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Podemos afirmar que através dos tempos o homem tem aprendido a viver numa
verdadeira "societas criminis". É aí que surge o Direito Penal, com o intuito de defender
a coletividade e promover uma sociedade mais pacífica.
Por isso é que o Direito Penal tem evoluído junto com a humanidade, saindo dos
primórdios até penetrar a sociedade hodierna. Diz-se, inclusive, que "ele surge como
homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra,
nunca dele se afastou" (Magalhões Noronha).
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Entretanto, essas fases não se sucedem umas às outras com precisão matemática. Uma
fase convive com a outro porlargo período, até constituir orientação prevalente, para,
em seguida, passar a conviver com a que lhe se segue. Assim, a divisão cronológica é
meramente secundária, já que a separação é feita por idéias.
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Os povos estavam saturados de tanto barbarismo sob pretexto de aplicação da lei. Por
isso, o período humanitário surge como reação à arbitraruiedade da administração da
justiça penal e contra o caráter atraz das penas.
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Inicia-se, neste período, a preocupação com o homem que delínque e a razão pela qual
delínqüe.
Puig Peña refere-se a esse período, afirmando que "caracteriza-se pela irrupção das
ciências penais no âmbito do Direito punitivo, e graças a ele se abandona o velho ponto
de vista de considerar o delinqüente como um tipo abstrato imaginando sua
personalidade".
O notável médico italiano César Lombroso, revoluciona o campo penal na época. Ferri
e Garófalo também merecem destaque, além do determinismo e da Escola positivista
que tiveram sua devida influência no período criminológico.
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Apesar de se dizer comumente pena de talião, não se tratava propriamente de uma pena,
mas de um instrumento moderador da pena. Consistia em aplicar no delinqüente ou
ofensor o mal que ele causou ao ofendido, na mesma proporção.
"Art. 209 ± Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez siclos
pelo feto".
"Art. 210 ± Se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele".
"Levítico 24, 17 ± Todo aquele que feri mortalmente um homem será morto".
"Tábua VII, 11 ± Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se houver
acordo".
"Ut supra", o Talião foi adotado por vários documentos, revelando-se um grande avanço
na história do DireitoPenal por limitar a abrangência da ação punitiva.
A repressão ao delinqüente nessa fase tinha por fim aplacar a "ira" da divindade
ofendida pelo crime, bem como castigar ao infrator.
A administração da sanção penal ficava a cargo dos sacerdotes que, como mandatários
dos deuses, encarregavam-se da justiça.
Aplicavam-se penas cruéis, severas, desumanas. A "vis corpolis" era usa como meio de
intimidação.
No Antigo Oriente, pode-se afirmar que a religião confundia-se com o Direito, e, assim,
os preceitos de cunho meramente religioso ou moral, tornavam-se leis em vigor.
Legislação típica dessa fase é o Código de Manu, mas esses princípios foram adotados
na Babilônia, no Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia
(Avesta) e pelo povo de Israel.
A pena, portanto, perde sua índole sacra para transformar-se em um sanção imposta em
nome de uma autoridade pública, representativa dos interesses da comunidade.
Não era mais o ofendido ou mesmo os sacredotes os agentes responsáveis pela punição,
mas o soberano (rei, príncipe, regente). Este exercia sua autoridade em nome de Deus e
cometia inúmeras arbitrariedades.
A pena de morte era uma sanção largamente difundida e aplicada por motivos que hoje
são considerados insignificantes. Usava-se mutilar o condenado, confiscar seus bens e
extrapolar a pena até os familiares do infrator.
Embora a criatura humana vivesse aterrorizada nessa época, devido à falta de segurança
jurídica, verifica-se avanço no fato de a pena não ser mais aplicada por terceiros, e sim
pelo Estado.
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Surgiu, então, um sistema de idéias que deu origem ao liberalismo burguês. Essas idéias
ganharam destaque através do movimento cultural conhecido como Iluminismo ou
Filosofia das Luzes.
