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O HUMANISMO ABSOLUTO E O MATERIALISMO

Há pessoas que têm uma filosofia de vida, mas não têm uma religião e nem acreditam em
Deus. São ateias. Entre essas filosofias de via, evidenciaremos neste tópico, e em grandes
linhas, o humanismo absoluto e o materialismo. São formas de compreender a realidade que
se traduzem em determinadas atitudes para a humanidade e em valores éticos.

De maneira bem ampla, o eixo que sustenta o humanismo é o indivíduo é o o eixo que
sustenta o materialismo são as ciências naturais. Nos próximos tópicos, serão estudados
alguns autores, vindos dos campos da filosofia, da psicanálise e da economia política, que
levaram o humanismo absoluto às suas últimas conseqüências. Mas neste, de cunho
introdutório, vamos nos deter no significado do humanismo e do materialismo.

O humanismo

A palavra humanismo deriva de humano. Podemos definir um humanismo como “aquele que
dá maior importância aos seres humanos, à vida humana e à dignidade humana. O humanismo
enfatiza a liberdade do indivíduo, sua razão, suas oportunidades e seus direitos ( HELLERN;
NOTAKER;GAARDER, 1989, p. 227).

Breve histórico do humanismo

As raízes históricas do humanismo são antigas. Períodos históricos como a Antiguidade, O


Renascimento e o Iluminismo são particularmente marcados por essa forma de pensar. Mas
apenas no século XIX o humanismo rompeu com as raízes religiosas.

Os humanistas da Antiguidade- Sócrates (399 a.C.) e a escola filosófica do estoicismo (150


a.C.200 d.C.) focalizaram os seres humanos, e não mais a especulação filosófica sobre a origem
do mundo e os elementos que o formam: indicaram a razão como fundamento e guia de toda
percepção (Sócrates); e acretitavam que há uma lei natural que se aplica a todos os seres
humanos (estóicos).

O humanismo da Renascença (meados do século XIV)pode ser personificado em Leonardo da


Vinci. Apaixonado estudioso da natureza e de todos os processos naturais. Da Vinci fez
experiências científicas e foi inventor. Acima de tudo, interessou-se pelo ser humano, tanto
como espécie quanto como indivíduo- a Mona Lisa, por exemplo, retrata uma mulher cheia de
caráter e personalidade. O Humanismo renascentista instaurou o método experimental como
base para a ciência e trouxe uma nova atitude para com a humanidade, com a redescoberta do
valor do ser humano como algo grandioso e belo.

O iluminismo, cuja expressão máxima é Voltaire (1694-17780), trouxe uma crença inabalável
no triunfo do esclarecimento e da razão. Pessoalmente, Voltaire não era ateu. Lutou, no
entanto, contra a crença dogmática em Deus e contra a opressão das autoridades eclesiásticas.
A separação entre o humanismo cristão e o humanismo profano ou absoluto

A grande maioria dos humanistas da Renascença era cristã por conviccção. Mas, a partir do
século XIX, com o biólogo Charles Darwin e sua teoria da evolução, há uma ruptura do
humanismo com o cristianismo, tendência já presente no Renascimento. O humanismo
profano ou absoluto se separa do humanismo cristão.

No humanismo de raiz cristã, a razão e a capacidade humana de percepção religiosa são


justamente a fonte da dignidade humana. Para o humanismo absoluto, ao contrário, há uma
forte confiança na razão e na experiência humanas. Embora as faculdades humanas sejam
limitadas, o ser humano deve confiar em si mesmo e só deve depender de si mesmo e de suas
próprias capacidades. Não deve transformar suas idéias sobre o desconhecido em princípios
religiosos.

Utilizando apenas sua razão ou sua experiência, o ser humano não pode afirmar que Deus
existe. Mas também não pode dizer com certeza que Deus não existe. Por essa razão, o
humanista muitas vezes define-se como agnóstico. E, porque vive como se Deus não existisse e
nega a realidade sobrenatural, assume o ponto de vista ateu.

Visão humanista do ser humano e ética

A atitude para com a humanidade é positiva e otimista, o ser humano ser de liberdade e
dignidade, de igual valor. A razão humana proporciona a diferença entre o certo e o errado. A
ética humanista caracteriza-se pelo princípio da reciprocidade, pelo respeito à dignidade e
inviolabilidade do indivíduo. É do Iluminismo que nascem as bases para a Declaração do
Direitos Humanos da ONU , em 1948.

