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PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (2) 1

Aldo de Albuquerque Barreto


Pesquisador Sênior do CNPq

RESUMO

O artigo2 lança um olhar no desenvolvimento da ciência da


informação e o relacionamento com a tecnologia. As mudanças na
tecnologia ocorridas nos últimos 50 anos organizam e ordenam todas
as atividades associadas com a informação. O modelo tecnológico
inovador é fechado e não permite dúvidas ou contestação. Nesta
ambiência são analisados o presente e o futuro da área. O papel do
fluxo de informação, das estruturas de informação, do profissional
da área e os objetivos da ciência da informação são só delineados a
partir da crença em que a realidade se divide em três mundos: um
subjetivo, o material e o do ciberespaço.

ABSTRACT

The article launches a glance in the development of information


science and in its relationship with technologies. The changes in the
technology of information that happened in the last 50 years
reorganized gave another order to all the activities associated with
information. The model of information technological innovation is
closed and it does not allow questions. In this environment the future
of the information science is evaluated. The role of the flow of
information and the objectives of information science are outlined
starting from the faith in that, information reality is divided in three
worlds: the subjective, the material the cyberspace.
2

Introdução
A ciência da informação teve seu aparecimento e expansão no após
guerra, principalmente a partir de 1950, quando pesquisas e documentos
mantidos fora do fluxo normal de informação foram liberados para o
conhecimento coletivo. Daí vem a expressão “explosão da Informação”. A
grande crise da época foi então, como lidar com o enorme volume de
informação disponibilizada, utilizando os mecanismos e tecnologias
acessíveis naquela época. Era necessário gerenciar e controlar o grande
volume de informação, estocar e caracterizar seu conteúdo, priorizar o seu uso
de acordo com às diferentes contextos informacionais e promover uma
divulgação seletiva e retrospectiva para evitar a duplicação do esforço de
pesquisa permitindo que a sociedade conhecesse os avanços que haviam sido
efetivados. A conceituação das Leis da Genética de Gregor Johann Mendel
ficou perdida para o mundo por uma geração, pois sua publicação inicial não
se tornou conhecida pelos pesquisadores que poderiam promover a sua
continuação e expansão3. Grande parte das pesquisas em informação,
realizadas nas duas décadas subsequentes a 1950 foram para tentar resolver
estes problemas de agregação da informação relevante em cada ambiente de
receptores.

A interação entre o receptor e os estoques de informação era sempre mediada


por um profissional da informação; o tempo de retorno da informação
solicitada estava na dependência das características internas de eficácia das
unidades de acervamento da informação; o fluxo da informação era uni-
direcionado, o receptor tinha acesso a alguns itens de um estoque em cada
pesquisa e avaliava a relevância de sua busca orientada sempre pelo
mediador, em uma condição de julgamento ex-post.

A crise inicial de volume de informação, senão resolvida, foi bastante


minorada pelo computador a partir dos anos 1980. A atual crise que se acerca
é mais profunda. Nestes quase 50 anos que se passaram, a área não
acompanhou as mudanças e continua em mutação nos modelos relacionados a
tecnologia da informação, modificações advindas das transformações
acontecidas na microeletrônica, na telecomunicação, nos arquivos em fluxo
em tempo real da Internet. A ciência da informação é tão dependente destas
3

tecnologias intensas que poderíamos afirmar que o seu futuro depende da


aceitação do presente.

As mudanças na tecnologia da informação ocorridas durante os últimos anos


reorganizaram todas as atividades associadas à ciência da informação. A curto
prazo a sociedade sempre foi afetada pelas transformações de impacto da
tecnologia. Aqueles que convivem mais de perto com estas alterações
enfrentam com maior carga às conseqüências sociais e físicas de uma enorme
ansiedade tecnológica, os meios de comunicação são vistos como extensões
do homem por Mcluhan4: o telefone é uma extensão do ouvido, a roupa e uma
extensão da pele, o texto dos olhos.

O profissional desta área foi precipitado em uma junção de transformações,


muitas das quais ainda não percebeu. Durante um período de implantação de
uma inovação o contexto se torna confuso e beligerante e é melhor percebido,
quando a mudança termina. É necessário ter um distanciamento para entender
a mudança, É bem mais fácil entender hoje, a sociedade industrial do que a
atual sociedade de informação.

