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UNITAU

UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

AUTOVEÍCULOS

CAPITULO 2

AERODINÂMICA DOS AUTOVEÍCULOS

parte 1 de 2

Prof. Milton K. Akiyama


ABRIL, 2003
CAP: 2 - AERODINÂMICA DOS AUTOVEÍCULOS
Prof. Milton K. Akiyama

1 - INTRODUÇÅO

Por definição,aerodinâmica é a parte da física que estuda a Os trabalhos realizados neste instituto exerceram grande
interação entre um corpo e o ar, através do qual ele se move. influência sobre outras pesquisas iniciadas posteriormente.

As forças e momentos criados por essa interação atuam Hoje, o instituto reconstruido após a 2a. Grande Guerra, faz
sobre o corpo em movimento e são chamados de Esforços parte da Universidade de Stuttgart.
Aerodinâmicos.
As fábricas de automóveis começaram efetivamente a aplicar
A magnitude e a direção desses esforços dependem os resultados dos estudos aerodinâmicos, por volta de 1930.
principalmente dos seguintes fatores:
Atualmente, os grandes estabelecimentos de pesquisas e
- velocidade relativa entre o ar e o corpo; ensino, especializados em automóveis, e as grandes fábricas
- forma do corpo; da indústria automobilística, dispõem de túneis aerodinâmicos
capazes de realizar ensaios de veículos em escala natural
- tamanho do corpo;
(protótipos). Podemos citar exemplos como: General
- posição do corpo em relação à direção e sentido do vento; Motors, Ford, Chrysler, Universidade de Stuttgart,
- acabamento superficial do corpo. Pininfarina, Chalais-Meudon, etc.
Um veículo animado com velocidade produz perturbações no Entre os pesquisadores, podemos destacar:
ar ao seu redor, que podem alterar suas condições de
estabilidade, e, em função do seu formato e tamanho,produzir - Na Alemanha: Rumpler, Jaray, K. Schloer, W. Kamm,
maior ou menor resistência ao avanço. Por esse motivo, o Ferdinand Porsche;
estudo aerodinâmico deve constituir etapa fundamental no - Na Franca: Dubonnet, Andreau e Labourdette;
estudo de veículos.
- Na Italia: Ferrari, Pininfarina e Giuggiaro;
As pesquisas aerodinâmicas em automóveis começaram por
volta de 1920 na Alemanha, em função do progresso da - Na Checoslovaquia: Ledwinka;
aeronáutica, quando os estudos indicaram possibilidades de - Na Inglaterra: D'Eyston;
reduzir-se o arrasto aerodinâmico.
- Nos Estados Unidos: R. Heald e C. Reynolds.
Em 1922, surgiram os primeiros relatórios relativos aos
efeitos da forma do corpo sobre a força de arrasto, elaborados O Brasil dispõe atualmente de alguns túneis aerodinâmicos
pelo laboratório do gigantesco tunel aerodinâmico de para aviacåo, adaptáveis aos ensaios em modelos de
Friedrichshafen, onde se desenvolviam as pesquisas sobre o automóveis, e em construcões civis. Entre eles, podemos
dirigível Zeppelin. citar: um túnel no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
em Såo Paulo, que serve para modelos na escala 1:10, e no
Logo depois, foi criado em Stuttgart o Instituto de Pesquisas Centro Técnico Aeroespacial em Såo José dos Campos, onde
Científicas Para Veiculos, liderado pelo cientista Kamm. há dois túneis, um para modelos até 1:5 e outro para modelos
até a escala 1:2,5.

