"nlo essellcial li Il"tImitaçiio do pedido. se o EsU/do /"equerellfe ji!: llll/Iar
aos (II/tos (I sentellça que. l1I/li/o t'lIIhora ohjeto de reCUI',\'II, veio li traflsitar 1'11/
jlllgado, cOflsliluifldo. pur{(lIl!O, () fÍll/lo j l/didal a Se/" exec /ltwlo. Não pode (I
Supremo Tribunal Fedl!rtll elltrar nll próprio mérito do'\" fillos impufados ao
cidadúo f!.\·(/'ongeil'll, em ordem (l re'l-"('r li cOlldel/(/(:üO lti pf(~rc/"ida.
reenquadram/o o extraditando em 11;10 di'verso daquele COllStante da S('ntcllr,:a
pelllll a .\'(~" (' Xt' L'llfuda (de traficalll€: parti uSllário), Este f'l"Ocede,. se mostra
abso!ulamenlt' incompatível com o j uízo de cognosc:ibilidl1de {>s/rifa qlle rej.!e as
açde.\'· (7Xlradicionais (§ I " do arfo 85 da Lei II n (,,815/80J. além de QU'lIIar contra
a soberania do Estado reqllcl'cllle. Pedido eh/e rido,
56. Deve·se lembrar também que o fat o de que haja processo crime no Brasil contra
Batristi, por outros delitos que não os que plasmam a extradição, também não se
configura ria como óbice para o deferimento da extradição. É o que se decidiu na Ext
I05 1/Estados Unidos da América, relatada pe lo Ministro Marco Aurélio, em julgamento
de 2 1 de maio de 2009:
PR()('ESSO· CRIMt' COMPETENClA EXTRADIÇÃO. /-Im'em/o
noticia di' prática tle/ifunsCl I'(Jlwda a introdu:ir tf;xico 1/0 território cio Governo
H' querente, incumbe ler como de boa origem o pedido de l'xlradiç:iio.
J:.XTRADI('Ã() . PROCESSO-CIUME EM CURSO NO BRASlL. A úrn/nsltincia
de o t'xlmdifl/J/do ta cOJl(m .\'j proee.\·.m-crime '/0 .hu/iciário brasill'iro mio
oh:iIl/CIlIi:a a eXIl'adiçi"ío. EXTRAIJ/CA-O - DUPUCIDADE DE. PEDIDO
E:dstindo duplicidade dI' p!!tlidn, seI/do idêmicas a.\' penas pn' \';'\'w s para os
tipo.,'. dt'jine-se almferêllcia na extmdiçiio pe/a." c/atas dos pedido.,·jormu/atloéi,
prenllecmdo aqllel,' j;}rmali:ado em pl'imeiro lugar, ~\TRADI(ÃO - DUPLA
71I'1CIDA/Jf;· CONSPIRA Çfo . CRIME DE QUADRIUIA . 1.A"4CEM DE
RECURSOS'. Impik·.\'e a observância da dupla fljJü:idade e. aéisim. (I filiO de u
arligo 288 do Código Pena! exigir, para a cO/l/iJ.,'1Wa('lio do crime de quadrilha
011 Iwndo, a a.uociaçüo de mais de m}s pi's.was. EXTRADIÇÃO - PRiS,.j()
pI::RPF.rUA. No cli'1erimemo da eXlmdiçüo. dl'l'e-s(' impor dáwmla. preSelllt' a
lIurma do anigo i 5 do CódiJ.{o Pellal e. portalllo. li impossibilidade de o
extraditam/o cumprir pena perpeluCI cerceadora dalilwrdade de ir e vir.
59. Também nâo impediria a extradição o rato do extradita ndo responder no Brasil a
inquérito policial por fato diverso da circunstância que fom entou o pedido de
extradição. Decidiu-se deste modo na Ext 797/ltália, relatada pelo Mi nistro Sepúlveda
Pertence, em julgamento de 8 de novembro de 2000:
EMEN7:4: I. E,lrculiç:llo: im'lnlç//o cio f'jfdido : aUfcnticid(l(le da
doc /lmt'nwçtlO - nela incluid" as (I'Odll('llt',\' para" vemáculo ji.:i1a.~ 1/0 Estado
req//erellle - que deco rre do Irdl/silo diplulllálic/J do.\" jJal'Jis. /1. F.x/radiç{io : nãll
a iII/pede o jÓlu de v cxtracliwndu - (,olll/emu/o por dois homicídios e I'l'Oces,wlllo
por IUlI lt~ rcf'iru , nu E"Iodo requerente - responder /10 Brasil (I illquérifo policial
por fato diwr,w , qllal a ulilizaç{70 de doclIn/(,n/o,\' falso,\' de identidade. IlI.
EXfradição: gralllidade da a/e?,(I('tio de persegui(:tio polílica no /:'j'wdo
requel'l!lIfe, onde. processado por fn's homicidius de mOlil'açtio comercial, o
eXlrtldi({lIldo, embora rel'el. lel'(' o =eloso patrocínio de dejimsores cOlIslÍfllídos.
que já levou li caso por duas I'c.:es ti Corte Suprema de Cassa(:i'io. COIII
re:mltadu,ç jávor/m: i,~' à de/c,m IV EXI/'adiç:iio passiva: limifllçücl' h'gais à
dc.ksa que mlo si"io íncolIsfílllciolllli~', porque ca-extellsil'fM ao âlllhiro da
jurisdição do Supremo Trib ul/al no P/'(I('('S,W de ex/radiçclo pcl,uil'{/. dada a
admis,wio pela legislação braúleira do sisfema belga.
60. Registre-se, por oportuno, que o direito brasileiro já enfre ntou proble ma de
extradição em caso de pena de prisão perpétua, como se lê na eme nta do j ulgado na Ext
773lRepública Federal da Ale manha, relatada pe lo Ministro Octavio Gallotti, em
j ulgamento de 23 de feve reiro de 2000:
EMENTA : Inadmissibilidade da pretellsão de lrazer (j pruva doc:umenlal
produ=ida no ESladv requerel//e au {"{lfIhecim('nto do .)'uJlrelllll Trihunal como ,\'e
járo es/e. nifo apenas o Juizo de COnlrolt· da legalidade da eXfradiç{lo, como de
faro é. /lias o próprio j ulgador da a{'liv penal u que respondl> o podeI/te.
Pussibilidaci(: de cOlldel1açlio ir priscio pcrpéfllll admifída pe/a jllrispl'lld~ lIcil/ do
Supremo Tribunal (\',g. EXT 71J. DJ de 20-8-1)/)), sendo assim. rejeifada, pelo
1II0iorio. re,çsaJvtl des/inada a barrar e,+;.'w (·wm/lfolidade.
61. Especialme nte, ê o que se colhia em j urisprudência dominante no pre térito, isto
é, o j ulgado na Ext 7 11 /República Italiana, relatada pelo Mi nistro Octavio Ga ll otti , em
julgamento de 18 de feve reiro de 1998:
EMENTA : Pleno exercido ele defesa, por meio de adl'Ogado COnslilllído.
Desl1('cessidade de reproduçcio. 110.'1 aIllO.~, do lexlo do lratado de extradiçào,
dn'idallll'llIe publicado no "DitÍrio (~(it:ia/". J\'ào ~ moti\'() de l'e~·lri('i"io . ao
de/érimel1fO du pedido, li possibilidade da {:wulenaç.-(io do pllcic:nfe ti pt' l1a de
prislio perpétua. EXlradi(:tio, em parle, COI/cedida (crillle de homicídio).
excluindo-.I'" (I pl!rsecuç.-ri.o pela posse l' porre de arma de fogo, que //lIO eram
prl!visros como crime pela lei hl'mileim. à época do já/o.
62, Ao Supremo Tribu nal Federal, em tema de extradição, compete, tão somente,
exami nar a legalidade e a procedência do ped ido. Não há previsão para invasâo de
competência do Presidente da República, a quem cabe, efetivame nte, decidir pela
ex tradição, É esta, ao que consta, a linha interpretativa que tem vingado ao longo dos
anos. E a decisão fi nal pela extradição (ou não) é do Presidente da Repúb lica, sempre
nos exatos termos e limites dos tratados pactuados, e da tradição que informa o direito
in ternacional dos tratados.
66. No que se refere à obrigação de extraditar, acordo u-se que cada uma das
Partes obriga-se a entregar a outra. mediante solicitaçào. segundo as normas e
condições estabeleddas no ( ... ) Tratado. as pessoas que se encontrem e selllerritôrio e
que sejam procuradas pelas autoridades judidárias da Parte requerente. para serem
suhmelidas a processo penal ou para a execuç(;o de uma pena restrith'a de liberdade
pessoal (arl. 1).
67. Quanto à fixação dos casos que autorizam a extradição (art. 2) assentou-se, da
forma seguinte:
I. Será concedida a extradiçào par fatos que. segundo a lei de ambas as Parles.
constituírem crimes puníveis com lima pena privariva de liberdade pessoal cuja
duração máxima prevista for superior a um ano. ou mais grave.
2. Ademais. .fe a extradição for solicitada para execução de uma pena, será
necessário que o período da pena ainda por cumprir seja .mperior a nove meses.
