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PARECER N" AGU/AG-17/201O

PROCESSO N" 08000.00307 1/2007-5 1

INTERESSADO: CESAR E BATTISTI

ASSUNTO: Extradição. Repúbljca Italiana.


Julgame nto do Supremo Tribunal
Federa l. Requisitos de caráter
pu ramente subjetivos do Presidente
da República.

EMENTA: Ex tradição 1.085- República Ita liana. Supremo Tribunal


Fede ral . Margem de discric ionariedade do Presidente. Aplicação do
tratado. Ponderáveis razões para suposição de que o ext raditando
pode ri a ser submetido a atos de discriminação, por motivo de situação
pessoal.

Excclcntlssimo Senhor Ministro de Estado C hefe da Advocacia-Geral da


Uniáo,

Vossa Excelência e ncaminhou para a nál ise, ava liação e investigação cópia do
Processo nO 08000(lOO3071nOO7-S1, de imeresse do cidadão italiano Cesare Batlisti.
Há pedido de extradição, por parte da República Italia na, matéria apreciada pelo
Supremo Tribunal Federal , por ocasião da Ext radição nO 1.085. Cuida-se de assunto que
se desdobra de mera questão de imeresse particular do extrad itando para referenciais de
tratado internacional. No núcleo do desate do problema há margem de
discricionariedade que o Presidente da República detém, no sentido da própria
interpretação do tratado.

2. A prese nte manifestação principia por co locar objelivamente os contornos do


problema. Segue com investigação a propósito do requerim ento de extradição
enca minhado pelas autoridades italia nas. Procura-se esquadrinhar o conteúdo do
decidido pelo Supremo Tribunal Federal no contex to da Ext radição nO 1085. Reproduz-
se o tratado de ext radição firmado en tre Brasil e Itália. Indica m-se peculiaridades,
características, posições e divergências que se desdobram no aqui estudado Caso
Bauisti. Conclui-se que há ponderáveis razões pa ra se supor que o extradita ndo possa
se r subme tido a agravamenlo de sua situação pessoal. E que, se pla usível a premi s....a,
deve-se aplica r o (ratado, no se ntido de se negar a extradição, insista-se, po r fo rça de
disposição do próprio tratado, q ue confere discriciona riedade, ao Presidente da
República, nos termos do j á refe rido tratado.

I) Introdução e Contornos do Problema

3. O proble ma se insere no quadro geral de competê nc ias do Presidente da


República, matizado em termos constitucio nai s e, no caso, tempe rado pelos contornos
do Tra tado de Extradi ção que Brasil e Itália firmaram. Há di sc ric ionariedade, co mo
conseq uência da aplicação do (ratado, que conta com regra específi ca neste se ntido.
Preocupações para com eventual agrava mento a ser sofrido pelo interessado, bem como
o contexto que o espera, confo rmam-se nos dois pl anos interprctati vos que a questão
propõe .

4. Ao que pa rece, é da tradição de nosso dire ito dos tratados a fi xação de cláus ula ..
que co nferem discricio nariedade ao Chefe do Poder Executivo. Po r exe mplo, no tra tado
de ext radição que pactuamos com a Austrália, há previsão de recusa facultativa.

5. Isto é. pactuamos com a Austrália que a e xtradi ção possa ser recusada quando,
e m c irc unstâ nc ias excepcionai s, a parte reque rida, embora leva ndo ta mbém em conta a
gravidade do crime e os interesses da parte requerente, decidir que, devido às
circunstâncias pessoais de pessoa reclamada, a ex tradiçâo seri a incompatíve l com
considerações humanitárias.

6. No tratado de extradição que assinamos com a Coré ia há di sposição re lativa a


recusa de ex tradição, do mesmo modo como pactuado com a Austrá lia, também,
quando, em casos excepcio nais, a parte req uerida, embora Icvando e m conside ração a
g ravidade do c rime e os inte resses da parte requerente, j ulga r, e m fun ção das condi ções
pessoais da pessoa procurada, que a e xtradição se ri a incompatível com conside rações
hu mani tárias. No tratado de extradição firm ado com a Espa nha tem-se, po r exe mplo,
que a entrega da pessoa reclamada fi cará adiada, em prejuízo da efetividade da
ex tradição quando circ unstâncias excepcionai s de ca ráter pessoal e sufic ientem ente
sé rias a torna rem incompatível com razões humanitárias.
7. De modo muito parecido, no tratado firmado com a França, explicitou-se que o
tratado não possa se constituir obstáculo a que um dos dois Estados recuse a extradição
por considerações humanitárias, quando a entrega da pessoa reclamada for suscetível de
ter para ela consequências de excepcional gravidade, especialmente em razão da sua
idade ou do seu estado de saúde.

8. Com Portugal firmamos que a parte requerida poderá sugerir à parte requerente
que retire o seu pedido de extradição, tendo em atenção razões humanitárias que digam
nomeadamente respeito à idade, saúde, ou outras circunstâncias particulares da pessoa
reclamada.

9. Em todas estas circunstâncias é certa subjetividade do representante da parte


requerida quem vai alcançar e definir conceitos vagos, amplos, a exemplo de razões
humanitárias. excepcional gravidade. estado de saúde, circunstâncias particulares.
condições pessoais da pessoa reclamada, entre outros. No caso presente, é este
justamente o ponto que fixará uma linha de ação razoável e equilibrada. De fato , e para
a Ministra Cármen Lúcia, (..) a competência. a atribuição constitucional para decidir
sobre a entrega. em ú/lima instância, é do Presidente da República, cumpridas não
apenas as leis, mas tamhém o tratado, aplicado especificamente às peculiaridades do
casal.

10. Ao longo das razões que seguem evidencia-se certa apreensão para com eventual
tratamento a ser enfrentado pelo extraditando. Pelo que se apreende de
acompanhamento da imprensa, pode haver motivos que justificariam pelo menos a mais
absoluta cautela, no caso de eventual entrega do indivíduo reclamado pelas autoridades
italianas. Isto é, há fundadas razões para suposição de que o extraditando possa ter
agravada sua situação pessoal. E tal suposição não sugere, e nem suscita, e nem cogita,
de qualquer ato de hostilidade para com as autoridades do Estado-requerente.

11. A questão exige que se proteja, do modo mais superlativo possível, a integridade
de pessoa eventualmente exposta a perigo, em ambiente supostamente hostil. Há pano
de fundo que se relaciona com pensamento criminológico humanitário, especialmente

1 STF, Ext-1085, Ministra Cármen Lúcia, fls. 544.


no se ntido de que o direito penal consista também num conjunto de constrições que
representa custo que deve ser juslificad02 • Não se pode negar o clamor que o problema
provoca, interna e externamente. Tem-se questão que divide opiniões, que remele o
in térprete a inúmeras dúvidas.

II) O pedido de extradição de Cesare Battisti

12. Do ponto de vista procedimental a questão decorre de Nora Verbal distribuída


pela Embaixada da Itália junto ao Itamaraty em 21 de fevereiro de 2007. Com base no
art. 13 do Tratado de Extradição que assinamos com a requerente, esta solicitou a prisão
preventiva, para fin s de extradição, de Cesare Battisti, nascido em Ci sterna di L'l.tina, na
Itália, em 18 de dezembro de 1954. Lê-se na aludida nola verbal que o extraditando era
ex igido pela justiça italiana, por força dos seguintes fatos , tais como narrados pelo
Estado so licitante, verbalmente:

a) Senlença de condenação com pena reslriliva de liberdade pessoal


emitida em 16/2/ 1990 pela Corte de Asise de Apelação de MiMo, irrevogável a
partir de 8/4/1991 pelos homicídios de Amonio Santoro, Uno Sabbadin e
Andréa Campagna e olllros crimes:

b) Semença de condenação com pena reslriliva da liberdade pe.~soa{

emitida pela Corte de Asise de Apelação de Milão, irrevogável a par/ir de


10/4/ 1993 pejo homicídio de FierJugi Torregiani:

13. In formo u-se também que há condenação a pena de prisão perpétua com a
ugravunte de isolamento diurno por seis mese!), ordem emit ida pela Procuradoria-Ge ral
da República de Milão, em 29 de abril de 1997. Indica-se na referida No/a que seguiria
requerimento formal de extradição. O pedido é instruído por outro docum ento
produzido pelo Ministério da Justiça na Itália, que, em desfavor do ex traditando
descreve os fatos, nomeadamente, no sentido de que Cesare Battisti:

2 Cf. Luigi Ferrajoti, Direito e Rat.do- Teoria do Garantismo Penal, São Paulo: RT, 2006, p. 195.
Tradução de Ana Paulo Zomer Sica, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luis Flávio Gomes.
a) Matou, com auxílio de outras pessoas, Antonio Santoro , marechal dos
agentes penitenciários, da prisão de Udine, fato ocorrido em Udine, em
06.06.19 78;

h) MOfOU, com auxílio de outras pessoas, Lino Sabbadin. comerciante,


fato ocorrido em Mestre (VE). em 16.02. 1979;

c) Ma/ali, com auxílio de outras pessoas, Pierluigi Torregiani,


comerciante, fato ocorrido em Milão, em 16.02.1979;

d) Matou. com auxílio de outras pessoas. Andrea Campagna. agente da


Polícia de Estado. fato ocorrido em Milão, em 19.04. 1979.

14. Em 28 de fevereiro de 2007 o então Ministro de Estado da Justiça, Márcio


Thomaz Bastos, encaminhou o Aviso nO0445/MJ, endereçado à Ministra Ellen Gracie,
do Supremo Tribunal Federal. Trata-se de documento relativo à extradição de Cesare
Battisti, especialmente confeccionado para os efeitos do art. 82 da Lei nO 6.815 , de 19
de agosto de 1980, bem como do art. 13 do Tratado de Extradição finnado enlre Brasil e
Itália em 17 de outubro de 1980, promulgado pelo Decreto nO863, de 9 de julho de
1993.

15. Em 1° de março de 2007 o Ministro Celso de Mello, relator do processo de


prisão preventiva de extrad itando, tombado sob número 581, assinou mandado de
prisão. Da ordem comunicou-se o Ministro da Justiça, por meio do Ofício nO 718/R.
Expediu-se mandado de recolhimento compulsório. Nos autos do processo de prisão
preventiva para extradição nO 58 1-4, o Ministro Celso de Mello, despachou da fonna
como segue:
DEC1S.-io.· O Governo da Re/níblica !((Iliana, lIIetl/ml/e No ta Verha/
regulm'mentl! apresentada por SI/(J Alissào Diplomática ao Governo brasileiro
(fls. 04). requer li decri'/lI<,'ào da prisão p/'c\'enti\'tI, para efeitos ex/radiciOlwis.
de ('esare Ballisli, condenado, dejilliril'wucll/e. naquele Pais, pela ('o rfe de
Apelaçlie.\· de Mi!t7o. iI pella de prisão pc/'pérua. cum isolamento dillrno inicial
por seis //leses (sente llças daTadas de 08/0P1991 e de JO/ O·k/Y93) . pela
prtÍliclI de deliros de hO/JIicídio (fls . (4). O SI/porte jurídico desse pedido de
prisão prel'ell!iva repousa em /ratado hilateral de extradirão. ce/ehrado. pelu
Brasil e pela Repúhlica lta!itlllll. em 1989. e illcOI]}/J/'(uJo. uo I/OSSO sisrema de
direito posi/i\'O illle1'llo. desde li sua promlllgu{'do pelo Decreto ,, " 863/ 93.
E\',\'e Trafado de EXlradi('l/o llutoriza, /lOS cams d" urgênc:ia, que qualqu('l'
da,\' Altas Parles Confra/allll!S solicit/:', por mdo do ,H ' /I llj!entt' diplo/lllitico, li
dt'cretaçtio da prisão prt'wnli\'ll da pe,ufla redal//uc/a (.~rli}.:(/ XIII, 1/, 1), Os
fá/os delituoso!> pelos fluais {I slÍdi/o ilaliano ('/II q/lt'stiiu jiJi condenado
s/l/isfa:elll a exigência imposllI pdu postulado da dupla IIIJicidad{~, Assinalo,
IIU ('II/muo , considerada a mIlUrt':ll da pena imposta a esse nacional illlJiano
(pri,Hlo perpé/lfa), quI:' li j urisprudcnc:ia hoje preva/t'cenfe /10 Supremo
Tribllllal Federal uriellfa-se em St'lIlido {/.\'silll exposto em decistio emanada do
Plenário dt's/tJ Corte Suprem{/, Y. ,,) EXTRADI<:..iO E PRISÃO PERPÉTUA:
NECESSIDADE DE PRiTIA COMU7"Ç, iO, EM PENA TEMPOR.4RIA
(M.,iXIMO DE 30 ANOS). DA PENA DE PRIS,10 PERPÉTUA - REVISÃO DA
JURISI'RUDÉNCIA DO SUPREMO 'I RI/JUNAL FEDERAL. EM
OBEDIÉNClA A DECLARAÇAo CONSnTUCIONA[, DE DIREITOS (O:
ART. j ", XLVII, 'b'), - A ex/radição SOII/l'l/Ie ,5erâ dejérida pelo Supremo
Tribullal Federal, /rl//cmdo-se de jalOs delilllU"WS pUllh'eis ('0 111 priscio
perpé/lIa, se o ESllIdo rl't/lleren/e as~mmir, formalmente , flm/llfo a eltl. perante
o Gm'en lo brasileiro, o compromisso de comutá-Ia em pella nüo superior à
dtlmçüo II/(ixilllll admi/ida I/a Jl'i INIUlI do Bl'tIsil (CP, tII 'f , 75), eü que m
IX'didos eX//'lJdiciouois - C(JIl.<iide/'lJdo () quI' di~JJ/)t! o arfo j '~ XLVII, 'b' da
CO/lsli/lliçiio dtl República, que vl!da tiS sam;iks penais de corá/er perpéfuo -
estcio m' ce,tsarilllnellle ,I'ltjeito!> ri mllol'idudt' lIierúrqllico-nlJrmll/il'lI da Lei
Fundilmenfll/ brasileira. Dou/ri/UI, NOI'o emel/dimellto derivado da revisão,
pelo Supremo 7hhunal Federal, de sua j1lrisprudência ('m lema de extradição
pax~il'll. ' I (ErI 855l Rt'púhliclI do Chile , Rei. Mil/. CEL5;O DE MELLO, Pleno,
"in" IlIji,,'muti\'Oi.\TF n" 3j8, de 1"109/100./) O~ ilieitos penais em CflILW, de
fil/Iro fado. nüo parecem incidir nas rcslriçOe,ç. qllL' , eswbelecidas pL' {a lei
hmsifeira (Lei ,,0 6.815/80, arl, 77) I! pelo /l'lIwdo bUli/em! t',\'is/ente elll/'e o
BrcL\'il e {/ Republica l/aliana (Arligo III), impediriam, acaso ocorrel1/es. a
eji'livaçâ/l da pró/Iria elllrega eXlradiciO//a1. Selll/o assim, decre/o li pri,wio
IlI'evel1t;""'1I de ('estire Balfisli (lho', 04) e det ermino li expedirão do re,\lJecfivo
m(llulado de prüüo, A execllçiio dessa urdem judidal. leio logo efellwda,
deve,.á ser comllfJÍL'ada a e.~/{/ Suprelllll CUrl(', 2, COlIIl/niql/e-se I) leor des/e
a/o decisório, com fi encaminhamento da cópia respectiw/. ao S'ellho" A1i/liS/f'O
da Jus/iça, paro eji:i/o de ciel/l{ficarão IúmUlI da ,His,wIO Dipl/l/lllÍth:a da
República Italial/a. 3. A prese/ue deâ,wlu soml'lIfe de\'ercí ser publicada, depois
d" ejcfi\'adtlll prisilo do súdi/o e.\'/rtlng('irtl 11m reclamado. I)rasília, I de março
f}

de 1007,

16, Deve-se se insisti r no fato de que o Ministro Celso de Mell o chamou a atenção
pa ra a nalUreza da pena imposta, i,e" a pena de prisão perpétua, O Ministro relator
lembrou que a jurisprudência do STF é no sentido de que não se defira a ex tradição em
hi pótese de pena de prisão perpétua, a menos que haja compromisso irretratável e
cfetivo de se com utar a penalidade, por pena de prisão que não seja superior a 30 anos,
como previsto no modelo brasileiro.
17. Em 18 de março de 2007 a Polícia Federal cumpri u a ordem do Ministro Celso
de MeUo. prendendo Cesa re Bal1isti no Rio de Janeiro. Em segu ida o extraditando foi
tra ns ferido para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasilia.
Informou-se a Embaixada da Itália do cumprimento da ordem de prisão. Abriu-se prazo
para que o pedido formal de extradição fosse protocolado pelas autoridades italianas.

18. Em 28 de março de 2007 por interm éd io do Avi so nO 6 12-MJ o então Ministro


de Estado da Justiça, Tarso Genro, comunicou ao Ministro Celso de Mello da prisão
preventiva efetivada, para fins de extradição, em desfavor de Cesare Battisti. a"te
último ficaria à disposição do STF. O Mini stro da Justiça observava também que corria
prazo para o recebi mento do pedido formal de extradição.

19. Juntou-se no processo administrativo carta dirigida ao Presidente Luis Inácio


Lula da Silva, assinada por Elizabeth Silve ira e Silva, Presidente do Grupo Tortura
Nunca Mais/RJ , em favor de Cesare Bauisti . Hã também juntada de carta de um cidadão
de nome Antonio Bauisti , então vereador na cidade de São José em Santa Catarina,
também protestando para que se indeferisse extradição de Battisti.

20. Em 24 de abril de 2007 a Embaixada da Itál ia em Brasília aprese ntou nota


verbal, na qual se assegurou, objetiva e explicitamente que:
O Governo da República Italiana assegura que, caso Cesare Batlisti seja
entregue para as autoridades italianas. não lhe serão aplicadas sentenças de
condenação para as quais a extradição não foi requerida. de acordo com a
3
decisão adota pelas Autoridadesjudiciárias brasileiras .

21. Há também juntada de documento por parte das autoridades italianas, eXlxmdo
os faiaS cri minais imputáveis a Cesare Battisti , As descrições são exuberantes em
pormenor, e seguem, para esclarec imento, especialmente no que se refere às nítidas
deficiências da trad ução:
N.1982. 20. 150 Registro Extradiçõe.ç

ObjelO : exposição dos fatos criminais imputáveis à CESARE BA1TISTI nascido


em 18.12.1954 em Cisterna de Latina.

CESARE BA1TISTlfoi condenado com sentença em data 31 .3. /993 pela Corte de
Assise de Apelo de Milão, com adiamento da Corte di Cassaz;one. em seguida ao

) Processo Administrativo nO080000.0()3071/2007-51 , fl s. 50.


anulamento parcial da sentença Corte Assise de Apelo de Milão em data
/6.2./990, que confirmou a sentença da Corte Assise de Milão em data
J3./2.} 988, à prisão perpétua com isolamento diurno por seis meses em ordem
aus seguintes fatos:

Homicldio de ANTONIO SANTONO. marechal dos agentes de custódia do


cárcere de Udine. acontecido em Udine em 6.6.1978.

Na manhi"i de 6.6.1978 o marechal Santoro percorre à pé a rua Spalato em Udine


para recar·se da sua casa ao trabalho, isto é, ao cárcere.
Um jovem rapaz, que, finge estar namorando com uma moça dos cabelos ruivos.
o espera no cruzamento entre aquela rua e via Albona e dispara dois tiros de
pis/ola nas suas costas e o mata.
Depois do tiroteio entra num carro branco onde se encontram outros dois jovens
de sexo masculino, que se distanciam aforte velocidade em direção à via Pola.
Duas lestemunhas retém de poder identificar o modelo do carro: um Simca /300
ou um Fiat 124.
Lá pelas 13.00 horas do mesmo dia, uma patrolha dos carabineiros encon/ra
abandunada em via Goito um carro marca Simca 1300 branco, que resulta
roubado na noi/e do dia an/erior.
O carro vem encontrado aberto e vem acerrado que para jázê·lo funcionar, os
ladrões /iveram que estrapar os fios de implante e/étrico que eram coligados ao
quadro com um grampo de cabelos.
Os investigadores acertaram também que o carro esrava es/acionado no lugar
onde jói achado já dlL\' 7:50 horas daquele mesmo dia, e isto é, minutos
imediaramente sucessivos ao momento no qual foi consumado o homicídio.
As sucessivas inve.~tigações, permeteram de esrahelecer que o aulor ma/erial do
homicídio de SanlOro, isto é, aquele que tinha disparado nas suas costa\' os dois
liras de pistola, se identificava no hodierno estradando CESARE BATTISTl, que,
entre outras coisas, tinha já ficado preso no cárcere de Udine.
A modalidade exata de tal homicídio foi assim reconstruída: o BATTISTI e Enrica
MIGLlORATI, ficaram abraçados por cerca lO minutos à apenas alguns metros
de distância do portão do prédio de Santoro, enquanto Pietro MUTTI e Claudio
LA VAZZ4, esperavam no carro a chegada da vítima.
BATTISTI se deSlOCOU imediamente da MIGLlORATI. se aproximou correndo de
Santoro. e o ftriu primeiro com 11m tiro na.~ costas e com outros dois tiros, quase
à queima·roupa, quando o marechal erajá a terra.
Súbito depois o BArrISTA e a MIGLlORATI correram em direção do Simca J300
que apenas tinha se posicionado no meio da rua, e assim escaparam lodus us
quatro.
Chegaram então na avenida principal, trocaram de carro, .~e disfizeram dos
travestimenLOS (bigode e barba postiça para o BA1TISTl. peruca para a
M/GLlORATI, peruca preta para o L4 VAZZA) e chegaram ii estação de
Palmanova, onde o BA7TISTl desceu, levando consigo a bolsa das armas e das
maquiagens.
Foi acertado também que a decisão de malar o San/oro parriu do BA7TISTI que
conhecia pessoalmente a vítima.

Homicldio de L/NO SABBAD/N acontecido em Me...lre em 16.2.1979


No dia 16.2. /9 79, lá pelas 16:50 horas, dois indivíduos de sexo masculino, com o
rosto descobeno, mas com barba e bigode postiços. entram num açougue dirigido
por L/NO SABBADIN em Caltana di Santa Maria di Sala perto de Mestre. e um
destes. depois de ter-se certificado que aquele homem que era diante dele era o
próprio SA BBAD1N em pessoa, extraiufulmineamellle lima pistola da uma bolsa
que frazia consigo, e explodiu contra este dois golpes de pistola, fazendo-o cair
pe.wmemente sobre o estrado atrás do balcão onde naquele momenlo esfava
frabalhando ; imedia/amente depois dispara oufros dois tiros sobre o alvo que no
maü é j á a terra. e tudo com a clara intenção de matar.
Depois disto os dois saem rapidamente da loja e entram num carro guiado por
um terceiro cúmplice, que se afaSia a forte velocidade em direç(10 do cenlro
habitado de Caltana, para depois prosseguir em direção de Pianga.
O SA8BAD1N vem carregado agonizante nllma ambulância. filas chega morto no
Hospital de Mirano.
Ficou acertado que a vítima, no curso de lima rapina qlle fo i feita ao interno do
~·e ll negócio em dezembro de 1978. tinha usado uma arma da qual era
legitimamente em posse.fSO. ferindo a morte um dO.f assaltante.~.
As investigações estabeleceram que os individuos de sexo masculino que
elllraram na loja do SABBAD1N eram CESSARE 8A1T1STl e DIEGO
G1ACOM/N1, este último linha abeno Jogo com uma pÜlola semi-automática
calibre 7,65 depois de ler perguntado ao comerciante se era ele o SAB8ADIN e
depois de ter recebido uma resposta positiva.
Neste meio tempo, PAOLA FIL/PP/. travestida com bigode e barba posfiça e com
os cabelos presos dentro de um boné, linha ficado esperando num carro
precedentemente roubado e que Joi usado para a f uga.

Homicldio de PIERLUIGI TORREGIANI. acontecido em Mi/do em 16.2.1979

As 15;00 horas de 16.2.1979, enquanto se dirigia para a sua loja. à pe, em


companhia de seus doisjilhos menores, PIERLUIGI TORREGIAN1 cai vítima de
/lma emboscada.
Dois jovens que o precedem, se giram improv;samenle e disparam dois tiros na
,\"lia direçào : o escudo anti-projétil que trazia consigo. diminuiu o impacto
consentindo a sua defesa.
Vem novamente ferido, mas desta vez ao fimur. e cai a terra. Dispara em direção
de seus agressores, mas um projétiJ atinge o seu filho, ferindo-o gravemente; o
joalheiro vemjinalmente atingido na cabeça.
Vem transportado ao hospital onde chega morto.
O jilho resterá paraplégico e será incapaz de caminhar.
Este homicídio foi cometido mais ou menos poucas horas afiles daquele de LINO
SAB8AD1N e, o TORREG1AN1 também, como o SABBADIN, em precedencia
tinha reagido com arma da Jogo à lima rapina ao reSfaurallle Transatlântico de
Milão acontecido em 23.1. /979, no curso da qual 11m dos delinqiienles morreu
por causa dos tiros nào de TORREGIA NI, mas de um Olllro comensal que se
encontrava no local.
A decisão de matar o TORREGlANI amadureceu juntamente com aquela de
ma/(lr o SAB8ADIN: as duas ações homicidas foram decididas j untamente,
executadas quase contemporaneamente e unitariamente reivindicadas.
Para decidirem sobre os dois homicídios Joram feitas uma série de reuniões na
Cll.\"Q de P1ETRO MUIT1 e LUIGI BERGAMIN. ás quais o 8A7T1STl .~empre
partecipou e, todos foram de acordo sobre a oporlllnidade de tais ações
criminais. Portanto BA1TISTI se assumiu a [unção de executor material do
homicídio de LINO SABBADIN mas teve função decisiva no homicídio
TORREGIANI, mesmo se não participou materialmente à execução de tal crime.
Ao contrário, súbito depois do homicídio de SABBADIN, BATflSTI procurou,
como da precedente acordo, de contactar telefonicamente os aUlore,)' materiais do
homicídio TORRl.~GIANI e, se como nào conseguiu localizá-1m', foz o telefonema
de reivindicação. depois de ter sentido a noticia do a~sassinato de TORREGIANI
pelo rádio.
Além disto. no curso das reuniões acima citadas na casa de MUTTI e de
BERGAMIN. BA7TISTI reforçou muitas vezes a necessidade da inevitável ação
homicida. deixando. na noite de 14.2. /979 a casa de BERGAMIN. onde estavam
reunidos alguns tépidos discordantes deste projeto de duplo homicídio, que no
mais era já de imediata realização. observando "que a operação à qual estavam
trabalhando erajá pronta e que leria partido para Pádova no dia segllinle ".
Dito isto se afastou j'úbito depois.
Se faz presente que Pádova é localizada nas proXimidades de Caltana di Santa
Maria di Sala onde dois dias depois BA TTISTI partecipo" malerialmenle ao
homicídio de U NO SABBADIN.
Em definitivo, o BA1TISTI, seja enquanto partecipante da decisão colegial que
diz respeito à ambos homicídios, seja enquanto executor malerial do homicídio
SA BBADIN e autor da única reinvidicação de ambas ações, foi condenado
também por concurso no homicídio TORREGIANJ.