SEÇÃO DE ENSAIOS DO TA-2

VISTA EXTERNA DO TUNEL DE VENTO 2 DO CTA

2 - EVOLUCÅO DA AERODINÂMICA DOS AUTOVEÍCULOS

2
Em 1904, quando as rodas dos veículos eram em geral Por volta de 1950, os valores dos coeficientes de arrasto
separados da carroçaria, o parabrisas frontal era vertical, e o aerodinâmico haviam alcançado valores em média 45%
compartimento dos passageiros era aberto, o arrasto menores aos verificados nos veículos em 1904.
aerodinâmico era muito desfavorável, apresentando valores Após 1950,entretanto, essa tendência inverteu-se, e o arrasto
altos. Por outro lado, a essa época, as velocidades aerodinâmico começou a aumentar de novo nos veículos
desenvolvidas nåo eram tåo elevadas, que pudessem produzir produzidos. Esse fenômeno é explicado pela ocupaçåo da
esforços aerodinâmicos importantes. regiåo correspondente aos estribos e aos parabrisas pela
As inovacões aerodinâmicas foram introduzidas aos veículos carroçaria do veiculo, mas sem qualquer preocupaçåo quanto
aos poucos, à medida em que as velocidades foram à aerodinâmica, e sim quanto ao estilo dos mesmos, pois o
aumentando, e foram aparecendo a necessidade de melhorias, combustivel era um item irrelevante nas despesas do veículo.
como: A partir da década de 1970,entretanto, devido à crise do
- incorporação dos farois à carroçaria; petróleo,o mundo tomou consciência do fato que essa fonte
para a obtençåo de combustivel pode se esgotar, ou
- incorporação das rodas à carroçaria; simplesmente o fornecimento pode ser bloqueado. Desde
- fechamento da carroçaria; entåo, as pesquisas eståo sendo orientadas para a obtençåo de
combustíveis (e energias) alternativos, reduçåo do peso do
- inclinação do vidro frontal; veículo e diminuiçåo do arrasto aerodinâmico.
- arredondamento do vidro frontal; Para se entender a importância da reduçåo do arrasto
- incorporação dos parachoques à carroçaria; aerodinâmico, basta saber que, para se vencer a força de
arrasto, a potência dispendida é proporcional à velocidade
- etc. relativa do ar em relaçåo ao veículo elevada à terceira
potência.

3 - PRINCÍPIOS DE AERODINÂMICA

3.1 - Recapitulação do Princípio de Bernoulli v = velocidade do fluido no considerado;

Para se compreender bem os fenômenos aerodinâmicos, deve- V = volume do fluido;


se recapitular alguns princípios básicos da mecânica dos
? ?= massa específica do fluido.
fluidos. Desses, o mais importante é a Lei ou Princípio de
Bernoulli, que é um caso particular do Princípio de Então:
Conservaçåo de Energia, e exprime que:
(kgf .s 2 /2).( m2 / s 2 ) (kgf .m) kgf
" NUM DETERMINADO FLUIDO EM ? ? 2
MOVIMENTO, EM UM PONTO QUALQUER
m3 m3 m
DO FLUXO,A SOMA DA ENERGIA DE ENERGIA DE PRESSÃO DO
PRESSÃO COM A ENERGIA CINÉTICA É UMA FLUIDO
CONSTANTE, E IGUAL À ENERGIA TOTAL. " PRESSÃO ESTÁTICA = ------------------------------------------
-------
Como estamos tratando de fluidos, as energias devem ser VOLUME DO FLUIDO
expressas por unidade de volume.
( kgf .m) ( kgf )
Assim, a energia cinética por unidade de volume é p? ?
representada pela pressão dinâmica.
( m3 ) ( m2 )
A energia de pressåo por unidade de volume é representada A expressão matemática que representa a constância de
pela pressão estática. energia é a Lei de Bernoulli:

Efetuando-se a análise dimensional dessa relação, temos: p1 + pd1 + z1 = p2 + pd2 + z2 = ... = pn + pdn + zn = cte.
PRESSÃO DINÂMICA = ENERGIA CINÉTICA DO
FLUIDO Considerando que: z1 = z2 = z3 = ... = zn, a parcela da
VOLUME DO FLUIDO energia potencial pode ser desconsiderada.
( m.v 2 ) / 2 1
pd ? ? .? .v 2
V 2
onde:

m = massa do fluido considerado;


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A pressão dinâmica é dada pela expressão:

Fz ? ?1pd . A Essa expressão nos mostra que, quanto maior a velocidade de


um fluido, maior será a parcela da pressão dinâmica, e
pd ? A .? .v 2
2 consequentemente, menor a pressão estática. A somatória
será sempre constante, e igual à PRESSÃO TOTAL (pT).
Então:
1 1 1
p1 ? . ? .v12 ? p 2 ? . ? . v 2 2 ? ? ? pn ? . ? . vn 2
2 2 2

A Lei de Bernoulli pode ser melhor compreendida, representando-se o escoamento de um fluido através de um tubo de fluxo, de seção
variável ao longo do tubo ( fig. 3.1 ).