3. Quando o pedido de exlrudiçtio referir-se a mais de um crime, e algum ou
alguns deles mIO atenderem às condições previslas no primeiro parágrafo, a
extradição, se concedida por uma crime que preencha tais condições, poderá se
e.flendida também para os demais. Ademais, quando a extradiçc10 for solicitada
para a execução de penas privativas de liberdade pessoal aplicadas por crimes
diversos. será concedida .~e o total das penas ainda por cumprir for superior a 9
me.\"es.
4. Em matéria de taxas. impostos. alfândega e câmbio. a extradição mIo
poderá ser negada pelo falO da lei da Parte requerida não prever o mesmo tipo
de tributo ou obrigação. ou não cOnlemplar a mesma disciplina em matéria
fiscal. alfandegária ou cambial que a lei da Parte requerente.
70. Fixou-se também artigo dando conta de que, em tema de direitos fundamentais
(art. 5), a extradição não será concedida:
a) se, pelo fato pelo qual for solicitada, pessoa reclamada tiver sido ou vier a
ser submetida a um procedimemo que nào assegure os direitos mínimos de
defesa. A circunstância de que a condenação tenha ocorrido li revelia nào
constitui, por .fi só, motivo para recusa de extradição;
b) se houver fundado motivo para supor que a pessoa reclamada sera
submetida a pena ou tra/amen/o que de qualquer forma corifigure uma violação
dos seus direifosfundamentais.
71. O tratado supõe também recusa facultativa de ex tradição (art. 6), nas segui ntes
hipóteses:
/ . Quando a pessoa reclamada. '/0 momento do recebimento do pedido, for
nacional do Estado requerido. este não será obrigado a entregá-la. Neste caso,
não sendo concedida a extradiçào, a Parte requerida, a pedido da Parte
requerente, submeterá o caso às suas autoridades competentes para eventual
instauração de procedimento penal. Para /01 finalidade. a Parte requerente
deverá fornecer os elementos úteis. A Parte requerida comunicará sem demora
(I andamento dado à causa e, posteriormente, a decisão final.
73. No que se refere ao direito de defesa definiu·se que à pessoa reclamada serão
facilitadas defosa. de acordo com a fegislaçüu da Parte requerida, a as~'is/(! ncia de um
defensor e. se necessário. de 11m intérprete (arl. 8).
74. Acertou·se também que o período de detenção imposto à pessoa extrad itada na
Parte requerida para fins do processo de ex tradição serã computado na pena a ser
c umprida na Parte requere nte (arI.9). O tratado determina a de tração. Não se trata de
condição ou de encargo. É efetivamente um compromisso,
76. O tratado também explicita o conjunto de docume ntos que deve instruir e
fundamen tar o pedido de ext rad ição (art. 11), nomeadame nte:
/. O pedido de extradição deverá ser acompanhado de original ou côpia
aUlenticada da medida reslritiva da liberdade pessoal ou. tralando·se de pessoa
condenada, da sentença irrecorriveJ de condenação. com a especificação da
pena ainda a se cumprida.
2, Os documenlos apresenflldo.~ deverào conler a descrição precisa do fala . a
data e o lugar onde foi cometido, CI .wa qualificação j urídica, assim como os
elementos necessários para determinar a identidade da pessoa reclamada e. se
possível, sua fotografia e sinais particulares. A esses documento~' deve ser
anexada c6pia das disp<Hiçàes legais da Parte requerente aplicóveis ao fato.
bem como aquelas que se refiram a prescrição do crime e da pena.
J. A Parte requerente apresentará também indícios Oli provas de que a pessoa
reclamada se encontra no território da Parte requerida.
78. Há também regra sobre prisão preventiva (art. 13), que especificamente alcança
o caso aqui discutido, da foram que segue:
J. Antes que seja entregue o pedido de extradição. cada Parte podera
determinar, a pedido da outra. a prisão preventiva da pessoa. ou aplicar contra
ela outras medidas coercitivas.
2. No pedido de prisão preventiva. a Parle requerente deverá declarar que,
contra essa pessoa. foi imposta uma medida restritiva da liberdade pessoal, ou
uma sentença definitiva de condenação a restritiva da liberdade. e que pretende
apresentar ped;do de extradição. Alêm düso, deverá fornecer a descrÍf,:õo dos
falOS. a sua qualificação jurídica, a pena cominada, a pena ainda a ser
cumprida e os elementos necessários para a identificação da pessoa, bem como
indícios existentes sobre sua localização no território da Parte requerida. O
pedido de prisão prewntiva poderá ser apresentado à Parte requerida.também
através da Organização Internacional de Polícia Criminal· INTERPOL.
3. A Parte requerida informara imediatamente à outra Parle sobre o
seguimento dado ao pedido, comunicando a doia da prisão ou da aplicação de
outras medidas coercitivas.
4. Se o pedido de extradição e os documenlol· indicados no Artigo //,
parágrafo / não chegarem à Parte requerida Olé 40 dias a partir da data da
comunicação prevista no parágrafo terceiro. a prisão preventiva ou as demais
medidas coercitivas perderão eficácia. A revogação não impedirá uma nova
prisão ou a nova aplicação de medidas coercitivas, nem a extradição, se o
pedido de extradição chegar ap6s o vencimento do prazo acima mencionado.
8 1. Dispõe-se também que a Parte requerente poderá enviar à Parte requerida, com
prévia aquiescência deslO, agentes devidamente autorizados, quer para auxiliarem no
reconhecimento da identidade do extraditando, quer para o conduzirem ao território da
primeira. Esses agentes mio poderão exercer atos de autoridade no território da Parte
requerida e ficarão subordinados à legislação desta. Os gastos que fizerem correrão
por conta da Parte requerente (art. 17).
84. Acordou-se que as despesas relativas à extradi ção ficarão a ca rgo da Parte em
cujo território tenham sido efetuadas; contudo, as referentes a transporte aéreo para a
entrega da pessoa ex traditada correrão por conta da Parle requerente, e que as despesas
relativas ao trânsito fi ca rão a cargo da Parte requerente (art. 21).
V) o direito processual penal extradicional italiano
85. O art. 720 do Código Penal da Itália vincularia, em pri ncípio, as co nd ições
determinantes da extradição à aceitação do Mini stério da Justiça e ao fato de que não se
contraponham aos princípios que marcam o di reito italiano. A afirmação é colocada em
termo de suposição, marcada pela dificuldade que o direito comparado enseja, e pela
dificuldade q ue há em se alca nçar um esper,lQto jurídico.
86. Ao que parece, no direito italiano a ext radição é ma té ria disposta no Código de
Processo Penal (Codice di Procedura Pena/e-artigos 697 a 722). É assunto do Livro XI
daquele código, no excerto que tra ta das relações jurisd icionais com a autoridade
est rangeira (Rapporli giurisdizionali com aulorilà slraniere). O direito italiano divide a
extradição em eXlradiç(;o aliva (eslradizoine dal/'eslero) e em extradição passiva
(estradizione per /'eslero). Do mesmo modo como fazemos.
88. No modelo italiano a decisão final sobre extradição, ativa (que m e a quem pedir
extradição) e passiva (deferi r o pedido de eXlíddição), pertence ao Ministro da Justiça
(Ministro di Grazia e Giustizia). A competê nc ia do Ministro da Justiça em âmbito de
extradição (Eslradizione e pOleri de/ Ministro di Grazia e Giustizia), no direito ita liano,
é definida no art. 697 do C PP daquele país.
89. Há restrições para a extradição relativa a delitos políticos (a rt. 698- reali
poli/iel), com fundamento na tu tela dos dire itos fundamentais da pessoa humana (lUtela
dei diritli fondamenlali deI/a persona). Faz-se deferência ao princípio da especia lidade
(a rt. 699- principio di specialilá).
91. No que se refere à extradição ativa propriamente dita, dispõe-se que ao Ministro
da Justiça cabe o pedido de extradição a um Estado estrangeiro, de acusado ou
condenado, a quem deva ser imposto procedimento restritivo de liberdade pessoal ( art.
720- domando di estradizione- li Ministro di Grazia e Giustizia competente a
domandare a uno Sfalo esfero I"esfradizione di /ln imputato o di un condannato nei cu;
confronti debba essere eseguito un provvedimenfo restrillivo deI/a Iibert personale).
93 . No entan to, a extradição pode também ser suscitada por iniciativa própria do
Ministro da Justiça (art . 720- L 'esfradizione puó essere domandata di propria ;niziativa
dai Min istro di Grazia e Giustizia), a quem cabe também decidir por não encaminhar o
pedido de extradição (art. 720- II Minis tro di Grazia e Giustizia puá decidere di non
presentare la domanda di estradizione o di differirne la presentazione dandone
comunicazione ali "autoritá giudiziaria richiedenre).
94. Na hipótese do Estado que ext radita impor co ndi ções para a entrega do
extradi tando (comutação da pena -- de pena de prisão perpétua para pena de reclusão
máxima de 30 anos -- ou detração - - redução da pena a se r cumprida do período já
passado na prisão pelo extraditando) o Ministro da Justiça seri a quem deteria
com petência para decidir sobre a aceitação das condi ções impostas.
