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ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE DIREITO
CAMPUS GUAÍBA

A (IN) constitucionalidade do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82


frente ao Princípio da Igualdade

Guilherme Meller Zacher

Guaíba
2010/02
2

ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL


CURSO DE DIREITO
CAMPUS GUAÍBA

A (IN) constitucionalidade do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82


frente ao Princípio da Igualdade

Trabalho de Curso do Curso de Direito da


Universidade Luterana do Brasil - ULBRA,
Campus de Guaíba.

ORIENTADORA: Daniela de Oliveira Pires

Guaíba
2010/02
3

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL


CURSO DE DIREITO
COORDENAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO

PARECER:

Trata-se de parecer de admissibilidade de monografia de conclusão de curso


realizada pelo aluno Guilherme Meller Zacher cujo título é: A (IN) constitucionalidade
do artigo 9°, inciso I, da Lei n°. 7.672/82 frente ao Princípio da Igualdade.
A presente monografia atende aos padrões solicitados no regulamento da
Universidade Luterana do Brasil para os trabalhos finais de graduação. O aluno está
apto a apresentar sua monografia de conclusão de curso à banca examinadora.

É o parecer.

Guaíba, 29 de novembro de 2010.

________________________
Daniela de Oliveira Pires
Orientadora
4

DEDICATÓRIA:

Dedico o presente trabalho aos meus pais


por todo o apoio basilar, bem como, por
sempre incentivarem meu crescimento tanto
profissional como pessoal.
Aos meus avós por todos os mimos, em
especial a avó Aida que acompanhou de perto
todos os momentos deste pesquisador
apoiando sem nunca questioná-lo.
5

AGRADECIMENTOS:

Primeiramente à minha querida orientadora,


que compreendeu todos os momentos de
aflição deste acadêmico, bem como, ao se
deparar com o projeto teve sapiência e
paciência para auxiliar da forma mais produtiva
possível este jovem pesquisador.
Ao meu querido irmão, pelas frases
motivadoras proferidas, bem como, pelo auxílio
conciliador nos momentos de estresse.
A Excelentissima Senhora Doutora Juíza de
Direito Dra. Cíntia Teresinha Burhalde Mua,
pelos minutos concedidos de seu precioso
tempo, para transmitir seu conhecimento a este
jovem acadêmico, minhas sinceras gratidões.
Por fim, mas não menos importante, a todos
os meus amigos e amigas que entenderão
minha ausência para dedicação exclusiva a
este trabalho.
6

EPÍGRAFE:

“Espero ter sempre suficiente firmeza e


virtude para conservar o que considero que é o
mais invejável de todos os títulos: o caráter de
Homem Honrado.” (George Washington)
7

RESUMO

O presente estudo monográfico tem como escopo analisar o art. 9°, inciso I, da Lei
de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (lei n.° 7.672/82), sob uma ótica
constitucional, mais precisamente, perante o principio da igualdade, como forma de
propor a discussão acerca da sua (in)constitucionalidade. A escolha do tema advém
de uma possível inaplicabilidade dos princípios basilares da Constituição Federal
Brasileira. Sendo que no primeiro capítulo será abordado os conceitos de igualdade
e de direitos fundamentais, no segundo capítulo será abordado aspectos específicos
da lei, bem como, sua possível (in)constitucionalidade e no último capítulo, será
abordado o caso específico que motivou a presente monografia.

Palavras-chaves: Previdência; Estado do Rio Grande do Sul; Inconstitucionalidade;


Princípio da Igualdade.
8

ABSTRACT

This monographic study is to analyze the scope of art. 9, section I of the Law of
Welfare of the State of Rio Grande do Sul (Law No 7.672/82), from a constitutional
perspective, more precisely, before the principle of equality as a way to bring the
discussion about its (un) constitutionality. The theme comes from a possible
inapplicability of the basic principles of the Federal Constitution. Since the first
chapter will address the concepts of equality and fundamental rights, in the second
chapter will address specific aspects of the law, as well as its possible (un)
constitutionality and the last chapter, we will address the specific case that led to this
monograph .

Keywords: Welfare, State of Rio Grande do Sul; Unconstitutionality; Principle of


Equality.
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10
1 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ..................................................................... 12
1.1 O conceito de igualdade .................................................................................. 12
1.2 A evolução dos direitos fundamentais nas constituições brasileiras ............... 18
1.3 Os direitos fundamentais e a busca da igualdade na Constituição Federal de
1988 ................................................................................................................. 22
2 O ART. 9º DA LEI N°. 7.672/82: IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES DE GÊNERO
.............................................................................................................................. 26
2.1 A igualdade nas relações de gênero ............................................................... 26
2.2 A relação entre o art. 9° e o Princípio da Igualdade ........................................ 28
2.3 A (in) constitucionalidade do art. 9° da Lei 7.672/82 ....................................... 30
3 ANÁLISE JURÍDICA DA DECISÃO: O FUTURO DA LEGISLAÇÃO
PREVIDENCIÁRIA GAÚCHA ........................................................................... 33
3.1 Breve análise histórica da jurisprudência relacionada ao Instituto da
Previdência Gaúcha ........................................................................................ 33
3.2 Previdência Gaúcha frente à Carta Constitucional ......................................... 36
3.3 O Impacto da decisão analisada, bem como, o futuro da legislação
previdenciária gaúcha ..................................................................................... 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 47
ANEXOS .................................................................................................................. 51
10

INTRODUÇÃO

A Lei n° 7.672/82 instituiu o Instituto de Previdência do Estado do Rio


Grande do Sul, onde com o advento da referida lei, os servidores públicos do Estado
do Rio Grande do Sul passaram a não mais estarem submetidos às orientações da
Constituição Fedral de 1988, no que diz respeito ao regime previdenciário. Assim,
passa a ser adotado o regime próprio regrado por uma autarquia estadual
previdenciária, o Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPERGS).
Entretanto, o art. 9°, inciso I, da Lei n° 7.672/82 aduz que são considerados
dependentes perante a lei a esposa, a ex-esposa e os maridos inválidos, ou seja,
em que pese à idêntica contribuição dos segurados, ambos parecem não possuir a
mesma titulação.
Assim sendo, dividiu-se o presente estudo em três etapas. Partindo-se de
uma breve análise preceitos doutrinários, o primeiro capítulo se detém em mencionar
a evolução dos direitos fundamentais nas Constituições brasileiras, bem como, do
princípio da igualdade.
O segundo capítulo dedica-se as estudo da lei previdenciária gaúcha,
levantando alguns tópicos pertinentes, bem como, o conflito entre a legislação
previdenciária gaúcha e o preceito basilar da igualdade.
Por derradeiro, o terceiro capítulo faz um estudo de caso, com uma análise
de um julgado da Dra. Cíntia Teresinha Burhalde Mua, a qual, questionando
pensamento basilar do STF, considerou tal legislação, mais precisamnente o art. 9°,
inciso I, inconstitucional, por fim, analisar-se-á o futuro da Legislação previdenciária
gaúcha.
Desta maneira, o presente estudo tem por escopo analisar o art. 9°, inciso I,
da Lei de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (lei n.° 7.672/82), sob uma
ótica constitucional, mais precisamente, perante o principio da igualdade, para
evidenciar uma possível (in) constitucionalidade.
O método de procedimento utilizado neste trabalho monográfico se deu, por
meio de pesquisa bibliográfica em livros, periódicos, trabalhos científicos e
documentos. Especificamente para o estudo de caso contido no terceiro capítulo, foi
realizada pesquisa jurisprudencial.
11

Diretamente ligado à atualidade, o presente trabalho monográfico pretende


contribuir efetivamente para a compreensão da legislação previdenciária gaúcha,
demonstrando, desta feita, uma possível (in) constitucionalidade. Além disso,
exatamente por ser um assunto bastante ligado aos dias atuais, optou-se por uma
linguagem acessível não somente aos juristas, mas também a cidadãos leigos.
Por fim, mister se faz salientar que, como o presente trabalho trata de tema
ainda em discussão, não se pode olvidar que, num futuro próximo, os entendimentos
sejam alterados, pois, por exemplo, os julgadores podem ser substituídos e o
posicionamento das partes envolvidas, alterado e/ou modificado.
12

1 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A


CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

No presente capítulo abordaremos o princípio da igualdade que será


analisado com base em uma ótica doutrinária, visando deixar sua compreensão de
forma cristalina a qualquer pessoa, seja ela operadora do direito ou não, para tanto
foram utilizados pensamentos de doutrinadores, poetas e até trechos de músicas.
Sendo que, em um segundo momento, será analisado a evolução dos
direitos fundamentais na sociedade brasileira, com base nas mudanças em nossa
Carta Magna, para demonstrar como os princípios constitucionais evoluiram.
E por fim, o presente capítulo dará um enfoque especial aos direitos
fundamentais e ao princípio da igualdade com base da Constituição Federal de
1988, tais itens se fazem necessários para que se possa aprofundar a matéria em
foco no presente trabalho.

1.1 Conceito de Igualdade

Imperioso se faz, antes de adentrarmos no conceito de igualdade,


mencionarmos o conceito/definição de direitos fundamentais, o qual não possui uma
unanimidade doutrinária. Conforme os ensinamentos de José Afonso da Silva:

Não há unanimidade doutrinária que permita uma definição


pretensiosamente precisa da expressão Direitos Fundamentais. Muito dessa
incerteza decorre justamente da amplitude que se pode conferir à
expressão, mito também porque essa conceituação está muito ligada às
questões relacionadas com as concepções do mundo e à ideologia política
1
de cada ordenamento jurídico.

Entretanto, em que pese tal assertiva, apenas para atingir uma mínima
ordem conceitual acerca do tema, podemos reiterar as palavras de José Afonso da
Silva, segundo o qual, a expressão direitos fundamentais “[...] é reservada para
designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele
concretiza em garantias de uma convivência digna”2.

1
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 30. Ed. São Paulo: Malheiros
Editora, 2008, p. 178.
2
Ob. Cit., p. 178.
13

Para uma melhor elucidação, temos o posicionamento do Professor Jorge


Miranda, o qual, divide os direitos fundamentais em formais e materiais,
vislumbramos:

Por direitos fundamentais entendemos os direitos ou as posições jurídicas


activas das pessoas enquanto tais, individual ou institucïonalmente cons
ideradas, assentes na Constituição, seja na Constituição formal, seja na
Constituição material - donde, direitos fundamentais em sentido formal e
3
direitos fundamentais em sentido material.

Em que pese sua classificação tanto formal como material, os conceitos


supracitados não são suficientemente elucidativos, tendo em vista que o presente
trabalho visa atingir pessoas de parcas instruções, como uma forma mais cristalina,
podemos adotar o conceito fornecido por George Marmelstein, vejamos:

[...] os direitos fundamentais são normas jurídicas, intimamente ligadas à


idéia de dignidade da pessoa humana e de limitação do poder, positivadas
no plano constitucional de determinado Estado Democrático de Direito, que,
por sua importância axiológica, fundamentam e legitimam todo o
4
ordenamento jurídico.

Desta forma, após uma breve análise conceitual de direito fundamental e


partindo da premissa que a igualdade é um direito fundamental, podemos partir para
análise de seu conceito; Entretanto dentre os direitos fundamentais, podemos dizer
que o direito à igualdade, não tem merecido tantos discursos como merecia, pois a
“igualdade constitui o signo fundamental da democracia. Não admite os privilégios e
distinções que um regime simplesmente liberal consagra”.5
Pois de todos os direitos fundamentais, a igualdade é aquele que mais tem
subido de importância no Direito Constitucional de nossos dias, sendo, como não
poderia deixar de ser, o direito chave do Estado social.
Segundo os ensinamentos de Paulo Bonavides6, a igualdade é elemento
essencial de uma Constituição aberta; é também, na frase doutro jurista igualmente
insigne, a porta de penetração por onde “a realidade social positiva e impregnada de
valores diariamente ingresssa na normatividade do Estado.

3
MIRANDA, Jorge Manuel Moura Loureiro de. Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 3ª Ed.
Portugal: Coimbra Editora, 2000, p. ilegível.
4
MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo: Atlas Editora, 2009, p.
20.
5
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora,
2007, p. 70.
6
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora. 2000. P.
377.
14

Mesmo assim, o conceito de igualdade provocou posições extremadas, haja


vista, que há os que sustentam que as pessoas são desiguais por natureza, logo,
temos duas correntes os “nominalistas” que acreditam que as pessoas nascem e
perduram desiguais e os “idealistas”, que postulam um igualitarismo absoluto entre
as pessoas.
Quanto a teoria “nominalista” José Afonso da Silva, afirma que existem sim
duas espécies de desigualdades entre os homens:

[...] uma que chamava “natural” ou “física”, porque estabalecida pela


natureza, consistente na diferença das idades, da saúde, das forças do
corpo e das qualidades do espírito e da alma; outra que denominava
“desigualdade moral” ou “política”, porque depende de uma espécie de
convenção e estabelecida, ou ao menos autorizada, pelo consentimento dos
homens, consistindo nos diferentes privilégios que uns gozam em
7
detrimento dos outros, como ser mais ricos, mais nobres, mais poderosos.

Entretanto, posteriormente alude, que uma posição “realista”, entende “que


os homens são desiguais sob múltiplos aspectos, mas também entende ser
supremamente exato descrevê-los como criaturas iguais”8. Logo conforme os
ensinamentos de John Rawls:

[...] diremos que cada um é igualmente capaz de compreender e de aplicar


a concepção pública de justiça. Por conseguinte, todos são capazes de
respeitar os princípios de justiça e de ser membros integrais da cooperação
social ao longo da vida. Com base nisso, cada indivíduo se considera
igualmente digno. Essa idéia de dignidade igual está alicerçada na
9
capacidade igual.

Ou seja, em que pese as múltiplas desigualdades, nascemos e somos


criaturas iguais, capazes de compreender e respeitar os princípios de justiça. Assim,
nesse contexto, temos o posicionamento de Aristóteles, o qual, trouxe à idéia de que
“uma igualdade impensável sem a desigualdade complementar e que é satisfeita se
o legislador tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais”.10
Entretanto, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello: “A assertiva
aristotélica de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais não é

7
Ob. Cit., p. 71.
8
Ob. Cit., p. 71.
9
RAWLS, John. Justiça e Democracia, 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes Editora: 2002, p. 97.
10
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo: Malheiros
Editora, 2007, p. 71.
15

suficiente, porque, afinal, quem são os iguais e os desiguais? Quem determina ou


como se determinam esses critérios?”11 e complementa:

Sabe-se que entre as pessoas há diferenças óbvias, perceptíveis a olhos


vistos, as quais, todavia, não poderiam ser, em quaisquer casos, erigidas,
validamente, em critérios distintivos justificadores de tratamentos jurídicos
12
díspares.

Se não podemos nos basear nesta afirmativa como chegaremos a um


conceito preciso de Igualdade? Eis a questão, para tentarmos elucidar esta questão,
podemos citar trecho da seguinte decisão do Supremo Tribunal Federal (STF),
relatada pelo Min. Eros Grau13, a qual é bem elucidativa: “A igualdade se expressa
em isonomia (garantia de condições idênticas asseguradas ao sujeito de direito em
igualdade de condições com outro)”.
Podemos dizer que o pensamento do Supremo Tribunal Federal, possui
respaldo na doutrina, nesse sentido, podemos citar o conceito do princípio da
igualdade adotado por Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino14: “O Princípio da
igualdade determina que seja dado tratamento igual aos que se encontrem em
situação equivalente e que sejam tratados de maneira desigual os desiguais, na
medida de suas desigualdades [...]”.
E ainda, fugindo um pouco de obreiros do Direito, podemos citar as palavras
do poeta Carlos Drummond de Andrade, quais sejam:

Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. Todos
os amores, iguais, iguais, iguais. Iguais todos os rompimentos. A morte é
igualíssima. Todas as criações da natureza são iguais. Todas as ações
cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. Contudo, o homem não é igual
a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Ninguém é igual a ninguém. Todo
15
ser humano é um estranho. Ímpar.

Entretanto, se adotarmos o posicionamento dos doutrinadores, bem como,


do poeta, voltaremos ao conceito aristotélico outrora citado, logo, o que se quer dizer
com essa expressão é que o tratamento isonômico não pode ser aplicado de forma
erga omnes, haja vista que as pessoas não são iguais, divergem em aspectos
políticos, sociais e também econômicos, bem como, em situações que possam se
encontrar. Assim, deve-se levar em conta a finalidade e o objetivo almejado com a

11
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª Ed. São
Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 11.
12
Ob. Cit., p.11.
13
STF, ADI 3305/DF, Rel. Min. Eros Grau, Julgado em 13/09/2006.
14
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado, p.110.
15
ANDRADE, Carlos Drummond de, em A Paixão Medida, 4ª ed., 1983, p. 59.
16

igualdade, sob pena de se atingir uma desigualdade através do tratamento


isonômico.
Nesse sentido, temos o posicionamento de Paulo Bonavides, o qual,
entende que quem “quiser produzir a igualdade fática, deve aceitar por inevitável a
desigualdade jurídica”.16
Destarte, que o princípio da igualdade é a base fundamental da democracia,
como aduz o Professor Jorge Manuel Moura Loureiro de Miranda17: “Não se forma
uma sociedade de iguais se os seus membros não têm, antes de mais, o direito de
ser iguais.”
A sociedade a priori, deve primar pelos direitos dos seus membros, não
podendo os jurisdicionalistas se coadunarem com a idéia formalista da legislação,
devem os mesmos, buscar medidas concretas e objetivas visando a igualdade como
um todo.
Segundo o STF18, podemos dizer que o princípio da igualdade é o princípio
auto-aplicável, pois o mesmo se vincula incondicionalmente a todas as
manifestações do Poder Público, deve assim, ser considerado, em sua precípua
função de impedir discriminações e de extinguir privilégios, com base em dois
aspectos: igualdade na lei e igualdade perante a lei. Para abrilhantar tal pensamento
do STF, podemos complementar com a decisão, relatada pelo Min. Eros Grau:

A igualdade se expressa em isonomia (=garantia de condições idênticas


asseguradas ao sujeito de direito em igualdade de condições com outro) e
na vedação de privilégios. [...] a concreção do princípio da igualdade
reclama a prévia determinação de quais sejam os iguais e quais os
desiguais, até porque – e isso é repetido por quase que automaticamente,
desde Platão e Aristóteles – a igualdade consiste em dar tratamento igual
aos iguais e desigual aos desiguais.Vale dizer: o direito deve distinguir
pessoas e situações distintas entre si, a fim de conferir tratamentos
normativos diversos a pessoas e a situações que não sejam iguais. [...] por
isso nem mesmo pode a lei – como qualquer outro texto normativo – sem
violação do princípio da igualdade, distinguir situações, a fim de conferir a
um tratamento diverso do que atribui a outra. Para que possa fazê-lo,
contudo, sem que qualquer violação se manifeste, é necessário que a
19
discriminação guarde compatibilidade com o conteúdo do princípio.