As linhas de corrente indicam a direção do fluxo, sendo que o afastamento entre as linhas indicam a grandeza de velocidade, adotando-
se o seguinte critério: quanto mais próximas as linhas entre si, maior a velocidade do fluido.

Sabemos, pela lei de continuidade, que: dinâmica. Como a pressão total é constante, a pressão
estática diminui com o aumento da velocidade do fluxo.

A1 . v1 = A2 . v2 = ... = An . vn A PRESSÃO ESTÁTICA pode ser medida diretamente, por


meio de um manômetro ligado a um orifício perpendicular às
Portanto, para uma dada vazão, a velocidade é tanto maior, paredes de um tubo, dentro do qual escoa o fluido ( fig. 3.2a ).
quanto menor a área da seção do tubo, e vice versa.
A PRESSÃO TOTAL é medida diretamente com um tubo de
Da figura 3.1, temos:
captação de pressão, com a extremidade posicionada contra o
A1 > A2 > A3 > ... > An fluxo, conforme indicada na figura 3.2b.

v1 < v2 < v3 < ... < vn


A PRESSÃO DINÂMICA só pode ser obtida indiretamente,
p1 > p2 > p3 > ... > pn conhecendo-se a velocidade do fluido, ou pela diferença entre
a pressão total e a pressão estática (fig. 3.2c).
ou seja, quanto menor se torna a seçåo do tubo, maior a
velocidade do fluxo, e, portanto, maior a parcela da pressão

4
(a) (b) (c)

Fig.3.2 - Medição das pressões: estática (a), total (b) e dinâmica (c).

3.2 - ESFORÇOS AERODINÂMICOS

Os corpos que se movem através de um meio fluido são submetidos à ação de 3 forças e 3 momentos, conforme mostradas na figura
3.3, a saber:

Fx = Força de Arrasto (Drag Force)

Fy = Força Lateral (Side Force)

Fz = Força de Sustentação (Lift Force)

Mx = Momento de Rolamento (Rolling Moment)

My = Momento de Arfagem (Pitching Moment)

Mz = Momento de Guinada (Yawing Moment)


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3.3 - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO PERFIL DE ASA DE AVIÃO

O estudo do funcionamento de uma asa de avião, constitui um a percorrer um percurso maior que o ar que passa por baixo,
bom exemplo para se compreender o comportamento de um no mesmo intervalo de tempo (fig. 3.4) , ou seja, a velocidade
veículo em alta velocidade na estrada. Esse funcionamento do ar na parte superior da asa é maior que a velocidade do ar
pode ser analisado de diversos modos, mas a interpretação na parte inferior da asa.
mais simples é a que emprega o princípio de Bernoulli. Em consequência da diferença de velocidade, a pressão do ar
A asa do avião tem um perfil de forma curva, assimétrica, de acima do perfil é menor que a pressåo abaixo do perfil, de
maneira que, quando em vôo, obriga o ar que passa por cima, acordo com a Lei de Bernoulli.

(a)Fluxo em torno do perfil (b)Distribuiçåo das pressões

fig. 3.4 - Análise do comportamento do perfil de asa de avião

vs > vi , portanto ps < pi

Nessa análise, considera-se o escoamento como


ou Fz = ?p m . Ap
bidimensional, ou seja, considera-se a asa com comprimento
infinito, e assim, o escoamento do ar em torno do perfil é
onde: ?p m = diferencial de pressão média inferior-
igual em todas as seções, ao longo da asa. superior
Ap = Área projetada da asa
Consideremos, na fig. 3.4, dois pontos correspondentes, um
superior (s) e outro inferior (i). As linhas de corrente podem ser visualizadas por meio de
filetes de fumaça ou com fiapos de lã ou de seda, e observadas
Temos então:
e fotografadas.
1 1
Depois de obtido o gráfico de escoamento, o espaçamento das
ps + -- . ? . vs = pi + -- . ? . vi2
2
linhas de fluxo permite avaliar as velocidades e as pressões
2 2 estáticas. Linhas mais próximas indicam velocidade maior e
pressão estática menor, e vice-versa.