O modelo tecnológico inovador é fechado que induz a um distanciamento


alienante de como ele opera ou se opera no melhor sentido. Se o discurso da
ciência traz uma promessa de verdade, o da tecnologia traz consigo uma
promessa de melhoria das condições de vida do homem, de conforto material,
de felicidade. No caso das tecnologias de informação, se o seu objetivo é
promover o acesso universal à informação, esta é uma decisão do status
tecnológico da sociedade. É uma decisão fechada e avaliada. Não é passível
de dúvida ou contraposição sob pena de nos tornarmos contra o avanço
tecnológico, retrógrados e ultrapassados.

A autoridade tecnológica julga e condena quem quer se introduzir no


conhecimento deste processo de mudança. Não cabe questionar ou tentar
compreender como uma informação é transmitida eletronicamente do Rio de
Janeiro para Nova Iorque, por exemplo. Este conhecimento operacional em si
é socialmente irrelevante e até indesejável para os gerentes da nova técnica.
Se as consequências são benéficas para a sociedade, questionar é quase pouco
decoroso.

Mas, a crise que se avoluma na ciência da informação, nesta


contemporaneidade pode ser comparada com às mudanças acontecidas na
4

passagem da sociedade acústica para a sociedade tipográfica. Na cultura5


auditiva havia um mundo fechado de ressonância tribal e com o sentido
auditivo da vida. O ouvido é sensitivo, dependente para a harmonia de todos
os membros do grupo. O que um sabia todos sabiam no mundo de espaços
acústicos, simultâneos, do indivíduo emocional, mítico e ritualista. Tempo e
espaço se realizavam no momento da mensagem. Como nas atuais redes
sociais.

Mas os nossos cérebros se especializaram e estão muito diferentes do cérebro


de uma pessoa normal há milhares de anos. Nós não fomos construídos para
escrever e ler. Na verdade, a leitura para o homem é uma aventura. O mesmo
serve para as ferramentas que nos permitem interagir com a informação. Na
cultura escrita, o espaço visual é uma extensão e intensificação do olho. É
sequencial e contínuo. O campo visual é sucessivo, fragmentado,
individualista, explícito e especializado. Deu ao homem valores visuais
lineares e uma consciência fracionada ao contrário da rede de convivência de
contato voltado aos limites mágicos dos espaços auditivos.

A escrita fragmentou o espaço de convivência com os indivíduos funcionando


em um tempo linear e um espaço euclidiano 6. A tipografia terminou de vez
com a cultura tribal e multiplicou as possibilidades de disseminação da escrita
no tempo e no espaço. O homem passou a raciocinar de uma maneira
sequencial, categorizando e classificando a informação e se tornou um ser
especializado.

Esta passagem da cultura tribal para a cultura escrita com tipografia foi uma
transformação para o indivíduo e para a sociedade tão profunda como vem
sendo a passagem da escrita para a cultura eletrônica que ora vivenciamos. A
chegada da sociedade de informação eletrônica modificou novamente a
equação de tempo e espaço da informação. A importância do instrumental da
tecnologia da informação forneceu infraestrutura para modificações, sem
retorno para as relações da informação com seus usuários. Tão importante
como o instrumental da tecnologia da informação foi a relação associada a
interatividade e interconectividade no relacionamento para os receptores de
conteúdo:

a) Interatividade7: representa a possibilidade de acesso em tempo real


pelo receptor a diferentes estoques de informação e às múltiplas formas de
interação entre o usuário e às estruturas de informação. A interatividade
5

modifica a relação receptor  tempo  Informação. Reposiciona os acervos, o


acesso a distribuição e a relação documento/usuário ao liberar o receptor dos
intermediários que executavam estas funções em linha; o usuário passa ter
acesso online através de linguagens interativas.

b) Interconectividade8: quando o receptor da informação pode deslocar-se


de um espaço de informação para outro espaço de informação no momento de
sua vontade como em uma comutação eletrônica. O usuário passa a ser o seu
próprio mediador na escolha de informação, ele é quem determina suas
necessidades de conteúdos e é o julgador de relevância e valor dos
documentos e do estoque que acessou em tempo real; como se estivesse
colocado virtualmente dentro de um sistema de armazenamento e recuperação
da informação. A interconectividade reposiciona a relação receptor  espaço
 informação.

Estas mudanças foram introduzidas no status tecnológico das ações de


armazenamento e transmissão da informação e vêm trazendo mutações
contínuas, também na relação da informação, seus usuários suas aplicações.

