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Revisão de texto: Juliana Esteves, Pedro Prates Amorim, Viviana Navarro e Thais Chris
Patrocínio: Granfino
Malagueta Comunicação
Rua Maria Quitéria, 121, sl 101, Ipanema
Rio de Janeiro, CEP: 22410-040
www.malaguetacomunicacao.com.br
contato@malaguetacomunicacao.com.br
Agradecimentos
Capítulo 1
Milho, pièce de résistance da civilização
Comfort food urbano
Confraria do Angu
Capítulo
Cidade, samba e angu, harmonia ritmada
2
Memorial do mingau de milho
Geração Angu do Gomes
O novo gosto pelo Brasil
Capítulo 3
Baixa gastronomia
Da rua para a memória gustativa
Encontro de tradições cariocas
Capítulo 4
Tradições culinárias em produção industrial
Comida de rua com rigor e qualidade
Angu by Gomes
Capítulo 5
Coisa de Granfino
Angu de caroço
Enquanto você vai com o fubá,
já estou voltando com o angu
PREFÁCIO
Ruy Castro
capítulo 1
Milho, pièce de résistance da civilização
A fusão entre o mito das três raças deu origem a um prato popular e
democrático, que colaborou para a construção da identidade alimentar
do Rio de Janeiro. O angu - mingau de fubá de milho enriquecido
com miúdos de boi ou de porco - é descrito pelo artista francês Jean-
Baptiste Debret como uma “iguaria suculenta e gostosa”. Em “Viagem
Pitoresca pela História do Brasil”2(1834), ele observa que o prato era
vendido nas ruas pelas negras livres e também agradava a diferentes
níveis sociais: “Figura também, não raro, à mesa das brasileiras
tradicionais de classe abastada”.
O angu pode até não ter chegado à nobreza, mas os chefs Claude Troisgros
e Laurent Suaudeau, enviados por Lenôtre e Bocuse, respectivamente,
enalteceram as virtudes dos ingredientes brasileiros. Os cozinheiros
enriqueceram o gosto sofisticado com sabores como batata-baroa,
jabuticaba e outras brasilidades. Entre os apreciadores de angu, a atriz
Tônia Carreiro dizia na reportagem que, em casa de granfino, preferia
angu à Coq au vin. E o playboy Jorge Guinle ofereceu à celebridades como
Rita Hayworth, Kim Novak, Lana Turner, Marlene Dietrich.
capítulo 5
Coisa de Granfino
Sobre o João Gomes, ela revela que ele está vivo e mora na Rua
Leôncio de Albuquerque, próximo à Praça da Harmonia, no Bairro da
Saúde. “Ele empobreceu, perdeu tudo com dívidas de jogo. Vive só de
aposentadoria”, conta. Por isso, não gosta de dar entrevistas ou falar
de seu negócio. “Sempre admirei a cozinha do Angu do Gomes. Dava
gosto de ver como era limpa”, lembra Ana, que freqüentava com um
tio, garçom do Bar Luiz. O outro sócio, Basílio, também é amigo de
longa data da cozinheira. Além do Angu da Ana, outras assinaturas
habitam a cidade, perpetuando a tradição alimentar: Angu do Pardal,
Angu do Alemão e Angu do Wando.
Angu de caroço
Do outro lado, João Gomes não gosta de falar sobre o assunto porque
“dá tristeza”. Foi a declaração que ele deu ao jornalista Nelito Fernandes
para a matéria “O angu desandou de vez”, publicada em 05 de dezembro
de 1999, no Jornal Extra. Na época, com 69 anos, a reportagem descreve
que ele estava doente, dependente de remédios e que “vive atormentado
com dívidas”.
Mas como o samba não pode morrer e o angu não pode faltar, o avô
apostou no recomeço com o neto Rigo. O jovem chef diz que pretende
investir nas tradições culinárias que marcaram o Rio de Janeiro. Em
dezembro de 2008, eles retomaram o restaurante Angu do Gomes em
parceria com Marcelo Klang, amigo da família. O endereço não poderia
ser outro: Largo São Francisco da Prainha. Só o número mudou, agora é
um sobrado no número 17, novo reduto de samba e angu.
A receita, claro, é original e Basílio não gosta de dar detalhes. O fubá
Granfino continua sendo o ingrediente principal. De bermudão, camisa
pólo, boina e sandália franciscana, ele fiscaliza o trabalho da equipe do
salão e da cozinha. Sentado, com a mão descansando sobre a barriga, não
deixa escapar nada. Chama a atenção dos garçons, confere se os clientes
estão sendo bem atendidos e monitora os pratos que chegam à mesa.
Qualquer diferença notada, chama logo o neto para tomar providências.
Os sócios mais jovens estão animados com a repercussão entre o público
da faixa dos 50 e o interesse dos mais novos. Eles apostam no potencial
da Prainha como novo pólo gastronômico da cidade.
Este livro é uma iniciativa 2.0, que agora será construído com
a participação de admiradores e interessados no lendário Angu do
Gomes. Por isso, não colocamos um ponto final. O angu é prato para ser
compartilhado, assim como o ambiente da internet, proporcionando
convívio e memória. Estamos famintos para solucionar esse angu
de caroço e ouvir novas histórias. Quanto mais gente meter a colher
nessa panela, a receita ficará ainda mais saborosa. Se você freqüentou
as barraquinhas e tem causos para compartilhar, envie e-mail para
angudogomes@malaguetacomunicacao.com.br .
Cordel do Angu do Gomes
Juliana Dias
Referências bibliográficas
1 – CASCUDO, Câmara. História da Alimentação no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Global
Editora, 2004.
4 – ibid., p.208.