1 Analisando-se a distribuição das linhas de fluxo em torno de


/\ p = pi - ps = --- . ? . ( vs2 - vi2 ) (3.3) um automóvel, pode-se também obter informações a respeito
da distribuição das velocidades e das pressões.
2
Portanto, o diferencial das pressões estáticas que atuam A linha da corrente que separa o escoamento do ar por cima e
debaixo para cima, em um ponto qualquer da asa, é por baixo do perfil, determina na seção do perfil dois pontos
proporcional à diferença dos quadrados das velocidades do ar chamados PONTOS DE ESTAGNAÇÃO: um à frente sobre
acima e abaixo do perfil. o bordo de ataque, e outro atrás, sobre o bordo de fuga.

A força de sustentação da asa pode ser então, calculada pela Nesses pontos, a direção da velocidade do ar é normal ao
integral das pressões estáticas aplicadas sobre toda a área da contorno do perfil, e, portanto, a velocidade do ar é nula.
asa, ou o diferencial médio da pressão estática, aplicado sobre Em consequência, a pressão dinâmica é nula, e a pressão
a área projetada da asa. estática é nula e igual à pressão total.

Fz ? ?pdA
Outra propriedade importante do ponto de estagnação é que
. sua localização fornece uma indicação segura sobre a direção e
A
sentido da força aerodinâmica resultante.

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Estudaremos a seguir, dois exemplos sobre a propriedade velocidade v1 é menor que v0, e originando uma força paralela
citada: à direção do movimento, e orientada para trás.

Exemplo 1: Consideremos um perfil de asa simétrico com Essa força é a FORÇA DE ARRASTO AERODINÂMICO
ângulo de ataque nulo, conforme a figura 3.5a. Nesse caso, os (Fx).
pontos de estagnação localizam-se bem nas pontas dos Essa perda de energia faz com que as pressões sobre o bordo
bordos do perfil, o que significa que a distribuição do fluxo de de fuga sejam menores que as pressões sobre o bordo de
ar acima e abaixo são iguais, e a resultante vertical é nula. ataque (fig. 3.5b).
Como o ar possui viscosidade, o atrito com a superfície do
perfil ocasiona a perda de energia do ar, de modo que a

(a) Análise do escoamento (b) Distribuição das pressões

Fig. 3.5: Perfil de asa simétrico com ângulo de ataque nulo

Quando se faz o levantamento do diagrama das distribuições de pressões, utiliza-se o sinal positivo (+) para indicar as pressões
relativas superiores à da atmosfera, e o sinal negativo (-) para as pressões inferiores à atmosférica local.

Exemplo 2: Consideremos agora, um perfil de asa simétrico, com ângulo de ataque maior do que zero (fig. 3.6a). Neste caso, verifica-
se que os pontos de estagnação deslocam-se, sendo que o dianteiro situa-se abaixo do perfil.

A fig. 3.6b mostra a distribuição das pressões em torno do perfil. A integral das pressões sobre o contorno do perfil dá a força
resultante R , indicada na fig. 3.6b, sendo que sua componente vertical Fz é a SUSTENTAÇÃO, e a componente horizontal Fx é a
FORÇA DE ARRASTO, cujo valor é sensívelmente superior ao exemplo anterior.

(a) Análise do escoamento (b) Distribuição das pressões e a Resultante

fig. 3.6 - Perfil de asa de avião com ângulo de ataque diferente de zero

Observando-se os dois exemplos anteriores, podemos concluir que, quanto mais afastado do bordo de ataque estiver o ponto de
estagnação, a força de sustentação será maior. Se o ponto E estiver abaixo do perfil, a sustentação será positiva (para cima), e vice-
versa, sempre considerando o deslocamento do perfil horizontalmente.