Nem mesmo Deus escapou às discussões da época. O Deus iluminista, racional, era o
"grande relojoeiro" nas palavras de Voltaire.
Segundo ele, deveria ser vedado ao magistrado aplicar penas não previstas em lei. A lei
seria obra exclusiva do legislador ordinário, que "representa toda a sociedade ligada por
um contrato social".
Quanto a crueldade das penas afirmava que era de todo inútil, odiosa e contrária à
justiça.
Sobre as prisões de seu tempo dizia que "eram a horrível mansão do desespero e da
fome", faltando dentro delas a piedade e a humanidade.
Não foi à toa que alguns autores o chamaram apóstolo do Direito: O jovem marquês de
Beccaria revolucionou o DireitoPenal e sua obra significou um largo passo na evolução
do regime punitivo.
Entre os séculos XVI e XVIII, na chamada fase racionalista surgia a chamada Escola do
Direito Natural, de Hugo Grócio, Hobbes, Spinoza, Puffendorf, Wolf, Rousseau e Kant.
Sua doutrina apresentava os seguintes pontos básicos: a natureza humana como
fundamento do Direito; o estado de natureza como suposto racional para explicar a
sociedade; o contrato social e os direitos naturais inatos.
Se por um lado a Escola do Direito Natural teve uma certa duraçào, a corrente que se
formou, ou seja, o jusnaturalismo prolongou-se até a atualidade.
Embora ainda sob uma pseudo-compreensão de alguns juristas, o Direito Natural tem
sobrevivido e mostrado que não se trata de idéia metafísica ou princípio de fundo
simplesmente religioso.
É evidente a correlação que existiu e ainda existe entre Direito Natural e DireitoPenal:
os princípios abordados pelo jusnaturalismo, especialmente os correspondentes aos
direitos naturais inativos, estão devidamente enquadrados no roldos bens jurídicos do
assegurados pelo DireitoPenal.
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Jeremias Bentham considerava que a pena se justificava por sua utilidade: impedir que o
réu cometa novos crimes, emendá-lo, intimidá-lo, protegendo, assim a coletividade.
Anselmo Von Feuerbach opina que o fim do Estado é a convivência dos homens
conforme as leis jurídicas. A pena, segundo ele, coagiria física e psicologicamente para
punir e evitar o crime.
No que tange à finalmente da pena, havia no âmago da Escola Clássica, três teorias:
Carrara defende a concepção do delito como ente jurídico, constituído por duas forças: a
física (movimento corpóreo e dano causado pelo crime) e a moral (vontade livre e
consciente do delinqüente).
Define o crime como sendo "a infração da lei do Estado, promulgada para proteger a
segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo,
moralmente imputável e politicamente danoso".
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Durante o chamado período cientifico surge uma doutrina que vai influenciar o
pensamento da época, repercutindo, inclusive no âmbito criminal: a filosofia
determinista.
Assim, o delito, como fato jurídico, deveria também obedecer esta correlação
determinista, já que por trás do crime haveria sempre razões suficientes que o
determinaram.
Foi César Lombroso, autor do livro L¶uomo Delinquente, quem apontou os novos
rumos do DireitoPenal após o período humanitário, através do estudo do delinqüente e a
explicação causal do delito.
Afirmava essa tríade de vigorosos pensadores que a pena não tem um fim puramente
retributivo, mas também uma finalidade de proteção social que se realiza através dos
meios de correção, intimidação ou eliminação.
A nova Escola proclamava outra concepção do Direito. Enquanto para a Clássica ele
preexistia ao Homem (era transcendental, visto que lhe fora dado pelo criador, para
poder cumprir seus destinos), para osd positivistas, ele é o resultado da vida em
sociedade e sujeito a variações no tempo e no espaço, consoante a lei da evolução.
Seu pioneiro foi o médico psiquiatra César Lombroso, segundo o qual a criminalidade
apresenta, fundamentalmente, causa biológica.
É de Lombroso a descrição do criminoso nato. Ei-la: