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Big

especial

Brother
a consagração
da espiadinha POR PIERO VERGÍLIO

entro de alguns dias, os telespectadores irão


eleger o décimo primeiro vencedor do “Big
Brother Brasil”: se não houver mudança, o
contemplado com o prêmio de R$ 1,5 milhão
será conhecido em 29 de março. Mesmo aqueles
que não acompanham o programa, têm ideia
Pedro Bial, apresentador do BBB desde de como funciona a dinâmica do jogo, no qual
a estreia em 2000: “A chave do sucesso um grupo de pessoas é confinado em uma casa e,
do Big Brother é colocar o telespectador a cada semana, um participante é eliminado por
no papel de juiz, quase de Deus” decisão do público. E não é de se estranhar se,
diante de tantas notícias veiculadas pela mídia
e da mobilização popular, acabem conhecendo
minimamente os “brothers” da vez.
Até 2008, o reality show já havia sido exibido também em
Em sua décima primeira outros 50 países distribuídos pelos cinco continentes. Mas, em
nenhum outro lugar do planeta, o Big Brother é tão bem suce-
temporada, programa dido como no Brasil: a final do ano passado detém o recorde
mundial em quantidade de votos para um programa do gênero

se consolidou como – mais de 154 milhões, superando, em mais de três vezes, a


marca alcançada no encerramento da temporada anterior.

o mais bem sucedido


Os números são realmente impressionantes: somadas as
dez edições, contabiliza-se um total de 2 bilhões 558 milhões
958 mil e 35 votos recebidos pela Globo.com. Em fevereiro
reality show brasileiro, deste ano, o site oficial obteve 6,3 milhões de visitas em um
único dia (10), conforme divulgou o diretor geral, Boninho,
alcançando sucessivos via Twitter. Se, para a Endemol – produtora holandesa que
idealizou o formato, em 1999 – o sucesso do programa no país

recordes mundiais. Mas “é estimulante”, para a Rede Globo, por sua vez, a audiência
se converte em faturamento: além das cotas de patrocínio e

está longe de ser uma


outras ações comerciais, são vários os produtos licenciados
(canecas, mochilas e roupões são apenas alguns exemplos).
Mesmo com toda essa repercussão, o BBB está longe de ser
unanimidade: sofre uma unanimidade. Ao contrário. Não são poucos – principal-
mente no meio acadêmico – os que o acusam de ser um tipo
rejeição de parte do de entretenimento totalmente descartável, que contribui para
a proliferação das chamadas celebridades instantâneas e seus

público e é criticado por valores superficiais, tornando-se uma “celebração à mediocrida-


de”. Dentre os críticos do reality, está José Bonifácio de Oliveira

profissionais de televisão Sobrinho, o Boni, um dos mais respeitados executivos de televi-


são, que criou o chamado “Padrão Globo de Qualidade”.

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Cozinha e sala da casa
Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, “mais vigiada do Brasil”
exibida em setembro do ano passado, o pai de Boninho fez
uma declaração bastante contundente. “É coisa horrorosa, Em função da popularidade do blog, Susan revela que o
porque há o texto feito pelo candidato imbecil, que vai lá dizer envolvimento com outros telespectadores torna-se inevitável.
asneiras. O público se empolga, pois acredita que, de certa “Se eu defendo determinado jogador, o movimento natural
maneira, aquilo tem alguma verdade; no entanto, o reality da torcida é frequentar o ‘De Cara Pra Lua’ e ficar no chat
show é uma grande mentira: eu não conheço ninguém que papeando. Já conheci muita gente por meio da net e fiz bons
vive confinado na mesma casa durante três meses. Transfor- amigos. De 2007 até o ano passado, nós promovemos cerca
ma-se em real porque existe o diálogo, a conversa e o relacio- de dez encontros. Juntamos uma mulherada danada: entre 80
namento”, pondera. e cem pessoas, provenientes também de outros Estados como
Polêmicas à parte, é fácil perceber que as pessoas não Rio Grande do Sul, Minas, São Paulo”, diverte-se a blogueira,
conseguem ficar indiferentes ao reality: ou gostam ou não que mora em Niterói (RJ).
gostam. Além do mais, mesmo aqueles que concordam com o Mas o contrário também acontece: no ano passado, por
ponto de vista de Boni, já aceitaram o convite do apresentador discordar da postura de Marcelo Dourado, ela foi hostilizada
Pedro Bial para “dar uma espiadinha”, ainda que raramente pela torcida do participante, que se autodenominava “máfia
ou apenas uma única vez. Por outro lado, para grande parte dourada”. A artista plástica frisa que o BBB 10 foi um exemplo
do público, o BBB se transformou em um grande divertimen- de influência negativa. “A violência na net foi enorme, influen-
to, como você poderá perceber logo abaixo. ciada pelo comportamento dos jogadores. Por outro lado, o
programa já lançou modinhas, como a flor da Íris na sétima
Paixão à primeira chamada edição ou as calcinhas da Sabrina no BBB 03”, sentencia.
A artista plástica Susan Mello gosta tanto de BBB que, du- Por fim, Susan – que jamais participaria do programa,
rante a exibição do reality, este se torna o principal assunto do pois segundo ela, “tem muito a perder com a superexposição”
seu blog, o “De Cara Pra Lua” (www.decarapralua.zip.net), – confessa que já desmarcou vários compromissos em função
que, em algumas ocasiões, já foi destaque na página principal do reality. Quando isso não foi possível, encontrou um jeito
do portal UOL e traz, além da cobertura dos principais acon- de conciliar as duas coisas. No BBB 09, no paredão entre Ana
tecimentos da casa, entrevistas com ex-participantes e vídeos. Carolina Madeira e Max Porto, ela tinha um jantar num res-
“Minha paixão surgiu quando vi a primeira chamada anun- taurante em Copacabana, com toda a família do marido, que
ciando a estreia do BBB. Gosto muito de imagens e sempre é numerosa. Para acompanhar os acontecimentos, levou laptop
quis saber como fazer um blog. Em seguida, eu pensei: falar e celular. Não deu outra: o telefone tocou a noite inteira. Do
sobre o que? Aí, como gostava do programa, decidi escrever outro lado da linha estavam os amigos, contando as novidades
sobre o reality”, relembra. do programa.
Para ela, a 11ª edição pecou pelo “excesso de tipos pare-
cidos”. A blogueira acredita que o telespectador é um tanto O arrependimento, o sonho e o objetivo
tradicional e gosta de um romance – apesar de jurarem que A seleção para o BBB 11 durou mais de seis meses, segun-
não – como ela faz questão de frisar, em tom de brincadeira. do informações da Rede Globo: nesse período, foram recebidas
Em contrapartida, Susan admite que, pessoalmente, “gosta do 132 mil inscrições e 19 participantes foram escolhidos. Dife-
inadequado” e prefere ser surpreendida com o comportamen- rentemente de 2010 – única vez em que tentou – o agente ad-
to de alguns jogadores. Como momento inesquecível, nossa ministrativo Ítalo Webber dos Santos não participou do proces-
entrevistada cita uma passagem do BBB 03. so. Mas se arrepende. “Fiquei com enorme preguiça, mas acho
“Quando Sabrina Sato foi eliminada e Dhomini – que, até que poderia ter me dado bem, porque os selecionados são
mais tarde, se sagraria o vencedor naquele ano – voltou do chatos: nenhum se destaca. Eu caberia perfeitamente nesta
paredão, ele olhou para o grupo que vinha perseguindo-o edição”, reflete bem-humorado. Ele conta que, em seu vídeo
durante o jogo, bateu no peito e disse: ‘Próximo’! Essa cena enviado no ano passado, agiu de forma sincera e descontraída.
foi emblemática, pois tudo aquilo que se espera de um par- “Foquei a câmera no meu rosto e desatei a falar sobre tudo.
ticipante de BBB: coragem, ousadia e irreverência”, opina a Vai ver é por isso que a produção não me chamou”, teoriza.
artista plástica, que assiste ao PayPerView depois que chega Ítalo almeja se tornar um diplomata, mas tem consciência
do trabalho (mas deixa o programa gravando), a noite. de que a participação no programa não seria muito relevante
Durante o dia, o marido Roberto – que é profissional liberal para a concretização deste sonho. O jovem é enfático
e possui horários mais flexíveis – atualiza o blog e “mantém a
ordem” no chat.
ao afirmar que sua principal motivação são os prêmios
distribuídos ao longo da BBB: segundo ele, o reality é
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especial