97, No direito italiano há ao; pena.;; de rest rição de liberdade e penas pecuniárias.
Entre as penas de restrição de liberdade há a prisão perpétua, a reclusão e o arresto.
Entre as penas pecuniárias há multa e outras imposições rixas e proporcionais.
100. A pena de arresto (arresro) é fixada entre 3 dias e 3 anos, com isolamento
nolurno; o condenado pode trabalhar e m local outTO que não o estabelecimento no qual
cumpra a pena, levando-se em conta, especialmente, seu histórico de trabal ho (La pena
delrarres/o si estende da Ginque giomi a tre anni, ed e sconlara ;n uno degli
stabilimenli a ciô destinati o in sezioni speciali deg/i s/abiJimen/i di rec/usione. eon
l'abbJigo dei lavaro e con !'isolamento notturno. Ii condannato all'arresto puo essere
addello a lavori anche diversi da quelli organ;zzaf; nello sfabilimenfo, avilto riguardo
aUe sue attiludini e alie sue precedenti occupazioni).
101. É o Ministro da Justiça quem aprecia e defere (ou não) as condições impostas
por Estado estrangeiro, para a entrega do extraditando. A questão deve ser inserida no
contexlo ge ral do ordenamento jurídico italiano, na expressão de tratadistas daquele
país, em tradução livre minha:
(. ..) as condições que Estados estrangeiros Impõem para a extradição
são imprevisíveis; é por isso que, distanciando-se de generalizações abstratas,
individualiza-se na pessoa do Ministro o órgão funcionalmente competente para
operar uma valoração sobre a conveniencia, para os interesses nacionais, de
acei/ar-se cláusula ulterior e específica colocada pelo Estado que dispõe sobre
a transferência da pessoa demandada. Neste trabalho de seleção, além do 'bem
comum', o Ministro conta com algum parâmetro de referencia obrigatória de
racionalidade e de ética: no sentido de que seja vedado à autoridade
administrativa a aceitação de condições boomerang para a eficácia dajustiça e
qlle eventualmente sejam 'contrárias aos princípios f undamentais do
ordenamento j urídico italiano '. Ainda que esta valoração e especificação do
âmbito da especialidade deva enconlrar expressão fo rmal em um decreto, com
1J
todos os problemas que alcancem 11m ponto de controJe .
103. Questão que se mostra recorrente é relativa à entrega de extraditando que fora
julgado e condenado à revelia (contumacia), com condição de que se faça novo
25 Gaito, Alfredo, Rupporti giurisdizionali com autorilà slrunier;, in Conso, Giovanni e Grevi, Villorio,
Profili di Procedura Penale, 5.1.: CEDAM, p. 8 14. No original: (... ) le condizioni che gli stati stranicri
appongono a[]'cstradizionc sono imprevidibili: ecco perché, rifugggendo da gencralizzazioni astratte, si c
individuato nc1 Ministro l'organo funzionalmcntc competente ad ope rare um vaglio sulla convcnicnza,
per gli intcrcssi nazionali, di acectare le dausole ulteriori e specifichc aggiuntc dallo Stato che dispone ii
trasferimento dei soggeno richicsto. ln questa opera di selezione. oltre ai 'bene comune ', it Ministro ha
qualc parâmetro di referimento obrigatório la ragionevolezza e r etica; nel senso che e inibita a[]'autorità
amministrativa I'acceitazione di condizioni boornerang per !'eficacia dclla giustizia e quelloc
eventualmente ' constrastanti com i princlpi fondamenta li dcll'ordinamento giuridico italiano' . Anchc
questa valutazione e spccificazione degli ambiti deJla specialità nel caso concreto dovrebbe trovare
espresssione formale in um decreto, com tulli i problemi chc ne conseguono in punto di controlli.
2' Cf. Dália, Andrea Antonio e Ferraioti, Marzia, Corso di Diritto Processuole Penule, S.I.: CEDAM.,
1992, pp. 648-649.
21 Cf. Tonini , Paolo, Malfua/i di Proceduro Pena/e, Milano: Doot A. Giu ffrc Editore, 2005, p. 857.
julgamento. Há not ícia de que se impôs como condição para e ntrega de extraditando
j ulgado à revelia a possibilidade de um novo julgamento.
105. Do que então se pode concluir, nesta particu laridade do direito extradicional
italiano, que o Minist ra da Justiça é quem decidiria pelo c umprimento de condições,
impostas por Estado estrangeiro, refe rentes a e ntrega de extrad itando; teri a, como
limi tes, os princípios gerais do direito italiano (art. 720 do CPP da Itália).
li Selo 1, SefltefllQ fi. 35144 dei 22/09/2005 Cc. (dep. 29/09/2005) Rv. 232088- RAPpQRn
GIURISDIZIONALI CON AUTORITÀ 5TRANIERE (Cod. proe. pen, 1988) • ESTRADIZIONE DALL'E5TERQ - lN
GE NERE _ Condlzione apposta dallo 5tato estero - Pieno esereizio dei dlritti di impugnazione - Condanna
in eontumacia _ Restituzione in termini - Istanza - Valutazione - Obbligo. ln ipotes! di estradizione da uno
5tato est ero ehe non preveda ii giudizio eontumaciale, coneessa a condizione che sia data ali 'estradando
la possibllità di impugnazione idonea a garantire i suoi diritti di difesa, la eondizione deve intendersi
rispettata solo qualora j'interessato possa awalersi, rieorrendone i presupposti, degli istituti della
rimessione ln termini o della revisione.
argumentati va da defesa do extraditando, e que fora nos termos propostos aceita por
alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal.
108. Por exemplo, o Ministro Marco Aurélio registrou em sua decisão que as
se ntenças italianas que condenam ao extradi tando fazem 34 referências a movimen/o de
!mbVerSlio da ordem es/atal. O Minist ro Marco Aurélio teria reconhec ido como
procedente alegação da defesa do extradi tando, refere nte às seguintes circunstâncias:
125. Os exce rtos de jornal acima reproduzidos dão conta de que hã co moção política
e m favor do e ncarceramento de Battisti. Inegável que este ambi ente, fi elmente retratado
pe la im prensa peninsular, seja caldo de c ultura justirica ti vo de te mores para com a
situação do extraditando. que será agravada.
126. Nesse sentido, as infonnaçõcs acima reproduzidas justifi cam que se negue a
extradição, por força mesmo de disposição convencional. O Presidente da República
aplicaria disposição da letra j do ite m 1 do a rt. 3 do Tratado de Extradição formalizado
por Brasil e Itália. E tem competência para tal. O que estaria vedado ao Preside nte do
Brasi l seria a concessão de indulto (o que não é a hipótese) conforme se decidiu na Ex t
736/República Federal da Alemanha, relatada pe lo Mini stro Sydney Sanches, em
julgamento de 10 de março de 1999:
EXTRADIÇÃO. DECRETO DE PRISÃO PIIEVENTlVA . CRIMES DE
ESTELlo.NATo. E FALSIFICA(AO DE DOCUMENTO.I·.· DUPLA
Tlf'lCIDADE. TERRITORiALIDADE. INSTITUTOS PENAIS E PROCESSUAIS
BRASILEIROS: INEXIGI/JIUDADE OE SUA APUCA('ÀO PU.A .II1.WIÇA DO
E.I7:4/)o. REQUERENTE PR':SCR/('ÀO. REQUISITOS PARA A
EXTRADIÇÃO. I. O decrefO de pri.wio l'stá comido I/() prfÍprio I//andado de
captllra. comu prevÚ"to lia legislarlio afemii. com satisjátária ji/lltlamenta,ào l'
pieI/a (l(-eitar,:úo desla Corle. em vário.\' p/'eadentes. ! . o.~ dclito.~ imputado.\· ao
eXlraditando ..\·eg1llulo consta de lal peçll. fáram sete estelionotos (11m dos quais
eSfJl!cilllmeme ~/'a\'e). e seis mediallte jals(ficac;lio de documel/llls. lOdos
ocorridus IIiI Alemanha, onde o exrradilmuJo agia em nome de certafir1lla. com
('scrilário em Alul/ique. s f/h U }jl'rencia de 11m camparsa. 3. A condI/ta de lImbos.
em cada um dos delitos. fái milluciosamellle descrita na ordem de prislio. .I. Os
il/stitlltos brasileiros de :mspel/sâo do processo, c(Jnfárme u mOllfal/te da pena
mil/imo pn' \útll para os crimes. e do rc~ime d,' cumpriml'nlo de pe/la nilu
podem ser impostos ti .Justiça oh'mil pc/a brasileira, nem isso é previsto na
lexis/(lç{ío q/le regulo a extradição, (III elll {!'(lrado entre (lo\' dois paÍses. () I/I('SIIIO
ocorre com re/açiio à possihilidade de u Presideme da República. 110 BrtL~i/.
segUI/do criTél'ius sef/S, vir a COI/cedeI' o indulto, em situa{;(}('s oSJelllt'lIll1das, em
C(l:W.~' mJ11i jlllg.ados. 5. Precedemcs. 6. Do mesma fiJrll/o, mio se compreende
que a Corre possa iII/por à .Justiça alell/à que cOI/sidere. 01/ IIi/o, ri crime de fálso
absorvido pelo de cslelional(). () que, aliás, lIem é pacifico }/({ slIa própria
jurisp/"udéncill. qUf.' propelllle, ullimamente. pelo reconhecimen!o do COJJcurso
formal de delito.~. 7. No caso. não ocorreI/ a I'rescriçlío da prefenwlo Pll1l1Úrtl,
seja pelo Direito Penal brasileiro, seja pelo alem(/o. 8. Enjim, felldo sido
apreseI/lados todos os dOCl/me l/tos exigíveis e preenchidos os requisilos dos
arligos 76, 78, 80 e seguintes da lei n" (i.8/5180. modificada pela I,ei 1/ " 6. 96-1, ('
nâo se caracteri::.m/(Io qualquer das hipÔleSl.>:'· previstas no arl. 77, J de ser
dejé ridll li exlradiçâo. 9. Pedido deji:rido . Decislio IIJuillime.