Em que pese, ser suficientemente elucidativa para os operadores do direito


a citação do Min. Eros Grau, encontra-se repleta de termos jurídicos. Assim, de

16
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora. 2000.
P. 378.
17
MIRANDA, Jorge Manuel Moura Loureiro de. Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, p. 226.
18
STF, MI 58, Min. Celso de Mello, julgamento em 14/12/1990, DJ 19/04/1991.
19
STF, ADI 3305/DF, rel. Min. Eros Grau, julgamento em 13/09/2006.
17

forma assaz solar para qualquer pessoa, podemos conceituar a igualdade segundo
os ensinamentos de Rui Barbosa, vejamos:

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos


desiguais, medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social,
proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da
igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar
com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria
desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos
conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a
cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se
20
todos se equivalessem.

Desta maneira, a citação supracitada vem para deixar mais claro o sentido
conceitual de igualdade.
Ainda, no que pertine à igualdade, se faz mister falarmos na igualdade na lei
e igualdade perante a lei. Segundo o pensamento de Otávio Piva, podemos defini-
las da seguinte maneira:

A igualdade na lei constitui exigência destinada ao legislador que, no


processo de sua formação, nela, não poderá incluir fatores de
discriminação, responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. A igualdade
perante a lei, por sua vez, pressupõe que a lei já está elaborada, traduzindo
uma imposição destinada aos demais poderes estatais que, na aplicação da
norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento
21
seletivo ou discriminatório.

No mesmo sentido são os ensinamentos de José Afonso da Silva, vejamos:

[...] a igualdade na lei seria uma exigência dirigida tanto àqueles que criam
as normas jurídicas gerais como àqueles que as aplicam aos casos
concretos.[...] a igualdade perante a lei seria uma exigência feita a todos
22
aqueles que aplicam as normas jurídicas gerais aos casos concretos.

Podendo também, ser compreendida de uma forma mais sintetizada,


conforme explica os irmãos Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino:

A igualdade na lei tem por destinatário precípuo o legislador, a quem é


vedado valer-se da lei para estabelecer tratamento discriminatório entre
pessoas que merecem idêntico tratamento, enquanto a igualdade perante a
lei dirige-se principalmente aos intérpretes e aplicadores da lei, impedindo
que ao concretizar um comando jurídico, eles dispensem tratamento distinto
23
a quem a lei considerou iguais.

20
BARBOSA, Rui. Oração dos Moços.
21
PIVA, Otávio. Comentários ao Art. 5° da Constituição Federal de 1988 e Teoria dos Direitos
Fundamentais. 3ª Ed. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 50.
22
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 30. Ed. São Paulo: Malheiros
Editora, 2008, p. 215.
23
PAULO, Vicente e ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado, p.110.
18

Desta maneira, temos um conceito formal de Igualdade, bem como sua


interpretação na lei e perante a lei, entretanto se faz mister enaltecer que em nossa
legislação essa distinção não se faz necessária, porque em nossa legislação “o
princípio tem como destinatários tanto o legislador como os aplicadores da lei”24, o
que significa que a lei se aplica com iguais disposições.
Assim, diante do conceito de igualdade, se faz mister analisarmos a
evolução dos direitos fundamentais no Brasil, pois os principios constitucionais
sofreram mudanças durante os anos, sofrendo inclusive supressão em certas
épocas, logo, veremos como ocorreu essa evolução até a Carta Magna de 1988.

1.2 A evolução dos Direitos Fundamentais nas Constituições Brasileiras

A primeira Constituição do Estado do Brasil foi outorgada em 1824 pelo


então imperador D. Pedro II, que instituiu a unidade nacional com províncias
autônomas e previu a garantia dos direitos fundamentais para se coadunar com a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.25
Assinala-se de oportuno, que a Constituição de 1824 foi elaborada a partir
do projeto de Antônio Carlos, de tendência nitidamente liberal, que não previa o
Poder Moderador, como principais pontos da Constituição Imperial no que pertine os
Direitos Fundamentais, podemos destacar o lado liberal no que pertine a declaração
de direitos individuais, possuindo um título sob rúbrica confusa “Das disposições
Gerais, e Garantias dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros”, o qual,
“constante dos 35 incisos do art. 179, incluindo direitos sociais, como a garantia dos
socorros públicos, instrução primária gratuita a todos os cidadãos.”26
A Constituição do Império perdurou por longos 65 (sessenta e cinco) anos,
até que com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, através do
Decreto n° 1, que também estabeleceu a Federação, “o Governo Provisório através

24
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 30. Ed. São Paulo: Malheiros
Editora, 2008, p. 215.
25
Declaração aprovada no auge da Revolução Francesa que dizia que “o Estado que não reconhece
os direitos fundamentais, nem a separação de poderes, não possui Constituição”. Devendo-se extrair
dessa expressão que um país verdadeiramente democrático deve possuir um mecanismo de controle
do poder estatal para proteger os cidadãos contra o abuso e a opressão. Os direitos protegidos nessa
declaração englobavam os direitos fundamentais tais como: liberdade, igualdade e os direitos
políticos, tanto que o texto proclamado começava com a expressão “os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos”.
26
GONÇALVES, Kildare Carvalho. Direito Constitucional Didático, 5ª Ed. São Paulo: Del Rey Editora,
1998, p. 156.
19

do Decreto n° 29, decretou provisoriamente uma comissão para elaborar o


anteprojeto de Constituição.” (CUNHA, 2000, p. 43).
A comissão em 1891 elaborou uma Constituição com 91 artigos, adotando a
forma federal de Estado, com a distribuição de Poderes entre União e Estados,
consagrando-se a autonomia dos Municípios em tudo quanto respeite ao seu
peculiar interesse (art. 68).
No que pertine aos Direitos Fundamentais, a Constituição de 1891 abria a
seção II, do Título IV, com uma Declaração de Direitos, onde assegurava a
brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos
concernentes à liberdade, à segurança e à propriedade, em especial “a constituição
de 1891, mereceu destaque à instituição do Habeas Corpus contra violência ou
coação, por ilegalidade ou abuso de poder”.27 Conforme alude José Afonso da Silva
: “basicamente, a declaração de direitos na Constituição de 1891, contém só os
chamados direitos e garantias individuais” (SILVA, 2008, p. 170).
Importa ainda, nesta senda que o período que engloba os anos de 1889-
1930, ficou conhecido na história como a República Velha, este período da História
do Brasil, foi marcado pelo domínio político das elites agrárias mineiras, paulistas e
cariocas, durante tal período o Brasil se tornou um país exportador de café, e a
indústria teve um significativo avanço. Entretanto, no que tange a área social, o país
enfrentou várias revoltas e problemas sociais.
Com a Revolução de 1930, o Governo Provisório nomeou uma nova
comissão para elaborar a nova constituição, destaca-se nesse interim, o papel da
Revolução Paulista de 1932, que exigia a restauração plena do regime democrático,
tomando por base a Constituição de Weimar, de 1919, a Constituição de 1934,
“manteve a divisão dos poderes do federalismo, mas promoveu uma centralização
legislativa em favor da União, mediante o deslocamento de matérias antes
reservadas aos Estados” (GONÇALVES, 1998, p. 158).
No que pertine aos direitos fundamentais, na Constituição de 1934, “surgiu a
figura do Mandado de Segurança, consequência de uma evolução jurídica para
defesa de direito ”certo e incontestável”, usando o mesmo processo do Habeas
Corpus.”.28 Ainda, a Constituição de 1934, instituiu um título especial para a

27
Ob. Cit. p. 158.
28
CUNHA, Fernando Whitaker. Direito Constitucional do Brasil, São Paulo, Editora Renovar, 2000, p.
63.
20

Declaração de Direitos, nele não só inscrevendo os direitos e garantias individuais,


mas também os de nacionalidade e políticos. Nesta senda, podemos citar:

Os mendigos continuaram impedidos de se alistar (artigo 4º do Código


Eleitoral, então vigente), mas se aboliu a proibição da Constituição
precedente, relativa aos religiosos. Acolheu-se expressamente a ação
popular. Abriu-se um título para a Ordem Econômica e Social assegurando-
se a pluralidade sindical e a igualdade salarial, para um mesmo trabalho,
29
tomando-se inúmeras outras providências inadiáveis.

É dessa Constituição também o direito de voto para as mulheres e a criação


de inúmeros direitos trabalhistas, como salário mínimo, jornada de trabalho não
superior a oito horas diárias, proibição do trabalho de menores de 14 anos de idade,
do trabalho noturno ao menor de 16 anos e trabalho em indústria insalubre ao menor
de 18, férias anuais remuneradas, indenização na demissão sem justa causa,
proibição da diferença de salário para o mesmo trabalho, por motivo de idade, dentre
outros.
Posteriormente, em 10 de novembro de 1937, o Presidente Getúlio Vargas
outorgou a nova Constituição brasileira, a qual em síntese, outorgou poderes amplos
ao presidente como a suprema autoridade do Estado, alterando a sistemática do
equilíbrio dos poderes. Sendo que, no que tange aos Direitos Fundamentais a
Constituição de 1937, não teve nenhum avanço, “era uma carta ditatorial na forma,
no conteúdo e em sua aplicação, com total desrespeito aos direitos do homem,
especialmente no que tange aos direitos políticos” (GONÇALVES, 1998, p. 158).
Com a reconstitucionalização do país, precedida da queda de Vargas,
ocorrida em ambiente internacional a ela favorável com o fim da Segunda Guerra
Mundial, instalou-se, em 2 de fevereiro de 1946, a Assembléia Constituinte sob o
governo do General Eurico Gaspar Dutra, eleito no final do ano de 1945.
(GONÇALVES, 1998, p. 160).
O preâmbulo da Constituição de 1946, já demonstrava a realidade da nova
constituinte, declarava que os representantes do Povo Brasileiro se haviam reunido
sob a proteção de Deus, para organizar um regime democrático.
No embalo pós-guerra, a nova carta constituinte, deu ênfase aos preceitos
de natureza constitucional internacional, proclamando os direitos fundamentais como
forma de reagir frente ao regime ditadorial de Vargas. Tal demonstração vem
perfeitamente demonstrada no Título IV, sobre a Declaração dos Direitos, com dois

29
Ob. Cit. P. 63.
21

capítulos: um versa sobre a Nacionalidade e a Cidadania e outro sobre os Direitos e


Garantias Individuais, sendo demonstrado de forma cristalina pelo art. 141, §13, da
Constituição de 1946 (“é vedada a organização, o registro ou o funcionamento de
qualquer partido político ou associação, cujo programa ou ação contrarie o regime
democrático, baseado na pluralidade dos partidos e na garantia dos direitos
individuais do homem”).
Sucessivamente, após o Golpe de Estado de 31 de março de 1964 o
Congresso Nacional elegeu de maneira indireta Presidente da República o Marechal
Castelo Branco. Sendo que, “tendo em vista as várias alterações que foram
apresentadas à Constituição de 1946, o então Presidente resolveu elaborar uma
Comissão para revisar a Constituição de 1946” (GONÇALVES, 1998, p. 161).
Tendo em vista à insustentabilidade do governo, na segunda metade de
1968, culminou com a promulgação do Ato Institucional nº 5, onde foi totalmente
extinta a federação no Brasil durante aquela época, sendo que, em 17 de outubro de
1969, a Carta Magna sofreu severas alterações em decorrência da emenda
constitucional n. 1, outorgada pela junta militar que assumiu o Poder no período em
que o Presidente Costa e Silva encontrava-se doente.
O regime ditatorial perdurou até meados de 1985, quando em 27 de
novembro de 1985, através da emenda constitucional n. 26, foi convocada a
Assembléia Nacional Constituinte, com a finalidade de elaborar um novo texto
constitucional que expressasse a nova realidade social, a saber, o processo de
redemocratização e término do regime ditatorial.30
Posteriormente em 05 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição
Federal mais democrática do Estado brasileiro, uma forma de superar o passado de
torturas e repressão política da época passada, já que resgatou o rol de garantias
fundamentais e direitos humanos que não foram respeitados durante o período da
ditadura militar. Esta Carta Magna elevou a forma federativa de Estado a cláusula
pétrea, não podendo ser alterada nem mediante Emenda à mesma. Entretanto, a
mesma será abordada no capítulo subsequente, tendo em vista sua complexidade e
suas “inovações”.

30
BALTAZAR, Antonio Henrique Lindemberg. Histórico das Constituições Brasileiras. Disponível em:
http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_id=1897, acessado em 23 de novembro de
2010.
22

1.3 – Os Direitos Fundamentais e a busca da Igualdade na Constituição Federal


De 1988

Tendo em vista a ineficácia do sistema implantado pela Constituição de


1964, que não conseguiu solucionar os grandes problemas, tornando-se
insustentável. A Constituição Federal de 1988, veio pretendendo sepultar o cadáver
autoritário da ditadura militar e representou, para os brasileiros, a certidão de
nascimento de uma democracia. (MARMELSTEIN, 2009, p. 66).
A sociedade brasileira tinha vivenciado 21 (vinte e um) anos de supressão
de liberdades em razão do regime militar. Portanto, era hora de ousar em favor dos
direitos fundamentais e deixar o sopro da democracia entrar nas janelas do poder.
A Constituição Federal de 1988 é fruto desse clamor popular, resultado da
correlação de forças do período. Sendo que, no mesmo dia em que foi promulgada
(05 de outubro de 1988), Ulisses Guimarães, o então Presidente da Assembléia
Constituinte proferiu seu famoso discurso, onde enalteceu a nova Constituição
“cidadã”. Demonstrando que a nova Constituição, era voltada aos Direitos
Fundamentais, vejamos:

O Homem é o problema da sociedade brasileira: sem salário, analfabeto,


sem saúde, sem casa, portanto sem cidadania. A Constituição luta contra os
bolsões da miséria que envergonham o país. Diferentemente das sete
constituições anteriores, começa com o homem. Graficamente testemunha
a primazia do homem, que foi escrita para o homem, que o homem é seu
fim e sua esperança. É a Constituição cidadã.

Esse discurso demonstra de forma assaz solar o próposito da nova


Constituição, que mesmo correndo risco de não ser efetivada (por falta de interesse
político), assumiu uma postura voltada para o rompimento das desigualdades sociais
e para o respeito aos direitos fundamentais, bem como, todos os valores ligados à
dignidade da pessoa humana.
Percebe-se que o constituinte conferiu uma posição privilegiada aos direitos
fundamentais (pois estes agora se encontram no inicio da Constituição ao contrário
das constituições anteriores que traziam os direitos e garantias nos capítulos finais
dos textos constitucionais) e o principal os direitos fundamentais foram considerados
cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser abolidos nem mesmo por meio de
emendas constitucionais (art. 60, §4º, inciso IV).
23

Desta maneira, a Carta Magna de 1988, buscou em realizar a Igualdade na


Sociedade, através dos direitos sociais básicos, tentando realizar uma “igualdade
niveladora”.
Segundo Paulo Bonavides, por igualdade social ou igualdade material,
entende-se que “o Estado se obriga mediante intervenções de retificações na ordem
social a remover as mais profundas e pertubadoras injustiças sociais”.31
Ainda o mesmo jurista conclui que:

Se partirmos da consideração de que o princípio da igualdade –


desmembrável juridicamente numa série de pretensões – encerra em si as
noções fundamentais da justiça social, então o princípio da igualdade e os
direitos socias básicos devem tornar-se o critério da distribuição da
32
prestação estatal bem como do quantum dessa distribuição.

Ou seja, para buscarmos uma igualdade social, os direitos fundamentais do


Estado Social, deixam de ser limites, passam a ser valores basilares para a
administração e para legislação.
Sendo que, a igualdade social ou igualdade material faz livres aqueles que a
liberdade do Estado de Direito por ventura fizera súditos (como por exemplo, a
ditadura militar), tal assertiva pode ser confirmada pelo Juiz Leibholz da Corte
Constitucional da Alemanha, vejamos:

A desigualdade criada pela liberdade faz parecer problemática a largas


camadas o valor da liberdade. De tal sorte que o sentido profundo de um
igualitarismo político e social somente poderá ser o de transferir aquele que
a liberdade fez servo para uma situação em que outra vez e já agora com o
33
auxílio da igualdade, possa fazer um sensato uso da liberdade.

Desta maneira, resta claro que a Carta Magna de 1988 pretendeu não
apenas proclamar direitos, mas, sobretudo, concretizá-los.34 Pois sob a égide da
Constituição cidadã, o ordenamento jurídico brasileiro tornou-se notoriamente
comprometido com os direitos fundamentais, para isso basta fazermos uma simples
leitura do art. 3°, que traça os objetivos da República Federativa do Brasil. Lá está
escrito claramente que o papel do Estado brasileiro é acabar com a miséria e reduzir

31
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 2ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora: 2000, p.
379.
32
Ob. Cit., p. 379.
33
Gerhard Leibholz, “Die Freiheitliche und Egalitäre Komponente im modernen Parteiestaat”, in
Führung Bildung in der heutigen Welt, pp. 258 e ss. Apud Ob. Cit., p. 379.
34
“Os direitos fundamentais, em rigor, não se interpretam; concretizam-se” (BONAVIDES, Paulo.
Curso de Direito Constitucional. 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2000, p. 545.
24

as desigualdades sociais, demonstrando um inegável compromisso com a


transformação da sociedade.
Infelizmente, “o entusiamo que ocorreu com a promulgação da Constituição
de 1988 foi rapidamente transformado em decepção constitucional, ante a ausência
de compromisso político sincero em cumprir os ambiciosos objetivos previstos na
Carta Magna”35. Nesta senda, podemos nos utilizar da canção do poeta Renato
Russo: “Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação.
Que país é esse?”.
Em que pese o trecho da música supratranscrita, se faz mister ressaltarmos
que o papel das normas constitucionais – no caso em apreço os direitos
fundamentais – não é apenas o de retratar fielmente o mundo real, a Constituição
também deve servir para “fundamentar as esperanças” do povo (os princípios
constitucionais devem estar a meio caminho entre o idealismo e a conexão com a
realidade).36
Complementando o que foi outrora citado acerca do artigo 3º da Constituição
Federal, conforme lembra George Marmelstein37, o artigo 3º é um dos mais
importantes da Constituição Federal, quiça o mais importante, porque além das
garantias outrora citadas, o presente artigo consagra a chamada cláusula de
erradicação das injustiças presentes38, pois em que pese as diretrizes
socioeconômicas adotadas pelo Poder Público, os direitos fundamentais são uma
idéia reforçada na carta constituinte, mesmo não sendo um dado da realidade,
devem ser contantemente construídas.
Por fim, resta claro que a Constituição Federal de 1988, no que tange aos
direitos fundamentais e na igualdade social, está plenamente afinada com os
diversos tratados internacionais de direitos humanos.