A interação em tempo real com a estrutura da informação9 tem questionado o


caráter sequencial do documento texto. O computador permite uma
desterritorialização do texto, livre das amarras da constituição linear da
narrativa. O código linguístico comum permanece como base nas estruturas
de informação, como um elemento sistemático e compulsório para uma
determinada comunidade de informação, mas a mensagem é individual,
intencional e intentada. O enunciado é arbitrário e direcionado e neste modo
esta subordinado a um código de comunicação autônomo e não intentado.10

A estrutura da informação, como mensagem, se direciona individualmente a


cada receptor. O documento digital em formato interativo permite que cada
usuário modifique a mensagem arbitrariamente segundo seu conceito de
relevância e utilidade. O receptor deixa de ser o passivo leitor atuando
também como o autor de em próprio texto. Nas palavras de Levy11 uma nova
linguagem se observa em mudança: “O alfabeto foi inventado em uma época
em que não existiam os gravadores de som. Na antiguidade e na idade média
os textos alfabéticos eram usados como fitas magnéticas gravadas, porque o
homem tinha que ler em voz alta e ouvir o som da leitura para obter o
significado da narrativa” 12
6

O fluxo da informação entre os estoques ou espaços de informação e os


usuários permeiam dois critérios: o da tecnologia da informação que almeja
possibilitar o maior e melhor acesso a informação disponível e o critério da
ciência da informação, que intervém para, também, qualificar este acesso em
termos das competências para assimilação pelo receptor da informação que
deve ser acessada para seu desenvolvimento e dos seus espaços de
convivência.

Não é suficiente, que a mensagem seja intencionalmente intentada para


acesso, mas que atinja a geografias semânticas compatíveis com a sua
compreensão e aceitação na recepção. Esta é uma diferenciação de mérito
para definir os objetivos, a pesquisa e o ensino. As duas premissas deveriam,
certamente marchar em conjunto, mas a ansiedade tecnológica imprime um
posicionamento diferenciado, entre as atividades ditas práticas e atividades
teóricas no encaminhamento da questão.

Nas décadas iniciais, as unidades de informação trabalhavam com um fluxo


de informação se desenvolvia em um tempo linear, mensurável e direcionado
a um único espaço de informação. Hoje com a informação online, em tempo
real, tem seu fluxo múlti direcionado para diversos estoques virtuais, onde o
tempo de acesso se aproxima de zero, a velocidade se acerca do infinito e os
espaços são de vivência pela não presença.

O profissional desta área se encontra, nesta atualidade em um ponto no


presente entre o passado e o futuro. Convive com técnicas tradicionais de mas
precisa atravessar para uma outra realidade e aprender conviver com novas
tecnologias numa constante renovação de suas práticas.

Os que trabalham com a informação devem estar preparados para operar nas
três realidades da figura 1 construindo a ponte entre passado e o futuro. O
trabalhador da informação terá muitas faces diferenciadas: para
conhecimento, habilidades e atitudes de aceitação da tecnologia. Às
características do trabalho com a informação não permitiram reservas
intelectuais de mercado de trabalho: o profissional da informação será aquele
que aceitar a inovação e não o que se pretender ser defendido por um estatuto
profissional legal.
7

O OBJETO DE ESTUDO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Objetivos bem definidos, para uma área de estudos norteiam todo o


pensamento subseqüente em sua estruturação. Orientam sua pesquisa, o seu
ensino, delimitam suas fronteiras, às inter-relações com outras disciplinas e o
seu núcleo temático. Há que se demarcar o foco obedecendo a prevalência do
principal. Nunca deixar que os argumentos acessórios tomem a frente do
assunto superior ao definir a meta de seu campo.

Neste final de século e devido a sua interação com a tecnologia intensa, a


ciência da informação redefine o conteúdo e a prioridade de seus objetivos
continuamente. Alguns anos atrás seria difícil constatar como um dos
objetivos da ciência da informação o estudo de grupos eletrônicos de
convivência na web, repositórios de informação, correio eletrônico e os
demais gadgets móveis para acesso e uso da informação. Contudo, a
preocupação com a clareza e a constância dos objetivos da disciplina, ainda
que provisórios é uma preocupação válida e aparece na reflexão de seus
autores:

“Quais são os objetivos da pesquisa na área de ciência da informação,


Ou com que clareza as agências financiadoras os percebem de maneira a se
sentirem estimuladas a investir neles?”13