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3.4 - DIVERSAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRINCÍPIOS AERODINÂMICOS

Apresentamos a seguir, diversas observações bastante Essa expressão representa a LEI DA CONTINUIDADE:
simples, mas que devem ser lembradas pela importância.
"AS VELOCIDADES SÃO INVERSAMENTE
a) Em um Tubo de Venturi, todas as forças radiais estão PROPORCIONAIS ÀS ÁREAS DAS SEÇÕES
equilibradas, pois a pressão externa atua uniformemente AO LONGO DO TUBO, PARA UM FLUXO DE
em toda a área externa do tubo. Isto significa que, VAZÃO CONSTANTE."
internamente, devido às variações de diâmetro, as
pressões sofrem variações ao longo do seu eixo, mas são
c) Sòmente a pressão estática atua sobre as superfícies
constantes em cada seção transversal. Apenas uma
contidas no escoamento do fluido.
pequena diferença de velocidade na entrada e na saída,
devido ao atrito, produz uma pequena força axial. Ao d) A pressão estática, relacionada à pressão atmosférica
contrário, em um perfil de asa assimétrica, as diferentes local, é genèricamente chamada de PRESSÅO, quando é
pressões em cada ponto da seção, produzem uma força positiva, e de SUCÇÃO, quando é negativa, ou seja,
de sustentação e de arrasto. menor que a atmosférica.

b) Em um Tubo de Venturi, toda a massa do fluido que e) As pressões, positivas ou negativas, sempre atuam
entra deverá também sair, portanto, a massa de ar que sobre a superfície, no sentido de empurrar a mesma, e
passa numa seção qualquer do tubo é igual ao produto da nunca de puxar. Uma força aerodinâmica é sempre
vazão do ar pela densidade, ou seja: resultante do fato que, em um corpo, a pressão exercida
de um lado é maior que a pressão exercida do outro lado.
(área da seção) x (velocidade) x (densidade do ar) = cte.
f) As pressões sempre são exercidas normalmente à
Daí:
superfície, isto é, não existem componentes tangenciais
A1 . v1 . ? 1 = A2 . v2 . ? 2 = ... = constante de pressão.

Considerando-se que a densidade do ar é constante para g) Para fins de análise dos efeitos aerodinâmicos, não há
velocidades subsônicas, temos: diferença entre manter um corpo parado dentro de um
fluxo, ou mover o corpo dentro de um meio fluido
A1 . v1 = A2 . v2 = ... = cte.
estacionário. O que importa é a velocidade relativa entre
Ou: v1 A2 o corpo e o fluido; os esforços aerodinâmicos obtidos
--- = ---- são os mesmos.
v2 A1

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3.5 - ANÁLISE DOS EFEITOS AERODINÂMICOS

Os efeitos aerodinâmicos sobre os corpos que se movem através do ar podem ser analisados de diversas maneiras, entre outras:

a) pela variação da quantidade de movimento do ar;

b) pela consideração da pressão dinâmica atuando sobre uma área de referência, e corrigindo-se o valor obtido por meio de um
coeficiente experimental.

a - Análise pela VARIAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO DO AR

Consideremos um corpo, movendo-se através de um meio fluido; no caso, o ar atmosférico.

Consideremos ainda, uma superfície fechada, envolvendo o corpo a certa distância, denominada SUPERFÍCIE DE CONTROLE
(S.C.). (ver fig. 3.7).

A força resultante R, exercida pelo ar sobre o corpo é igual à diferença vetorial entre as velocidades da saída e de entrada do ar pela
superfície de controle, multiplicada pela massa de ar que atravessa a S.C., durante um intervalo de tempo.

A expressão utilizada para o cálculo de R é: ?


v1 = é o vetor velocidade do fluido, que está saindo da S.C.;
? M ? ? ? ?
R = --- . ( v1 - vo) = m . ( v1 - vo) (3.5) Temos ainda, que a aceleração da massa M do fluido,
t escoando através da S.C. no intervalo de tempo t, é igual a:
onde: ? ?
v1 - vo
M = é a massa de ar que passa pela superfície de controle, no
a = --------
intervalo de tempo t;
t
m = é a massa de ar que passa pela superfície de controle, no
É necessário tomar a diferença vetorial das velocidades do ar,
intervalo de tempo unitário;
pois, evidentemente, há aceleração e força tanto quando varia
? a direção das velocidades do ar, como quando varia apenas a
vo = é o vetor velocidade do fluido, que está entrando na grandeza das velocidades.
S.C.;

b - Análise dos efeitos aerodinâmicos, considerando-se A PRESSÃO DINÂMICA ATUANDO SOBRE UMA ÁREA DE
REFERÊNCIA, E CORRIGINDO-SE OS RESULTADOS POR MEIO DE COEFICIENTES ADIMENSIONAIS OBTIDOS
EXPERIMENTALMENTE.