35
MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo, Atlas Editora, 2009,
p. 70.
36
HABERLE, Peter. El estado constitucional europeo. In: Cuestiones Constitucionales – Revista
Mexicana de Derecho Constitucional. México: UNAM, n°2, 2002. Apud MARMELSTEIN, George.
Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo, Atlas Editora, 2009, p. 72.
37
Ob. Cit., p. 74.
38
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.”
25

Desta maneira, tendo em vista que já possuimos uma breve noção acerca
do princípio constitucional da igualdade, bem como, dos direitos fundamentais,
podemos passar a analisar a lei em espécie que será abordada no capítulo seguinte.
26

2 – O ARTIGO 9° DA LEI N.° 7.672/82: IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES


DE GÊNERO

Neste capítulo, tendo em vista que já foram analisados os conceitos


basilares essenciais para o dislinde do trabalho, será feito um aprofundamento no
que tange ao princípio da igualdade, pois agora, será abordada uma espécie de
igualdade, a igualdade de gênero.
Ainda, iremos tratar um pouco a respeito da Lei n° 7.672/82, a qual, em que
pese não haja doutrina específica, é possível que seja feita uma breve análise de
referida legislação, mais precisamente do artigo 9°, inciso I, o qual trata dos
dependentes assegurados.
Por fim, o presente capítulo irá aportar para o enfoque do trabalho, qual seja
se a referida legislação é inconstitucional ou não.

2.1 - A Igualdade nas relações de gênero

Inicialmente, impede nesta senda mencionar que, a discriminação em


relação ao gênero, sabidamente a que põe a mulher, de forma direta ou indireta, em
posição de inferioridade, advém das relações desiguais historicamente impostas aos
homens e mulheres ao longo dos tempos pelas sociedades.
Quando falamos em igualdade em relação ao gênero no direito brasileiro,
estamos nos referindo ao artigo 5°, inciso I, da Constituição Federal de 1988
(Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
constituição;); o que em outras palavras significa dizer que não pode haver
discriminação entre homens em mulheres.
Todavia, esta igualdade, não pode ser considerada de forma inflexível,
tornando-se um interpretação puramente objetiva da Constituição. Nesse sentido,
podemos citar um exemplo de controvérsia, vejamos:

Critério de admissão para concurso público: o Supremo Tribunal Federal


firmou entendimento no sentido de que não há violação ao princípio da
isonomia quando a discriminação tem como base a natureza das atribuições
e funções exercidas em razão do sexo. A matéria foi objeto da súmula 683
do Supremo Tribunal Federal. No mesmo sentido, decidiu a Corte Suprema
que a promoção de militares dos sexos masculino e feminino com critérios
27

diferenciados, no caso de carreiras regidas por legislação específica, não


39
caracteriza violação ao princípio da Isonomia.

Outro exemplo claro de desigualdade em relação ao gênero, é nossa própria


legislação, que ainda mantém desigualdades, tais como: o domicílio privilegiado da
mulher, em ações de separação e divórcio, o que a priori, contraria o preceito
constitucional de igualdade entre o gênero.
Desta forma, vemos que a constituinte preocupou-se tanto em condenar
qualquer tipo de distinção entre homens e mulheres, tanto que tirando o artigo já
citado, acrescentou o artigo 226, §5°, da Constituição Federal de 1988, que
prescreve a igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres diante do
casamento e da prole.
Entretanto, todo essa cautela em primar pela igualdade, não serviu de óbice
para o constituinte adotar algumas medidas de tratamento diferenciado, entre elas
podemos citar: licença-gestação para a mulher, com duração superior à da licença-
paternidade (artigo 7°, incisos XVIII e XIX); incentivo ao trabalho da mulher,
mediante normas protetoras (artigo 7°, inciso XX); prazo mais curto para a
aposentadoria por tempo de serviço da mulher (art. 40, inciso III, letras a, b, c e d;
art. 202, I, II, III e § 1°).
Ou seja, embora haja mecanismos permanentes para receber e transmitir,
com fidelidade, à vontade dos cidadãos, em igualdade de condições, destaca-se
como uma das principais condições da democracia representativa e confere
legitimidade ao processo político. A superação dos procedimentos pelos quais os
homens atribuem historicamente situações de inferioridade pretensamente naturais
às mulheres constitui ainda um dos mais difíceis desafios da democracia brasileira.
O que se almeja com esta assertiva é demonstrar que, embora o princípio da
igualdade seja historicamente consagrado em nossas Cartas Magnas, nem sempre
os aplicadores da lei entenderam assim. A primeira Carta Constitucional
Republicana, de 1891, declarava eleitores todos os cidadãos maiores de 21 anos
que se alistassem, na forma da lei, mas os aplicadores da norma entenderam que
ela expressava a intenção de excluir as mulheres. Nesse sentido, segundo Eliane
Cruxên que:

A luta da mulher brasileira pela cidadania plena só começou a produzir


resultados a partir da criação, em 1922, por Bertha Lutz, da primeira

39
AI 511.131 – AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 22-03-2005, DJ 15-04-2005.
28

organização de mulheres - a Federação Brasileira para o Progresso


Feminino -, cuja principal palavra de ordem era a conquista do direito do
voto em igualdade de condições com o homem. A primeira vitória da
organização ocorreu mais de dez anos após sua criação, quando, nas
eleições para a Constituinte de 1934, as mulheres conquistaram o
reconhecimento do direito de voto e a permissão de comparecerem às
40
urnas como eleitoras e como candidatas.

Destaca-se que atualmente não há igualdade em relação ao gênero em


nossa Carta Magna, pois o próprio texto constitucional prevê desigualdades, em que
pese essas desigualdades sejam excepcionais e possuam explicação racional, seja,
por natureza histórica, ou necessidade de readequação diante de uma possível
desigualdade feminina, essas exceções existem.
Conforme ensina José Afonso da Silva41, “onde houver um homem e uma
mulher, qualquer tratamento desigual entre eles, a propósito de situações
pertinentes a ambos os sexos, constituirá uma infringência constitucional.”
Assim, a priori não há razão para um critério discriminatório presente em
nossa Carta Constitucional.
Ainda, importa referir que o presente capítulo serve de base para o estudo
que será efetuado no próximo tópico, haja vista que o conceito de igualdade em
relação ao gênero é primordial para podermos fazer uma comparação entre o artigo
9° da Lei n° 7.672/82 e o Princípio da Igualdade.

2.2 – A relação entre o artigo 9° da Lei n° 7.672/82 e o Princípio da Igualdade

Antes de adentrarmos no estudo do artigo 9° da lei de previdência do Estado


do Rio Grande do Sul, se faz mister, analisarmos um pouco da Lei em espécie.
A previdência social em solo gaúcho iniciou-se pelo decreto 4.841, de 08 de
agosto de 1931, com a criação do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande
do Sul - IPERGS, no governo do General Flores da Cunha. de forma pioneira no
Brasil, direcionou suas finalidades somente para o pagamento de pensão aos
dependentes, em caso de morte do segurado e proteção assistencial aos segurados
e seus dependentes, previstas e ratificadas na Lei 7.672/82, artigos 1° e 2°, 19 e 20,

40
MACIEL, Eliane Cruxên Barros de Almeida. A Igualdade entre os Sexos na Constituição de 1988.
Buscalegis, Brasilia, maio/1997. Disponível em:
www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/.../14132. Acessado em 18 de novembro
de 2010.
41
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo: Malheiros
Editora, 2007, p. 75.
29

e jamais para aposentadoria dos servidores, conforme artigo 74, que diz: “O encargo
de aposentadoria dos servidores, segurados obrigatórios do Instituto, incumbe ao
Estado ou à Autarquia de que forem funcionários ou empregados.”
Nesta senda, podemos passar para análise do artigo 9°, sendo pertinente
que se faça a transcrição:

Art. 9º - Para os efeitos desta lei, são dependentes do segurado:


I - a esposa; a ex-esposa divorciada; o marido inválido; os filhos de qualquer
condição enquanto solteiros e menores de dezoito anos, ou inválidos, se do
sexo masculino, e enquanto solteiros e menores de vinte e um anos, ou
inválidos, se do sexo feminino.

Diante da transcrição do artigo acima exposto, apreendesse que são


considerados dependentes perante a lei, a esposa, a ex-esposa e os maridos
inválidos, ou seja, podemos evidenciar que a referida Lei independentemente da
idêntica contribuição dos segurados, ambos a priori parecem não possuir a mesma
titulação, pois os maridos somente serão amparados como pensionistas se inválidos
forem, o que a princípio destoa uma afronta a igualdade entre homens e mulheres.
Nesse contexto, que entra a relação do artigo com o princípio da igualdade,
pois independentemente a contribuição dos maridos, estes não irão receber o
auxílio, salvo se apresentarem alguma invalidez.
Logo o princípio da Isonomia, sua função de limitação ao legislador, bem
como, sua função de ser referencial hermenêutico, estão sendo desrespeitados,
conforme explica Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “É também um princípio de
interpretação. O Juiz deverá dar sempre à Lei o entendimento que não crie
privilégios, de espécie alguma. E, como o Juiz, assim deverá proceder todo aquele
que tiver de aplicar a lei”42.
Infelizmente não é o que vem ocorrendo em nossos julgados, vejamos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. PREVIDÊNCIA


PÚBLICA. PENSÃO. CÔNJUGE VARÃO. PRETENSÃO DE INCLUSÃO
COMO DEPENDENTE DE SUA ESPOSA. IMPOSSIBILIDADE. O MARIDO
SOMENTE TEM DIREITO DE SER INCLUÍDO COMO DEPENDENTE DE
SUA ESPOSA JUNTO AO IPERGS QUANDO INVÁLIDO (ART. 9º DA LEI
7672/82). NÃO PREENCHIDO TAL REQUISITO LEGAL, INVIÁVEL A
INCLUSÃO DO MARIDO COMO DEPENDENTE, UMA VEZ QUE NÃO HÁ
LEI ESPECÍFICA AUTORIZADORA. APELAÇÃO PROVIDA. REEXAME
NECESSÁRIO PREJUDICADO. (Apelação e Reexame Necessário Nº
70034669267, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Luiz Felipe Silveira Difini, Julgado em 14/04/2010).”

42
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 34 Ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 282.
30

E ainda:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDENCIÁRIO. IPERGS. PENSÃO


POR MORTE. INCLUSÃO DE MARIDO DE EX-SERVIDORA PÚBLICA
ESTADUAL COMO DEPENDENTE. A dependência econômica é condição
indispensável para o percebimento da pensão previdenciária pelo viúvo de
ex-segurada do IPERGS. Tendo em vista a ausência de comprovação da
dependência econômica pelo autor, não tem o direito ao recebimento do
benefício de pensão por morte. Apelo desprovido, por maioria. (Apelação
Cível Nº 70032594061, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em 24/02/2010)”.

Desta maneira, evidenciamos a ligação do princípio da igualdade com o


artigo 9° da Lei n° 7.672/82, pois o artigo desrespeita claramente os preceitos
constitucionais.
Assim, no próximo tópico analisaremos se o referido artigo é realmente
inconstitucional ou não.

2.3 – A (in) constitucionalidade do artigo 9° da lei n° 7.672/82

Através, da fundamentação exposta até o presente momento, vislumbrasse


uma forte e aparente inconstitucionalidade, pois o Instituto Previdenciário do Estado
do Rio Grande do Sul tinha como intuito amparar os funcionários públicos e suas
famílias.
Entretanto, ao amparar somente as mulheres em caso de uma possível
pensão por morte, acabou esquecendo a fundamentação de sua criação, pois ao
omitir o homem sadio de seu ordenamento, acabou por ocasionar um prejuízo
imensurável a inúmeras famílias que são prejudicadas até os dias atuais, haja vista
que diante de um falecimento da matriarca o restante da família ficará desamparado.
Não podemos esquecer, que a mulher funcionária pública estadual é tão
segurada do sistema previdenciário estadual quanto os servidores homens, vez que
tanto um como outro, arcam com o custeio nas mesmas proporções.
Partindo desta breve análise, devemos relembrar que "A Constituição
Federal estabeleceu igualdade entre homens e mulheres, sem distinção de qualquer
espécie, incluindo-se aí os direitos relativos à saúde e à previdência social (art. 5,
caput, inciso I e art. 6º)”.
No mesmo sentido, a Constituição Federal de 1988 em seu art. 201, inciso
V, prevê o pensionamento para homens e mulheres, decorrentes de óbitos de
31

segurado(a), cuja concessão independe do sexo. Logo, a regra constitucional


insculpida no inciso V do art. 201 citado, deu igualdade de tratamento no que pertine
à independência previdenciária.
Desta maneira, para à ordem previdenciária, tanto a mulher é dependente do
homem, como o homem é da mulher.
Ainda, percebemos que o Instituto Previdenciário Gaúcho (IPERGS), mais
precisamente a legislação gaúcha advém de uma formação social e cultural, na qual
a figura masculina sempre foi proeminente em relação à presença feminina,
entendida, por vezes como antiquada. Assim, se constata que homem perante a
sociedade, era o responsável pela mantença do lar, dono absoluto e senhor
incontestável e, a mulher tinha o papel de organização do lar e o cuidado com os
filhos.
Ocorre que, com o passar do tempo a sociedade em geral passou por
grandes modificações e, na atual sociedade a mulher passou a ter um espaço maior,
com participação ativa no mercado de trabalho e nesse sentido, nossa Carta Magna
estabelece no art. 226, § 5º que os direitos e deveres inerentes à sociedade conjugal
são exercidos de igual para igual, pelo homem e pela mulher, fazendo desaparecer
a figura do “cabeça do casal”.
Conforme demonstrado, no que pertine aos direitos sociais e ao direito
previdenciário, o instituto estadual é anterior ao texto constitucional, logo podemos
dizer que o mesmo é “obsoleto” perante a Carta Magna.
Como se não bastasse, o sistema previdênciário estadual contempla uma
vergonhosa desigualdade, pois traz três categorias de beneficiários em seu artigo 9°,
conforme voto proferido pelo Des. Genaro José Baroni Borges, são eles:

Uma, a de servidores públicos homens cujas mulheres são suas


dependentes, sem questionar se são sadias ou não: outra, a de servidoras
públicas cujos maridos ou companheiros são dependentes, por inválidos
(Lei 7.672/82): por último, servidoras públicas cujos maridos ou
43
companheiros, por sadios, não são habilitados como dependentes.

E complementa de forma brilhante, vejamos: “De tudo isso decorre: I - a


recusa ao pensionamento ou à inclusão do marido como dependente da mulher,
afronta a garantia constitucional de igualdade entre homens e mulheres”.

43
Apelação n° 70035138312, Relator Genaro José Baroni Borges, julgada em 19 de maio de 2010,
DJ 26 de maio de 2010.
32

Como chegamos a conclusão de que realmente o artigo contempla uma


desigualdade absurda, isso Celso Antonio Bandeira de Mello, nos ensina de forma
clara, vejamos:

Há ofensa ao princípio constitucional da Isonomia quando:


I. A norma singulariza atual e definitivamente um destinatário
determinado, ao invès de abranger uma categoria de
pessoas, ou pessoa futura e indeterminada;
II. A norma adota como critério discriminador, para fins de de
diferenciação de regimes, elemento não residente nos fatos,
situações ou pessoas por tal modo desequiparadas. É o que
ocorre quando pretende tomar o fator “tempo” – que não
descansa no objeto – com critério diferencial.
III. A norma atribui tratamentos jurídicos diferentes em atenção a
fator de discrímen adotado que, entretanto, não guarda
relação de pertinência lógica com a disparidade de regimes
outorgados;
IV. A norma supõe relação de pertinência lógica existente em
abstrato, mas o discrímen estabelecido conduz a efeitos
contrapostos ou de qualquer modo dissonantes dos
interesses prestigiados constitucionalmente.
V. A interpretação da norma extrai dela definições, discrímens,
desequiparações, que não foram professadamente
assumidos por ela de modo claro, ainda que por via
44
implícita .

Assim, fica claro que a Lei nº 7.672/82, por sua vez, trata diferentemente o
homem e a mulher. À mulher é reconhecido o direito à pensão sempre. Já ao
homem, o direito só alcança os inválidos e dependentes economicamente, nos
termos do artigo 9º, inciso I, e § 5º da Lei.
Ou seja, o fato de o marido necessitar demonstrar sua invalidez afronta
claramente o príncipio constitucional da isonomia, pois para a mulher o mesmo não
é exigido, o que demonstra de forma cristalina a dispariedade.
Assim, em que pese o caráter repetitivo, fica claro que o artigo da Lei é
inconstitucional.
Desta maneira, no próximo capítulo faremos uma análise de caso, levanto
em consideração os temas outrora analisados em comparação com a decisão que
serviu de escopo para o presente trabalho.

44
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª Ed. São
Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 47-48.
33

3 – ANÁLISE JURÍDICA DA DECISÃO: O FUTURO DA LEGISLAÇÃO


PREVIDENCIÁRIA GAÚCHA

Neste capítulo, será analisada a legislação que motivou o presente trabalho,


bem como, o futuro da legislação previdenciária gaúcha, mas antes de se estudar o
caso específico, foi feita uma breve análise histórica acerca da evolução da
jurisprudência em relação ao tema proposto, onde iremos vislumbrar de forma assaz
solar como os julgadores gaúchos se coadunaram ao pensamento do Supremo
Tribuanl Federal.
Em um segundo momento, foi feito o estudo do caso específico, onde para
tanto foi utilizado material doutrinário, bem como, entrevista realizada com a
julgadora e jurisprudências elucidativas.
Por fim, o presente capítulo a título de curiosidade esclarece o futuro da
legislação previdenciária gaúcha, apontando o que vem ocorrendo e o que está por
vir.