Homicfdio de ANDREA CAMPAGNA, acontecido em Mi/do 19. 4, 1979

As 14:00 horas do dia 19.4.1979, o agente de Policia de Estado ANDREA


CAMPAGNA. membro da DIGOS de Milão, comfimções de motorista. depois de
ler visitado a namoradajun/a à qual. como todos Oj' dias. almoçava. se preparava
em companhia de seu futuro sogro. para pegar o seu carro eSlacionado à via
Modica, para depois acompanhá-lo na sua loja de sapatos de via Bari.
li este ponto. vinha improvisamente enfrentado por 11m jovem desconhecido, que,
aparecendo de repente detrás de um carro e,ç(acioflado ao lado do carro do
policial, explodia contra ele, em rápida sucessão 5 tiros de pistola.
LORENZO MA NFREDI, pai da namorada do CAMPAGNA, tentava de intevir,
mas o atirador lhe apontava a arma que ainda empunhava. apertando por dilas
vezes o grife/o, sem que todavia partissem os firos.
Súbito depois, o jovem desconhecido fugia em direção à cooperativa de via
Modica, onde. em correspondência da curva que ali existe, enlrava num carro
FiaI 12 7 dirigido por um cúmplice: tal carro. depois de ler girado á esquerda em
via Biel/a. se afastava em direção de via Euore Pomi.
O CAMPAGNA vinham imedialamente socorrido. mas morria durante o
transporte para o hospilal.
Os acerlam ento,~ médico-legal dispostos sobre o cadáver do agente assassinado
consellliram de esclarecer que a vítima foi atingida por cinco liras, todos
explodidos em rapidíssima sucessão da uma distância mui/o próxima. quando o
CAMPAGNA ainda vivo girava verso o homicida a meuule esq uerda do corpo.
Como referido pejos familiares, o agente assassinado tinha aparecido de maneira
mui/o nítida no curso de um serviço televisivo em ocasião da prisão de alguns dos
au/ores do homicídio TORREG1ANI, havendo o mesmo efelUado o /ranspor/e de
/ais presos da Questura ao cárcere de San Vil/ore.
A decisão de matar CAMPAGNAfoi assumida, como emergeu do proseguimen/o
das inves/igações, principalmente por BAITISTI, por CLAUDIO LAVAZZA,
PIETRO MU7T1 e BERGAMIN LUIGI, pois que o CAMPAGNA tinha
par/ecipado à prisão de alguns presuntos autores do homicídio de TORREGlANI.
A iniciativa mais impor/anle seja na escolha do ohje/ivo, seja na fase successiva
de preparaçiio do atentado, foi assunta pelo mesmo BAITISTI, que con/rolou por
um período os movimen/os e hábitos do CAMPAGNA.
Alem disto foi o próprio BATTISTI que come/eu malerialmen/e o homicídio
explodindo cinco tiros na direção do policial, enquanto uma segunda pessoa o
esperava à bordo de um Fia/I27 roubado e u/i1izado para afoga.

Posiçdo processuol- exercido do direito de defel'o

As invesligações relativas aos qua/ro homicídios anteriormente descritos foram


feitas pelas secções judiciárias terriforialmente compelentes: sucessivamenle foi
celebrado um único processo perante à Magistratura de Mili'io competente em
relação à dois dos homicídios, entre os quais o último.
O BAITISTI sempre eSleve foragido e foi réu reve/. tendo sido atingido por ordem
de captura emitido pela procuradoria de Udine em data 16.4.1982 pelo homicídio
de SANTORO, e por mandato de captura emitido em 3.6.1982 pelo juiz instrutor
do Tribunal de Milão pelos oulros episódios.
Foi arivamenle procurado em todo o território nacional em várias operações de
polícia, através controles de hotéis, pensões, postos de bloco e controles de
fronteiras , que deram êxito negativo.
O Público Minislério junto ao Tribunal de Udine, que tinha aviado primeiramente
as investigações em relação ao homicídio SANTORO, em data 20.4.1982,
nomeava para o BATTIST! qual defensor de oficio, o advogado ALBERTO
PATRONE de Udine; todavia em data 21.5./982 chegava à Autoridade Judiciária
de Udine uma carrafirmada por CESARE BA7TISTI, expedida da Mi/tio, com a
qual o mesmo nomava como seus advogados de confiança os advogados
GIUSEPPE PELAZZA E GABRlELE FUGA, do fórum de Milão, relação à todos
os procedimento penais em curso contra el.

22, JUOlou-se amplo conjunto de disposições do direito italiano. Trata-se de excertos


legais em tema de delito tentado, de circunstâncias agravantes com uns, de atenuantes,
de concurso formal, de delito continuado, de reincidência, de fixação de pena de morte,
de definição de associação subversiva, de instigação ao crime, de definição de bando
annado (com as respectivas percepções de formação e de participação), de violência ou
ameaça a oficial público (sic), de resistência, de evasão, de associação para delinquir, de
homicídio (com as respectivas agravantes), de fixação de prisão perpétua, de sequestro
de pessoa, de violação a domicílio, lesão pessoal, vio lação de domicilio, furto , rapina,
extorsão, entre outros, Encaminhou-se também a solução normati va que os italianos
aplicam à prescrição penal.
23. Há também docume nto dando conta do regime penitenciário italiano, no que se
refere, especialmente, à liberdade condicional com relação à pena de prisão perpétua.
Trata-se , em princípio, da nuance mais substancial em torno da discussão. Assinalo
alguns pontos, e copio-os do documento que instrui o processo administrativo de que se
cuida, lembrando-se que os grifos são meus:
Em caso de condenação à prisão perpétua. o detemo pode ser admitido
às primeiras formas de atenuação da detenção com o Iraba/llo fora e com a
admissão a frequentar cursos de formação projissional no exterior do im/i/ulo
penitenciário (...). É necessário que tenham sido cumprido.ç pelo menos 10
anos de pena.
( ..)
Semiliberdade : parte do dia é passada fora. Para os condenados à
prisão perpétua, pode ser concedido depois de 20 anos de detenção, que se
reduzem a 15, por efeito da liberação antecipada (descamo de 25 dias cada
semestre: portamo, 3 meses ao ano).
(..)
Liberação antecipada: consiste num descamo de pena reconhecido aos
detemos que demomtram que participam na sua reeducação durame o
tratamento penitenciário. A estas pessoas siio subtraídas 45 dias por cada
semestre de pena cumprida. O benejicio é aplicável também aos condenados ti
prisão perpétua, para jim de cálculo da medida de pena que é necessário ter
cumprido para ser admitido aos benefícios de semiliberdade e d{L~ Jicenças-
premio, e sobretudo parajins da liberação condicional.
( ..)
Liberação condicional.' o condenado à prisão perpélUa pode gozar do
beneficio quando tiver cumprido efe/ivamenle 26 anos de pena, que
concretameme podem reduzir-se por efeito dos descontos de pena conexos ao
imtituto da liberação amecipada.

24. No processo administrativo de que se cuida juntou-se tradução de todo o


procedimento que se desdobrou na justiça italiana, e que redundou na condenação (in
absemia) de Cesare Battisti. Especialmente, há tradução da decisão irrecorrível , datada
de 31 de março de 1993. Do ponto de vista formal o requerimento de extradição
protocolado pelo governo italiano segue o conteúdo dos tratados internaci ona is, do
pacto assinado entre Brasil e Itália, bem como os usos e costumes que se seguem cm
âmbito de direito extradicional.

25. Em 10 de maIO de 2007 o Senhor Chefe Substituto da Divisão de Medidas


Compulsórias do Departamento de Estrangeiros da Secreta ri a Nacional de Justiça do
Ministério da Justiça solicitou a Delegado da Polícia Federal que então coordenava a
In lerpol que informasse se Cesare Battisti respondia a processo cnm e na justiça
brasileira. Concomita ntemente, em 17 de maio de 2007, o Ministro Celso de Mello
indagou ao Ministro Tarso Genro, então à frente do Ministé rio da Justiça, se o
ex traditando teria form ulado (ou não) perante o gove rno brasileiro. pedido de refúgio.
Info rmou ~se (Aviso 1 060~ MJ) que até 11 de junho de 2007 ainda não havia registro de
ped ido de refúgio, por parte de Cesare BaUist i.

26. Em 5 de junho de 2007 o Ministro Celso de Mello determinou que Cesare


Battist i fosse transferido pa ra outras dependências da Polícia Federa l. É que o
extraditando teria sido agredido e sofrid o maus tratos. A declaração de BaUisti está
circunstancializada em termo que prestou j unto à Polícia Civil do Distrito Federal4 .
Mais tarde, em opurolório preliminar, consignou-se a part ir de um delegado de polícia
fe deral (que se encontrava detido) que Bauisti supostame nte teria sido agredido por
pOliciaiS civiss. A negativa de Battisti esvaziou a acusação.

27. Ainda no contexto do referido apuralór;o preliminar Cesare Battist i teria se


negado a depor sobre os fatos então ocorridos, bem como se negou também a retomar
ao Comple xo Peni te nciário do DF. Em 28 de junho de 2007 n o tici o u ~se que Cesare
Batlisti fora indiciado por uso de documento fal so, quando usa va passaporte de
naciona lidade francesa, quando de sua prisão no Rio de Janeiro. Havia, assim, inquérito
policia l para apuração de suposto crime de uso de documento fa lso, por parte do
extradi tando.

28. Em 3 de agosto de 2007 a Defensoria Pública da Uni ão protocolou petição no


Supremo Tribunal Federal noticiando ao Ministro Celso de Mello maus tratos
supostamen te sofridos por Bauisti nas dependências da Policia.

29. No processo ad ministrativo há também ca rta que o fil ósofo francês Bemard-
Henri Lévy endereçou a Tarso Genro, então Ministro de Estado da Justiça. No referido
texto o pe nsador francês problematiza o destino de Banisti, manifestando angústia e
preocupação pa ra com a extradição, isto é, se deferida. Be rn a rd~H e nri Lévy n otab ili za ~

• Ocorrência nO3091f2007- 30" DP- Processo Administrativo n" 080000.Q0307lf2007-51. Os. 639-640.
~ Apura tório Preliminar nO 051 f2007-SE S IPE- Processo Administrativo nO080000.003071/2007-5 1, fls.
653-656.
se pela intransigente luta em prol da dignidade humana, linha de ação que se identifica
com pensamento francês avançado e prospectivo, humanitário e solidário, a exemplo do
que se alcança em Louis Althusser, Emman uel Levinas, Jacques Derrida, Albert Camus,
Roland Barthes, cujo antepassado comum seria Alexis de Tocqueville.

30. No processo administrativo sobre exame há também cópia de fax 6 enviado por
Agente de Polícia Federal de plantão na Interpol, dirigido ao Chefe de Divisão de
Medidas Compulsórias do Ministério da Justiça, dando conta de que a Interpol, em
Roma, te ria informado que o Caso 8attisti estaria promovendo muita repe rcussão
naquele país.

3 1. As autoridades italianas teriam, por intermédio da Interpol, pedido infonnações


referentes ao processo de extradição, bem como se esta estaria, efetivamente,
condicionada a uma pena máxima de 30 anos, a ser cumprida na Itália. Por fim,
questionava-se a propósito de uma data/previsão de entrega de Cesare Battisti. Há
docume nto com idêntico conteúdo subscri to por Delegada da Polícia Federal, Chefe do
1
Serviço de Difusões e de Procurados Internacionais .

32. Em 16 de maio de 2008 advogados de Cesare Battisti peticionaram ao Ministro


da Justiça, requerendo a transferência do extraditando pa ra a Penitenc iária da Papuda,
no Distrito Federal, dado que o requerente necessita ria de cuidados jisicos que vão
desde um melhor ambiente jisico. alé tralamento médico mais sistemático, somada à
impossibilidade do mesmo vir gozar dos beneficios que lhe [sãol assegurados
8
constitucionalmente, por sua condição de preso político .

33. Informou-se que ao representante legal do extraditando que o requerimento de


transferência de cárcere deve ri a ser formulado diretamente ao Supremo Tribunal
9
Federal, porquanto o interessado se encontrava à disposição daquela Corte . O pedido
foi deferido em 18 de julho de 2008, pe lo Ministro Cezar Peluso, então Vice-Presidente

6 Processo Administrativo nO 080000.003071 /2007-51 , fls. 720.


7 Processo Administrativo nO080000.00307112007-51, fls. 721.
~ Processo Administrativo nO080000.003071 /2007-5 1, Os. 730-731.
9 Processo Administrativo nO 080000.003071/2007-51 , fls. 735.
do Supremo Tribunal Federal, mediante telegrama enviado ao Ministro da JustiçalO.
Segue o teor da dccisão que j ustificou o envio do telegrama:

Na Petição rf 99448, de 15 de julho de 2008. o Superimendente Regional do


DPFIDF requer a imediata remoção do extraditando CESA RE BATTlSTl das
dependências da Superintendência Regional do Departamento de Policia
Federal no Distrito Federal - SRlDPFIDF, bem como .w a traruferencia ao
sistema prisional federal ou à penitenciária da Papudo, nos seguintes termos:

"É culiço que a permanência do reforido extraditando vem causando


consUmles lranstornos ao desempenho das atribuições constitucionais e legais
desenvolvidas pela STIDPFIDF. Inúmeras ocorrências envolvendo o custodiado
CESA RE BA TTISTI foram devidamente regislradas incluindo greve de fome,
atendimentos médicos constantes e recusa ao recebimento de visitas inclusive de
advogados. culminando em um dossiê elaborado pelo Núcleo de Operações
desfa descentralizada.
Independente dos contratempos relacionados diretamente à postura do
cus/odiado. a custódia da SRlDPFIDF. após ler sido visifada pela CPI do
Sistema Carcerário e membros da OABIDF. além de membros do Ministério
Público Federal. está sendo desativada, inclusive com recomenllaçtio do próprio
MPF neste sentido.
( ..)
Diante de lodo o exposto e da impossibilidade de manutenção do delemo
CESA RE BATTISTI nas dependências deslO descentralizada. solicitamos junto
ao Excelentíssimo Ministro~Re/alOr, sua imedialO remoção ao sistema prisional
federal ou. s.m).. à penitenciária da Papudo.
Visando uma maior agilidade no procedimento. após contalos, o Sistema
Penitenciário Federal - DEPEN sinalizou positivameme à possibilidade de
recebimento do referido custodiado. sendo que existem vaga.s lafllo no Presídio
Federal em CATANDUVAS no Paraná, quanto em CAMPO GRANDE no Mato
Groso do Sul.
Informamos que. consta solicitação do Sr. Luiz Eduardo Greenhalgh,
advogado do custodiado solicitando SilO tramferência para a penitenciária da
Papudo. protocolada sob o número 08200.008574/2008 47. com manifestação
M

favo riível deste signatário, sugerindo que o requerimefllo fosse encaminho a


Vos.w Excelencia.
Informamos ainda que, o próprio custodiado já demonstrou, em outras
opor/unidades. sua insatisfação em permanecer nesta dej'centralizadn, por
intermédio de cartas de próprio punho. (..),.

Diante o exposto, lendo em vislO a informação de que a cllSlódia da


Superintendência Regional do DPFIDF está sendo desativada, e, ainda, a
manifestação favoriível do extraditando e de seu advogado sobre a transferencia
para outro estabelecimento prisional. defiro o pedido do Delegado de Polícia
Federal Disney Rosseti e autorizo a tran.'tf erência do extraditando para o
Complexo Penitenciário da Papudo em Brasflia, no Distrito Federal, para que
lá permaneça à dispoj'ição desta Corte.

10 Processo Administrativo nO 080000.00307112007-5 1, Ils. 743.


Comunique·se com urgência.
Publique.se.

34. Em 27 de junho de 2008 Cesare Ballisti requereu concessão de refúgio,


conforme nOliciado no Mem. 051/CONARE lI . Por força do requerimento, e como
resultado, o Supremo Tribuna l Federal determinou a suspensão do processo de
extradição, bem como autorização para que o Ministério da Just iça ouvisse Battisti, nos
termos seguintes:
DECISA·O: 1. Trata·se de pedido de extradição executória do nacional
italiano CESARE BAITISTI, formalizado pejo Governo da Itália, com
fimdamento em Tratado firmado em 17. 10. I 989 e promulgado pelo Decreto n"
863. de 09.07. / .993.

o pleito baseia·se em condenação definitiva do ora extraditando. por


decisão da Corle de Apelações de Milão, à pena de prisão perpétua, com
isolamemo diurno inicial por seis meses, pela prólica de "homicidio
premeditado do agente penitenciário Amonio Samoro, fato que aCOl1lecell em
Udine em 6 de j lmho de 1977; homicidio de Pierluigi Trregiane, ocorrido em
Milão em /6 defevereiro de /979; homicídio premeditado de Uno Sabbadin,
ocorrido em Mestre em /6 de fevereiro de 1979: homicidio premeditado do
agente de Policia, Andrêa Campagna, ocorrido em Milão em 19 de abril de
/979 (fIs. 04).

1. O Secretário·Execlltivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Teles


Ferreira Barreto, Presidente do CONARE, por meio do oficio de fl. 2797,
illforma a esta Corte:

"Dirij'o·me a Vossa Excelência para cormmicar·lhe. nos termos do


art. 34 da Lei n" 9.474/ 97, que Cesare BatliSfi, cidadejo italiano, detido na
Polícia Federal de Brasília, em função do pedido de extradição requerido pela
República Italiana, que tramira nessa Suprema Corte, solicitou o
reconhecimemo da condição de refugiado peranle o Comitê Nacional para os
Refugiados - CONA RE.
Outrossim, solicito a Vossa Excelência seja autorizado o aceS.'íO do Comitê ao
referido cidodeio, objetivando a realização de entrevista para seguimento dos
procedimentos previstos na Lei nO9.4 74, de 12 de julho de /997"

Dispõe a letra do art. 34 da Lei n" 9.4 74/ 97: A solicitação de


refúgio suspenderá, até decisão definitiva, qualquer processo de extradição
pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que
fimdamentaram a concessão do refiígio.

Assim, o processo de reconhecimento do sUltus de refugiado


perante o CONARE, até julgamento definitivo, suspende o trâmile regular do

II Processo Administrativo nO080000.00307112007-5 1, fl s. 740.


pedido de extradiçào, conforme, aliás, decidiu o Plenário da Corte no
julgamento do HC n" 8/, /2 7 (Rei. Min SYDNEY SANCHES, DJ de
26.09.2003):

"PRISÃO PARA FINS DE EXTRADiÇÃO. PEDIDO DE REFÚGIO


PERAN TE O MINISTÉRIO DA J USTIÇA: SUSPENSA'O DO PROCESSO
EXTRADICIONA L. SEM DIREITO, PORÉM. DO EXTRADITANDO, À
PRISÃO DOMICILIAR. INTERPRETAÇÃO DOS AR71GOS 34 E 22 DA LEI W
9.4 74, DE 22.07.1997, EM FACE DO ART 84 DO ESTATUTO DO
ESTRANGE/RO" (Grifei) (No mesmo sentido, decisão monocráliclI proferida na
EXT 0" /008. Rei. Mi .. GILMAR MENDES. DJ de 17. 10.2(07).

3. Do exposla, defiro o pedido de fI. 2797, li fim de que o Comitê


Nacional para os Refugiados entreviste {) ora extraditando, conforme
procedimento {ulatado pela Lei n° 9.474/ /997, e determino a smpensão do
trâmite deste pedido extradicional. nos termos do arfo34 desta Lei.

Posto o pedido de reconhecimento da condiç{io de refugiado, nos lermos


em que formulado pelo ora extraditando. tramile rigorosamente em sede
administrativa, perante o CONARE. determino .~eja remetido àquele Comitê
cópia (i) do relatório da instrução processual (fls. /80-386) , (ii) das decisões
profe ridas pelo Primeiro Tribunal do Júri de Apelação de Milão (fls. 404-536) e
pelo Supremo Tribunal de Justiça (fls. 538-620), (iii) da manifestação da defesa
(/ls. / 823-/936) . (iv) do parecer do Procurador-Geral da República (/ls. 2318-
233/) e, por fim. (v) da manifestação do Estado requerente (fls. 23 79-2437).

35. Jun tou-se também no processo ad minist rativo uma carta redigida por cidadã
francesa, Han na Deuria, da cidade de Bordeaux , endereçada ao Preside nte Luís Inácio
Lul a da Si lva 12 . A missivista sugere que o governo brasileiro nlio atenda pedido do
governo italiano, pela extradição de Cesare Balfisti/J.

36. Em reunião plenária de 28 de novembro de 2008 o CONARE indeferiu o ped ido


de refúgio fo rm ulado por Cesare Battisti. Do indeferimento o extraditando interpôs
recu rso, con hecido e provido pe lo Ministro Tarso Genro, que concedeu refúgio ao
inte ressado.

37. Em 14 de janeiro de 2009 o Deputado Ma rcos Pompeu de Toledo, na qualidade


de presiden te da Comissão de Dire itos Huma nos e Minorias da Câmara dos Deputados
divulgou nota oficial, em apoio a concessão de refúgio político a Cesare Battisli.

I~ Com o mesmo texto e idêntico conteúdo hã também várias outras cartas, todas oriundas da França, no
processo administrativo aqui avaliado.
) Processo Administrativo nO080000.003071 /2007-51, fls. 763.
III) A decisão do Supremo Tribunal Federal na Ext-1.085- República
Italiana

38. A matéria foi intensamente debatida no Supremo Tribunal Federal. De tal modo,
na Extradição- l.085-República Italiana, relatada pelo Ministro César Peluso, o Supremo
Tribunal Federal decidiu, se mpre por maioria apertadíssima, e sem o voto de dois
Ministros que se declararam impedidos (Celso de Mello e Dias Toffoli),

a) que concessão de refúgio por 010 do CONARE ou por 010 do Senhor


Ministro de Estado da Justiça nào impede deferimento de extradição:

b) que, neste caso, Cesare Battisti, o requerimento de extradição


encontra-se apto e adequado para deferimento (conquanto que o Estado
requerente convole a pena perpétua para pena mátima de 30 anos, bem como
considere o período de pena cumprido no Brasil- delração):

c) e que, principalmente, a decisão não obriga ao Presidente da


República que, no entanto, deve-se ater aos lermos do Tratado assinado com a
Itália e devidamente internalizado no direito brasileiro.

39. É o que se colhe também, e resumidamente, em documento que o Ministro


Relator do caso no Supremo Tribunal Federal encamin hou ao Executivo, com ênfases
minhas:
Senhor Ministro,

Comunico a Vos.'W Excelência que o Supremo Tribuna! Federal. nas


sessões plenáriw' realizadw' em 9.9.2009, /2.11.2009, /8.11.2009, 19. /1.2009 e
/6. /2.2009, decidiu:
I) - preliminarmente, homologar o pedido de desistência do recurJO de
agravo regimental na Extradição n. 1085 e indeferir o pedido de suslentação oral
em dobro, tendo em vista o julgamenlO conjunto:
II) - rejeitar questão de ordem sUJcitada pela Senhora Ministra Cármen
Lúcia no sentido de julgar o Mandado de Segurança nO 27.875 ames do pedido
de extradição:
III) - por maioria, julgar prejudicado o pedido de mandado de
segurança, por reconhecer nos aulas da extradiçiio a ilegalidade do 010 de
concessiio de slallls de refugiado concedido pelo Ministro de Estado da Justiça ao
extraditando;
IV) - rejeitar as questões de ordem suscitadas pelo Senhor Ministro
Marco Aurélio da necessidade de quorum cOflSlitucional e da conclusão do
julgamento sobre a prejudicialidade do mandado de segurança;
V) - por maioria, deferir o pedido de extradição:
VI) - rejeitar a questão de ordem suscitada pelo advogado do
extraditando. no sentido da aplicação do an. /46 do Regimento Inlemo, e
reconhecer a necessidade do voto do Presidente. tendo em vista a matéria
constitucional:
VII) - suscitada a questão de ordem pelo Relator, o Tribunal deliberou
pela sua permanencia na relaloria do acórdiio: e
VIII) - por maioria, reconhecer que a decisiJo de def erimento da
extradiçiJo não vincula o Presidente da República, nos termos dos votos
proferidos pelos Senhores Ministros Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Ayres
Britto, Marc:o Aurélio e Er(}s Grau.
Esclareço, por fim , que a referida decisão transitou emjulgado 110 dia 23
de abril de 2010.
Atenciosamente,

40, Por cinco votos a quatro o Pleno do Supre mo Tribuna l Federa l decidiu que a
concessão de refúgio nào impede o deferimento de extradição, Votaram pela hi gidez do
refúgio deferido pelo Senhor Mini stro de Estado da Justiça, no caso em tela, os
Ministros Eros Grau, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio. Votaram contra
a concessão do refúgio, neste caso específico· • bem entendido· • os Ministros César
Peluso (re lalOr), Gilmar Mendes (então Presidente da Corte), Ricardo Lewandovsky,
Carlos Briuo e Ellen Gracie.