127. Por isso, deve-se levar em conta o permissivo da letra f do item 1 do art. 3 do
Tratado de Extradição formalizado por Brasil e Itália. A situação sugere certo contexto
político, podendo acirrar paixões. Esse núcleo temático, que enseja preocupações, exige
ampla refl exão em tomo da situação pessoal do extraditando. Concretamente, há
temores de que a situação de Battisti poderá ser agravada na Itália, por razões pessoais.
128. E ainda, há certo conteúdo humanitári o que deve informar a decisão a ser
tomada. A pena imposta é superior a 30 anos. E deverá ser mitigada. Porém, para
condenado que conta com mais de 50 anos de idade a pena assemelha-se a prisão
perpétua.
129. Por isso, se a pena fosse diminuída para 30 anos, o que permitiria, em tese, a
extradição, ter-se-ia a liberdade do extraditando com mais de 80 anos de idade: 60 anos
depois dos fatos supostamente ocorridos. Embora, bem entendido, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal ainda não tenha se expre ssado sobre o fato de que o
cumprimento da pena tenha como resultado, concretamente, uma circunstância fática de
pri são perpétua.
131. Neste mesmo passo cumpre-se ressaltar que a eXigênCia de que se realize a
detração, em favor do extraditando, é múnus do Poder Executivo, como já decid iu o
Supremo Tribunal Federal, por ocasião da Ext 1104 ED/Re ino Unido da Grã-Bretanha e
da Irl anda do Norte, relatada pelo Ministro Cezar Peluso, em julgamento de 25 de junho
de 2008:
EMENTAS: J. E.\7RA DIÇ·fo. PoS.üva. Pcna. Pri.wio perpé/lla. CO IIIUlaçi'io
prel'io asseg/ll"ada. Detroçúo do temjlo cumprido como jlrisün prevelltiva no
Bmsi/. Efeita secllndária e allto"uírico do Jt/erimenfO do pedido. Exig;>J/cia,
porém. que LOca ao Poder E\ccutl\"(). Inteligência do an 91, J/. da Lei II "
6.815/8 0 - Estall/LO do Esrrangeiro. Precedentes O deslina/ário do disposto 110
art. 91. I/, do Es/ntl/to do Es/rangeiro, ti o Poder ExeclI//\'(). a que incumbe
exigir, do E.~tado estrangeiro requerentc. o compromisso de c/etivar a dcrraÇ"âo
penal, como requisi/o para en/rega do extraditando. 2. RECURSO. Embargos
de declaraçiio. Prelcnslío de alle/'QÇ"üo do Icor deci.wí/"io. Inexistencia de
omissão. o}m:llri(/ade ou cO/llradiçiío. Inadlllissihilillttde. Elllbarj!os r<:;eilados.
Embargos d/:'c/aratários não .i'e prcslam a mod(ficar capi/II/o decisório. so/vI)
quando a I1wd!'ficação jigllre cOlIseqüéncia inarredáve/ da SWIlIÇÚO de l"ício de
/Jlllissrlo, ob.Klrridade ou contradirão do (110 elllbar~lIdo.
132. E o Supremo Tribunal Federal, por ocasiào da Ex! 1039/ltália, relatada pelo
Ministro Celso de Mello, em julgamento de 21 de junho de 2007, já tocara no assunto,
centrando o extraditando como sujeito de direitos, em sentido estrito:
E M E N TA .. EXIRAD/(.Au PASSII'A VI' CAI/ATER INSTlIUTÚRIO-
SUPOSTA PRATICA DO DELITO DI; LA VAGEM DE DINHUR()
("I1RANQUEAMENTO VI' CAPIl:41S'j - INEI'I.\7ÉNC/A DE TRATADO DE
EXTRAD/(ÀO ENTIIE li BRASIL E A REPlÍl1L1CA FEVEIIAL DA
ALEMANHA PROMESSA DE RECIPROCIDADE - FUNDAMENTO
.IURÍIJICO SUFICIENJE - NECESSIf)ADE DE RESPEITO A()S DIREITOS
KislCOS DO S[Í/)/TO fSTRANGflRIJ - OBSERVA-NCIA, NA f:spl'CIE. DOS
CRITtRlOS DA DUPI.A TlPICIDADE I,' DA DUPLA PUNIBILIDADE -
ATENDIMENTO. NU CASO, DOS PRES:WPUSTOS E REQUISI7VS
Nf.'CESSARlOS AO ACOLflIMf.'NTO DO P/.FJTO E.ITRADICIONAL -
EXTRADiÇ-..iO VEFERIDA. INEXISTÉ:NC/A DE 7'IIAIADO DE EX7RWIÇAu
E ()FEREClMENTO DE PROMES,);I DE RECIPROCIDADE POR PARTE DO
ESTADO REQUERENTf:. - A inexiSTência de Ira/ado de eXlradi~'iio niia iIllIJl.:dt'
a ./urmu/açâo t' o eveJlfual (Jft!lIdimento do pleito exlradiciollal, c/esde que 11
E~/ado requerente promela rl'eiprocidadl' de tratamen/o tiO Brasil. ",cdiame
expedielllC' (Nota Verbal) formalmel/h' transmitido por ,,:ia diplomática.
Duu/rina, Precw/el/les, PROCESSO E).TRADICIONAL E S'/STtAM DE
CONTENClOSIDADE LlMn~IDA .- INADMISSIBILIDADE DE DISCUSSÃO
SOBRE A PROlé4 PENAL PRODUZIDA PERA NTE O ESTADO
REQUERENTE. - A açiio de extradição passim não confere, ao Supremo
Tribunal Federal, qualquer poder dI' indagação sobre o mérito da pre/emão
deduzido p('/o Estado requerente uu sobre o COII/{'xlu probatório em qlle a
posfldação (ix/radieional se apoia. - O sistema d,' confenciosidade limitada, q//e
caracu.'ri:a o regime jurídico da extradição passÍl'a 1/0 direito posi/im
bmsileiro, //llo permite qualquer indagaçâo proba/(iria pertinente ao i/íeiro
crimil/al cuja persecução, /lO exterior, jllstificou o ajlli:aml'nto da demanda
extradicional paame o Supremo Tribunal Federal. Rere/ar-~'e-á
t'Xcep,:iona/mellle possível, no ental/to, li muilisc, INlo 5,'lIpl'(i/110 Tribul/ol
Federal, de (I.\'lJCctos n/ateriais concemen/I!S à prúpria suhs/àm:ia da imjlll/açlío
penal. sempre que Inl exame se mOSlrar indi...pen.~ál,<,1 ri ,WlllÇào de controvérsia
perfil/eme ({/) à oeorn}ncia de prescrição penal, (b) à obscrwillcia do pril/cípio
da dI/pia lipicidade ou (C) ti con.figllraçào eWl//lwlfll/'lIIe política flJllfO do delito
OIrihuido ao extradiwndo ljuall!o da.f I'a:ões que le varam o E.\'wdo t'strangeiro a
requerer o eXl/'(Jdiçâo dt, determinada P<!s.WJo lIO Go\.'erl/o brasileiru,
Inocorl'êllcia, na ('specie, de qualquer dessas hipóre,\'('s, EXTRADIÇ..io E
RESPEITO AOS DIREITOS HUAUNOS.- PARADIGMA ÉTlCO-JUJUDlCO
CUJA OBSERVANCH CONDICIONA O DEFERIMENTO DO PEDIDO
EXTRADICIONAL. - A e.uel/cialidade da cuopera('(;o ill/emllciunal na
r('pn,!,.são penal aos deli/os C(}1II1m,~ não eX011t'ra (} Eswdo hrasileiro - e, em
particl/lar, () 5;lIpremo Trihlllw/ Federol - de I'elar I'fdo resl'eiw (lOS dire ilOs
j illldamen/ai.\' do slÍdi/o estrallgeiro que venha a sofrer, em l/OSSO País. proce,Ç!!o
('x/radic:iul/tll insfllllrat/o por iniciu/iwl de qualqm' r Estado estrangeiro, O
extraditando assume, nfl proce,~.WJ extrllllic:ional, (J c(/ndi~ 'ii(l indi'' 1xwível de
sZ!ieilo de direitm, cuja infangihilidtllle há d,' .\'cr IlreSef'l'lIda pc/o Estado a que
jili dirigido o pedido de eXlradiçiio (o Brasil, 1/0 caso) , - O Supre'mo Trihunal
Fed<!ral lião deve llUfOri=ar a eXlradiçtio, se sc dC/JIonstrar qllc o ordenamento
jurídico tio E.~tadll estrangeiro I/ue li reqller mio ."e revela capaz de assegurar,
aos réu,~, em jllbJ criminal, 0.\' dircifO,~ básicos que I't'.wlwm do !HM/li/ado do
"du(~ process of law" (R7:/ /34/56-58 - RTJ J7iN 85-488), no/admlll:1Ife as
prerroj.!lIli\'w' inerentes à garantia da lili/pIa dt/esa, ii garantia do comradilário,
it i1(llaftlllde entre a,' par/e,~ (lermlfe () j lli: lIa/llral e ii garantia de
imparcialidade do magis/rado processallle. Demoll.\'trarào, 1/0 ClISO, de '1m' {I
/'('gimt' politico que irifi',rma (L\' imtitllições do Estado requel'e/Jle re vn/e-se de
n,rcí/t'r democ rático, assegurador das libadad('.~ públicas fimdan/en/af.ç ,
f~\-ruADIÇ.,in - DUPLA TlPICIDADE E DUPlA PUNIIJJI.IDADE. - O
poswlado da dI/pia tipicidade - por con.\'Ii/uir requisito ('s.~ellcilll ao ll/endimelllo
do pedido de eXlradição - ;mjJÕ(' qm' Q ilíÓ/Q pel/al a/ribuido ao {'x/radiulIIt/o
seja j uridicameme qualijicado como crimt' ({m/o 1/0 I3ra..\' jf l/lllIIIW "U Estado
rt'quen!llle, O que rt'aJmente importa, na lIjáiçlio do fJo.HIdado da dupla
tipicidade, é a presença dos elememos estruturaflle~' do lipo penal ("esselllialia
deficti "). /ais CO/1/0 dejinidos nos preeeilus primúrios de incriminaçãu
COl/stantes da legis/açüo brasileira e \'i~entes 1/0 ordfllamento positivo do
I:.'.\'tado requereI/te, indepenl'ientement" da tlesigllClçcio formal por eles atribuída
Closjato,,' deliflJOsos, - Nilo ~'e concederá {J extradiç'cio, qua/ldo estÍ\'cr exlillla, em
dt'CfJrrência de qualquer cousa lexal. li Pllnihilitlmlc do ('x/radiumdo.
