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Dizem que há pessoas que nascem com sorte; outras, com azar. Contudo, o que aconteceria se
cada um de nós pudesse, de fato, influir no seu destino, tanto pessoal quanto profissional, mais do
que consideramos possível? Ignácio Alvarez de Mon, professor de comportamento organizacional da
escola de negócios Instituto de Empresa (IE) e autor do livro Depende de você (LID Editorial),
explica como são as relações entre chefe e empregado. Motivação e trabalho em equipe são
algumas das principais ferramentas para fazer de alguém líder em todas as áreas da vida.
Ignácio Álvarez de Mon: Não há dúvida de que o principal responsável pela motivação na vida do
indivíduo é ele mesmo. Não devemos delegar essa tarefa para ninguém mais. Não assumir a
responsabilidade pela motivação é, ao mesmo tempo, frustrante e pouco inteligente. É frustrante
porque, uma vez que não dependemos dos outros para estarmos motivados, temos mais chances
de alcançarmos a motivação. Também é pouco inteligente porque deixar o controle de algo tão
importante nas mãos de outra pessoa é simplesmente um absurdo.
No entanto, o chefe, o empresário, o diretor, seja qual for o título da pessoa, tem alguma
responsabilidade pela motivação dos seus funcionários? Sim, sem dúvida. Nesse sentido, a primeira
que se deveria pedir a alguém em qualquer posto de comando é que, pelo menos, não
desmotivasse seu pessoal. Em outras palavras, que não destrua as fontes de motivação intrínseca
que os empregados trazem dentro de si. A ausência de muitos chefes durante o expediente é, não
raro, motivo de celebração e de festa para seus colaboradores imediatos e, não por coincidência,
nesse dia eles riem mais do que em todos os outros.
Quando fazemos de nossa jornada de trabalho o momento em que procuramos desenvolver nossos
melhores talentos, e não como o momento em que estamos à disposição das vontades e dos
caprichos de alguém com mais poder do que nós, somos mais produtivos para a empresa e para
nós mesmos. É lamentável ver como, ainda hoje, muitos profissionais excelentes participam de
certos jogos ridículos nos quais o que prevalece é a presença do indivíduo em detrimento de sua
produtividade, em que a burocracia do local de trabalho predomina sobre o trabalho eficaz, a
submissão aos desejos de quem manda impera sobre o intercâmbio transparente e sincero de idéias
entre profissionais.
Depois de alcançar esse primeiro grande objetivo como chefe, isto é, não desmotivar os
funcionários, há quem vá mais longe e defina condições de trabalho que permitam ao profissional
dar o máximo de si. Como? As receitas são fáceis de identificar, mas extremamente difíceis de
seguir:
· Criar um ambiente de trabalho em que reine a confiança, a transparência, onde não haja
receio de compartilhar idéias e onde ninguém esteja sempre certo.
U@W.: O que se deve fazer no caso de empresas que estão sem motivação? O sr. poderia dar
algum exemplo de empresa em situação ruim que conseguiu resolver suas dificuldades?
I.A.M.: No meu entender, as empresas não estão motivadas ou desmotivadas. Embora pareça
óbvio, são as pessoas que se sentem motivadas ou não. Como eu disse, pode parecer óbvio, mas
não é. Quando falamos de empresas, e não de pessoas, de instituições, e não de indivíduos,
desviamos a atenção do ser humano, pois é nele que vamos encontrar as diferenças: no âmbito
pessoal da responsabilidade e da influência.
Entre as causas mais comuns de falta de motivação estão, sem dúvida, as condições salariais e as
expectativas reais de ascensão profissional. Contudo, há outro fator que, em geral, tais instrumentos
identificam como essencial: o estilo da direção. Muitos estudos de grande prestígio mostraram à
saciedade a relação direta entre o estilo da direção, o clima no ambiente de trabalho, motivação,
rendimento e resultados. Em outras palavras, a boa interação entre o chefe e seu pessoal faz com
que os funcionários se sintam mais motivados, que riam mais e que, por fim, contribuam mais para
os bons resultados do negócio.