41. O Supremo Tribunal Federal, por maioria apertada, entendeu o ato de concessão
de refúgio como um ato administ rati vo vi ncul ado, e não como ato político, sem
co nstrangimentos estranhos à atividade política, e à condução dos assuntos
internacionais por parte do Se nhor Presiden te da República, no caso implíci ta e
exp licitamente representado pe lo Senhor Ministro de Estado da Justiça.

42. Nesse sentido, a discussão alcançou questão simultaneame nte preliminar e


prejudicial, deduzida em mandado de segurança proposta pelo Estado inte ressado na
ex tradição.

43. E também por cinco votos a quatro a composição plena do Supremo Tribunal
Federal entendeu que o pedido de extrad ição aco moda-se ao tratado, à tradição
constitucional brasileira e, principalmente, que a natureza dos delitos que fomentaram
toda a movime ntação escaparia de um conteúdo empírico de crime pol ítico .

44. Neste sentir, os homicídios de um agente penitenciário, de um agente de polícia,


de um joalheiro e de um açougueiro, todos atribuídos ao extraditando,
substancializariam, na percepção de ci nco Ministros do Supremo Tribunal Federal,
crimes comuns; ipso facto, procedente seria o pedido de extradição.

45. Votaram pela extradição os Ministros César Peluso, Carlos Brino, Ricardo
Lewandovsky, Ellen Gracie e Gilmar Ferreira Mendes. Votaram contra a extradição
todos os Ministros que compreenderam que o refúgio é ato político: Eras Grau, Cármen
Lúcia, Joaqu im Barbosa e Marco Aurél io.

46. O Ministro Eros Grau havia insistido que quem defere ou recusa a extradição é
o Presidente da República, a quem incumbe manter relações com Estado.~

e.\·trangeiros 14 . Para o Ministro Joaquim Barbosa, limita-se aquele Sodalício a examinar


15
alguns aspectos atinentes à legalidade do pedido formulado pelo Estado estrangeiro .

Para a Ministra Cármen Lúcia, quando o Supremo defere e, portamo, verifica a~

condições formais legalmente estabelecidas, compete ao Presidente da República. no


exercícío de sua competência constitucional prevista no arl. 8 4, incíso VII, verificar se
fará ou não a entrega do extraditando ou tomar as providências no sentido de não
permitir a continuidade de uma prisão (... )16. Para o Ministro Marco Auré lio, se
declarada a legitimidade do pleito, abre-se salutar oportunidade ao Presidente da
República não de modificar o pronunciamento judicial, mas de, à fren te da política
brasileira no campo internacional, entregar, ou não, o estrangeiro, que poderá merecer
(} statllS de asilado I 7. Para o Mini stro Ca rlos Brino, ai nda de forma mais pe remptória,
(... ) o Supremo Tribunal Federal, à medida que sai em defesa desse Tratado para
agravar a situação do extraditando. está saindo em defesa do E~·tado requerente, e em
desfavor da pessoa extraditanda (. ..) Não pode iS. Isto é, por cinco votos a quatro,
e ntendeu-se que a decisão do Supremo Tribunal Federal não obri ga ao Presidente da

14 STF, Ext-1085, Ministro Eras Grau, fIs. 537.


IS STF, Ext- 1085, Ministro Joaquim Barbosa, fI s. 224.
1" STF, Ext-1085, Ministra Cármen Lúcia, fls. 543.

17 STF, Ext- 1085, Ministro Marco Aurélio, fls. 373.


18 STF, Ext-J085, Ministro Cartas Britto, fl s. 559.
República. Deve o Senhor Presidente, no entanto, no contexto dessa decisão, alcançar
solução que conta com previsão convencional. De tal modo, a decisão fi nal é
discricionária, devendo ser confeccionada nos exatos termos do que foi
internacionalmente pactuado. Sigo com excertos desses votos vencedores, neste
pormenor:
Minislro Eros Grau:
" Aqui se Irala de requisilos de caráler puramente subjetivos da Parte
requerida, de conteúdo indeterminado. que tUlO se pode contestar. Exatamente o
que a dOlitrina chama de 'conceito indeterminado' ,,/9
Ministro Joaquim Barbosa:
"Há que se ler em mente, por outro lado. o falO de que, embora a
COIJSlituiçeio disponha no seu art. 102, inciso I, lelra g que cabe ao Supremo
Tribunal Federal 'julgar' a eXlradiçlio, como todos sabemos, inscreve-se no rol
dos alas e procedimentos que formam as relações internacionais de um dados
país. Materia, portanlO, indiscutivelmente de alçada do Poder Executivo. Não e
o Supremo Tribunal Federal quem concede a extradição, mas sim o Presidente
da República. a quem cabe a palavra final em materia de relações
internacionais "lO
Ministra Cármen Lúcia:
"Apenas ratifico o meu voto. Cilei, naquela ocasilio. Celso 8a~·tos. que é
taxativo ao dizer que compete ao Presidente da Repúblico 'a faculdade de
consumar a extradição, isto é, mesmo quejá aprovada pelo STF, a medida pode
dârar de ter seguimento, se auim o entender' o Chefe do Poder Executivo "II
Minisfro Marco Aurélio:
"Presidente, foi formada lima maioria de cinco vows - é preciso que isso
fique bem explícito - no sentido de que Sua Excelencia o Senhor Presidente da
República não e.Há compelido pelo Supremo a implementar a extradição ,,}}
Ministro Carlos Britto:
"Mas, parece-me, Ministra, que ° Judiciário, as.çim como nào
desrespeita a soberania do Pais estrangeiro, nào pode desrespeitar a soberania
do Presidente da República, que é Chefe de Estado e represemame privativo,

1~ STF, Ext-l085, Ministro Eros Grau, fls. 538.


lO STF, Ext. \085, Ministro Joaquim Barbosa, fls. 224.
:lI STF, Ext-1085, Ministra Cármen Lúcia, fls. 543-544.
!l STF, EXI-108S, Ministro Marco Aurélio, fls. 603.
protagmústa privativo das relações internacionais do Brasil. Aí surge a
perg unta: e para que serve o Poder Judiciário, por que o proce.HO eXlradicional
passa pelo crÍ\IO do Supremo Tribunal Federal? É porque o Supremo Tribunal
Federal entra nesse processo, nesse circuilO para e/elivar um dos principias do
inciso II do artigo 4°: 'prevalência dos direitos humanos '.
Só se j uslifica a presença do Poder J udiciário num processo
extradicional, !whido que a extradição é um inSlituto de Direito Internacional,
porque incide no círculo das relações internacionais do Brasil esse principio do
respeilo aos direitos humanos ..n.

47. VOlaram pela vinculação do Preside nte da República à decisão do Supremo os


Ministros César Peluso, Ricardo Lewandovsky, Ell en Grade e Gilmar Fe rrei ra Mendes.

48. VOlaram pela não vinculação do Presidente da República à decisão do Supremo


os Mini stros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Cárme n Lúcia, Marco Auré lio e Ca rlos
Briuo. O Ministro Carlos Britto é o autor do swinging vote. Segue a ementa
co nfeccionada a propósito da Ex tradição 1085/ República Italiana, relatada pelo Ministro
César Peluso, em julgamento de 16 de dezembro de 2009:
EMENTAS: I. EXTRADIÇAo. "tls,viva. Rt'.fiigio ao I!xlme/ilamlo. Falo
excludem!! do pedido. COIICt'S.W10 "0 (.' /11 '.\'0 do processo, pelo AJillislro tia
Jusliça. em recurso administrativo. AIO admilli.Hrativo vinculado. {luestilo sohre
sI/a ('xistência j llrídica. validade c eficácia. logniçâo oficial 01/ proV()(."(u/(I, 110
juiKumclllo da CllU.\"O. li lífulo de preliminar de máilO. Admissibilidade.
De.5Ilcces.\"idmle de ajuizamellf(J de m{l/ulac/o dI' segurallça 011 /)lIlro /"('medio
j urídico, para eS.H' fim. QIICS/tlO conhecida. Votos vencidos. Alcol/ce do arl. 102.
inc. I. alínea "R". da CF. Aplica~:ii() do ar/o J O cio Cpc. QueJtão Jobre exi.\·lencia
j llridica, I'alide; e eficácia de alo lIdmini.\·tratil'o que cOllceda refugio ao
extraditando e mll/{;ria preliminar inere,,',' ti cOKniçiio do mérito do proce.~.\"(} dt'
eXlrculif,;tio e. como lal. deve ser conhecida de oficio ou metlitlme pro\'OCllÇtlO de
interessado jllrídico lia callsa. 2. 1:.:.\'TRADIÇio. PassÍ\-·a. Refúgio ao
I!xtnulilllllllo. (,'(I}/{:e.uào 1/0 C/lrso do proccs.I"O, pelo Millisl m da ,JII.\·Úra. ".1/11
adminisfra/;Ilo vinculado. Ndn correspondéncia en/re os mo/ivo.\" declarados (' o
suporte jalictl da hipálc.\·e legal invocada como CllII.W allfori:adoyo da
COllceSSÜO de rejiíj!io. COI/traste. adell/ais. COI/I norma legal proihiliva c/o
reconhecill/t'IIfO dessa condi~:ilo. Nulidade absoJura pronunciada. II/eficácia
jllrídica cOII.w:qiiente. Preliminar acolhida. Votos 1'encido.f. IlIIcligênCÍa dos
arts. l U, i llC:. I, e J ~ inc. III, da I.ei n" 9.474/ 9 7. art. I-F do Decreto n" jO.] I j i 61
(Eswtlllo dos Refugiados), an. I". inc. I. da Lt'i 11" 8.071/ 90, an. 168, § lÍnico, do
Cc. e ar/. 5". ine. XL. da CF. E"'enlllal IIlIlidade ahsolllra do aIo (ldmini.\·/rali\,(1

23 STF, Ext-1085, Ministro Carlos BrillO, 11s. 552-553.


que concede refúgio ao ex/radilan(/o deve ser pronunciada. lIIediallfe
prol'ocaçtio ou de oficio. no processo dt' extradição. 3. EX/'RADI('t-lo. Pa\·.úWl.
Crime político. Ntio can/eteri=a('ào. Quotro homicidios qualiJicados, cometidos
por membro de organi=açrio revolucifmária clandestina. Prática soh império e
normalidade i/I~·tit"cional de H.Hlulo Democrático de direilo. sem cOlloIa(:ão de
rellçâo /egÍlimo CO/llra a/os arbifl'{irios 011 tirâllicos. Carência de 1II00imção
politica. Crimes comuns config'umdos. Preliminar rejeitada. VOIO I'ellcido. Não
conjigun/ crime político. para fim de obstar a acolhimemo de pedido de
extradição. homicídio prtl/icado pur membro tI<- orglllli=aÇlio revolucionária
clandestina. ('m pIeI/a normalidade ins/illlc/ol/al de Estado Democrática de
direi/o, se m /leI/hum propôsilo polith'o imediato ou conoraçiio de rea(:ào
legíTill/a a regime opressú'o. 4. E..\TRADIÇAo. Passiva. ExeclIfur;a. Pedido
fUfldado em ~'enU.mçCl.\· de/initil'wi conden(lfôrias por ql/afro /tomicidius. Crime.\'
comuns. Refiíg;o {"oncedido (/0 eXlraditandu. Decücio administYatÍl'lI baseada
em mullúlçÜO formal de justo receio (/(~ perseglliçcio polílicu. Inconsistência.
Sentenças proferidas 1.'1/1 processos que respeilllram todas as garal//ius
cUl1stillldonai.~· do réu. Ausénciu (Ib.WJltlla de prova de risco aluai de
perseguiç(;o. Mera resislência li Ilt'ces.üdade de execuçâo da.... Pt'l/{u. Preliminar
repelida. Varo vencido. InlerprelflFio do arl. I ". illc. I. da Lei II" 9.474i 97.
Aplicaçfio do item j6 du j\-Iamml do Alfo CO Illis.wl'iado das Nfl(:iJc.~ UI/idas -
ACNUR. Ntio caracteri=tl a hipÓTese legal de cOllcessâo de rejiígio. consis/enle
em/lfndado receio de per~'eglfiçlio política. () pedido de extrad;~'(iu paro regI/lar
execuçlio de seflfellçfu dejiniTivas de condenação 1'01' crimes comul/ ..... proferidas
com ob.\·ervlincia do dn'ido proL"t'SSO legoi. quando nãu há prova de nenhum
fulo ('apaz de JUSTificar receio mual de desrespeiTo às gllrfllllia.~ conslitucÍ(mais
do cO/ldenado. 5. EXTRADIÇ.Jo. I'edido. In.\'truçúo. Documentos vazadus em
Iín!!11l1 eSlrcmgeira. Alltemicidade lião CfJnle.\·tada. Tradll(,'Õo algo dejiciente.
I'ossibilidade. porem. de ampla compreensiio. Dilc.m exercida em plenillu/e.
Defeito irre/emllle. Nulidade im'xülen/l'. frdiminar repelida. Precedentes.
In/l'ligênda do arl. 80. § I ~ da Lei ,," 6. 815/80. Eventual deficiéncia lia
Irlldu(:ão dos docl/menloS que, vazado.\· em lingl/lI estrangeiro. ÍlI.\·/ntel1l o
Jlcdido de cXlradiçiio. mio () /orna inepto. se não compromete a plena
compreen.Hlo dos tex/os e o exercício du direilo de d(1e!w. ti. EXrR.1D/('Ào.
Passiva. E.\'('cutória. Extensti" da cOR'lÍçc1o do Supremo Trihulla/ Federal.
Principio legal da chafl/oda contellciosidade Iimilada. Amplill/(Ie das ljuesItJe.\·
oponíl'í'is pela defáa. Rt'stri('iio âs 1II(11érill.\· de iden/idade da pC.\'.'Wo
reclamada. dl1eilo formal da docllmen/a('tio apresemada e ilegalidade da
eXlradiçt'io. Qwst(Jes conexas .Wlhre a lIature=a do de/ito, dupla lipicitlade e
duplo grau dl' punibilidade. Impossibilidade cOllwqüeme de apreciação do
I'l';or da.\· provas e de /'(~ju'gllm('n/() da c/lusa ('III que se deli a condenaçtio.
IlIferpreltu,;iio dos (lrl.~. 77, 78 e 85..~' I ", da Lei n" 6.815/80. Não cOIIS/itui obji'lo
cOj{noscíl'i" de dc.ksa. no proC('.uo de extradirão passiva t'xeclI/ária, alegaçãu
de il/sujiciência das pr(}\'ll.\· 0// il!iustiça da selllellça cllja condenaçâo J o
fundamemo do pedido. 7. EXTR.1DIÇ,10. .Il1lgamento. Vowçdu . Causa Ifue
efll'olve quesfões constitucionais por nall/reza. Varo necessário do Ministru
Presidente do SlIpremo Tribullul Federal. Preliminar rejeilada. PreCed(mles. O
MiniSlro I'residellfe do Supremo Tribunal Federal !em .w mpre l'oto 1/0
julgaml'nto dos processus de extradiçtio. 8. &\TRADIÇ.:[o. Passi\'ll. ExecwÓria.
Dtjerimellfo do pedidu. Ext!cllção. En/rega do extraditando (lO f:s/ado
requerenle. SlIbmis.\·iio absoluta ou discriciollllriedade do Presidente da
Repúhlica quanlo à eficácia do lI('(írdiio do SlIpremo 7i'ibullal Federal. Niio
reco/lhecimenfO. Ohri!!açâo apenas de (lXir nos lermos do Trtll(/c!O celt'hrculo
com o t'swdo requere II/e. Resultado proclamado ir vista de (f/llllrO l'OtO,)' que
dec!onw(JI/I obrigarória a en/rega do extraditando e de um I'OIU qlle St' limitava
a exigir obsen'ânCia do 1'ralado. QlltlIro votos I't'ncidos qlle dO\,(1If1 peJo caráler
discrici(mário do ato do Presidenlt' da República, Decrelada li e.\'II'(/{liçcio pelo
SII/lrelllo Trihunal Fi'dera/. deve () I'n'sidellle da República observar os termos
do Tratado celebrado com () E.ÇlOdo r"querente. qllalllo ii t'lIIrega du
eXlmelifalldo,

49, O Supremo T ribu nal Federal manlém tradição em nosso direito extrad icional ,
que se fiUa ao modelo belga , Se a decisão do Supremo é pelo indeferimento da
extradição, o Presidente da República não pode autorizar a entrega do extraditando, Na
hipótese da decisão se r pelo defe rimento da ext rad ição, o Presiden te da Repúbl ica pode
acompa nhar (ou não) a decisão do Supremo Tribunal Federal, conquanto que o faça nos
limites do pactuado intemacionalme nle. É esse o quadro que se apresenla.

50. A questão que se põe limita-se ao contexto do controle do juízo de subjetividade


do Presidente da República, que se desdobra também em miríade de outras
circunstâncias, Transita-se no mundo da suposição, da elegibilidade de sendas, da
detenninação de elementos que não são pré-fixados por regramento objetivo, fechado,
limitado. Trata-se de circ unstãncia afeta à plasticidade, à maleabilidade, à intuição, ao
exercício de um livre arbítrio que decorre da represe ntatividade política consagrada nas
urnas.

5 1. Embora em outro contexto, e à luz de di scussão outra, bem entendido, no RMS


27.920/ DF, relatado pelo Ministro Eras Grau , o ilustre Ministro César Peluso consignou
que (...) quando se trata de avaliações puramente sllbjelivas, os atos administrativos.
sobrelUdo aqueles que consislem em vOUlções - não as votações de j ulgamento
j urisdicionais, mas outras votações- são sempre independenle de motivação objetiva, A
mofivação é puramente subjetiva ( ..) Enfim. seio situações que decorrem da nalureza
do próprio ato que não admite motivação, fimdamentaçiio objetiva. porque corresponde
a lima decisão pessoal. de caráter subjetivo.insuscetivel. como tal. de qualquer controle
j urisdicional. de controle administrativo e. Olé, controle de outra ordem.

52. O Supremo Tribunal Federal sufragou a linha adotada pe la just iça italiana, no
sentido de que os c rimes atribuídos a Battisti seriam qualificados por natureza comum
(e não política)24. Ta l percepção afasta ria a alegação de que estrangeiro não possa ser
extrdditado por crime político, por força do fato de que não se poderia, em princípio,
a tribuir-se, no Brasil, natureza política pard delito que no local de origem não fora
compreendido como tal.

53. É o que se extrai, mudando-se o que deva ser mudado) do decidido na Ext
1 149/República Ital iana, re latada pelo Mini stro Joaquim Barbosa, em julgamento de 3
de dezembro de 2009, quando se vedou a análise, por parte do Judic iário brasileiro, do
mérito da ação penal corrida no estrangeiro, determinante do pedido de ex tradição:
EMEN1~L EXTRADIÇ.4o. TRAFICO DE ENTOIIPECENTES.
RE'f'UIJLlCA n:4L1ANA. TRATADO DE EXTRADiÇÃO. REQU/S17DS
OBSERVAD05;. t.--XTR.4DIÇA-O DEFERIDA. 1. Pedido de ex/mdjç(io reqllerido
com bllse tiO TraJado Bilaleral pmll/lllgado pelu Decrt'/(J "o863/ 93. 1. Acusarão
da prática do crime dt' Irtijico de enlorpecentt's. em 2006. na Illilia. com
malldado de prisão pl't' venli\'CI expedido pela lIutoridtJde call1pnenre. 3. Razões
alinewes ao mérif(} da açilo pellal ( ' III trâmite na IltÍlia 0/1 cUlldiçrJes pessuais
/ú\'orúwis au E"lradilandu 11(10 .~iio /JlIssiveis dt' anúlist' /lO proce.\'so de
eXfradiçi'io lIem iII/pedem seu d eJáimellfU. -/. Obur\'ado.s tU reqllüifUs imposlos
paro (I COllcessüu c/a t'xtradiç-'iio. 5. t-xlI'adiçcio deferida.

54. É cediço que o Supremo Tribunal Federal não aprecie o mérito, no que se refe re
ao pedido de ex tradição, a propósito do decidido na Ex l 11 26/República Federal da
Aleman ha, processo relatado pelo Ministro Joaquim Barbosa, em julgamento de 22 de
outubro de 2010, cuj a ementa segue:
EMENTA : E\·lrllllirõ(). Repúhlica Federal da Alemallha. Pedido
jiJrmlllado COIII prollles.WI de reciprocidade. COlllli"iíes de adllli....sibilidade.
Observância. Prescn~'a da dupla lipiddac/e. I!locorrêllcia de cXfilJ(.:c10 da
pUllibilidade pelll prew'rirüo da preft'lIsiio pllllilim. Pf'l'CI1Chimell/o dos
reqll;.I'ilos .f()rlllllis. /Ilegalil'a de aUlor;a. IlIcidênl'ia dos m'fS. 89 e 90 c/c arfo 6 7
tia Lei II" 6.815/ 1980. Aplica('i'io da COIl\'cm;i'io das .f\'açlles Un idas ('ollfra o
Crime Organi=ado Transnacional. pronlllJ/o!at/a /1('10 Brasil metliante (I Decrefo
,," 5.0/5/0-/. COIII/x'lúlóa reconhec ida ao E.~tado requerente. Preliminar
rej,'i/atla. Precedel/les. EXlraditalldo condellado 110 Brasil pelo crime til.' /1'l!{iCII
ilícito dl' enwrpecellfe.ç. CI/lllprimelllo integral da pello impus/li. Aus,;ncia de
.íhice. Defe rimento tia exlradiçúo. Precedell/l's da '<;lIprenlll Corle. () pedido de
cXfratli('iío foi formalizado nos autos. com mandado de pri.wlo C/"e indica COIII
slIjicicme prec:isiío o local. a c/ata. a nllflfl'eZa e as c:irClms/állcias das filIO.\'
delitlloso~' atribuidos ao extraditando, transcrevendo m' dispositivos legais da
ordem jurídica alemii palille1lfeS (/0 caso. Ub~'ervllclos os requisitos do arl. 77
do ü 'i na 6.815/80. "!lere-se. dos dOClIlllcnlM lIpresell/(ulo.\· j llnto às No/m

:~ Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que o entrelaçamento de crime comum com
crime político obSlaculizaria a extradição. Ext 994/ltália, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, cm
j ulgamento de 14 de dezembro de 2005 .
Verhaü, qlle o.~· {'rimes impu/(u/os (10 t'x!mdilc/JIdo atendem o requisilo da dupla
lipicidllde e corre.\"flondelll, fIIJ I1ms;/. arl.\" crimes de trájico ifícifO de
"f/fOrpeCen!es e de associarão para o IrtiJico. previsfOs. re.\])ccli\'wl/elllc, /lOS
w"tiRus 33 e 35 da Lei n" 11.3./3/ 06, satüja:e/l(!o , (I!)·.üm, ao reqllisiw da dupla
!ipicidade. prt''''.~to no arl. 77, im:. II, da Lei II " 6.815/80. A eXlinçào da
punibilidade pela prescriçào da pn'u'l/siio pllnirim nào ocorreu nt'm ii luz da
legis/m,;âo a/emli. lIem da brasileirCl. Todo.ç os requisito.5 exigidos pelo art. 80 e
parágmfiJs da Lei 6.8/5/ 1980 joram inrt'Xrallllellle preenchidos. Nilo cabe, em
processo de extradição, o exame do méril() da pretemi/o pellal dedll=idll em
jllbo 1/0 país solicitante, razlío pur que tlle}:(lções com:emellles ii mnréria de
defesa próprio da arào pellal, !fll como (/ rI/!glltiva de {JI/toria. niio elidem o
defaimemo do pedido. Precedellfes. () Estado 1"('(luf!rente telll competência p(lm
processar e .iulgm' extraditando. por cri/llt' de Irájico illlernaciolla/ de
substàncias enlorpeCt'nfes. na hipótese de li ir!fraçiio ter sido L'oll/elida 1'01" 11111
de seus cidadàos. .ti pefUl imposla (lO e.rtradilamlo p<'hl JlIsli«u redeml c/e Seio
Pau /o. pela prútica do cl'imt' de lrtíjico de enlOrpecellfc.\'. foi il1legmlmenre
cumprida, lUtO s l/bsistilldo óbice pal"ll li exenlçeio imt!diala da prescnle
eXlradiçtio. O tempo de prisiiu do extraditam/o fIO Brasil, por/im;a do {Jresel1fe
pedido, deve ser cOI1(abili:ac/o ptlra ejeito dt' delraçiio. 11(1 t!w?lI!lfolidade de
condenação 110 .-I/('mallllll, A extradiçiio .w.í MI"á execulada após a cOllclusão de
outro prucesso (I que f) extraditando f! \'ellllltllll/('lI!e responde 1/0 Brllsil, 0 /1 após
o cumprimento da pena aplicado. podendo, no ('lIImllo, o Pn'sidenlt' da
República dispor em l'ontrário. 1m.\" lerll/O.\· do art. 67 da Lei n O6.8/5/80. Pedido
de extradü,:tio d.jerit!o com a.\" re.\".wil'o,\' indicada.\·.