IlUwclamenl4! se se verijinlY a cOl1Sl/llltlçiio da prescriçiio penal, seja 1I0S lermos
da h'i brasileira. seja .wgl/ndo o ord4!lltImento positim do E.../aclo reqllcrellle. A
sarisjáçào da exigel/da COllcemellfe ii dI/pIa punibilidade cO/lsrill1i requisiru
{'ssenciaJ ao deferimel1fo cio pedido exrradiciollol. Obsen'ônôa, I/a espch:/e. do
posrulado da dupla punibilidade. VALIDADE CO;VSl'ITUC/()NAI. DU ART 85.
"ç I ~ DA I.E/ N° 6.8/5i80. - As resrriçõe.ç de ordem lemática. estahelecidas no
f,~çrarlllo do ESlrangeiro (art. 85. :§ I ') - clljo il/cicléllcia delimita, I/as ações de
eXlradiçiio pturil'a. o âmbito maleria! do exerdcio do dirtdlO d{~ defesa -. mio
são ;'lcolIs/irucÜm(li.~. nem oji:ndf.'m II garanlia da p/enirude de d/!,fr.:w. t'm lace
da nafure=a mesma de que se rn'este (} proCt'ssu eXlrtldiciulla/ no direito
bra.\"iJeiro. Precedemes EXISTÊNCIA DE fAMíLIA I1RA,;'lLE/RA (UNtAU
ES71Í Vi'."I.;. N()7~1 DA !,dENTE Df." FII.1I0 COAI NAC IONA LIIJA DE
BRASILEIRA ORIGINARIA - SI TUAç.40 QUE N,[O IMI'cDE.1 EXTRADI(:,10
COMPATIBILIDADE DA SÚMULA '21 1.~TF COM A VIGENTE
('ONSTlTUI"AO DA REPÚBLICA -PEDIDO DE IXIRADIÇJO DEFERIDO
. A existJucia de reJaçiJcs jámiliare.\·. a cOJ/lprovação de vínculo COIljUgll! ou li
convi\'êllcia "/lIVre Itxório" do ex/rodirando com pe . . soa dI! nacionalidade
hrasileira cOlIs/ifuem falOS deSfifllídns de rell!l"lillcia jurídica para eji!ilos
eXIJ"adiciolUlis. nâo impedindo , em COlI.tl!quellcia, a cfi'lil'açüo da ('x/mdiçi'io do
Slídi/o e.Hrangciro. PreCt,del1le.ç. - Não impede a ex/mdie/ào () fmo de o súdito
estrangeiro seI' casado 01/ viwr {'fJI união es/ôw! com pessoa de nacionalidade
brasileira, ainda que com esta possua filho brasileiro. - A SlilllllJa -Il/ .<'\TF
rel'('lt"l-.~{, compalil'el com (I "igeme COIISrilui(:iio da República. poü, cl/llelll(l de
coopcmçào illll'rllllcional lia repr"ss!ío a (llos de criminalidade COIIIIIIII, a
('xi.\"ICncia de "íIlC1I/OS cO/!;lIga;s elOIl fámifia,.('.~ com pessoas de lIacio/lalidade
hra.~ilC'i"a mio se qllal(jica COII/O caus(/ obs/alÍwJ d(l t'x fradiçâo. Precedenfe.\·.
134. No caso presente seria inevitável, para efeitos de ex tradição, a ex igê ncia do não
cumprimento de pri são perpét ua, confo rme se colhe em jurisprudência do Supre mo
Tribunal Federa l, asse ntada por ocasião da Ext 944/Estados Unidos. relatada pelo
Mi nistro Carlos Brilto, em julgamento de 19 de dezembro de 2005:
E'MlXr4 : IXIRADlÇ,fo. TRAFICO INIERNACIONAL DE DROGAS.
ALEGA('lo DE (jUE O INDlC1MENT Niío E DOCUMENTO APTO A
V/ABILlZ4.R A CONCESSt10 J)O Pt:DIDO, ALÉM DU QUE A PENA M1xL\1A
PARA O CRIME E DE PR1Slo PERPÉTUA, O OUE IMPEDIRIA A
EXTRADI< '.10. Pedido ex/radieional que (//('nde eis ('xig~ lIcias do Tra/ado
Bi/a/t'ral de Ewmdição BrasiJ/Es/ados Ullido.~. bem CUII/O às da Lei n" 6.815180.
O indicllllc!nl é inSlÍtuto equiparável à promil/C:ia e li Supremo 7'rihl/l/{/1 Fe deral
.ia se IIUJ l life.\·101t peJa s/!fic:iJnâa dl!~'se a(o jimllfJJ pO/"O legitimar pedidos
t'xtradicim/(/;s (Ex/. j.J2J. o Extmdi/ando responde li processo 110 Brasil. m=ão
pela qual é de se adiar a etlfrega ate (/ de.~·{ec"() da açüo IU'lIa/. Em Ji.u:e da
IJO.uibilidade dI! cominação da pena de pri.wl0 perJl';/lw. ê ele se ob.'ien'ar {J
a/ual j twisprlldencia deste Supremo Tribunal Fi.'daal para exixir do Es/ado
rl'q//erellle o compromisso de lII'iO aplicar 41/)''''(> tipo de repriml'nda, mel/os ainda
a pena capital. em caso de col/denaçâo do reli (Ex/. 855). f':xrmdiçtio defl'rida
com as mencionadas re.wriçiles.
