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A BIOÉTICA E OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVOS

FUNDAMENTAIS
Introdução
Em 1947, após a II Guerra Mundial, a sociedade exigiu, além da condenação dos
médicos nazistas, maior proteção para os sujeitos participantes de pesquisas com fins
terapêuticos. Foi com o Código de Nüremberg que se buscou essa segurança ao respeito
pela vida humana dos voluntários participantes de pesquisas com seres humanos.
Surgiu, então, um dos critérios da bioética, que é o consentimento informado do
paciente. O fundamento dessa tutela encontra-se no princípio da dignidade humana e no
respeito à integridade física, psíquica e moral do paciente pesquisado.
A universalidade dos direitos humanos e o Princípio da Dignidade Humana
O princípio da dignidade humana, que é o princípio base, tanto do ordenamento
nacional, como dos princípios da bioética, encontra-se fundamentado no capítulo dos
princípios fundamentais da Constituição Federal brasileira. Assim sendo, os princípios
da bioética encontram-se amparados pela Lei Fundamental brasileira, ou seja, estão no
ápice do ordenamento jurídico nacional, estando acima das leis infraconstitucionais. Um
princípio da bioética, quando equiparado ao conteúdo do princípio da dignidade
humana, deve ser respeitado por toda sociedade brasileira.
No Brasil, o princípio da dignidade humana não está restrito somente à tutela da
vida humana; há, sim, a ampliação desse conteúdo essencial a todas as formas de vida
defendidas bioética. O respeito à dignidade humana se manifesta na preservação da vida
humana que tem qualidade de vida, esta se tornando possível através da preservação e
conservação do meio ambiente. Ao se proteger o meio ambiente está se protegendo a
vida humana das gerações presentes e futuras à qualidade de vida ambiental através de
um meio ambiente equilibrado.
A dignidade da pessoa humana corresponde à compreensão do ser humano em
sua integridade física e psíquica, como autodeterminação consciente, garantida moral e
juridicamente. Sintetizando assim todos os direitos humanos fundamentais.
Os direitos humanos fundamentais colocam-se como uma das previsões
absolutamente necessárias a todas as constituições, no sentido de consagrar o respeito á
dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da
personalidade humana.
Considerações históricas
A origem dos direitos individuais do homem pode ser apontada no antigo Egito e
Mesopotâmia, no 3º milênio a.C, onde já eram previstos alguns mecanismos para a
proteção individual em relação ao Estado. O código de Hammurab (1960 a.C) talvez
seja a primeira codificação a consagrar uma lista de direitos comuns a todos os homens,
tais como a vida, a propriedade, a honra, a dignidade, a família, prevendo, igualmente, a
supremacia das leis em relação aos governantes. Na obra Antígona (441 a.C), Sófocles
defende a existência de normas não escritas e imutáveis, superiores aos direitos escritos
pelo homem. Contudo, foi o Direito Romano quem estabeleceu um complexo
mecanismo de interditos, visando tutelar os direitos individuais em relação aos arbítrios
estatais, apesar de que a proteção dos direitos humanos já havia sido concebida em
diversos documentos da antiguidade, como a lei das XII Tábuas, por exemplo.
Foi Santo Tomás de Aquino quem expressamente utilizou o termo dignitas
humana. Embora sendo um pensador cristão, retomou Aristóteles, sob muitos aspectos,
e procurou fixar conceitos universais. De seus estudos, resultam noções fundamentais
que foram e podem ser acolhidas mesmo por quem não aceite os princípios cristãos.
Tomando a vontade de Deus como fundamento dos Direitos Humanos, Santo Tomás
condena as violências e discriminações afirmando que o ser humano tem Direitos
Naturais que devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de rebelião
dos que forem submetidos a condições indignas. Já na história contemporânea, em
1798, a Assembléia Nacional Francesa promulgou a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, proclamando direitos humanos fundamentais.
O artigo 1º da Declaração Universal da Organização das Nações Unidas, em
1948, expressa que: ”Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
direito”.