55. Isto é. não pode também o Supremo Tribunal Fede ral reenquadra r o ex traditando
por cri me diverso, o que qualifica ria - - incl usive - - a te ntado à soberania do Estado
reque rente, como decidido na Ext 987ntália, rela tada pelo Ministro Carlos Britto, em
j ulgamento de 23 de ma rço de 2006:
EMENTA: E.ITRÂDf(AO EXECUTÓRIA. TRAFICO INTERNACIONAL
DE ENTORPECENTES ALE0ACAO DE QUE O ESTRAN0EIRO
RECLAMADO ERA USUARIO. E N ,jU TRAFICANTE INVIABILIDADE DE
ANALISES MERITÓRIAS NA ESFERA EXTRADlCIONAL IMPU0NA('ÀO
VOLTADA li SUPOSTA MA INSTRUÇJO DO PEDIDO, Pedidu de (~xtrudiriio
que atende às exige,lcia.\· Ji.lrmaü constantes do Trawdo Di/meral (Decreto II "
1)63/ 93) e do E.\'Iaf/f1O du E.'arangl' im. Nâa Jlrocede {/ 1Ilef!{I(la OUSllllcill de
c/ocum"nlo essellcial li Il"tImitaçiio do pedido. se o EsU/do /"equerellfe ji!: llll/Iar
aos (II/tos (I sentellça que. l1I/li/o t'lIIhora ohjeto de reCUI',\'II, veio li traflsitar 1'11/
jlllgado, cOflsliluifldo. pur{(lIl!O, () fÍll/lo j l/didal a Se/" exec /ltwlo. Não pode (I
Supremo Tribunal Fedl!rtll elltrar nll próprio mérito do'\" fillos impufados ao
cidadúo f!.\·(/'ongeil'll, em ordem (l re'l-"('r li cOlldel/(/(:üO lti pf(~rc/"ida.
reenquadram/o o extraditando em 11;10 di'verso daquele COllStante da S('ntcllr,:a
pelllll a .\'(~" (' Xt' L'llfuda (de traficalll€: parti uSllário), Este f'l"Ocede,. se mostra
abso!ulamenlt' incompatível com o j uízo de cognosc:ibilidl1de {>s/rifa qlle rej.!e as
açde.\'· (7Xlradicionais (§ I " do arfo 85 da Lei II n (,,815/80J. além de QU'lIIar contra
a soberania do Estado reqllcl'cllle. Pedido eh/e rido,
56. Deve·se lembrar também que o fat o de que haja processo crime no Brasil contra
Batristi, por outros delitos que não os que plasmam a extradição, também não se
configura ria como óbice para o deferimento da extradição. É o que se decidiu na Ext
I05 1/Estados Unidos da América, relatada pe lo Ministro Marco Aurélio, em julgamento
de 2 1 de maio de 2009:
PR()('ESSO· CRIMt' COMPETENClA EXTRADIÇÃO. /-Im'em/o
noticia di' prática tle/ifunsCl I'(Jlwda a introdu:ir tf;xico 1/0 território cio Governo
H' querente, incumbe ler como de boa origem o pedido de l'xlradiç:iio.
J:.XTRADI('Ã() . PROCESSO-CIUME EM CURSO NO BRASlL. A úrn/nsltincia
de o t'xlmdifl/J/do ta cOJl(m .\'j proee.\·.m-crime '/0 .hu/iciário brasill'iro mio
oh:iIl/CIlIi:a a eXIl'adiçi"ío. EXTRAIJ/CA-O - DUPUCIDADE DE. PEDIDO
E:dstindo duplicidade dI' p!!tlidn, seI/do idêmicas a.\' penas pn' \';'\'w s para os
tipo.,'. dt'jine-se almferêllcia na extmdiçiio pe/a." c/atas dos pedido.,·jormu/atloéi,
prenllecmdo aqllel,' j;}rmali:ado em pl'imeiro lugar, ~\TRADI(ÃO - DUPLA
71I'1CIDA/Jf;· CONSPIRA Çfo . CRIME DE QUADRIUIA . 1.A"4CEM DE
RECURSOS'. Impik·.\'e a observância da dupla fljJü:idade e. aéisim. (I filiO de u
arligo 288 do Código Pena! exigir, para a cO/l/iJ.,'1Wa('lio do crime de quadrilha
011 Iwndo, a a.uociaçüo de mais de m}s pi's.was. EXTRADIÇÃO - PRiS,.j()
pI::RPF.rUA. No cli'1erimemo da eXlmdiçüo. dl'l'e-s(' impor dáwmla. preSelllt' a
lIurma do anigo i 5 do CódiJ.{o Pellal e. portalllo. li impossibilidade de o
extraditam/o cumprir pena perpeluCI cerceadora dalilwrdade de ir e vir.

57. Porém, em outra ocasião, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que


procedimento penal contra o extraditando no Brasil impediria a imediata ordem de
extradição, a menos que o Presidente da República decidisse de outro modo. É este o
con teúdo decisório da Ext 804/República Federal da Aleman ha, relatada pelo Ministro
Celso de Mello, em julgamento de 21 de agosto de 2002:
E M E N TA .. EXTRAD/(:,fo PASSIVA · ACUSAÇÃO POR SUPOSTA
l'R171CA DO CRIME DE FORA-IA~'ÃO DE QUA DRiLHA E DE DELITO
CON TR<I A ORDEM TRIBUT,1RIA . EXAME DO MÉRiTO DA IMI' U7~1('ÃO
l'ENAL . IMPOSSIBILIDADE · S(i MUL1 n IiSTF . RECEP(:" fo PELA
VICENTE CONS71TUI( 'ÃO DA REPUBLICA· EXISTENCIA, NO liRASIL , DE
l'ROCE/J/MENTO PENAL INSTA URADO CONTIIA O DlTRADITANDO .
SITUA CÃO QUE IMPEDE A IMEDIAT,4 EFET/VA('ÃO DA ORDEM
EXTRADICIONAL. EXCETO SE EXERCIDA , PELO PR ESI/JENTE DA
REPUBLlC.4 , A PRERROCATllé4 QUE LHE CONFERE O AR7: 89 DO
ESTATUTO DO ESTRANGEIRO· EXTRWIÇ'ÃO DEFERIDA , PROCESSO
E.\TRADICIONAL . EXAME DA PROIé<1 PENAL I'IIODUZIDA PERANTE O
ESTADO I:. . \'TRA NGEIRO - i NADMISSIBILIDADE. - () modelo ('xfmdiciol/lI/
vigente /10 Brasil - que consagra o sistema de conrclU.:iosidade limi/ada, lili/dado
('lIIlIorma legal (ESlmlllo do Esrrangeiro, ar/. ~5. § I ) reputada compalil'e/ COIII
tI

() /('.\'Iu da Cmmituiçiío da República (RTJ I05/.j-5 - RT.I /60/.J3J- ./34 - RT./


161/4 09-4/1) - fUio alltori=tl q//(' se renove. JIO ,i",hiro da aft/o c/e extradição
passiva promovida perante o Supremo Trihunal Federal. (I lilígio pellClI que lhe
deli origem, 111'111 que se (retive () r('exallle do quadro prohalóriu OIJ a discussão
sohn' o mé,.ito da (Jellsaçiio 011 da cOIUIt'lIa(;tio emtmadas di' árj!lio compe/(~lIfe
do t :stadfl estrangt'im, /)fl l/lrinll, Precedentes. ('(ht4PATIIJIU!)A!)E DU
EN UNCIADO CON5;7:-'1NTE DA ,)'ÚMU I.A -I2 I ,STF COM () T/:'XTO DA
( 'ONSTlTUJ<,',:[U F/;.'Dt:RAL D1:.' I WilJ. - A existência de filho s brasileiros dO Il /I
compl"l/\'açiio de \'íllC:lIlo cOl/jugal 011 dI! C(lIII'Í\'é"cia /1/0/'t' ILw/rio do
eXlmdifandll com pessoa de naciol/alidade hrasileirll cOllsfillli'1I/ latos
destituídos dI! rl'ievâllcia jurídica para t:teilos extradiciol'/ais. mio impedilldo,
em cO/lst'qiiénC"itl, a {~reli\'(/çiio da ('xlradi('(io do slÍdilO eSfrange iro . A
sllpet ....ellil?ncia da 110\"(1 ordem constituciollal lU/O {!fi..'Io/l a "'alidade da
f ormula{'lio cOnfida na Slimula -I2 /1STF, que :mbs isle ílltegra sob ti égide da
\'igente CUllslitlli('(jo rl'JJllbliclIIw. Precedentes. A QUES7"-io DO ADIAMENTO
DA ENTREGA EXTRADICIUNAL - INTEUGtNCl.1 DU ART. 89 DU
ESTA TlJ fO DO ESTRA.N0EI Ro. A t'lIm/go do n/radiflllu/o - que e.l'/(~ja sendo
p1"Oce.~s(Jdo criminalmente 110 Brasil 011 que h(!;a so}Yido comlef/açcto pellal
imposra pela .Justi<,:a hrasileira - depelldl!. em princípio, ela conclwiiio do
p/'Oce.çso 011 do cumprimemo do pena pril,tlth'lJ de Iiberdad(' , i'X('('fu se o
Presiden/e da República, fil/u/lIdo em j uizo discriciwllírio, eXl'rc:er a
prerro1!lI/illa excepciullal que lhe conjere o art. 89, "caplll '·. "iII filie". do
Esflltu/u do ESII'C/f/geiro, determinando li imediata efetil'açtio d(/ ordem
('..tradiciollal. Prececlenles.

58. Efetivamente, não impede à extradição a circunstância de o extraditando


responder no Brasil a processo por fala diverso daquele pelo qual deva responder ou
cumprir pena no Estado requerente. É o que se colhe no decido na Ext I048/Chile,
relatada pelo Ministro Sepúlveda Pertence, em julgamento de 23 de abril de 2007:
EMENTA : I. Extradi('ão: delifo de .w:que,çf/'O (L". Pen. Chileno, arfo 1-1/,
incisos I " ,~ 3"): rl!q/lisifos jiJrll/uis sari.~·,,' ilO.\": inexisf(!nda de áhice lega l:
deferimento. cOl/dicionada a entrega do exlradilOndo ao dispoSIO 110 ar/o 89 c/c
arl. 6 7 da Lei 6.815/80. II. Exrradiçlio: suficiente descrição dofá/o deli/1I080. "A
exigência legal de desairüu circ:lIJ/sumcillda do jàlO criminoso de l'c ser
emendida li par/ir de sua razão de .\'(' 1' claromenle illstrlllllellfal; ela há dI!
repurar-se j'(J(isji.'ifa se os fermo.ç em qlle deduzida (( impu/af.'ào p<'rmÍfem ajáir
com .\·('gurall(,(1 (I SI/a dúplice /ipicidfllle. a 11l1/ure=a com/IIII e mio polílica da
infra,YJo e ti ineXÜ/bu.'ia de prl'sairão CfJ/lsl/llltlda " ((.I En. 7/9, PI. , 4. 3. 9/?,
Per/ene/!. D.I 29.8,03) III. Ettradiçõo passiva : 110 regime hmsi/eiro, a
concordância do extraditando //lI/! di.\JJtm,\'a li aleriçc10 da legalidade do pedidu
pelo Supremo Tribul/al, IV EXlradiçtio: nào (l impede o f alO de o extradiflllldo
responder 110 Brasil (J pmce,\',w) por jalo diverso daq//('/e pelo I/ual deva
ropollder no Eslad() requerente . íllcide, IICS,\'(I hipôlese. o disposto no.\" ar/.\'. 67 e
R9 da L. 6.815180.

59. Também nâo impediria a extradição o rato do extradita ndo responder no Brasil a
inquérito policial por fato diverso da circunstância que fom entou o pedido de
extradição. Decidiu-se deste modo na Ext 797/ltália, relatada pelo Mi nistro Sepúlveda
Pertence, em julgamento de 8 de novembro de 2000:
EMEN7:4: I. E,lrculiç:llo: im'lnlç//o cio f'jfdido : aUfcnticid(l(le da
doc /lmt'nwçtlO - nela incluid" as (I'Odll('llt',\' para" vemáculo ji.:i1a.~ 1/0 Estado
req//erellle - que deco rre do Irdl/silo diplulllálic/J do.\" jJal'Jis. /1. F.x/radiç{io : nãll
a iII/pede o jÓlu de v cxtracliwndu - (,olll/emu/o por dois homicídios e I'l'Oces,wlllo
por IUlI lt~ rcf'iru , nu E"Iodo requerente - responder /10 Brasil (I illquérifo policial
por fato diwr,w , qllal a ulilizaç{70 de doclIn/(,n/o,\' falso,\' de identidade. IlI.
EXfradição: gralllidade da a/e?,(I('tio de persegui(:tio polílica no /:'j'wdo
requel'l!lIfe, onde. processado por fn's homicidius de mOlil'açtio comercial, o
eXlrtldi({lIldo, embora rel'el. lel'(' o =eloso patrocínio de dejimsores cOlIslÍfllídos.
que já levou li caso por duas I'c.:es ti Corte Suprema de Cassa(:i'io. COIII
re:mltadu,ç jávor/m: i,~' à de/c,m IV EXI/'adiç:iio passiva: limifllçücl' h'gais à
dc.ksa que mlo si"io íncolIsfílllciolllli~', porque ca-extellsil'fM ao âlllhiro da
jurisdição do Supremo Trib ul/al no P/'(I('('S,W de ex/radiçclo pcl,uil'{/. dada a
admis,wio pela legislação braúleira do sisfema belga.

60. Registre-se, por oportuno, que o direito brasileiro já enfre ntou proble ma de
extradição em caso de pena de prisão perpétua, como se lê na eme nta do j ulgado na Ext
773lRepública Federal da Ale manha, relatada pe lo Ministro Octavio Gallotti, em
j ulgamento de 23 de feve reiro de 2000:
EMENTA : Inadmissibilidade da pretellsão de lrazer (j pruva doc:umenlal
produ=ida no ESladv requerel//e au {"{lfIhecim('nto do .)'uJlrelllll Trihunal como ,\'e
járo es/e. nifo apenas o Juizo de COnlrolt· da legalidade da eXfradiç{lo, como de
faro é. /lias o próprio j ulgador da a{'liv penal u que respondl> o podeI/te.
Pussibilidaci(: de cOlldel1açlio ir priscio pcrpéfllll admifída pe/a jllrispl'lld~ lIcil/ do
Supremo Tribunal (\',g. EXT 71J. DJ de 20-8-1)/)), sendo assim. rejeifada, pelo
1II0iorio. re,çsaJvtl des/inada a barrar e,+;.'w (·wm/lfolidade.

61. Especialme nte, ê o que se colhia em j urisprudência dominante no pre térito, isto
é, o j ulgado na Ext 7 11 /República Italiana, relatada pelo Mi nistro Octavio Ga ll otti , em
julgamento de 18 de feve reiro de 1998:
EMENTA : Pleno exercido ele defesa, por meio de adl'Ogado COnslilllído.
Desl1('cessidade de reproduçcio. 110.'1 aIllO.~, do lexlo do lratado de extradiçào,
dn'idallll'llIe publicado no "DitÍrio (~(it:ia/". J\'ào ~ moti\'() de l'e~·lri('i"io . ao
de/érimel1fO du pedido, li possibilidade da {:wulenaç.-(io do pllcic:nfe ti pt' l1a de
prislio perpétua. EXlradi(:tio, em parle, COI/cedida (crillle de homicídio).
excluindo-.I'" (I pl!rsecuç.-ri.o pela posse l' porre de arma de fogo, que //lIO eram
prl!visros como crime pela lei hl'mileim. à época do já/o.

62, Ao Supremo Tribu nal Federal, em tema de extradição, compete, tão somente,
exami nar a legalidade e a procedência do ped ido. Não há previsão para invasâo de
competência do Presidente da República, a quem cabe, efetivame nte, decidir pela
ex tradição, É esta, ao que consta, a linha interpretativa que tem vingado ao longo dos
anos. E a decisão fi nal pela extradição (ou não) é do Presidente da Repúb lica, sempre
nos exatos termos e limites dos tratados pactuados, e da tradição que informa o direito
in ternacional dos tratados.

63. É justamente no conjunto normativo e axiológico do direito extradiciona l brasileiro,


especialmente à luz do tratado que assinamos com a Itália, que se encontram os limi tes e
orientações para uma decisão adequada. É do que se trata em seguida.

IV) O Tratado de Extradiçao Brasillltália

64. Brasil e Itália firmaram um tratado de extradição em 17 de o utubro de 1989.


Roberto de Abreu Sodré assinou pela Re pública Federativa do Brasil e Gianni de
Michelis pela Itália. O acordado vige por tempo indeterminado (art. 22, 3). Cada parte
pode , a qualque r momento, denunci ar o acertado. E a denú ncia teria efeitos se is meses
após a data em que a oulra Parte tenha recebido a respectiva notificação, nos lermos do
próprio tratado (art. 22,4).

65. O referido tratado foi intemalizado por intermédio do Decreto nO 863, de 9 de


julho de 1993. Foram apostadas as assinaturas de Itamar Fra nco e de Luiz Felipe
Palmeira Lampreia. Este último na q ualidade de Ministro de Estado das Relações
Exteriores, aque le primeiro na qualidade de Presidente da República.

66. No que se refere à obrigação de extraditar, acordo u-se que cada uma das
Partes obriga-se a entregar a outra. mediante solicitaçào. segundo as normas e
condições estabeleddas no ( ... ) Tratado. as pessoas que se encontrem e selllerritôrio e
que sejam procuradas pelas autoridades judidárias da Parte requerente. para serem
suhmelidas a processo penal ou para a execuç(;o de uma pena restrith'a de liberdade
pessoal (arl. 1).

67. Quanto à fixação dos casos que autorizam a extradição (art. 2) assentou-se, da
forma seguinte:
I. Será concedida a extradiçào par fatos que. segundo a lei de ambas as Parles.
constituírem crimes puníveis com lima pena privariva de liberdade pessoal cuja
duração máxima prevista for superior a um ano. ou mais grave.
2. Ademais. .fe a extradição for solicitada para execução de uma pena, será
necessário que o período da pena ainda por cumprir seja .mperior a nove meses.
3. Quando o pedido de exlrudiçtio referir-se a mais de um crime, e algum ou
alguns deles mIO atenderem às condições previslas no primeiro parágrafo, a
extradição, se concedida por uma crime que preencha tais condições, poderá se
e.flendida também para os demais. Ademais, quando a extradiçc10 for solicitada
para a execução de penas privativas de liberdade pessoal aplicadas por crimes
diversos. será concedida .~e o total das penas ainda por cumprir for superior a 9
me.\"es.
4. Em matéria de taxas. impostos. alfândega e câmbio. a extradição mIo
poderá ser negada pelo falO da lei da Parte requerida não prever o mesmo tipo
de tributo ou obrigação. ou não cOnlemplar a mesma disciplina em matéria
fiscal. alfandegária ou cambial que a lei da Parte requerente.

68. No que se refere a determinação de conj unto de casos de recusa de extradição,


excerto de altíssima importância no caso presente (art. 3), definiu-se da fonna seguinte:

I. A exlradição nao será concedida:


a) se, pelo mesmo fato, a pes.w a reclamada estiver sendo submetida a
processo penal, 011 já tiver sido julgado pelas autoridades judiciárias da Parte
requerida,
b) se, na ocasião do recebimento do pedido, segundo a lei de uma das Partes.
houver ocorrido prescrição do crime ou da pena;
c) se a pessoa reclamada tiver sido 011 vier a ser submetida a julgamenlo por
um tribunal de exceçc10 na Parte requerente:
e) se o fato pelo qual é pedida dor considerado, pela Parte requerida. crime
político:
j) se a Parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa
reclamada será submetida a aIOs de perseguição e discriminação por motivo de
raça, religião, sexo, nacionalidade, língua. opiniiio polí';ca. condição social ou
pessoal; ou que sua situação possa ser agravada por um dos elementos antes
11lencionados;
g) se o fato pelo qual é pedida constituir, segundo a lei da Parte requerida.
crime exclusivamente militar. Para os fin~ deste Tratado, consideram-se
exclusivamente militares os crimes previstos e puníveis pela lei militar. que 1/(10
constituam crimes de direito comum.

69. Veda-se terminantemente a concessão de extradição para efeitos de


cumprime nto de pena de morte (art. 4), no sentido de que a extradição tampouco será
concedida quando a infração delerminaflfe cio pedido de extradição for punível com
pena de morte. A Parle requerida poderá condicional a extradição à garantia prévia,
dada pela Parte requerente, e tida como suficiente pela Parte requerida. de que tal
pena não será imposta, e, caso já o tenha sido. não será executada,

70. Fixou-se também artigo dando conta de que, em tema de direitos fundamentais
(art. 5), a extradição não será concedida:
a) se, pelo fato pelo qual for solicitada, pessoa reclamada tiver sido ou vier a
ser submetida a um procedimemo que nào assegure os direitos mínimos de
defesa. A circunstância de que a condenação tenha ocorrido li revelia nào
constitui, por .fi só, motivo para recusa de extradição;
b) se houver fundado motivo para supor que a pessoa reclamada sera
submetida a pena ou tra/amen/o que de qualquer forma corifigure uma violação
dos seus direifosfundamentais.

71. O tratado supõe também recusa facultativa de ex tradição (art. 6), nas segui ntes
hipóteses:
/ . Quando a pessoa reclamada. '/0 momento do recebimento do pedido, for
nacional do Estado requerido. este não será obrigado a entregá-la. Neste caso,
não sendo concedida a extradiçào, a Parte requerida, a pedido da Parte
requerente, submeterá o caso às suas autoridades competentes para eventual
instauração de procedimento penal. Para /01 finalidade. a Parte requerente
deverá fornecer os elementos úteis. A Parte requerida comunicará sem demora
(I andamento dado à causa e, posteriormente, a decisão final.

2. A extradiçlio poderá igualmente ser recusada:


a) se o filto pelo qual for pedida tiver sido cometido. no todo ou em parte. no
território da Parte requerida ou em IlIgar cons iderado como tal pela sua
legislação:
b) se o fato pela qual for pedida tiver sido cometido fora do território das
Partes requerida não previr a punibilidade para o mel'mo quando cometido fora
do seu território.

72. Verifica-se também a fixaçã o de um conjunto de circunstâ ncias limitativas da


extradição (art. 7), nomeadamente:

I. A pes.\'Oa extraditada nlio poderá .ser submetida a restrição da liberdade


pe.uoal para execução de uma pena, nem sujeita a outras medidas restritivas,
por um fato anterior à entrega, diferente daquele pelo qual a extradiçào tiver
sido concedida, mesmo que:
a) a Parte requerida estiver de acordo. ou
b) a pessoa extraditada, tendo lido oportunidade de faze-lo, ntio tiver deixado
o lerritório da Parte à qual foi enlreg'ue. transcorrido.~ 45 dias da sua liberaçlio
definitiva. ou, lendo-o deixado, tenha voluntariamente regressado.
2. Para o fim do previsto na letra a) do parágrafo J acima, a Parte
requerente deverá apresentar pedido instruido com a documenlaçtio prevista no
Artigo Xl. acompanhado das declarações da pessoa reclamada, prestadas
perante autoridade j udiciária da dita Parle, para instrução do pedido de
extensão da eXlradiçlio.
3. Quando a qualificação do fato imputado vier a modificar-se durante o
processo, a pessoa extraditada .wmente será sujeita a restrições à sua liberdade
pessoal na medida em que os elementos constitutivos do crime que
correspondem à nova qualificação autorizarem a extradição.
4. A pessoa extraditada não poderá ser elllregue a 11m terceiro Estado. por
um fato anterior à sua entrega. a menos qlle a Parle requerida o permita. 011
hipótese do parágrafo /, letra b).
5. Para os fins previsto nos parágrafo precedente, a Parte à qual tiver sido
entregue a pessoa ex[ra<!itada deverá formalizar um pedido. ao qual j untará a
sulicitação de extradição do terceiro Estado e a documentação que o instruiu.
Tal pedido deverá ser acompanhado de decfaraçcio prestada pela reclamada
perante uma autoridade j udiciária de dita Parte. com relação à sua entrega ao
terceiro Estado.

73. No que se refere ao direito de defesa definiu·se que à pessoa reclamada serão
facilitadas defosa. de acordo com a fegislaçüu da Parte requerida, a as~'is/(! ncia de um
defensor e. se necessário. de 11m intérprete (arl. 8).

74. Acertou·se também que o período de detenção imposto à pessoa extrad itada na
Parte requerida para fins do processo de ex tradição serã computado na pena a ser
c umprida na Parte requere nte (arI.9). O tratado determina a de tração. Não se trata de
condição ou de encargo. É efetivamente um compromisso,

75. O tratado é rico e m pormenor no que se refere ao modo e línguas de


comunicação (arl. 10), nos te rmos que em seguida reproduzo:
/. Pura osfins do pre.~ente Tratado, ar comunicações serão efetuadas entre o
Minislério da Justiça da República Federativa do Brasil e o "Ministério de
Grazja e Guistizia" da Republica Italiana, ou por via diplomática.
2. Os pedidos de extradição e as Outras comunicações sereia apresentados na
língua da Parte requerente. acompanhados de tradução na língua da Parte
requerida.
3. Em caso de urgência. podera ser dispensada Cl lradução do pedido de
prisão preventiva e documentos correlatas.
4. Os Atas e documentos transmitidos por força da aplicação do presenle
Tratado serão isentos de qualquer forma de legalizaçc70,

76. O tratado também explicita o conjunto de docume ntos que deve instruir e
fundamen tar o pedido de ext rad ição (art. 11), nomeadame nte:
/. O pedido de extradição deverá ser acompanhado de original ou côpia
aUlenticada da medida reslritiva da liberdade pessoal ou. tralando·se de pessoa
condenada, da sentença irrecorriveJ de condenação. com a especificação da
pena ainda a se cumprida.
2, Os documenlos apresenflldo.~ deverào conler a descrição precisa do fala . a
data e o lugar onde foi cometido, CI .wa qualificação j urídica, assim como os
elementos necessários para determinar a identidade da pessoa reclamada e. se
possível, sua fotografia e sinais particulares. A esses documento~' deve ser
anexada c6pia das disp<Hiçàes legais da Parte requerente aplicóveis ao fato.
bem como aquelas que se refiram a prescrição do crime e da pena.
J. A Parte requerente apresentará também indícios Oli provas de que a pessoa
reclamada se encontra no território da Parte requerida.

77. O tratado de ex tradição Brasil/l tália lambém dispõe sobre suplemento de


informação (art. 12), no sentido de que se os elementos oferecidos pela Parte
requerente forem considerados insuficientes para permitir decisão sobre (I pedido de
extradição, a Parte requerida solicitará um suplemento de informação, fixando um
prazo para este fim. Quando houver pedido fUndamentado. o prazo podera se
prorrogado.