A famosa piscina do
BBB, palco de diversão
mas também de muitas
brigas e intrigas

uma boa alternativa para quem quer levantar dinheiro rápido encenando missas e recontando a origem do título de “Cidade
– desde que exista disposição para trabalhar – já que há um dos Exageros” – já se inscreveu em diversas edições.
interesse (do público e da mídia) por tempo limitado. “De- A cada ano, porém, usou uma estratégia diferente para
pois de seis meses, a fama desaparece e o número de convites chamar atenção dos produtores do BBB. “Já falei de mim mes-
começa a diminuir gradativamente”. ma, filmei minha casa e as apresentações teatrais, destaquei os
Quando questionado se teria problemas com a superexpo- 400 anos de Itu e seus pontos turísticos e até recriei a famosa
sição, nosso personagem demonstra segurança. Ele frisa que, cena do assassinato da personagem Odete Roitman, interpre-
guardadas as diferenças, já expõe a sua intimidade diariamen- tada por Beatriz Segall, na novela ‘Vale Tudo’”, relembra Dé-
te no Twitter e nunca teve problemas com isso. O aspirante bora, que conta com o apoio das pessoas com as quais convive
à diplomata revela que se mistura a outras pessoas com e tem na filha, Rebeca, uma de suas principais incentivadoras.
facilidade: uma vez, já foi sozinho para o Carnatal (carnaval Falando em convivência, a atriz aponta este como o fator-
fora de época) no bloco de Claudia Leitte, porque os amigos chave para um bom desempenho no reality. Mas, ao mesmo
acompanharam Ivete Sangalo. Em menos de seis horas, o fo- tempo, é também a principal dificuldade, não apenas dentro
lião se divertiu bastante e conheceu bastante gente, com quem do jogo: para ela, este é o motivo pelo qual as pessoas estão
mantém contato até hoje. cada vez mais solitárias, já que algumas “mal conseguem viver
Considerado muito metódico, o jovem diz que não costu- sob o mesmo teto com alguém”. Imaginando-se no reality,
ma se apegar às pessoas. Para Ítalo, não demonstrar sentimen- Débora confessa que não seria uma tarefa fácil dividir o quarto
tos pode ser um ponto positivo no jogo. “Além disso, sou aquele ou o banheiro com desconhecidos.
indivíduo que não gosta de perder nem quando joga Banco Para explicar o seu fascínio pelo gênero, nossa entrevista-
Imobiliário, imagine em um BBB. Eu iria até meu limite para da faz uma comparação: alguns hábitos do cotidiano retrata-
conseguir o que eu quero. Limites físicos e psicológicos existem dos nas novelas – como, por exemplo, acordar maquiada ou
para serem ultrapassados”. ficar toda arrumada na sala conversando com a mãe – soam
Enquanto telespectador, Ítalo elege o BBB 07 – vencido inverossímeis para a grande maioria das pessoas. No progra-
por Diego Alemão – como seu favorito e aponta as razões pelas ma, as situações se aproximam um pouco mais da realidade
quais o programa faz tanto sucesso. Segundo ele, o brasileiro (daí o nome reality show), criando a identificação e, conse-
nutre uma grande curiosidade pela vida alheia. “E as edições quentemente, despertando o interesse do público.
que a Globo faz, junto com a apresentação do Pedro Bial, são Sincera, a candidata assume que não tem ideia de como
inegavelmente as melhores do país. Ninguém, por mais que seria o seu comportamento dentro da casa, caso um dia con-
tente, vai conseguir fazer igual”, complementa. quiste a tão sonhada vaga para participar do BBB. “A única
certeza que eu tenho é a de que, apesar do medo, quero muito
Vale Tudo para chamar atenção vivenciar essa experiência: o confinamento me atrai e simul-
Diferentemente de Ítalo, a atriz ituana Débora Nunes acre- taneamente, me assusta. Algumas vezes, conseguimos o que
dita que a fama, ainda que passageira, ajudaria a impulsionar queremos, para depois descobrir que as coisas não acontecem
sua carreira. Ela – que atualmente se apresenta no Largo exatamente do jeito que a gente imaginava”, constata Débora.
da Matriz para os turistas, divulgando os atrativos da cidade Segundo ela, assim como um ímã, as pessoas atraem para si
(tais como as fazendas históricas e o Armazém do Limoeiro), tudo aquilo que desejam. Que assim seja.

