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Curso: Psicologia – 1º período.

Alunas: Camila, Danilla, Ludmyla Silveira e Pedrita.

Disciplina: Fundamentos Histórico-Epistemológicos e Filosóficos da Psicologia.

Professora: Ana Cláudia.

Tema: Reflexões sobre a relação entre “lógos” e “alétheia” no pensamento de Heráclito


e Parmênides.
INTRODUÇÃO

Abordaremos neste trabalho uma reflexão sobre a relação que há entre o lógos e
a alétheia, no pensamento de dois importantes filósofos: Heráclito e Parmênides.

Além disso, faremos também algumas citações de pensamentos deles, elaborados


numa época antes de Cristo – anos VI, aproximadamente –, e, que se refletem até os dias
de hoje.

Conheceremos um pouco do que eles pensavam sobre o “ser” e sobre a “dóxa”,


que têm ligação com o lógos e a alétheia. Mas, agora, vamos deixar que o próprio
trabalho fale por si.
REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE “LÓGOS” E “ALÉTHEIA” NO
PENSAMENTO DE HERÁCLITO E PARMÊNIDES

Heráclito de Éfeso, como é conhecido, foi anterior a Parmênides de Eléia. Ele


busca novas formas de pensar sobre o problema de saber desvendar o “que existe” por si
mesmo, porém que sejam diferentes do pensamento de Tales de Mileto, Anaxímenes,
Anaximandro, Pitágoras e Empédocles; pois achou que haveria uma outra resposta, que
nenhum deles teria achado até então, e que ele próprio se achava capaz de “desvelar”.
Heráclito pensa que deve haver uma maneira de todas as coisas serem e existirem, de
forma que elas estejam sempre se transformando.

“As coisas que temos ante nós não são nunca, em nenhum momento,
aquilo que são no momento anterior e no momento posterior; que as
coisas estão mudando constantemente”

“Nunca vemos a mesma coisa”

Trecho do livro de Manuel García Morente.

Depois que Heráclito termina suas obras é que surge o maior filósofo helênico,
Parmênides. Platão, que foi seu discípulo, sempre que o menciona, diz: “Parmênides, o
grande”. “Grande” sim, porque mudou o pensamento metafísico, e que perdura por
tanto tempo até os dias atuais, como acompanharemos aqui.

Veremos que a filosofia de Parmênides se opõe em muitos aspectos ao


pensamento filosófico de Heráclito. Por exemplo, com a questão do “ser” na idéia do
devir. Na visão de Heráclito, o ser é e não é ao mesmo tempo, pois, afinal, está em
processo de mudança e ora é; ora não é – todavia, não “separadamente”, isso acontece
de forma mista, uma: opostos que não se anulam (como citaremos no decorrer deste
trabalho), mas que devem coexistir.

Parmênides acha esse modo de pensar absurdo, equivocado. Pensa que não há
quem compreenda o que Heráclito tenta dizer. Por isso decide, não só criticá-lo, mas
também, criar um princípio que explique melhor e de forma mais estrita e concisa o
“ser”. Assim sendo diz: “o ser é; o não ser não é”, desse jeito: simples. Tudo aquilo
que se afastar disso se equivocará tal como Heráclito e cairá no abismo do erro –
segundo o olhar de Parmênides.
“Porque como pode alguém compreender que o que é não seja, e, o que
não é seja? Isto é impossível!”

“As coisas tem um ser, e este é. Se não tem ser, o não-ser não é.”

Trecho do pensamento de Parmênides.

A este princípio criado por Parmênides, chamaremos de “Princípio de


identidade”. Pois, afinal, ninguém em sã consciência pode negar que o ser é, e o não-ser
não é, sendo considerado, então, perfeitamente certo.

Visto isso, chega-se à conclusão de que o ser parmenídico é único, eterno,


imutável, infinito e imóvel. O que para Heráclito seria incabível! Porque Heráclito pensa
que o ser é dinâmico, está em movimento contínuo...

