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Diana Iosif,

Universidade de Vigo,

Literatura Portuguesa,

II cuadr., 2009-2010.
Memorial do convento

As personagens históricas

Autor : José Saramago

Litografia do Palácio Nacional de Mafra, Portugal, 1853.


José de Sousa Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga ( na

província do Ribatejo- Portugal) e morreu a 18 de Junho de 2010, em Lanzarote ( nas Ilhas

Canárias- Espanha). Elle foi um escritor, argumentista, jornalista, contista, dramaturgo, romancista

e poeta português.

Ganhou o Nobel de Literatura de 1998( o primeiro concedido a um escritor de língua

portuguesa) e o Prémio Camões( que é o mais importante prémio literário da língua portuguesa).

Saramago foi considerado o responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua

portuguesa.

Quando dizemos o nome de Saramago, nós recordamos das suas obras que foram

publicadas nos países como Espanha, França, Itália, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Grécia ,

Brasil, Bulgária, Polónia, Cuba, União Soviética, Checoslováquia, Dinamarca, Israel, Noruega,

Roménia, Suécia, Finlândia, Estados Unidos, Japão, Hungria, Suíça, Argentina, Colômbia, México.

Uma das obras mas cochecidas de Saramago, o seu romance "Memorial do Convento",

foi adaptado para a Ópera pelo compositor italiano Azio Corghi, com o título "Blimunda".

As suas obras publicadas incluen :

* Poesia ( Os Poemas Possíveis, 1966, Provavelmente Alegria, 1970, O Ano de 1993, 1975)

* Crónica ( Deste Mundo e do Outro, 1971, A Bagagem do Viajante, 1973, As Opiniões que o

DL teve, 1974, Os Apontamentos, 1976)

* Diário ( Cadernos de Lanzarote I, 1994, Cadernos de Lanzarote II, 1995, Cadernos de

Lanzarote III, 1996, Cadernos de Lanzarote IV)

* Viagem ( Viagem a Portugal, 1981)

* Teatro ( A Noite, 1979, Que Farei Com Este Livro?, 1980, A Segunda Vida de Francisco de

Assis, 1987, In Nomine Dei, 1993)

* Conto ( Objecto Quase, 1978, Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979)
* Romance ( Manual de Pintura e Caligrafia, 1977, Levantado do Chão, 1980, Memorial do

Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do

Cerco de Lisboa, 1989 ,O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991, Ensaio sobre a Cegueira, 1995,

Terra do Pecado, Todos os Nomes).

Uma das suas obras conhecidas international é a obra do "Memorial do convento", um

romance histórico, publicado em 1982, que revela igualmente o tema do solitário que luta contra a

autoridade( o romance critica a exploração dos pobres pelos ricos).

Nesta obra, Saramago retrata a personalidade do rei D. João V (o rei absolutista que

gozou da enorme quantidade de ouro e de diamantes vindos do Brasil e que mandou construir o

magnânimo Palácio Nacional de Mafra, como o resultado de uma promessa que fez para garantir a

sucessão do trono) e narra também a vida de vários operarios que contribuiram na construção do

Convento de Mafra. Baltasar representa na obra um operário consciente dos objectivos do seu

trabalho e, assim, o romance enfoca o seu grande amor por Blimunda. Ele se dedica de forma

apaixonada ao projecto de construção da Passarola ( um aparelho voador) e Blimunda é a mulher

dotada do estranho poder de ver o interior das pessoas. Os dois conhecem um padre, Bartolomeu de

Gusmão, que entrou na história como pioneiro da aviação. O trio inicia a construção de um aparelho

voador, a Passarola.

Após um dos voos da Passarola, Bartolomeu e perseguido pela Inquisição. Ele foge

para a Espanha. Escondida num monte, Blimunda e Baltasar vão tratando fazer a manutenção à

passarola. Baltasar ficou preso à Passarola um dia (foi levado pelos ares). A aeronave despenhou-se

e Baltasar foi capturado pela Inquisição por bruxaria. No fim do livro, Baltasar morre, condenado à

fogueira e Blimunda recolhe a vontade de ele.

No seu Memorial do Convento, o escritor português inseriu personagens

reais(históricas ) e personagens de ficção (Blimunda e Baltasar). Existe diversas personagens que

formam dois grupos opostos: a aristocracia e o alto clero- o grupo do poder; o povo e os oprimidos-

o grupo do contra-poder. O primeiro grupo é forrado pela falsidade, rídiculo e indiferença pelo
sofrimento humano. O segundo representa os heróis esquecidos pela História oficial.