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De volta à
vida real
“Se pudesse eu te levaria / até onde você quer chegar /
Brilho das estrelas / No primeiro lugar”. Os versos de “Vida
Real” – canção composta e interpretada por Paulo Ricardo,
que embala a abertura do BBB desde a sua estreia – certa-
mente traduzem a ambição de (quase) todos os participantes
quando entram no reality: entrar para a galeria de vitoriosos
do BBB. Ganhar o prêmio máximo nem sempre é possível,
mas, na maioria dos casos – não em todos eles – a participa-
ção no programa rende bons frutos aos ex-confinados.
A reportagem da ZZZ também conversou com três pessoas
que, durante algum tempo, já habitaram “a casa Alguns momentos do BBB durante
mais vigiada do Brasil”.
os 11 anos de programa
A baiana Anamara Barreiro de Brito, que pediu exoneração
da Polícia Militar no ano passado, quando já estava na casa,
acredita que com a experiência, passou a valorizar ainda mais antes de entrar na casa, já era telespectadora assídua do
alguns gestos simples do cotidiano – como, por exemplo, to- programa. Com vários projetos para 2011, Anamara convida:
mar sorvete com os amigos – e aprendeu que precisa ter mais “quem quiser me acompanhar, é só entrar em meu site www.
malícia com o ser humano. Após a sua saída, ela revela que as lamaroquita.com.br”.
pessoas a trataram com muito carinho. Outro que não hesitaria caso tivesse uma segunda chance
“O mais difícil é ficar completamente longe daqueles que é o personal trainer Kadu Parga, colega de Anamara no BBB
você ama: nos momentos de sofrimento, eu não tive o colo de 10, mas isso somente “daqui a um ou dois anos”, dependendo
ninguém para chorar. Você se sente completamente só, mesmo do momento de sua vida. O ex-BBB conta que sua maior di-
estando rodeada por milhares de pessoas – seus companheiros ficuldade ao deixar a casa foi assimilar as várias informações,
de confinamento e os telespectadores. Por outro lado, foram recebidas em um curto espaço de tempo: o brother – cujo bom
vários os momentos marcantes, mas escolherei a minha entra- comportamento encantou as telespectadoras – garante que
da na casa como o melhor”, desabafa a ex-policial, que acre- agiria exatamente da mesma forma.
dita que, os participantes de reality são, de certa forma, “ratos O terceiro colocado do BBB 10 – que, em seu site oficial
de laboratório”: quem está do lado de fora pode coordenar os (www.kadupersonal.com.br) irá dar dicas de nutrição, saúde
seus passos, interferir em suas vidas. e bem-estar – revela que, ao contrário do que possa pare-
Se, a exemplo de Marcelo Dourado e Joseane, ela tivesse a cer, o telespectador não é o único que determina os rumos
oportunidade de participar de uma nova edição do BBB, Ma- do programa. Segundo ele, o poder de decisão do público se
roca – como é carinhosamente conhecida – revela que voltaria limita aos “momentos críticos” do reality. Em outras situações,
ao jogo e adotaria as mesmas estratégias. “Só economizaria quem detém o comando do jogo é o “temido” Big Boss (cuja

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nas palavras: ao invés de dizer 300 por minuto, falaria só tradução equivale a “grande chefe” – apelido dado ao
cem”, brinca, aos risos, a ex-policial – ela admite que, mesmo diretor Boninho nos bastidores).

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Para ele, “os prêmios em dinheiro são a maior recompen-


sa pela participação, pois com isso você pode conseguir uma
independência financeira. A fama é repentina e a chance de
emplacar uma carreira artística de sucesso é pequena. Basta
ver quantos realmente explodiram”. E Kadu tem razão. Mui-
tos tentaram, mas apenas três ex-participantes conseguiram
transformar o sucesso passageiro em algo duradouro: Juliana
Alves (BBB 03) – que se destacou como a personagem Clo-
tilde, em “Ti-ti-ti” – e Grazi Massafera (BBB 05) já fizeram
várias novelas na Globo e são duas apostas da emissora. Já
Sabrina Sato (BBB 03), por sua vez, tornou-se a musa dos
integrantes do programa “Pânico”.