3.1 – Breve análise histórica da jurisprudência relacionada ao Instituto da


Previdência Gaúcha

Antes de analisarmos a decisão que motivou o presente trabalho, mister se


faz uma breve análise histórica da jurisprudência relacionada ao Instituto da
Previdência Gaúcha, mais precisamente no que tange à habilitação do homem como
dependente da mulher segurada.
Primeiramente, aqui importa referir que falamos de julgados anteriores a
Emenda Constitucional de 1998 onde os Julgadores gaúchos tinham um
pensamento quase uníssono se assim pode-se dizer, pois entendiam que a Lei não
deveria se sobrepor a Carta Magna, logo desconsideravam os preceitos estaduais e
acabavam por aplicar os preceitos constitucionais, nesse sentido, vejamos:

EMENTA: PREVIDENCIA SOCIAL. PENSAO POR MORTE DE


SEGURADA DO IPERGS. MARIDO COMO BENEFICIARIO.
POSSIBILIDADE. UMA VEZ QUE A CONSTITUICAO FEDERAL, ATRAVES
DE SEUS ARTS. 5, I E PAR-1, 6, 201, V E 226 E PAR-5, AO TRATAR DOS
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, COM EXTENSAO A
PREVIDENCIA SOCIAL E A FAMILIA, ESTABELECE A IGUALDADE DE
DIREITOS E OBRIGACOES ENTRE O HOMEM E A MULHER, NAO PODE
O MARIDO SER IMPEDIDO DE CONSTAR COMO BENEFICIARIO DE
34

PENSAO POR MORTE DE SEGURADA DO IPERGS. RESTRICAO DA LEI


ESTADUAL N 7672/82, SO ADMINTINDO, COMO DEPENDENTE, O
MARIDO "INVALIDO" NAO SE COADUNA COM A CONSTITUICAO
FEDERAL, RESTANDO, NESSE PONTO, DERROGADA. APLICACAO
IMEDIATA DE NORMAS DEFINIDORAS DOS DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS. VOTOS VENCIDOS. EMBARGOS INFRINGENTES
DESACOLHIDOS. (Embargos Infringentes Nº 597097674, Primeiro Grupo
de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tupinambá Miguel
Castro do Nascimento, Julgado em 03/10/1997)

E como forma complementar, também nesse sentido, temos:

EMENTA: PREVIDENCIA. BENEFICIO PREVIDENCIARIO. PENSAO.


CONJUGE VARAO. DIREITO A PERCEPCAO DOS BENEFICIOS
PREVIDENCIARIOS EM IGUALDADE DE CONDICOES COM O CONJUGE
MULHER. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA, EM IGUALDADE
DE CONDICOES, SEM DISTINCAO DE QUALQUER NATUREZA, ENTRE
HOMEM E MULHER, ESTAO ASSEGURADOS PELA LEI FUNDAMENTAL,
ENTRE OUTROS, OS DIREITOS SOCIAIS RELATIVOS A SAUDE E A
PREVIDENCIA, CUJO EXERCICIO, EM FACE DE SISTEMA DE
PREVIDENCIA E ASSISTENCIA DO ESTADO, EXISTENTE DE HA MUITO
TEMPO, INDEPENDE DE LEI INFRA-CONSTITUCIONAL ESPECIFICA,
PORQUANTO O DIREITO EMERGE DA PROPRIA CONSTITUICAO E, NA
HIPOTESE DOS AUTOS, A PARTIR DO ADVENTO DA CARTA ESTADUAL.
DIREITO RECONHECIDO, DO CONJUGE MULHER, CONTRIBUINTE
COMPULSORIO DO IPERGS, DECLARAR O MARIDO COMO SEU
DEPENDENTE, PARA EFEITOS DE USUSFRUIR DOS BENEFICIOS
INSTITUIDOS PELA LEI N-6672/82 E ALTERACOES SUBSEQUENTES, A
PARTIR DA VIGENCIA DA CONSTITUICAO DO ESTADO. INCIDENCIA
DOS ARTS 5, CAPUT, INC-I, E PAR-1, 6, 201, V, E 226, PAR-5, DA
CONSTITUICAO DA REPUBLICA E DOS ARTS-41 E 42, DA
CONSTITUICAO DO ESTADO. PRECEDENTES DA CORTE. EMBARGOS
INFRINGENTES DESACOLHIDOS. (Embargos Infringentes Nº 597035377,
Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Salvador Horácio Vizzotto, Julgado em 01/08/1997)

Como percebemos nos julgado supratranscritos, os Julgadores da época


entendiam a Lei maior deveria prosperar diante de tal desigualdade.
Entretanto, após a Emenda Constitucional de 1998, os Julgadores
começaram a adotar um outro pensamento, bem como, começaram a indeferir a
concessão do benefício aos conjuges varões, nesse sentido, podemos analisar a
seguinte decisão:

EMENTA: PREVIDENCIA ESTADUAL. PEDIDO DE INSCRICAO DO


HOMEM, PELO SO FATO DE SER CONJUGE, EM RELACAO A
SEGURADA MULHER. PRINCIPIOS DA IGUALDADE E DA FONTE DE
CUSTEIO TOTAL, E A QUESTAO PREVIDENCIARIA. VOTO VENCIDO. 1.
PRINCIPIOS DA IGUALDADE. A IGUALDADE CONSAGRADA NO ART-5,
'CAPUT', E INC-I, DA CF, SE REFERE A ONTOLOGICA, PELA QUAL SE
REPUDIA APENAS A DESIGUALDADE COM SENTIDO
DISCRIMINATORIO, ENQUANTO SER HUMANO. A IGUALDADE DE
DIREITOS E DEVERES CONSAGRADA NO ART-226, PAR-5, DA CF, SE
REFERE EXCLUSIVAMENTE A SOCIEDADE CONJUGAL. 2. A QUESTAO
35

PREVIDENCIARIA E A FONTE DE CUSTEIO TOTAL. A QUESTAO


PREVIDENCIARIA ENTRE OS CONJUGES SE RESOLVE PELOS ART-
201, V, COMBINADO COM O ART-195, PAR-5, AMBOS DA CF, PELOS
QUAIS RESULTA QUE OS PLANOS DE PREVIDENCIA SOCIAL,
MEDIANTE CONTRIBUICAO, ATENDERAO, NOS TERMOS DA LEI, A
PENSAO POR MORTE DO SEGURADO, SEJA ELE HOMEM OU
MULHER, AO CONJUGE OU COMPANHEIRO E DEPENDENTES, MAS
NENHUM BENEFICIO OU SERVICO DA SEGURIDADE PODE SER
CRIADO, MAJORADO OU ESTENDIDO SEM A CORRESPONDENTE
FONTE DE CUSTEIO TOTAL. POR CONSEGUINTE, SEM PREVIA LEI
QUE FORNECA A FONTE DE CUSTEIO TOTAL, NAO E POSSIVEL
ESTENDER BENEFICIO A CATEGORIA DE PESSOA NAO
CONTEMPLADA NA LEGISLACAO VIGENTE, COMO E O CASO, NA
ESTADUAL, DA INSCRICAO DO HOMEM, PELO SO FATO DE SER
CONJUGE, EM RELACAO A SEGURADA MULHER. 3. APELACAO
PROVIDA. VOTO VENCIDO. REEXAME PREJUDICADO. (11FLS.)
(Apelação Cível Nº 599101938, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator Vencido: Leo Lima, Redator para Acordão: Irineu Mariani,
Julgado em 05/05/1999)

Vejamos que o pensamento dos Julgadores começou a direcionar-se no


sentido de que tendo em vista que a Legislação Estadual não contempla o homem
sadio como dependente segurado, bem como, possivelmente não há fonte de
custeio para “abarcar” os varões, estes não teriam como serem beneficiados por tal
benefício.
Nesta senda, importa referir que este pensamento perdurou por anos, como
podemos acompanhar pelos seguintes votos:

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES. DIREITO PREVIDENCIARIO.


IPERGS. INCLUSAO DO MARIDO COMO DEPENDENTE DA MULHER.
AUTO-APLICABILIDADE DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. I- A
RECUSA AO PENSIONAMENTO OU A INCLUSAO DO MARIDO COMO
DEPENDENTE DA MULHER, AFRONTA A GARANTIA CONSTITUCIONAL
DE IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES. II- NAO HA FONTE DE
CUSTEIO ESPECIFICA PELO NUMERO DE DEPENDENTES. O CUSTEIO
E SOBRE A REMUNERACAO. III- EMBARGOS DESACOLHIDOS. (7FLS)
(Embargos Infringentes Nº 70000477596, Primeiro Grupo de Câmaras
Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Genaro José Baroni Borges,
Julgado em 17/03/2000)

Também nesse sentido:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO: EXTENSÃO


AO VIÚVO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE. NECESSIDADE DE LEI
ESPECÍFICA. I- A extensão automática da pensão ao viúvo, em decorrência
do falecimento da esposa-segurada, assim considerado aquele como
dependente desta, exige lei específica, tendo em vista as disposições
constitucionais inscritas no art. 195, caput, e seu § 5º, e no art. 201, V, da
Constituição Federal. II. - Agravo Regimental improvido.

(AI 538673 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira


Turma, julgado em 22/05/2007, DJe-047 DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-
06-2007 DJ 29-06-2007 PP-00040 EMENT VOL-02282-17 PP-03548 RT v.
96, n. 866, 2007, p. 120-122)
36

Assim sendo, percebemos que durante muitos anos o pesamento dos


Julgadores perdurou de forma imutável, ou seja, os benefícios continuaram não
sendo destinados aos cônjuge varões por diversos motivos, entre eles o que mais se
destaca é a falta de previsão legal.
Desta maneira, todos os julgados servirão para demonstrar e fundamentar a
escolha do julgado que será analisado no próximo capítulo, pois graças a ele os
pensamentos do Supremo Tribunal Federal, bem como, o pensamento dos Juízes
Estaduais foi modificado e hoje a jurisprudência é farta no sentido de apontar a total
desigualdade presente na lei e reconhece a necessidade de dependência do
cônjuge varão independente de qualquer comprovação.

3.2 – Previdência Gaúcha frente à Carta Constitucional

Primeiramente, mister se faz salientar que a decisão que será colocada em


análise, foi proferida pela Dra. Cíntia Teresinha Burhalde Mua, no processo n°
087/1.08.0003724-9, a escolha desta decisão se deve ao fato de que o pensamento
da Ilustre Magistrada contrariou o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e
reconheceu o direito do cônjuge varão como dependente da cônjuge virago.
Recebendo os holofotes do judiciário, sendo inclusive notícia no site do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.45
Nesse sentido, podemos passar à análise da decisão, a qual será
desmembrada para melhor compreensão, vejamos:

“Vistos etc.
Cuida-se de ação ordinária para concessão de pensão por morte
ajuizada por JOSÉ TEODORO ALVES em face do INSTITUTO DE
PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, ambos já
qualificados nos autos.
A inicial, que atende os predicados do artigo 282, CPC, veio instruída
com procuração e documentos, havendo petição pela concessão dos
benefícios da AJG e pedido de antecipação de tutela, sendo deferido o
primeiro e indeferido o segundo pleito (fl. 23).
Citado, o IPERGS contestou, incorrendo em erro material ao anunciar
que o óbito ocorreu em 11/04/04 (fl.29), quando de fato se houve em
09/04/2007, fl. 15, concordando em parte com o pedido, para que,
concedido o benefício, seja aplicado o redutor previsto no artigo 40, § 7º da

45
QUADROS, Mariane Souza de. Concedida pensão por morte de segurada do IPERGS a
companheiro sadio, Disponível em:
http://www1.tjrs.jus.br/site/imprensa/noticias/#../../system/modules/com.br.workroom.tjrs/elements/noti
cias_cont roller.jsp?acao=ler&idNoticia=115301, Acessado em 23 de novembro de 2010.
37

Constituição Federal.
Houve réplica.
Relatei. Decido.
Num país em que a taxa de natalidade decresce continuadamente,
projetando num futuro próximo população predominantemente madura, as
discussões em matéria previdenciária têm ocupado posição de destaque no
cenário do debate nacional...”

Primeiramente, vê-se a preocupação com a taxa de natalidade, nesta senda,


mister se faz salientar que segundo dados coletados no site do IBGE 46:

Em 2000 manteve-se a tendência histórica de predominância feminina na


população total: para cada 100 mulheres havia 96,93 homens, ou seja,
havia um excedente de 2 647 140 mulheres em relação ao número total de
homens. Sendo que, embora nasçam mais homens do que mulheres,
morrem menos mulheres do que homens: a porcentagem de homens que
morrem entre os 10 e 50 anos é maior do que a de mulheres, sendo esta
diferença (sobremortalidade masculina) devida às mortes por causas
violentas, principalmente entre os mais jovens.

Ainda, nesse sentido se faz imperioso frisarmos um outro dado impactante


pois:

... até o início dos anos 80, a estrutura etária da população brasileira,
revelada pelos Censos Demográficos, vinha mostrando traços bem
marcados de uma população predominantemente jovem. A generalização
das práticas anticonceptivas durante os anos 80 resultou no declínio da
natalidade, o que se refletiu no estreitamento da base da pirâmide etária e
na redução do contingente de jovens, com aumento da população madura,
em especial a população feminina.47

Logo, conclui-se que os homens estão vivendo menos que as mulheres e


essas por sua vez são maioria no cenário nacional. Assim seguimos com a decisão,
vejamos:

... Sob o ponto de vista jurídico, dentre as várias questões em voga, reputo
preocupante a situação de franca desigualdade que grassa à luz da
interpretação corrente da Lei Estadual nº7.672/82. Dita normativa prescreve,
em seu artigo 9º, para o fim de guindar à condição depensionista, a
presunção de dependência econômica da esposa (inciso I) ou da
companheira (inciso II) – sadias ou não -- dos segurados do IPE, ao passo
em que, mesmo à luz de idêntica contribuição das seguradas, igual titulação
aos seus maridos é assegurada se – e apenas se -- houver invalidez,
restando a situação dos companheiros à míngua de regulamentação.
Honrando a sua tradição de vanguarda, o Judiciário gaúcho fez a leitura em
consonância com a Magna Carta (v.g,: Apelação Cível Nº 599302726,
Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

46
Censo Demográfico 2000 - Características da População e dos Domicílios. Resultados do Universo.
IBGE, 2001, Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Acessado
em 23 de novembro de 2010.
47
Censo Demográfico 2000 - Características da População e dos Domicílios. Resultados do Universo.
IBGE, 2001, Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Acessado
em 23 de novembro de 2010.
38

Francisco José Moesch, Julgado em 27/10/1999), mas ao depois curvou-se


ao entendimento do STF que, ao apreciar Recurso Extraordinário nº RE
204.735-RS, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 28-1-01,
entendeu que a pensão aos maridos sadios (e, por extensão, aos
companheiros sãos) das seguradas do Instituto de Previdência do Estado
depende da edição de lei específica e de contribuição bastante, conforme o
art. 195, caput, e seu § 5º, e o art. 201, V, da CF (observado o ditado da
Emenda Constitucional 20/98, que lhe deu nova conformação), não sendo
possível a interpretação extensiva do artigo 9º, I, da Lei Estadual nº
7.672/82; ademais, em voto-vista, o Ministro Nelson Jobim entendeu que
sequer a presunção legislativa em favor da viriago se justifica à luz do
contexto sócio-econômico e constitucional atual...

Sobre esta parte da decisão se faz mister trazermos a lume trecho da


entrevista realizada com a Dra. Cíntia Teresinha Burhalda Mua, a qual justifica de
forma mais exemplificada essa fundamentação, vejamos:

Na verdade antes da emenda constitucional de 98 o entendimento do STF


era no mesmo sentido da decisão proferida. Os óbices ocorridos após a
emenda constitucional de 98 é que resultaram nessa polêmica. Então, eu
acho que é importante se fazer um divisor de águas do posicionamento do
STJ até a emenda constitucional 98, ou seja, para os óbitos ocorridos até
então e para o segundo momento que seria após a emenda constitucional
de 98. Na verdade, a situação que envolve a decisão ela tem respaldo na
constatação
Pausa...
Então, como dizia, o lastro da decisão teve por constatação que apenas no
Rio Grande do Sul havia essa discriminação, nós temos a contribuição
previdenciária recolhida de forma igualitária entre os contribuintes varões e
as contribuintes mulheres, na expectativa pelo principio da solidariedade de
obtermos em caso de falecimento os nossos habilitados a pensão
receberem o mesmo tratamento. Fizemos uma pesquisa junto a Lei 8.112
que preve tranquilamente essa hipótese o conjuge ou companheiro como
beneficiário também o regime geral da previdência social pela Lei 8.213/91,
também preve de forma tranquila e tinhamos encontrado em um momento
da decisão apenas aqueles precedentes do supremo antes da emenda
48
constitucional de 98 .

Sobe esta ótica, o que se vê, é que em um primeiro momento os Tribunais


Gaúchos, tentaram utilizar uma analogia e aplicar o princípio da igualdade constante
em nossa Carta Magna, entretanto, o Supremo Tribunal Federal entendeu não ser
possível tal posicionamento; o que acabou por “restringir” os julgadores Gaúchos
que acabaram por se coadunarem e decidir de igual forma.

Entretanto, após a Constituição Federal de 1988, o Supremo Tribunal


Federal, começou a rever seus conceitos e fazer uma interpretação mais benéfica do
artigo 9ª da Lei 7.672/82, aludindo que o cônjuge varão poderia ser dependente da

48
MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom
[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da
Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.
39

cônjuge virago, desde que demonstrasse ser “inválido”, ou seja, para os Ministros do
Supremo, o varão deveria demonstrar que dependia economicamente da cônjuge
virago, nesse sentido, vejamos:

EMENTA: A extensão automática da pensão ao viúvo em decorrência do


falecimento da esposa-segurada, assim considerado aquele como
dependente desta, exige lei específica, tendo em vista as disposições
constitucionais inscritas no art. 195, caput, e seu § 5º, e art. 201, V, da
Constituição Federal. Em obediência ao princípio da isonomia, o homem e a
mulher têm que demonstrar a dependência econômica pelo fato de que,
com o advento da Constituição de 1988, a dependência econômica não
mais se presume. Inexistência de omissão no acórdão embargado.
49
Embargos rejeitados.

O que de certa forma continuou contribuindo para desigualdade, pois para a


mulher sadia não se faz necessário nenhuma demonstração de depêndencia,
entretanto o homem necessita passar por um processo vexatório que demonstre de
forma clara sua hipossuficiencia para sustentar o “lar”. Nesse passo, continuamos
com a análise da decisão:

[...]Na mesma senda do que já foi decidido aqui em nosso torrão, penso não
se pode ignorar que, hodiernamente, segurados e seguradas têm idêntico
desconto previdenciário --- perfilado em percentual fixo sobre os
vencimentos (ou subsídios), independentemente da existência ou não de
dependentes e à extensão do seu rol, em os havendo ----, sendo que os
primeiros têm a certeza que tal rubrica garantirá o pensionamento às suas
esposas ou companheiras sobrevivas, sadias ou não, enquanto que as
segundas tem de conviver com a possibilidade de deixar os seus ao
desabrigo quando de seu passamento. Ou seja: as seguradas concorrem
para o financiamento da pensão da cônjuge/companheira de seus iguais (os
servidores varões) – sejam elas capazes ou incapazes, economicamente
ativas ou não --, mas outrotanto não recebem em reciprocidade!...