Ou

“A universalidade dos processos de informação e, principalmente, os


conteúdos disciplinares da ciência da informação, estão obscuros e flutuam
em uma escala tão vasta que a área corre o risco de perder seus horizontes
científicos, por mais que variações e diferentes correntes de pensamento
sejam naturais na ciência.”14

Assim, alguns objetivos ou são enunciados ou podem ser deduzidos. A


pesquisa da área tem marcado núcleos que se prolongam há anos
privilegiando as sub-áreas como: a) de organização do conhecimento,
indexação e classificação, informação; b) seus contextos e a distribuição desta
conteúdo em formatos bem estabelecidos. As práticas atuais seguem uma
ideologia baseada em uma tecnologia de outrora. Isto parece indicar uma
visão da área orientada para organização e controle de conteúdos e sua
8

transferência para espaços sociais específicos. Uma visão focada na


administração de seus acervos estáticos.

Já o The Institut for Information Scientists de Londres,


Inglaterra é mais direto e estabelece como objetivo da área:

“A ciência da informação se preocupa com os princípios e práticas da


produção, organização e distribuição da informação que está sob qualquer
formato de inscrição. Assim como, com o estudo da informação desde sua
geração até a sua utilização, e a sua transmissão em uma variedade de formas
através de uma variedade de canais.”

Na verdade não acredito que seja possível enunciar objetivos com


permanência definitiva, para uma estruturação de ciência da informação
atingida por frequentes modificações de uma intensa tecnologia de acesso e
distribuição. Esta é uma área de estudo aplicada e dependente de técnicas com
elevado teor de inovação e em contínua mutação.

Seus objetivos são “tecnológico dependente” e em alguns momentos se


modificam e se redefinem, envelhecem, são substituídos As medidas de
recuperação e precisão, por exemplo, como foram enunciadas no final da
década de 60, para avaliar linguagens de indexação em sistemas lineares
foram importante base para os objetivos em sua época. Hoje envelheceram e
foram redefinidos por outros modelos tecnológicos, outros direcionamentos
que a área teve que seguir.

Acreditamos que os objetivos da ciência da informação se inscrevem em


realidades diferenciadas que chamamos os três mundos da ciência da
informação: a) o mundo subjetivo dos sistemas cerebrais; b) o mundo objetivo
dos sistemas materiais; e c) o mundo cibernético. Como na figura 115:
9

FIGURA 1

As regiões demarcadas pelas diferentes realidades e suas interseções


Configuram os possíveis objetivos e às perspectivas da ciência da informação
a saber:

A - o mundo da realidade subjetiva: o espaço das construções teóricas dos


significados, da geração pelo gerador e da interpretação e assimilação da
informação pelo receptor. Das reflexões que procuram criar uma base
conceitual e teórica etc.;

B - o mundo da realidade operacional: o espaço dos sistemas materiais e


dos instrumentos para operar e lidar com os atos de fatos de armazenamento,
estocagem e modelos de recuperação; da informação; da sua formatação de
significados pela construção de universos simbólicos particulares e
privilegiados para contextos particulares, etc.;

C - o mundo da realidade do ciberespaço: o espaço das narrativas em


formato digital armazenadas em repositórios eletrônicos; um espaço de
comunicação em que não é necessária a presença física do homem para existir
10

a comunicação. É o espaço virtual para a comunicação disposto pelo meio da


tecnologia; a região de comunicação entre os humanos e o computador;
espaço onde seus dois mundos coincidem e colidem.

Estes mundos diferenciados quando interagem formam espaços de definição


dos objetivos da área de ciência da informação:16

1 - Espaço (1) da reunião de A+B e a área das tecnologias de informação e


comunicação, dos estoques e informação e das redes e outras estratégias de
transferência da informação. Espaço das estratégias e modelos operacionais
construídos em base teórica para efetivar o fluxo da informação

2 - Espaço (2) da reunião de A+C e espaço das interações entre o homem e as


condições eletrônicas de estrutura e fluxo informação; das ideações de rede e
convivência virtual

3 - Espaço (3) da reunião de B+C é o espaço de construção dos artefatos de


interação entre os estoques eletrônicos de documentos digitais e sua
operacionalidade no mundo real.