O materialismo

Devemos fazer uma distinção entre materialismo filosófico e materialismo ético. O


materialismo filosófico é a

Convicção de que todos os fenômenos do mundo podem ser atribuídos a condições físicas. Não há
forças espirituais agindo independentemente das leis da física. A realidade é composta unicamente de
matéria,ou, em outras palavras, natureza (HELLERN; NOTAKER; GAARDER,1989, P. 240

O materialismo ético é uma “visão da vida, ou uma atitude perante a vida que dá importância aos
benefícios materiais e ao prazer físico”( HELLERN;NOTAKER; GAARDER, P.240)

Breve histórico do materialismo

O materialismo também nasce na Antiguidade, com Demócrito (atomismo) e Epicuro


(materialismo ético). Os séculos XVI e XVIII vêem o desenvolvimento de um materialismo de
tipo mecanicista: o universo está sujeito a constantes imutáveis, ou a uma mecânica ( Isaac
Newton, 1643-1727). Também o ser humano seria como uma máquina. Segundo essa
concepção, o cérebro seria um músculo para pensar, como a perna tem músculos para andar.
No século XIX, o materialismo é eclipsado por uma visão naturalista da vida. Nesse caso, foi
fundamental o trabalho do biólogo Charles Darwin, que ofereceu uma explicação naturalista
coerente sobre a evolução da vida na Terra. Ideias naturalistas passaram ao terreno social e
psicanalítico.Exemplos são o pensamento de Nietzsche e Freud. Para Nietzsche, o homem
fraco deve ceder lugar ao “super-homem”, ou seja, para aqueles que se superam como
indivíduos. Para Freud, a vida mental do ser humano é dominada pelo principio sexual.

A compreensão materialista da realidade

O materialismo tem uma visão ateísta da realidade. A chave para compreensão do mundo é o
próprio mundo, não os conceitos produzidos. O conhecimento do mundo é obtido por meio da
experiência e da percepção sensorial – é dessa forma, empírico. A idéia de Deus deve ser
rejeitada, pois não tem fundamento na experiência (compreendida como experimento).

Muitos cristãos e humanistas compartilham dessa visão científica do mundo, assumindo o


pensamento da astronomia e da biologia modernas sobre o início do universo e da vida. O que
diferencia os materialistas é o tipo de criação religiosa. Para eles, tudo o que se pode afirmar
com relação à Terra e ao universo é o que a ciência afirma.

A visão materialista sobre o ser humano

Não há diferenças substanciais entre o ser humano e os outros organismos vivos, pois as leis
da química regem todas as formas de vida. E se o ser humano, no século XVIII, pôde ser
comparado a uma máquina, o cérebro humano pode hoje ser comparado, pelos materialistas,
a um computador exremamente complexo, mas totalmente regulado pelas leis bioquímicas
constantes no mundo natural.

O materialismo e a ética

Do ponto de vista ético. O meterialismo filosófico não leva necessariamente ao materialismo


ético, tal qual foi definido. Assim, não há nenhuma contradição entre uma visão materialista e
a caridade ou a consideração da dignidade humana. Mas não encontramos na filosofia
materialista conceitos como a sacralidade da vida ou a sua inviolabilidade. Assim, entre
materialistas é mais fácil encontrar os que não hesitam na prática do aborto, da eutanásia, de
transplantes ou de modernas pesquisas médicas, como experiências com material genético
humano. Os valores, para essa filosofia, são criação da sociedade, variando de uma sociedade
para outra, ou de uma cultura para outra, determinados pela busca da sobrevivência na
seleção natural. Configura-se, assim, em um relativismo moral.

Bibliografia

HELLERN, Vítor; NOTAKER, Henry; GAADER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. P. 226-246.

JORGE, J.Simões. Cultura religiosa: O homem e o fenômeno religioso. São Pulo: Loyola, 1994

Webliografia

VIZTHUM, Richard C. Philosophical materialism. Disponível em:

http://www.infidels.org/library/modern/richard_vitzthum/materialism.html
Debate

Principais diferenças entre a compreensão do ser humano vista na compreensão do ser


humano, a partir do humanismo absoluto e do materialismo

Os cristãos e todos os que crêem em algo maior e superior também podem ser humanistas.
Em que se diferenciam do humanismo absoluto?

Consequências do materialismo ético.

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