78. Há também regra sobre prisão preventiva (art. 13), que especificamente alcança
o caso aqui discutido, da foram que segue:
J. Antes que seja entregue o pedido de extradição. cada Parte podera
determinar, a pedido da outra. a prisão preventiva da pessoa. ou aplicar contra
ela outras medidas coercitivas.
2. No pedido de prisão preventiva. a Parle requerente deverá declarar que,
contra essa pessoa. foi imposta uma medida restritiva da liberdade pessoal, ou
uma sentença definitiva de condenação a restritiva da liberdade. e que pretende
apresentar ped;do de extradição. Alêm düso, deverá fornecer a descrÍf,:õo dos
falOS. a sua qualificação jurídica, a pena cominada, a pena ainda a ser
cumprida e os elementos necessários para a identificação da pessoa, bem como
indícios existentes sobre sua localização no território da Parte requerida. O
pedido de prisão prewntiva poderá ser apresentado à Parte requerida.também
através da Organização Internacional de Polícia Criminal· INTERPOL.
3. A Parte requerida informara imediatamente à outra Parle sobre o
seguimento dado ao pedido, comunicando a doia da prisão ou da aplicação de
outras medidas coercitivas.
4. Se o pedido de extradição e os documenlol· indicados no Artigo //,
parágrafo / não chegarem à Parte requerida Olé 40 dias a partir da data da
comunicação prevista no parágrafo terceiro. a prisão preventiva ou as demais
medidas coercitivas perderão eficácia. A revogação não impedirá uma nova
prisão ou a nova aplicação de medidas coercitivas, nem a extradição, se o
pedido de extradição chegar ap6s o vencimento do prazo acima mencionado.

79. Quanto à decisão relativa ao deferimento (o u não) da extradição, bem como no


que se refere à entrega do extraditando, o tratado dispõe da forma como em seguida
reproduzo (art. 14):
I. A Parte requerida informará sem demora à Parte requerente sua decisilo
quando ao pedido de extradição. A recusa. me!1·mo parcial, deverá ser motivada.
2. Se a extradição for concedida. a Parte requerida informará à Parte
requerente. especificando o lugar da en/rega e a dOlO a partir da qual esta
poderá ter lugar, dando também informações precisas sobre as limitações da
liberdade pessoal reclamada tiver sofrido em decorrência da extradição.
3. O prazo para a entrega sera de 20 dias a partir da data mencionada no
paragrafo anterior. Mediante soliCitação fundamentada da Parte requerente,
poderá ser prorrogado por mais 20 dias.
4. A decisão de concessão da e:ctradição perderá a eficácia se, no prazo
determinado, a Parte requerente não proceder à retirada do ex/radilando. Neste
caso, este será posto em liberdade, e a Parte requerida poderá rec:usar-se a
extraditá-lo pelo mesmo motivo.

80. Há previsão para adiamento da entrega do extraditando (an. 15), de modo


pormenorizado, a da fo rma que segue:
J. Se a pessoa rec/amada for submetida u procel"l"o penal, ou deva cumprir
pena em território da Parte requerida por um crime que tuio aquele que motiva
o pedido de extradição, a Parte requerida deverá igualmente decidir sem
demora sobre o pedido de extradição e dar a conhecer l"1I0 decisão à outra
Parte. Caso o pedido de extradição vier a ser acolhido, a entrega da pessoa
extradirada poderá ser adiada até a concluslio do processo penal ou até o
cumprimento da pena.
2. Todavia, a Parte requerida poderá. mediatlfe pedido fimdamentodo,
proceder à en/rega temporário da pessoa extraditada que se encontre
respondendo a processo penal em seu terrilório, a fim de permitir o
desenvolvimento de processo penal na Parte requerente. mediante acordo entre
as duas Partes quando a prazos e procedimelllos. A pessoa temporariamellle
entregue permanecerá detida durame sua estada no território da Parte
requerente e será recambiada à Parte requerida, segundo o.ç termos acordados.
A duração des!.-a detenção. desde o dala de saída do território da parte
requerida até o regresso ao mesmo lerrilório, será computada na pena a ser
imposla ou executada na Parle requerida.
3. A entrega da pessoa extradilada poderá .yer igualmenre adiada:
a) quando. devido a enfermidade grave, o Iransporte da pessoa reclamada ao
território da Parte requerente puder causar-lhe perigo de vida;
b) quando razões humanitárias. determinadas por circunstâncias
excepcionais de caráter pessoal, assim o exigirem, e se a Parte requerente
estiver de acordo.

8 1. Dispõe-se também que a Parte requerente poderá enviar à Parte requerida, com
prévia aquiescência deslO, agentes devidamente autorizados, quer para auxiliarem no
reconhecimento da identidade do extraditando, quer para o conduzirem ao território da
primeira. Esses agentes mio poderão exercer atos de autoridade no território da Parte
requerida e ficarão subordinados à legislação desta. Os gastos que fizerem correrão
por conta da Parte requerente (art. 17).

82. Quanto ao procedimento a ser observado no que se refere à entrega de objetos há


extensa previsão (arl. 18), a saber:
I. Dentro dos limites impo.~/()s por sua própria lei, a Parre requerida
sequestrara e. caço a extradição vier a ser concedida. entregara à Parte
requerente, para fins de prova e a seu pedido, os objelOs sobre os quais ou
mediante os quais tiver sido cometido o crime, ou que constituírem seu preço.
produto 011 lucro.
2. Os objetos mencionados no parágrafo precedente também serão entregues
se, apesar de ter sido concedida a extradição, esta não puder concretizar-se
devido à morte ou àfuga da pessoa extraditada.
3. A Parte rel/uerida poderá conservar os objetos mencionados no parágrafo
I pelo tempo que for necessário a um procedimento penal em curso, ou poderá,
pela mesma razão. entregá-los sob as condição de que sejam restilllídos.
4. Serão resguardadm' os direitos da Parle requerida ou de terceiros sobre os
objelOs e ntregue~·. Se se corifigurar a existi ncia de tais direitos. ao fim do
processo os objelOs serão de volvidos sem demora à Parte requerida.

83. No mesmo sentido, há previsão ponnenorizada relati va ao trânsito do


extraditado (art. 19), como segue :

/. O trânsito. pelo território de qualquer das Porres, de pessoa entregue pur


terceiro Estado a uma das Partes, será permitido, por decis(jo da autoridade
competente, mediante simples solicitação. acompanhada da apresentação. em
original ou cópia autenticada, da docu mentação compJeru referente à
extradição. bem como da indicação do agentes que acompanham a pessoa. Tais
agentesficarão sujeitos às condições do Artigo / 7.
2. O trânsito poderá ser recusado quando o fato que determinou a extradição
seja daqueles que, segundo este Tratado. não a justificariam. ou por graves
razões de ordem pública.
3. No caço de transporte aéreo em que não seja prevista ate"issagem, não é
necessária a autorização da Porre cujo território é sobrevoado. De qualquer
modo, esta Parte devera ser informada com antecedência, do trânsito, pela
outra Parte, que fo rnecerá os dados relOlivos à identidade da pessoa, as
indicações sobre o f ato cometido, sobre sua qualificação j urídica a
eventualmente sobre a pena a ser cumprida. e atestará a existência de uma
medida restritiva da liberdade pessoal ou de lima sentença irrevogável com
pena restritiva da liberdade pessoal. Se ocorrer a aterrissagem, esta
comunicação produzira os mesmos efeitos do pedido de prisão preventh'a
prevista pelo Artigo /3.

84. Acordou-se que as despesas relativas à extradi ção ficarão a ca rgo da Parte em
cujo território tenham sido efetuadas; contudo, as referentes a transporte aéreo para a
entrega da pessoa ex traditada correrão por conta da Parle requerente, e que as despesas
relativas ao trânsito fi ca rão a cargo da Parte requerente (art. 21).
V) o direito processual penal extradicional italiano

85. O art. 720 do Código Penal da Itália vincularia, em pri ncípio, as co nd ições
determinantes da extradição à aceitação do Mini stério da Justiça e ao fato de que não se
contraponham aos princípios que marcam o di reito italiano. A afirmação é colocada em
termo de suposição, marcada pela dificuldade que o direito comparado enseja, e pela
dificuldade q ue há em se alca nçar um esper,lQto jurídico.

86. Ao que parece, no direito italiano a ext radição é ma té ria disposta no Código de
Processo Penal (Codice di Procedura Pena/e-artigos 697 a 722). É assunto do Livro XI
daquele código, no excerto que tra ta das relações jurisd icionais com a autoridade
est rangeira (Rapporli giurisdizionali com aulorilà slraniere). O direito italiano divide a
extradição em eXlradiç(;o aliva (eslradizoine dal/'eslero) e em extradição passiva
(estradizione per /'eslero). Do mesmo modo como fazemos.

87. Na primeira, ativa, as autoridades italianas pedem a cooperação internacional.


Roga-se que se extradite italiano que se encontre no país para o qual se pede a
extrad ição. Na segunda , passiva, a Itália coopera com autoridades estrangeiras,
promovendo a extradição, nos limites do di sposto no Código de Processo Penal, em
estrutura que lembra o modelo brasileiro, em suas linhas ge rais.

88. No modelo italiano a decisão final sobre extradição, ativa (que m e a quem pedir
extradição) e passiva (deferi r o pedido de eXlíddição), pertence ao Ministro da Justiça
(Ministro di Grazia e Giustizia). A competê nc ia do Ministro da Justiça em âmbito de
extradição (Eslradizione e pOleri de/ Ministro di Grazia e Giustizia), no direito ita liano,
é definida no art. 697 do C PP daquele país.

89. Há restrições para a extradição relativa a delitos políticos (a rt. 698- reali
poli/iel), com fundamento na tu tela dos dire itos fundamentais da pessoa humana (lUtela
dei diritli fondamenlali deI/a persona). Faz-se deferência ao princípio da especia lidade
(a rt. 699- principio di specialilá).

90. Há normas sobre reextradição (art. 7 11 - rieslradizione ), sobre o trânsito do


extraditado (art. 712- lramito), sobre medidas de segurança aplicáveis (art. 713- misure
di sicurezza applicafe aJresfradafo), sobre medidas de coerção e sequestro (art. 714-
misure coercitive e sequestro), sobre aplicação provisória de medidas cautelares (art.
715- applicazione provvisoria di misure caute/ari).

91. No que se refere à extradição ativa propriamente dita, dispõe-se que ao Ministro
da Justiça cabe o pedido de extradição a um Estado estrangeiro, de acusado ou
condenado, a quem deva ser imposto procedimento restritivo de liberdade pessoal ( art.
720- domando di estradizione- li Ministro di Grazia e Giustizia competente a
domandare a uno Sfalo esfero I"esfradizione di /ln imputato o di un condannato nei cu;
confronti debba essere eseguito un provvedimenfo restrillivo deI/a Iibert personale).

92. O Ministro da Justiça é provocado pelo Procurador que alua no tribunal do


distrito no qual transitou se ntença em desfavor do extraditando, cabendo ainda ao
Procurador a instrução do pedido com todos os documentos necessários (art. 720- A tal
fine ii p rocuratore generale presso la Corte di Appe/lo nel cui dislretto si procede o
slata pronunciata la sentenza di condanna ne la richiesta aI ministro di grazia e
giustizia, trasmettendogli gli aui e i documenti necessart).

93 . No entan to, a extradição pode também ser suscitada por iniciativa própria do
Ministro da Justiça (art . 720- L 'esfradizione puó essere domandata di propria ;niziativa
dai Min istro di Grazia e Giustizia), a quem cabe também decidir por não encaminhar o
pedido de extradição (art. 720- II Minis tro di Grazia e Giustizia puá decidere di non
presentare la domanda di estradizione o di differirne la presentazione dandone
comunicazione ali "autoritá giudiziaria richiedenre).

94. Na hipótese do Estado que ext radita impor co ndi ções para a entrega do
extradi tando (comutação da pena -- de pena de prisão perpétua para pena de reclusão
máxima de 30 anos -- ou detração - - redução da pena a se r cumprida do período já
passado na prisão pelo extraditando) o Ministro da Justiça seri a quem deteria
com petência para decidir sobre a aceitação das condi ções impostas.

95. Não se admitem condições que conflitem com os princípios fundamentais do


ordename nto jurídico italiano (art. 730- II Ministro di Grazia e Giusrizia é competente a
decidere in ordine ali 'acceltazione de/Je condizioni eventualmenle poste dano Stalo
eslero per concedere I'eslradizione, purché non comrasran/i con i principifondamen/ali
delJ'ordinamemo gillridico italiano). As autoridades judkiárias italianas vinculam-se às
condições impostas pe lo Estado estrange iro, e aceitas pe lo Ministro da Justiça (art. 730-
L 'alltoritá gilldiziaria é vincolata ai rispel/OdeI/e condizioni accella/e),

96. Assim , é ao Ministro da Justiça a quem caberia, em princípio, decidir sobre as


condições postas por Estado estrangeiro, podendo se recusar ao c umprimento do
exigido na medida em que haj a contraste entre a condição imposta e o ordenamen to
jurídico italiano. A situação poderia, em princípio, s uscitar algumas indagações, a
propósito, especialmente, do regime de penas. Insisto, do ponto de vista conceituaI.

97, No direito italiano há ao; pena.;; de rest rição de liberdade e penas pecuniárias.
Entre as penas de restrição de liberdade há a prisão perpétua, a reclusão e o arresto.
Entre as penas pecuniárias há multa e outras imposições rixas e proporcionais.

98. A pena de prisão perpétua (ergast%) é cumprida em estabelecimento especial,


há isolamento noturno, com event ual possibilidade de trabalho aberto (Li, pena
deJ/'ergastolo e perpetua, cd e scontata in uno degli s/abi/imenti a cio destina/i, con
I'obbligo de//avoro e con I'isolamento nolturno. II condannato oll'ergastolo PIIÔ essere
ammesso ai lovoro olraper/o).

99. A pena de reclusão (reclusione) é fixada de 15 dias a 24 anos, também cumprida


em estabelecimento especial, com obrigação de isolame nto noturno, com possibilidade
de trabalho aberto, cumprido um ano da pena (La pena deI/a reclusione sI' estende da
qllindici giorni a ,'entiquauro anni, ed e seontata ;n uno degli stabilimenti a ciô
destina/i, con I'obbligo dei la~'oro e con J'i.wlamento nollurno. 11 condannaro alia
recJIIsione. che lia scontato almeno IIn anno della pena, PIIÔ essere ammesso allavoro
all ·aperto).

100. A pena de arresto (arresro) é fixada entre 3 dias e 3 anos, com isolamento
nolurno; o condenado pode trabalhar e m local outTO que não o estabelecimento no qual
cumpra a pena, levando-se em conta, especialmente, seu histórico de trabal ho (La pena
delrarres/o si estende da Ginque giomi a tre anni, ed e sconlara ;n uno degli
stabilimenli a ciô destinati o in sezioni speciali deg/i s/abiJimen/i di rec/usione. eon
l'abbJigo dei lavaro e con !'isolamento notturno. Ii condannato all'arresto puo essere
addello a lavori anche diversi da quelli organ;zzaf; nello sfabilimenfo, avilto riguardo
aUe sue attiludini e alie sue precedenti occupazioni).

101. É o Ministro da Justiça quem aprecia e defere (ou não) as condições impostas
por Estado estrangeiro, para a entrega do extraditando. A questão deve ser inserida no
contexlo ge ral do ordenamento jurídico italiano, na expressão de tratadistas daquele
país, em tradução livre minha:
(. ..) as condições que Estados estrangeiros Impõem para a extradição
são imprevisíveis; é por isso que, distanciando-se de generalizações abstratas,
individualiza-se na pessoa do Ministro o órgão funcionalmente competente para
operar uma valoração sobre a conveniencia, para os interesses nacionais, de
acei/ar-se cláusula ulterior e específica colocada pelo Estado que dispõe sobre
a transferência da pessoa demandada. Neste trabalho de seleção, além do 'bem
comum', o Ministro conta com algum parâmetro de referencia obrigatória de
racionalidade e de ética: no sentido de que seja vedado à autoridade
administrativa a aceitação de condições boomerang para a eficácia dajustiça e
qlle eventualmente sejam 'contrárias aos princípios f undamentais do
ordenamento j urídico italiano '. Ainda que esta valoração e especificação do
âmbito da especialidade deva enconlrar expressão fo rmal em um decreto, com
1J
todos os problemas que alcancem 11m ponto de controJe .

102, No modelo extradiciona! ativo italiano, insista-se, a valoração das condições


impostas por Estados estrangeiros, é competência do Ministro da Justiça, É ele quem as
avalia, e ele quem as insere no contexto dos princípios fundamentais do direito daquele
país 26 . O respeito aos princípios fundamentais do direito italiano é o limite 27 .

103. Questão que se mostra recorrente é relativa à entrega de extraditando que fora
julgado e condenado à revelia (contumacia), com condição de que se faça novo

25 Gaito, Alfredo, Rupporti giurisdizionali com autorilà slrunier;, in Conso, Giovanni e Grevi, Villorio,
Profili di Procedura Penale, 5.1.: CEDAM, p. 8 14. No original: (... ) le condizioni che gli stati stranicri
appongono a[]'cstradizionc sono imprevidibili: ecco perché, rifugggendo da gencralizzazioni astratte, si c
individuato nc1 Ministro l'organo funzionalmcntc competente ad ope rare um vaglio sulla convcnicnza,
per gli intcrcssi nazionali, di acectare le dausole ulteriori e specifichc aggiuntc dallo Stato che dispone ii
trasferimento dei soggeno richicsto. ln questa opera di selezione. oltre ai 'bene comune ', it Ministro ha
qualc parâmetro di referimento obrigatório la ragionevolezza e r etica; nel senso che e inibita a[]'autorità
amministrativa I'acceitazione di condizioni boornerang per !'eficacia dclla giustizia e quelloc
eventualmente ' constrastanti com i princlpi fondamenta li dcll'ordinamento giuridico italiano' . Anchc
questa valutazione e spccificazione degli ambiti deJla specialità nel caso concreto dovrebbe trovare
espresssione formale in um decreto, com tulli i problemi chc ne conseguono in punto di controlli.
2' Cf. Dália, Andrea Antonio e Ferraioti, Marzia, Corso di Diritto Processuole Penule, S.I.: CEDAM.,
1992, pp. 648-649.
21 Cf. Tonini , Paolo, Malfua/i di Proceduro Pena/e, Milano: Doot A. Giu ffrc Editore, 2005, p. 857.
julgamento. Há not ícia de que se impôs como condição para e ntrega de extraditando
j ulgado à revelia a possibilidade de um novo julgamento.

104. A Corte de Cassação italia na e ntendeu que o pleno exercício do contraditório


(pieno esercizio dei diritti de impllgnazione) exigido pe lo Estado estrangeiro como
condição pa ra entrega do extraditando enconlra·se pe rfeitamente realizado com a
possibi lidade que se daria ao extraditando de requerer revisão do julgado ou
desconsideração da preclusão (restituzione i" termimiij.

105. Do que então se pode concluir, nesta particu laridade do direito extradicional
italiano, que o Minist ra da Justiça é quem decidiria pelo c umprimento de condições,
impostas por Estado estrangeiro, refe rentes a e ntrega de extrad itando; teri a, como
limi tes, os princípios gerais do direito italiano (art. 720 do CPP da Itália).

VI) Caso Battisti: Peculiaridades e Oesdobramentos

106. No c umprimento da decisâo do Supremo Tribuna l, isto é, no ju ízo de adequação,


ou não, do defe rimento do pedido de extradição, nos tennos do Tratado, o Senhor
Presidente da República deverá levar em conta o disposto na let ra f do item I do art. 3
do Tratado Brasi l/Itália, no sentido de que a extradição não será concedida se a Parte
requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada seró submetida
a aios de perseguição e discriminação por molivo de raça. religião, sexo.
nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal; ou que S ilO

situação possa .~e r agravada por um dos elemenlos antes mencionados.

107. Tal c ircunstâ ncia, ce ntrada no agravamento de situação pessoal, que o


ex traditando poderia sofre r em território ita liano, pode se r identi ficada em dois pla nos.
Refiro- me aos registras que a imprensa italiana tem fcito da situação, bem como a linha

li Selo 1, SefltefllQ fi. 35144 dei 22/09/2005 Cc. (dep. 29/09/2005) Rv. 232088- RAPpQRn
GIURISDIZIONALI CON AUTORITÀ 5TRANIERE (Cod. proe. pen, 1988) • ESTRADIZIONE DALL'E5TERQ - lN
GE NERE _ Condlzione apposta dallo 5tato estero - Pieno esereizio dei dlritti di impugnazione - Condanna
in eontumacia _ Restituzione in termini - Istanza - Valutazione - Obbligo. ln ipotes! di estradizione da uno
5tato est ero ehe non preveda ii giudizio eontumaciale, coneessa a condizione che sia data ali 'estradando
la possibllità di impugnazione idonea a garantire i suoi diritti di difesa, la eondizione deve intendersi
rispettata solo qualora j'interessato possa awalersi, rieorrendone i presupposti, degli istituti della
rimessione ln termini o della revisione.
argumentati va da defesa do extraditando, e que fora nos termos propostos aceita por
alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal.

108. Por exemplo, o Ministro Marco Aurélio registrou em sua decisão que as
se ntenças italianas que condenam ao extradi tando fazem 34 referências a movimen/o de
!mbVerSlio da ordem es/atal. O Minist ro Marco Aurélio teria reconhec ido como
procedente alegação da defesa do extradi tando, refere nte às seguintes circunstâncias:

a) o Presidente da República Italiana teria expressado profundo estupor e


pesar em carta dirigida ao Presidente do Brasil,
h) o Ministro deu Relações Exteriores da flália registrava queixa e surpresa
para com os fatos,
c) o Minisrro da Justiça na Irália leria acenado com a possibilidade de
dificultar o ingresso do Brasil no G-8.
d) o Minislro da Defesa da Itália leria ameaçado de se acorrenlar na poria da
embaixada brasileira na !rália,
e) o Ex·presidente da República Italiana teria afirmado que o nos.w Ex-
ministro da Justiça do Brasil /eria dito algumas cre/inices,
j) o Mini~·tro italiano para Assunto~' EuropelLç teria considerado vergonhosa a
decisão do governo brasileiro,
g) o Vice·Presidenle da Itália teria proposto um boicote a produtos brasileiros,
h) o Vice·Presidente da Comissão de Relações Ex/criores da I/ália teria
suscilado 11m boicote /lIríslico ao Brasil.

109. Talvez corroborando a percepção do Ministro Marco Aurélio há manifestações


da imprensa italiana, que dão a impressão de que o caso ga nha contornos de clamor, de
polarização ideológica. Preocupa·se com o que se pode levan tar contra o ext raditando,
anunciando-se futuro incerto e de muita di ficu ldade.

11 0. Não se trata de nenhuma dúvida pa ra com as perfeitas condições democráticas


que presentemente vigem na Itália. Cuida-se, tão some nte, do reconhecime nto de
circunstância que inegavelmente se evidencia, no que se refere à siluação pessoal de
Cesare Balliti. É o justamente a plena convicção que regime democrático ex uberante
vigora na Itália que autoriza que se intua que a situação do extraditando possa ser
agravada, por força de sua condição pessoal.

III. Em II de janeiro de 2010 no Italia chiama Italia o Presidente do Partido Povo


da Liberdade, no Senado, Maurizio Gasparri, teria declarado que decisão brasileira
relati va ao refúgio de Battisti ex pl icita ria como patética a Itália, com nefastas
consequências para o relacionamento entre Itália e Brasil.

11 2. Em 14 de janeiro de 2009 no La Republica divulgou-se que haveria por parte das


autoridades italianas desilusão e insatisfação para com decisão brasi leira, com
consequente repúdio e reprovação; nossa postura constituiria um grande erro, na visão
do Vice-Ministro do Interior ital iano. Um membro do Part ido Democrata-Cristão teria
afirmado, ainda segundo o La Republico que nossa decisão manifestaria insulto à
história e dignidade da Itália.

I D. No II Tempo de 24 de novembro de 2009, informou-se que o Ministro Tarso


Genro teria afirmado que as declarações das autoridades italianas confirmariam s uspe ita
de que o caso é efetivamente político, pelo que os advogados do ext raditando poderiam
fo rmalizar pedido de asilo.

114. No mesmo jornal, quatro dias antes, em 20 de novembro de 2009, publicou-se


que Daniel Cohn Bendit, líder dos movimentos de 1968, teria afirmado que a extradição
de Battisti era necessá ria ; porém, deveria ser submetido a um novo julgamento. No
mesmo dia, e no mesmo jornal, exigiu-se que o Pres iden te do Brasil extraditasse
Bani sti, porquanto a Itália esperaria justiça e respeito, e não vingança.

115. No Mazzeta de 20 de novembro de 2009 enfocou-se a questão a partir de um


suposto orgulho brasileiro, decorrente de uma nova projeção internacional que
ocuparíamos. E vinculou-se o caso Battisti ao caso Cacciola.

116. No II Secolo XIX de 19 de novembro de 2009 informou-se que o Presidente da


Repú blica Italiana, Giorgio Napolitano, exultava o Brasil a ex traditar Battisti porque se
qlleriajustiça para as vítimas.
117. No II Quolidiano de 19 de novembro de 2009 publicou-se que Ignazio La Russa
teria se referido a parentes das vít imas, que leriam certo alívio depois da dor sentida
pelas perdas de seus entes queridos (.) uma sentença diferente dessa seria terrível.

118. No II Tempo do mesmo dia, 19 de novembro de 2009, noticiou-se que o Ministro


das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, teria fervorosamente antecipado
comemoração relativa a notícia de ex tradição iminente.

119. No Quotidíano também de 19 de novembro de 2009 relatou-se que o Ministro


das Relações Exteriores da Itália afirmara que eventual extradição de Battist i encerra o
profundo amargor da opiniüo pública iraliana.