Este é o método mais utilizado, e a expressão geral que A = área de referência do corpo;
exprime o princípio é:
Caer = coeficiente aerodinâmico, obtido
F = pd . A . Caer (3.6) experimentalmente.

onde: Da equação 3.1, temos que:

pd = pressão dinâmica relativa à velocidade relativa 1


entre o corpo e o ar; pd = --- . ? . v2

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2 Para os cálculos normais, pode-se adotar o valor:


Daí, temos a seguinte expressão geral: ? =~ 1/8 kgf.s2/m4
1
Na verdade, o valor de ? varia com a temperatura e
F = ---. ? . A .v2 . Caer (3.7)
a altitude local, mas essas alterações não são
2
consideradas.
Onde:
A expressão geral 3.7 nos mostra que as forças
F = força aerodinâmica (kgf) aerodinâmicas são proporcionais à densidade do ar,
A = área de referência (m2) ao quadrado da velocidade relativa do ar, ao
tamanho da área de referência, e a um coeficiente
v = velocidade relativa do ar em relação ao corpo aerodinâmico experimental.
(m/s)

? = densidade do ar nas condições normais

3.7 - COEFICIENTES AERODINÂMICOS

Os coeficientes aerodinâmicos são característicos de cada Cmz = coeficiente do momento de guinada.


corpo que se move dentro do ar atmosférico, e dependem dos
seguintes fatores principais:
O escoamento do ar pode ser laminar ou turbulento, sendo
?? . tipo do escoamento (laminar ou turbulento);
que os veículos encontram-se geralmente no regime
?? . formato do corpo; turbulento.

?? . posição do corpo em relação ao escoamento; A passagem de um regime para o outro é caracterizada pelo
número de Reynolds (NR), que é definido pela expressåo:
?? . acabamento superficial.
l.v l.v
Os coeficientes experimentais podem ser determinados para NR = -------- = --------
as forças e para os momentos, segundo os três eixos ? ? ?/ ?
coordenados do espaço, conforme a fig. 3.3;
onde:
Assim, a expressão geral 3.7 deverá ser adaptada para cada
l = um comprimento característico;
caso, e com os coeficientes correspondentes:
v = velocidade relativa do ar em relaçåo ao corpo;
Cx = coeficiente da força de arrasto aerodinâmico;
? = viscosidade absoluta do ar;
Cy = coeficiente da força lateral aerodinâmica;
? = viscosidade cinemática do ar;
Cz = coeficiente de sustentaçåo aerodinâmica;
? = massa específica do ar.
Cmx = coeficiente do momento de rolamento;

Cmy = coeficiente do momento de arfagem;

A fim de se ter uma idéia sobre os valores dos coeficientes aerodinâmicos, bem como as variações devido ao tipo de escoamento,
apresentamos a seguir alguns casos particulares:

a) Placa plana de pequena espessura, perpendicular ao fluxo do ar

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Disco circular, de diâmetro d = l Cx = 1,1

Quadrados e retângulos Cx = 1,15 a 1,20

Nos casos acima, o NR influe muito pouco, pois há sòmente forças de pressão.

b) Placa plana fina, paralela à velocidade do ar

CX = 0.01 para NR = 104

CX = 0.001 a 0.002 para NR = 106

Neste caso, o NR influe muito, pois há só

forças de atrito do ar.

c) Esfera de diâmetro d = l (fig. 3.9 )

CX = 0.15 a 0.20 para NR < 2.5 . 105

CX = 0.45 a 1.00 para NR > 2.5 . 105

A é a área total da esfera. Neste tipo de corpo, o tipo de escoamento


influe muito.

d) Corpo fuselado curto (fuso)

CX = 0.05 para NR = 105 a 106

A = área de referência (normalmente, é a seção máxima perpendicular à


velocidade do ar.

e) Perfil de asa simétrico (estabilizador vertical do avião)

. Arrasto mínimo CX = 0.02 para ? = 0o

. Sustentação máxima CZ = 1.40 para ? = 15o

f) Perfil assimétrico (asa de avião)

. Arrasto mínimo CX = 0.03 para ? = -2o

. Sustentação máxima CZ = 1.6 para ? = 16o

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4 - ESCOAMENTO DO AR NOS AUTOMÕVEIS

O escoamento do ar em autoveículos é essencialmente


tridimensional, pois, além do escoamento por cima e por baixo,
há o escoamento lateral, tornando ainda mais complexo o estudo
das linhas de corrente.