Na minha experiência particular, comprovei que é útil para qualquer trabalhador, seja ele diretor ou
não, compartilhar informações — especialmente as de caráter mais pessoal — com pessoas sob
sua esfera de influência. A maior parte das pessoas gosta de saber se seu desempenho está a
contento ou não. A comunicação, nesse sentido, é um aliado privilegiado da motivação.
I.A.M.: Não podemos falar de um só tipo de diretor e tampouco de único tipo apenas de trabalhador.
Para responder corretamente a essa pergunta, temos de tratar de cada trabalhador e diretor em
particular. O fato é que existe uma relação direta entre o que um e outro estão dispostos a dar em
função das expectativas que têm em relação ao que o outro espera e deseja dele. Por exemplo, um
diretor pouco habituado a delegar encontrará em seu círculo de influência empregados pouco
dispostos a tomar iniciativas e a assumir responsabilidades. Uns precisam dos outros, eles são
mutuamente dependentes. Portanto, a melhor maneira de diagnosticar o estilo de direção de um
responsável por uma equipe consiste em analisar as atitudes e o comportamento de seus
integrantes. Já um diretor disposto a promover o desenvolvimento do talento do seu pessoal será
favorável à introdução de sistemas de aferição, reconhecimento e incentivos relativos à contribuição
e ao rendimento de cada um deles.
Diretor e trabalhador deveriam ter uma relação de trabalho governada por regras claras,
transparentes, conhecidas por todos desde o princípio e cujo fundamento filosófico primordial partiria
da liberdade e da responsabilidade de um e de outro para que ambos possam realizar o melhor
trabalho possível.
Quem deve dar o primeiro passo? Quem deve ser o primeiro a apostar? Volto a insistir que não há
receita generalizada para qualquer situação. Há pessoas, sejam elas chefes ou empregados, que
estão dispostas a tomar a iniciativa. Outras, entretanto, não o farão por mais que a outra parte tenha
feito todo o possível para isso.
Contudo, se tivermos de pedir mais responsabilidade a alguém, nisso como em tudo mais,
pediremos à pessoa que ocupa uma posição mais elevada na hierarquia da empresa. Quem ocupa
um cargo mais alto na organização geralmente tem mais poder, mais capacidade de agir e de influir,
além de mais critério.
UK@W.: Ás vezes, parece que o trabalho em equipe é a panacéia para os problemas da empresa
moderna. Haveria alguma contra-indicação?
I.A.M.: O trabalho em equipe, como tal, não tem nenhuma contra-indicação. A aparência de trabalho
em equipe tem todas as contra-indicações possíveis.
Mas o que é, de fato, trabalhar em equipe? Para isso, é preciso obedecer a uma série de condições:
1. Ter uma visão-missão comum. Todos os membros da equipe devem compartilhar um mesmo
ideal.
2. Compartilhar objetivos que ponham em prática a visão-missão e que sejam compatíveis com
os objetivos individuais.
3. Exercer uma liderança, individual ou coletiva, que direcione, coordene e impulsione a equipe,
sobretudo em momentos difíceis.
7. Conceder incentivos: todos os membros da equipe devem ser recompensados por seu
esforço. Todos devem sentir que vale a pena trabalhar na empresa.
Por fim, trabalhar em equipe não é o mesmo que se reunir simplesmente com outras pessoas — o
primeiro está ao alcance de muito pouca gente; o segundo, qualquer um faz. Se fôssemos mais
exigentes com o tempo que dedicamos às reuniões de trabalho, provavelmente teríamos bem
menos reuniões.
I.A.M.: A liderança começa pelo autocontrole, tarefa árdua e complicada ao alcance de poucos. Um
bom líder deve conhecer a si mesmo, seus pontos fortes e fracos, procurando viabilizar os primeiros
e tentando não tornar pesados demais os segundos, nem para ele mesmo e nem para os demais. A
partir daí, ele deve promover as condições adequadas para que surjam outros líderes à sua volta.
Diversos estudos realizados entre trabalhadores de natureza e condição as mais diversas mostram o
que se espera do líder:
Liderar consiste, enfim, em conseguir com que os demais façam o que devem fazer com profunda
convicção e, sobretudo, que o façam tomando a si a responsabilidade para que isso aconteça.