Todos os filósofos anteriores a Parmênides, inclusive Heráclito, escreviam em


prosa, Parmênides foi o primeiro a expressar em versos os seus pensamentos.

Um dos mais famosos poemas dele é o chamado: “Sobre a Natureza”, ele é


dividido em duas partes: a “Via da Verdade” (no grego “alétheia”) e a “Via da
Opinião” (no grego “dóxa”). Alguns dizem que essa obra é contrária a Heráclito.

“ (...) é preciso que de tudo te instruas,

do âmago inabalável da verdade (alétheia) bem redonda,

e das opiniões (dóxa) dos mortais, em que não há fé verdadeira. (...)”

Fragmento do poema mencionado acima de Parmênides.

Para Parmênides a opinião é algo que não pode ser um porto seguro, pois a dóxa
não nos é confiável, ao passo que está sempre mudando, e varia de acordo com o nosso
estado de humor, com a situação que nos rodeia, enfim, ela é muito inconstante. Tal
como o conceito de “aparência”, que também é bem relativo, uma vez que aquilo que se
vê nem sempre é o que se é de verdade, às vezes vemos a aparência, mas não a
“enxergamos”, como deveríamos. A partir desse pensamento, é que vem a expressão:
“o que é, na verdade, pode não ser; e o que não é, pode ser realmente”.

“ser e pensar são o mesmo” e “ser e dizer são o mesmo”

Trecho de um fragmento de Parmênides.


Assim que ele afirma isso, quer dizer que essa é a realidade, e o ser, o pensar e o
dizer são expressos na palavra grega “lógos” (expressão que consegue integrar os três
termos).

Não podemos nos esquecer que a “alétheia” tem um aspecto religioso, que é
diferente do aspecto leigo da dóxa, e isso fica claro quando Parmênides diz que o valor
da alétheia contra a dóxa é que se mostra um olhar novo sobre tais conceitos: “para
dizer aquilo que é e negar aquilo que não é”, de acordo com o que se pensa.

Já para Heráclito a missão do filósofo é totalmente inversa. O lógos (que tem


papel central em seu pensamento), para ele, é o devir, o fluir: que é o ser, o dizer e o
pensar.

“Procurei a mim mesmo”

“Comum a todos é o pensar”

“Pensar sensatamente é a virtude máxima, a sabedoria é dizer o verídico


e fazer segundo a natureza, escutando”

Trechos de fragmentos de Heráclito.

O que Heráclito quer que se “escute” aqui, na verdade é o lógos. A descoberta da


ligação entre a alma humana (inteligência) e o mundo, isso é o lógos, os dois, são o
lógos, fazem parte do lógos.

“Dando ouvidos não a mim, mas ao lógos, é sábio concordar que todas
as coisas são uma única coisa”

Trecho do Fragmento 50 de Heráclito.

Aqui nesse pensamento é que se expressa a idéia de “unidade de pluralidade” =


“unidade dos opostos”, na qual aquilo que importa é que aquilo que marca a realidade é
justamente o conflito (em grego, “pólemos”) entre os opostos, sem que isso implique um
aspecto negativo, pois é justamente o inverso: se faz necessário para que haja harmonia
e equilíbrio. Como por exemplo: a vida e a morte; o dia e a noite; o calor e o frio. É
preciso que um exista para que seu oposto também exista, são contrários, mas não se
podem anular.
“Tudo passa” (em grego, “Panta rei”)

“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é
o mesmo”

“e nós também não somos mais os mesmos”

Trechos do Fragmento 91, talvez o mais famoso de Heráclito.

Heráclito vem mostrar-nos aqui a idéia do fluxo da realidade representada


através da metáfora do rio, que retrata bem o movimento contínuo das coisas e até
daquilo que há em nós, e até no que somos. Tudo realmente muda sempre.

Já para Parmênides, tudo aquilo que é oposto a si passará a não existir mais. Isso
acontece, porque o que se opõe automaticamente se destrói. Por essa razão nada muda, o
que se tem é uma ação ilusória por parte dos sentidos.