Uma única vez


Ao contrário dos colegas, Ana Carolina Madeira, do BBB
09, não aceitaria participar do reality novamente: “uma
vez só está de bom tamanho”, frisa. À ZZZ, ela disse que a
superexposição não a incomodou; mesmo tento aproveitado
às oportunidades que surgiram – foi contratada da Rede TV!
durante o ano passado e, atualmente, comenta o BBB para a
revista Contigo! – ela garante que seguir a carreira artística
nunca foi o seu objetivo.
“Eu nunca procurei a fama, isso foi uma consequência.
Para mim, o fato de ser reconhecida ou não é indiferente, pois Ana Mara, a Maroca, se
a felicidade está em se fazer aquilo que a gente ama”, acon- voltasse um dia ao BBB diz que
selha Ana, que, aos 26 anos, não esconde de ninguém a sua economizaria nas palavras
realização: apaixonada por animais, em 2011, a jovem – que
antes de entrar no programa, já foi estudante de Direito e pes-
quisadora na área jurídica – concretiza um sonho de infância,
ao iniciar a faculdade de Veterinária.
Quando questionada sobre a lição mais valiosa que extrai
de sua passagem pelo reality, a inseparável companheira da
Vovó Naiá não hesita em responder. “Procurava enxergar
sempre o melhor de cada pessoa, e com isso, acabava, quase
que invariavelmente, me machucando. No BBB, aprendi que o
ser humano não é bonzinho, e que, por dinheiro, a maioria das
pessoas faz coisas inimagináveis”, desabafa.
Mas não é apenas dentro do jogo que o comportamento
de algumas pessoas surpreende: aqui fora, algumas atitudes
chocam pela falta de respeito. Doutora em Linguística, escri-
tora e professora, Elenita Rodrigues – que participou do BBB
10 – manifestou sua torcida “de forma veemente, como sem-
pre faz”, quando soube que um amigo havia sido selecionado
para participar da edição atual. Quase que imediatamente,
ela foi duramente hostilizada – “complexada”, “baleia” e
“piranha gorda” foram alguns dos adjetivos utilizados – por
usuários do Twitter.
Em seu blog, ela desabafou sobre o episódio. “A verdade é
que perdi dinheiro participando do BBB (perdi credibilidade
no círculo acadêmico e fui vetada em quase todas as bancas
de que participava e que constituíam duas, três vezes o valor
do salário que ganho agora). Eu sabia do preço que pagaria
quando me inscrevi e não me arrependo por ter vivido a expe-
riência, mas não vou destinar mais um dia da minha vida e da
minha energia a uma exposição que atrai o que há de pior no
universo para perto de mim”. Convidada pela ZZZ a dar um
depoimento para esta reportagem, Elenita alegou que “não
queria mais associar sua imagem à do programa”.

Aposta estratégica Kadu Parga desabafa: “ao


Mesmo não sendo o pioneiro no país, o sucesso do BBB contrário do que possa parecer, o
motivou outras emissoras a também investirem no formato. telespectador não é o único que
determina os rumos do programa”
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Fotos: TV Globo/Frederico Rozário e Fabrício Mota

O crítico lembra ainda que, enquanto programa de


televisão, o BBB deve atender as necessidades da emissora:
audiência e faturamento. Como jogo, sempre é possível mexer
nas regras e levar os participantes a agir conforme os interesses
da produção, mas José Armando aconselha: os brothers devem
refletir bastante antes de tomar determinadas atitudes durante
o tempo em que permanecerem confinados.
“Quando estão no BBB, as pessoas acreditam que podem
transformar suas vidas: algumas não medem as consequências
de romances, declarações e vexames; mas todo mundo sabe
do ‘estrago’ que o reality pode fazer na imagem do competidor
porque há edição e, como produto de TV, divisões entre bons
e maus, bonitos e feios, leais e falsos. O participante acabará
com um rótulo e dificilmente se livrará dele. Trata-se de algo
que se levará para o resto da vida, porque sempre haverá
quem se lembre do programa”.