Espaço (N) da reunião de A+B+C: espaço de criação de ideia e ações


operacionais para a convivência de diferentes regimes de informação digital,
seus artefatos e sua explanação teórica como das ações de interatividade e
interconectividade, da inteligência artificial e da realidade virtual; das novas
aplicações e desenvolvimentos da documentação digital.

Creio que, os objetivos da ciência da informação pertencem a estes diferentes


mundos e às suas interações. Estes objetivos se modificam de acordo com a
velocidade com que mudam às realidades que definem cada um destes
mundos, e sua importância relativa, dentro de determinado tempo, estará
indicada pela prioridade que a sociedade coloca em sua percepção de valor da
eficácia das diferentes mídias e formatos da informação. Há que se imaginar
que estas três esferas da figura se movimentam criando novos espaços que
irão definir novos rumos de predominância e qualidade das metas do setor. É
dentro destes mundos, em suas prioridades, que se localizam a pesquisa o
ensino e a atuação profissional na ciência da informação. Quanto maior for o
núcleo N maior será a sua posição como reflexão de ponta na área.
11

A estreita relação da área com a tecnologia de acesso, uso e transferência da


informação não permite definições e delimitações permanentes para as metas
da área. Esta tecnologia está em constante modificação e um olhar para o
futuro é parte da estratégia daqueles que convivem com seus conceitos e suas
práticas.

Uma instabilidade em qualquer dos espaços interligados da figura 1, pela


movimentação da esferas do desenho, irá exercer uma tensão modificadora
nos demais espaços. Assim, antever transformações é uma condição de
sobrevivência para a área. Em avaliações recolhidas na Internet17 podemos
indicar um futuro, que já desenha seus contornos.

Refletindo o futuro da ciência da informação como área de conhecimento há


que considerar a modificação da relação da informação com seu receptor está
cada vez mais colocada em uma mudança no estatuto do documento; indo do
formato tradicional para documento digital abertos em se fazendo e em rede.

Perspectivas da ciência da informação em 2011 (*)

O fluxo de informação tradicional operando com o documento na base papel


possuí características marcantes e uma ideologia interna sedimentada há cerca
de cinquenta anos nas práticas que priorizou os objetivos da área:

1 -Unidirecionamento: o receptor da informação tem acesso a cada estoque de


informação sucessivamente; o receptor tem acesso a um acervo físico por vez,
seja na biblioteca, no arquivo ou no museu;

2 - A estrutura de informação possui a mesma característica: documentos são


estruturas textuais lineares que seguem um formato sequencial como um
folhetim que se vai contanto do início ao fim;

3 – Existe uma mediação de interface entre os estoques de documento e o


usuário da informação, ou para interagir com o fluxo ou para delimitar a sua
necessidade de conteúdos ou para avaliar o produto final da interface.

4 - O encadeamento interno dos eventos formadores do fluxo da informação é


povoado por rituais de ocultamento. Estes protocolos de segredo se verificam
em várias fases da organização interna para reformatação do documento e seu
armazenamento e recuperação.
12

Contudo, as facilidades de acesso pela web marcam a interatividade para o


receptor ao lidar com os estoques globais. O usuário de informação não mais
aceita percorrer os caminhos ocultos dos universos particulares da linguagem
mediada nem perder tempo com as intrincadas regras das taxonomias voltadas
para ordenar os processos de uma acervação convencional.

Esta é uma nova sensação ao se observar e viver a realidade: existe um


reposicionamento dos atores da área ao longo do tempo. O ciberespaço
introduz o conceito de um espaço de comunicação que descarta a necessidade
da presença física para constituir uma troca de informação. Um espaço em
que a vivência enquanto experiência intelectual não necessita da presença
corpórea.

É difícil entender e observar, a realidade, o momento exato em que estamos


inseridos, por mais incrível que ele possa ser. Existe uma proximidade que
nos impede de ver com clareza o aqui e o agora. Por isso não temos o
afastamento necessário para entender que existimos hoje em duas realidades:
uma realidade objetiva vivida corporeamente com uma presença física e onde
construímos todos os atos e traços de nossa aventura individual rumo ao
(in)finito.

Uma outra realidade virtual denota a extrapolação do concreto; o rompimento


com as formas tradicionais do acontecer delimitado. O virtual oposto ao atual,
carrega uma potência de ser e por suas características podemos vivenciar uma
realidade sem estar lá, sem a presença física, não importando distâncias ou
superfícies.