Logo, o argumento exposto pelo Supremo Tribunal Federal para limitar a


concessão do benefício é um argumento falho, conforme pensamento da
Magistrada, que deixou cristalino isso na entrevista realizada, vejamos:

[...] quanto aos argumentos mais falhos penso que justamente é a leitura
errada, penso que preconceituosa do conceito de dependencia economica
para fins previdenciários. Então, se uma magistrada casada com um
magistrado pode receber o benefício de pensão por morte sem qualquer
questionamento que basta o requerimento administrativo e ela vai percebê-
lo e assim ocorrerá com as promotoras, defensoras públicas, advogadas da
união, enfim, quaisquer, não é razoável imaginar-se que o varão, que seja o
conjuge superstice não possa ter o mesmo beneficio e veja não é uma
questã de interesse apenas do conjuge superstice, mas o respeito pelas

49
RE 194854 AgR-ED, Relator(a): Min. NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em 22/10/2002,
DJ 29-11-2002 PP-00041 EMENT VOL-02093-02 PP-00293
40

contribuições regiamente pagas pela extinta, porque não raro nós temos
hoje núcleos familiares que mesmo os filhos já terem trabalho e familia
constituida, muitas vezes os pais continuam provendo direta ou
indiretamente.
Então na verdade, esse aniquilamento de um beneficio para o qual se
concorreu pagando as contribuições, então fonte de custeio existe, então
esse é outro argumento falho do STF, porque nós pagamos todos os meses
cogentemente, então nós estariamos fazendo com que aquele núcleo
familiar que já não tem mais a concorrência daquele valor parcial do gerir,
tenha que se desfazer de patrimonio, tenha que modificar padrão de vida e
certamente o extinto não se sente em paz para morrer. Se sente totalmente
intranquilo e se sente perplexo diante de uma situação discriminatória que a
50
mim abomina .

Diante da brilhantíssima justificativa, não se faz mister adentrarmos em


análise mais acurada de tal argumentação, que destoa de uma total desigualdade.
Desta maneira, passemos a parte final da decisão em liça:

[...] Com a devida vênia, e lembrando que a decisão do Supremo Tribunal


Federal em testilha (e outras a ela similares, e.g., RE 203.250-RS, 1ª
Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 1º-2-02, e o RE 208.618-5-RS,
Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 30/05/2001) não têm força
vinculativa, abrindo ensejo para a crítica técnico-discursiva, com suporte no
uso público da razão e na exegese a contrário senso do artigo 36, III,
LOMAN, a lei estadual reclamada existe, bastando que seja interpretada
consoante a Constituição da República, rejeitando-se a discriminação em
razão do gênero, estendendo-se ao marido (ou companheiro) supérstite,
independentemente de incapacidade (tal qual se faz em relação à cônjuge
ou à companheira do segurado extinto), a condição de beneficiário da
pensão pela morte da segurada vinculada ao IPE; a fonte de custeio existe,
uma vez que as seguradas adimplem regiamente a idêntica contribuição
que é descontada dos seus pares (cujo montante tem sido bastante para o
pagamento da pensão vitalícia, pelo evento morte, às suas consortes ou
companheiras, sadias ou não), não havendo desta feita qualquer entrave
para o pagamento do pensionamento aos maridos ou companheiros sadios
daquelas, à luz do sistema jurídico vigente, mesmo após a EC 20/98.Calha
trazer à liça, na trilha posta, excerto do voto-vista do Ministro Marco Aurélio,
exarado no RE-AgR 385397-MG, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJU 06/09/2007, com a lucidez que lhe é peculiar:“Cumpre
indagar: o teor da Carta de 1988 distingue o sexo no que refere à pensão?
A resposta é negativa. No inciso V do artigo 201 da Constituição Federal,
previu-se a pensão por morte ao segurado, homem ou mulher, ao cônjuge
ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º" - este último
preceito noticia a impossibilidade de o benefício ser inferior ao salário-
mínimo.Vale dizer que, nos termos da própria Constituição Federal, a
pensão é devida ao cônjuge supérstite, independentemente do sexo. Se
servidor homem, é devida à mulher; se servidora, é devida ao homem,
cônjuge ou companheiro. Surge a questão alusiva à fonte de custeio. A
ordem natural das coisas revela-a preexistente. A contribuição devida pelo
servidor, homem ou mulher, cobre a pensão, pouco importando o
dependente que dela venha a usufruir. (...) Repita-se, esta já existia e visava
a satisfação do benefício, mostrando-se irrelevante, no caso, o fato de o
titular do direito ser o viúvo ou a viúva. A não se entender assim, ter-se-á de

50
MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom
[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da
Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.
41

concluir que, relativamente à própria viúva, não haveria a cobertura, pela


contribuição, do ônus atinentes à pensão, já que, a esta altura, não se pode
proclamar a adequação de tratamento diferenciado no tocante aos
contribuintes conforme se trate de homem ou mulher, ou seja, a
possibilidade de vir-se a cobrar contribuição maior do servidor do sexo
feminino, objetivando o recebimento da pensão pelo viúvo. Mais do que
isso, a regra do artigo 195, § 5º, da Constituição Federal (...) fez-se com
visão prospectiva, ou seja, direcionada à atividade legiferante posterior,
implementada no campo ordinário.

Conforme percebemos pelo trecho acima, inexiste motivo para que o homem
não seja dependente, pois conforme muito bem explanado pela Ilustríssima
Julgadora à Constituição Federal não faz distinção. E continua:

Não diz respeito aos benefícios previstos na própria Constituição


Federa(...) Em síntese, até aqui prevaleceu, no que tange quer à norma do
artigo 40, § 3º, quer à do artigo 201, §§ 5º e 6º, da Constituição Federal, a
dispensa da fonte de custeio, sendo que, a partir de regra comezinha de
hermenêutica e aplicação do Direito, não cabe distinguir relativamente ao
inciso V do mesmo artigo 201 referido. (...)”.
Nem se diga que a tradição sociológica do homem como cabeça do
casal sustenta tal desiquilíbrio, posto que, à luz da Constituição-Cidadã,
homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, preceito que orbita
no entorno da orla dos indivíduos em suas multifacetadas acepções
(enquanto filhos, pais, cônjuges, companheiros, beneficiários da previdência
social pública ou privada, entre tantas fisionomias).
De outra banda, não vislumbro qualquer teratologia na presunção
legislativa em favor da mulher dos segurados (artigo 9º, I, da Lei Estadual nº
7.672/82), posto que os que vivem atrelados pelo casamento ou pela união
estável compartem o dever da mútua assistência, obrigação que também se
desdobra na compulsoriedade do custeio da previdência, não se podendo
admitir que a contribuição de uma vida inteira transforme-se em um nada
jurídico para alguns dos integrantes do mesmo grupo, corporificando
discrímen irrazoável entre iguais, redundando na quebra da solidariedade
que se constitui na pedra-de-toque de qualquer sistema previdenciário.
Neste diapasão, não desponta demasiado mencionar que a Lei 8.112,
de 11.12.90, que dispõe sobre o regime jurídico dos Servidores Públicos
Civis da União, das autarquias e das funções públicas federais, estabelece
o(a) cônjuge (art. 217, I, "a") ou o(a) companheiro(a) – art. 217, I, "c" --
como beneficiário(a) da pensão vitalícia pela morte do segurado(a),
independentemente da prova de dependência econômica; o Regime Geral
da Previdência Social segue a mesma linha filosófico-sociológica (artigo 16,
I c/c artigo 74, ambos da Lei 8.213/90).
Dessarte, é possível entender que a Lei Estadual em epígrafe -- em
vigor na data de sua publicação (18/06/82), à exceção do benefício de
pensão pós morte, cuja vigência retroagira a 1º de janeiro de 1982
(consoante seu artigo 82) --, ao circunscrever ao marido inválido a
possibilidade de habilitação à pensão por morte da segurada, labora em
franca contrariedade com a CF/88, devendo ser tida como derrogada pelo
Texto (já que seria atécnico falar-se em inconstitucionalidade de norma
anterior à Constituição), o que estabelece a possibilidade de estender-se
aos maridos/companheiros sadios das seguradas a qualidade de
beneficiários da pensão pela morte das extintas, porquanto o benefício
independe de interpolação legislativa e há fonte de custeio preexistente;
ainda, inexistindo exclusão por outra classe, tampouco deverá haver
prejuízo à habilitação do ex-consorte ou do ex-convivente da extinta, se em
vida esta lhe prestava alimentos...”
42

Assim, percebemos que a Legislação Previdenciária Gaúcha é totalmente


discriminatória, quiçá, a única em nosso ordenamento juídico que contempla tal
desigualdade.
Tanto, que assim como a Lei 8.112/90, citada na decisão em tela, a Lei
8.213/91, em seu artigo 16, não faz qualquer critério discriminatório no quesito
dependência econômica, bem como, Também em seu art. 201, inciso V, prevê a
Carta Magna o pensionamento para homens e mulheres, decorrentes de óbitos de
segurado, cuja concessão independe do sexo.
Desta maneira, como outrora citado no capítulo 2, a Constituição Federal de
1988, é cristalina quando estabelece no art. 226, § 5º que os direitos e deveres
inerentes à sociedade conjugal são exercidos de igual para igual, pelo homem e pela
mulher, o que afasto por completo a necessidade de demonstração de dependêcia
por parte do varão.
Assim, a Dra. Cintía Teresinha Burhalde Mua, conclui sua decisão,
entendendo que a lei gaúcha é inconstitucional e se posiciona no sentido de aplicar
a Carta Magna, uma vez que homens e mulheres são iguais perante o texto
constitucional.
Por fim, analisaremos no capítulo seguinte a repercussão da presente
decisão, bem como, o futuro da legislação previdenciária gaúcha.

3.3 – O Impacto da decisão analisada e o futuro da legislação previdenciária


gaúcha

Posteriormente a divulgação da notícia supracitada, esta foi amplamente


divulgada, sendo inclusive matéria de debates (debates internos ocorreram dentro
da sessão da AJURIS e no Supremo Tribunal Federal).
Ocorre que, até a divulgação da decisão os juristas gaúchos tinham se
coadunado ao pensamento do Supremo e não entendiam os maridos/companheiros
como dependentes legítimos, foi necessário um “estímulo” para esse pensamento
voltar a tona, pois esse “impasse” já se arrasta por anos.
Nesse sentido, podemos analisar o pensamento da Dra. Cíntia Teresinha
Burhalde Mua, a qual aduziu que:

Na verdade enquanto eu fui diretora de assuntos legislativos e


constitucionais da Ajuris isso foi no primeiro semestre de 2008 eu coloquei
43

este assunto em pauta que na verdade é uma questão que já remonta a um


passado relativamente remoto contudo sucessivas gestões movimentam o
assunto, mas não equalizam uma linha de ação para que isso possa ser
desdobrado, então houve uma situação, principalmente em virtude da ultima
emenda constitucional sobre a questão da previdência complementar ,
então houve uma união de esforços entre diversas entidades, entre as
quais, a AJURIS e diapasão o CPERGS fez uma proposta e encaminhou a
um determinado deputado estadual para que ele fizesse tramitar a correção
da terminologia da Lei que estava equivocada e a Luz desses argumentos
postos que estão na decisão que já foi tornada pública, que este projeto
estava na comissão de constituição e justiça. Como é de praxe os projetos
que não são apreciados naquele ano legislativo são extintos, então
atualmente, salvo, total desinformação minha não há nenhum processo
51
legislativo em tramitação sobre o assunto .

Ou seja, o que falta é um sistema gestor que movimente o legislativo, para


modificar essa discrepância que remonta o sistema previdenciário gaúcho, como
aludido pela magistrada, em 2008 o CPERGS (Centro dos Professores do Estado do
Rio Grande do Sul), apoiado pelas demais entidades chegou a enviar uma proposta,
mas o Deputado Estadual em tela não conseguiu levar o projeto para votação.
Assim, o que ocorre é uma falta de interesse por meio do sistema legislativo,
nesse sentido, a Dra. Cíntia complementa, vejamos:

Ainda pouco, falei com algumas colegas que participaram comigo de


levantar essa bandeira e tentar trazer essa reflexão e quero dizer que os
colegas varões se deram conta da atual discrepância que nós estamos
contribuindo para o benefício que nossos dependentes não terão e eu
sempre coloco de uma forma bem objetiva que não se vem alegar que é
necessário que se prove dependencia economica do homem em relação a
mulher, primeiro porque tal requisito não é exigido na situação contrária e
segundo porque nas relações de casamento ou de união estável o dever
alimentar não está baseado em dependência e sim no dever de mútua
assistência.Então das duas uma, ou o cálculo atual vigente está incorreto
porque ele deve ser o suficiente para contemplar os viúvos e as viúvas dos
servidores, magistrados, promotores e afins, estamos falando aqui em
servidor público em sentido latu, ou então, nós estamos pagando algo a
mais porque não estamos cobertas, por agora me refiro as seguradas
mulheres, por todo o cabedal de beneficios que sedizentemente há
contribuição levaria a englobar. Então, penso que é um assunto a ser
retomado no dia 13 de outubro haverá uma reunião de membros da AJURIS
com uma das chapas que concorrem pela renovação da ANB, sendo que,
este assunto está em pauta. Também, atualmente há uma comissão da
LOMAN, pois como é sabido, o ministro do supremo retirou o projeto que
estava tramitando, porque várias outras circunstancias foram sucedendo
que aquele modelo que estava na LOMAN já estava desatualizado com as
modificações que se sucederam após a sua remessa ao legislativo e nesse
espectro então, a AJURIS está tentando atuar contribuindo positivamente
para que nós possamos ter um texto convergente aos interesses das
garantias da sociedade civil, as garantias que são mediatamente destinadas

51
MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom
[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da
Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.
44

aos magistrados, mas imediatamente destinada à garantia do estado


52
democrático de direito .

Ou seja, talvez a verba descontada das funcionárias públicas do Estado do


Rio Grande do Sul está sendo destinada para outros setores, ou, infelizmente o
cálculo vigente está incorreto, o que de qualquer maneira não justifica as medidas
adotadas, bem como, a exclusão do varão como dependente.
Quanto ao futuro da legislação previdenciária gaúcha, as entidades filiadas a
união gaúcha em defesa da previdência social e pública53, entre elas podemos citar:
(AJURIS – Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, ADPERGS – Associação
dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul, APERGS – Associação
dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul, etc.); seguidamente estão
elaborando projetos.
Nesse sentido, podemos concluir com o pensamento da Dra. Cíntia,
vejamos:

Então, encaminhei uma proposta ao Desembargador Ullen que está


tratando especifidamente desta decisão e sobre a possibilidade de nós
incluirmos ná LOMAN quem seriam os dependentes e neste dia 13 teremos
essa reunião já fui convidada a participar, mas há um grupo de colegas que
está trabalhando nisso, fizemos também um abaixo assinado para mostrar a
mobilização da classe dos magistrados, mas é uma questão que não
interessa somente a magistratura e é uma situação assim discrimitanatória a
tal ponto que nem mesmo o regime geral da previdência social que
geralmente é muito limitador muito mais rigoroso ele não contempla.Então,
é realmente uma infringência clara, para mim, indubitável do princípio da
54
igualdade no seu sentido material .

Assim, percebemos que os funcionários públicos do Estado do Rio Grande


do Sul, estão se movimentando para acabar com a “discrepância” da legislação,
somente o que falta agora é interesse por parte do sistema legislativo.

52
Idem.
53
União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública. Disponível em:
http://www.uniaogaucha.org/index.php?go=entidades. Acessado em 24 de novembro de 2010.
54
MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom
[entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher no sala de audiência da 1ª Vara da
Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa. Guaíba.
45

Considerações Finais

A presente pesquisa teve como objetivo demonstrar a (in)


constitucionalidade, da Lei 7.672/82, tendo por base, a decisão da Dra. Cintía
Teresinha Burhalde Mua, bem como, os conceitos basilares do Princípio da
Igualdade e dos Direitos Fundamentais.
Como forma de desenvolver a presente pesquisa, a problemática a ser
respondida pelo presente trabalho qual foi: Há inconstitucionalidade no artigo 9º da
Lei 7.672/82?
Para tentar elucidar este questionamento, recorremos a diferentes autores,
os quais, através de conceitos doutrinários trouxeram subsídio suficiente para
análise da Lei em espécie.
Sendo que ao analisarmos a Lei em espécie presenciamos a importância
social de analisarmos o instituo previdenciário do Estado do Rio Grande do Sul, pois
a legislação gaúcha advém de uma formação social e cultural, na qual a figura
masculina sempre foi proeminente em relação à presença feminina, entendida, por
vezes como antiquada. Assim, se constata que homem perante a sociedade, era o
responsável pela mantença do lar, dono absoluto e senhor incontestável e, a mulher
tinha o papel de organização do lar e o cuidado com os filhos.
Ocorre que, com o passar do tempo a sociedade em geral passou por
grandes modificações e, na atual sociedade a mulher passou a ter um espaço maior,
com participação ativa no mercado de trabalho, bem como, com base no respeito à
igualdade de todos os cidadãos perante a lei. (art. 5°, inciso I, da Constituição
Federal de 1988).
Assim, diante da redação dada pelo art. 9°, inciso I, da Lei n° 7.672/82, o
qual aparentemente afasta a possibilidade de uma possível dependência econômica
do homem sadio frente a sua companheira, bem como, afasta o caráter de igualdade
entre os contribuintes e destoa para uma possível inconstitucionalidade, segundo
entendimento deste pesquisador, o art. 9°, inciso I, da Lei n° 7.672/82 é
inconstitucional e deve ser reformulado para abarcar o homem sadio como
dependente perante o Instituto Previdenciário do Estado do Rio Grande do Sul, com
base na garantia fundamental do tratamento isonômico.
46

Não satisfeito com a inconstitucionalidade encontrada, o pesquisador buscou


informações acerca do desenvolvimento da legislação, ou, caso fosse se haveria
algum projeto em tramitação para modificar as “desigualdades” encontradas.
Entretanto, ao realizar a pesquisa, foi constatado que projetos são constantemente
elaborados, o que ocorre, é que a morosidade, talvez falta de interesse, do pode
legislativo, acaba por comprometer esses projetos.
Assim, o que ocorre é que o Estado do Rio Grande do Sul, em que pese os
constantes avanços, no que tange ao seu sistema previdenciário, fica preso a uma
legislação do ano de 1982, anterior a Carta Magna vigente e conserva em seu “seio”
uma ofensa gritante ao Princípio Constitucional da Igualdade.
47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARBOSA, Rui. Oração dos Moços.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 13ª Ed. São Paulo:


Malheiros Editora. 2000. P. 377.