Jogo de espelhos
Em depoimento ao Projeto “Memória Globo” – mantido
pela emissora – o apresentador Pedro Bial afirmou que o BBB é
um programa transgressor, cujo compromisso é com a diversão,
mas que também gera interesses multidisciplinares, como pode
ser comprovado pelas teses elaboradas sobre o reality show. O
jornalista defende que “a televisão não manipula os candidatos,
mas que são eles próprios, com suas atitudes dentro da casa, que
determinam os cortes de edição, qual câmera vai ser usada, por
quanto tempo tal câmera vai ficar em tal posição, etc.”.
Bial atribui a repercussão do formato, em parte, à identi-
ficação do público com as pessoas comuns que participam do
Ana Carolina: programa, como se os telespectadores, numa inversão de papéis,
“no BBB, se vissem dentro da televisão por meio dos participantes, como
aprendi num jogo de espelhos. “A chave do sucesso do Big Brother é
que o ser colocar o telespectador no papel de juiz, quase de Deus: ele é
humano não quem decide o que vai acontecer ali dentro”, argumenta.
é bonzinho” Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
Paulo, Marion Minerbo tem opinião semelhante. Para ela, a
participação dos espectadores do BBB mostra que as pessoas
“O reality veio para ficar porque recorre a uma linguagem estão ávidas para ser protagonistas da história. Sensível a essa
envolvente, que leva o telespectador a participar do que está demanda, o reality show oferece a oportunidade, pois são os
na TV. Hoje em dia, esta é uma aposta estratégica”, opina o telespectadores que decidem. Além disso, o retorno do voto é
crítico de TV da Rádio Jovem Pan, José Armando Vannucci – imediato, já que o vencedor chega anônimo e sai famoso.
que mantém o blog “Parabólica JP” (www.parabolicajp.com. “Dentro do espírito democrático, os eleitores do BBB
br) – e não se surpreende com os recordes mundiais alcança- querem exercer o direito de decidir quem vai representá-los
dos pelo BBB. no panteão da fama rápida, valor máximo na sociedade do
Segundo ele, o brasileiro gosta dessa interação. “O voto espetáculo. E quem merece gozar das benesses do sistema no
através do telefone é cobrado, mas o envolvimento com o lugar deles. Por isso, acompanham o programa diariamente
programa é tamanho que a pessoa não leva em consideração com espírito crítico para escolher seu representante. Não é por
o que vai desembolsar”, avalia. Na outra ponta, Vannucci voyeurismo nem por alienação. É pelo poder de eleger alguém
chama a atenção para a queda de audiência, percebida até que realmente merece vencer na vida, tal como cada especta-
mesmo às terças-feiras, dia de eliminação: os quatro primeiros dor se sente merecedor de vencer na vida. Não querem eleger
paredões desta temporada – mais um extra com o corte de um picareta”, constata a estudiosa.
um casal – obtiveram 27,5 de média, pouco mais da metade Sob essa perspectiva, o BBB realiza os anseios de pro-
dos 50,3 pontos registrados no mesmo período do BBB 05 tagonismo político de parte da população, numa paródia de
(2005): desde aquele ano, observa-se uma tendência contínua democracia: o finalista tem de ser um lutador, mas um lutador
e gradativa de redução. honesto – que é como cada telespectador/eleitor se sente. Ma-
“É claro que o programa ainda mantém a liderança, com rion ressalta ainda que a graça toda consiste em não sabermos
uma participação importante de público, mas os índices desta ao certo quanto de representação e quanto de realidade há
edição são menores. Não sei se é um desgaste do formato, mas naquilo tudo. “O reality show é um espetáculo e, ao mesmo
aposto no erro na escolha do elenco, que marcará o BBB 11: tempo, é de verdade. Os participantes do BBB são pessoas
particularmente, não acredito que a “baixaria” (a intenção, comuns lutando por ascensão social e, nesse sentido, são de
em determinado momento, foi apimentar o reality e chegar verdade. Mas há uma dimensão de representação, já que se
próximo do sexo) dê audiência porque o público ainda prefere trata de um jogo em que eles representam pessoas comuns
o romance, humor e conflitos”, constata. lutando por ascensão social”, finaliza.

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