É importante saber, então, que habitamos duas realidades na mesma época, ao


mesmo tempo. Esta anfibiedade em que vivemos é a capacidade criada para
habitar e interatuar em contextos e condições diferenciadas: aterrados no
viver físico ou libertados de amarras no mundo virtual. Existe uma condição
atual que faz nosso viver estar em dois espaços: o da realidade da existência
formal e o da realidade potencial onde existimos metaforicamente linkados a
diferentes espaços de informação.

Eu existo virtualmente no mundo das minhas narrativas sem distância espaço


ou tempo definido. Minha vivência é a da conexão ou conexões que estipulo e
meu destino é perseguir os links de minha trajetória. Virtualmente existo na
13

elaboração das minhas narrativas para um âmbito simbólico que não é fixo,
físico ou designado.

A pergunta, então é: estando a ciência da informação, como atualmente


entendida e ensinada, presa em uma única realidade, como subsistira enquanto
área de conhecimento aplicado nos próximos anos? Se existir alguma duvida,
porque continuar a ensinar conteúdos e práticas declinantes? Por que
reproduzir continuamente condições de aprendizado que já estão fora dos
requisitos do mercado de trabalho.

Acredito que os objetivos e os documentos tradicionais da área e as suas


práticas ortodoxas de organização e controle permanecerão ainda na memória
para entendermos o que fomos na construção do que seremos.

Contudo, esta memória não será mais a dinâmica, das práticas de informação
coniventes com o desenvolvimento do ser humano e da sua realidade.

NOTAS E BIBLIOGRAFIA CITADA

1
Este texto é um versão revista, atualizado e com modificações do artigo publicado na
Revista de Biblioteconomia de Brasília v.2, n.2, 1997 com o nome Perspectivas da Ciência
da Informação.
2
Este texto é uma versão revista, atualizada e com modificações do artigo publicado na
Revista de Biblioteconomia de Brasília v.2, n.2, 1997 com o nome Perspectivas da Ciência
da Informação.
3
Bush, Vanevar- Atlantic Montly, n. 1, July 1945, pp.101-108.
4
Mcluhan, M. - Os Meios de Comunicação como extensões do homem, Cultrix, São
Paulo, 1964, 400pp
5
Cultura auditiva :aqui representa o conjunto de características humanas que se criam e se
preservam através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade.
6
Espaço euclidiano é um espaço vetorial real de dimensão finita munido de um produto
interno. < http://pt.wikipedia.org/wiki/Espa%C3%A7o_euclidiano> [02/04/2011]
7
interatividade - capacidade do sistema de comunicação de interagir ou permitir interação.
Procedimentos operacionais em que o usuário pode continuamente intervir e controlar o
curso das atividades do computador fornecendo novas entradas à medida que observa os
efeitos das anteriores.
8
Interconexão - comunicação ou troca de informações entre estoque de informação e
usuário. Representa a possibilidade imediata do usuário refazer uma conexão entre dois
espaços de informação.
14

9
Por estrutura de informação entendemos a disposição, a forma de organização que
assumem as inscrições de informação em uma base física ou digital.
10
Ricoeur, P. - Teoria da Interpretação, Edições 70, Lisboa, 1976, 109 pp
11
Pierre Levy, 'Toward Superlanguage', in ISEA 94 catalogue, Helsinki: University of Art
& Design, 1994, p. 10.
12
Pierre Levy, 'Toward Superlanguage', in ISEA 94 catalogue, Helsinki: University of Art
& Design, 1994, p. 10.
13
Mueller, S.P.M. - A Pesquisa em Ciência da Informação no Contexto das Ciências
Humanas,Trabalho apresentado na Mesa Redonda do mesmo nome na III Reunião de
Pesquisa da ANCIB,Rio de Janeiro, setembro de 1997.
14
Pinheiro,L.V.R.- A Ciência da Informação entre a sombra e a Luz, Tese apresentada
ao Curso de Doutorado em Comunicação (área ciência da informação) da UFRJ, Rio de
Janeiro, 1997.
15
Analogia aos três mundos de Karl Popper <http://participantesugere.blogspot.com/2006/05/popper-trs-
mundos.html>
16
Indicações são exemplos para melhor compreensão do texto não incluem ou excluem
todas as possibilidades
17
Smith, and Weingarten (ed.) - (May,1997) Reserach Challange for the next genetation
Internet, Computing , Research Association disponível em:
http://www.nitrd.gov/ngi/pubs/research/research_chall.pdf [11.03.2012]

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