135. Registre-se também, avaliando-se o caso em toda a sua extensão, que o Chefe da
Missão Di plomática Italiana no Brasil , nos termos de j urisprudência do Supremo
Tribunal Federal, pode ria assumir o compromisso oficial de comutar penas, tal como
decidido, mutalú' mlllandis, na Ext 633/República da China, processo relatado pelo
Mi ni stro Celso de Mello, em julgamento de 28 de agosto de 1996:
E M E N TA: E>.TR.,j DIÇ.,jO - REPÚBUCA POPULAR DA CH""A - CRJ,'l-fE
DE ESTELlUNATU PUNí VEL CUM , J PENA DE MURTE - TlPIFlCAÇ, jO
PENAL PRECARIA E INSUFICIENTE QUE INVIABILlZ-J () n :4ME DO
REQUl5;ITO CONCERNENTE li DUPL" IN(,RI.~lIll/A(".,jO PEDIDO
INDEFERIDO. PROCESSO EXTRADICIONAL E FUNç:-io DE GARANTIA
DO TIPO PENAL. - () a/o de tipificação penal impôe ao EsI(lt/o /) dever de
identifica,.. COIII clareza c preci. . ão. os elemelltos dejinidores da condI/ta
ddi/llosa. As normas de illC:/"imil1açüo C/tle dl'sarl'ndem ti essa exigél1cia de
ohjeti\'idade - além de descumprirem ufilllf,."tlO de gartll/tll1 C/"e é inerente au tipo
penal - qualificam-se como expn:ssc7o de 11m discurso normali\'O ahsolwamemc
iI/compatível com a essencia me.ww dos princípios qlle C.W/"lIfuralll o sislema
pel/al 1/0 contexto do.\" regimes democráticos. O recullhecimenlU da
possibilidade de instituif,."tlÓ de estnllll/'aS tipicas jl('xíl'('i,~' não COI?(ere l/O ESludo
II poder de cOflStrui,. .fib'1II'OS pellai.~ com IItifizarc7o. pelo !egi.\·It,dor, dc
cxpressiics ambíguas, vagas, imprecisas e il/d(fillidas. l l/ue o regime de
indelermina("ão du lipo penol implica. em Mlill/a ami/i.,·(,. /I pnjJlrill .\·uh\·crsclll
do postlllado cO/lstill/ciona! da resen'lI de lei, daí /"/'sIIIllInd/l, como tji.!ilO
cOl1seqiicncil1l imedia/o, (/ gn l'ríssimo cOlllp/"()/IIetimenlll do SiSfl'lIll1 dos
lihudades públicas. A clál/SI/la de lip!licarclo penal, cujo CII/lll'lid/l tle.w.:ri/iI'/J se
n:wlo precúrio e imllficiellle, m/o permite quI' .\"41 ohol"t'n't' fi princípio da dupla
incrimilll1f,."tlo. iI/viabilizando, (' 111 conseqüéllcia. fi aca/himemo do pedido
('x/radicional. EXTRADI(.40 E RJ:'5iPEITO AOS DIREITOS H UMANO.,'. - ri
es.~('lIcilllidade da cooperllriio internacional lia reprc.l".~ão penal ao.\' delílo.~
C()11I1111.~ mio exonera () Estado hrasileiro - e. em panicular. () Supremo Trihllnal
Ft'deral- de "dar pelo respeilfll1tH direilosftmdomelllais do slÍdi/o ('slrallgeiro
q//e ....enha II sofrer. cm /I0SS0 Paü. processo eXlradiciml(ll illslallrlldo por
inicialiv(I de qualquer E.'illldo esrranf.{eiro. O ja/fl d,' O (,,\./ r(lIIgeiro ostelll/lr li
c:ondiçtio jllrídica de ex/radi/tlIll/o IllIO ba'ita ptlra redll:i-Io (/ um estado de
submissão illcompali\'el COIII a essencial dignidade que 'he e iner<'nte COII/O
p"S.WlI hllmana e lJue lhe conft:re (l lilUlaridade dl' direitos jimtlllmentai:,.
inafj(,lIlíwis, de/l/re O!J" quais (Il'lIlta, por sua illS/lperáwd imporlância. (f j{aramill
do dut' p/'Ocess o.f Imi'. Em lema de direi/o exrradicionaJ. o SIIprl'l1l0 Tribunal
Fe(/a(ll mio pode e nell/ de"'e revelar indiferença diante de Ircmsgre.nlíl!!J" ao
regime da.\" garantias proces.waisfundameJ/la is. É qlle o Estado brasileiro - 11 111:
dl!l'e ohec1iêllcia inestrita iI própria ComtilUie/lio qlle lhe rege a vida
im/ill/d onal • asslIl/liu, nos termos dessl! mesmo es/atuto político, o Rravíssimo
J(' l'er de Sl!mpn' c/lnfàir prel'aléncill aos direitos hllmanos (01'/. 4<>, 11).
E.\TRADIç:40 E DUE PROCESS OF LAW O extraditando assume. 1/0
prOC('!iSO extraJicionol. o condiçiio il1dispOflíl (>1 de sujeito de direitos, cuja
l
137. De fato , registro há também de que o Supremo Tribunal Federal exija que o
compromisso formal de comutação da pena seja feito concomitantemente com o pedido
de extradição, embora também possa ser prestado na entrega do ex traditando.
138. É o que se definiu, por exemplo, por ocasião da Ext 272/Austrália, relatada pelo
Ministro Victor Nunes Lea l, em julgamen to de 7 de junho de 1967:
I) EXTRADiÇÃO A) O DEFERIMEN7YI O U RECUSA DA
EXTRADiÇÃO E DIREITO INERD\TE A SOIiERANIA. BI A EFET/V.1('.4o.
PELO GOVERNO. DA ENTREGA DO EXTRADITANDO. A U roRIZADA
PELO SUPREMO TRIB UNAL FEDERAL , DEPENDE DO DIREITO
INTERNACIONAL CONVENCIONAL. 2) RECIPROCIDADE AI E FONTE
RECONHECIDA DO DIREITO E.\TRADlCfONA L f."XTR. 232!1Y61), EXTR
288(1962), EX7R 25111963/ /lI A CONSTlTUICJO DE 196 7, AR't: 83. VIII.
N.'io EXIGE 'REFERENDUM' DU CO/v{iUESSO I'ARA ACf:I7AÇÃO DA
OFERTA DO ESTADO REQUEREN7E. C) A !.EIIiRASILEIIIA A U TORIZA O
GOVERNO A OFERECER RECIPROCIDADE. 31 COIvIU7i1C'/O DE PENA
A) A EXTRADIÇJO ESTA CIINDlC/ON,1DA A VEDA(/ /O
CONSTITUCIONAL DE CERTAS PENAS. CIIMO A PRIS,/O PERPETUA.
EMBORA /-1.4.1,1 CONTROVÉRSIA A RESPEmi ESPECIALMENTE
QUAN'IV AS VEDAÇ()ES DA LEI PENAL ORDINAR IA , EXTR. 165(1953).
EXTR. 230(1961), E\TR. 141(19611, HTR. 134119651. BI O COA/PROMISSO
DE COMUT'lç ,io DA PENA DEVE CONSTAR DO PEDIDO. MAS PODE
SER PRESTADO PELO ESTADO REQUERENTE ANTES DA EVTREGA DO
EXTRADITANDO. EXTR 141{/961J. VOTO DO MIN. LL'IZ GALLOTTI NA
EXTR. 118(1950). 4) INSTRUÇÃO. A DOCUMENTA(AO SUPLEMENTAR
FOI OFERECIDA Df TEMPO OPORTUi\'U. PELOS EST.WOS
REQUERENTES. SEM PREjuízo DA DEFESA HERClTADA COM
EFlCIÉNCIA E BRILHANTISMO. 51 TERRI7DRIALlDADE. A) J UllISDIÇAo
DA AUSTRIA (CRIMES DE M4RTHElklj E DA poUiNIA (CRIMES DE
SOBIBO R E TREBLlNK~). Bi I'ALT.~ DE J URISD/('.40 DA ALEMANHA
(SOBIBOR E TREBLlNKAI. PORQ UE A OCUI'AÇ"JO MILI7:4R N.40
TRANSFORMOU ESSAS L!X'ALlDADES EM 7ERRlroRIIJ ALEMAo. NEM
ALlI'ERMANECEAl SUAS TROf'AS. NEM O E.ITRADI TANDO CONTiNUA
NO SERViÇO. 6) NACIONALIDADE ATIJ-~1. AI JURISDIÇ io DA AUSTRJA
(SOBIBOR E TREBLlNIVII POR .IER STANGL A USTR IACo. Bi
JU/IISDI("JO DA ALEMANIIA (.WJBIBOR E TREBLlNKAI. NAo PORQUE
.\'TANGL TIVESSE AO TEMPO A /VACIONA U J)ADE ALE/vIA. MAS PORQUE
E',17:4 VA A SERViÇO DO GOVERNO GERMÂNIC O. 7) NAR IIAm A. -1'01
MINUCIOSA. E A7i EXCES,'il l'~I . A DESC RI(AO DOS 1':-I7'OS
IJEU7VOSOS, DEPENDENDO A APURAÇ.40 DA CULPABILIDADE, O U O
GRAU DESTA. DE Juízo DA AÇA-O PENAL 8) GENOc íDIO. A ULTERJOR
77PIFlC1Ç.40 DO GENOcíDIO. EM CON VENÇJO IN 7ER,VACIONAL E
NA LEI BRASII,EIIIA. OU DE OUTlIO ESTADO, N.4'0 EXCLUI A
C RIMINALIDADE DOS ATOS DESCIlITOS, POIS A E.\TRADIÇ.40 E
PEDIDA COM I'UNDAMEN7V EM 1I0MICíDlO QUA L/FlCI/OU. Y) CRIME'
POLÍ71Co. A EYCEÇ-iO DO CRJME POI.Í71CO NÂO CABE. NO CISO.