A figura 4.1.a mostra a distribuição das linhas de fluxo em um


automóvel convencional, e a fig. 4.1.b mostra a distribuição das
pressões no mesmo veículo.

Fig. 4.1a - Escoamento do ar em torno de um automóvel.

O número de Reynolds (NR) tem pouca influência, pois o


escoamento encontra-se quase que totalmente no regime
turbulento, e assim, os valores obtidos nos ensaios com modelos
reduzdos podem ser estendidos para o tamanho natural (protótipos).

Fig. 4.1b - Distribuição. das pressões em torno de um automóvel.

5 - ESFORÇOS AERODINÂMICOS EM AUTOVEÍCULOS

Nos autoveículos, o comprimento característico utilizado para o cálculo do NR e dos momentos aerodinâmicos, é a distância entre os
eixos.

A área de referência para exprimir as forças aerodinâmicas costuma ser a área de seção máxima perpendicular ao eixo longitudinal, e é
chamada de "área frontal" e "seção frontal", respectivamente.

É comum utilizar-se também o produto da altura total do veículo pela bitola dianteira das rodas, para o cálculo da área frontal de
referência, conforme mostra a fig. 5.1.

(a) Área frontal máxima (b) Área frontal normalmente adotada

Fig. 5.1 - Determinação da área frontal de referência do autoveículo

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Para o cálculo da força de resistência do ar no sentido de marcha, deve ser tomada a velocidade relativa do ar de frente, isto é, a
velocidade do veículo mais o componente de velocidade do vento na direção de marcha do veículo.

Outrossim, para os cálculos das forças de sustentação, lateral, e os momentos aerodinâmicos, é preciso calcular a velocidade resultante
do ar em relação ao veículo, em grandeza e direção.

5.1 - ESTUDO DA FORÇA DE ARRASTO

a - Cálculo da Força de Arrasto

Para o cálculo da força de arrasto em um autoveículo, a A expressão 5.3 pode ainda ser desenvolvida na forma mais
expressão 3.7 passa a ser como segue: completa, resultando em:

1 1 3
Fx = --- . ? . A . vx2 . Cx (5.1)
Paer = ---- . ? . A . vx . Cx (5.4)
2
150
onde:

Fx - Força de arrasto (kgf)


Na tabela 5.1, são apresentados valores de Cx
? - massa específica do ar (? =~ 1/8 kgf.s2 / m4 )
correspondentes a veículos experimentais destinados a
A - Área frontal de referência do veículo (m2) pesquisas de forma.

vx - Velocidade relativa ar/veículo, no eixo x-x (m/s) Na tabela 5.2, são apresentados os valores médios de
coeficiente de arrasto em veículos de série ao longo dos anos.
Cx - Coeficiente de arrasto aerodinâmico (adimensional)
Na tabela 5.3, são apresentados os valores de coeficientes de
A velocidade relativa ar/veículo é calculada pela seguinte
arrasto de veículos de fabricação seriada, compilados a partir
expressão:
de livros e publicações técnicos, catálogos de fabricantes,
vx2 = vo2 + v12 +/- (2 . v0 . v1 . cos ? ) (5.2) revistas sobre automobilística.

onde: A tabela 5.4 apresenta valores de Cx obtidos em veículos


protótipos, desenvolvidos para pesquisa de novas soluções
vo = velocidade do veículo em relação ao solo (m/s2)
aerodinâmicas em veículos contemporâneos.
v1 = velocidade do vento em relação ao solo (m/s2)
Podem ser também considerados os seguintes valores médios
? = ângulo de incidência horizontal do vento em relação à de Cx, quando não são disponíveis valores exatos:
trajetória do veículo (graus)
- camionetas : Cx = 0.40
O sinal positivo (+) deve ser adotado quando se considera a
- caminhões abertos : Cx = 0.80 a 1.15
velocidade do vento em sentido contrário ao movimento do
veículo, e vice-versa. - ônibus urbanos : Cx = 0.60 a 0.70

