O Brasil é continuamente caracterizado como uma nação em busca de identidade, de direção, de
autoconhecimento. Esse contexto sócio-político-cultural parte de uma herança secular vinda das bases étnicas de constituição do povo brasileiro e, da forma como ela se desenvolveu. Conceitos e pré- conceitos embutidos no pensamento brasileiro são reflexos da carga histórica de formação deste povo, que se caracteriza por não pertencer a nenhuma etnia específica, e sim à mistura de muitas delas. O conturbado processo de formação do Brasil como uma nação, tendo uma cultura, um Estado e um povo, incorpora-se na forma como hoje este país se estabelece no âmbito nacional e internacional. Uma forte premissa é a presença de uma “democracia racial”, conseqüência da formação de um povo pela má miscigenação de etnias. Má, pois o cruzamento cultural entre elas não foi tão bem sucedido quanto o biológico. Os diferentes pensamentos e valores entre cada etnia mais se chocaram que se integraram, mais buscaram a sua sobrevivência pela extinção da outra, que a unificação para construção de um novo pensamento. Esse embate refletiu em muitos aspectos culturais da sociedade contemporânea, na forma como nos relacionamos, como conceituamos o trabalho, o negro, o pobre, e a natureza. A educação, principal meio de desenvolvimento social de uma nação, é muito influenciada pelas heranças histórico-culturais do povo, do país. Isso explica a disparidade entre os níveis de alfabetização e IDH entre países com um histórico pouco marcado por conflitos étnicos ou períodos de dominação estrangeira e, aqueles cuja história está repleta de conflitos internos, dominação estrangeira despótica e trabalho escravo. Temos o exemplo da sociedade brasileira, originada de um grande período de conturbação histórica, responsável pelo enfraquecimento da diversidade cultural de um povo que se constituiu da miscigenação de fortes etnias. Essa herança histórica desencadeou uma série de estereótipos com relação ao pobre, ao negro, à religião não-cristã, à relação homem-natureza. Erradicar limitações intelectuais como essas, corrigindo a interpretação de senso comum — sobretudo dentro da educação —, é de extrema importância para um alinhamento cultural do país. Hoje a meta é a sustentabilidade, o desenvolvimento consciente e não agressor ao meio ambiente. Modelos econômicos baseados no extrativismo desenfreado estão sendo reestruturados, e limitações nos hábitos diários da população agora se fazem necessárias. Não desperdiçar, replantar, despoluir, reutilizar, estas são as novas preocupações que um cidadão consciente deve adotar. A adaptação mundial a este novo paradigma, considerado um dos maiores desafios a ser ultrapassado deve se estender a todos os setores da sociedade, desde as bases da formação de cidadãos ao topo das relações comerciais entre os continentes. *O pensamento brasileiro da relação homem-natureza é basicamente extrativismo e lazer, mais uma postura cuja origem é a herança histórica nacional. A presença do pensamento de utilização dos recursos naturais para enriquecimento material ainda sobrepõe o de preservação, o que vai à contramão da nova forma de posicionamento com o meio ambiente exigida no atual contexto climático do planeta. A mobilização internacional a cerca deste assunto é estabelecida por intermédio de conferências e acordos diversos, que tem como objetivo principal reduzir a emissão de gases poluentes e, substituir matrizes energéticas convencionais por aquelas de maior sustentabilidade. Muito tem sido feito, porém os últimos resultados dessas mobilizações vêm deixando a desejar. Um exemplo é a Conferencia de Copenhague (COP-15), realizada entre 7 e 18 de dezembro de 2009, na cidade de Copenhague-Alemanha, onde as principais potências econômicas e países emergentes discutiram sobre as próximas medidas a serem tomadas para redução da degradação natural do planeta. Os diferentes posicionamentos dos países participantes resultaram num desentendimento generalizado que dificultou a realização dos objetivos da conferência. A situação alarmante em que a humanidade se encontra pela má utilização dos recursos naturais exige maior dedicação por parte da sociedade civil e do Executivo. Mobilizações sociais, principalmente através de ONG’s são exemplos da atuação em âmbito nacional de busca por reparações. Grande parte do capital que financia essas organizações parte da iniciativa privada, já o governo executa principalmente programas de preservação ambiental por meio de parques ecológicos. Mesmo com toda essa mobilização o que tem sido feito ainda não é suficiente para reparação de todos os danos, e a palavra de ordem continua sendo o Lucro. Essa ideologia própria do capitalismo impede que uma eficaz adaptação ao modelo de desenvolvimento sustentável seja possível. Um alinhamento cultural é necessário para a mudança desses pensamentos. Logo, a atuação de todos os setores da sociedade é imprescindível. Dentre eles, os setores que desempenham funções básicas como a educação e o convívio familiar são de suma importância. A contemporaneidade sofre com a degradação física do planeta, e sofre ainda com essa mudança na sua forma de lidar com os recursos naturais. O mundo aprendeu a conviver com o luxo, e se acostumou a ignorar tradições primitivas que estabeleciam profundas relações de respeito à natureza. Países como o Brasil, onde a relação com temas deste gênero carregam um grande passado de conflitos culturais, precisam empenhar-se na busca das suas soluções — dentro de seus limites e possibilidades. São inúmeras as barreiras a serem ultrapassadas para que as atuações em prol do desprendimento histórico e da sustentabilidade atinjam rápidos e eficientes resultados.