120. No Corrieri deI/a Sera também do mesmo dia, 19 de novembro de 2009,


registrou-se que a extradição iminente agradava o governo italiano. Em 18 de novembro
de 2009 o 11 Secolo XIX registrou afirmação do filho de uma das vítimas, no se ntido de
que Baltisti deveria sofrer justa pena; como está com 51 anos deveria ficar mais 30 anos
detido, isto é, até aos 81 anos de idade.

121. No II Tempo de 16 de novembro de 2009 há notícia de que três fundadores do


Movimenlo para a Itália entravam em greve de fome, como manifestação pela
extradição de Battisti. Queriam celebrar a memória ofendida das vítimas deste
assassino vil. No mesmo jornal, na edição de 14 de novembro de 2009, relatou-se que o
Subsecretário da Presidência do Conselho de Ministros, Gianni Letta, deixava
transparecer a e!>perança em ver um ex-terrorista atrás das grades.

122. No mesmo jornal, em 13 de novembro de 2009, publicou-se que o Ministro das


Relações Internas, Roberto Maroni , teria afinnado que Battisti é um criminoso perigoso
que deve cumprir a penal pela qual foi condenado.

123. No Corrier; deI/a Sera de 10 de novembro de 2009 registrou-se que o Ministro


da Defesa 19nazio La Russa teria afinnado que não aceitaria debater com Battisti, que
teria atenção quando estivesse na prisão de seu próprio país.
124. As referências acima parcialmente reproduzidas, a título de exe mplo, dão conta
de que hã estado de ânimo que j ustifi ca preocupações para com o defe rimento da
extradição de Battisti, por força de suposição do agravamento de sua situação pessoal.
Recorrentemente toca-se no objetivo de se fazer justiça para as vítimas. O direito
processual pena l contemporãneo repudia essa percepção criminológica, e o referencial
conceituai é um au tor italiano, Luigi Ferrajoli. O fund amento da pena é (ou deve ser) o
rea proveitame nto do c riminoso para a vida social.

125. Os exce rtos de jornal acima reproduzidos dão conta de que hã co moção política
e m favor do e ncarceramento de Battisti. Inegável que este ambi ente, fi elmente retratado
pe la im prensa peninsular, seja caldo de c ultura justirica ti vo de te mores para com a
situação do extraditando. que será agravada.

126. Nesse sentido, as infonnaçõcs acima reproduzidas justifi cam que se negue a
extradição, por força mesmo de disposição convencional. O Presidente da República
aplicaria disposição da letra j do ite m 1 do a rt. 3 do Tratado de Extradição formalizado
por Brasil e Itália. E tem competência para tal. O que estaria vedado ao Preside nte do
Brasi l seria a concessão de indulto (o que não é a hipótese) conforme se decidiu na Ex t
736/República Federal da Alemanha, relatada pe lo Mini stro Sydney Sanches, em
julgamento de 10 de março de 1999:
EXTRADIÇÃO. DECRETO DE PRISÃO PIIEVENTlVA . CRIMES DE
ESTELlo.NATo. E FALSIFICA(AO DE DOCUMENTO.I·.· DUPLA
Tlf'lCIDADE. TERRITORiALIDADE. INSTITUTOS PENAIS E PROCESSUAIS
BRASILEIROS: INEXIGI/JIUDADE OE SUA APUCA('ÀO PU.A .II1.WIÇA DO
E.I7:4/)o. REQUERENTE PR':SCR/('ÀO. REQUISITOS PARA A
EXTRADIÇÃO. I. O decrefO de pri.wio l'stá comido I/() prfÍprio I//andado de
captllra. comu prevÚ"to lia legislarlio afemii. com satisjátária ji/lltlamenta,ào l'
pieI/a (l(-eitar,:úo desla Corle. em vário.\' p/'eadentes. ! . o.~ dclito.~ imputado.\· ao
eXlraditando ..\·eg1llulo consta de lal peçll. fáram sete estelionotos (11m dos quais
eSfJl!cilllmeme ~/'a\'e). e seis mediallte jals(ficac;lio de documel/llls. lOdos
ocorridus IIiI Alemanha, onde o exrradilmuJo agia em nome de certafir1lla. com
('scrilário em Alul/ique. s f/h U }jl'rencia de 11m camparsa. 3. A condI/ta de lImbos.
em cada um dos delitos. fái milluciosamellle descrita na ordem de prislio. .I. Os
il/stitlltos brasileiros de :mspel/sâo do processo, c(Jnfárme u mOllfal/te da pena
mil/imo pn' \útll para os crimes. e do rc~ime d,' cumpriml'nlo de pe/la nilu
podem ser impostos ti .Justiça oh'mil pc/a brasileira, nem isso é previsto na
lexis/(lç{ío q/le regulo a extradição, (III elll {!'(lrado entre (lo\' dois paÍses. () I/I('SIIIO
ocorre com re/açiio à possihilidade de u Presideme da República. 110 BrtL~i/.
segUI/do criTél'ius sef/S, vir a COI/cedeI' o indulto, em situa{;(}('s oSJelllt'lIll1das, em
C(l:W.~' mJ11i jlllg.ados. 5. Precedemcs. 6. Do mesma fiJrll/o, mio se compreende
que a Corre possa iII/por à .Justiça alell/à que cOI/sidere. 01/ IIi/o, ri crime de fálso
absorvido pelo de cslelional(). () que, aliás, lIem é pacifico }/({ slIa própria
jurisp/"udéncill. qUf.' propelllle, ullimamente. pelo reconhecimen!o do COJJcurso
formal de delito.~. 7. No caso. não ocorreI/ a I'rescriçlío da prefenwlo Pll1l1Úrtl,
seja pelo Direito Penal brasileiro, seja pelo alem(/o. 8. Enjim, felldo sido
apreseI/lados todos os dOCl/me l/tos exigíveis e preenchidos os requisilos dos
arligos 76, 78, 80 e seguintes da lei n" (i.8/5180. modificada pela I,ei 1/ " 6. 96-1, ('
nâo se caracteri::.m/(Io qualquer das hipÔleSl.>:'· previstas no arl. 77, J de ser
dejé ridll li exlradiçâo. 9. Pedido deji:rido . Decislio IIJuillime.

127. Por isso, deve-se levar em conta o permissivo da letra f do item 1 do art. 3 do
Tratado de Extradição formalizado por Brasil e Itália. A situação sugere certo contexto
político, podendo acirrar paixões. Esse núcleo temático, que enseja preocupações, exige
ampla refl exão em tomo da situação pessoal do extraditando. Concretamente, há
temores de que a situação de Battisti poderá ser agravada na Itália, por razões pessoais.

128. E ainda, há certo conteúdo humanitári o que deve informar a decisão a ser
tomada. A pena imposta é superior a 30 anos. E deverá ser mitigada. Porém, para
condenado que conta com mais de 50 anos de idade a pena assemelha-se a prisão
perpétua.

129. Por isso, se a pena fosse diminuída para 30 anos, o que permitiria, em tese, a
extradição, ter-se-ia a liberdade do extraditando com mais de 80 anos de idade: 60 anos
depois dos fatos supostamente ocorridos. Embora, bem entendido, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal ainda não tenha se expre ssado sobre o fato de que o
cumprimento da pena tenha como resultado, concretamente, uma circunstância fática de
pri são perpétua.

130. Já se julgou que a menoridade é circunstância que se reporta à época do


cometimento do crime, e que a idade avançada, vinculada ao momento do último
provimento judicial , poderia tão somente vincular-se à prescrição da pretensão
executória do Estado requerente, tal como se julgou na Ext 591/Itália, relatada pelo
Ministro Marco Aurélio, em julgamento de }O de junho de 1995:
PRESCRIÇjO -IDADE DO AGENTE - DEFlNIÇAo TEMPORAL. Enq/lo/llo II
meJloridade e perquirida em jáce da daw ('m que coml!fido o crime. a idade
(/vanc(ula o e relativamente ao último provimento judicial. () I'ocoblllo
"sentença" empregado /lO artigo J I 5 do Código Penal Iem semido amplo.
[lIIe/posto n'cu/"So ('onlru a cOllllellllçüo ou absolvição Jó rmali::.ada na pri/lle! irll
instância. COlIsidera-:"e (/ idade du ngeJlle na dala do decrelO condeJ/atório a ser
/:'xeel/laJo, pr/:'senle a circllnsfllllcia de que o (1nírddo prrlcritlo SlIbSfíltli (1
sellfenç(1 atacada. qucr a refiJrmc ou cOI!firnle (artigo 5 I 2 do Código de
f'r{/('t's~'() Civíl. uplicm·el.Hlb.~·idillrillmcnlt'). EXTRADI(A-O - PRESCRIÇÃO DA
PRETENSA O EXECUTOR/A. Com'tafada (I incidellcia da prescriçüo da
pretensão execl/{oria do Estado requerente, leI/do elll l'isll1 o resíduo de pella a
ser clllllprida e a idade do extraditando (/ data do último prOl'imento judicial
(arligos I I J t' 1/5 do Crídigo Penal). i mprJe-se () ind(jérilllel/fO do INdido de
cxtradiçüo.

131. Neste mesmo passo cumpre-se ressaltar que a eXigênCia de que se realize a
detração, em favor do extraditando, é múnus do Poder Executivo, como já decid iu o
Supremo Tribunal Federal, por ocasião da Ext 1104 ED/Re ino Unido da Grã-Bretanha e
da Irl anda do Norte, relatada pelo Ministro Cezar Peluso, em julgamento de 25 de junho
de 2008:
EMENTAS: J. E.\7RA DIÇ·fo. PoS.üva. Pcna. Pri.wio perpé/lla. CO IIIUlaçi'io
prel'io asseg/ll"ada. Detroçúo do temjlo cumprido como jlrisün prevelltiva no
Bmsi/. Efeita secllndária e allto"uírico do Jt/erimenfO do pedido. Exig;>J/cia,
porém. que LOca ao Poder E\ccutl\"(). Inteligência do an 91, J/. da Lei II "
6.815/8 0 - Estall/LO do Esrrangeiro. Precedentes O deslina/ário do disposto 110
art. 91. I/, do Es/ntl/to do Es/rangeiro, ti o Poder ExeclI//\'(). a que incumbe
exigir, do E.~tado estrangeiro requerentc. o compromisso de c/etivar a dcrraÇ"âo
penal, como requisi/o para en/rega do extraditando. 2. RECURSO. Embargos
de declaraçiio. Prelcnslío de alle/'QÇ"üo do Icor deci.wí/"io. Inexistencia de
omissão. o}m:llri(/ade ou cO/llradiçiío. Inadlllissihilillttde. Elllbarj!os r<:;eilados.
Embargos d/:'c/aratários não .i'e prcslam a mod(ficar capi/II/o decisório. so/vI)
quando a I1wd!'ficação jigllre cOlIseqüéncia inarredáve/ da SWIlIÇÚO de l"ício de
/Jlllissrlo, ob.Klrridade ou contradirão do (110 elllbar~lIdo.

132. E o Supremo Tribunal Federal, por ocasiào da Ex! 1039/ltália, relatada pelo
Ministro Celso de Mello, em julgamento de 21 de junho de 2007, já tocara no assunto,
centrando o extraditando como sujeito de direitos, em sentido estrito:
E M E N TA .. EXIRAD/(.Au PASSII'A VI' CAI/ATER INSTlIUTÚRIO-
SUPOSTA PRATICA DO DELITO DI; LA VAGEM DE DINHUR()
("I1RANQUEAMENTO VI' CAPIl:41S'j - INEI'I.\7ÉNC/A DE TRATADO DE
EXTRAD/(ÀO ENTIIE li BRASIL E A REPlÍl1L1CA FEVEIIAL DA
ALEMANHA PROMESSA DE RECIPROCIDADE - FUNDAMENTO
.IURÍIJICO SUFICIENJE - NECESSIf)ADE DE RESPEITO A()S DIREITOS
KislCOS DO S[Í/)/TO fSTRANGflRIJ - OBSERVA-NCIA, NA f:spl'CIE. DOS
CRITtRlOS DA DUPI.A TlPICIDADE I,' DA DUPLA PUNIBILIDADE -
ATENDIMENTO. NU CASO, DOS PRES:WPUSTOS E REQUISI7VS
Nf.'CESSARlOS AO ACOLflIMf.'NTO DO P/.FJTO E.ITRADICIONAL -
EXTRADiÇ-..iO VEFERIDA. INEXISTÉ:NC/A DE 7'IIAIADO DE EX7RWIÇAu
E ()FEREClMENTO DE PROMES,);I DE RECIPROCIDADE POR PARTE DO
ESTADO REQUERENTf:. - A inexiSTência de Ira/ado de eXlradi~'iio niia iIllIJl.:dt'
a ./urmu/açâo t' o eveJlfual (Jft!lIdimento do pleito exlradiciollal, c/esde que 11
E~/ado requerente promela rl'eiprocidadl' de tratamen/o tiO Brasil. ",cdiame
expedielllC' (Nota Verbal) formalmel/h' transmitido por ,,:ia diplomática.
Duu/rina, Precw/el/les, PROCESSO E).TRADICIONAL E S'/STtAM DE
CONTENClOSIDADE LlMn~IDA .- INADMISSIBILIDADE DE DISCUSSÃO
SOBRE A PROlé4 PENAL PRODUZIDA PERA NTE O ESTADO
REQUERENTE. - A açiio de extradição passim não confere, ao Supremo
Tribunal Federal, qualquer poder dI' indagação sobre o mérito da pre/emão
deduzido p('/o Estado requerente uu sobre o COII/{'xlu probatório em qlle a
posfldação (ix/radieional se apoia. - O sistema d,' confenciosidade limitada, q//e
caracu.'ri:a o regime jurídico da extradição passÍl'a 1/0 direito posi/im
bmsileiro, //llo permite qualquer indagaçâo proba/(iria pertinente ao i/íeiro
crimil/al cuja persecução, /lO exterior, jllstificou o ajlli:aml'nto da demanda
extradicional paame o Supremo Tribunal Federal. Rere/ar-~'e-á
t'Xcep,:iona/mellle possível, no ental/to, li muilisc, INlo 5,'lIpl'(i/110 Tribul/ol
Federal, de (I.\'lJCctos n/ateriais concemen/I!S à prúpria suhs/àm:ia da imjlll/açlío
penal. sempre que Inl exame se mOSlrar indi...pen.~ál,<,1 ri ,WlllÇào de controvérsia
perfil/eme ({/) à oeorn}ncia de prescrição penal, (b) à obscrwillcia do pril/cípio
da dI/pia lipicidade ou (C) ti con.figllraçào eWl//lwlfll/'lIIe política flJllfO do delito
OIrihuido ao extradiwndo ljuall!o da.f I'a:ões que le varam o E.\'wdo t'strangeiro a
requerer o eXl/'(Jdiçâo dt, determinada P<!s.WJo lIO Go\.'erl/o brasileiru,
Inocorl'êllcia, na ('specie, de qualquer dessas hipóre,\'('s, EXTRADIÇ..io E
RESPEITO AOS DIREITOS HUAUNOS.- PARADIGMA ÉTlCO-JUJUDlCO
CUJA OBSERVANCH CONDICIONA O DEFERIMENTO DO PEDIDO
EXTRADICIONAL. - A e.uel/cialidade da cuopera('(;o ill/emllciunal na
r('pn,!,.são penal aos deli/os C(}1II1m,~ não eX011t'ra (} Eswdo hrasileiro - e, em
particl/lar, () 5;lIpremo Trihlllw/ Federol - de I'elar I'fdo resl'eiw (lOS dire ilOs
j illldamen/ai.\' do slÍdi/o estrallgeiro que venha a sofrer, em l/OSSO País. proce,Ç!!o
('x/radic:iul/tll insfllllrat/o por iniciu/iwl de qualqm' r Estado estrangeiro, O
extraditando assume, nfl proce,~.WJ extrllllic:ional, (J c(/ndi~ 'ii(l indi'' 1xwível de
sZ!ieilo de direitm, cuja infangihilidtllle há d,' .\'cr IlreSef'l'lIda pc/o Estado a que
jili dirigido o pedido de eXlradiçiio (o Brasil, 1/0 caso) , - O Supre'mo Trihunal
Fed<!ral lião deve llUfOri=ar a eXlradiçtio, se sc dC/JIonstrar qllc o ordenamento
jurídico tio E.~tadll estrangeiro I/ue li reqller mio ."e revela capaz de assegurar,
aos réu,~, em jllbJ criminal, 0.\' dircifO,~ básicos que I't'.wlwm do !HM/li/ado do
"du(~ process of law" (R7:/ /34/56-58 - RTJ J7iN 85-488), no/admlll:1Ife as
prerroj.!lIli\'w' inerentes à garantia da lili/pIa dt/esa, ii garantia do comradilário,
it i1(llaftlllde entre a,' par/e,~ (lermlfe () j lli: lIa/llral e ii garantia de
imparcialidade do magis/rado processallle. Demoll.\'trarào, 1/0 ClISO, de '1m' {I
/'('gimt' politico que irifi',rma (L\' imtitllições do Estado requel'e/Jle re vn/e-se de
n,rcí/t'r democ rático, assegurador das libadad('.~ públicas fimdan/en/af.ç ,
f~\-ruADIÇ.,in - DUPLA TlPICIDADE E DUPlA PUNIIJJI.IDADE. - O
poswlado da dI/pia tipicidade - por con.\'Ii/uir requisito ('s.~ellcilll ao ll/endimelllo
do pedido de eXlradição - ;mjJÕ(' qm' Q ilíÓ/Q pel/al a/ribuido ao {'x/radiulIIt/o
seja j uridicameme qualijicado como crimt' ({m/o 1/0 I3ra..\' jf l/lllIIIW "U Estado
rt'quen!llle, O que rt'aJmente importa, na lIjáiçlio do fJo.HIdado da dupla
tipicidade, é a presença dos elememos estruturaflle~' do lipo penal ("esselllialia
deficti "). /ais CO/1/0 dejinidos nos preeeilus primúrios de incriminaçãu
COl/stantes da legis/açüo brasileira e \'i~entes 1/0 ordfllamento positivo do
I:.'.\'tado requereI/te, indepenl'ientement" da tlesigllClçcio formal por eles atribuída
Closjato,,' deliflJOsos, - Nilo ~'e concederá {J extradiç'cio, qua/ldo estÍ\'cr exlillla, em
dt'CfJrrência de qualquer cousa lexal. li Pllnihilitlmlc do ('x/radiumdo.
IlUwclamenl4! se se verijinlY a cOl1Sl/llltlçiio da prescriçiio penal, seja 1I0S lermos
da h'i brasileira. seja .wgl/ndo o ord4!lltImento positim do E.../aclo reqllcrellle. A
sarisjáçào da exigel/da COllcemellfe ii dI/pIa punibilidade cO/lsrill1i requisiru
{'ssenciaJ ao deferimel1fo cio pedido exrradiciollol. Obsen'ônôa, I/a espch:/e. do
posrulado da dupla punibilidade. VALIDADE CO;VSl'ITUC/()NAI. DU ART 85.
"ç I ~ DA I.E/ N° 6.8/5i80. - As resrriçõe.ç de ordem lemática. estahelecidas no
f,~çrarlllo do ESlrangeiro (art. 85. :§ I ') - clljo il/cicléllcia delimita, I/as ações de
eXlradiçiio pturil'a. o âmbito maleria! do exerdcio do dirtdlO d{~ defesa -. mio
são ;'lcolIs/irucÜm(li.~. nem oji:ndf.'m II garanlia da p/enirude de d/!,fr.:w. t'm lace
da nafure=a mesma de que se rn'este (} proCt'ssu eXlrtldiciulla/ no direito
bra.\"iJeiro. Precedemes EXISTÊNCIA DE fAMíLIA I1RA,;'lLE/RA (UNtAU
ES71Í Vi'."I.;. N()7~1 DA !,dENTE Df." FII.1I0 COAI NAC IONA LIIJA DE
BRASILEIRA ORIGINARIA - SI TUAç.40 QUE N,[O IMI'cDE.1 EXTRADI(:,10
COMPATIBILIDADE DA SÚMULA '21 1.~TF COM A VIGENTE
('ONSTlTUI"AO DA REPÚBLICA -PEDIDO DE IXIRADIÇJO DEFERIDO
. A existJucia de reJaçiJcs jámiliare.\·. a cOJ/lprovação de vínculo COIljUgll! ou li
convi\'êllcia "/lIVre Itxório" do ex/rodirando com pe . . soa dI! nacionalidade
hrasileira cOlIs/ifuem falOS deSfifllídns de rell!l"lillcia jurídica para eji!ilos
eXIJ"adiciolUlis. nâo impedindo , em COlI.tl!quellcia, a cfi'lil'açüo da ('x/mdiçi'io do
Slídi/o e.Hrangciro. PreCt,del1le.ç. - Não impede a ex/mdie/ào () fmo de o súdito
estrangeiro seI' casado 01/ viwr {'fJI união es/ôw! com pessoa de nacionalidade
brasileira, ainda que com esta possua filho brasileiro. - A SlilllllJa -Il/ .<'\TF
rel'('lt"l-.~{, compalil'el com (I "igeme COIISrilui(:iio da República. poü, cl/llelll(l de
coopcmçào illll'rllllcional lia repr"ss!ío a (llos de criminalidade COIIIIIIII, a
('xi.\"ICncia de "íIlC1I/OS cO/!;lIga;s elOIl fámifia,.('.~ com pessoas de lIacio/lalidade
hra.~ilC'i"a mio se qllal(jica COII/O caus(/ obs/alÍwJ d(l t'x fradiçâo. Precedenfe.\·.

133. Embora, reconheça-se, compromissos possam ser tomados pelo Estado


requerente, qua ndo da entrega do extraditando, conforme o Supremo Tribunal Federal
definiu ao julgar a Ext 101 3/ltália, relatada pelo Ministro Ma rco Auréli o, em
j ul gamento de l° de março de 2007.

134. No caso presente seria inevitável, para efeitos de ex tradição, a ex igê ncia do não
cumprimento de pri são perpét ua, confo rme se colhe em jurisprudência do Supre mo
Tribunal Federa l, asse ntada por ocasião da Ext 944/Estados Unidos. relatada pelo
Mi nistro Carlos Brilto, em julgamento de 19 de dezembro de 2005:
E'MlXr4 : IXIRADlÇ,fo. TRAFICO INIERNACIONAL DE DROGAS.
ALEGA('lo DE (jUE O INDlC1MENT Niío E DOCUMENTO APTO A
V/ABILlZ4.R A CONCESSt10 J)O Pt:DIDO, ALÉM DU QUE A PENA M1xL\1A
PARA O CRIME E DE PR1Slo PERPÉTUA, O OUE IMPEDIRIA A
EXTRADI< '.10. Pedido ex/radieional que (//('nde eis ('xig~ lIcias do Tra/ado
Bi/a/t'ral de Ewmdição BrasiJ/Es/ados Ullido.~. bem CUII/O às da Lei n" 6.815180.
O indicllllc!nl é inSlÍtuto equiparável à promil/C:ia e li Supremo 7'rihl/l/{/1 Fe deral
.ia se IIUJ l life.\·101t peJa s/!fic:iJnâa dl!~'se a(o jimllfJJ pO/"O legitimar pedidos
t'xtradicim/(/;s (Ex/. j.J2J. o Extmdi/ando responde li processo 110 Brasil. m=ão
pela qual é de se adiar a etlfrega ate (/ de.~·{ec"() da açüo IU'lIa/. Em Ji.u:e da
IJO.uibilidade dI! cominação da pena de pri.wl0 perJl';/lw. ê ele se ob.'ien'ar {J
a/ual j twisprlldencia deste Supremo Tribunal Fi.'daal para exixir do Es/ado
rl'q//erellle o compromisso de lII'iO aplicar 41/)''''(> tipo de repriml'nda, mel/os ainda
a pena capital. em caso de col/denaçâo do reli (Ex/. 855). f':xrmdiçtio defl'rida
com as mencionadas re.wriçiles.