As personagens históricas

D. João V

D. João V (nome completo: João Francisco António José Bento Bernardo de Bragança;

nasceu a 22 de Outubro de 1689 e morreu a 31 de Julho de 1750). Ele foi Rei de Portugal desde 1

de Janeiro de 1707 até à sua morte.

<< Figura polémica ha história portuguesa, D. João V foi desde a época das Luzes

considerado como símbolo da decadência portuguesa e do desperdício de oportunidades Unicas na

história nacional. A historiografia romántica também o tratou com um parti pris evidente, longe da

imparcialidade desapaixonada que o discurso histórico costuma reivindicar.>>. ( Mioara Caragea, A

Leitura da História nos Romances de José Saramago, ed. Universitatii din Bucuresti, 2006, p. 97 ).

Oliveira Martins falava na História de Portugal do reinado << beato e devasso de D.

João V., que legitimava um << sistema de costumes ridículos e nojentos>>, ou da << comédia

burlesca da devoção >> em que o rei combinava de modo trágico o fanatismo religioso com a

libertinagem. ( Oliveira Martins, História de Portugal, Lisboa, Guimarães Editores, 1972, p. 435, p.

446 ).

O rei tem também o desejo de progresso e inovação- protege projectos como o da

Passarola, inicialmente. Ele contrata Domenico Scarlatti como professor de música da infanta Maria

Bárbara, neste modo ele mostre o seu apreço pelas artes. Com o pretexto de cumprir a promessa que

fez ao clero para garantir a sucessão ao trono, manda construir um enorme pálacio e um convento

de Mafra para fransciscanos.

Tem como hobby a construção da réplica da Basílica de S.Pedro de Roma ( ele tem
uma obsessão pela magnância).

Revelam-se, nesta maneira, atitudes como: ele é vaidoso, egocêntrico e megalómano.

Governa consoante os seus desejos e sonhos, desprezando assim a miséria dos pobres e sacrificando

o povo e a riqueza do país em nome da concretização do seu sonho maior. Podemos dizer que

representa o absolutismo e a consequente repressão no povo miserável.

Tem várias relações adúlteras e a sua amante preferida é a Madre Paula do Convento de

Odivelas, ( mas compactua com a Inquisição), e é orgolhoso dos seus abundantes bastardos.

No romance, o rei tem uma imagem caricatural. Ele é ridicularizado tanto ao

protagonizar cerimónias de solenidade, como nas situações que revelam as suas fragilidades.

D. Maria Ana Josefa

Arquiduquesa de Áustria nasceu a 7 de Setembro de 1683- Linz e morreu a 14 de

Agosto de 1754- Lisboa, filha do Sacro Imperador Germânico, Leopoldo I e da sua terceira mulher,

a condessa Palatina de Neuburgo Leonor Madalena, irmã dos Sacro Imperadores José I e Carlos VI.

Foi rainha consorte de Portugal de 1708 a 1750, enquanto mulher do Rei D. João V de Portugal.

No Memorial do Convento, é tratada como um mero instrumento de produção de

sangue azul do rei. Para cumprir o dever real, eles juntam-se duas vezes por semana, unicamente,

não falam, nem dormem juntos( o rei sobe simplemente para a cama da rainha e do mesmo modo

deixa-a). A rainha tem muitas saudades de casa, por isso dorme sempre com um cobertor de penas

oriundo de Aústria.

Através do sonho, liberta-se da sua condição- assume a sua sensualidade com o seu

cunhado, infante D. Francisco.Ela tem a consciência que está em pecado, sente-se atormentada e

culpada.

Julga que está grávida de deus e por isso ocupa-se obcessivamente com missas e longas

novenas e . Ela fez uma declaração de amor a infante D. Francisco durante a ausência do rei, tem
sonhos com o cunhado, mas não deixa que passem disso. Ela é consciente da infidelidade do seu

marido, mas ela assume perante a vida uma atitude de passividade e de infelicidade.

A rainha, como personagem, representa o papel da mulher da época: submissa, simples

procriadora (objecto da vontade masculina). Por pertencer à casa real e por estar grávida, nao pode

disfrutar nem da festa da pós-Quaresma ( uma festa onde as mulheres comuns aproveiam de o único

dia de independência que têm com os seus amantes).

