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Barreiras da herança histórico-cultural

Thilla Banyai Pereira, 16 anos.


(Aluna do Colégio Renascence, Lagoa Santa -MG)

O Brasil é continuamente caracterizado como uma nação em busca de identidade, de direção, de


autoconhecimento. Esse contexto sócio-político-cultural parte de uma herança secular vinda das bases
étnicas de constituição do povo brasileiro e, da forma como ela se desenvolveu. Conceitos e pré-
conceitos embutidos no pensamento brasileiro são reflexos da carga histórica de formação deste povo,
que se caracteriza por não pertencer a nenhuma etnia específica, e sim à mistura de muitas delas.
O conturbado processo de formação do Brasil como uma nação, tendo uma cultura, um Estado e
um povo, incorpora-se na forma como hoje este país se estabelece no âmbito nacional e internacional.
Uma forte premissa é a presença de uma “democracia racial”, conseqüência da formação de um povo pela
má miscigenação de etnias. Má, pois o cruzamento cultural entre elas não foi tão bem sucedido quanto o
biológico. Os diferentes pensamentos e valores entre cada etnia mais se chocaram que se integraram, mais
buscaram a sua sobrevivência pela extinção da outra, que a unificação para construção de um novo
pensamento. Esse embate refletiu em muitos aspectos culturais da sociedade contemporânea, na forma
como nos relacionamos, como conceituamos o trabalho, o negro, o pobre, e a natureza.
A educação, principal meio de desenvolvimento social de uma nação, é muito influenciada pelas
heranças histórico-culturais do povo, do país. Isso explica a disparidade entre os níveis de alfabetização e
IDH entre países com um histórico pouco marcado por conflitos étnicos ou períodos de dominação
estrangeira e, aqueles cuja história está repleta de conflitos internos, dominação estrangeira despótica e
trabalho escravo. Temos o exemplo da sociedade brasileira, originada de um grande período de
conturbação histórica, responsável pelo enfraquecimento da diversidade cultural de um povo que se
constituiu da miscigenação de fortes etnias. Essa herança histórica desencadeou uma série de estereótipos
com relação ao pobre, ao negro, à religião não-cristã, à relação homem-natureza. Erradicar limitações
intelectuais como essas, corrigindo a interpretação de senso comum — sobretudo dentro da educação —,
é de extrema importância para um alinhamento cultural do país.
Hoje a meta é a sustentabilidade, o desenvolvimento consciente e não agressor ao meio ambiente.
Modelos econômicos baseados no extrativismo desenfreado estão sendo reestruturados, e limitações nos
hábitos diários da população agora se fazem necessárias. Não desperdiçar, replantar, despoluir, reutilizar,
estas são as novas preocupações que um cidadão consciente deve adotar. A adaptação mundial a este
novo paradigma, considerado um dos maiores desafios a ser ultrapassado deve se estender a todos os
setores da sociedade, desde as bases da formação de cidadãos ao topo das relações comerciais entre os
continentes.
*O pensamento brasileiro da relação homem-natureza é basicamente extrativismo e lazer, mais
uma postura cuja origem é a herança histórica nacional. A presença do pensamento de utilização dos
recursos naturais para enriquecimento material ainda sobrepõe o de preservação, o que vai à contramão da
nova forma de posicionamento com o meio ambiente exigida no atual contexto climático do planeta.
A mobilização internacional a cerca deste assunto é estabelecida por intermédio de conferências e
acordos diversos, que tem como objetivo principal reduzir a emissão de gases poluentes e, substituir
matrizes energéticas convencionais por aquelas de maior sustentabilidade. Muito tem sido feito, porém os
últimos resultados dessas mobilizações vêm deixando a desejar. Um exemplo é a Conferencia de
Copenhague (COP-15), realizada entre 7 e 18 de dezembro de 2009, na cidade de Copenhague-Alemanha,
onde as principais potências econômicas e países emergentes discutiram sobre as próximas medidas a
serem tomadas para redução da degradação natural do planeta. Os diferentes posicionamentos dos países
participantes resultaram num desentendimento generalizado que dificultou a realização dos objetivos da
conferência.
A situação alarmante em que a humanidade se encontra pela má utilização dos recursos naturais
exige maior dedicação por parte da sociedade civil e do Executivo. Mobilizações sociais, principalmente
através de ONG’s são exemplos da atuação em âmbito nacional de busca por reparações. Grande parte do
capital que financia essas organizações parte da iniciativa privada, já o governo executa principalmente
programas de preservação ambiental por meio de parques ecológicos. Mesmo com toda essa mobilização
o que tem sido feito ainda não é suficiente para reparação de todos os danos, e a palavra de ordem
continua sendo o Lucro. Essa ideologia própria do capitalismo impede que uma eficaz adaptação ao
modelo de desenvolvimento sustentável seja possível.
Um alinhamento cultural é necessário para a mudança desses pensamentos. Logo, a atuação de
todos os setores da sociedade é imprescindível. Dentre eles, os setores que desempenham funções básicas
como a educação e o convívio familiar são de suma importância. A contemporaneidade sofre com a
degradação física do planeta, e sofre ainda com essa mudança na sua forma de lidar com os recursos
naturais. O mundo aprendeu a conviver com o luxo, e se acostumou a ignorar tradições primitivas que
estabeleciam profundas relações de respeito à natureza. Países como o Brasil, onde a relação com temas
deste gênero carregam um grande passado de conflitos culturais, precisam empenhar-se na busca das suas
soluções — dentro de seus limites e possibilidades. São inúmeras as barreiras a serem ultrapassadas para
que as atuações em prol do desprendimento histórico e da sustentabilidade atinjam rápidos e eficientes
resultados.

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