CUNHA, Fernando Whitaker. Direito Constitucional do Brasil, São Paulo, Editora


Renovar, 2000, p. 63.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 34 Ed.


São Paulo: Saraiva, 2008, p. 282.

GONÇALVES, Kildare Carvalho. Direito Constitucional Didático, 5ª Ed. São Paulo:


Del Rey Editora, 1998, p. 156.

MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, 2ª Ed. São Paulo,


Atlas Editora, 2009.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da


Igualdade. 3ª Ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2008, p. 11.

MIRANDA, Jorge Manuel Moura Loureiro de. Manual de Direito Constitucional,


Tomo IV, 3ª Ed. Coimbra, Coimbra Editora, 2000.

PAULO, Vicente e ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional


Descomplicado, 4ª Ed.São Paulo, Editora Método, 2009, 986p.

PIVA, Otávio. Comentários ao Art. 5° da Constituição Federal de 1988 e Teoria


dos Direitos Fundamentais, 3ª Ed. São Paulo, Editora Método, 2008, 330p.
48

RAWLS, John. Justiça e Democracia, 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes Editora:
2002, p. 97.

SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição, 5ª Ed. São Paulo:
Malheiros Editora, 2007, p. 70.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 29ª Ed. São
Paulo, Malheiros Editores, 2007.

ENTREVISTA

MUA, Cintia Teresinha Burhalde, Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Campo


Bom [entrevista]. Entrevista concedida à Guilherme Meller Zacher na sala de
audiência da 1ª Vara da Comarca de Campo Bom, 2010. Arquivos de Pesquisa.
Guaíba.

JURISPRUDÊNCIAS:

ADI 3305/DF, STF, Rel. Min. Eros Grau, Julgado em 13/09/2006.

AI 511.131 – AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 22-03-2005, DJ 15-


04-2005.

AI 538673 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,


julgado em 22/05/2007, DJe-047 DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-06-2007 DJ 29-
06-2007 PP-00040 EMENT VOL-02282-17 PP-03548 RT v. 96, n. 866, 2007, p. 120-
122.

Apelação Cível Nº 599101938, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,


Relator Vencido: Leo Lima, Redator para Acordão: Irineu Mariani, Julgado em
05/05/1999.

Apelação n° 70035138312, Relator Genaro José Baroni Borges, julgada em 19 de


maio de 2010, DJ 26 de maio de 2010.
49

Embargos Infringentes Nº 597097674, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal


de Justiça do RS, Relator: Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Julgado em
03/10/1997.

Embargos Infringentes Nº 597035377, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal


de Justiça do RS, Relator: Salvador Horácio Vizzotto, Julgado em 01/08/1997.

Embargos Infringentes Nº 70000477596, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis,


Tribunal de Justiça do RS, Relator: Genaro José Baroni Borges, Julgado em
17/03/2000.

Processo Nº087/1.08.0003724-9, 1ª Vara Cível, Comarca de Campo Bom, Juíza:


Cintia Teresinha Burhalde Mua, Julgado em 26/04/2010.

RE 194854 AgR-ED, Relator(a): Min. NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em


22/10/2002, DJ 29-11-2002 PP-00041 EMENT VOL-02093-02 PP-00293.

STF, MI 58, Min. Celso de Mello, julgamento em 14/12/1990, DJ 19/04/1991.

LEGISLAÇÃO E NORMAS:

Constituição de 1824.

Constituição de 1891.

Constituição de 1937.

Constituição de 1946.

Constituição de 1964.

Constituição Federal de 1988.


50

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 1789.

Lei n° 7.672/82

ARTIGOS ACESSADOS:

BALTAZAR, Antonio Henrique Lindemberg. Histórico das Constituições Brasileiras.


Disponível em: http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_id=1897,
acessado em 23 de novembro de 2010.

MACIEL, Eliane Cruxên Barros de Almeida. A Igualdade entre os Sexos na


Constituição de 1988. Buscalegis, Brasilia, maio/1997. Disponível em:
www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/.../14132. Acessado em
18 de novembro de 2010.

QUADROS, Mariane Souza de. Concedida pensão por morte de segurada do


IPERGS a companheiro sadio, Disponível em:
http://www1.tjrs.jus.br/site/imprensa/noticias/#../../system/modules/com.br.workroom.t
jrs/elements/noticias_cont roller.jsp?acao=ler&idNoticia=115301, Acessado em 23 de
novembro de 2010.

SITES ACESSADOS:

Censo Demográfico 2000 - Características da População e dos Domicílios.


Resultados do Universo. IBGE, 2001, Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Acessado em 23 de
novembro de 2010.

União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública. Disponível em:


http://www.uniaogaucha.org/index.php?go=entidades. Acessado em 24 de novembro
de 2010.
51

ANEXOS
52

ANEXO 1

LEI: 7.672

LEI Nº 7.672, DE 18 DE JUNHO DE 1982.


(atualizada até a Lei nº 12.395, de 15 de dezembro de 2005)

Dispõe sobre o Instituto de Previdência do Estado do Rio


Grande do Sul.

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º - O INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO


RIO GRANDE DO SUL, criado pelo Decreto nº 4.842, de 8 de agosto
de 1931, é uma autarquia estadual de previdência e assistência, com
personalidade jurídica de direito público, dotada de autonomia
administrativa e financeira.
Parágrafo único - A autonomia administrativa e financeira da
Autarquia não exclui o exercício da supervisão de suas atividades
pelos órgãos competentes do Poder Executivo.
Art. 2º - É objetivo primordial do Instituto a realização das
operações de previdência e assistência aos servidores do Estado e
de suas Autarquias, mediante a prática de operações previstas ou
autorizadas nesta Lei. (REVOGADO pela Lei Complementar n°
12.134/04)
§ 1º - O Instituto poderá, mediante Convênio que Municípios
do Rio Grande do Sul celebrem com o Estado, incumbir-se da
prestação de operações de previdência e assistência aos respectivos
servidores.
§ 1º - O Instituto poderá, mediante Convênio que Municípios e
Câmaras de Vereadores do Rio Grande do Sul celebrem com o
Estado, incumbir-se da prestação de operações de previdência e
assistência aos respectivos servidores e vereadores. (Redação dada
pela Lei n° 7.925/84)
§ 1º - Mediante convênio que o Estado celebre com Municípios
e Câmaras de Vereadores do Rio Grande do Sul, bem como com
entidades integrantes da Administração Indireta Estadual, inclusive
suas fundações, o Instituto poderá incumbir-se da prestação de
53

operações de previdência e assistência aos respectivos servidores e


vereadores. (Redação dada pela Lei n° 8.191/86)
§ 1º - O Instituto de Previdência do Estado poderá incumbir-se
da prestação de operações de previdência e/ou assistência médica a
servidores, vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, através de
convênios a serem celebrados pelo Estado, com os municípios.
(Redação dada pela Lei n° 10.095/94) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
§ 2º - Na hipótese do parágrafo anterior o Convênio definirá o
regime de previdência e assistência, que poderá ser o desta Lei ou
outro, vedada qualquer prestação que, sem a correspondente
compensação, aumente a despesa do Estado.
§ 2º - As entidades da Administração Indireta estadual e
municipal poderão, também, ESTADO DO RIO GRANDE DO
SULASSEMBLÉIA LEGISLATIVAGabinete de Consultoria Legislativa
celebrar convênios com o Instituto de Previdência do Estado,
exclusivamente para a prestação de assistência médica
complementar a seus servidores. (Redação dada pela Lei n°
10.095/94) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
§ 3º - Para a realização das operações previstas nesta Lei o
Instituto poderá celebrar contratos com pessoas físicas ou jurídicas.
§ 3º - Nas hipóteses dos parágrafos anteriores, no termo de
convênio deverá constar a relação dos servidores abrangidos pela
Assistência Médica Complementar, e, além do rol dos beneficiários,
deverá constar a definição do tipo de operação de previdência e/ou
assistência médica, vedada qualquer prestação que, sem a
correspondente compensação, aumente a despesa do Estado.
(Redação dada pela Lei n° 10.095/94) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
§ 4º - Para a prestação das Operações de Previdência e/ou
Assistência, o Instituto de Previdência do Estado poderá celebrar
contratos com pessoas físicas ou jurídicas. (Incluído pela Lei n°
10.095/94) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
§ 5º - O repasse dos valores pelas entidades conveniadas
será automático, devendo o pagamento das respectivas folhas
ocorrer até o 5º dia útil do mês subseqüente ao da competência do
pagamento. (Incluído pela Lei n° 10.095/94) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
§ 6º - O Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do
Sul poderá também celebrar convênio com conselhos e entidades
54

associativas de classe de seus filiados, respeitados os limites da


prestação de serviços constantes nesta Lei, tendo como parâmetro o
segurado definido no artigo 4º. (Incluído pela Lei n° 10.095/94)
(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

TÍTULO II
CAPÍTULO I
DOS SEGURADOS

Art. 3º - Os segurados do Instituto são obrigatórios ou


facultativos.
Art. 4º - São segurados obrigatórios do Instituto,
independentemente do regime jurídico de trabalho:
a) todos os servidores do Estado e de suas Autarquias ativos e
inativos, inclusive os da Justiça, bem como os membros do Poder
Judiciário e do Tribunal de Contas, exceto os que, nessa condição,
sejam segurados obrigatórios do sistema federal de previdência;
b) os servidores do Estado que, havendo sido contribuintes
obrigatórios do sistema federal de previdência, hajam sido por este
inativados, e percebam complementação ou diferença de proventos
dos cofres do Estado ou de Autarquia Estadual;
c) os Deputados Estaduais, nos termos da Lei nº 6.369, de 29
de maio de 1972. (SUPRIMIDO pela Lei n° 9.187/91)
Art. 5º - A obrigatoriedade de filiação ao Instituto independe do
exercício de outra atividade vinculada ao regime da Lei Orgânica da
Previdência Social.
Parágrafo único - O exercício eventual de funções de outra
natureza não exclui o servidor, a que se refere o “caput” deste artigo,
da condição de segurado obrigatório.
Art. 6º - São segurados facultativos do Instituto o Governador,
o Vice-Governador e os Secretários de Estado.
Art. 6º - São segurados facultativos do Instituto, o Governador,
o Vice-Governador, os Secretários de Estado e os Deputados
Estaduais. (Redação dada pela Lei n° 9.187/91)
Art. 7º - Perde a qualidade de segurado do Instituto aquele
que, por qualquer forma, perder a condição de servidor público do
Estado ou das autarquias, salvo se, no prazo de sessenta dias,
requerer a manutenção daquela qualidade, passando a recolher sem
interrupção a contribuição correspondente, que será de 12% do
salário de contribuição vigente na data do desligamento, sujeita a
55

reajuste na mesma proporção do valor das Unidades-Padrão de


Serviços. (Vide Lei n° 8.191/86)
Art. 8º - O segurado que, por qualquer motivo previsto em lei,
sem perda de sua condição de servidor público, interromper o
exercício de suas atividades funcionais sem direito à remuneração,
inclusive nos casos de cessão sem ônus, será obrigado a comunicar
o fato, por escrito, ao Instituto, no prazo de trinta dias do afastamento
e do retorno, sob pena de suspensão do exercício de seus direitos
previdenciários, sujeitando-se entrementes à contribuição
estabelecida no artigo anterior.

CAPÍTULO II
DOS DEPENDENTES

Art. 9º - Para os efeitos desta lei, são dependentes do


segurado:
I - a esposa; a ex-esposa divorciada; os filhos de qualquer
condição enquanto solteiros e menores de dezoito anos, ou inválidos,
se do sexo masculino, e enquanto solteiros e menores de vinte e um
anos, ou inválidos, se do sexo feminino;
I - a esposa; a ex-esposa divorciada; o marido inválido; os
filhos de qualquer condição enquanto solteiros e menores de dezoito
anos, ou inválidos, se do sexo masculino, e enquanto solteiros e
menores de vinte e um anos, ou inválidos, se do sexo feminino;
(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)
II - a companheira, mantida como se esposa fosse há mais de
cinco anos, desde que se trate de solteira, viúva, desquitada,
separada judicialmente ou divorciada, e solteiro, viúvo, desquitado,
separado judicialmente ou divorciado seja o segurado;
III - o tutelado e o menor posto sob guarda do segurado por
determinação judicial, desde que não possuam bens para o seu
sustento e educação;
IV - a mãe, desde que não tenha meios próprios de
subsistência e dependa economicamente do segurado;
V - VETADO
§ 1º - Não será considerado dependente o cônjuge
desquitado, separado judicialmente ou o ex-cônjuge divorciado, que
não perceba pensão alimentícia, bem como o que se encontrar na
situação prevista no art. 234 do Código Civil, desde que comprovada
judicialmente.
56

§ 2º - Equipara-se ao filho, para os efeitos do item I deste


artigo, o enteado.
§ 3º - O filho e o enteado, quando solteiros e estudantes de
segundo grau e universitários, conservam ou recuperam a qualidade
de dependentes, até a idade de vinte e quatro anos, desde que
comprovem, semestralmente, a condição de estudante e o
aproveitamento letivo, sob pena de perda daquela qualidade.
§ 4º - A condição de invalidez, para os efeitos desta lei, deverá
ser comprovada periodicamente, a critério do Instituto.
§ 5º - Os dependentes enumerados no item I deste artigo, são
preferenciais e a seu favor se presume a dependência econômica; os
demais comprová-la-ão na forma desta lei.
§ 5º - Os dependentes enumerados no item I deste artigo,
salvo o marido inválido, são preferenciais e a seu favor se presume a
dependência econômica; os demais comprová-la-ão na forma desta
Lei. (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)
Art. 10 - A companheira como tal definida nesta lei concorre
com o filho, com a esposa do segurado, se esta estava judicialmente
dele separada, e com a ex-esposa dele divorciada, desde que ambas
percebam pensão alimentícia.
§ 1º - As pessoas referidas nos itens II, III e IV do art. 9º
concorrem entre si se designadas pelo segurado.
§ 2º - VETADO
§ 3º - VETADO
Art. 11 - A condição de companheira, para os efeitos desta lei,
será comprovada pelos seguintes elementos, num mínimo de três
conjuntamente:
a) teto comum;
b) conta bancária conjunta;
c) outorga de procuração ou prestação de garantia real ou
fideijussória;
d) encargos domésticos;
e) inscrição em associação de qualquer natureza, na
qualidade de dependente do segurado;
f) declaração como dependente, para os efeitos do Imposto de
Renda;
g) qualquer outra prova que possa constituir elemento de
convicção.
Parágrafo único - A existência de filho em comum dispensa a
exigência de cinco anos de convívio “more uxório”, desde que este
57

persista até o óbito do segurado.


Art. 12 - Na falta de dependentes enumerados no art. 9º, o
segurado poderá designar como beneficiário pessoa que
comprovadamente viva sob sua dependência, exceto quando se
tratar de Pecúlio Facultativo.
§ 1º - Só poderão ser designados na forma deste artigo
pessoas do sexo masculino, se menores de dezoito ou maiores de
sessenta anos ou inválidos e pessoas do sexo feminino se menores
de vinte e um ou maiores de cinqüenta e cinco anos ou inválidas.
§ 2º - A designação feita na forma deste artigo não gerará
direito a pensão se a morte do segurado ocorrer antes de
transcorridos seis meses, contados a partir da entrega do instrumento
de designação no Instituto.
Art. 13 - Considera-se dependente econômico, para os efeitos
desta Lei, a pessoa que perceba, mensalmente, renda inferior a um
Salário Mínimo Regional, a qualquer título.
Art. 14 - A perda da qualidade de dependente, que é
pressuposto da qualidade de pensionista, ocorrerá:
a) por falecimento;
b) pela anulação do casamento; pela separação judicial ou
pelo divórcio, quando não haja percepção de pensão alimentícia;
c) pelo abandono do lar, na situação do art. 234 do Código
Civil, desde que declarada judicialmente;
d) para os filhos e as pessoas a eles equiparadas, por
implemento de idade: aos dezoito anos, se do sexo masculino, e aos
vinte e um anos se do sexo feminino, salvo se inválidos ou
enquadrados no § 3º do art. 9º;
e) pelo casamento ou pelo concubinato;
f) pela cessação de invalidez;
g) pela manifestação de vontade do segurado, que não
poderá, entretanto, excluir os dependentes de que trata o item I do
artigo 9º.

CAPÍTULO III
DA VINCULAÇÃO

Seção I
Das Inscrições

Art. 15 - A vinculação ao Instituto dos segurados obrigatórios é


58

automática, decorrendo da nomeação ou admissão e vigorando a


partir do exercício.
Parágrafo único - No caso dos servidores de que trata a letra -
b- do art. 4º, a vinculação automática decorrerá da aposentadoria e a
partir desta vigorará.
Art. 16 - A inscrição dos segurados no Instituto se formalizará
pela entrega da Declaração de Beneficiários e tem caráter
obrigatório.
Parágrafo único - Cada nova Declaração de Beneficiários
anula a anterior, salvo a inclusão de dependentes permitidos em lei.
Art. 17 - A Carteira Social atualizada de segurado, de
dependente e de pensionista é condição essencial para o exercício
dos direitos previstos nesta Lei.
Parágrafo único - A validade da Carteira Social, para o
segurado que perde a condição de servidor público, é de 180 (cento e
oitenta) dias a contar de seu desligamento do serviço, salvo se, no
referido prazo, requerer a manutenção da qualidade de segurado.
(Incluído pela Lei n° 8.191/86)

Seção II
Do Salário de Contribuição

Art. 18 - Entende-se por Salário de Contribuição, para os


efeitos desta lei, a soma mensal paga ou creditada pelo Estado ou
pela Autarquia ao segurado a qualquer título, excluídos somente os
pagamentos ou créditos de natureza indenizatória ou eventual, tais
como honorários, diárias e ajudas de custo, as gratificações previstas
nos artigos 107 e 108 da Lei nº 1.751, de 22 de fevereiro de 1952, e
em disposições correspondentes de Estatutos próprios, e o abono
familiar.
§ 1º - Não se considera de natureza indenizatória a
representação quando se somar à parte básica do vencimento para
efeito de cálculo de adicionais.
§ 2º - Em caso de acumulação o salário de contribuição será
constituído pelo total pago ou creditado, observadas as prescrições
deste artigo.
§ 3º - O Salário de Contribuição do servidor da Justiça e do
Juiz temporário que não perceba remuneração pelo Estado, é o
equivalente ao dos proventos integrais que perceberia se aposentado
fosse, sujeitando-se ao recolhimento das contribuições na forma
59

desta Lei.
§ 4º - O Salário de Contribuição dos segurados a que se refere
a letra -b- do art. 4º será equivalente ao total da complementação ou
diferença de proventos pagas pelo Estado ou pela Autarquia.