Como podemos notar, o lógos de Parmênides e o de Heráclito são bem distintos.


O lógos – o ser –, deste último, é conhecido a partir das palavras (falar o que é verdade)
e das ações (inspiradas na natureza).

“O que é para Heráclito (o devir) é não-ser para Parmênides, o que é


ser para Parmênides (a identidade de estável e imóvel) é ilusão para
Heráclito. O que é essencial para Parmênides é o conhecimento do ser;
o que é essencial para Heráclito é o autoconhecimento do homem. No
entanto, ambos inauguram a mesma coisa, isto é, a exigência de fazer a
distinção entre a aparência e a realidade e a afirmação de que essa
diferença só pode ser feita pelo pensamento, pela inteligência e não pela
experiência sensível ou sensorial. Os sentidos permanecem prisioneiros
da dóxa.”

Trecho do livro de Danilo Marcondes.

Não poderíamos de forma alguma deixar de ressaltar aqui a importância que tem
Parmênides para a filosofia, tanto no geral, como na Europa (por exemplo); naquela
época, e inclusive nos dias de hoje; além de sua grande importância no caráter histórico.

“Parmênides é o descobridor da identidade do ser; o descobridor da


identificação entre o ser e o pensar.”
Trecho do livro de Manuel García Morente.

Muitos filósofos – senão todos – que surgiram após Parmênides se firmaram na


“verdade” de que para se descobrir, ou, até mesmo, resolver os problemas, é necessário
que haja um roteiro, e este deve ser baseado “na nossa razão, em nossa intuição
intelectual e volitiva (de nossa vontade)”, que venha de nosso “espírito”. Toda essa
idéia é, sem dúvida, em sua base parmenídica e eleática.

Além dessa colaboração, temos outras. Uma, não muito positiva, é que por culpa
de Parmênides temos uma visão estática do ser, em vez de termos uma visão dinâmica.
E, ainda mais, nós não só aplicamos essa visão ao ser, mas diariamente aplicamos à
essência e à substância. Na verdade, nós pegamos o “ser” de Parmênides e o dividimos
para formar a nossa visão das coisas.

“Cada uma das coisas, as ciências físico-matemáticas, consideram-nas


como uma essência, a qual, individualmente considerada, tem os mesmos
caracteres que tem o ser de Parmênides”

“E precisamente porque demos a cada coisa os atributos ou predicados


que Parmênides dava à totalidade do ser, por isso temos do ser uma
concepção eleática e parmenídica, ou seja, uma concepção estática”

“Parmênides tomou o ser, espetou-o na cartolina há vinte e cinco


séculos (como uma naturalista faz com uma borboleta), e lá continua
ainda, preso na cartolina, e, agora, os filósofos atuais não vêem o modo
de tirar-lhe o alfinete e deixá-lo voar livremente”

Trechos do livro de Manuel García Morente.

Os outros filósofos posteriores a Parmênides já não conseguirão compreender o


lógos como algo vindo da experiência sensível. Portanto, Heráclito e Parmênides
“cavaram um fosso entre a realidade das coisas e a mera aparência delas”. Sem que se
dessem conta deixaram um sério problema para os próximos filósofos que viriam
posteriormente: apresentar a idéia do ser que é verdadeiro e imutável, sem deixar de
defender também que a variedade das coisas, o movimento, a diferença das coisas.
Como pregar duas verdades totalmente contraditórias? Essa missão ficaria para os tais
futuros filósofos...
Bibliografia:

• Marcondes, Danilo

Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein – 8ª edição – Rio


de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2004.

• Chauí, Marilena

Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, volume 1 – 2ª


edição ver. e ampl. – São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

• Chauí, Marilena

Convite à Filosofia

• García Morente, Manuel, 1886-1942.

Fundamentos de filosofia. I: lições preliminares – tradução e prólogo de Guilhermo


de La Cruz Coronado – 8ª Ed. – São Paulo: Edit. Mestre Jou, 1980.

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