MESMO. SEM APLlCI/Ç.-IO IMEDIATA DA ("ONVENÇAo SOBRE O
GENOCiDIO OU DA L 2.889/56, PUIUJ UE t:8.\:4 EVCUSATII'A N/To
AMPARA OS CRIMES COMETIDOS COM ESPECIAL P/-;RVf.RSIDADf: O U
C RUELDADE IHTR. 232, 19611. O PRf:S UMIDO ALTRU/SMO DOS
DHINQUENTES pOLÍTICOS N,TU S/-: AJUS7:-1 .. I FRIA PR/-:ME/JITA("JO
DO EXTERMíNIO EM MASSA. 10) ORDEM SUPERIOR. A ) Nela SE
DEMONSTROU QUE O EXTERMíNIO f;M MASSA DA 1'//),1 IIUMA NA
FOSSE AUTORIZ~DO POR I.EI DO ES1ADO NAZISTA . IJ) INSTRUÇ()ES
SECRETAS (CASO BOHNE) OU DELlBERAÇ()H DISFARÇADAS. COMO A
'SOLUÇÃO FINAL ' DA CONFERENCIA DE WANNSEE, NÃO '/lNHAM
t;P/CACIA DE I.EI. C) GRADUADO FUNClONÀR/(} DA POLÍCIA
.JUDICIARIA N,40 PUDIA IGNURAR :I CRIMINAUDADE DO
MORTlCiNIO, CUJOS VESTiGIOS AS A UTORIDADES PROCURARAM
Mf.TODlCAMENTE APAGAR D) A REGRA 'RESPONDEA)" S UPERlOR
t::'J'1iÍ VINCULADA A CU4Ç';O MORA/.. NÃO PRESUMIDA PARA Q UEM
Ff:l CARREIRA B1-:M SUCEDIDA NA ADMINISTRA<Ao DE
t:S7ABELECIMENTOS DE DTERMíNIO EI DE RES7V. O EXAME DESSA
PRO VA DEPENDE DO JUiZO DA A('ÃO PENAL II) JULGAMENTO
REGULA R. A PARCIAL/DADt: DA JUS'/l('A DOS ESTADOS
REQUERt.NTES N,10 SE PRESUME: NEM PODERIA O EXTR ,ID!T,INDO
SER JULGADO PELA JUSTIÇA BRASILEIRA , OU RESPONDER PERANTE
.JURISDIÇÃO INTERNACIONAL, QUE NÃO t OBRIGATÓRIA. 12)
PRE.\·CRIÇ..iO Ai FICOU AFASTADO O PROIlUMA DA
RETROATIVIDADE: EX4MINOU·SE A MATÉRIA PELO DIREITO COMUM
ANTERlOR. PORQUE O BRASIL QUE OBSERVA O !'RINei!'/(} DA LEI
M41S FAVOR.-iVEL N,JO SUBSCREVEU CONVEN('ÃO. NEM EDITOU LEI
ES!'EClAL, SOBRE PRESCR/(,AO HI CASO DE GENOciDIO. B) NO QUE
RESPEITA A POLÔNIA . A PRESCRiÇÃO NÃO FOI IN7ERROMPIDA .
SEUUNDO OS CRlTER/US DA NOSSA LEI: 1"MBÊM N.'io O FO/
QUANTO A A USTRH EM REUÇ.JQ AOS CRlMES DE SOBIBOR E
TREBLlNKA , PORQUE NENHUM DOS ATOS PR1T1C IDOS PELO
TRIBUNAL DE V/ENA EQ UIVALE AO RECEBIMENTO DA DENi'NClA. DO
DIREITO BllASILEIRo. C! A A/JERTURA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL NOS
TRIB UNAIS DE LINZ E DUSSELDORF. TENDO EFEITO EQU/J'''LENTE
AO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DO DIREITO BRASILEIRO,
INTERROMPEU A PRESCRiÇÃO RELATIVAMENTE AOS PEDIDOS DA
.<ÍU,ITRIA. PELOS CR IMES DE HARTHEIM E DA ALEMANHA, PELOS
CRIMES DE SOBIBOR E TREBLINKA . Ili PREFERÊNCIA . Ai A
DETERMlNAÇio DA PREFERENClA, ENTRE OS ESTADOS
REQUERENTES, CABE AO SUPREMO TRIBUNAL. E NXO AO GOVERNO.
PORQUE O CASO SE ENQUADRA EM UM DOS CRIT/;·R!O.\' DA I.EI. CWA
INTER PIIETA ÇÃO I'INAL COMPETE AO .JUDICIARIO IIi Af:4smU-SE A
PREFERÊNCIA PELA TERRITOIIiAI.IDAIJE. Pl.EITEAIJA PELA
ALEMANHA. PEUS RAZÕES .1,4 IND ICADAS QUANm A .IURIS/JIÇ,40 C!
PELO CRITÉRIO DA GRA V/DAVI:: DA INFRAÇ'.:fO, O EXAME DO
7'RI/l UNAL N,JO SE I.IMI7A AO TINO DO CRIME. MA S PODE RECAIR
SOBRE O CIUME 'lN CONCREm' (COMIJINAÇ,JO DO AIIT -12 DO C
PENAL COM O ART 78. II. 'IJ'. DO C PR. !'EN) . IJ) EM CONSEQUÊNCIA.
FOI RECONHECIDA A PREFERENClA DA .-ILt; MANIIA (.\'OBI/JOR E
7REBLlNKA). E Nlo DA A(J.~TRIA ("AR71IEIM). CONSIDERADAS NÃO
SOMENTE AS CONSEOUtNClAS DO CRIME, COMO 7;HIIJÉM AS
FiNALIDADES DAQUEL-ES ES1ABELEC/Mt.'N1'OS E A Fu,vçAo QUE O
EXTR4f)I7A NDO NELES 1o~\ERCIA . 14) ENTREGA. ENTREUA DO
EXTRADI7, INDO A ALEMANIIA , SOB AS CONDiÇÕES DA LEI.
ESPEC IALMENTE AS DO ART 11, E COM O COMP ROMISSO DE
COMU'''IÇ.Ao DE PENA E DA ENTREGA ULTERlOR A .4US7'RIA. 151
'IIAIl EAS CORPUS', FICOU PIIE!UDICAD() () 'HAIlEAS ('ORPUS',
IIEQUERIDo. ALIAS. A REVELIA DO f:XTR!l Om INOo'
J 42. Lucas Ferraz também formulou pedido de entrevista com Battisti, e da mesma
forma, entre outros, encaminharam pedidos de entrevista Ornero Ciai, Vanildo Mendes,
Marco Antonio de Castro Soalheiro, Raymundo Costa, William Alan Clendenning,
representantes da Agência France Press, Raffaele Fichera, Zero Hora Editora
Jornalística S/A, diretoria da Agência Efe, Bandnews, TV Bandeirantes, Ni lo Martins,
Aparecida Rezende Fonseca, Sergio Rocha Lima Junior, Rad io e Televisão Capita l
Record, Ghera rdo Milanesi, Dario Pignoui, Rosa Sa ntoro, Edson Lopes da Silva,
Agência de Notícias Thomson Reuters, Julio Cruz Neto, Felipe Benaduce Seligman,
The Associated Press, Sistema Brasileiro de Televisão, RAI· Radiotelevisione Italiana,
Francisco Antonio da Silva, Maria da Paz Trefaut, Melting-Pot Production, Lelícia
Cynthia Renee Garcia, Paris Match, Percilliane Marrara Silva, Jorna l O Estado de São
Pau lo, SKY TG 24,Pierre·Ludovic Viollat.
144. Em primeiro lugar, não há mais espaço para que se discuta o procedimenlo penal
ocorrido na Itália e que redundou na conde nação de Cesare Battisti. A decisão do
Supremo Tribunal Federal tem como efeito imediato a proibição de que se levante,
internamente, dúvidas, scnões e questionamentos cm torno da legitimidade e da
legalidade do procedimento de condenação de Battisti . A decisão do Supremo Tribunal
Federal deve ser cumprida.
145. Por consequê ncia, preclusa objetivame nte a possibilidade de que se questionar o
teor das procurações supostamente assinadas pelo extraditando, conferindo poderes para
que advogado o defendesse nos processos que respondeu na Itália. Assim, prejudicada,
definitivame nte, pelo menos em âmbito de direito brasileiro, discussão em torno da
falsificação das procurações.
146. Preclusa também a instância interna para que se compree nda o Caso Battisti
como intrinseca mente político. Ainda que o desdobramento dos fa tos possa
abstralamente indicar o contrário, ainda que a lógica de toda a situação aponte para
contexto supostamente político, e ainda que não se tenha outTa perspectiva
hi storiográfica para a compreensão do caso, a decisão do Supremo Tribunal aponta no
sentido de que os cri mes imputados a BaUisti devam ser plasmados como crimes
com uns, e não como crimes políticos. Deve se cumpri r a decisão do Supremo Tribunal
Federal. Deve se cum prir o Tratado que assinamos com a Itália.
147. Isto é, ainda que se tenha bem nítido que a trajetória de Battisti desagrade setores
de esquerda e de direita, a usarmos expressões do vocabulário da guerra fria , eventual
argumento, neste sentido, e em favor do extraditando, não surtiria nenhum efeito no
caso pendente. Bem entendido, embora Battisti possa desagradar ambos os lados:
abandonou a luta armada, mas antes teria lutado, não se pode imputar aos fato s
OrigináriOS do pedido de extradição a conotação que a assertiva de envolvimento
poderia entoar.