TÍTULO III
CAPÍTULO I
DAS PRESTAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

Art. 19 - As prestações asseguradas pelo Instituto a seus


segurados e respectivos dependentes consistem em benefícios e
serviços.
§ 1º - Benefício é a prestação pecuniária exigível pelo
segurado e seus dependentes, segundo os termos desta Lei e seu
regulamento.
§ 2º - Serviço é a prestação assistencial, não pecuniária,
exigível pelos segurados e seus dependentes, segundo os termos
desta Lei e seu regulamento.

CAPÍTULO II
DAS PRESTAÇÕES ESPECÍFICAS

Art. 20 - O Instituto prestará, na forma desta Lei e das


regulamentações respectivas:
A) Benefícios:
I - ao segurado: o auxílio natalidade;
II - aos dependentes:
a) pensão por morte;
b) pecúlio “post mortem”;
c) pecúlio facultativo;
d) auxílio-reclusão;
e) pensão suplementar; (Incluído pela Lei n° 8.191/86)
e) outros que venham a ser criados.
f) outros que venham a ser criados. (Renumerado pela Lei n°
8.191/86)
B) Serviços:
I - aos segurados e pensionistas:
a) assistência financeira;
b) assistência habitacional;
II - aos segurados, dependentes e pensionistas:
60

a) financiamentos assistenciais;
b) assistência médica;
c) assistência médica suplementar; (Incluído pela Lei n°
8.191/86)
c) outros que venham a ser criados.
d) outros que venham a ser criados. (Renumerado pela Lei n°
8.191/86)
Art. 21 - Os benefícios e os serviços, salvo disposição em
contrário desta Lei, terão seu valor medido em Unidades-Padrão de
Serviços, cujo valor monetário é fixado nesta Lei e será reajustado
sempre que ocorrer reajustamento de caráter geral na remuneração
dos servidores do Estado e de suas Autarquias.
Parágrafo único - O reajuste do valor da Unidade-Padrão de
Serviços terá por base o índice de variação do salário de contribuição
médio dos segurados do Estado e de suas Autarquias.
Art. 21 - Os benefícios e os serviços, salvo disposição em
contrário desta Lei, terão seu valor medido em Unidades Padrão de
Serviços, que será reajustado, a partir da vigência desta Lei, de
acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC -
adotado para o reajuste geral do funcionalismo público estadual e nas
mesmas épocas que este. (Redação dada pela Lei n° 8.080/85)
Parágrafo único - Na hipótese de verificar-se mudança de
índice de referência para os reajustes dos vencimentos do
funcionalismo público, o reajuste do valor da Unidade Padrão de
Serviços do Instituto de Previdência do Estado terá por base o índice
da variação do salário médio de contribuição dos servidores do
Estado e de suas Autarquias. (Redação dada pela Lei n° 8.080/85)
Art. 21 - Os benefícios e os serviços, salvo disposições em
contrário desta Lei, terão seu valor medido em Unidades-Padrão de
Serviços, o qual será reajustado de acordo com o Índice de Preços
ao Consumidor - IPC, adotado para o reajuste geral da remuneração
dos servidores públicos estaduais, e nas mesmas épocas que este.
(Redação dada pela Lei n° 8.191/86)
Parágrafo único - Na hipótese de se verificar mudança no valor
de referência para os reajustes da remuneração dos servidores
públicos, o reajuste do valor da Unidade-Padrão de Serviços terá por
base o índice de variação do salário médio de contribuição dos
servidores do Estado e de suas Autarquias. (Redação dada pela Lei
n° 8.191/86)
61

CAPÍTULO III
DO SALÁRIO DE BENEFÍCIO

Art. 22 - O Salário de Benefício é a base para o cálculo da


pensão por morte e do auxílio-reclusão.
§ 1º - Entende-se por Salário de Benefício a remuneração
percebida pelo segurado no mês imediatamente anterior ao do óbito.
§ 2º - Se o falecimento ocorrer em mês de reajuste de
remuneração em caráter geral, o Salário de Benefício corresponderá
à remuneração que o segurado perceberia até o seu término, se vivo
estivesse.
§ 3º - Se a remuneração do segurado houver sofrido redução,
em relação ao anterior, no mês que deveria servir de base para o
Salário de Benefício, este será fixado tendo em conta a remuneração
daquele mês anterior, reajustada como previsto no § 2º se for o caso.
§ 4º - Para o cálculo do Salário de Benefício serão computadas
as contribuições não descontadas ou não recolhidas, sem prejuízo de
sua cobrança mediante desconto no benefício concedido se a
contribuição devesse ter sido recolhida pelo segurado, e da
responsabilização do funcionário que devesse ter procedido à
arrecadação.

CAPÍTULO IV
AUXÍLIO-NATALIDADE

Art. 23 - O Auxílio-Natalidade consiste em uma quantia fixa a


ser paga de uma só vez à segurada gestante ou ao segurado pelo
parto de sua esposa ou de sua companheira não segurada, destinada
a auxiliar nas despesas resultantes do nascimento do filho.
Art. 24 - O Auxílio-Natalidade será igual a noventa e cinco
Unidades-Padrão de Serviços e estará sujeito a um período de
carência de vinte e quatro meses, completado por pelo menos um
dos pais.
Art. 24 - O Auxílio-Natalidade será igual a cem Unidades-
Padrão de Serviços e estará sujeito a um período de carência de
vinte e quatro meses, completado por pelo menos um dos pais.
(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)
Art. 25 - O Auxílio-Natalidade será único por filho, embora
corresponda a pais que estejam, ambos, inscritos no Instituto, ou a
segurado que acumule cargos.
62

CAPÍTULO V
DA PENSÃO POR MORTE

Art. 26 - Ao conjunto de dependentes de segurado falecido o


Instituto pagará uma quantia mensal sob o título de Pensão por
Morte, calculada na forma do art. 27 e seus parágrafos, devida a
partir da data do óbito do segurado.
Art. 27 - VETADO
Art. 27 - O valor da pensão por morte será constituído de uma
Quota Familiar correspondente a quarenta e cinco por cento do
Salário de Benefício, acrescida de tantas Quotas individuais,
correspondentes a cinco por cento do Salário de Benefício, quantos
forem os dependentes habilitados, até o máximo de onze. (Incluído
pela Lei n° 7.716/82)
§ 1º - O valor monetário assim obtido será transposto para
Unidades-Padrão de Serviços, para efeito de reajustes posteriores, e
rateado, em partes iguais, entre os dependentes habilitados. (Incluído
pela Lei n° 7.716/82)
§ 2º - Para os efeitos de cálculo e pagamento da Pensão por
Morte, serão considerados apenas os dependentes habilitados,
independentemente da existência de outros que não hajam ocorrido
ao processo de habilitação. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)
§ 3º - Encerrado o processo de habilitação com a concessão
da Pensão por Morte aos dependentes habilitados, qualquer inclusão
ulterior somente produzirá efeitos a partir da data em que for
requerida. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)
§ 4º - A habilitação do dependente qualifica-o como
pensionista. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)
Art. 28 - A Quota Individual de pensão extingue-se com a perda
da qualidade de pensionista.
§ 1º - Sempre que se extinguir uma Quota Individual proceder-
se-á a novo cálculo e a novo rateio, na forma do art. 27.
§ 2º - Extingue-se a pensão com a extinção da última Quota
Individual.
Art. 29 - O reajustamento das pensões conseqüente ao
reajuste do valor da Unidade-Padrão de Serviços alcançará a pensão
em vigor, com a constituição familiar da data de sua realização, e seu
custeio correrá à conta do “Fundo de Reajustamento de Pensões” de
que trata o artigo 44.
63

CAPÍTULO VI
DO PECÚLIO “POST MORTEM”

Art. 30 - Os dependentes do segurado falecido receberão, a


título de pecúlio “post mortem”, uma quantia correspondente a mil e
novecentas Unidades-Padrão de Serviços.
Art. 30 - Os dependentes do segurado falecido receberão, a
título de pecúlio “post mortem”, uma quantia correspondente a duas
mil Unidades-Padrão de Serviços. (Redação dada pela Lei n°
7.716/82)
Art. 31 - Se as despesas funerárias houverem sido efetuadas
por terceiro, este será ressarcido, na forma do regulamento, até o
limite das respectivas despesas que comprovar, respeitado o valor do
benefício.
Art. 31 - Na falta de dependentes, se as despesas funerárias
houverem sido efetuadas por terceiro, este será ressarcido na forma
do regulamento, até o limite das respectivas despesas, respeitado o
valor do benefício. (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)

CAPÍTULO VII
DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Art. 32 - Aos dependentes de segurado detento ou recluso será


paga, durante o período em que estiver privado de sua liberdade, sob
o título de auxílio-reclusão, uma quantia mensal em dinheiro,
equivalente à metade da que lhes caberia pela morte.
Art. 33 - O auxílio-reclusão será concedido mediante processo
análogo ao da habilitação à pensão por morte e será instruído com a
certidão da sentença condenatória definitiva, bem como do atestado
do efetivo recolhimento do segurado à prisão.
Art. 34 - Falecendo o segurado, detento ou recluso, o auxílio-
reclusão será convertido, automaticamente, em pensão por morte;
libertado, extinguir-se-á o benefício.
Art. 35 - O auxílio-reclusão não será devido quando se tratar de
detento ou recluso que possua meios de subsistência.

CAPÍTULO VIII
DA ASSISTÊNCIA FINANCEIRA
64

Art. 36 - A Assistência Financeira compreenderá empréstimos


em dinheiro e prestação de fianças de aluguel, na forma dos
regulamentos próprios, observadas as possibilidades financeiras do
Instituto.
Parágrafo único - Poderão ser utilizados recursos repassados
de terceiros para atender às finalidades do “caput” do artigo.

CAPÍTULO IX
DA ASSISTÊNCIA HABITACIONAL

Art. 37 - A Assistência Habitacional prevista nesta lei visa a


proporcionar ao segurado a aquisição, a construção, a reforma ou a
ampliação da casa própria, na forma do regulamento, com recursos
próprios ou de terceiros.
Parágrafo único - Na hipótese de recursos repassados de
terceiros, o Instituto poderá estender a Assistência Habitacional aos
pensionistas e aos contribuintes de planos especiais.

CAPÍTULO X
ASSISTÊNCIA MÉDICA

Art. 38 - O Plano de Assistência Médica consiste na cobertura


das despesas decorrentes de atendimentos médicos e hospitalares,
bem como dos atos necessários ao diagnóstico e ao tratamento,
prestados aos beneficiários do Instituto, na forma que vier a ser
estabelecida em regulamento, guardada proporção aos recursos do
Fundo de Assistência Médica. (REVOGADO pela Lei Complementar
n° 12.134/04)
Art. 39 - VETADO
Art. 39 - É permitida a participação dos beneficiários nas
despesas de assistência médica, na forma que vier a ser
estabelecida em regulamento. (Incluído pela Lei n° 7.716/82)
(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
Art. 40 - Os recursos para Assistência Médica provirão do
Fundo de que trata o artigo 43. (REVOGADO pela Lei Complementar
n° 12.134/04)
Art. 41 - Os serviços previstos no artigo 38 serão prestados aos
segurados, aos seus dependentes e aos pensionistas a partir da
primeira contribuição. (REVOGADO pela Lei Complementar n°
12.134/04)
65

TÍTULO IV
DAS FONTES DE RECEITA

Art. 42 - A receita do Instituto será constituída de:


(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04) (Vide art. 28 da
Lei Complementar nº 12.134/04)
a) contribuição mensal do segurado, sob a denominação de
contribuição, equivalente a nove por cento do salário de contribuição,
a ser descontada compulsoriamente na folha de pagamento, não
podendo ser inferior à correspondente ao padrão inicial do Quadro
Geral dos Funcionários Públicos Civis do Estado, destinada ao
custeio dos benefícios e serviços; (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04) (Vide art. 28 da Lei Complementar n°
12.134/04)
b) contribuição do Estado e de suas Autarquias, equivalente a
3,5% (três vírgula cinco por cento) do salário de contribuição,
destinada ao custeio das despesas de assistência médica; (Incluído
pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n°
12.134/04)
b) contribuição do Estado e de suas Autarquias com a
denominação de Quota de Previdência, em quantia a ser calculada
anualmente pelo órgão atuarial do Instituto e comunicada ao órgão do
Estado incumbido da programação orçamentária, o qual
providenciará a inclusão, nos Orçamentos do Estado e de suas
Autarquias, da dotação destinada à cobertura de despesas
administrativas;
c) contribuição do Estado e de suas Autarquias com a
denominação de Quota de Previdência, em quantia a ser calculada
anualmente pelo órgão atuarial do Instituto e comunicada ao órgão do
Estado incumbido da programação orçamentária, o qual
providenciará a inclusão, nos Orçamentos do Estado e de suas
Autarquias, da dotação destinada à cobertura de despesas
administrativas; (Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO
pela Lei Complementar n° 12.134/04) (Vide art. 28 da Lei
Complementar n° 12.134/04)
c) contribuição em razão de Convênios;
d) contribuição em razão de Convênios; (Renumerado pela Lei
n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
d) contribuições suplementares, complementares ou
66

extraordinárias que vierem a ser instituídas;


e) contribuições suplementares, complementares ou
extraordinárias que vierem a ser instituídas; (Renumerado pela Lei n°
8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
e) rendas resultantes da aplicação de reservas;
f) rendas resultantes da aplicação de reservas; (Renumerado
pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n°
12.134/04)
f) doações, legados e quaisquer outras rendas destinadas ao
Instituto;
g) doações, legados e quaisquer outras rendas destinadas ao
Instituto; (Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
g) reversão de quaisquer quantias em virtude da prescrição;
h) reversão de quaisquer quantias em virtude da prescrição;
(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
h) juros de mora, multas e correção monetária;
i) juros de mora, multas e correção monetária; (Renumerado
pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n°
12.134/04)
i) emolumentos, taxas, contribuições, percentagens e outras
quantias devidas em conseqüência da prestação de serviços, na
forma do regulamento;
j) emolumentos, taxas, contribuições, percentagens e outras
quantias devidas em conseqüência da prestação de serviços, na
forma do regulamento; (Renumerado pela Lei n° 8.191/86)
(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
j) prestações dos mutuários do Instituto;
l) prestações dos mutuários do Instituto; (Renumerado pela Lei
n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
l) produto de inversões em propriedades imobiliárias em geral;
m) produto de inversões em propriedades imobiliárias em geral;
(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
m) receita das operações previstas no art. 20, alínea B, item II;
n) receita das operações previstas no art. 20, alínea B, item II;
(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
n) contribuição mensal dos pensionistas, correspondente a dois
67

por cento da quota de pensão ou do auxílio-reclusão, para


reajustamento das pensões e participação na Assistência Médica;
o) contribuição mensal dos pensionistas, correspondente a dois
por cento da quota de pensão ou do auxílio-reclusão, para
reajustamento das pensões e participação na Assistência Médica;
(Renumerado pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
o) taxas específicas sobre serviços para custeio do Auxílio-
Reclusão, na forma do regulamento;
p) taxas específicas sobre serviços para custeio do Auxílio-
Reclusão, na forma do regulamento; (Renumerado pela Lei n°
8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
p) receitas eventuais;
q) receitas eventuais. (Renumerado pela Lei n° 8.191/86)
(REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

TÍTULO V
DOS FUNDOS

Seção I
Do Fundo de Assistência Médica

Art. 43 - O Fundo de Assistência Médica será constituído pelas


seguintes fontes de receita: (REVOGADO pela Lei Complementar n°
12.134/04)
a) quarenta por cento da contribuição dos segurados, fixada na
letra -a- do artigo 42 desta Lei; (REVOGADO pela Lei Complementar
n° 12.134/04)
b) emolumentos e taxas devidos em decorrência de prestação
dos serviços de assistência médica; (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
c) vinte por cento do lucro líquido auferido com operações a
que se refere a alínea B, item II, letra -b-, do art. 20; (REVOGADO
pela Lei Complementar n° 12.134/04)
d) auxílios e subvenções que venham a ser destinados para
esse fim; (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)
e) cem por cento da contribuição fixada na letra b do artigo 42
desta Lei; (Incluído pela Lei n° 8.191/86) (REVOGADO pela Lei
Complementar n° 12.134/04)
e) outros recursos eventuais;
68

f) outros recursos eventuais. (Renumerado pela Lei n°


8.191/86) (REVOGADO pela Lei Complementar n° 12.134/04)

Seção II
Do Fundo de Reajustamento de Pensões

Art. 44 - O reajustamento das pensões concedidas, realizado


em conformidade com o disposto no artigo 29 desta Lei, correrá à
conta do Fundo de Reajustamento de Pensões, constituído pelas
seguintes fontes de recursos:
a) excessos de capitalização atuarial resultantes das
aplicações das reservas;
b) taxas de expediente e emolumentos;
c) percentuais sobre empréstimos e fianças;
d) taxa de sobrecarga de serviços prestados;
e) até dez por cento da receita anual da contribuição
arrecadada no período compreendido entre um e outro
reajustamento;
f) outras destinações específicas.
Parágrafo único - Na hipótese de insuficiência de recursos para
atender ao reajustamento previsto neste artigo, dadas as bases do
reajustamento, correrá o excesso à conta e responsabilidade do
Estado e das suas Autarquias, na proporção das contribuições dos
respectivos servidores, devendo ser incluído no Orçamento Anual o
montante indispensável.