Para o cálculo da potência necessária para vencer o arrasto - ônibus aerodinâmicos : Cx = 0.30 a 0.40
aerodinâmico, Paer, temos a expressão:
Os automóveis de 3 volumes (tipo caixa ou pontão)
Fx . vx apresentam coeficiente de arrasto da ordem de 0.45 que é
Paer = ---------- (5.3) relativamente alto, e os fabricantes procuram compensar,
75 reduzindo a área frontal, solução essa que apresenta
limitações.
sendo:
Os carros antigos com o mesmo coeficiente tinham a área
Fx em (kgf)
frontal de cerca de 2.5 m2, e atualmente apresentam cerca de
vx em (m/s ) 1.5 m2. Já os veículos esportivos possuem A =~ 1.2 m2.

Paer em (CV)

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CAP: 2 - AERODINÂMICA DOS AUTOVEÍCULOS
Prof. Milton K. Akiyama

5.1.b - ESTUDO DO COEFICIENTE DE ARRASTO

As experiências mostram que uma placa perpendicular ao fluxo tem maior arrasto que um prisma de mesma área frontal, pois o
turbilhonamento atrás da placa, que arrasta certo volume de ar, absorve muita energia (fig. 5.2).

Fig. 5.2 - Escoamento do ar em uma placa e em um prisma

No caso do prisma, o aumento do comprimento tende a diminuir a turbulência, diminuindo o arrasto. Entretanto, quando o prisma
alonga-se muito, o arrasto de atrito passa a predominar, pois é proporcional à "área molhada" pelo ar, de modo que para prismas de
grande esbelteza, o arrasto tende a crescer novamente.

Na figura 5.3, são comparados os valores de Cx de


prismas com veículos tipo perua e ônibus.

Fig. 5.3 - Variação do valor de Cx em prismas

Nos automóveis, os valores dos coeficientes de arrasto


obtidos nos veículos de série são mais altos que os
obtidos nos estudos de forma ideal, devido a vários fatores que não estão presentes nos modelos em escala confeccionados para
realização de ensaios aerodinâmicos, como:

- rodas com movimento rotativo;

- alojamentos das rodas, principalmente nas dianteiras, onde se formam grandes turbulências;

- mudanças bruscas no contorno;

- colunas das portas e janelas;

- enfeites externos;

- calhas;

- antenas;

- espelhos retrovisores externos;

- maçanetas;

- limpadores de parabrisas;

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CAP: 2 - AERODINÂMICA DOS AUTOVEÍCULOS
Prof. Milton K. Akiyama

5.1.c - COMPOSIÇÃO DO COEFICIENTE DE ARRASTO

O coeficiente de arrasto Cx pode ser decomposto nos seguintes coeficientes elementares:

- arrasto de forma (ou de pressåo);

- arrasto de atrito superficial;

- arrasto induzido;

- arrasto devido às saliências diversas (antenas, espelhos retrovisores, calhas, limpadores de parabrisas, etc.;

- arrasto devido à localizaçåo das tomadas e saídas de ar.

ARRASTO DE FORMA (OU DE PRESSÅO)

O arrasto de forma é proveniente das diferenças das


pressões à frente e atrás do corpo, e como o nome indica, é
função da forma, conforme fig. 5.4.

Fig. 5.4 - Arrasto de forma

Em um corpo prismático, o escoamento produz uma


pressão muito maior na superfície anterior do que na posterior, enquanto que, em um corpo fuselado, as somas dos componentes
longitudinais das pressões à frente e atrás da seção máxima apresentam menor diferença, de modo que o arrasto de forma é bem
menor.

. ARRASTO DE ATRITO

O arrasto de atrito é devido à perda de energia do ar ao deslizar em


torno do corpo, e é devido exclusivamente à viscosidade do ar.

Há a formação da camada limite, que arrasta um certo volume de ar,


conforme fig. 5.5.

Fig. 5.5 - Arrasto devido ao atrito

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Camada limite formada em uma placa plana com aresta de montante chanfrada.

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