148. O que se tem, concretamente, é que a competência para autorização (ou não) da
extradição é do Presidente da República. Se o Supremo Tribunal Federal defere o
pedido de extradição cabe ao Presidente da República, discricionariamente, ent regar (ou
não) o extraditando.
(
15 1. Sem que se toque na complexa questão relativa à natureza jurídica do direito
internacional , bem como de linha argumentativa que veria um grupo de tratados no
contexto de um soft faw, isto é, de um direito sem sa nção, deve-se levar em conta que
há compromisso assumido com Nação amiga e, neste sentido, o pactuado deve ser
cumprido. O Brasil vem sistematicame nte cumprindo acordo de extradição que ajustou
com a Itália, e a abundância de julgados que há comprova a assertiva. Não se pode falar,
assim, de comportamento desviante, ou de qualquer indicativa de desídia, de nossa
pane. O Chefe do Poder Executivo age nos termos do Tratado.
152. Como já observado várias vezes, o Tratado prevê que a ext radição não será
concedida se a parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa
reclamada será submetida a atas de perseguição e discriminação por motivo de raça,
rel igião, sexo, nacionalidade, língua, opi nião política, condição social ou pessoal; ou
que sua situação possa ser agravada por um dos elemenlos a ntes mencionados.
153. A cond ição pessoal do extraditando, agitador político que teria agido nos em
anos difíceis da história italiana, ainda que condenado por c rime comum, poderia, sa lvo
engano, provocar reação que poderia, em tese, provocar no ext raditando, algum tipo de
agravamento de sua situação pessoal. Há ponderáveis razões para se supor que o
extraditando poderia, em princípio, sofre r alguma forma de agravamento de sua
situação.
155. Com a Itália, há inúmeros outros casos que se desdobram. Eventual negativa de
extradição de Battisti, por força de disposição de tratado, como aqui sugerido, não é
indicativo de desrespeito para com o acordado entre Brasil e Itál ia. O Brasil c umpre
rigorosamente os tratados de extradição que entabu lou.
157. Não se trata de inovação. É fato. E não presunção. A regra que autoriza a não
extradição deve ser utilizada, e o seria também, em situação análoga, se recíproca
houvesse. É norma sim ples, que não exige torneios de hermenêutica mais ousados.
Basta suposição, por parte do Chefe do Poder Executivo.
158. Entre outros, é veículo para reconhecimento de que a finalidade da pena seja a
reinserção social do apenado. O que, no caso, registre-se, já se realizou ao longo dos
anos. A condição pessoal do extraditando pode ser piorada com a extradição. Ainda que
se tenha a comutação da pena, e ainda que se apliquem fórmulas de detração, o
extraditando ficaria preso até momento longevo, ao longo do qual temores do passado e
resquícios de um tempo pretérito, e de triste memória, possam qualificar perigo real.
Segundo o Mini stro Eras Grau, em voto publicado em excerto de livro,
(... ) o Presidente da República está ou não obrigado a deferir a
extradição autorizada pelo Tribunal nos termos do Tratado . Pode recusá-Ia em
algumas hipóleses que, seguramente, fora de qualquer dúvida. não são
examinadas, nem examináveis, pelo Tribunal, as descritas na alínea 'f do seu
art. 3.1. Tanto é assim que o art. 14.1 dispõe que a recusa da extradição pela
Parte requerida - e a 'Parte requerida', repito. é representada pela Presidente
da República - 'mesmo parcial, deverá ser motivada '. Pois esse ar/o 3.1 , alínea
j, do Tratado estabelece que a extradição não será concedida se a Parte
requerida /iver razões ponderáveis para supor que a sua si/uação (isto é, da
pessoa reclamada) 'fossa ser agravada "- vale dizer, aferada, merce de
condição pessoal (. ../
160. Ao STF não cabe a apreciação do mérito do pedido. Apenas, e tão somente,
autoriza-se ao Presidente da República a efetivar a extradição. Isto é, na hipótese do
N Eros Roberto Grau, Sobre a prestaç40 jurisdicional-, São Paulo: Malhciros, 2010, p. 223.
STF comprovar que o pedi do de extradição substa ncialize os requisitos indicativos da
ga ranti a dos direitos fundamentais do ext raditando.
163. É o Chefe do Poder Executivo Federal que m represenla o Estado brasileiro nas
relaçõcs internacionais. E é o Chefe do Poder Executivo Federal que a Constituição
reservou a prerrogativa de expressão fin al nas questões de extradição. É este o
e ntendimento do STF, tal como se colhe em excerto de vOIO do Ministro Carlos Ayres
Brino, justamente na extradição esmiuçada:
De sorte que, diante desse pensamento uniforme, eu procurei, fia constituiçào
brasileira. o regime jurídico da extradição. Será que a nossa conslituiçào
brasileira contém o regime jurídico da extradição? Parece-me que sim. E fui ver
na perspectiva do sistema belga, que é o sistema delibatório ou de legalidade
ex[rÍnseca, também chamado misto. Por que o sistema é nisto ? Ele é misto
orgânica ou sllbjetivamente, porque pre.uupõe a awação coryunta dos órgãos do
Poder Execu[ivo e do Poder Judiciário. Vale dizer. órgdos dos doi.ç Poderes
aluam com independência, é claro, mas convergentemente {fuamo à finalidade,
que é a extradição ou a recusa da extradição do cidadão. Mas ele é misto também
porque concilia. sem traumas, harmoniosamente, os princípios regentes de todas
as relaçõe.ç imernacionais do Brasil.
A Constituição, no artigo -I ~ estampa os principios regentes ou
reguladores das relações inlernacionais do Brasil. E o sistema belga. ou mis[o.
ou delibatório, ele tem o mérito de possibilitar a incidência de todos os princípios
sem f ricção maior, sem tensionamenlo maior. Ele prestigia todos. Por exemplo. o
primeiro princípio é a independência nacional. É a soberania nacional.
encarnada fiO Presidente da República, segundo o artigo 84. inciso VII. da
constituição. E o Presidente da República encarna essa soberania nacional. essa
representatividade externa do Brasil, protagonis/a por excelência. protagonista
até privativo das relações internacionais. O Presidente o faz não como Chefe de
Governo. mas como de Estado. Ele é o Chefe de ES/ado em nosso sistema
constitucional. E o modelo belga, que introduz o Judiciário no circuilo do
processo ex[radicional. em nenhum momento faz o Presidellfe da República
decair da sua condiçào de Chefe de Estado. Ele continua Chefe de Estado, mesmo
o processo extradicional passando pelo crivo do Supremo Tribunal Federal. É um
modelo conciliatório nesse sentido, respeita a soberania nacional encarnada no
Presidente da Republica, a despeito do processamento extradicional pejas
pranchetas do Poder Judiciário. Mas esse modelo é também respeitador da
soberania do Pais estrangeiro, requereme. Por quê? Porque. na medida em que o
Supremo não faz umjuízo meritório do processo extradicional. está respeitando o
Poder Judiciário do País estrangeiro. Está respeitando a soberania e o Poder
Judiciário do Es/ado estrangeiro. Então, é um modelo que tem dupla vir/ude:
concilia principias aqui e principias do País requerente.
165. Este último aspecto, representação da sobe rania nacional por parte do Presidente
da República, plasma fortemente a discricionariedade do prolator da decisão final, em
tema de extradição. Cuida-se, prioritariamente, das disposições dos incisos VII e VIII
do arl. 84 da Constituição, que conferem ao Presidente da República competência para
manter relações com Estados estrange iros.
166. Esta orientação ganhou foros de pennanência na dicção do então Ministro Eros
Roberto Grau, em excerto de voto na extradição aqui est udada, para quem, co m base em
Victor Nunes Leal, as razões da negativa da extradição, por parte do Presidente da
República não são examináveis pelo STF.
167. E é com base no tratado que deve agir o Presidente da República. Há fortíssimo
enquadramento político, ainda que no resultado, e não nas causas, no sen tido de se
respeitar pontualmente a decisão do STF. Isto é, os crimes não são políticos, são crimes
comuns. Porém, políticas são as dimensões dos fatos.
169. É exatamente o nicho democrático ita liano que suge re amplitude do debate,
suscitando-se ponderáveis suposições de que o extraditando possa, em tese, enfrentar
atas que agravem sua situação, por motivos de sua condição pessoal.
170. Opina-se, assim, pela não autorização da extradição de Cesa re Ballisti para a
Itália, com base no permissivo da letrafdo número I do arl. 3 do Tratado de Extradição
ce lebrado entre Brasil e Itália, porquanto, do modo como aq ui argumentado, há
ponderáveis razões para se supor que o extraditando seja submetido a agravamento de
sua situação, por motivo de condição pessoal, dado se u passado, marcado por atividade
política de intensidade relevante. Todos os elementos fálicos que envolvem a situação
indicam que tais preocupações são absolutamente plausíveis, justificando-se a negativa
da extradição, nos termos do Tratado celebrado enlre Brasil e Itália.