Seção III
Do Fundo de Aplicação das Reservas Técnicas

Art. 45 - O Fundo de Aplicação das Reservas Técnicas será


constituído dos seguintes recursos: (Vide Lei n° 11.790/02)
(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
a) dotações próprias do orçamento do Instituto; (REVOGADO
pela Lei n° 12.395/05)
b) contribuições e auxílios da União, do Estado e dos
Municípios; (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
c) resultado das aplicações a que se referem os arts. 36 e 37
desta Lei; (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
d) rendas que, por sua natureza, possam ser destinadas ao
Fundo. (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
69

§ 1º - A ampliação do Fundo será feita, sempre que necessário,


através da aplicação de dotações orçamentárias próprias.
(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
§ 2º - A atualização do Fundo, no montante da perda do poder
aquisitivo da moeda, será promovida pela aplicação do resultado das
operações realizadas e pela utilização de dotações orçamentárias.
(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
§ 3º - O resultado das operações realizadas com os recursos
do Fundo poderá ser utilizado pelo Instituto quando necessário.
(REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
Art. 46 - O Fundo manterá mecanismos distintos de controle de
aplicação para: (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
a) empréstimos e fianças; (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
b) outras aplicações. (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
Art. 47 - Os recursos do Fundo serão depositados no Banco do
Estado do Rio Grande do Sul S.A. e/ou na Caixa Econômica
Estadual, em conta especial denominada “Fundo de Aplicação das
Reservas Técnicas do Instituto”. (REVOGADO pela Lei n° 12.395/05)
Art. 48 - O Fundo de Aplicação das Reservas Técnicas será
administrado por uma Junta Financeira constituída de cinco
membros, sob a supervisão do Presidente. (REVOGADO pela Lei n°
12.395/05)
Parágrafo único - Os integrantes da Junta Financeira serão
nomeados pelo Presidente, escolhidos entre servidores do Instituto
detentores de titulação universitária. (REVOGADO pela Lei n°
12.395/05)

TÍTULO VI
CAPÍTULO ÚNICO
DA GESTÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA

Seção I
Da Aplicação do Patrimônio

Art. 49 - O Instituto, para atender ao cumprimento de suas


obrigações, empregará as suas disponibilidades segundo planos
sistemáticos organizados por sua Administração, asseguradas as
normas pertinentes a tais operações, fixadas pelo órgão atuarial da
Autarquia, as quais terão em vista:
a) a segurança quanto à recuperação do valor nominal do
70

capital investido, bem como a percepção regular da capitalização


atuarial prevista para as aplicações em renda fixa;
b) a manutenção do valor real, em poder aquisitivo, das
aplicações realizadas com essa finalidade;
c) a obtenção do máximo do rendimento compatível com a
segurança e o grau de liquidez indispensável às aplicações das
reservas de modo a compensar as operações de caráter social;
d) a predominância do critério da utilidade social, satisfeita no
conjunto das aplicações a rentabilidade atuarial mínima prevista para
o equilíbrio financeiro.
Art. 50 - As aplicações previstas no artigo anterior consistirão
nas seguintes operações:
a) aquisição de títulos de dívida pública;
b) inversão em imóveis destinados aos fins indicados nesta Lei
ou para obtenção de renda;
c) depósitos em estabelecimentos de crédito;
d) investimentos de caráter eminentemente lucrativo;
e) outras operações de caráter financeiro.

Seção II
Da Contabilidade

Art. 51 - O exercício financeiro do Instituto coincidirá com o ano


civil e a contabilidade obedecerá, no que couber, às normas gerais de
contabilidade adotadas pelo Estado.
Parágrafo único - A contabilidade do Instituto evidenciará
destacadamente:
I - receita e despesa de previdência;
II - receita e despesa de assistência médica;
III - receita e despesa de administração;
IV - receita e despesa de investimentos.
Art. 52 - O plano de contas e o processo de escrituração serão
estabelecidos pela Diretoria da Autarquia, ouvidos o Conselho
Deliberativo e a Comissão de Controle e observado o que dispõe o
artigo anterior. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Art. 53 - O balanço geral, com a apuração do resultado do
exercício, deverá ser apresentado pelo Presidente, com parecer da
Comissão de Controle e do Conselho Deliberativo para
encaminhamento ao Tribunal de Contas do Estado. (Vide art. 27 da
Lei n° 12.395/05)
71

TÍTULO VII
DAS OPERAÇÕES DE PECÚLIO FACULTATIVO

Art. 54 - O Instituto poderá manter Planos de Pecúlio


Facultativo complementares ao plano básico de seguro social
estabelecido como obrigatório por esta Lei.
Art. 55 - A receita destinada ao custeio das operações de
Pecúlio Facultativo será constituída por:
a) prêmios arrecadados dos segurados;
b) prêmios, percentagens ou taxas suplementares,
complementares ou extraordinárias que vierem a ser instituídas;
c) rendas resultantes das aplicações das reservas;
d) doações, legados ou quaisquer outros bens a tal fim
destinados;
e) reversão de qualquer importância em virtude de prescrição;
f) multas e mora de pagamento de quantias devidas;
g) emolumentos, taxas e outras importâncias devidas em
decorrência de prestação de serviços;
h) rendas das inversões feitas em propriedades imobiliárias,
bem como quaisquer outras a elas referentes;
i) outras receitas eventuais.
Art. 56 - Para a consecução do equilíbrio das operações de
Pecúlio Facultativo, deverão as reservas correspondentes ser
aplicadas na forma dos artigos 49 e 50.

TÍTULO VIII
DA ADMINISTRAÇÃO

Art. 57 - O Instituto será administrado basicamente pelos


seguintes órgãos: (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
I - Conselho Deliberativo (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
II – Diretoria (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
III - Comissão de Controle, nos termos do art. 30 da Lei 4478.
(Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Parágrafo único - A estrutura dos órgãos executivos
subordinados será estabelecida em Resolução. (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
Art. 58 - A Diretoria do Instituto será constituída por cinco
Diretores, nomeados pelo Governador do Estado, exoneráveis “ad
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nutum”, denominados:
Presidente;
Diretor Administrativo;
Diretor de Assistência Médica;
Diretor Financeiro;
Diretor de Previdência.
§ 1º - O Presidente é de livre nomeação do Governador do
Estado.
§ 2º - Dois dos demais Diretores serão escolhidos pelo
Governador do Estado dentre os integrantes de lista tríplice
encaminhada pelo Conselho Deliberativo e os outros dois mediante
indicação do Presidente do Instituto.
§ 3º - Em seus impedimentos o Presidente será substituído
pelo Diretor que indicar; os demais Diretores, na forma disciplinada
em Decreto.
Art. 58 - A Diretoria do Instituto será constituída pelo Presidente
e mais 4 (quatro) Diretores, nomeados pelo Governador do Estado.
(Redação dada pela Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
§ 1º - Dos Diretores a que se refere este artigo, 2 (dois) serão
indicados através de lista tríplice: (Redação dada pela Lei n°
10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
a) um pelas entidades sindicais do mais elevado grau do
funcionalismo estadual, legalmente existentes; (Redação dada pela
Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
b) um pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande
do Sul – CPERS/Sindicato. (Redação dada pela Lei n° 10.034/93;
alínea vetada pelo Governador e mantida pela Assembleia
Legislativa, conforme DOE nº 61, de 31/03/94) (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
Art. 59 - O Conselho Deliberativo é constituído de nove
membros, assim escolhidos:
I - dois terços de representantes do funcionalismo público
estadual indicados dentre segurados do Instituto em listas tríplices
pela Federação das Associações de Servidores Públicos do Estado e
pela Federação do Magistério do Rio Grande do Sul;
I - dois terços de representantes do funcionalismo público
estadual indicados dentre segurados do Instituto em listas tríplices
pela Federação das Associações de Servidores Públicos do Estado e
pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul;
73

(Redação dada pela Lei n° 8.138/86)


II - um terço de representantes do Governo do Estado.
§ 1º - Cada Conselheiro terá um suplente, juntamente com ele
indicado e nomeado.
§ 2º - Os representantes do funcionalismo serão nomeados
pelo Governador, dentre os integrantes das listas a que se refere o
item I deste artigo; os demais Conselheiros serão de nomeação do
Governador mediante livre escolha entre segurados do Instituto.
§ 3º - O mandato dos Conselheiros é de quatro anos, com
renovação bienal por um terço e dois terços, alternadamente.
§ 4º - Ocorrendo vaga no Conselho Deliberativo, assumirá o
respectivo Suplente, que concluirá o mandato.
Art. 59 - O Conselho Deliberativo será constituído de 9 (nove)
membros, com a seguinte composição: (Redação dada pela Lei n°
10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
a) um terço de representantes do Governo do Estado;
(Redação dada pela Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
b) dois terços de representantes do funcionalismo estadual,
indicados através de lista tríplice, elaborada pelas entidades sindicais
do mais elevado grau do funcionalismo estadual e do magistério
público. (Redação dada pela Lei n° 10.034/93) (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
Art. 60 - A composição, pelo Conselho Deliberativo, das listas
tríplices para provimento dos cargos de Diretor referidos no § 2º do
art. 58 processar-se-á por voto secreto em escrutínios sucessivos,
nome a nome, podendo cada Conselheiro votar em apenas um nome
em cada escrutínio e exigindo-se o voto da maioria absoluta dos
Conselheiros para integrar a lista. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Art. 61 - A Comissão de Controle terá a composição e as
atribuições previstas na Lei nº 4.478, de 9 de janeiro de 1963. (Vide
art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Art. 62 - À Diretoria compete: (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
a) propor ao Conselho Deliberativo a adoção de decisões
visando a estabelecer a atuação do Instituto com vistas à consecução
de seus objetivos; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
b) submeter ao Conselho Deliberativo proposições que
dependam de sua decisão ou sobre as quais entenda oportuno colher
seu parecer; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
c) decidir sobre a criação de agências, postos ou outros
74

estabelecimentos de prestação de serviços ou atendimento aos


segurados; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
d) decidir sobre a aplicação da receita do Instituto, observadas
as normas desta Lei e ressalvada a competência do Conselho
Deliberativo; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
e) decidir sobre a realização de concursos e provas de
habilitação para provimento dos cargos do Instituto e designar seus
executores e examinadores; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
f) apreciar os balancetes mensais de contas do Instituto; (Vide
art. 27 da Lei n° 12.395/05)
g) harmonizar a atuação dos titulares dos cargos de Diretor nas
respectivas áreas. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Art. 63 - Compete especificamente ao Presidente: (Vide art. 27
da Lei n° 12.395/05)
a) representar judicial e extrajudicialmente o Instituto; (Vide art.
27 da Lei n° 12.395/05)
b) apresentar anualmente ao Secretário de Estado sob cuja
supervisão se encontrar o Instituto o relatório das atividades do
mesmo; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
c) prestar contas da administração do Instituto ao Tribunal de
Contas, na forma da Lei; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
d) julgar as licitações; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
e) autorizar pagamentos a serem feitos pelo Instituto, segundo
as normas vigentes; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
f) prover, na forma da Lei e das deliberações do Conselho
Deliberativo, os cargos e funções do Instituto, bem como praticar os
demais atos relativos à vida funcional dos seus ocupantes; (Vide art.
27 da Lei n° 12.395/05)
g) expedir resoluções, portarias e ordens de serviço visando ao
cumprimento dos fins do Instituto. (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Parágrafo único - O Presidente poderá delegar competência
aos demais Diretores, especificadas as matérias da delegação. (Vide
art. 27 da Lei n° 12.395/05)
Art. 64 - Ao Conselho Deliberativo compete estabelecer as
linhas gerais de atuação do Instituto visando à consecução de seus
objetivos e especificamente pronunciar-se sobre: (Vide art. 27 da Lei
n° 12.395/05)
a) a estrutura administrativa do Instituto; (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
b) a organização do Quadro de Pessoal do Instituto, a criação e
75

extinção de cargos e funções que o integrem e a fixação dos


respectivos vencimentos e vantagens, observadas as normas legais
sobre a matéria; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
c) as propostas orçamentárias que lhe serão submetidas pela
Diretoria, bem como as propostas de créditos adicionais; (Vide art. 27
da Lei n° 12.395/05)
d) a adoção de novos planos complementares de benefícios ou
serviços ou alterações dos vigentes; (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
e) a realização de operações de crédito de que deva participar
o Instituto; (Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
f) o balanço geral anual, que lhe será submetido pela Diretoria
acompanhado de relatório da gestão no correspondente exercício;
(Vide art. 27 da Lei n° 12.395/05)
g) a alienação de bens patrimoniais do Instituto, sem prejuízo
da legislação peculiar aos bens públicos; (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
h) a celebração de Convênios de que trata o art. 2º, § 1º; (Vide
art. 27 da Lei n° 12.395/05)
i) planos, projetos e propostas que, embora de alçada da
Diretoria, por esta lhe sejam submetidos. (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)
Parágrafo único - As decisões do Conselho Deliberativo a que
se refere este artigo serão formalizadas em Resolução expedida pelo
Presidente do Instituto, sujeita à aprovação do Governador ou do
Secretário de Estado sob cuja supervisão se encontrar a Autarquia
quando assim determinado em Lei ou Decreto. (Vide art. 27 da Lei n°
12.395/05)

TÍTULO IX
DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 65 - Nas folhas de pagamento de pessoal do Estado e das


Autarquias serão lançadas, compulsoriamente, as contribuições
devidas ao Instituto, bem como as consignações e outras
responsabilidades do servidor segurado.
§ 1º - Fica assegurado ao Instituto o direito de, através de
funcionários para tanto especificamente credenciados, exercer
fiscalização junto aos setores de folhas de pagamento relativamente
a seus créditos.
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§ 2º - As contribuições devidas por associados que não


percebam remuneração de qualquer natureza, paga pelo Estado ou
pelas Autarquias ou em seu nome, ficam sujeitas ao recolhimento
mensal e direto aos cofres do Instituto.
Art. 66 - Todos os órgãos do Estado e das Autarquias e outras
Entidades que em seu nome procedam a pagamentos de
vencimentos, salários ou proventos aos servidores públicos
segurados do Instituto, depositarão em conta vinculada, à disposição
deste, o total de descontos realizados nas folhas de pagamento
dentro do mês subseqüente.
Parágrafo único - A autoridade administrativa ou servidor que,
no exercício de suas funções, deixar de efetuar os recolhimentos
devidos ao Instituto, incorrerá em falta funcional, sem prejuízo das
sanções de natureza civil ou criminal cabíveis.
Art. 67 - A Quota de Previdência do Estado e das Autarquias
será recolhida mensalmente em duodécimos, no prazo estabelecido
no “caput” do artigo anterior.
Art. 68 - Quaisquer quantias devidas ao Instituto e não
recolhidas ou não pagas nos prazos legais ficam sujeitas a juros
moratórios e correção monetária.
Art. 69 - O patrimônio do Instituto decorrente das operações de
seguro social é de sua exclusiva propriedade e em caso algum terá
aplicação diferente da exigida pelas suas finalidades previdenciárias
e assistenciais, sendo nulos de pleno direito os atos praticados em
contrário, ficando seus responsáveis sujeitos às sanções legais
pertinentes.
Art. 70 - Ao Instituto ficam assegurados todos os direitos,
regalias, isenções e privilégios de que goza a Fazenda do Estado.
Parágrafo único - A legitimação passiva do Instituto somente se
integrará com a citação de seu Presidente e do Estado.
Art. 71 - A fim de manter-se a rentabilidade mínima das
Reservas Técnicas, poderão ser alienados os bens imóveis que não
estejam sendo utilizados por seus serviços nem se destinem a fins
sociais, quando não produzam rendas suficientes dentro de prazo
razoável, com base no valor atual do imóvel, precedida, a
providência, dos indispensáveis estudos, de pronunciamentos do
Conselho Deliberativo e de aprovação do Governador do Estado.
§ 1º - A alienação será sempre realizada mediante
concorrência pública.
§ 2º - Este artigo não se aplica aos imóveis adquiridos, judicial
77

ou extrajudicialmente, em pagamento de financiamentos vinculados


ao Sistema Financeiro da Habitação, cuja revenda far-se-á com
observância das leis e regulamentos próprios.
Art. 72 - Nenhum benefício novo nem modificações nos
percentuais e valores de cálculo constantes desta Lei poderão ser
instituídos, sem que tenham sido avaliados e instituídas as
respectivas fontes de custeio.
Art. 73 - As filhas solteiras maiores de vinte e um anos, de
segurados do Instituto admitidos no serviço público estadual em data
anterior a 1º de janeiro de 1974, conservam a qualidade de
dependentes, para os efeitos desta Lei. (REVOGADO pela Lei n°
11.443/00)
Art. 74 - O encargo de aposentadoria dos servidores segurados
obrigatórios do Instituto incumbe ao Estado ou à Autarquia de que
forem funcionários ou empregados.
Art. 75 - As pensões em manutenção concedidas antes da Lei
nº 5.255, de 30 de julho de 1966, e as pensões que tenham tido como
base de cálculo quantia inferior ao vencimento básico do padrão
inicial do Quadro Geral dos Funcionários Públicos Civis do Poder
Executivo, serão recalculadas, com a constituição familiar que
tiverem à data do recálculo, adotando-se como salário de benefício
os valores abaixo expressos em Unidades-Padrão de Serviços:
a) pensões concedidas antes da referida Lei: 400 Unidades-
Padrão de Serviços;
a) pensões concedidas antes da referida Lei: 470 Unidades-
Padrão de Serviço; (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)
b) pensões que tenha tido como base de cálculo quantia
inferior ao padrão inicial da tabela do Quadro Geral dos Funcionários
Públicos Civis do Estado: 200 Unidades-Padrão de Serviços;
b) pensões que tenham tido como base de cálculo quantia
inferior ao padrão inicial da tabela do Quadro Geral dos Funcionários
Públicos Civis do Estado: 235 Unidades-Padrão de Serviços;
(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)
c) pensões correspondentes à complementação de proventos:
100 Unidades-Padrão de Serviços.
c) pensões correspondentes à complementação de proventos:
118 Unidades-Padrão de Serviços. (Redação dada pela Lei n°
7.716/82) (Vide Lei n° 7.810/83)
Parágrafo único - As despesas decorrentes deste artigo serão
cobertas pelo Estado e pelas Autarquias correspondentes, que
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transferirão ao Instituto os recursos necessários.


Art. 76 - O Instituto não poderá prestar a seus próprios
servidores nenhum serviço, benefício ou vantagem que não
proporcione, em iguais ou melhores condições, aos demais
segurados, vedado também o estabelecimento de qualquer
preferência em favor daqueles frente a estes.
Art. 77 - Não se aplica ao Instituto o que dispõe o “caput” do
art. 67 da Lei nº 7.357, de 8 de fevereiro de 1980.
Parágrafo único - O Quadro de Pessoal do Instituto deverá ser
reorganizado quando da edição de normas relativas ao pessoal das
demais autarquias, de modo a se lhe aplicarem o sistema de
classificação e os níveis de vencimentos gerais do Poder Executivo.
Art. 78 - As despesas decorrentes da execução desta Lei
correrão à conta das dotações orçamentárias apropriadas ou de
créditos adicionais que oportunamente serão abertos.
Art. 79 - É fixado em quarenta e um cruzeiros e cinqüenta
centavos (Cr$ 41,50) o valor da Unidade-Padrão de Serviços
correspondente a agosto de 1981.
Art. 80 - Todos os cálculos necessários ao reajuste do valor da
Unidade-Padrão de Serviços serão realizados pelo órgão próprio do
Instituto.
Art. 81 - Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 82 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação à
exceção do benefício de pensão pós morte, cuja vigência retroage a
1º de janeiro de 1982.
PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 18 de junho de 1982.
Legislação compilada pelo Gabinete de Consultoria
Legislativa.

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