135. Registre-se também, avaliando-se o caso em toda a sua extensão, que o Chefe da
Missão Di plomática Italiana no Brasil , nos termos de j urisprudência do Supremo
Tribunal Federal, pode ria assumir o compromisso oficial de comutar penas, tal como
decidido, mutalú' mlllandis, na Ext 633/República da China, processo relatado pelo
Mi ni stro Celso de Mello, em julgamento de 28 de agosto de 1996:
E M E N TA: E>.TR.,j DIÇ.,jO - REPÚBUCA POPULAR DA CH""A - CRJ,'l-fE
DE ESTELlUNATU PUNí VEL CUM , J PENA DE MURTE - TlPIFlCAÇ, jO
PENAL PRECARIA E INSUFICIENTE QUE INVIABILlZ-J () n :4ME DO
REQUl5;ITO CONCERNENTE li DUPL" IN(,RI.~lIll/A(".,jO PEDIDO
INDEFERIDO. PROCESSO EXTRADICIONAL E FUNç:-io DE GARANTIA
DO TIPO PENAL. - () a/o de tipificação penal impôe ao EsI(lt/o /) dever de
identifica,.. COIII clareza c preci. . ão. os elemelltos dejinidores da condI/ta
ddi/llosa. As normas de illC:/"imil1açüo C/tle dl'sarl'ndem ti essa exigél1cia de
ohjeti\'idade - além de descumprirem ufilllf,."tlO de gartll/tll1 C/"e é inerente au tipo
penal - qualificam-se como expn:ssc7o de 11m discurso normali\'O ahsolwamemc
iI/compatível com a essencia me.ww dos princípios qlle C.W/"lIfuralll o sislema
pel/al 1/0 contexto do.\" regimes democráticos. O recullhecimenlU da
possibilidade de instituif,."tlÓ de estnllll/'aS tipicas jl('xíl'('i,~' não COI?(ere l/O ESludo
II poder de cOflStrui,. .fib'1II'OS pellai.~ com IItifizarc7o. pelo !egi.\·It,dor, dc
cxpressiics ambíguas, vagas, imprecisas e il/d(fillidas. l l/ue o regime de
indelermina("ão du lipo penol implica. em Mlill/a ami/i.,·(,. /I pnjJlrill .\·uh\·crsclll
do postlllado cO/lstill/ciona! da resen'lI de lei, daí /"/'sIIIllInd/l, como tji.!ilO
cOl1seqiicncil1l imedia/o, (/ gn l'ríssimo cOlllp/"()/IIetimenlll do SiSfl'lIll1 dos
lihudades públicas. A clál/SI/la de lip!licarclo penal, cujo CII/lll'lid/l tle.w.:ri/iI'/J se
n:wlo precúrio e imllficiellle, m/o permite quI' .\"41 ohol"t'n't' fi princípio da dupla
incrimilll1f,."tlo. iI/viabilizando, (' 111 conseqüéllcia. fi aca/himemo do pedido
('x/radicional. EXTRADI(.40 E RJ:'5iPEITO AOS DIREITOS H UMANO.,'. - ri
es.~('lIcilllidade da cooperllriio internacional lia reprc.l".~ão penal ao.\' delílo.~
C()11I1111.~ mio exonera () Estado hrasileiro - e. em panicular. () Supremo Trihllnal
Ft'deral- de "dar pelo respeilfll1tH direilosftmdomelllais do slÍdi/o ('slrallgeiro
q//e ....enha II sofrer. cm /I0SS0 Paü. processo eXlradiciml(ll illslallrlldo por
inicialiv(I de qualquer E.'illldo esrranf.{eiro. O ja/fl d,' O (,,\./ r(lIIgeiro ostelll/lr li
c:ondiçtio jllrídica de ex/radi/tlIll/o IllIO ba'ita ptlra redll:i-Io (/ um estado de
submissão illcompali\'el COIII a essencial dignidade que 'he e iner<'nte COII/O
p"S.WlI hllmana e lJue lhe conft:re (l lilUlaridade dl' direitos jimtlllmentai:,.
inafj(,lIlíwis, de/l/re O!J" quais (Il'lIlta, por sua illS/lperáwd imporlância. (f j{aramill
do dut' p/'Ocess o.f Imi'. Em lema de direi/o exrradicionaJ. o SIIprl'l1l0 Tribunal
Fe(/a(ll mio pode e nell/ de"'e revelar indiferença diante de Ircmsgre.nlíl!!J" ao
regime da.\" garantias proces.waisfundameJ/la is. É qlle o Estado brasileiro - 11 111:
dl!l'e ohec1iêllcia inestrita iI própria ComtilUie/lio qlle lhe rege a vida
im/ill/d onal • asslIl/liu, nos termos dessl! mesmo es/atuto político, o Rravíssimo
J(' l'er de Sl!mpn' c/lnfàir prel'aléncill aos direitos hllmanos (01'/. 4<>, 11).
E.\TRADIç:40 E DUE PROCESS OF LAW O extraditando assume. 1/0
prOC('!iSO extraJicionol. o condiçiio il1dispOflíl (>1 de sujeito de direitos, cuja
l

intangibilidade há de ser preservada pelo Eswdo a quem }oi dirigido o pedido


dt' extradição. A possibilidade de ocorrer a privaçâo. em j uízo penal. do dI/C
p/'Ocess of /011', 110S múltl/J/os contomos em que se dl!senl'oln! e!J'Sl' principio
assegurador dos direitos e da pn'lpria libudade do acusado· garantia dI! ampla
defestl. garantia do cOllfradifôrio, igualdade t'lIIl'e (IS parfes perante (} juiz
natural e garantia de imparcialidade do magistrado l'J'()ces.~aYlle . impede (j
válido deferimel/lo do pedido extmdicional (RU 13.//56·58. Hei. Min. CELSO
DE MELLO) . O Supremo Tribul/(/1 Fedcml nrio de\'e dl/Jerir o pt'dido de
I!xtradiçiio. se o ordl!flamento jwídiL'o do Estado requereI/II! mIo se reveJar
capa: de auegllrar, aos réus. em juízo criminal. II garantia pll'lw de 11m
j u/gamemo imparcial, jIlS/O, rl'gular (! im lcpell/lellll!. A incapacidade de o
E. . llIdo rl!querente (ls.~egurar ao ex/raditundo o dirl.'ifO aI) fair Irial aI/UI COI/IO
ca/lSa impeditiva do deJerimt'lIfO do pedido de extradição, EXrRADIÇ.-io.
PENA DE MORTE E COMPRO MISSO DE COWJ TAÇ.40. • O ordel/omenlO
positil'o hrasileiro. na..~ hipoteses em que se dc:lilleia a possihilidade de
impo.fiçdo do slIpplicium extremum. impede a l'lIIrl'ga do eXlraditmufo ao
Estado requerl'l1te, a menos que eSle. preViamellf('. assuma o compromisso
f ormal de CO IIIUlar. em pl!na primtlm de Iiberd(/(k, l i pel1a de mor/e.
ressalvadas, quanto (l es fa, as siIua(:lJe.,· em CI"C ti lei brasileira· f undada lia
COf/Stitui(:(io Federal (cm. 5". XLVII. a) • permitir a S U(I aplica('ão. ('usu elll que
se rumará di:JjJl.'nslÍvel li exigt'llcia de clHTlltlação. O Chefe da Mis!>'ào
Diplomâ/ica pode assumir, em nome ele sc' /( COI'erno, () (!olllpmmisso oficial de
comlllfll' II pena dL' morle em JN'11Cl pril'ilfiva de liberdade. nlio necessitando
COlllprm·w . para esse eJeiIU especifico. que se acha f hrmll!menfe autorizado
pelo Ministério das Reiaçôes Er/erio l'(~,\' de Sl'1f Paú. A Convençiio de Viena
sobre Rl'laçi'je.~ Diplomáticas . Artigo 3", II. / . "a" • outorga à Misse/o
Diplomáliea o poder de repre. H'lI/ar () K~/()d(} lIt.:I'~t1ilanle ("É'lll/ d'ellvoi'')
perllnle fi ESlatlo acredílado 011 EsllU!o receptor (o Brasil, no caso). del'Íl,Yllldo.
dessa eminente j imrão politica. 11111 cllIl/plexo de alriblli('íies e de poderes
I'ecunlwcwos ao agente diplumútico qlle nerce li alividade de rcpresenlllçào
illstilllôlltllll de seu País. N07:4 D!PLOMtÍ7'lCA E PRESUNÇ.40 DE
VERACIDADE. A Nnta DljJ!omótica. que vale pt'lo que ndl/ se conlém, goza da
presunçi'io juri.\' falllWIl de olllelllicidade e de \'l:raciclade. Trilto·se de documento
j i.ll'mal cuja eficácia j urídica deriva da~ cOlu/it,.'ões e pe('uliaridades ele se u
trânsitn por da dJjJ/omarico, PI'l'.Hlllle·.'·(' li sinceridadl' do compromisso
diplomático. E~sa presllfu;do de veracidade· sempre ressalvada ti possibilidade
dt>delllonstraçâo em contrlÍrio • decorre do princípio da boa ji!. que rege, no
p/alio inlaruu:ion(ll. (IS relaçi'jes politico.jurídicas emre os Estados soberanos.
VAUDADE DU MA NDADO DE PRISÃO E,PEDIDO POR REPRESENTA NTE
DU MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO ESTRANGEI RO REQUERENTE. .
() ordel/amento positil'o brasileiro. 1/0 que concerne aos processos
exlmt!icio/lais. mio t>xige que a ordem de pris(iQ COlllrll () eXlrat!itando lenha
emanado, lIl'cessarial1lenfe, de aUfOridade t'SlrtllIge;m illle~/'(Jntl! do Poder
Jlldiciário. Ba!J'/(J qlle se cuide de autoridade inveSTida. II(J$ termo.~ da le~islaçi'io
do pníp/'io Eswdo /'equereJ/lc, dt' arrihuiçilo para decretar (1 pr/stin do
e;aradi/ando. Precedente.

136. Há precedente interessante, no sentido de que não se ultimou a extradição


porquanto o Estado requerente não teria assentido na comutação da pe na, como se
registra na Ext 546/França, relatada pelo Ministro Néri da Silveira, em ju lgamento de 26
de fevereiro de 1992:
E"ITfIADIÇ.{o. NACIONAL rUANCES CUJA EXTRWIÇio O S7F
A UTORIZOU EM ACi)RD,Io DE 2-1.08. /9 77. NA E.IT/IADIÇAo N, 342·
fR 'INCA . DECIS}O QUE. F.NTRFTANTO. N,40 FOI EXECUTADA.
SO/JRtTINDO A SOLTURA DO EXTRADITANDO. DIAN7E DA
IMPOSSI/JILlDADE MANIFESTADA PELO GOVElINO DA rRANCA .
NAQUElA OCASIAO. DE ASSUMIR O COMPIIOMISSO DE COMUlAU
tYl:.:.NHJAL Pé."NA DI:; MORTE EM PIUl/A7"lVA lJ1:' LlIJt,"RDAlJ/:;.
SEGUNDO O ART 98. III. DO DECRETO· IEI N. 941/ 1969. ENT·/O
FlUENTE. COi\,f A EXT/!v('AO DA 1'1::tI/A DE MORTE. NA FRANCA. POR
FORÇA DA I.EI N. 81908. DE 09. 10. 1981. ART 1. . DAQUELE PAIS.
RENOVA·SE. AGORA . PEDIDO DE EITRADlç.{O DO MENCIONADU
AUENIGENA. PELO MESMO 1'~1TO. LEG/SLAÇio QUE TEM
DISCIPLINADU A MA Tt':R1A. NU CURSU DU IEMPU (DECRETO·LEI N.
394. DE 28.04.1938. ART 16: DECRETO· LEI N 941. DE 13.10.1969. AR7S
95, PAR. 5 .. E 101; LEI N . 6.815. lJE 19.08./YW. ALTERADA PEL-I LEI N.
6.96-1. DE 09.12.1981. VIGENTE ESTATUTO DO F:STRANCiF:IRO. ARTS ~7
E ~8). SÚMUL.1 .'I 36 7. APROVADA fM I3.Il.IY63, SEG UNlJO NOSSO
S ISTEMA LEGAL. DEFERIDA A E.ITRADIÇ'.·TO PE'l.O S UPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, AO PODER EXECUTIVO INCUMBE EFETlVAR A
ENTREGA DO EYTRAD/'UNDO. DEVENDO. ANTES. EXIGIII DO ES'l~IDO
REQUERENTE ASSUMA CER/'IJS COMPROMISSOS PREVISTOS NA
LEGISUÇA'O ESPECIFICA OU NO .·/UJRD..fO DO S7T POSTO. ASSIM. O
EXTRADIT4NDO A DI.\POSIÇ,io DO ESTADU REOUEREN TE. ESTE I'IA
DE PROVI/JENCIAR RETlRA·LO. AS SUAS EXPENSAS. DO TERRlTÔR10
NA CJONAL. NO PR1Z0 DA LEI. SEM () QUE O EXTRADlT.1NDO SEM
POSTO EM LIBERDADE. N.1U SE PODENDO RENO/é'IR O PROCESSO
HIPI}TESE EM I,}UE N,Tu UBE AO STF CONHECER DE NOVO PEDIDO
DE EXTRADlÇ'.,io. RELATIVAMENTE AO MESMO ALlENIGENA. EM
RAz.iO DO MESMO FATO CRIMINOSO. PEDI/JO DE EXTRADlÇÀO DE
OUE Nio SE CONHECE. DETERMINANDO SEJA POSTO EM LIBERDADE
U D.TIIADlT·INDO SE POli "AL" Nio HOUVER DE I'ERMANECEII
/'RESO.EXPEDlNDO·SE. PARA T1NTO. DE IMEDIATO. AUAR1 DE
SOL TUR·/.

137. De fato , registro há também de que o Supremo Tribunal Federal exija que o
compromisso formal de comutação da pena seja feito concomitantemente com o pedido
de extradição, embora também possa ser prestado na entrega do ex traditando.
138. É o que se definiu, por exemplo, por ocasião da Ext 272/Austrália, relatada pelo
Ministro Victor Nunes Lea l, em julgamen to de 7 de junho de 1967:
I) EXTRADiÇÃO A) O DEFERIMEN7YI O U RECUSA DA
EXTRADiÇÃO E DIREITO INERD\TE A SOIiERANIA. BI A EFET/V.1('.4o.
PELO GOVERNO. DA ENTREGA DO EXTRADITANDO. A U roRIZADA
PELO SUPREMO TRIB UNAL FEDERAL , DEPENDE DO DIREITO
INTERNACIONAL CONVENCIONAL. 2) RECIPROCIDADE AI E FONTE
RECONHECIDA DO DIREITO E.\TRADlCfONA L f."XTR. 232!1Y61), EXTR
288(1962), EX7R 25111963/ /lI A CONSTlTUICJO DE 196 7, AR't: 83. VIII.
N.'io EXIGE 'REFERENDUM' DU CO/v{iUESSO I'ARA ACf:I7AÇÃO DA
OFERTA DO ESTADO REQUEREN7E. C) A !.EIIiRASILEIIIA A U TORIZA O
GOVERNO A OFERECER RECIPROCIDADE. 31 COIvIU7i1C'/O DE PENA
A) A EXTRADIÇJO ESTA CIINDlC/ON,1DA A VEDA(/ /O
CONSTITUCIONAL DE CERTAS PENAS. CIIMO A PRIS,/O PERPETUA.
EMBORA /-1.4.1,1 CONTROVÉRSIA A RESPEmi ESPECIALMENTE
QUAN'IV AS VEDAÇ()ES DA LEI PENAL ORDINAR IA , EXTR. 165(1953).
EXTR. 230(1961), E\TR. 141(19611, HTR. 134119651. BI O COA/PROMISSO
DE COMUT'lç ,io DA PENA DEVE CONSTAR DO PEDIDO. MAS PODE
SER PRESTADO PELO ESTADO REQUERENTE ANTES DA EVTREGA DO
EXTRADITANDO. EXTR 141{/961J. VOTO DO MIN. LL'IZ GALLOTTI NA
EXTR. 118(1950). 4) INSTRUÇÃO. A DOCUMENTA(AO SUPLEMENTAR
FOI OFERECIDA Df TEMPO OPORTUi\'U. PELOS EST.WOS
REQUERENTES. SEM PREjuízo DA DEFESA HERClTADA COM
EFlCIÉNCIA E BRILHANTISMO. 51 TERRI7DRIALlDADE. A) J UllISDIÇAo
DA AUSTRIA (CRIMES DE M4RTHElklj E DA poUiNIA (CRIMES DE
SOBIBO R E TREBLlNK~). Bi I'ALT.~ DE J URISD/('.40 DA ALEMANHA
(SOBIBOR E TREBLlNKAI. PORQ UE A OCUI'AÇ"JO MILI7:4R N.40
TRANSFORMOU ESSAS L!X'ALlDADES EM 7ERRlroRIIJ ALEMAo. NEM
ALlI'ERMANECEAl SUAS TROf'AS. NEM O E.ITRADI TANDO CONTiNUA
NO SERViÇO. 6) NACIONALIDADE ATIJ-~1. AI JURISDIÇ io DA AUSTRJA
(SOBIBOR E TREBLlNIVII POR .IER STANGL A USTR IACo. Bi
JU/IISDI("JO DA ALEMANIIA (.WJBIBOR E TREBLlNKAI. NAo PORQUE
.\'TANGL TIVESSE AO TEMPO A /VACIONA U J)ADE ALE/vIA. MAS PORQUE
E',17:4 VA A SERViÇO DO GOVERNO GERMÂNIC O. 7) NAR IIAm A. -1'01
MINUCIOSA. E A7i EXCES,'il l'~I . A DESC RI(AO DOS 1':-I7'OS
IJEU7VOSOS, DEPENDENDO A APURAÇ.40 DA CULPABILIDADE, O U O
GRAU DESTA. DE Juízo DA AÇA-O PENAL 8) GENOc íDIO. A ULTERJOR
77PIFlC1Ç.40 DO GENOcíDIO. EM CON VENÇJO IN 7ER,VACIONAL E
NA LEI BRASII,EIIIA. OU DE OUTlIO ESTADO, N.4'0 EXCLUI A
C RIMINALIDADE DOS ATOS DESCIlITOS, POIS A E.\TRADIÇ.40 E
PEDIDA COM I'UNDAMEN7V EM 1I0MICíDlO QUA L/FlCI/OU. Y) CRIME'
POLÍ71Co. A EYCEÇ-iO DO CRJME POI.Í71CO NÂO CABE. NO CISO.
MESMO. SEM APLlCI/Ç.-IO IMEDIATA DA ("ONVENÇAo SOBRE O
GENOCiDIO OU DA L 2.889/56, PUIUJ UE t:8.\:4 EVCUSATII'A N/To
AMPARA OS CRIMES COMETIDOS COM ESPECIAL P/-;RVf.RSIDADf: O U
C RUELDADE IHTR. 232, 19611. O PRf:S UMIDO ALTRU/SMO DOS
DHINQUENTES pOLÍTICOS N,TU S/-: AJUS7:-1 .. I FRIA PR/-:ME/JITA("JO
DO EXTERMíNIO EM MASSA. 10) ORDEM SUPERIOR. A ) Nela SE
DEMONSTROU QUE O EXTERMíNIO f;M MASSA DA 1'//),1 IIUMA NA
FOSSE AUTORIZ~DO POR I.EI DO ES1ADO NAZISTA . IJ) INSTRUÇ()ES
SECRETAS (CASO BOHNE) OU DELlBERAÇ()H DISFARÇADAS. COMO A
'SOLUÇÃO FINAL ' DA CONFERENCIA DE WANNSEE, NÃO '/lNHAM
t;P/CACIA DE I.EI. C) GRADUADO FUNClONÀR/(} DA POLÍCIA
.JUDICIARIA N,40 PUDIA IGNURAR :I CRIMINAUDADE DO
MORTlCiNIO, CUJOS VESTiGIOS AS A UTORIDADES PROCURARAM
Mf.TODlCAMENTE APAGAR D) A REGRA 'RESPONDEA)" S UPERlOR
t::'J'1iÍ VINCULADA A CU4Ç';O MORA/.. NÃO PRESUMIDA PARA Q UEM
Ff:l CARREIRA B1-:M SUCEDIDA NA ADMINISTRA<Ao DE
t:S7ABELECIMENTOS DE DTERMíNIO EI DE RES7V. O EXAME DESSA
PRO VA DEPENDE DO JUiZO DA A('ÃO PENAL II) JULGAMENTO
REGULA R. A PARCIAL/DADt: DA JUS'/l('A DOS ESTADOS
REQUERt.NTES N,10 SE PRESUME: NEM PODERIA O EXTR ,ID!T,INDO
SER JULGADO PELA JUSTIÇA BRASILEIRA , OU RESPONDER PERANTE
.JURISDIÇÃO INTERNACIONAL, QUE NÃO t OBRIGATÓRIA. 12)
PRE.\·CRIÇ..iO Ai FICOU AFASTADO O PROIlUMA DA
RETROATIVIDADE: EX4MINOU·SE A MATÉRIA PELO DIREITO COMUM
ANTERlOR. PORQUE O BRASIL QUE OBSERVA O !'RINei!'/(} DA LEI
M41S FAVOR.-iVEL N,JO SUBSCREVEU CONVEN('ÃO. NEM EDITOU LEI
ES!'EClAL, SOBRE PRESCR/(,AO HI CASO DE GENOciDIO. B) NO QUE
RESPEITA A POLÔNIA . A PRESCRiÇÃO NÃO FOI IN7ERROMPIDA .
SEUUNDO OS CRlTER/US DA NOSSA LEI: 1"MBÊM N.'io O FO/
QUANTO A A USTRH EM REUÇ.JQ AOS CRlMES DE SOBIBOR E
TREBLlNKA , PORQUE NENHUM DOS ATOS PR1T1C IDOS PELO
TRIBUNAL DE V/ENA EQ UIVALE AO RECEBIMENTO DA DENi'NClA. DO
DIREITO BllASILEIRo. C! A A/JERTURA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL NOS
TRIB UNAIS DE LINZ E DUSSELDORF. TENDO EFEITO EQU/J'''LENTE
AO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DO DIREITO BRASILEIRO,
INTERROMPEU A PRESCRiÇÃO RELATIVAMENTE AOS PEDIDOS DA
.<ÍU,ITRIA. PELOS CR IMES DE HARTHEIM E DA ALEMANHA, PELOS
CRIMES DE SOBIBOR E TREBLINKA . Ili PREFERÊNCIA . Ai A
DETERMlNAÇio DA PREFERENClA, ENTRE OS ESTADOS
REQUERENTES, CABE AO SUPREMO TRIBUNAL. E NXO AO GOVERNO.
PORQUE O CASO SE ENQUADRA EM UM DOS CRIT/;·R!O.\' DA I.EI. CWA
INTER PIIETA ÇÃO I'INAL COMPETE AO .JUDICIARIO IIi Af:4smU-SE A
PREFERÊNCIA PELA TERRITOIIiAI.IDAIJE. Pl.EITEAIJA PELA
ALEMANHA. PEUS RAZÕES .1,4 IND ICADAS QUANm A .IURIS/JIÇ,40 C!
PELO CRITÉRIO DA GRA V/DAVI:: DA INFRAÇ'.:fO, O EXAME DO
7'RI/l UNAL N,JO SE I.IMI7A AO TINO DO CRIME. MA S PODE RECAIR
SOBRE O CIUME 'lN CONCREm' (COMIJINAÇ,JO DO AIIT -12 DO C
PENAL COM O ART 78. II. 'IJ'. DO C PR. !'EN) . IJ) EM CONSEQUÊNCIA.
FOI RECONHECIDA A PREFERENClA DA .-ILt; MANIIA (.\'OBI/JOR E
7REBLlNKA). E Nlo DA A(J.~TRIA ("AR71IEIM). CONSIDERADAS NÃO
SOMENTE AS CONSEOUtNClAS DO CRIME, COMO 7;HIIJÉM AS
FiNALIDADES DAQUEL-ES ES1ABELEC/Mt.'N1'OS E A Fu,vçAo QUE O
EXTR4f)I7A NDO NELES 1o~\ERCIA . 14) ENTREGA. ENTREUA DO
EXTRADI7, INDO A ALEMANIIA , SOB AS CONDiÇÕES DA LEI.
ESPEC IALMENTE AS DO ART 11, E COM O COMP ROMISSO DE
COMU'''IÇ.Ao DE PENA E DA ENTREGA ULTERlOR A .4US7'RIA. 151
'IIAIl EAS CORPUS', FICOU PIIE!UDICAD() () 'HAIlEAS ('ORPUS',
IIEQUERIDo. ALIAS. A REVELIA DO f:XTR!l Om INOo'

139. No processo administrativo que se reporia à extradição de Cesa re 8attiSli há


parecer do Professor Nilo Batista, ti tular de Direito Penal da Universidade do Rio de
Jane iro, em defesa de tese de não ex tradiçâo. De igua l modo, em socorro das pre te nsões
de Cesare Battisti, há também docume nto endereçado ao Senhor Presidente da
Repúbl ica, e subscrito por Celso An tonio Bandeira de Me lJo, José Afonso da Silva, Ni lo
Batista, Oalmo de Abre u Dallari, Paulo Bonavides e Luís Robe rto Barroso, com o
co nteúdo que segue, na íntegra :
CESARE BAlTISTI. cidadão italiano, preso lia República
Federativa do Brasil desde J 8 de março de 2007. por seu advogado e demais
professores titulares ao final assinados, vem respeitosamente a Vossa Excelencia
dizer e requerer o que segue.

I, O requerente é inocente dos crimes pelos quaü' a República


Italiana pede a sua extradição, com base em condenação baseada
fundamentalmente em delação premiada e produzida em ambiente politico
conturbado. Em /9 79, quando ainda estava na Itália. o requerente sequer foi
acusado de participação em qualquer homicidio, tendo sido condenado a 12
(doze) anos de prisão por crimes polÍlicos. Após a sua fuga para a França e
depoü poro o México. os acusados pelos homicidios - sob intensa pressão e
beneficiando-.çe de delação premiada - resolveram atribuir-lhe /oda5 as culpas.
Foi então j ulgado uma segunda vez, à revelia, e condenado à pena de prisão
perpétua. Os "advogados" que o teriam representado valeram-se de procurações
que vieram a ser comprovadas fal.ws. Foi o único acusado a receber tal pena.
Todos os delatores premiados estão soltos, enquamo Battisti se tornou o bode
expiatório dos movimentos de esquerda da década de 70.

2. O Egrégio Supremo Tribunal Federal negou a extradição de


outros três ex-ativistas itaJiano.l1 do mesmo perlado, também envoh'idos na
militância armada durante os anos de chumbo, Jendo que um dele.l1 igualmente
acusado de crimes contra a vida. Tais decisões não callsaram qualquer comoção
no Brasil 011 na l/alia, tendo sido reconhecidas como manifestação legítima do
dever imernacional de pro/eção aos indú,jdllos acusados de crimes políticos.
Apenas no Caso Battisti a República f((lliana decidiu empreender lodos os
recllrsos financeiros, advocaTícios e midiá/icos poro tralJjformá-lo em um trofé u
político.

3. Na guerra de propaganda que se instaurou, Cesare Battisti


pa.fJo u a ser cognominado terrorista, embora nunca tenha sido acusado ou
condenado por esse crime. O requerente foi condenado - injustamente. repilo-se
- pela participação em qualro homicídios: de dois agentes policiais e de dois
militantes de extrema-direita. Durante mais de 14 anos, viveu de formo pacifica e
produtivo na França, sob a proteção da Dou/rina Miterrand. Em 199/ a Itália
chegou o pedir a sua extradição, que foi negada pelo Poder Judiciario francês. O
pedido só foi renovado mais de doze anos depois, em 2004, após a ascensão de
governos de direita na Itália e na própria França. Nesse novo ambiente político.
a extradição foi então deferida. motivando uma novafuga, agora para o Brasil.