A Dignidade Humana na Constituição Brasileira
Na Constituição Federal Brasileira, de 1988, está consagrado o Direito à
dignidade da pessoa humana, que, por sua relevância, encontra-se no próprio preâmbulo
da Magna Carta; assim dispõe o seu Título 1:
Como se pode observar, a importância do princípio da dignidade da pessoa
humana é protegida por mecanismos contidos na própria Constituição Federal,
impedindo quaisquer modificações por emendas. Assim é que, em seu artigo 60, § 4º
dispõe: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a (...) os direitos
e garantias individuais”.
A vida como valor inerente à condição humana
Qualquer ação humana que tenha algum reflexo sobre as pessoas e seu ambiente
deve implicar o reconhecimento de valores e uma avaliação de como estes poderão ser
afetados. O primeiro desses valores é a própria pessoa, com as peculiaridades que são
inerentes à sua natureza, inclusive suas necessidades materiais, psíquicas e espirituais.
Ignorar essa valoração ao praticar atos que produzam algum efeito sobre a pessoa
humana, seja diretamente sobre ela ou através de modificações do meio em que a pessoa
existe, é reduzir a pessoa à condição de coisa, retirando dela sua dignidade. Isso vale
tanto para as ações de governo, para as atividades que afetem a natureza, para
empreendimentos econômicos, para ações individuais ou coletivas, como também para
criação e aplicação de tecnologia ou para qualquer atividade no campo da ciência.
Entre os valores inerentes à condição humana está a vida. Embora a sua origem
permaneça um mistério, tendo-se conseguido, no máximo, associar elementos que a
produzem ou saber que em certas condições ela se produz, o que se tem como certo é
que sem ela a pessoa humana não existe como tal, razão pela qual é de primordial
importância para a humanidade o respeito à origem, à conservação e à extinção da vida.
Reconhecida a vida como um valor, foi que se chegou ao costume de respeitála,
Incorporando-a ao ethos de todos os povos, embora com algumas variações decorrentes
de peculiaridades culturais. Assim a vida é um valor ético. Na convivência necessária
com outros seres humanos cada pessoa é condicionada por esse valor e pelo dever de
respeitá-lo, tenha ou não consciência do mesmo. Lembrando que tanto a declaração
universal dos direitos humanos, editada pela Organização das Nações Unidas, em 1948,
quanto os Pactos de Direitos Humanos que ela aprovou em 1966, proclamam a
existência de uma dignidade essencial e intrínseca, inerente à condição humana. Dessa
forma, a vida humana é mais do que a simples sobrevivência física, é a vida com
dignidade, sendo este o alcance da exigência ética de respeito à vida, que corresponde,
entre outras coisas, ao desejo humano de sobrevivência e está presente na ética de todas
as sociedades humanas.
O significado atual dos direitos humanos e sua importância prática para toda a
humanidade e, em conjugação com esta, a imperativa obediência aos seus preceitos,
foram sintetizados de modo magistral num documento da UNESCO, em que foram
fixadas diretrizes para estudiosos de todas as áreas.
A consciência dos direitos humanos é uma conquista fundamental da
humanidade. A Bioética está inserida nessa conquista e, longe de se opor a ela ou de
existir numa área autônoma que não a considera, é instrumento valioso para dar
efetividade aos seus preceitos, numa esfera dos conhecimentos e das ações humanas
diretamente relacionadas com a vida, valor e direito fundamental da pessoa humana.
O grande objetivo da vida, para Aristóteles, seria a felicidade, e esta seria
possível graças à qualidade especificamente humana, que diferencia o homem dos
outros seres, sua capacidade de raciocínio, a qual lhe permitiria ultrapassar e governar
todas as outras formas de vida. Presumia o filósofo que a evolução dessa faculdade
traria realização pessoal e felicidade, mas não previu que essa mesma peculiaridade
faria o homem conquistar campos inimagináveis, que o colocariam no limiar da sua
própria natureza.
Talvez nunca se tenha pensado que esse domínio do homem pudesse ameaçar a
qualidade e a sobrevivência da vida em si mesma.
A consciência dos direitos humanos é uma conquista fundamental da
humanidade. A Bioética está inserida nessa conquista e, longe de se opor a ela ou de
existir numa área autônoma que não a considera, é instrumento valioso para dar
efetividade aos seus preceitos numa esfera dos conhecimentos e das ações humanas
diretamente relacionadas com a vida, valor e direito fundamental da pessoa humana.

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