Bartolomeu Lourenço de Gusmão

Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em 1685- Santos e morreu a 18 de novembro

de 1724- Toledo). Foi um sacerdote secular, cientista, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato

operacional. Cognominado o padre voador, é uma das maiores figuras da história da aeronáutica

mundial.

O padre é marcado pelo espírito científico ( ele ignore os fanatismos religiosos da

época); pelo comportamento anti-canónico; e pela modernidade( o seu sonho de criar uma máquina

voadora). Ele viaje primero para a Holanda para fazer umas investigações científicas, para buscar o

segredo que faria a passarola voar, neste maneira a concretização deste sonho tornou-se uma

obcessão. Depois viaje para Coimbra onde doutorou-se.

Assim emerge um orgulho, uma grande ambição de elevar-se um dia no ar, onde até

agora só subiram Cristo, a Virgem e alguns santos eleitos. Ele faz parte de uma Santíssima

Trindade terrena com Baltasar e Blimunda por culpa de esta obcessão, para usufruir na construção

da passarola, juntamente com os seus conhecimentos científicos e a capacidade física. e o saber

prático do Baltasar e a magia herética da Blimunda.

O padre tem um estatuto de transgressor da sociedade vigente e da Igreja ( que é

enfatizado quando realiza o casamento e o batismo de Sete-Luas com Sete-Sóis). A amizade entre

estes três é o símbolo da solidariedade e da beleza.


O padre estava sob a protecção real, mas depois que esta terminou, foi imediatamente

perseguido pela Inquisição sob a acusação de bruxaria. Ele obrigou a Baltasar a abandonar o

projecto, depois foge a segredo para Espanha, onde morre( em Toledo).

<< Presença real da época de D. João V, Bartolomeu Lourenço de Gusmão é um

personagem histórico, integrável numa sequência historiográfica precisa, que é a da fase << pré-

científica >> da história da ciência em Portugal. A historiografia insere o invento do Bartolomeu

Lourenço de Gusmão na série científica, desbastando-o da ganda mitológica e recuperando dos

poucos elementos conhecidos aqueles que estão conformes com a evolução posterior das

descobertas científicas. >> ( Mioara Caragea, A Leitura da História nos Romances de José

Saramago, ed. Universitatii din Bucuresti, 2005, p. 108 ).

Giuseppe Domenico Scarlatti

Giuseppe Domenico Scarlatti nasceu a 26 de Outubro de 1685- Nápoles e morreu a 23

de Julho de 1757- Madrid). Foi compositor italiano, filho do músico e compositor Alessandro

Scarlatti. Suas maiores contribuições para a música foram suas sonatas para teclado em um único

movimento.

Ele foi, primeiramente, professor do infante D.António, (irmão de D.João V), e depois a

professor da infanta D.Maria Bárbara. Escreveu diversas peças musicais enquanto estava o

professor da Casa Real de 1720 a 1729.

Ele é contratado pelo rei, mas é um representante de contra-poder (duvido a sua

liberdade de espírito e pelo o seu poder libertador da sua música) . Como um cúmplice silencioso é

também um participante do projecto da passarola. Nesta maneira o narrador une a ciência e a arte

( ambas são reveladoras de um espírito de inovação e de abertura ao progresso e à modernidade).

Scarlatti instala secretamente o seu cravo para a Quinta do Duque de Aveiro. Ele toca a

sua música e nesta maneira inspira os construtores da passarola. Mais tarde, o músico tocava para
Blimunda para provocar a sua cura ( Blimunda ficou com uma estranha doença causado pela

exaustão da recolha das vontades).

Música, aliada ao sonho, permite a cura e ajuda a conclusão e o voo da passarola.

Uma articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o

desejo é establecida duvido a amizade de Scarlatti com o padre Bartolomeu. Scarlatti é também o

mensageiro da morte do padre Bartolomeu a Blimunda e Baltasar.

É importante concluir que, em Memorial do Convento, as personagens históricas

convivem com as fictícias, conduzindo à fusão entre realidade e ficção.

Saramago mostra ser um excelente contador de histórias, profundo nos sentimentos,

apaixonado no amor. Em Memorial do Convento, temos contacto com uma bonita história em que o

Amor não acaba nem no fim.

BIBLIOGRAFIA :

1. Wikipédia, a enciclopédia livre.

2. Mioara Caragea, A Leitura da História nos Romances de José Saramago, ed.

Universitatii din Bucuresti, 2005, pag. 97, 108.

3. Oliveira Martins, História de Portugal, Lisboa, Guimarães Editores, 1972, p. 435, 446 .

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