4. O requerente obteve refúgio do governo de Vossa Excelência,


em deci.fão corajo.fa do Ministro de Estado da Justiça, Tarso Genro, que lhe f ez
j mtiça, finalmente. A concessão de refúgio foi anulada pelo Egrégio Supremo
Tribunal Federal, por voto de desempate, contra o parecer do então Procurador-
Geral da República, Dr. Anlônio Fernando Souza, erifaticamente reiterado por
seu sucessor, Dr. Roberto Gurgel. Na seqüencia, a extradição foi autorizada.
também por voto de desempate. Não havia precedente de deferimento de
extradição por maioria assim apertada. Além disso, a quase totalidade dos
pedidos de extradição deferidos no Brasil acompanham a manifestação do
Ministério Público Federal.

5. De qualquer f orma, o Egrégio Supremo Tribunal Federal


deliberou expressamente que a competência para a decisão final é do Presidente
da República. Ne!1'!j'Q parte, prevaleceu o voto do Ministro Ero.'! Roberto Grau. A
decisão do Tribunal apenas autoriza a entrega do slÍdiro estrangeiro, cabendo ao
Chefe do Poder ExeclIlivo realizar umjuízo próprio sobre o pedido de extradiçtio,
em que deverá levar em conta os principias constitucionais, o sistema
internacional de proteção aos direitos humanos e o eventual tratado de
extradição firmado entre o Brasil e o Estado estrangeiro, no caso a República
ftaliana.

6. Sem prejuízo da avaliação política própria que Vossa Exce/encia


poderá fazer a respeito dos muitos aspectos envolvidos na matéria. o requerente
pede vénia para enunciar alguns dos principais fundamentos pejos quais confia
que sua extradição não será concedida. Embora a Repúhlica Federativa do Bra5il
possa decidir soberanamente sobre a concessão de abrigo a estrangeiros que se
encontrem em seu terrirório. todos osfundamentos aqui apresentado.5 se baseiam
em disposições especificas do Tratado de Extradição existente entre o Brasil e a
República Italiana.

7. Na verdade, o próprio Ministro Eras Grau - cujo voto conduziu


a decisão da Corte na que.ftão relacionada à competência do Presidente da
República para a decisão final - identificou um dispo.fitivo do Tratado bilateral
de extradição que permite claramente a não-entrega na hipótese, .fegundo
avaliação do Chef e de Estado que não se sujeita a reavaliação por parte do
Supremo Tribunal Federal, Cuida-se do art. 3°, 1, f, que admite a recusa da
extradição quando haja ;'razões ponderáveis para supor que a situação da
pessoa reclamada poderia ser agravada por razões políticas ". Como se vé, o
próprio Tratado prevê a proteção ao individuo nos casos de mera dúvida,
bastando que haja motivos para supor uma possibilidade de agravamento da
situação pessoal do extraditando. Nos termos da decisão proferida pelo Tribunal,
cabe a Vossa Excelência verificar a existência de tais razões, segundo sua
própria convicção.

8. No "aso, múltiplo!)' elementos confirmam o ri.fco de


agravamento da situação pessoal do indivíduo reclamado. Com efeito, passados
mais de trinta anos. os episódios em que se envolveu o requerente conservam
elevada dimetlSão política e ainda mobilizam muitos selores da sociedade contra
ele. Diante disso, com base nesse dispositivo do tratado e dentro do juízo político
que o Supremo Tribunal Federal expressamente afribuiu ao Presidente da
República. é perfeitamente legÍlimo qUI! VWisa Excelencia avalie que há "razões
ponderáveis para supor " que a situação do extraditando "possa ser agravada
por motivo de opinião política ", bem como que ele pode ser vítima de
discriminação com fu ndamento nessa mesma razão. Essa conclusão não envolve
qualquer avaliação negativa sobre as instituições afilais ou passadas da
República Italiana. Aliás, a simples inclusão dessa cláusula no tratado bilateral
apenaç confirma que esse tipo de juízo nào constitui afroma de um Estado ao
outro, uma vez que situações particulares podem gerar risco,~ para o individuo, a
despeito do caráter democrático de ambos os Estados.

9. De qualquer forma, veja-se que o 1'Oto do Ministro Eros Grau e


a dec:i.\·do do Egrégio Tribunal Federal não ,'incularam o Presidente da
República propriamente ao art 3", I,f do acordo bilateral, ma.~ sim ao Tratado
de Extradição em seu conjunto. Assim, embora o artigo em questão já seja
suficiente para fundamentar a reCllsa de extradição. é possível ainda deslacar
pelos menos outros dois dispositivos que também permitem e até recomendam
evetJ(/lal decisão de não-entrega.

10. O primeiro deles é o arl. 7", /, do Tratado. Segundo essa


previstl0, a pessoa extraditada não poderá ser submetida à restrição da liberdade
pessoal para execução de uma pena por fato diferente daquele pelo qual a
extradição foi concedida. No caso concrelO, a pena aplicada ao extradilando foi
unitária - prisão perpétua pelo conjunto dos delitos -, abrangendo fatos
anteriores e diferentes daqueles que motivaram o pedido de extradição. incluindo
crimes politicos puros, assim reconhecidos pela Justiça i/(lliana. Não é possível,
portanto, entregar o extraditando, uma vez que o Estado requerente mio poderá
segregar a pena pela qual foi concedida a extradição das que resultaram de
outras condenações. Esse ponto não foi objeto de pronunciamento pelo Supremo
Tribunal Federal.

11. O segundo fundamento adicional consta do arl, 5", b, do


Tratado. O dispositivo aulOriza a recusa de extradição quando a parte requerida
tenha "motivo para supor" que a pessoa reclamada poderá vir a ser submetida a
pena 011 tratamento que configure violação de seus direilOsjimdamentais. A pena
de seis meses de isolamento sem luz solar incide em tal hipótese. No/e-se. ainda,
que até o momento a Itália não se comprometeu a comutar a pena perpétua,
exil'/indo dúvida sobre a possibilidade jurfdica de autoridades do Poder
Executivo realizarem a comulaçdo deforma efeliva. lima vez que (J decisào final
seria uma prerrogativa das autoridades judiciárias. Tudo sem mencionar
declarações públicas de que. independentemente de qualquer compromisso. a
comutação não ocorrerá.

12. Como se percebe, cada um desses fundamentos seria .mficiente


para a recusa de extradição. A conjugação dos ,rês apenas reforça lima eventual
decistio em favor do suplicante. Diante dessas razões - e da enorme dúvida
objetiva que se instaurou no Egrégio Supremo Tribunal Federal acerca da
própria possibilidade jurídica de se autorizar a extradição - é consistente dizer
que a posição institucional brasileira, respaldada pela Constituição e pela
Convenção Americana de Direitos Humanos, deve ser favorável ao indivíduo.
Essa orientação seria válida para qualquer que fosse o Estado requerente e não
importa qualquer juízo crítico em relação à Itália.

13. Cabe fazer, ainda, uma última observação. O fato de o suplicante


ler sido condenado no Brasil pela posse de documentos falsos, pela Justiça
Federal do Rio de Janeiro, não apresenta qualquer repercussão sobre o pedido
de extradição e a decisão de Vossa Excelência. Tanto assim que o próprio
Tratado de Extradição prevê a existência de processo ou condenação criminal no
país requerido como uma das causas de recusa da extradição (art. /5, I). Vale
lembrar que o suplicante chegou ao Brasil na condição de auto-refugiado.
fugindo de perseguição política que considera injusta. Em situações como essa. é
absolutamente impossível a utilização dos próprios documentos. Na verdade. a
condenação a pena mínima de doi",' anos. para cumprimenlo em regime aberlo.
apenas confirmou que o suplicante não apresenta qualquer periculosidade, fato
que se c01ifirma pelos mais de /4 ano.~ em que viveu de forma pacifica e
produtiva na França.

14. O suplicante pede, respeitosamente. que Vossa Excelência leve


em consideração esses fundamentos ao tomar sua decisc70 final acerca do pedido
de extradição formulado pela República Italiana. e confia que lal decisc70 haverá
de eSlar de acordo com a tradição brasileira de justiça e humanidade.

Os advogados a seguir assinados, em nome do requerente e, também. em


nome próprio, transmitem a Vossa Excelência a expressão do seu respeito e da
mais elevada consideração.

140. A natureza política e o cunho se nsacionalista que envolvem a extradição de


Cesare Banisti podem se r comprovadas com a recorrência que o extraditando é
requ isitado enquanto preso. São vários pedidos de entrevistas, por parte de jornalistas,
estudiosos, e mesmo defensores do extraditando.

141. Em 27 de janeiro de 2009 há registro de pedido de permissão de ent rada no


complexo penitenciário da Papuda para realizar entrevista com o extraditando, por pane
de Bernardo Mello Franco, De igual modo, e no mesmo dia, Paolo Manzo requereu
permissão para visitar e entrevistar o extraditando.

J 42. Lucas Ferraz também formulou pedido de entrevista com Battisti, e da mesma
forma, entre outros, encaminharam pedidos de entrevista Ornero Ciai, Vanildo Mendes,
Marco Antonio de Castro Soalheiro, Raymundo Costa, William Alan Clendenning,
representantes da Agência France Press, Raffaele Fichera, Zero Hora Editora
Jornalística S/A, diretoria da Agência Efe, Bandnews, TV Bandeirantes, Ni lo Martins,
Aparecida Rezende Fonseca, Sergio Rocha Lima Junior, Rad io e Televisão Capita l
Record, Ghera rdo Milanesi, Dario Pignoui, Rosa Sa ntoro, Edson Lopes da Silva,
Agência de Notícias Thomson Reuters, Julio Cruz Neto, Felipe Benaduce Seligman,
The Associated Press, Sistema Brasileiro de Televisão, RAI· Radiotelevisione Italiana,
Francisco Antonio da Silva, Maria da Paz Trefaut, Melting-Pot Production, Lelícia
Cynthia Renee Garcia, Paris Match, Percilliane Marrara Silva, Jorna l O Estado de São
Pau lo, SKY TG 24,Pierre·Ludovic Viollat.

143. O Caso Battisti ganha dimensão superlativa, divide opiniões. O momento, no


en tanto, exige serenidade, bem como a so lução para a questão demanda a fixação de
algumas premissas.

144. Em primeiro lugar, não há mais espaço para que se discuta o procedimenlo penal
ocorrido na Itália e que redundou na conde nação de Cesare Battisti. A decisão do
Supremo Tribunal Federal tem como efeito imediato a proibição de que se levante,
internamente, dúvidas, scnões e questionamentos cm torno da legitimidade e da
legalidade do procedimento de condenação de Battisti . A decisão do Supremo Tribunal
Federal deve ser cumprida.

145. Por consequê ncia, preclusa objetivame nte a possibilidade de que se questionar o
teor das procurações supostamente assinadas pelo extraditando, conferindo poderes para
que advogado o defendesse nos processos que respondeu na Itália. Assim, prejudicada,
definitivame nte, pelo menos em âmbito de direito brasileiro, discussão em torno da
falsificação das procurações.

146. Preclusa também a instância interna para que se compree nda o Caso Battisti
como intrinseca mente político. Ainda que o desdobramento dos fa tos possa
abstralamente indicar o contrário, ainda que a lógica de toda a situação aponte para
contexto supostamente político, e ainda que não se tenha outTa perspectiva
hi storiográfica para a compreensão do caso, a decisão do Supremo Tribunal aponta no
sentido de que os cri mes imputados a BaUisti devam ser plasmados como crimes
com uns, e não como crimes políticos. Deve se cumpri r a decisão do Supremo Tribunal
Federal. Deve se cum prir o Tratado que assinamos com a Itália.
147. Isto é, ainda que se tenha bem nítido que a trajetória de Battisti desagrade setores
de esquerda e de direita, a usarmos expressões do vocabulário da guerra fria , eventual
argumento, neste sentido, e em favor do extraditando, não surtiria nenhum efeito no
caso pendente. Bem entendido, embora Battisti possa desagradar ambos os lados:
abandonou a luta armada, mas antes teria lutado, não se pode imputar aos fato s
OrigináriOS do pedido de extradição a conotação que a assertiva de envolvimento
poderia entoar.

148. O que se tem, concretamente, é que a competência para autorização (ou não) da
extradição é do Presidente da República. Se o Supremo Tribunal Federal defere o
pedido de extradição cabe ao Presidente da República, discricionariamente, ent regar (ou
não) o extraditando.

149. É este o entendimento sufragado pela jurisprudência do Supremo Tribunal


Fede ral, especialme nte tendo-se em vista o decidido na Ext radição 1.1l4-6/República
do Chile, relatado pela Ministra Cármen Lúcia, cuja ementa segue:
EMEN7A : HTRA /)/ÇJo. ATENDlMENIO DOS REQUISITOS FOI/MAIS
IMPROCEDÉNC/A 0 .18 AI.EG.'iÇ(}ES DO EXTRAD17:4NDo. E>.TRADIÇI0
DEFERiDA. I. A Iranslllis.I'ào da Nota Verhaf por \'ia diplomática basta para
cOl/jerir-lhe lIUlemicidade. sendo dispellsável a tradllçào por profissional
jllrflmemado. Ademais seqm:r eahe discutir CI'f!/lfua!l'ício //(/ NOfa Verbal se os
documentM que a acompallham contêm narração dos fatos que deram origem à
persc!cuçi'1O criminal no ESlOdo requerellfe. viabilizando-se. assim, o cxercício
da defe.w. 2. Assellfe ajllrispmdêllcia deste Supremo Tribllnal no sentido de qlle
/) flJ()delll que rege, no Brasil. a disciplina Ilom/(/(ivo da extradição })(.I.\'",iwl nâo
au/ori:::a a /'el'isiio de aspeCln.~ formais COl1cemellfes à regularidade dos alas de
[lersl'cuçclo !,ellal praticado.\· /lO Estado requerenle. 3. O ,S'upremo Trihu/lal
lilllila-.~c (/ aI/alisar a legalidade e li procedência do pedido de eXlradiçiio
(Regimento Imerno do Supremo Tribunal Federal. arl. 207; COl1sliIIÚÇ'ÔO ria
Repúhlica. al'/. 102. I/le. I. alínea g; e Lei fi. 6.815/80. ar/. 83): imkjériclo o
jJPdido. deixa-se de cons/itllir () IÍlU/O jurídico sem o qllal (} rresidellle da
Repúhliea mio pode efelivar a alradiçiio; se dejerida, a ellfrega do .n ídi/o (lO
E,·tado requerente fica a crilério discricionári{/ do Presidenle tia Repúhlica. .J.
Extradição deferida. 110S termo.\' do voto du Relalorll.

150. Esta discricionariedade, no entanto, sofreria restrições e constrangimentos,


decorrentes do cumprimento dos tratados. O não cumprimento de tratativas
internacionais pode causar para quem não as cumpra sanções indiretas na ordem
in te rnacional.

(
15 1. Sem que se toque na complexa questão relativa à natureza jurídica do direito
internacional , bem como de linha argumentativa que veria um grupo de tratados no
contexto de um soft faw, isto é, de um direito sem sa nção, deve-se levar em conta que
há compromisso assumido com Nação amiga e, neste sentido, o pactuado deve ser
cumprido. O Brasil vem sistematicame nte cumprindo acordo de extradição que ajustou
com a Itália, e a abundância de julgados que há comprova a assertiva. Não se pode falar,
assim, de comportamento desviante, ou de qualquer indicativa de desídia, de nossa
pane. O Chefe do Poder Executivo age nos termos do Tratado.

152. Como já observado várias vezes, o Tratado prevê que a ext radição não será
concedida se a parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa
reclamada será submetida a atas de perseguição e discriminação por motivo de raça,
rel igião, sexo, nacionalidade, língua, opi nião política, condição social ou pessoal; ou
que sua situação possa ser agravada por um dos elemenlos a ntes mencionados.

153. A cond ição pessoal do extraditando, agitador político que teria agido nos em
anos difíceis da história italiana, ainda que condenado por c rime comum, poderia, sa lvo
engano, provocar reação que poderia, em tese, provocar no ext raditando, algum tipo de
agravamento de sua situação pessoal. Há ponderáveis razões para se supor que o
extraditando poderia, em princípio, sofre r alguma forma de agravamento de sua
situação.

154. A assertiva nâo implica em nenhuma bravata à história e à dignidade da Itália,


país que exerce imensa influência sobre nossa cultura, núcleo histórico da vinda de
imigrantes. A Itália é, sem dúvidas, uma das pátrias fundadoras da identidade brasileira.

155. Com a Itália, há inúmeros outros casos que se desdobram. Eventual negativa de
extradição de Battisti, por força de disposição de tratado, como aqui sugerido, não é
indicativo de desrespeito para com o acordado entre Brasil e Itál ia. O Brasil c umpre
rigorosamente os tratados de extradição que entabu lou.

156. A inserção de regra no tratado que permite a não extradição na hipótese de


dúvida ponderável quanto ao tratamento a ser dispensado ao extraditando não é egra
que se refira, necessa riam ente, ao Estado requerente. É dispositivo que permite ampla
discricionariedade ao Estado requerido, no sentido de se aferir, entre outros, a reação
que se prevê em relação ao extraditando. Está em nossa tradição. Informa a tradição do
direito extradicional.

157. Não se trata de inovação. É fato. E não presunção. A regra que autoriza a não
extradição deve ser utilizada, e o seria também, em situação análoga, se recíproca
houvesse. É norma sim ples, que não exige torneios de hermenêutica mais ousados.
Basta suposição, por parte do Chefe do Poder Executivo.

158. Entre outros, é veículo para reconhecimento de que a finalidade da pena seja a
reinserção social do apenado. O que, no caso, registre-se, já se realizou ao longo dos
anos. A condição pessoal do extraditando pode ser piorada com a extradição. Ainda que
se tenha a comutação da pena, e ainda que se apliquem fórmulas de detração, o
extraditando ficaria preso até momento longevo, ao longo do qual temores do passado e
resquícios de um tempo pretérito, e de triste memória, possam qualificar perigo real.
Segundo o Mini stro Eras Grau, em voto publicado em excerto de livro,
(... ) o Presidente da República está ou não obrigado a deferir a
extradição autorizada pelo Tribunal nos termos do Tratado . Pode recusá-Ia em
algumas hipóleses que, seguramente, fora de qualquer dúvida. não são
examinadas, nem examináveis, pelo Tribunal, as descritas na alínea 'f do seu
art. 3.1. Tanto é assim que o art. 14.1 dispõe que a recusa da extradição pela
Parte requerida - e a 'Parte requerida', repito. é representada pela Presidente
da República - 'mesmo parcial, deverá ser motivada '. Pois esse ar/o 3.1 , alínea
j, do Tratado estabelece que a extradição não será concedida se a Parte
requerida /iver razões ponderáveis para supor que a sua si/uação (isto é, da
pessoa reclamada) 'fossa ser agravada "- vale dizer, aferada, merce de
condição pessoal (. ../

159. Do ponto de vista estrutural a questão é tema de fixação de competências. O


modelo extradicional brasileiro é misto. Ao Supremo Tribunal Federal compete avaliar
a prestabilidade formal do pedido, e o faz, sempre, à luz, também, do referencial de
proteção de direitos humanos que adotamos.

160. Ao STF não cabe a apreciação do mérito do pedido. Apenas, e tão somente,
autoriza-se ao Presidente da República a efetivar a extradição. Isto é, na hipótese do

N Eros Roberto Grau, Sobre a prestaç40 jurisdicional-, São Paulo: Malhciros, 2010, p. 223.
STF comprovar que o pedi do de extradição substa ncialize os requisitos indicativos da
ga ranti a dos direitos fundamentais do ext raditando.

161. Consequentemente, infere-se, a extradição decorre de procedimento mi sto para


deferimento. O STF verifica os requisitos de legalidade, bem como de procedência do
pedido. Em seguida, o Presidente da República decide, com margem de
discricionariedade, tal como consignado nos tratados que assinamos.

162. E é da experiência do direito dos tratados a fixação de cláusulas de


maleabilidade, por intermédio das quais o agente político que dete nha o poder de decidir
possa rea li znr juízos de vn lor, indevassáveis pelo Poder Judiciário. É ao Poder
Executivo a quem compete dispor sobre maté ria de relaçõcs in ternacio nais.

163. É o Chefe do Poder Executivo Federal que m represenla o Estado brasileiro nas
relaçõcs internacionais. E é o Chefe do Poder Executivo Federal que a Constituição
reservou a prerrogativa de expressão fin al nas questões de extradição. É este o
e ntendimento do STF, tal como se colhe em excerto de vOIO do Ministro Carlos Ayres
Brino, justamente na extradição esmiuçada:
De sorte que, diante desse pensamento uniforme, eu procurei, fia constituiçào
brasileira. o regime jurídico da extradição. Será que a nossa conslituiçào
brasileira contém o regime jurídico da extradição? Parece-me que sim. E fui ver
na perspectiva do sistema belga, que é o sistema delibatório ou de legalidade
ex[rÍnseca, também chamado misto. Por que o sistema é nisto ? Ele é misto
orgânica ou sllbjetivamente, porque pre.uupõe a awação coryunta dos órgãos do
Poder Execu[ivo e do Poder Judiciário. Vale dizer. órgdos dos doi.ç Poderes
aluam com independência, é claro, mas convergentemente {fuamo à finalidade,
que é a extradição ou a recusa da extradição do cidadão. Mas ele é misto também
porque concilia. sem traumas, harmoniosamente, os princípios regentes de todas
as relaçõe.ç imernacionais do Brasil.
A Constituição, no artigo -I ~ estampa os principios regentes ou
reguladores das relações inlernacionais do Brasil. E o sistema belga. ou mis[o.
ou delibatório, ele tem o mérito de possibilitar a incidência de todos os princípios
sem f ricção maior, sem tensionamenlo maior. Ele prestigia todos. Por exemplo. o
primeiro princípio é a independência nacional. É a soberania nacional.
encarnada fiO Presidente da República, segundo o artigo 84. inciso VII. da
constituição. E o Presidente da República encarna essa soberania nacional. essa
representatividade externa do Brasil, protagonis/a por excelência. protagonista
até privativo das relações internacionais. O Presidente o faz não como Chefe de
Governo. mas como de Estado. Ele é o Chefe de ES/ado em nosso sistema
constitucional. E o modelo belga, que introduz o Judiciário no circuilo do
processo ex[radicional. em nenhum momento faz o Presidellfe da República
decair da sua condiçào de Chefe de Estado. Ele continua Chefe de Estado, mesmo
o processo extradicional passando pelo crivo do Supremo Tribunal Federal. É um
modelo conciliatório nesse sentido, respeita a soberania nacional encarnada no
Presidente da Republica, a despeito do processamento extradicional pejas
pranchetas do Poder Judiciário. Mas esse modelo é também respeitador da
soberania do Pais estrangeiro, requereme. Por quê? Porque. na medida em que o
Supremo não faz umjuízo meritório do processo extradicional. está respeitando o
Poder Judiciário do País estrangeiro. Está respeitando a soberania e o Poder
Judiciário do Es/ado estrangeiro. Então, é um modelo que tem dupla vir/ude:
concilia principias aqui e principias do País requerente.

164. Um indicativo de convergência de vontades infonna o modelo extradicional


brasi leiro. Deve-se leva r em conta, entre outros, os direitos fundamentais do
extraditando, o papel do STF enquanto guardião da Constituição, viz., dos direitos
fundamentais, a soberania e a vontade do Estado-Parte-Requerente, bem como, ainda, o
papel do Presidente da República, enquanto representante da soberania nacional.

165. Este último aspecto, representação da sobe rania nacional por parte do Presidente
da República, plasma fortemente a discricionariedade do prolator da decisão final, em
tema de extradição. Cuida-se, prioritariamente, das disposições dos incisos VII e VIII
do arl. 84 da Constituição, que conferem ao Presidente da República competência para
manter relações com Estados estrange iros.

166. Esta orientação ganhou foros de pennanência na dicção do então Ministro Eros
Roberto Grau, em excerto de voto na extradição aqui est udada, para quem, co m base em
Victor Nunes Leal, as razões da negativa da extradição, por parte do Presidente da
República não são examináveis pelo STF.

167. E é com base no tratado que deve agir o Presidente da República. Há fortíssimo
enquadramento político, ainda que no resultado, e não nas causas, no sen tido de se
respeitar pontualmente a decisão do STF. Isto é, os crimes não são políticos, são crimes
comuns. Porém, políticas são as dimensões dos fatos.

168. Como indicado na presente manifestação há proliferação de entrevistas,


passeatas, pareceres, manifestos, pedidos, súplicas, notícias. Eventual negativa de
extradição não qualifica, e nem demonstra, e nem mesmo sugere, qualquer avaliação
negativa para com inst ituições italianas, presentes ou pretéritas. Trata-se, tão somente,
de cumprimento de previsão do tratado, com amplo uso no direito ex tradicional
con temporâneo.

169. É exatamente o nicho democrático ita liano que suge re amplitude do debate,
suscitando-se ponderáveis suposições de que o extraditando possa, em tese, enfrentar
atas que agravem sua situação, por motivos de sua condição pessoal.

170. Opina-se, assim, pela não autorização da extradição de Cesa re Ballisti para a
Itália, com base no permissivo da letrafdo número I do arl. 3 do Tratado de Extradição
ce lebrado entre Brasil e Itália, porquanto, do modo como aq ui argumentado, há
ponderáveis razões para se supor que o extraditando seja submetido a agravamento de
sua situação, por motivo de condição pessoal, dado se u passado, marcado por atividade
política de intensidade relevante. Todos os elementos fálicos que envolvem a situação
indicam que tais preocupações são absolutamente plausíveis, justificando-se a negativa
da extradição, nos termos do Tratado celebrado enlre Brasil e Itália.

É o quanto se encaminha ao elevadíssimo cri vo de Vossa Excelência.

Brasília, 28 de dezembro de 2010.

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy


Consultor da União

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